Buscar

completo - caftismo na belém bellepoqueana

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 31 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 31 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 31 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

CENTRO UNIVERSITÁRIO FIBRA 
CURSO LICENCIATURA EM HISTÓRIA 
 
 
HILDA PROGÊNIO MORAIS 
LUCAS EMANUEL ALVES BARATA 
 
 
 
 
 
 
OS “DON JUANS” DA PARIS N’AMÉRICA: A presença do Caftismo na Belém 
bellepoqueana (1896-1913). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BELÉM 
2021 
HILDA PROGÊNIO MORAIS 
LUCAS EMANUEL ALVES BARATA 
 
 
 
 
 
OS “DON JUANS” DA PARIS N’AMÉRICA: A presença do Caftismo na Belém 
bellepoqueana (1896-1913). 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado 
ao curso de Licenciatura em História do Centro 
Universitário Fibra como requisito parcial à 
obtenção do título de Licenciados em História. 
 
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Patrícia Carvalho 
Cavalcante 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BELÉM 
2021
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD 
Biblioteca do Centro Universitário Fibra 
Gerada mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a) 
 
 
 
M827d 
 
 
Morais, Hilda Progênio 
 Os “Don Juans” da Paris N’américa: a presença do Caftismo na 
Belém bellepoqueana (1896-1913) / Hilda Progênio Morais, Lucas 
Emanuel Alves Barata. — 2021. 
 29 p. 
 
 Orientadora: Prof.ª Dr.ª Patrícia Carvalho Cavalcante. 
 Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em História) – 
Centro Universitário Fibra, Belém, 2021. 
 
 1. Belém/PA – Belle Époque. 2. Cáftens. I. Barata, Lucas 
Emanuel Alves. II. Título. 
 
 
CDD 981.1 
 
Elaborado por Adriele F. Bandeira Alves – CRB2 - 28/P 
 
FOLHA DE APROVAÇÃO 
 
HILDA PROGÊNIO MORAIS 
LUCAS EMANUEL ALVES BARATA 
 
OS “DON JUANS” DA PARIS N’AMÉRICA: A presença do Caftismo na Belém 
bellepoqueana (1896-1913). 
 
Artigo aprovado como requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciado em História pelo 
Centro Universitário Fibra, pela seguinte banca examinadora: 
 
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Patrícia Carvalho Cavalcante
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A minha mãe Ângela Morais, pelo seu amor 
incondicional em vida. Espero que ai de cima a 
senhora esteja orgulhosa! 
- Hilda Morais 
 
Dedico este artigo a memória da minha 
falecida avó, Maria das Neves Palheta Alves, 
uma professora vigiense que por onde passava 
deixava um pedacinho de sua alegria, de sua 
bondade e de seu amor. Foi a minha inspiração 
para escolher e permanecer na docência. 
Espero honrar o seu legado. Espero ser 1% do 
que você foi. Espero que aí que de cima saibas 
que fazes morada constante no meu coração. 
Amarei e lembrarei para sempre de ti, vó. 
- Lucas Barata
AGRADECIMENTOS 
 
Em primeiro lugar, а Deus, por me ajudar em mais uma caminhada na realização dessa 
trajetória. 
Ao meu pai, Ailton Morais, por acreditar e confiar em mim desde o começo até o final 
do curso. À minha irmã, Lillian Morais, por sua amizade, carinho e apoio. Aos meus sobrinhos, 
Manuelly Morais e Cauã Gabriel Morais, por deixar o amor e a energia de vocês no meu dia-a-
dia. Eu amo todos vocês! 
Aos meus amigos, Jason Lorran Paixão, Luciana Diniz, Letícia Oliveira, Rafaella 
Araújo, Pérola Beltrão, Luiza Amador, Ranulfo Campos e Normélia Gonçalves, e outros mais, 
sou grata a cada um por sua amizade e colaboração nas etapas da minha vida. 
Ao meu amigo e parceiro de TCC, Lucas, rumo ao final dessa missão, que apesar de 
todos os altos e baixos se concretizou. 
Agradeço a todos os professores que me auxiliaram e me moldaram nessa caminhada 
pela graduação, especialmente a minha orientadora Dra. Patrícia Cavalcante, pelo ensinamento 
e paciência para a realização desse trabalho. 
Por último ao meu esforço e dedicação para realização desse percurso. 
- Hilda Morais 
 
Agradeço este trabalho primeiramente a Deus, que me permitiu chegar depois de 4 anos 
até onde cheguei. E, também, a Nossa Senhora de Nazaré que nunca me deixou cair. 
Aos meus pais: Junior, que foi crucial para que eu obtivesse o que conquistei, sem ele 
nada seria possível, minha gratidão é enorme a este homem, tal como meu amor; Renata, a 
mulher que me deu à luz, que me forneceu seu carinho e amor enquanto mãe e amiga; e Márcia, 
que me acolheu como seu filho, e eu a acolhi como uma mãe, obrigado pelo colo quando me 
vias chorando pelas noites. 
Aos meus amigos, que nunca me deixaram desistir, que me apoiam e que permanecem 
em minha vida: Alan Cézar, Álex Burgos, Amanda Ferreira, Clara Ferreira, Davi Fernandes, 
Guilherme Noronha, Paula Castro, Rafaella Araújo e Robert Anderson. Em especial, agradeço 
a Hilda, minha dupla de tcc, que mesmo em meio a tantos problemas, por fim conseguimos! 
A minha querida orientadora Patrícia que nos ajudou imensamente na elaboração deste 
artigo. Obrigado pelo apoio e por ser, durante todo o curso, uma professora incrível, que tenho 
a honra de ter me conectado e ter como uma pessoa querida. 
- Lucas Barata
OS “DON JUANS” DA PARIS N’AMÉRICA: A presença do Caftismo na Belém 
bellepoqueana (1896-1913). 
Hilda Progênio Morais1 
Lucas Emanuel Alves Barata2 
Prof.ª Dr.ª Patrícia Carvalho Cavalcante3 
 
Resumo 
A Belle Époque foi caracterizada por um processo de rápida urbanização das regiões brasileiras 
que tinham prosperidade econômica, além de um grande fluxo migratório de novos grupos 
sociais e de políticas que visavam civilizar estes locais. Na Amazônia, devido a economia 
gomífera, Belém se tornou uma das capitais da borracha e seu processo de modernização foi 
acelerado. Através de importantes periódicos deste período, analisaremos o retrato que a 
sociedade elitista belenense e o Estado tinham de sujeitos que viviam um estilo de vida que era 
considerado nocivo ao novo grau civilidade que se almejava, como é o caso dos cáftens. Ainda 
busca-se mostrar as medidas que foram tomadas contra sua estada e as perseguições sofridas 
por esses agentes sociais. 
Palavras-chave: Belém; Belle Époque; Cáftens; Caftismo; Jornais; Periódicos. 
Abstract 
Belle Epoque was characterized by a process of rapid urbanization of the Brazilian regions that 
had economic prosperity, besides a large migratory flow of new social groups and policies that 
aimed to civilize these places. In the Amazon, due to the rubber economy, Belem became one 
of the rubber capitals and its modernization process was accelerated. Through important 
periodicals of this period, we will analyze the portrait that the elitist society of Belem and the 
State had of people who lived a lifestyle that was considered harmful to the new degree of 
civility that was desired, as is the case of the pimps. We also seek to show the measures that 
were taken against their stay and the persecution suffered by these social agents. 
Keywords: Belem; Belle Epoque; Pimps; Caftism; Newspapers; Periodicals.
 
