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ARTIGO DE PAN-AMAZÔNIA (2)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
FACULDADE DE HISTÓRIA
DISCIPLINA: PAN-AMAZÔNIA
DOCENTE: FERNANDO ARTHUR DE FREITAS NEVES
DISCENTE: EUNICE CAROLINE SOUZA DOS SANTOS
 IRLEY BLENDA FREITAS MOREIRA
AS FESTIVIDADES TRADICIONAIS DA PAN-AMAZÔNIA NO SÉCULO XXI: O CASO DO BRASIL E DA COLÔMBIA 
Belém, Pará
2022
AS FESTIVIDADES TRADICIONAIS DA PAN-AMAZÔNIA NO SÉCULO XXI: O CASO DA BRASIL, COLÔMBIA E PERU.
 Eunice Caroline Souza dos Santos [footnoteRef:1] [1: Aluna de graduação em História da Universidade Federal do Pará. eunicecaroline@gmail.com ] 
 Irley Blenda Freitas Moreira[footnoteRef:2] [2: Aluna de graduação em História da Universidade Federal do Pará. irley.blenda17@gmail.com] 
Resumo: As festas, festival, festejos refletem muito das característica identitárias de uma região, evidenciam os múltiplos significados e modo de vida da tradição de um povo. Este artigo discute sobre as festas socioculturais presentes na Pan-Amazônia. O objetivo é descrever as peculiaridades de dois festivais Folclóricos: o festival folclórico de Parintins, que acontece em Manaus, e o festival folclórico do Sopé Amazônico, que ocorre em Florencia. Para tanto utiliza-se do método histórico proposto por Lakatos e Marconi (2003), e fundamentos da história cultural.
Palavras-Chaves: Pan-Amazônia; Festival Folclórico de Parintins; Festival Folclórico do Sopé Amazônico; 
INTRODUÇÃO
 Nas últimas décadas, a história sociocultural da festa[footnoteRef:3], vem ganhando espaço, no meio acadêmico, nas práticas de ensino[footnoteRef:4], na sociedade, sendo pesquisada por pesquisadores amadores, profissionais e professores. Essa maior visibilidade, pode ser atribuída tanto pelo retorno e perpetuação de um tradição, como pelo surgimento de movimentos sociais, culturais, que pelo reconhecimento de seus direitos, influenciaram as ciências humanas, seja na forma de abordar, interpretar ou analisar determinado processo histórico. Tal prática está presente na vida da humanidade ao longo da história, desde os tempos da Antiguidade, até os dias atuais, constituindo costumes dos cotidianos das pessoas e grupos enquanto linguagem e experiência manifestado em todos os continente terrestres [3: Para maiores informações sobre o campo da historia social da festa, Ver: MOURA, Milton Araújo; SILVA, Miranice Moreira da. Apresentação. Em Tempo de Histórias. Brasília, n. 40, 3-7, jan./jun. 2022. ] [4: Sobre festas e sua relação com o ensino de história, é importante ver o trabalho de: MACEDO, Alexsandro do Nascimento. Da lama à sala de aula : a festa do mastro de Capela/SE narrada em uma HQ para o ensino de história. 2021. 227 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Ensino de História) - Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, SE, 2021.] 
 As festas, são acontecimentos construídos em meio às atividades rotineiras para a celebração ou comemoração de algum evento local momentâneo ou posterior, englobando a história dos diversos grupos sociais e envolvem as diferentes dimensões da vida. Conforme Santos [footnoteRef:5](2011), a festa é considerada, não apenas como um espaço de divertimento, mas onde se reúnem pessoas de diferentes grupos sociais, sendo comum sua utilização como fonte para a reflexão do funcionamento social de um período específico. É através das festas que a sociedade homenageia, honra ou rememora: personagens, símbolos ou acontecimentos com os quais ela se identifica e pelos quais identificam os seus membros nos momentos de rotina (BRANDÃO, p.22).[footnoteRef:6] [5: SANTOS, Lídia Rafaela Nascimento dos. Das festas aos botequins: organização e controle dos divertimentos no Recife (1822-1850). 2011. Dissertação (Mestrado em História)-Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2011.] [6: Trecho extraído de: BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Cavalhadas de Pirenópolis. Goiânia: Oriente, 1974, p.22) ] 
Nos estudos voltados para a temática festiva em quanto realidade e fato social, proposta pelas ciências histórica, antropológica, sociológica e geográfica, nas pesquisas é recorrente a relação com a construção de identidade da memória local, a gênese da tradição; peculiaridade e características de uma tradição; relações entre festas e rituais. A articulação entre uma dimensão macro e micro é muito pouco recorrente nas abordagens feitas pelos teóricos sociais, o que é comum, o exercício de utilização de uma dimensão apenas micro, de uma região, localidade, de um povo ou apenas a abordagem do macro de uma nação, de um continente, do mundo.
