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INTERPRETANDO os VALORES DE REFERÊNCIA EXAMES LABORATORIAIS Rodrigo Manda O que devemos entender sobre Valores de Referência para Interpretação de Exames Laboratoriais? Rodrigo Manda INTERPRETANDO os VALORES DE REFERÊNCIA EXAMES LABORATORIAIS Esse ebook foi elaborado para te ajudar a entender um pouco mais sobre os conceitos teóricos e como podemos utilizar os “valores de referência” na interpretação de exames laboratoriais. Seja Bem Vindo! O objetivo é que estudantes e profissionais da área da saúde usufruam das informações aqui apresentadas, a fim de aprimorar seus conceitos sobre o tema, desenvolvendo olhar crítico sobre avaliação de exames laboratoriais. Desfrute desse material como um guia, onde compilei amplo referencial teórico aliado à prática, afim de auxiliar a consolidação conceitos que acredito que são fundamentais para quem atua, ou pretende atuar, nessa área. Primeiramente eu gostaria de lhe agradecer por fazer o download desse ebook e por confiar que este conteúdo possa contribuir tanto com seus estudos quanto com a sua prática clínica. Boa Leitura! Rodrigo Manda INTERPRETANDO os VALORES DE REFERÊNCIA EXAMES LABORATORIAIS apresentação rodrigo manda Professor doutor Graduação em biomedicina Universidade Estadual Paulista/UNESP Habilitações em bioquímica e fisiologia do esporte e da prática do exercício físico CRBM – 1 REGIÃO ESPECIALIZAÇÃO EM BIOQUÍMICA DO METABOLISMO NUTRICIONAL DESPORTIVO Faculdade de Medicina de Botucatu/UNESP ESPECIALIZAÇÃO EM atuação multiprofissional em medicina do exercício físico e do esporte Faculdade de Medicina de Botucatu/UNESP Mestre e doutor em patologia Faculdade de Medicina de Botucatu/UNESP Muito prazer, sou o Professor Rodrigo Manda, graduado em biomedicina, com formação acadêmica voltada para as áreas de metabolismo, nutrição e ciências do esporte. Ao longo de toda minha carreira profissional, tive a oportunidade de conviver e aprender em ambiente de caráter multiprofissional (médicos, nutricionsitas, educadores físicos, fisioterapeutas, psicólogos) e interdisciplinar, o que considero fundamental para que hoje eu possa interagir com diversas classes profissionais. Há mais de 12 anos ministro aulas, cursos e palestras em eventos nas áreas de nutrição, exercício físico e medicina do esporte, com o tema “exames laboratoriais”, contribuindo para disseminar conhecimento para muitos estudantes e profissionais da saúde. Rodrigo Manda @RODRIGO.MANDA Minha missão é compartilhar um pouco da minha experiência e te auxiliar na interpretação de marcadores laboratoriais e suas inter relações com saúde e desempenho esportivo. INTERPRETANDO os VALORES DE REFERÊNCIA EXAMES LABORATORIAIS Para conseguirmos responder esse tipo de questionamento, a forma mais utilizada é se basear em valores de referência, para poder chegar a uma conclusão diagnóstica. Porém não é tão simples assim, e é necessário refletir sobre alguns pontos antes de simplificar a interpretação laboratorial: Uma das primeiras perguntas que geralmente recebemos ao ter acesso ao laudo de exames laboratoriais são: “Os exames estão normais?” “Existe algum problema de saúde?”. - O valor de referência utilizado para determinado exame, se aplica para diferentes populações (homem, mulher, idosos, crianças, atletas etc).? - A condição clínica do seu paciente corrobora com a utilização do exame analisado? - Existem outros fatores que podem alterar o resultado do exame, sem considerar a sintomatologia da doença? - O método laboratorial utilizado é ideal para o valor de referência em questão? Pois é, são muitos os questionamentos para ficarmos condicionados para olharmos apenas para um número, concorda? Rodrigo Manda Rodrigo Manda INTERPRETANDO os VALORES DE REFERÊNCIA EXAMES LABORATORIAIS Pensando em auxiliar na solução desses questionamentos, elaborei esse material com os seguintes tópicos que irão auxiliar tanto nos seus estudos quanto na sua prática clínica. SUMÁRIO DOS TÓPICOS ABORDADOS: A Importância dos Exames Laboratoriais na Prática Clínica Como Você está Interpretando seus Exames Laboratoriais? O Conceito de Valor de Referência Intervalo de Referência e Tomada de Decisão Clínica Interpretação Baseada no Intervalo de Referência Como Interpretar