1 Graduanda em História pelo Centro Universitário FIBRA. E-mail: hildamoraisp@gmail.com 
2 Graduando em História pelo Centro Universitário FIBRA. E-mail: lucasbarata@outlook.pt 
3 Doutora em História Social da Amazônia pela Universidade Federal do Pará, possui Mestrado em Ciências 
Sociais com ênfase em Antropologia pela Universidade Federal do Pará (2008), bacharel e licenciada em História 
pela Universidade Federal do Pará (2002). E-mail: patricia.clio@gmail.com 
mailto:hildamoraisp@gmail.com
mailto:lucasbarata@outlook.pt
mailto:patricia.clio@gmail.com
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 7 
 
2 CIDADE ......................................................................................................................... 8 
 
3 IMIGRAÇÃO E MIGRAÇÃO .................................................................................. 12 
 
4 CAFTÉNS E SUA PERMANÊNCIA ........................................................................ 15 
 
5 PERSEGUIÇÃO E EXPULSÃO DOS INDESEJÁVEIS .......................................21 
 
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 25 
 
 FONTES ....................................................................................................................... 26 
 
 REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 27 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
A Belle Époque Brasileira (1871-1914) é apresentada, em sua maioria, como sendo o 
período histórico em que se deu o grande processo de urbanização no Brasil, na região cafeeira 
correspondente aos estados de São Paulo e Minas Gerais, nas cidades coloniais brasileiras que 
são Salvador, Recife e o Rio de Janeiro, e especialmente nas duas cidades da região do ciclo 
da borracha, na região norte do País, Belém e Manaus, localizadas no estado do Pará e no 
Amazonas, respectivamente. Dessa forma, alguns agentes históricos são deixados de lado, 
invisibilizados e marginalizados, mesmo tendo sido parte desse importante momento na 
história. É o caso dos cáftens, palavra esta que é utilizada para a definição de homens que 
adquirem seu sustento a partir da exploração da prostituição. A falta da discussão sobre essa 
pauta, nos instiga a investigar jornais da época atrás de informações que nos ajudem a 
compreender a trajetória desses sujeitos, desde sua vinda para Belém, suas tramoias por essas 
terras, e, claro, a perseguição sofrida pelos mesmos, que não eram poucas em meio à uma 
busca elitista por uma cidade embelezada, sem aqueles que viriam a ser excluídos. 
Através de periódicos, mais precisamente os jornais de destaque da imprensa paraense: 
“O Pará” 4, “Folha do Norte” 5, “Estado do Pará” 6e “O Jornal” 7 que são datados do fim 
do século XIX e começo do século XX, teremos uma visão da forma que a Elite e o Estado 
enxergavam os nossos pesquisados, não esquecendo de tomar bastante cuidado, pois devemos 
considerar que os jornais belenenses eram acima de tudo órgãos de difusão dos ideais políticos 
e partidários dos grupos que disputavam o poder local (PANTOJA, 2003), onde segundo De 
Luca (2005), ocorriam pelas influências de interesses, onde a impressa estava subordinada as 
classes dominantes, mera caixa de ressonância de valores, interesses e discursos ideológicos. 
Tanto que as matérias sobre estes homens tratam tais como marginais que devem ser expulsos 
da região por representarem ameaças à uma sociedade que buscava se “embelezar” e ter 
costumes mais sofisticados. Os periódicos nos trazem a possibilidade de entender o 
contexto situacional dos períodos que desejamos aprofundamento, pois através deles 
“podemos desvendar o social, o político, o econômico e dentro de um período pré -
determinando para estudo e os agentes participante do processo social, ainda é possível 
percebermos seu papel na construção dos imaginários e memórias sobre a história.”8
 
4 Existente durante 1897 – 1900 
5 Existente durante 1896 – 1974 
6 Existente durante 1911 – 1980 
7 Existência durante o ano de 1900 
8 KRENISKI, AGUIAR, 2011, p.1 
7
2 CIDADE 
 
A Belle Époque Amazônica ocorreu em um momento em que os espaços urbanos dos 
estados do Amazonas e do Pará encontravam-se recheados de novidades, maravilhas, belezas, 
costumes europeus, roupas enormes e cheias de camadas em pleno calor proporcionado pelo 
clima quente e úmido amazônico, medidas de saneamento, construções de belos parques, 
revitalização de ruas e avenidas, tudo, mas não só isso, proporcionado pela abundancia que a 
economia gomífera aflorou na região, ou melhor, pela riqueza que a extração do látex na 
Amazônia trouxe para os dois centros borracheiros do final do século XIX. Pode-se dizer que 
o que se queria com a tal Belle Époque era atingir modos novos que se tivessem como base os 
costumes franceses, na medida em que: 
a mitologia da belle époque foi expressiva e enraizada o bastante para construir suas 
representações e mundializá-las. Nesse sentido, Paris emerge, no final do século XIX, 
na condição de uma grande e poderosa metáfora, espaço-síntese de uma forma de vida 
requintada, elegante, culta e civilizada. Os mecanismos e os comportamentos da 
sociabilidade burguesa produziram, assim, imagens de uma Idade de Ouro da vida 
social, cujas vias e veias de circulação orgânica eram os boulevards de Paris. 
(COELHO, 2011) 
A cultura e costumes parisienses se espalhavam mundo à fora, e muitos almejavam aquilo que 
se considerava o mais perto de uma sociedade sofisticada, aliás aqui no Brasil, não somente nas 
capitais da borracha se teve esse anseio pela elegância e moldes europeus, mas também cidades 
importantes como a capital brasileira da época, o Rio de Janeiro, assim como do mesmo modo 
com São Paulo, Brusque (SC) e diversas outras cidades do país, pois, de acordo com Lima 
(2018), a França estava tão em alta e representava o ápice da Modernidade do início do século 
XX. A cidade de Belém, após a proclamação da república, já se mostrava em um processo de 
urbanização, mas alguns anos depois este mesmo foi cada vez mais se intensificando, e foi 
promovido principalmente pela figura de Antônio Lemos9, intendente do município (1897-
1911), que se encontrava em meio à disputas políticas locais promovidas pelos seus opositores, 
onde vemos os periódicos da época trocando farpas e denúncias, pois Coimbra (2013) nos 
mostra que os jornais O Jornal e o Província do Pará estavam do lado de Lemos e a Folha do 
Norte e O Estado do Pará apoiavam Lauro Sodré10, adversário do governo lemista. Sodré 
 
9 Antônio Lemos (1843-1913) foi um jornalista e político na cidade de Belém do Pará. Foi intendente no município 
durante os anos de 1897 à 1911. De acordo com a biografia disponibilizada pela Fundação Cultural do Pará (FCP), 
Lemos foi o principal responsável pelo desenvolvimento urbano da cidade de Belém, tendo projetado uma série 
modificações que geririam a vida do cidadão paraense àquela época, sendo tratado como "o maior administrador 
municipal dos últimos tempos". 
10 Lauro Sodré (1858-1944) foi militar, político e estadista. Foi senador do Estado do Pará e do Rio de Janeiro 
(DF) durante a Era Lemista, e depois do fim do governo de Lemos, foi também governador paraense no ano de 
1917 à 1921, onde voltou a ser senador até 1930, com a revolução de 30, que dava fim a primeira república. 
8
denunciava constantemente em seus jornais supostas irresponsabilidades que Antônio Lemos 
fazia em seus mandatos, como beneficiar parentes, amigos, engenheiros, empresas, etc. 
inclusive os periódicos lauristas buscavam “mostrar a que preço a cidade estava sendo 
modernizada e quem de fato, em sua perspectiva, eram os beneficiados com esta 
modernização”11. Não podemos negar em nenhum momento a importância dos periódicos, 
mesmo eles sendo completamente politizados e dominados pela elite, os jornais são importantes 
para a memória bellepoqueana, pois eles não mostram apenas as discordâncias entre políticos, 
nos elucidam também as mudanças ocorridas, as novidades que se tinham nas urbes, as 
denúncias contra sujeitos indesejáveis, dentre as mais diversas questões, sendo possível assim 
ter um panorama grandioso do cotidiano. 
Para além disso, devemos agora chamar a atenção para o que Edineia Mascarenhas Dias 
descreve em A Ilusão do Fausto, onde retratado o fausto, que é todo o luxo e abundância que 
nos é passado quando aprendemos sobre os tempos áureos da borracha que se faz neste processo 
de urbanização e tentativa de mudanças de hábitos para os moldes europeus, desta forma, então, 
é preciso se atentar para essa falácia12 do fausto, pois nem tudo é só riqueza e extravagância. A 
obra em si fala da capital amazonense, mas como as mudanças e processos rápidos de 
urbanização eram semelhantes, algo como que se acontecia em Manaus, acontecia em Belém, 
este detalhe não nos impedirá de fazermos uma análise e relacionarmos com a capital paraense. 
Dias (1999) pontuaque o cenário urbano manauara pouco estava preparado para assumir sua 
nova identidade determinada pela borracha, então era necessária uma restruturação visual e 
também social do núcleo. No que tange ao espaço físico, práticas chamadas de higienização 
devem ser entendidas como uma série de medidas feitas pelo governo para impedir a 
proliferação de doenças e epidemias, dentre elas: o saneamento básico, coleta de resíduos de 
lixo e a pavimentação de ruas. Contudo, essa higienização só era exercida no centro da urbe, as 
periferias continuavam marginalizadas e abandonadas, sem qualquer medida de saneamento, 
recolha de lixo ou pavimentações. A borracha traz toda essa possibilidade de ampliação das 
urbes, pois se deveria modernizar para que se fosse capaz de suportar tamanha responsabilidade 
que se tinha enquanto capitais borracheiras, tanto em Manaus, quanto na sua cidade-irmã, 
Belém. À medida que a borracha subia de importância e de cotação no mercado internacional, 
mais a Amazônia se integrava, pelas vidas das relações de dependência, aos centros 
hegemônicos do capitalismo industrial e financeiro13. Era urgente a necessidade de adequação 
 