De acordo com Lima e Amaral Filho (2015)[footnoteRef:7], No Brasil, as festa refletem momentos de consagração de um conjunto de indivíduos ou comunidades, expressos em seus objetivos, finalidades, ou, ainda na tradição de cada povo. Sendo comumente referidas como festivais, folias, espetáculos e muito variadas como as festividades religiosas, dedicadas à algum Santo padroeiro; às festividades de datas cívicas de personagens marcantes e momentos históricos; às festas anuais de aniversário; às festas destinadas à lavoura, ou alguns produtos que traga renda para o lugar; as festas profanas, etc. [7: Citação tirada de um relevante estudo sobre as festas na Amazônia ver: LIMA, N. S. .; AMARAL FILHO, O. . FESTAS POPULARES AMAZÔNICAS: traços de Colonialidade nas tramas da pós-modernidade . Aturá - Revista Pan-Amazônica de Comunicação,] 
 Entretanto, as festas aqui tratadas referem-se às manifestações populares culturais que, de modo particular cada região brasileira, celebrar seus costumes, tradições, modos de vida, refletindo valores e crenças etc.. Destinadas ao lazer, entretenimento, onde, os sujeitos se comunicam e fazem circular suas percepções de mundo, constroem sociabilidades e experimentam sensibilidade.(MOURA E SILVA, 2021, p.3)[footnoteRef:8] [8: Cf.: . MOURA, Milton; SILVA, Miranice.Op. Cit.] 
Nesse sentindo, o contexto amazônico, ou particularmente, da Grande Amazônia , ou “ Pan-Amazônia”[footnoteRef:9], compostas pelo, Brasil, Venezuela, Guiana, Suriname, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, encontra-se uma diversidade de modos e fundamentos diferentes que culminam com a realização de muitos eventos, como o Festival de Parintins, a Ciranda de Manacapuru, o Sairé, festival das Tribos, festival do Açaí, festa de São Pedro, festa folclórica da Amazônia Piemonte, a festa de torito, entre outras. [9: Este autor chama de Pan-Amazônia, uma região de mais de 7 km2, dividida entre 8 estados nacionais soberanos, para mais informações ver: SILVA, Êça Pereira. A PAN-AMAZÔNIA: UM TEMA LATINO-AMERICANO. Revista de História Comparada, Rio de Janeiro, v.15, n. 2, p.165-196, mai./ago., 2021.] 
Diante disso, o presente artigo, procura descrever as festividades na Amazônia Brasileira e Colombiana. Para tanto, utiliza-se, o método histórico proposto por Lakatos e Marconi (2003)[footnoteRef:10]. Esse estudo está dentro dos princípios propostos pela história cultural e utiliza-se de fontes, como sites, artigos e livros. O texto está dividido em duas partes principais: a primeira trata de mostrar as discussões e debates fundamentais que têm perpassado a produção acadêmica sobre cultura e festa em suas múltiplos significado; a segunda descreve as características das festividades amazônicas, o caso do Brasil e da Colômbia. [10: LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Fundamentos de metodologia científica 5a. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
] 
Algumas evidências conceituais e metodológicas sobre a história cultural e a festividades.