Exames Laboratoriais Baseado em Valores Ótimos Considerações Finais Referências Bibliográficas 07 12 17 21 24 28 34 36 INTERPRETANDO os VALORES DE REFERÊNCIA EXAMES LABORATORIAIS A IMPORTÂNCIA DOS EXAMES LABORATORIAIS NA PRÁTICA CLÍNICA INTERPRETANDO os VALORES DE REFERÊNCIA EXAMES LABORATORIAIS IMPORTÂNCIA DOS EXAMES LABORATORIAIS NA PRÁTICA CLÍNICA A utilização de exames laboratoriais é cada vez mais usual na prática clínica de diversos profissionais da saúde. Mesmo que não sejam considerados essenciais ao atendimento clínico (nem toda conduta necessita de exames laboratoriais), eles representam grande importância para avaliação detalhada do organismo e posterior conduta individualizada do paciente. O organismo humano é complexo, dinâmico, integrado e único, ou seja, cada pessoa expressa fenótipos individuais, de acordo com sua bagagem genética e a exposição ambiental (estilo de vida). Nesse sentido, a avaliação deve ser customizada para cada pessoa, respeitando o princípio da individualidade biológica. Os exames laboratoriais são importantes ferramentas de avaliação, geralmente utilizados para confirmação das hipóteses diagnósticas, ou seja, a fim de confirmar o quadro do clínico paciente. Considero como o primeiro passo da avaliação clínica a realização da anamnese bem detalhada (investigação do histórico de saúde/doenças pessoal e familiar), buscando contextualizar as queixas/dores com os sinais e sintomas expressos por cada paciente. Assim, as hipóteses diagnósticas podem ser estipuladas de maneira mais assertiva. É importante ressaltar que a tomada de decisão diagnóstica, na grande maioria das vezes em referência ao diagnóstico de doença, é feita apenas pelo profissional médico. INTERPRETANDO os VALORES DE REFERÊNCIA EXAMES LABORATORIAIS Porém, o profissional médico não é o único habilitado para solicitar exames laboratoriais na prática clínica. O nutricionista também detém desta habilitação, porém com abordagem diferenciada, voltada exclusivamente para avaliação de parâmetros relacionados a conduta nutricional, e não ao diagnóstico de doenças. Na minha humilde opinião, as duas abordagens são complementares, afinal de contas, quando falamos de saúde, não estamos falando apenas da ausência de doenças e seus exames dentro de valores de normalidade. Sabemos também que os nutrientes são fundamentais para o bom funcionamento do organismo, e muitas vezes podemos apresentar exames clínicos “normais” mas com carências nutricionais significativas, que nem sempre são analisadas com a avaliação usual. Desde 1991, o Conselho Federal de Nutrição (CFN), estabelece a solicitação de exames laboratoriais como competência do profissional do nutricionista. De acordo com o "Inciso VIII, do art. 4º, da Lei nº 8.234, de 17 de setembro de 1991, atribuiu também ao nutricionista, competência para a solicitação de exames laboratoriais necessários ao acompanhamento dietoterápico" (Disponível em: http://www.cfn.org.br/index.php/cfn-divulga-recomendacao-sobre-exames-laboratoriais/) INTERPRETANDO os VALORES DE REFERÊNCIA EXAMES LABORATORIAIS Podemos elencar alguns pontos que ressaltam a importância dos exames laboratoriais na prática clínica: - Trata-se de uma ferramenta de avaliação objetiva do paciente (ou como eu costumo dizer: “o sangue não mente”). - Investigação de deficiências nutricionais e fatores de risco para doenças - Interpretação do funcionamento do organismo - Auxiliar no diagnóstico de doenças. Os exames laboratoriais são considerados como avaliação complementar ao raciocínio clínico, ou seja, eles não devem se sobressair sobre a anamnese, sinais e sintomas obtidos na avaliação inicial do paciente. O ponto mais importante: Lembrem-se do aforisma clássico da medicina:“A Clínica é Soberana”. INTERPRETANDO os VALORES DE REFERÊNCIA EXAMES LABORATORIAIS INTERPRETANDO os VALORES DE REFERÊNCIA EXAMES LABORATORIAIS A padronização de uma lista de exames laboratoriais não deve ser estimulada, pois vai contra a tudo que abordei até aqui. Da mesma forma que a prescrição/conduta é feita de forma individualizada, a avaliação, por meio dos exames, também deve ser. Temos disponíveis mais de 4000 parâmetros que podem ser solicitados nos exames, e nem sempre, um maior número de parâmetros solicitados indica