11 COIMBRA, 2013, p. 5 
12 Raciocínio falso que simula a verdade. (Oxford) 
13 COELHO, 2011 
9
para esse novo momento, mas “não levando em conta, nesse processo civilizatório, os impactos 
sociais e ambientais negativos”14. Bancos, casas comercias, teatros de revista, cafés, 
agremiações musicais, jornais, grupos de escritores, escolas comerciais compunham a face 
visível, urbanizada e proclamadamente europeizada de uma cidade que o ritmo da economia do 
látex agilizava15. As residências antigas, que abrigavam desfavorecidos socialmente, que se 
localizavam no centro da cidade foram destruídas pois elas, segundo Campos (2007), não 
representavam ou não convergiam para o projeto de regramento estético do cenário urbano que 
estava sendo levado a cabo na Belém oitocentista. 
No campo social, o discurso higienista na cidade de Belém é grande, visto que aqueles 
que tinham o poderio em suas mãos faziam de tudo para se livrar daquilo que trouxesse uma 
visão negativa para o núcleo urbano da capital do estado paraense. Todavia, agora não se fala 
de espaços físicos, e sim de corpos, de pessoas. Dentre tais agentes sociais, se encontravam, 
além das pessoas em situação de rua, os bêbados, os desocupados, os jogadores de bicho, as 
pessoas com deficiência, os doentes, e, também, os cáftens e as meretrizes. Se almejava que 
todos esses deveriam estar o mais longe possível dos ares cosmopolitas. Afinal, qual imagem 
os visitantes e investidores capitalistas teriam ao chegarem e presenciarem tais elementos, isso 
apenas consolidaria “a premissa de que antes da economia gomífera a Amazônia, o Pará e a 
cidade de Belém seriam incultos e incivilizados”16. Dessa forma, a veiculação diária de 
periódicos era para as elites e pessoas dos mais altos níveis que existiam na época, não se tinha 
um segmento social, ou até melhor: Não se falava para os pobres. Na verdade, quando 
mencionados em matérias, esses indivíduos simplesmente “apareciam no jornal de forma 
indireta e em artigos onde o articulista17 não dialogava com os mesmos, mas se referia a eles, 
mencionando-os como problemas sociais a serem resolvidos”18. Antônio Lemos manda 
inclusive construir o chamado Azylo da Mendicidade (Figura 1), construção feita para se 
mostrar uma benevolente forma de amparo para com as pessoas em situação de vulnerabilidade, 
pois era necessário mostrar a preocupação da intendência com os indigentes. 
“Nada mais justo e mais compensador, mais humanitário e bem entendido que 
levantar um palácio para os mendigos neste recanto afastado dos bulícios do mundo, 
nesse trecho virginal da natureza [...] São esses chalets os refeitórios dos azylados, os 
tectos protectores onde as mesas fartas se estendem para saciar methodicamente esses 
obscuros infelizes, que outrora vagaram pelas ruas populosas, na incertesa de um pão 
 
14 DIAS, 1999. 
15 SARGES, 2000 apud COELHO, 2011 
16 CAMPOS, 2007. 
17 diz-se de ou aquele que escreve artigos de jornal, revista etc. (Oxford) 
18 PANTOJA, 2003. 
10
para a boca faminta e de um poial vasio para o corpo cansado.”19 
 
FIGURA 1: CORREDOR E PARTE INFERIOR DO REFEITÓRIO DO AZYLO DA MENDICIDADE 
 
FONTE: Álbum de Belém: 15 de novembro de 1902. Disponível em: fcp.pa.gov.br/obrasraras/ 
Como visto na citação, a morada se encontrava estrategicamente longe do centro urbano da 
cidade para que não causasse má impressão aos para aqueles que chegassem na cidade, 
principalmente para os investidores. Era condenável para uma sociedade que buscava sua 
superioridade em questões de civilidade que esses e quaisquer outros elementos que “sujassem” 
a imagem que estava sendo incessantemente construído no cerne da capital paraense. “Mesmo 
com a presença da mendicância, como na Paris de Baudelaire, os sujeitos sociais da belle 
époque investirão no sentido de reservar os centros da vida urbana e mundana para si”20 da 
forma que não se pode esquecer que tais medidas faziam partes de estratégias políticas que eram 
excludentes para os indesejáveis da Belle Époque, feitas pelo governo estadual e da intendência. 
A chegada dessa modernização era prejudicial para aqueles que não eram das elites de 
Belém, com medidas que eram expressas pelo código penal e o código de posturas. O código 
de posturas chegou inclusive a proibir a livre circulação daqueles 
que não participaram e que não viram circular pelos portos de Belém a riqueza 
produzida pela goma elástica; aqueles que não viajaram nos vapores nem tampouco 
financiaram viagens aos filhos para Paris; aqueles que não comungaram com os 
hábitos, práticas, costumes e etiquetas importadas da França; o termo também 
pretende significar os que em seu dia-a-dia não utilizavam palavras afrancesadas; os 
que não mandavam buscar na Belle Époque parisiense pianos, vestidos, tecidos ou 
mesmo que não os comprassem na capital paraoara.21
 
19 BELÉM. Intendente Municipal (1898 - 1911: A. J. de Lemos). Álbum de Belém: 15 de novembro de 1902. 
Paris: P. Renouard, 1902, p. 66-67 
20 COELHO, 2011. 
21 Ibidem, 2011. 
11
http://www.fcp.pa.gov.br/obrasraras/album-de-belem-1902/
3 IMIGRAÇÃO E MIGRAÇÃO 
 
Com todo o processo de urbanização e modernidade, Belém começa a receber uma onda 
migratória que advêm não apenas do território brasileiro, mas também de diversos países, como 
da Inglaterra, Alemanha, Portugal, Espanha, Itália e França, que, em busca de melhores 
condições de vida, migravam para a zona borracheira, visto que a publicidade feita pelos 
gestores da época mostrava um lugar rico e abundante e, também, com possibilidades de 
crescimento em meio ao fausto, proporcionado pelo auge gomífero. Uma das campanhas 
publicitárias mais conhecidas é de Arthur Caccavoni (Figura 2), que elucidou um Pará cheio de 
maravilhas e riquezas. Descreve em seu texto, a cidade de Belém como linda e graciosa, e que 
no Brasil, além de Rio de Janeiro e São Paulo, não há nenhuma outra cidade que lhe supere. 
Quando fala das abundâncias belenenses, não se prende apenas com a borracha, chega a ser dito 
sobre o “cacau, óleo de copaíba, óleos resinosos e aromáticos, ervas medicinais, raízes, produtos 
vegetais e minerais, e artefatos de curiosidade indígena.” (CACCAVONI, 1998, tradução 
nossa). O álbum descritivo do Pará é completamente capitalista, pois com ele se almeja 
investidores para a região Amazônica, sendo feito inclusive um álbum descritivo amazônico, 
mostrando Belém e Manaus. 
FIGURA 2: REPRODUÇÃO DA CAPA DO ÁLBUM DESCRITTIVO DEL PARÁ 1898 
 