 A História Cultural, de certa maneira sempre esteve presente no trabalho do historiador. Consciente das diferenças, métodos, técnicas, Peter Burker (2005), comenta que longe de ser redescoberta, a história no sentido de disciplina, abordagem, já era visto na Alemanha há mais de 200 anos. Na década de 1970, tem-se o crescimentoda história cultural, presente em várias obras historiográficas Ocidental, “que de início era restrita à chamada história das mentalidades”.(FALCON, 2006, p.128)
Na obra, o que é história cultural, Burke, discute sobre conceito de História cultural, sua redescoberta na segunda metade do século XX, e que os historiadores de história fazem. De acordo com ele, o terreno comum entre os historiadores culturais, tem haver com a preocupação do simbólico e suas representações. Símbolos estes encontrados em todos os lugares da arte e da vida cotidiana.
Vários são os teóricos culturais, que influenciaram a análise histórica, tais como, Duby (1982), Thompson (1963), Willians (1958), Hall (1997), Gombrich (1994), Lynn (1992),Chartier (1990), Burke (2000), Falcon ( 2002) etc. No qual proporam variados conceitos sobre a história cultural, seus objetos de estudos, fontes etc. De modo geral, ao trabalharem com a abordagem emerge a relação entre a história e a cultura, indagações sobre as diferenças, ou não, entre história da cultura e história cultural. Há a divisão entre o conceito enfatizado pela historiografia a partir dos pressupostos da ilustração e aquelas em função dos pressupostos antropológicos, onde se tem o caráter multidisciplinar da noção de cultura.
 Georges Duby(1982, p.14), afirma que a “ história cultural tem como proposta observar no passado, em meios aos movimentos de conjunto de uma civilização, os mecanismos de produção dos objetos culturais” (da produção vulgar à mais refinada). Chartier (1990), argumenta a respeito da história cultural e pontua que trata-se de identificar o modo como diferentes lugares e momentos determinada realidade social é construída e pensada, dada a ler. Thompson, em seu clássico “ a formação da classe operária” (1963), que preocupa-se com os movimentos socias, com a cultura popular e sua maneira de viver, trás um conceito unitário de cultura. 
 O historiador Roger Chartier, na obra” A história cultural entre práticas e representações (1990), mostra como representações são entendidas em classificações e divisões que organizam a apreensão do mundo social como categorias de percepção do real. As representações são variáveis segundo as disposições dos grupos ou classes sociais, aspiram à universalidade, mas são sempre determinadas pelos interesses dos grupos que as forjam. O poder e a dominação estão sempre presentes. As representações não são discursos neutros: produzem estratégias e práticas tendentes a impor uma autoridade, uma deferência, e mesmo legitimar escolhas. "Nas lutas de representações tenta se impor a outro ou ao mesmo grupo sua concepção de mundo social: conflitos que são tão importantes quanto as lutas econômicas; são tão decisivos quanto menos imediatamente materiais".
É importante ressaltar que, Chartier chama a atenção, seguindo Bourdieu, para as lutas de representações decorrentes do recuo da violência física direta; e para a constatação de que o poder depende do crédito concedido à representação. Este último ponto permite avaliar a chamada violência simbólica, a que depende de uma predisposição incorporada previamente para o reconhecimento e o consentimento de quem a sofre. Como exemplo é mencionada dominação masculina sobre a mulher, que tenderia a ser inculcada através de uma série de dispositivos (inculcação dos papeis sexuais e da divisão de tarefas, a exclusão de certas tarefas públicas, inferioridade jurídicas dentre outros). 
Nesse sentido, Chartier absorve de Bourdieu vários aspectos relacionados às representações. Essas lutas de representações nas quais existem imposições e lutas de monopólio da visão que legitima do mundo social, ou seja, a violência simbólica depende do consentimento "arbitrário" de quem sofre, os indivíduos e grupos sociais, firmemente arraigados nas determinações sociais de produção de classe, portanto todas essas problemáticas indicam que o conceito de representações, tem muito pouco a ver com as noções pós-modernas de que o real não existe, a não ser na linguagem. Sobretudo, as representações não se opõem ao real, elas se constituem através de várias determinações sociais para em seguida se tornarem matrizes de classificação e ordem da própria sociedade. tal conceito de representação é viável e utilizado em nossa exposição.