uma melhor avaliação. É muito importante lembrarmos que existem as inter relações clínicas, o que podem modificar a forma de interpretação de determinado parâmetro laboratorial. Cerca de 70% das tomadas de decisão clínica são baseadas nos resultados dos exames laboratoriais, por isso se faz necessária a correta interpretação dos mesmos, a fim de evitar condutas equivocadas e que possam ser potencialmente prejudiciais a evolução do paciente. Rodrigo Manda INTERPRETANDO os VALORES DE REFERÊNCIA EXAMES LABORATORIAIS Como Você Está Interpretando os Exames Laboratoriais? INTERPRETANDO os VALORES DE REFERÊNCIA EXAMES LABORATORIAIS Visto a relevância dos exames laboratoriais na avaliação e no acompanhamento do tratamento, é de extrema importância que os mesmos sejam interpretados da maneira correta, ou da maneira mais adequada para o perfil do seu paciente. Se nós já comentamos que a avaliação deve ser personalizada, a interpretação não pode ser protocolada apenas em valores de referência. Tradicionalmente, a interpretação de exames laboratoriais é condicionada para diagnóstico de doenças, visto que é uma ferramenta utilizada geralmente por médicos para essa finalidade. Mas, para entendermos o momento em que se faz a interpretação, precisamos entender sobre o conceito da “história natural das doenças”. Este conceito é um dos principais preceitos da epidemiologia descritiva e faz referência as fases de progressão de uma doença, desde a sua exposição a um agente etiológico até a sua cura ou morte. Amplamente difundido por Leavell & Clark (1976), autores de grande relevância da área da medicina preventiva, a “história natural da doença” pode ser dividida em algumas fases de evolução: FASE INICIAL FASE SUB CLÍNICA FASE CLÍNICA INTERPRETANDO os VALORES DE REFERÊNCIA EXAMES LABORATORIAIS FASE INICIAL FASE SUB CLÍNICA FASE CLÍNICA Fase que respeita o modelo da tríade epidemiológica: equilíbrio entre o hospedeiro, meio ambiente e agentes patogênicos. Nessa fase é fundamental a promoção de hábitos “saudáveis”, desde higiene pessoal, vacinação, boa alimentação, não fumar, praticar exercícios físicos regularmente etc. FASE INICIAL OU PRÉ PATOGÊNICA: FASE SUB CLÍNICA: Nessa fase já houve exposição aos agentes patogênicos, porém sem a manifestação sintomatológica usual da doença. Geralmente acontecem alterações em nível celular, susceptível ao agravamento caso não seja identificado e tratado adequadamente. Acompanhar a evolução da doença nessa fase é de extrema importância, pois segundo os preceitos da medicina preventiva*, a intervenção nesse momento diminui bastante a chance de agravamento e complicações da doença. FASE CLÍNICA: Fase que corresponde a expressão patognomônica, ou seja, da manifestação dos sintomas clássicos que permitem o diagnóstico da doença. Geralmente é nessa fase que as pessoas vão procurar o auxílio profissional e intervenção terapêutica. Após avaliação dos sinais e sintomas, é o momento que geralmente os exames laboratoriais são solicitados para “fechar” o diagnóstico. Por isso a indagação da visão tradicional dos exames ser focada na doença. (*Medicina Preventiva: Ciência de evitar doenças, prolongar a vida e evitar a perda de saúde e invalidez depois que o homem é atacado pela doença). Os exames laboratoriais sob a visão tradicional (clínica) acabam sendo utilizados na fase mais “tardia” (baseada na história natural das doenças. Porém, como já comentado, a fase pré clínica é de grande importância, na qual os exames podem fornecer informações referentes a alterações em estágios iniciais, permitindo abordagem terapêutica precoce, evitando assim a perda de saúde. INTERPRETANDO os VALORES DE REFERÊNCIA EXAMES LABORATORIAIS A interpretação dos exames de sangue condicionada em “valores de referência”, geralmente são estipulados por diretrizes de sociedades específicas, com valores de corte para população em geral. Geralmente são conduzidos estudos populacionais, com grande coorte, a fim de classificar determinada doença por meio de valores de exames laboratoriais. Dessa forma, é possível estipular, por meio de análises estatísticas, valores que se associam com o quadro do paciente e o desfecho clínico da doença em questão. Exemplo: Diretriz Brasileira de Dislipidemia e Prevenção da