FONTE: Caccavoni, Arthur (1898). Acervo da Seção de Obras Raras da Fundação Cultural do Pará 
12
“Esta é uma cidade (Belém) chamada a um destino glorioso, uma cidade do futuro 
que irá enriquecer a mundo seu comércio e que pode se tornar, talvez, a verdadeira 
metrópole do Brasil; para mim eu tenho issocomo convicção. O Rio de Janeiro está 
longe do mundo comercial; Cerca de 5000 milhas de Nova York, e ainda mais longe 
da Europa. Pará está mais perto do cais, não tem a bacia larga do Rio, porém tem o 
que falta na cidade do sul: belas comunicações através dos rios que cruzam o centro 
do continente e este vale – se as pessoas soubessem! – que é a parte mais rica da 
América do Sul.” (SMITH, s.d. apud CACCAVONI, 1898, tradução nossa) 
Observasse que Belém era tida como uma verdadeira esperança de metrópole 
cosmopolita, tal qual a campanha feita a nível internacional trouxera os mais diversos e 
diferentes tipos de imigrantes, que viriam para a Amazônia gomífera em busca de melhorias de 
vida. A publicidade acerca da procura por investimento e mão-de-obra italiana, portuguesa, 
francesa e espanhola, era fortemente apoiada pelo governador do Pará, Paes de Carvalho22. A 
inserção de matérias publicadas diariamente em periódicos e jornais constantemente exaltava a 
nova vida em terras paroaras23, aumentando o desejo de imigrantes e migrantes em obter 
oportunidades de trabalho e melhores condições de vida, incentivando o fluxo migratório para 
os estrangeiros e brasileiros entre os séculos XIX e XX. 
Perante a esta ideia da entrada de estrangeiros, a elite brasileira pensava, segundo 
Chalhoub (2008), que eles seriam agentes capazes de acelerar a transição para a ordem 
capitalista, e visto que o capitalismo acabou ganhando um grande espaço na Belle Époque, o 
boom da borracha criou novos mercados e para isso se fazia necessária a mão de obra apropriada 
no centro urbano e essa escolha se refletia pelo pensamento progressista. Com isso, o aumento 
populacional se intensifica, e para Cancela (2006), grande parte desse aumento populacional 
está ligado a migração nordestina, onde estes fugiam da seca trilhando um novo caminho em 
direção ao fausto bellepoqueano. Esse contingente populacional foi direcionado pelo governo 
em primeira parte para núcleos agrícolas na tentativa de colonização e a expansão da 
agricultura, e, posteriormente, abandonam esses lugares, trocando-os pelo o centro urbano da 
capital paraense ou pelos seringais do Estado. 
Dessa forma, com o êxodo de migrantes e imigrantes, se intensificam as “questões 
sociais, pois no espaço urbano o roubo, a vadiagem, a prostituição, o jogo, a mendicância e 
doença de toda ordem contradizem a idealização de cidade ordenada e sem problemas”24. Ou 
seja, esse outro lado reverbera a falácia que se tem de uma localidade perfeita, que com a 
chegada de novos grupos a face real da cidade é mostrada. Em 1898, O Pará publica uma 
reportagem sobre a alusão do constante aumento da população na capital do estado do Pará, 
 
22 SANTOS, 2010. 
23 Paraense; Natural do Estado do Pará 
24 DIAS, 1999, p. 94 
13
levantando pontos principais como a expansão de construções de moradias e hospedarias que 
atenda a chegada desse público e como Belém se modernizava em que um certo momento ela 
chegará em um patamar estético europeu, mas diante disso deveria se atentar na questão 
segurança pública, pois, a entrada de diversas pessoas na cidade e, consequentemente, nos 
lugares deveria ser extremamente cautelosa: 
“Mas, n’esses mesmos logares podem-se hospedar criminosos que a justiça de dos 
outros Estados ou do extrangeiro, dos paizes com os quaes tenhamos tratados de 
extradição, procure e exija as suas punições” 25 
Essa preocupação se dá na entrada de imigrantes considerados indesejáveis distantes do perfil 
emigrante desejável, onde como um trabalhador manual que dê conta da conduta social e das 
habilidades ou competências laborais esperadas (DOMENECH, 2015). Esses cidadãos 
passavam longe de uma conduta social esperada em um período de transformações onde o lema 
positivista é “ordem e progresso”. Após a República, o país vai entrar em uma série de reformas 
de cunhos políticos, sociais e econômicos, inspirados nos moldes europeus e norte-americanos. 
O jornal Estado do Pará, em 1912, traz a seguinte notícia: 
“Ultimamente tem sido levado ao conhecimento do Sr. Dr. Chefe de Polícia grande 
números de denúncias gravíssimas contra vários indivíduos de nacionalidade 
estrangeira e que frequentam constantemente um botequim [...]”26 
Este trecho do periódico nos leva a ver como que vigorosamente a sociedade muito se importava 
e se fazia ativa nas denúncias contra o não-cidadão belenense, mostrando medo e considerando 
esses sujeitos de periculosos e nocivos a uma “vida de bem”. Não era bem aceita a vida de 
boêmios, ligando-os a vagabundagem, como se eles não quisessem nada com nada. O 
saneamento social, já debatido anteriormente, é posto enquanto uma solução para a 
modernização da civilidade brasileira, pautados em um discurso eugenista27, assim o 
embranqueamento da população garantia esse marco deixando para atrás as heranças 
escravocratas e pensamentos retrógados do Império. Mesmo com políticas contrárias a estada 
dos ditos indesejáveis, os mesmos continuavam perambulando pelo o centro de Belém e de 
alguma maneira se incluíam nos mesmos locais frequentados pelas elites belenenses, como o 
café Madrid, por isso os estabelecimentos deveriam fazer fiscalizações onde necessitavam 
incluir o nome, a profissão, a nacionalidade, a procedência e destino desses hospedes e 
fregueses.
 
25 O Pará, 3 de janeiro de 1898. fl.1 
26 Gatunos e Cáftens. Estado do Pará. 9 de fev. de 1912 
27 Teoria que busca produzir uma seleção nas coletividades humanas, baseada em leis genéticas; eugenismo. 
(Oxford) 
14
4 CAFTÉNS E SUA PERMANÊNCIA 
 
No ano de 1899, o jornal O Pará retratava a indignação da sociedade paraense com um 
novo grupo social que cada vez mais tomava espaço na sociedade de Belém: 
Vimos o cáften penetrar no seio da família e, do sanctuario, arrancar uma virgem e 
lançal-a ao bordel. Isto é um lado affectivo da questão; mas há um lado social tão 
terrível como este. O cáften é um vagabundo. (...) O vagabundo ha de fazer alguma 
coisa; e esta alguma coisa não é trabalho honesto, é um trabalho do mal; que não 
constróe, destróe.28 
O cáften29 é descrito como um perigo social para população de Belém, esses sujeitos chegavam 
com a imigração aproveitando para a capitalização de seu negócio: a prostituição. Eles viviam, 
de acordo com Schmitt (1988), a margem da sociedade pós-revolução industrial recusando as 
normas éticas de sua sociedade. Alguns eram fugitivos caçados de outros países, e outros já 
entraram e saíram do Brasil diversas vezes, deslocando-se entre outros estados burlando a 
vigilância de fronteiras e zonas portuárias. Descritos como aliciadores de um trabalho 
desonesto, no entanto, lucrativo, sua renda se destacava através do aliciamento de estrangeiras, 
essas mulheres eram seduzidas com pedidos de casamentos “apaixonantes”, vendidas pelas suas 
famílias pobres de partes da Europa Oriental, conquistadas com promessas de emprego para 
melhorar ou auxiliar sua família ou iludidas por uma nova vida no “Novo Mundo” constituíram 
a escravidão branca no regime republicano. Sejam moças ingênuas como as “virgens” ou 
meretrizes que transitava nessas viagens em busca de um capital maior, da sedução à violência 
tudo se fazia valido para obtenção de novas jovens.30 
Esses indivíduos compartilhavam uma grande rede de prostituição, formado por rotas 
internacionais e a capital do Pará logo se torna um atrativo para esses homens, pois, com a 
modernização da cidade e o grande fluxo de homens sós, com destaque para seringueiros, 
aviadores e comerciantes, que diariamente chegavam aos portos é estabelecida a demanda por 
prostitutas, que segundo Menezes “o especial destaque era para as estrangeiras, consideradas 
símbolos da modernidade e da sofisticação”31. O lenocínio para esses indivíduos transformava-
se em seu sustento ou pelo menos uma contribuição para a sua renda. É visto como uma opção 
lucrativa mediante aos outros trabalhosencontrados no centro urbano, na maior parte braçais 
ou sem perspectiva para essa população de maioria analfabeta e sem qualificações, no entanto, 
 