Em relação festas, são práticas que estão presente na vida da humanidade ao longo da história, desde os tempos da Antiguidade,  com as festa anuais da saceias Babilônica, com as festas de tributos a Deusa Ísis, realizada pelos Assírios, as festas saturnálias em Roma. Na idade média, aconteciam os famosos banquetes e qualquer acontecimento era bom para celebrar um festim, desde casamento, batizado ou uma das festas do calendário (páscoa, pentecostes ou natal).  Na idade moderna, as festas seguiam um determinado roteiro: missas , novenas, procissões, fogos, bailes e comilança.
No âmbito sociocultural simbolizam as tradições, as crenças vivenciadas entre o sagrado e o profano. Essa evidência é retrata na obra “ Lês formes elementaria le vie religiosa” (1952), de Émille Durkeim, que trata da relação entre ritual e festa, apontando os limites “flutuantes” entre ritos representativos e as recreações coletivas (1952, p.21) .Para o autor, o elemento recreativo e estético é a característica presente em toda religião. Além disso, “toda festa, mesmo quando puramente laica em suas origens, tem certas características de cerimônia religiosa” (DURKHEIM, 1968 apud AMARAL, 1998, p. 1)
 O estudo das festas, com suas representações, gênese, relações de sociabilidade e identitárias, sua inserção ao longo da história e na pós-modernidade, está tornando cada vez mais recorrente, graças às revolução historiográfica do século XX, com nova história, que ampliou a abordagem histórica, novas fontes, novo conceito de documentos, permitindo novos espaços , novos sujeitos e novos objetos. Diante disso, interdisciplinaridade entre história e as outras áreas da ciências humanas como a antropologia, geografia contribui com o avançado no século XXI de trabalho sobre as festividades, exemplo notável de tal situação é a o artigo “ Usos y debates del concepto de fiesta popular en Colombia”, de Lara Largo.
Em relação às festa no Brasil, Rita Amaral, destaca o caráter mediativo e comunicacional destas manifestações. A autora afirma que as festas estabelecem relações de comunicação intersubjetivas entre conteúdos culturais, sociais, políticos e econômicos, além de serem instrumentos de mediação entre elementos tangíveis e intangíveis, objetivos e subjetivos, etc., como pode ser observado no seguinte fragmento:
 [...] a festa é uma das vias privilegiadas no estabelecimento de mediações da humanidade. Ela busca recuperar a imanência entre criador e criaturas, natureza e da cultura, tempo e eternidade, vida e morte, ser e não ser. A presença da música, da alimentação, da dança, dos mitos, das máscaras, atesta com veemência esta proposição. A festa é, ainda, mediação entre os anseios individuais e coletivos, mito e história, fantasia e realidade, o passado, presente e futuro, entre “nós” e os “outros”, revelando e exaltando as contradições impostas à vida humana pela dicotomia natureza e cultura. Mediando os encontros culturais e absorvendo, digerindo e transformando em pontes os opostos tidos como inconciliáveis. A festa é a mediação; o diálogo da cultura com si mesma. (AMARAL, 2008, p. 5)
As Festividades na Pan-Amazônia: o caso do Brasil 
 A cidade de Parintins, é uma ilha localizada no Estado do Amazonas, conhecida no Brasil e no exterior pela realização todos os anos, nos últimos dias do mês de junho, do denominado festival Folclórico de Parintins. Trata-se de um espetáculo grandioso contracenado por duas agremiações de bois-bumbás, denominadas boi Caprichoso (identificado pela cor azul) e boi Garantido (simbolizado pela cor vermelha). Este festival é realizado desde de 1989, no Bumbódromo local, contudo, suas legitimidade, remete ao contexto histórico do século XIX. Para Silva (2010), a história dos bois Bumbá, surgem no contextodo processo histórico de colonização da Amazônia, quando diferentes contingentes populacionais oriundos do Nordeste , migraram para a região, atraídos pelos seringais e o boom da borracha.