Aterosclerose e Diretriz da Sociedade Brasileira de Diabetes INTERPRETANDO os VALORES DE REFERÊNCIA EXAMES LABORATORIAIS Somos condicionados a olhar os exames baseados nos valores diagnósticos “clássicos”, ou interpretar exames apenas olhando se está “acima” ou “abaixo” de tal valor. E esse é o grande desafio que temos na interpretação de exames laboratoriais: quebrar esse paradigma e ampliarmos a visão sobre a aplicação dessa ferramenta De forma alguma estou dizendo que valores de referência não importam, ou muito menos que esteja errado utilizarmos desta informação na prática clínica. A minha intenção e objetivo é te estimular a não ficar restrito apenas em interpretar os exames baseado nos números que se encontram no laudo laboratorial, mas sim em ampliar a sua visão para todas as peculiaridades que interferem no quadro do seu paciente. Dessa forma, é possível individualizar ainda mais a sua conduta e obter resultados cada vez mais expressivos. “TRATAMOS PESSOAS E NÃO APENAS NÚMEROS EM EXAMES”. É importante sempre ressaltar que o ajuste do “número no exame” não significa necessariamente que a doença foi tratada/controlada. INTERPRETANDO os VALORES DE REFERÊNCIA EXAMES LABORATORIAIS O Conceito de Valor de Referência INTERPRETANDO os VALORES DE REFERÊNCIA EXAMES LABORATORIAIS O conceito de “valor de referência” foi proposto pela primeira vez em 1969 por Gräsbeck & Saris. De acordo com Gräsbeck, este conceito se estabelece no uso de dados relevantes para interpretação de achados médicos, não sendo limitado exclusivamente a medicina laboratorial, mas para campos como bioquímica e fisiologia. Se considerarmos essa população como portadores de estado de saúde ótimo, fisicamente ativos e com idade entre 20 e 30 anos, as outras pessoas estariam fora dessa interpretação? Logo, o ideal seria que fosse calculado para diferentes indivíduos, gênero, faixa etária, com diferentes estados de saúde (hospitalizados e não hospitalizados) e de diferentes condições sociais, certo? Por essa questão, quando a interpretação fica “gessada” em apenas um valor, isso acaba limitando a aplicação para diversas populações. Lembrando que dificilmente é analisado apenas um parâmetro/indicador, e precisamos levar em consideração as inter relações fisiológicas, o que acabam limitando ainda mais essa abordagem protocolada. “Um dos grandes problemas que nos deparamos talvez seja a nomenclatura utilizada” O termo “valor de referência” faz menção, como o próprio nome diz, a uma população de referência (o que conhecemos como grupo controle). INTERPRETANDO os VALORES DE REFERÊNCIA EXAMES LABORATORIAIS Conforme já mencionado, alguns parâmetros laboratoriais apresentam os valores de referência bem determinados. Mas lembrem-se que esses valores são norteadores para o diagnóstico de doenças, e na abordagem da medicina preventiva, esses valores já são considerados de fase tardia na história natural da doença. Uma outra definição geralmente utilizada é de “valores de normalidade”, onde muitas vezes é interpretada com o binômio “normal” x “alterado”, o que é um certo equívoco do ponto de vista estatístico. Valor de normalidade, em estatística, está relacionadocom o padrão de distribuição dos dados coletados, podendo apresentar distribuição “normal” ou “não normal” (ou também paramétrico ou não paramétrico). Dados com distribuição normal apresentam o comportamento que chamamos de “Curva Gaussiana” ou “Curva em sino”. Geralmente se estabelece uma medida de tendência central (como a média aritmética) e estipula-se um intervalo de dois desvios padrões para “cima” e para “baixo” da média. Os valores que se encontram entre esses extremos, são considerados como valores “normais” (podendo chamar também de intervalo de normalidade). Como exemplo, basicamente selecionaríamos uma população e investigaríamos determinado exame laboratorial. Após a coleta de todos os resultados, seria feita a análise estatística, e assim “construída” a curva de distribuição dos dados, como na definição anterior. INTERPRETANDO os VALORES DE REFERÊNCIA EXAMES LABORATORIAIS A efetividade e aplicabilidade de tal análise foi questionada pelo próprio Gräsbeck, por conta de estudo feito sobre a distribuição dos valores obtidos na análise da Vitamina B12. Após o