28 O Pará: 9 de março de 1899, pág. 1. 
29 Ressalte-se que o termo “cáften” é empregado como um tipo específico de proxenetismo, nome dado a esses 
traficantes internacionais. Provavelmente derivado da palavra “kafta”, uma vestimenta judaica como referência 
da grande participação dos judeus nessa rede do tráfico de mulheres 
30 MENEZES, 1996, p.168. 
31 Ibidem, p. 152. 
15
grande parte deles conciliavam os dois. É interessante destacar que grande parte desses homens 
conciliavam seus trabalhos profissionais como sapateiros, alfaiates, padeiros, comerciantes etc., 
no período matutino e durante a noite partiam para seu negócio organizado. Apesar da 
participação na grandiosa belle époque luxuosa, alguns cáftens não tinham o mesmo destino 
lidando com a polarização no meretrício que influenciava em seu “status” no lenocínio, segundo 
Menezes esses cáftens “vão ser enquadrados em dois modelos principais: os franceses, mestres 
no jogo do amor e da sedução, e os judeus, traficantes violentos e desalmados, comparados, nos 
relatos e obras especializados sobre o assunto, aos ex-traficantes de escravos”32. A prostituição 
é um mercado antigo irradiado em todo mundo, a dominação “divina natural” do homem de 
certa forma contribuiu para a realização desse sistema numa forma de repúdio a submissão e a 
dependência ao sexo masculino. A reprovação da comercialização do corpo feminino sempre 
foi diversa em diferentes momentos da sociedade, mas no século XIX a influência da Cidade 
Luz não era só com ideias de reformas urbanas ou modernizações, mas com a libertação do ato 
carnal, sobre isso Perrot afirma: 
 (...) De uma cidade que assume dimensão fantásticas, imensamente infladas pelos 
medos higienistas e morais, em particular o temor da sífilis, temor das famílias. 
Consideradas um exultório necessário a uma sexualidade feminina, a prostituição 
comumente regulamentada segundo um sistema francês que conquistou a Europa 
(PERROT, 1998, p. 26-27) 
Já no começo do século XX, a prostituição importada não somente conquista a Europa 
mas diversos países norte-americanos e sul-americanos, e aos poucos foi constituindo o cenário 
belenense, como mostra uma matéria publicada pelo O Jornal em 1900, falando sobre os 
lugares que necessitava com urgência da “repressão de ferro” da polícia destacando a praça da 
República entre o Café Madrid e a Rotisserie Suisse (figura 3), com vários alcoices com 
inquilinas animadas ostentando em portas e janelas seus trajes “singelos” perturbando as 
pessoas respeitáveis que habitam naquela jurisdição e ofendendo a população recatada33. A 
“mais antiga profissão do mundo” dividirá espaço com a moralidade elitista paraense e os 
lugares socioespaciais na cidade. Duramente reprimido em jornais, esse vício social tinha um 
propósito no mesmo lugar que o censurava, era necessária sua existência para a paz e ordem na 
sociedade, promovendo a tranquilidade no seio familiar, já que o meretrício tinha comprovações 
cientificas desde o século XIX como uma válvula de escape das tensões que diversos homens 
encontravam em seu dia a dia. Essas figuras femininas vão ser inevitáveis para a satisfação e 
virilidade masculina, onde o sadismo e o prazer é praticado fora de seus suntuosos palacetes e 
 
32 MENEZES, 1996, p. 158. 
33 Os Antros dos Vícios. O Jornal: 4 de novembro de 1900, pág. 1. 
16
longe de suas senhoras recatadas que permaneciam ocupadas em seus afazeres “fúteis”, 
domésticos e religiosos. 
 
FIGURA 3: PROPAGANDA DO HOTEL E RESTAURANTE ROTISSERIE SUISSE EM 1920 
 
FONTE: https://fragmentosdebelem.tumblr.com/page/16 
Outros polos no Brasil que requisitavam a prostituição estrangeira serão dois estados do 
Sudeste. No Rio de Janeiro após a abolição da escravidão, a procura sexual pelo corpo das 
negras deixa de ser uma possibilidade para seus antigos “donos”, formando um “lado a alteração 
dos costumes sexuais dos senhores de escravos, que passaram a privilegiar a sensualidade da 
mulher europeia.”34 Outras se direcionavam para capital vizinha, a modernização de São Paulo 
atraía diversos imigrantes e essas madames serão aceitas socialmente enquanto transmissora de 
hábitos mais civilizados, especialmente as de origem estrangeira e enquanto introdutoras 
dos jovens nas “artes do amor”35. Posteriormente esses lugares vão desenvolver a expansão 
desse comércio de brancas, integrando suas zonas portuárias com as rotas internacionais 
existentes. 
Na medida em que o crescimento da prostituição acontece, essas estrangeiras 
encaminhadas para a Belém vão constituir uma hierarquização nesse mercado sexual. No alto 
meretrício, a grande procura era as famosas “coccotes”, ligadas ao glamour francês e presentes 
no imaginário luxuoso da belle époque. Ostentavam roupas, joias e costumes europeizados e 
eram as prediletas como companhias de cortesãs da alta classe paraense. Para os homens da 
“boa sociedade”, respeitáveis em seus negócios e de sucesso reconhecido, coronéis de barranco, 
seringalistas, políticos, oficiais de alta patente, administradores públicos, juízes, promotores, 
 
34 MENEZES, 1996, p.154 
35 RAGO, 2005, p. 43 
17
https://fragmentosdebelem.tumblr.com/page/16
advogados, importadores, exportadores. Eram esses admirados nos mitos que retratavam os 
homens que acendiam seus charutos com notas de cem réis36. Sempre vistas e requisitadas em 
lugares públicos e privados, entrando e saindo do teatro, cinema, cafés chiques e nas praças ao 
lado desses homens, não era incomum a divisão do espaço com a elite conservadora, assim, a 
criação de certos horários era estabelecida permitindo a sociabilidade e ao mesmo tempo 
segregação com essas “francesinhas”.37 
 FIGURA 4: CARTÃO POSTAL: QUADRILÁTERO PRINCIPAL DA PRAÇA DA REPÚBLICA. 
 
FONTE: União Postal Universal (ano desconhecido). Disponível em: 
https://www.harpyaleiloes.com.br/peca.asp?ID=2214273&ctd=72 
O baixo meretrício constantemente é retratado em diversas publicações nos periódicos, 
mas em grande escala nos cadernos policiais, depreciadas por epítetos como “marafonas, 
mariposas, patuscas, regateiras, decantadas”38, percebemos como essas meretrizes garantiam 
sua adaptação na moderna Belém. Localizadas nas periferias e centros urbanos, essas imigrantes 
do “baixo escalão” eram as polacas, que não eram “necessariamente polonesas, passaram a 
refletir, nos gostos e nas mentes, a imagem de Europa atrasada, destinando-se aos homens de 
menores posses e exigências”39 dividiam o espaço e concorrência com meretrizes brasileiras , 
em sua maior parte nordestinas e paraenses com feições “cansadas” e “caboclas”, e outras 
estrangeiras consideradas distantes do pensamento etnocêntrico do progresso. Essas vão sofrer 
duramente regimes higienistas, consideradas um perigo para a saúde pública, associadas à 
sujeira, à falta de higiene e à doença, especialmente à sífilis40. 
A luta pela sua sobrevivência e lucro deixavam essa figura feminina exposta a diversos 
 