 Silva (2010), mostra como no começo, atração , era constituída por vários bois vinculados aos bairros da cidade, que se apresentavam nas ruas e terreiros, com o drama denominado “auto do boi”. Pontua, o período como o início das rivalidades entre as duas agremiações estruturante, na qual as disputa de superioridade , realizava-se através de versos entre os bois e as batidas de cabeças, de um contra o outro, o que acabava terminando em violência. A festa foi ganhando destaque ao longo dos anos, e na década de 1980, o governo do Estado de Amazonas, resolve conceder um local para agremiações, o Bumbódromo. Em 2018, esse complexo cultural , torna-se Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), inscrito no livro de registro das Celebrações.
 Nos dias atuais, as festas são realizadas em três noites seguidas (sexta-feira, sábado e domingo), podendo cada uma das agremiações ter no máximo de 2 h 30 e no mínimo 2h. Quem não cumprir o tempo estabelecido, perde pontuação. Os bois, possuem um total de 21 itens que são avaliados, entre eles: apresentador, levantador de toadas; batucada ou marujada; ritual indígena; porta estandarte; amo do boi; sinhazinha; rainha do folclore; cunhã poranga; boi bumbá evolução; toada: letra e música; pajé; tribos indígenas; tuxauas; figura típica regional; alegoria; lenda amazônica; vaqueirada; galera; coreografia e organização do conjunto folclórico.(CORRÊA, VERDE E CARBINATTO, 2020).
A 55ª edição do festival Folclórico de Parintins, foi realizado nos dias 24, 25 e 26 de junho, de 2022, após dois anos sem ser realizado por conta da pandemia da covid-19. A programação de cada dia ocorreu da seguinte maneira: na sexta-feira, do dia 24, o Boi Garantido abre, e o Boi Caprichoso fecha; no sábado, do dia 25, o Boi Caprichoso abre, o Garantido fecha; no domingo, dia 26, o Boi Garantido abre e o Boi Caprichoso fecha. A temáticas das agremiações são: O Boi Caprichoso, trouxe o tema “ Amazônia, nossa luta em poesia” e o Boi Garantido, com o tema “ Amazônia do povo vermelho”.
Edilene Mafra (2022), destaca as falas dos bois em apresentar a sua temática. O Boi Caprichoso diz: “ o melhor do boi da Amazônia vai contagiar o mundo com sua história, tradição e poesia. O boi do povo, nosso brinquedo de amor, vai te alegrar em uma explosão de sentimentos nessa temporada que se inicia hoje. Vem com a gente nessa emoção, rumo a mais um título de campeão”. O boi Garantido, por sua vez argumentou: “ E anuncio à Nação Vermelha e Branca que estamos UNIDOS e PRONTOS! Será um grandioso Festival que nos levará ao 33º título”.
A primeira noite, da 55ª edição do festival Folclórico de Parintins, iniciou na sexta-feira, do dia 24, com os discursos feitos pelos bumbás em defesa da Amazônia e dos povos indígenas habitantes da região. O boi Garantido, defendeu, a temática a “ Amazônia do povo vermelho “, com o objetivo de exaltar o brado dos povos da floresta por um mundo melhor, “ destacando o processo de formação histórica e cultural, com foco na influência indígena e cabocla” (G1, 2022)
A inauguração do evento ocorre, com a apresentação do bumbá Garantido, através do amo do boi. O começo da apresentação, mostra os espíritos vagantes pelo bumbódromo, na companhia do pajé que comanda um ritual, ao som da música pátria indígena (2022). “ Inovando, traz as mulherengo tuxauas, símbolos da liderança indígena, representando o empoderamento feminino e o rompimento com o patriarcado” (G1, 2022). A exposição do boi vermelho, terminou com a batalha de cobras encantadas, contando a lenda amazônica de honorato e caninana, de onde surgiu a Cunhã Poranga.