tratamento estatístico, foi verificado que a distribuição não permitia a análise do “intervalo de normalidade”, pelo fato de que com o cálculo do intervalo baseado no desvio padrão e da média, se obtinham valores negativos para as concentrações de B12, sendo algo que não seria possível de se verificar em um indivíduo, e por conseguinte em uma análise laboratorial. Para correção desse resultado, os dados foram ajustados de forma logarítmica, para que assim fossem representados de forma Gaussiana (dados normais) e pudesse ser calculado o intervalo de normalidade. O QUE PASSA NA CABEÇA DELE TENTANDO ME EXPLICAR SOBRE LOGARÍTIMO? A minha intenção é apenas mostrar que quando nos apegamos apenas em números, estamos vulneráveis a sermos doutrinados por regras matemáticas (ciência exata) que irão nortear a interpretação do nosso organismo (ciência biológica). A estatística é fundamental para nos auxiliar com diagnósticos e classificações, porém ela não deve ser superior ao raciocínio clínico. Se pensarmos apenas dessa forma ”numérica”, estaremos fadados a “automatizar” nosso raciocínio, ao invés de nos atentarmos com o principal, que são as queixas, sinais e sintomas do indivíduo que está sendo avaliado. NESSE MOMENTO, AO LER ESSAS INFORMAÇÕES, TALVEZ VOCÊ DEVE ESTAR PENSANDO ASSIM (RS) INTERPRETANDO os VALORES DE REFERÊNCIA EXAMES LABORATORIAIS Intervalo de Referência e Tomada de Decisão Clínica INTERPRETANDO os VALORES DE REFERÊNCIA EXAMES LABORATORIAIS Mesmo diante de todas as questões levantadas sobre a abordagem matemática, o critério mais próximo de utilização na prática clínica é o “intervalo de referência” (do inglês reference range). Você já deve estar confuso com tanta nomenclatura diferente, não é mesmo? Essa definição na verdade é uma modernização do termo “intervalo de normalidade”, que representa o intervalo entre os percentis 2,5 e 97,5 (totalizando 95% da população). Essa mudança na definição foi sugerida pela International Federation of Clinical Chemistry and Laboratory Medicine (IFCC) e pela International Organization for Standardization (ISO), a fim de evitar a ambiguidade existente entre “normal e alterado”. A interpretação deste intervalo de referência é baseada em que 95% da população não manifeste a doença, ou tenha um menor risco de apresentar desfechos clínicos negativos. Segundo as recomendações da Clinical Laboratory Standards Institute (CLSI), é recomendado que se utilize de uma população com o mínimo de 120 pessoas para criar a amostra de referência. Por meio das análises estatísticas, são criados os intervalos de referência. Em alguns casos, pode-se optar por um intervalo maior (percentil 99 por exemplo). Isso se faz com o intuito de diminuir os casos de resultados falsos positivos (considerados por exemplo como acima do percentil 97,5 sendo alterado). Exemplo: marcadores como Troponina C e CA 125 quando analisados no percentil 99 apresentam 1% de chance de falso positivo, comparada com a taxa de 2,5% na avaliação tradicional. INTERPRETANDO os VALORES DE REFERÊNCIA EXAMES LABORATORIAIS Tais ajustes matemáticos se fazem necessários, exatamente pelo fato de que muitas vezes um resultado considerado “alterado” não condiz com a condição clínica do paciente (lembre-se do que comentei sobre tratarmos pessoas e não apenas exames laboratoriais, certo?). O nosso grande desafio na interpretação de exames laboratoriais talvez seja conseguir entender todo esse conceito matemático para poder responder as perguntas como: “Meus exames estão normais?” ou “Está tudo bem com a minha saúde?” ou “Os meus exames melhoraram/pioraram?”. Muitas vezes nós não iremos olhar o exame do paciente em apenas um momento, e sim utilizarmos como uma das formas de acompanhamento da sua evolução clínica. Dessa forma, podemos ampliar a nossa interpretação não apenas ao intervalo de referência, mas sim a flutuação desses valores de forma longitudinal. Mas o que eu quero dizer com isso? Podemos nos deparar com certa frequência com o resultado do exame do paciente dentro do intervalo de referência, mas isso não significa que ele não terá nenhuma complicação, ou que o risco para desfechos clínicos prejudiciais a sua saúde seja mínimo. Dessa forma, podemos criar “novos valores” dentro do próprio intervalo de