36 SANTOS JUNIOR, 2019, p. 43 
37 Termo usado por Santos Junior, 2019, p. 45 
38 Ibidem, p.44 
39 MENEZES, 1994, p.158 
40 AMADOR, HENRIQUE, 2016, p. 362. 
18
https://www.harpyaleiloes.com.br/peca.asp?ID=2214273&ctd=72
tipos de violências, a desproteção do poder público, desilusões com o fausto, suicídios e mortes. 
Em 1897, o Folha do Norte retratava essas violências ocorridas, com uma a francesa de 25 
anos, chamada Julia Descarsan, que estava capital a quatro meses, explorada pelo cáften 
Alphonse Fulbert: 
Foi preso hontem às 3 horas da tarde, momento após ao em que, sob ameaças 
pretendera extorquir um conto de réis a sua victima Julia Descarsan, a quem chegou 
espancar nessa occasião, ficando ella contudida em várias partes do corpo. (...) Julia 
Descarsanapresentou ao 1º prefeito um revólver que tomara de Alphonse, e com o 
qual pretendera assassiná-la no caso que não lhe desse a importância de 1 contos de 
réis.41 
O homem com cerca de 30 anos descrito com vestes elegantes, declarado como mecânico e 
representante de um importante casa de Cuba, falava fluentemente a língua francesa e 
espanhola, não só espancava e roubava sua vítima como a intimidava psicologicamente com 
ameaças de morte ou, o pior para essas mulheres, contar para sua família a vida que essa 
“infeliz” estava levando. Apesar de sua prisão a polícia não sabia ao certo o predomínio que ele 
teria sobre ela, o alivio da mesma foi imediato representando o enorme medo cotidiano que 
essas meretrizes sofriam dessas quadrilhas. No mesmo ano, o Folha do Norte também havia 
denunciado o indivíduo Mauricio Segismundo de 40 anos, com naturalidade romana, 
novamente descrito como um cáftens elegante e apessoado, o seu mesmo destino foi a prisão, 
por extorquir sua vítima Clara Hermann: 
[...] Depois de algumas pesquisas, o sr 1º prefeito chegou ante-hontem ao 
conhecimento do logar em que aqui se haviam homisiado os cáftens que nos 
referíamos, e hontem pela manhã conseguio enffectuar a prisão de um deles que 
frequentavam diariamente o <Maison Dorée>, onde reside Clara Hermann, que com 
elle viera do Rio e quem extorquia seus dinheiro e joias e tudo mais que a infeliz 
obtinha na tristíssima vida que arrastava. Ainda ante-hontem obrigou-a a dar-lhe um 
conto de réis.42 
Na publicação é detalhada como chegada desses homens foi estimulada pelos mais diversos 
fatores, como a perseguição no Rio de Janeiro que já ocorria em 1897. A própria imprensa 
local publicava os fatos ocorridos daquele centro urbano onde sempre apareciam nossos 
protagonistas nesses delitos de furto e violência cometida com as “messalinas” estimulando a 
polícia fluminense para um veredito. Interrogado sobre sua profissão, declara-se como um 
homem que viajava para se divertir, um “touriste”, retratado no O Lupanar43, uma espécie de 
folheto da época com artigos sobre o caftismo da capital republicana. Percebemos que 
Mauricio, assim como grande parte dessa leva expulsa do distrito federal e de mais algumas 
localidades, se alojou em Belém, fugindo da perseguição de autoridades policiais que ocorria, 
 
41 Folha do Norte: 27 de abril de 1897. p. 2 
42 Folha do Norte: 19 de fevereiro de 1897. p. 2 
43 Foi publicado em 1896 no Rio de Janeiro por Francisco Ferreira Dias 
19
e que apesar também da deportação retornavam com facilidade e continuavam a circulação em 
diversos territórios no finíssimo requinte com suas subordinadas à procura de nova uma clientela. 
Como boa parte desses “dandys”, a frequência em locais da vida boêmia na cidade será 
bastante atrativa, o uso do tempo livre, os hábitos, os costumes e as regras comportamentais 
vigentes a partir do século XX, diziam muito acerca dos gostos e dos prazeres de parte da 
sociedade44 e lugares de prazer e lazer como cafés, cassinos, hotéis e casas de tolerâncias vão 
ser procurados por intelectuais, senhores da elite paraense e homens menos abastados. Bebendo, 
jogando ou trocando ideias, esses homens participavam da mesma esfera social, dividindo em 
comum a boêmia e o prazer carnal. Da principal avenida da 15 de agosto (atual Av. Presidente 
Vargas) aos bairros da Campina, a demarcação desses espaços estratégicos vai modelando a 
área do meretrício, evitando segundo as autoridades a propagação do prazer imoral e doenças 
venéreas para outras localidades. Nessas áreas o caftismo exibe sua verdadeira faceta, sua a 
participação na economia da época é relevante, na medida de novas casas de tolerâncias em 
moldes parisienses, os esplêndidos cafés dançantes e a expansão da prostituição europeia. 
Usando a linha divisória da História dos Marginais esses cáftens são excluídos pela ruptura de 
estatutos e normas do meio social, no entanto, a sua utilidade social é visível para a 
movimentação da economia participando da estrutura da sociedade gomífera paraense.
 
44 DIAS JUNIOR, 2014, p.57 
20
5 PERSEGUIÇÃO E EXPULSÃO DOS INDESEJÁVEIS 
 
No final do século XIX e início do século XX, essa quadrilha viveu uma intensa 
perseguição policial. Notícias em Belém surgiam chamando atenção para necessidade da 
segurança pública contra esses indivíduos. Campanhas eram publicadas denunciando qualquer 
estrangeiro que levantava suspeita sobre a prática, o Estado do Pará em 1912, noticiava 
denúncias que poderiam ser da população ou das próprias meretrizes que auxiliavam a “fechar 
esse cerco”. 
Ultimamente tem sido levantado ao conhecimento do sr. chefe de polícia grande 
número de denúncias gravíssimas contra vários indivíduos de nacionalidade 
extrangeira e que frequentam constantemente um botequim à rua Lauro Sodré, esquina 
da avenida Quinze de Agosto, de propriedade de Manoel Fernandes, accusando-os de 
exercerem uns caftismo e outros gatunagem.45 
Na notícia podemos levantar pontos importante sobre a abordagem da polícia: a verificação da 
procedência dessas denúncias onde a autoridade encaminha o subprefeito José Ferreira para 
confirmar o fato dessas acusações, aprovando sua veracidade demonstra em como as 
autoridades policiais se empenhavam para extinguir o caftismo, no entanto, é contraditório nesse 
período acabar com o tráfico e ao mesmo tempo exigir mais “mercadorias” estrangeiras. Os 
botequins são considerados o ponto principal para a reunião desses “negociantes”, visto como 
desocupados, parte desses boêmios vão passar sua rotina nesses locais para encontros, 
bebedeiras e agenciamento, no estipulado “no horário das 4 horas da tarde em deante” podia 
ser encontrar essa “perigosa gente” no local. Nota-se que com dezessete prisões efetuadas 
naquele dia, a notícia expõe uma pequena parte das nacionalidades desses indivíduos, os 
italianos, turcos, marroquinos, gregos e franceses, abrigados na cidade. 
A escravidão branca desempenhou um intenso papel após a abolição da escravatura e no 
período republicano. Essas moças caucasianas causaram um grande alvoroço no país, associadas 
a cultura francesa, Paris transformou-se em um centro de modernidade importando costumes e 
hábitos. A valorização da França no mercado sexual desempenhou a demanda do meretrício para 
diversos lugares, levando “várias meretrizes a adotarem estereótipos e a se identificarem como 
francesas; o mesmo sendo verdadeiro para vários cáftens”46. Na capital paraense, “para a maioria 
dos amazônidas, qualquer estrangeiro que falasse francês era considerado como tal”47, ou seja 
os imigrantes franceses mesmo que não praticassem ou não concordassem com a prática, 
poderia ser denunciado como tal. 
 
45 Estado do Pará: 9 de fevereiro de 1912 - pág. 2 
46 MENEZES, 1996, p.170. 
47 ORUM, 2012, p.9. 
21
FIGURA 5: LEILÃO DE POLACAS NO RIO DE JANEIRO 
 
FONTE: https://rabinovicimoises.com/tag/prostitutas-judias/ 
A caça contra os cáftens aderiu diversas investigações e campanhas para exportar e prender 
esses indivíduos. Esse problema com início no período Imperial aumentou cada vez mais com 
as ideias modernizadoras dos oitocentos. Antes de 1890, os indivíduos que exerciam o 
proxenetismo, caso fossem estrangeiros, eram deportados após a instauração de inquérito e, a 
comprovação efetiva do envolvimento com esse tipo de exploração. Os nacionais e os 
naturalizados, entretanto, nada sofriam ou quando muito assinavam termo de bem viver. Isso 
fez com que muitos proxenetas estrangeiros se naturalizassem, para poderem exercer 
tranquilamente a atividade48. 
A organização dessas redes dificultava prisões. Em Belém, o constante aumento da 
entrada e saída da circulação desses indivíduos favoreceu a rota dessas mulheres. Esse comércio 
internacional passava por polos brasileiros e outros países sul-americanos, destacando a 
Argentina com Buenos Aires, a capital conhecidapela legalização da prostituição que se tornou 
a cidade de um mercado privilegiado de abastecimento para inúmeros importadores de 
mulheres49. Em 1890, com a instituição do Código Penal é aprovado o artigo 278, 
criminalizando a pratica do lenocínio, consequentemente, adotado por diversos estados do país. 
Quem ousassem induzir essas mulheres abusando de suas fraquezas ou miséria, intimidando-as 
e aliciando para prostituição deveriam ser presos, pagar multas pela sua desobediência, ou 
expulsos para sua cidade natal, apesar disso, tudo indica que os que verdadeiramente lucravam 
com a prostituição foram muito pouco ou nada incomodados. Em suma, a situação não parece 
 