A agremiação Caprichoso, surgiu na arena do bumbódromo descendo do céu azul, acompanhado pela Sinhazinha da Fazenda , em que trocou alguns passos de balé clássico e evoluiu para a arquibancada azul e branca. A exposição mostrou a participação do cabloco ribeirinho como personagem representante da região, e o sobrevoo mágico do pajé pra anunciar a chegada das tribos indígenas. O término da noite, acabou com a friagem trazida pelo Sucaí, entidade sobrenatural, que tem domínio sobre questões climáticas e na crença do povo tupari, “ e o frio só foi embora com a dança ritual do xamã da aldeia que trouxe as chamas da esperança que aqueceram a tribo e a luz do dia Boi Caprichoso. (G1, 2022).
As Festividades na Pan-Amazônia: o caso da Colômbia 
A cidade de Florencia, localiza-se em Caquetá, na Colômbia, muito conhecida como “ A Porta Dourada da Amazônia”, é por realizar entre o final de junho e começo de julho, o festival folclórico da Sopé do Amazonas, que ao longo dos anos tornou-se uma das maiores expressões de tradição, beleza, cor e da cultura da Amazônia colombiana. 
Procurando reforçar e fortalecer a identidade cultural da localidade, com o objetivo de exaltar, homenagear os antigos indígenas habitantes do local, por meio de recriação de aspectos culturais e folclorista, a festividade foi criada em 1994. A partir de então, O departamento cultural começou a comemorar esta festa em conjunto com as festas tradicionais de San Juan e San Pedro celebradas no mês de junho. O evento conta com um conjunto de expressões artísticas e culturais da cidade, como as apresentações teatrais, encontro de comparsas, desfiles de carros alegóricos, encontro de bandas musicais, feira de artesanato, concurso de miss, dança e música, cavalgada etc.(TRECE, 2022)
 A festa, conta com a participação da comunidade de cada um dos 16 municípios que compõem o departamento. Cada departamento apresenta uma candidata para concorrer o título de embaixadora cultural. Banrep (2022), mostra que quem ganha a coroação da senhorita Caquetá, obtém a cota para participar do Festival Folclórico e Reinado Nacional do Bambuco que acontece na cidade de Neiva. Em 2015, por decreto do Senado da República da Colômbia, o Festival Folclórico da Serra Amazônica foi declarado Patrimônio Cultural da Nação.
A 26ª edição do Festival Folclórico da Amazônia, foi realizado nos dias 23 à 26 de junho de 2022, promovida pela secretaria de Cultura, Deporte y Recreacíon, da gestão Florencia biodiversidade para todos. O evento contou com a seguinte programação; na quinta, do dia 23, acontece o início da festividade às 14 horas, das 15 horas às 17, têm-se as comunas Norte, Sul, Oriental, Ocidental, nas 19 às 21 horas, ocorre evento cultural, apresentação de bandas e artistas locais, encontros de DJs e festival das cores; na sexta-feira, do dia 24 de junho, às 8 horas às 13 horas, sucede a conferência de imprensa no hotel Plaza, com a exposição das candidatas à senhorita Caquetá, das 14 horas às 19, houve o desfile Folclórico e carros alegóricos e desfile artesanato; no sábado, do dia 25 de junho, entre às 9 horas às 19 horas, transcorre o desfile de maiô, desfile de senhorita Caquetá e amostra da habilidade artística da dança das embaixadoras. No domingo, dia 26 de julho, das 8 horas até às 17 horas, desenrola a cavalgada infantil, a visita a ponto turístico, e a coroação da embaixadora.
Conclusão
Apresentou-se a história cultural, a história das festividades, a história do festival Folclórico de Parintins e o festival folclórico do Sopé Amazônico. Histórias de mediações, e práticas que abarcam as estruturas econômicas, simbólicas, presente nos costumes, tradições e modo de vida das populações seja ela Amazônica ou brasileira. Perceber-se que tais práticas culturais, não devem ficar fechada em si mesma, sinônimo de um sociocultural sempre presente no horizonte de pesquisa. 
Concluímos que a história cultural constitui um campo multidisciplinar ou interdisciplinar, concebida ao mesmo tempo como história das representações do mundo e das representações do espírito, desde os sistemas de pensamento mais construídos até as sensibilidades mais simples.
REFERÊNCIAS
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