referência, para auxiliar na “tomada de decisão clínica”, e não somente para classificar como “dentro ou fora” do intervalo, mas estratificar como “baixo”, “moderado” e “alto” risco de desenvolver a doença. INTERPRETANDO os VALORES DE REFERÊNCIA EXAMES LABORATORIAIS Interpretação Baseada no intervalo de referência INTERPRETANDO os VALORES DE REFERÊNCIA EXAMES LABORATORIAIS A possibilidade de apresentarmos manifestações clínicas mesmo com exames dentro do intervalo de referência, traz a utilidade de estratificarmos esse intervalo em alguns pontos que irão auxiliar na tomada de decisão clínica. Essa estratificação é baseada no modelo estatístico percentilar, que consiste em “dividir” esse intervalo de referência (limite superior e inferior) em “partes” iguais (percentis). As formas mais usuais que utilizamos é a análise da mediana (divide o intervalo em duas partes iguais), o cálculo de tercis (divisão do intervalo em três partes iguais) e quartis (divisão do intervalo em 4 partes iguais). Por mais que isso pareça algo complicado para quem não é muito “fã” da matemática, eu vou mostrar que é muito simples de se estabelecer esses pontos que podem auxiliar na leitura e interpretação dos exames dentro do intervalo de referência laboratorial. Exemplo 1 – Análise da Mediana Vou utilizar um exemplo com o Hormônio TSH (Tireoestimulante). EXAME: TSH Método: Quimioluminescência Material: Soro RESULTADO: 3,17 µ UI/mL I.R.: 0,3 a 4,5 µUI/mL DENTRO DA REFERÊNCIA Segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, os critérios diagnósticos de hipotireoidismo subclínico, estabelecem valores de TSH acima de 4,5 µUI/mL. Nesse caso do nosso exemplo, a análise laboratorial indicaria que o paciente apresenta um resultado “normal”, ou inferior ao valor de risco para hipotireoidismo subclínico. INTERPRETANDO os VALORES DE REFERÊNCIA EXAMES LABORATORIAIS EXAME: TSH Método: Quimioluminescência Material: Soro RESULTADO: 3,17 µ UI/mL I.R.: 0,3 a 4,5 µUI/mL DENTRO DA REFERÊNCIA Quando analisamos a literatura científica, estudos de coorte indicam associação de maior chance de desenvolvimento de síndrome metabólica, mesmo com concentrações de TSH dentro do intervalo de referência usual. Sugere-se a partir da divisão baseada na mediana, com valores de TSH entre 2,5 e 4,5 µUI/mL Como calcular a mediana? Ex. I.R.: 0,3 a 4,5 µUI/mL Subtrair o valor o limite superior pelo limite inferior: Ex: 4,5 – 0,3 = 4,2 Dividir o resultado por 2 (mediana = duas “partes”) Ex: 4,2/2 = 2,1 Somar o valor obtido com o valor do limite inferior: Ex: 0,3 + 2,1 = 2,5 1 2 3 TSH: 0,3 – 4,5 µUI/mL TSH: 2.5– 4.5 µUI/mL Maior IMC Maior Dislipidemia (TG) Síndrome Metabólica Após o cálculo da mediana, podemos chegar aos seguintes valores, estratificando o intervalo de referência de acordo com a associação de desfechos clínicos. INTERPRETANDO os VALORES DE REFERÊNCIA EXAMES LABORATORIAIS Como calcular os tercis? Ex. I.R.: 0,7 a 1,8 ng/dL Subtrair o valor o limite superior pelo limite inferior: Ex: 1,8 – 0,7 = 1,1 Dividir o resultado por 3 (tercis = três “partes”) Ex: 1,1/3 = 0,37 Somar o valor obtido com cada resultado obtido: 0,7 + 0,37 = 1,07 1,07 + 0,37 = 1,44 1,44 + 0,37 = 1,80 1 2 3 Exemplo 2 – Análise de Tercis Vou utilizar um exemplo com o Hormônio T4 (Tiroxina) na sua forma livre. EXAME: T4L Método: Quimioluminescência Material: Soro RESULTADO: 1.08 ng/dL I.R.: 0,7 a 1,8 ng/dL DENTRO DA REFERÊNCIA Analisando o intervalo de referência, podemos verificar que os valores são relativamente “próximos”, dificultando uma avaliação numérica mais precisa. De acordo com a literatura científica, bem como os aspectos fisiológicos, maiores valores de T4L (no tercil superior da referência) são associados com menor chance de desenvolvimento da síndrome metabólica e de seus componentes. Após o cálculo dos tercis , podemos chegar aos seguintes valores, estratificando o intervalo de referência de acordo com a associação de desfechos clínicos. 