48 SILVA, 2015, p.39 
49 MENEZES, 1996, p.177 
22
https://rabinovicimoises.com/tag/prostitutas-judias/
ter se modificado50. A partir de 1899, conferências internacionais são organizadas na tentativa 
de reprimir esse crime, o Brasil participou de todas as reuniões oficiais e foi signatário das 
convenções elaboradas em 1904 e 1910 (MENEZES, 1999, p.178). O acordo de diversos países 
na busca desses indivíduos se tornou um “compromisso” com essas mulheres, concordando que 
cada um escolheria uma autoridade encarregada de coordenar as informações sobre o tráfico, 
de estabelecer uma vigilância sobre os pontos de chegada e saída de seu país, além de promover 
mudanças em suas leis para incluir a figura delituosa do transporte internacional de mulheres 
para a prostituição.51 Segundo os congressistas, era para Rio de Janeiro e Buenos Aires, as mais 
populosas cidades da América do Sul, que o tráfico de prostitutas se voltava, sendo originário 
de Áustria, Hungria, Polônia, Itália, Romênia e França. Na Conferência de Paris de 1902, os 
países presentes comprometeram-se a uniformizar as suas leis penais quanto ao tráfico de 
mulheres. Procurando manter a "ordem pública internacional, a Conferência facilitou a 
repressão e protegeu as vítimas dos traficantes"52. Não tão distantes do Rio de Janeiro aqueles 
expulsos recorria a cidade das mangueiras em busca de abrigos com outros rufiões continuando 
sua saga em terras paraenses. 
Em nossos recortes finais, a caça contra os cáftens na cidade começa em meados de 
1913, com notícias acompanhadas de nomes, nacionalidades e o número de prisões efetuadas 
alertavam a população e de certo modo auto promovia a polícia, um exemplo disso são as 
chamadas das matérias: “Cáftens e vadios: uma caçada policial - vinte e um indivíduos no 
xadrez.” 
Um novo critério abraçado pela polícia repousa sobre um ponto magnifico, que é 
adopção da guerra ao caftismo nesta capital, principalmente ao que concerne aos 
sórdidos proxenetas que, máo grado a vigilância policial, continuam a exercer o 
commercio indecoroso e revoltante da escravidão branca, principalmente pela 
importação extrangeira, cuja a procedência maior é a Argentina.53 
A guerra contra a massa indesejável em Belém por diversas vezes era complicada, pois os 
cidadãos estrangeiros eram confundidos com esses cáftens, gatunos ou vadios. De acordo com 
Schettini (2005) os processos de expulsão levantados demostram que alguns estrangeiros 
suspeitos eram investigados em inquéritos policiais, outros eram presos de forma sumária e 
intimados a comprar passagem para sair do país. Mas as leis de expulsão contra os verdadeiros 
inimigos da moralidade não legitimavam a solução do problema, pois “diversos artifícios 
 
50 SILVA 2015, p.44. 
51 Anexos IV e V, Liga das Nações, Report of the Special Body of Experts on Traffic in Women and Children, p. 
197-200. (SCHETTINI, 2005, p.10) 
52 MAZZIEIRO, 1998. 
53 Estado do Pará: 9 de março de 1913, pág. 3 
23
podiam ser utilizados para o transporte das mulheres”54. A facilidade de trocas comerciais entre 
Belém e outros países tornava essas campanhas praticamente ineficazes, essas “caçadas” a 
cáftens e ameaças de expulsão sumária não pareciam ser a melhor estratégia em um país de 
dimensões como as do Brasil55. Formas de burlar essa segurança eram aplicadas com 
pagamento de propinas para esses policias. Já os sentenciados recorriam para advogados na 
tentativa de diminuir sua condenação. 
Em maio de 1913, a campanha recomeçava, o Folha do Norte noticiava a prisão de vinte 
e três cáftens e gatunos, no comando do chefe Raymundo Pereira dos Santos, a operação se 
tornava um sucesso conduzindo esses homens para estação central da polícia.56 O noticiário 
exibia novamente a lista de nomes desses jovens, mas dessa vez era incluído menores de idade 
participando desses delitos, visualizando o comparecimento desses adolescentes nesses atos 
libidinosos. Apesar dessa intensa caçada e expulsões contra esses criminosos, o lenocínio 
estrangeiro vai se definhando junto com a decadência do ciclo da borracha, com poucas 
demandas desse mercado para a cidade, as “mariposas” deixadas a própria sorte logo 
construíam sua vida social, e posteriormente contribuíram para o surgimento de muitas “casas 
alegres” e cabarés57 ao redor do centro urbano. Para os indivíduos só restou as consequências 
dos seus delitos, logico que muitos conseguiram se safar, outros tiveram que se adaptar e 
encontrar outras fontes de renda, mesmo assim continuavam discriminados, ferindo sua 
virilidade. Ainda que considerados indesejáveis na primeira metade da República, é fato que 
esses indivíduos constituíram o cotidiano da sociedade belenense, participando de espaços 
públicos e privados, garantindo sua presença em registros de noticiários ou fichas criminais. 
Estes homens viveram e contaram sua história em uma época de repressão, higienismo e 
moralidade.
 
54 MENEZES, 1999, p.179 
55 SCHETTINI, 2005, p. 5. 
56 Estado do Pará: 28 de maio de 1913, p.2 
57 DIAS JUNIOR, 2014, p. 101. 
24
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
A principal discussão dessa pesquisa é presença da masculina do cáften em um espaço 
que é amplamente feminino: o meretrício. Através das fontes dos jornais Estado do Pará, Folha 
do Norte, O Jornal e O Pará com recortes cronológicos de 1898 até 1913, presenciamos os 
discursos e testemunhos sobre a presença dessa quadrilha que desestruturava a ordem moral e 
social da pomposa Belém. O uso desses documentos com espaços temporais tem um objetivo: 
observar a vinda desses homens no período áureo da cidade com a economia da borracha (onde 
eram propagadas diversas campanhas do governo), elucidar os seus modos de se comportar 
perante a sociedade belenense que vivia seu apogeu, e também mostrar os testemunhos de suas 
vítimas e sentenças de autoridades policiais, através das publicações desses periódicos. 
Com auxílio de diversas historiografias existentes sobre caftismo em outros estados, 
percebemos que esta figura também se inseriu na sociedade belenense no período da primeira 
república, com a entrada da prostituição branca na capital a alta demanda dessas mulheres 
fenotípicas claras e os discursos da regulamentação de sua profissão, que era considerado como 
um “mal necessário”, abriu a consolidação desse lenocínio internacional em terras amazônicas. 
Esses homens de diferentes nacionalidades se abrigavam usando formas para burlar as 
autoridades policiais. Em 1913, nosso último ano temporal, Belém já não era mais uma cidade 
luxuosa, competindo e perdendo seu lucro com a borracha do mercado asiático. Nesse mesmo 
ano, após os acordos de países no exterior junto com o Brasil para a extinção dessa 
criminalidade, as campanhas de combate contra esses aliciadores chegam na cidade, surgindo 
a esperança nas famílias de bem e, principalmente, para as vítimas que sofriam com horrores 
desses proxenetas. Assim percebemos o distante tempo de resgaste dessas mulheres, sofrendo 
com o descaso do poder público e a invasão de seu corpo para uma capitalização em que ela 
não se beneficiaria. 
Além do mais, este estudo contribui para o resgaste de um ator social pouco citado em 
terras paraenses, segregado por normas moralistas e religiosas. Essesos cáftens viviam de 
acordo com suas regras aterrorizando o principado cristão, mas, ao mesmo tempo contribuíam 
para movimentação da economia e para a virilidade dos barões da borracha. Por fim, é 
importante se ressaltar a importância dos jornais como fonte de pesquisa, ou melhor, o jornal é 
um grande aliado do historiador quando ele quer adentrar em um contexto histórico, pois através 
desses periódicos se tem a possibilidade de se esclarecer dúvidas, conhecer novos sujeitos, 
enxergar novos lados de um processo histórico, entre muitas outras função que o estudo dos 
periódicos nos permite.
25
FONTES 
 
ACERVO DA HEMEROTECA DIGITAL BRASILEIRA: 
 
FOLHA DO NORTE, Belém, 19 fev. 1897, p. 2, Echos e Notícias: Nona Notícia. 
FOLHA DO NORTE, Belém, 27 abr. 1897, p. 2, matéria: a Polícia e os Cáftens. 
 