0,7 1,07 1,44 1,80 VALORES ÓTIMOS INTERPRETANDO os VALORES DE REFERÊNCIA EXAMES LABORATORIAIS Como Interpretar Exames Laboratoriais Baseado em Valores Ótimos INTERPRETANDO os VALORES DE REFERÊNCIA EXAMES LABORATORIAIS Após toda discussão e limitações sobre as nomenclaturas “valores de referência” e “valores de normalidade”, chegamos a conclusão de que a utilização dos “intervalos de referência” e a distribuição percentilar são grandes aliados na interpretação de exames na prática clínica. Mas podemos ainda melhorar essa análise, buscando na literatura o que chamamos de “valores ótimos” com foco na saúde, e não na instalação/diagnóstico da doença. Basicamente, esses valores seriam pontos dentro do “intervalo de referência” que se associam com prospecto positivo de desfecho favorável de saúde, baseado em estudos populacionais, ampla coorte, estudos longitudinais com duração considerável, revisões sistemáticas e meta análises. Em outras palavras, seriam os valores esperados que o indivíduo tenha a menor chance de desenvolver a doença. INTERPRETANDO os VALORES DE REFERÊNCIA EXAMES LABORATORIAIS Para isso, é necessária uma investigação aprofundada na literatura científica, buscando os tipos de estudos citados anteriormente, respeitando todos os critérios já mencionados, e não apenas se basear em resultados de baixo poder metodológico/estatístico. Como citado anteriormente, a análise percentilar já é capaz de nos mostrar os “valores ideais”. Vou aproveitar o exemplo do T4L e mostrar como podemos analisar esses valores a partir do artigo científico. Kim e colaboradores (2009) recrutaram 25.147 homens e 19.049 mulheres (coorte populacional de expressividade) e foram submetidos a avaliação laboratorial do hormônio tireoidiano T4L. Adicionalmente foram avaliados também os critérios diagnósticos da Síndrome Metabólica (glicemia de jejum, concentrações plasmáticas de HDL, triglicerídios, circunferência abdominal e pressão arterial), para posterior correlação entre T4L e a chance do indivíduo apresentar Síndrome Metabólica. A partir da estratificação dos dados em percentis (nesse estudo foi feita a distribuição em quintis), podemos identificar que quanto maiores os valores de T4L (dentro do intervalo de referência), menores são as chances de apresentar síndrome metabólica, tanto em homens quanto em mulheres. INTERPRETANDO os VALORES DE REFERÊNCIA EXAMES LABORATORIAIS Na descrição metodológica do artigo, é mencionado que o intervalo de referência do T4L adotado nesse estudo foi de 10,3 pmol/L – 24,5 pmol/L. Dessa forma, a análise dos quintis nos levaria aos seguintes valores de T4L: 10,3 pmol/L 13,14 pmol/L 15,98 pmol/L 18,82 pmol/L 21,66 pmol/L 24,5 pmol/L Neste momento, talvez a sua primeira reação seja ir comparar esse resultado com algum exame laboratorial ao seu alcance, certo? Pois bem, eu já te trouxe um exemplo aqui: Ao analisar o exame, talvez você deve estar pensando que está “errado”, ou que não será possível comparar com o artigo. Na realidade, isso é algo muito frequente de observarmos quando analisamos artigos científicos e buscamos aplicação na prática (especialmente falando de exames laboratoriais): diferenças do sistema de unidades de concentração utilizadas. O intervalo de referência usualmente utilizado para T4L é dado em ng/dL (0,7 a 1,80), e no artigo mencionado é utilizado a unidade de pmol/L (10,3 – 24,5). Isso quer dizer que as informações não devem ser comparadas por se tratar de valores diferentes? Na verdade, a questão é o ajuste da unidade de concentração. Conversão T4L: 10,3 pmol/L = 0,8 ng/dL 24,5 pmol/L = 1,9 ng/dL Logo, concluímos que são equivalentes em grandeza, apenas mudando a sua forma de expressar numericamente pela diferença da unidade de concentração. INTERPRETANDO os VALORES DE REFERÊNCIA EXAMES LABORATORIAIS Outro exemplo interessante de análise de “valores ideais” é a Insulina. Quando avaliamos o intervalo de referência em um exame laboratorial, verificamos que a faixa é ampla (por exemplo 3,0 – 25 mU/L). Por se tratar de uma faixa ampla, não devemos levar em conta a interpretação apenas quando o valor for acima do limite superior, o que seria um quadro com desfecho clínico bastante desfavorável. Vou utilizar como exemplo, um estudo que fez a associação entre os valores de insulina de jejum e mortalidade, em um coorte de 2429 homens, acompanhados em um follow up de 20 anos. A partir da divisão do intervalo de referência da insulina em quartis, foi realizado modelo estatístico (hazard ratio) a fim de estabelecer o risco de mortalidade de acordo com as concentrações de