O PARÁ, Belém, 3 jan. 1898, p. 1, matéria: Uma Lembrança. 
O PARÁ, Belém, 9 mar. 1899, p. 1, matéria: Os Cáftens. 
O PARÁ, Belém, 15 mar. 1899, p. 1, matéria: Os Cáftens 
 
O JORNAL, Belém, 4 nov. 1900, p. 1, matéria: Os Antros dos Vícios 
 
ESTADO DO PARÁ, Belém, 9 fev. 1912, p. 2, matéria: Gatunos e “Cáftens” 
ESTADO DO PARÁ, Belém, 9 mar. 1913, p. 3, matéria: Cáftens e Vadios. 
ESTADO DO PARÁ, Belém, 28 mai. 1913, p. 2, matéria: Cáftens e Vagabundos. 
 
Disponíveis em: http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/ 
26
http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/
REFERÊNCIAS 
 
AMADOR, Luiza Helena Miranda; HENRIQUE, Márcio Couto. Da Belle Époque à cidade 
do vício: o combate à sífilis em Belém do Pará, 1921-1924. História, Ciências, Saúde – 
Manguinhos, Rio de Janeiro, v.23, n.2, abr.-jun. 2016, p.359- 378. 
 
CACCAVONI, Arthur. Álbum descritivo del Parà- 1898. Gênova: F. Armanino, 1898. 
 
CAMPOS, Ipojucan Dias. Repressão, higiene e disciplina na Belle-Époque Belenense 
(1890-1900). Textos e Debates (UFRR), v. 13, 2007 
 
CAMPOS, Ipojucan Dias. Regulamento Da Prostituição: Meretrizes E Policiamento 
(Belém-PA, 1890)." História, Histórias 6, no. 12 (2018). 
 
CANCELA, Cristina Donza. Casamento e relações familiares na economia da Borracha 
(Belém, 1870-1920). P. 103. São Paulo, 2006. 
 
CHALHOUB, Sidney. Trabalho, Lar e Botequim: o cotidiano dos trabalhadores no Rio 
de Janeiro da Belle Époque. Campinas, Unicamp, 2008. 
 
CHARTIER, Roger, LE GOFF, Jacques, REVEL, Jacques. A HISTÓRIA NOVA. 4a ed. 
São Paulo: Martins Fontes, 1988. 
 
COELHO, Geraldo Mártires. Na Belém da belle époque da borracha (1890-1910): 
dirigindo os olhares. Revista Escritos, ano 5, nº 5. 2011. 
 
COIMBRA, Adriana Modesto. A cidade concedida: urbanização e disputas políticas em 
Belém do Pará na virada do século XX. XXVII Simpósio Nacional de História, Natal, 2013. 
 
DIAS, Edinea Mascarenhas. A ilusão do fausto: Manaus, 1890-1920. 3ª edição. - Manaus: 
Valer, 1999. 
 
DIAS JUNIOR, José do Espírito Santo. Entre Cabarés e Gafieiras: Um estudo das 
representações boemias em Belém (1950 a 1980). Pontifícia Universidade Católica de São 
Paulo. São Paulo, 2014. 
 
DOMENECH, Eduardo. O controle da imigração" indesejável": expulsão e expulsabilidade 
na América do Sul. Ciência e Cultura, v. 67, n. 2, p. 25-29, 2015. 
 
LIMA, Natália Dias de Casado. A Belle Époque e seus reflexos no Brasil. Anais da XI 
Semana de História UFES. Espirito Santo, 2018. 
 
DE LUCA, Tânia Regina. História dos, nos e por meio dos periódicos. In: PINSKY, Carla 
Bassanezi (Org.). Fontes históricas. São Paulo: Contexto, 2005. 
 
MAZZIEIRO, João Batista. Sexualidade Criminalizada: Prostituição, Lenocínio e Outros 
Delitos - São Paulo 1870/1920. Revista Brasileira de História. 1998, v. 18, n. 35, pp. 247-285. 
 
MENEZES, Lená Medeiros de. Os Indesejáveis. 1ª edição. Rio de Janeiro: EDUERJ ,1996. 
27
 
ORUM, Thomas T. As Mulheres das Portas Abertas: judias no submundo da Belle 
Époque amazônica, 1890-1920. Revista Estudos Amazônicos, v. 7, n. 1, p. 1-23, 2012. 
 
PANTOJA, Leticia Souto. “É Preciso formar a alma!” Periodismo e regeneração social 
em Belém na belle époque (1890-1910). ANPUH – XXII SIMPÓSIO NACIONAL DE 
HISTÓRIA. João Pessoa, 2003. 
 
PERROT, Michelle. MULHERES PÚBLICAS. São Paulo: Fundação Editorial Unesp, 1998. 
 
PERROT, Michelle. Os excluídos da História: operários, mulheres e prisioneiros. Rio de 
Janeiro: Paz e Terra, 1988. 
 
RAGO, Margareth. Do Cabaré ao Lar. A Utopia da Cidade Disciplinar. Rio de Janeiro, Paz e 
Terra, 1985, 1a ed. 
 
RAGO, Margareth. Os Prazeres da noite: Prostituição e códigos da sexualidade feminina 
em São Paulo (1890-1930). São Paulo: Paz e Terra, 2ª ed. 2008. 
 
RAGO, Margareth. IMAGENS DA PROSTITUICÃO NA BELLE EPOQUE PAULISTANA. 
Cadernos Pagu, Campinas, SP, n. 1, p. 31–44, 2005. 
 
SANTOS, Luiz Cezar Silva dos. Advertising belle epoque: the printed media in the city of 
Belem periodicals between 1870-1912. 2010. 269 f. Dissertação de Mestrado em História - 
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2010. 
 
SANTOS JÚNIOR, Paulo Marreiro dos. Das “polacas” e “francesinhas” às “regateiras” e 
“decantadas”. Crítica ao imaginário e historiografia da prostituição da Manaus da 
Borracha. Revista Brasileira de História & Ciências Sociais (RBHCS), v. 11, n. 22, p. 38-58, 
2019. 
 
SARGES, Maria de Nazaré. Riquezas Produzindo a Belle Époque, Belém: Paka-Tatu, 2000. 
 
SCHETTINI PEREIRA, Cristiana. A caça aos cáftens: práticas brasileiras de perseguição 
e expulsão de estrangeiros. 1920. Tese de Doutorado. Departamento de Historia de la 
Facultad de Ciencias de la Educación, Universidad Nacional del Litoral. 
 
SCHMITT, Jean-Claude. A História dos Marginais. Inn: HISTÓRIA NOVA, 4ª ed. São 
Paulo: Martins Fontes, p. 261-289, 1988. 
 
SEVCENKO, Nicolau. Literatura como missão: tensões sociais e criação cultural na 
Primeira República. São Paulo: Brasiliense. 1989 
 
SILVA, Marinete dos Santos. O tráfico e a exploração de mulheres na prostituição no Rio 
de Janeiro na segunda metade do século xix. Ler História, n. 68, p. 87-108, 2015. 
 
STAEVIE, P. M. Imigração estrangeira, economia e mercado de trabalho na Amazônia 
brasileira entre o final do século XIX e o início do século XX. Resgate: Revista 
Interdisciplinar de Cultura, Campinas, SP, v. 26, n. 1, p. 153–172, 2018. 
 
28
KRENISKI, Gislania Carla P.; AGUIAR, Maria Do Carmo Pinto. O Jornal Como Fonte 
Histórica: A representação e o imaginário sobre o “vagabundo” na imprensa brasileira 
(1989-1991). Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH. São Paulo, 2011. 
29

Outros materiais