insulina em jejum. Como principal resultado, foi verificado que os indivíduos com as maiores concentrações de insulina (quartil superior) apresentam um risco de cerca de 60% maior de mortalidade do que os indivíduos controle (baixa insulina). Concluímos, a partir desse trabalho, que concentrações de insulina abaixo de 13,1 mU/L (alguns trabalhos chegam a reforçar valores abaixo de 10 mU/L) seriam considerados os “valores ideais” baseados na associação com mortalidade. INTERPRETANDO os VALORES DE REFERÊNCIA EXAMES LABORATORIAIS Quais os principais aprendizados que tiramos sobre os “valores ideais”? Toda vez que analisar um “valor” de exame laboratorial, preste atenção também na unidade do parâmetro, para que não corra o risco de analisar “0,8” acreditando que a referência seja “10,3” e acabar diagnosticando como um “valor baixo”. “Valores Ideais” se fundamentam em estudos científicos de respaldo metodológico (coorte ampla, acompanhamento longitudinal, revisões sistemáticas, meta análises etc) que elucidam associações e causalidade entre parâmetros laboratoriais e desfechos clínicos. Não utilize estudos de caso como referência. O foco dessa proposta não é estipular critérios diagnósticos, mas buscar estratificar o intervalo de referência para análise mais detalhada de sobre os resultados laboratoriais. Por mais que os “valores ideais” apresentem forte impacto na avaliação, os sinais, sintomas e o raciocínio clínico ainda são os melhores norteadores para as suas condutas. INTERPRETANDO os VALORES DE REFERÊNCIA EXAMES LABORATORIAIS INTERPRETANDO os VALORES DE REFERÊNCIA EXAMES LABORATORIAIS CONSIDERAÇÕES FINAIS INTERPRETANDO os VALORES DE REFERÊNCIA EXAMES LABORATORIAIS Após todo o conteúdo do nosso ebook, acredito que você não ficará mais pensando apenas em interpretar o resultado dos exames do seu paciente como “abaixo da referência”, “dentro da referência” e “acima da referência”, certo? Aprendemos que a análise tradicional baseada nos “valores de referência” está muito atreladaao diagnóstico de doenças, ou seja, a fase da manifestação clínica/sintomatológica, na visão da epidemiologia. A utilização dos exames laboratoriais na visão da medicina preventiva, nos auxilia a antever desfechos negativos, buscando avaliar sob a ótica fisiopatológica, manifestações em nível celular principalmente. Assim, descontruirmos a visão de que o exame laboratorial serve apenas para “fechar” o diagnóstico, e reforçamos sua utilidade na avaliação precoce e subsequente acompanhamento evolutivo, tornando ainda mais individualizada e eficiente a intervenção clínica no seu paciente. A minha intenção como professor não é estimular a solicitação indiscriminada de exames a todo momento, em todo atendimento. Meu maior objetivo é lhe conceder informações úteis para que, a partir da sua realidade de atendimento, você possa fazer uso dessa ferramenta com sabedoria. INTERPRETANDO os VALORES DE REFERÊNCIA EXAMES LABORATORIAIS INTERPRETANDO os VALORES DE REFERÊNCIA EXAMES LABORATORIAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS INTERPRETANDO os VALORES DE REFERÊNCIA EXAMES LABORATORIAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CLSI. Defining, Establishing, and Verifying Reference Intervals in the Clinical Laboratory; Approved Guideline. 3rd ed. CLSI EP28-A3c. Wayne, Pennsylvania: Clinical and Laboratory Standards Institute; 2010 Faludi AA et al. Atualização da Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose – 2017. Arq Bras Cardiol. 2017 Jul;109(2 Supl 1):1-76. doi: 10.5935/abc.20170121. Erratum in: Arq Bras Cardiol. 2017 Nov;109 (5):499. PMID: 28813069. Gräsbeck R. et al. Lognormal distribution of serum vitamin B12 levels and dependence of blood values on the B12 level in a large population heavily infected with Diphyllobothrium latum. J Lab Clin Med. 1962 Mar; 59: 419-29. Gräsbeck R. The evolution of the reference value concept. Clin Chem Lab Med. 2004;42(7):692-7. doi: 10.1515/CCLM.2004.118. PMID: 15327001. Keyser JW. The concept of the normal range in clinical chemistry. Postgrad Med J. 1965;41:443–447 Kim BJ, et al. Relationship between serum free T4 (FT4) levels and metabolic syndrome (MS) and its components in healthy euthyroid subjects. 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