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1 EPIDEMIOLOGIA CLÍNICA 1 Sumário Sumário .................................................................................................................... 1 NOSSA HISTÓRIA ..................................................................................................... 2 1. Introdução ........................................................................................................... 3 2. Clínica e Epidemiologia ...................................................................................... 6 1. Questões para a Epidemiologia Clínica ........................................................................ 9 3. Medicina Baseada em Evidência - MBE .......................................................... 10 1. Habilidades do profissional médico para praticar MBE .............................................. 12 2. A técnica PICO ........................................................................................................... 13 4. Bioestatística .................................................................................................... 15 1. Importância da Estatística aplicada à Epidemiologia .................................................. 16 2. Glossário básico em Estatística .................................................................................. 20 3. Medidas de frequência de doenças ........................................................................... 27 Incidência .............................................................................................................. 28 Prevalência ............................................................................................................ 30 5. Referências ....................................................................................................... 32 2 NOSSA HISTÓRIA A NOSSA HISTÓRIA, inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a INSTITUIÇÃO, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A INSTITUIÇÃO tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 1. Introdução Epidemiologia Clínica que também tem sido denominada de Medicina Baseada em Evidências (MBE), se resume em apartada síntese, na utilização do método epidemiológico sob a perspectiva clínica. Mas o que isso quer dizer? Figura 1 – Epidemiologia Clínica ou MBE Quer dizer que a avaliação racional de um sintoma, de um sinal ou de um exame complementar de um paciente depende da avaliação crítica do profissional quanto ao comportamento do referido achado clínico em grupos prévios de pacientes com diagnósticos diferenciais semelhantes. Da mesma forma, a escolha racional do tratamento para um determinado paciente hoje, depende de como pacientes semelhantes responderam a vários outros tratamentos no passado (OLIVEIRA FILHO, 2015). Na mesma direção, consta na página do Instituto Nacional do Câncer (INCA, 2019), que a Epidemiologia Clínica reúne conceitos da clínica e da epidemiologia clássica, e tem por objetivo auxiliar o profissional de saúde na solução de questões associadas ao risco, diagnóstico, terapêutica e prognóstico do câncer que se apresentam na prática clínica. O Programa de Epidemiologia Clínica tem como objetivo a realização 4 e promoção de investigações de alta qualidade para responder a perguntas clínicas relativas às doenças e incapacidades e treinar alunos de vários níveis e várias profissões da área da saúde, promovendo o adequado uso dos métodos estatísticos, epidemiológicos e clínico-epidemiológicos utilizados para tratar de questões de pesquisa clínica. Segundo Jekel; Katz; Elmore (2005), em geral, existem quatro níveis nos quais o estudo científico de doenças pode ser abordado: 1) O nível submolecular ou molecular (biologia celular, bioquímica e imunologia). 2) O nível dos tecidos e órgãos (anatomia patológica). 3) O nível individual dos pacientes (clínica). 4) O nível das populações (epidemiologia). As perspectivas obtidas desses quatro níveis são relacionadas e a pesquisa deve ser coordenada entre as várias disciplinas para maximizar o entendimento científico da doença. Algumas pessoas fazem distinção entre epidemiologia clássica e epidemiologia clínica. A epidemiologia clássica é destinada à população e estuda as origens comunitárias dos problemas de saúde, particularmente aqueles relacionados à nutrição, ao meio ambiente, ao comportamento humano e ao estado psicológico, social e espiritual da população. Os epidemiologistas clássicos estão interessados em descobrir fatores de risco que podem ser alterados na população para prevenir ou retardar a ocorrência das doenças ou a morte. Por sua vez, os investigadores envolvidos na epidemiologia clínica, frequentemente, usam delineamentos de pesquisa e ferramentas estatísticas que são semelhantes aos usados pelos epidemiologistas clássicos. Todavia, os epidemiologistas clínicos estudam os pacientes em locais onde se prestam cuidados à saúde, de maneira a melhorar o diagnóstico e o tratamento das várias doenças, bem como o prognóstico para pacientes já afetados pela doença. Pelo fato de os epidemiologistas clínicos geralmente estudarem pessoas que estão doentes e que estão recebendo cuidado médico, eles devem ter cuidado especial em fazer ajustes pela presença de outras doenças (comorbidade) e por quaisquer 5 intervenções clínicas1. Uma vez que o objetivo principal da epidemiologia clínica é o de melhorar as decisões clínicas, alguns preferem chamá-la de análise de decisões clínica, mas esse termo costuma ser aplicado com um significado mais limitado. Pois bem, das Ciências Exatas extrairemos justificativas para aplicabilidade da Bioestatística, um glossário básico, medidas usadas em epidemiologia como frequência e a medicina baseada em evidências dentre outros conteúdos de interesse. 1 Essa situação estamos vivenciando no momento com a pandemia do novo coronavírus, quando os médicos em geral e os epidemiologistas em particular têm testado medidas terapêuticas diversas, justamente por não conhecerem a dinâmica do vírus. 6 2. Clínica e Epidemiologia Em um Ensaio de 1993, o professor ph.D. Naomar de Almeida Filho tece alguns estudos sobre as relações clínica, epidemiologia e epidemiologia clínica que usaremos para introduzir a tese de que ambas caminham juntas. De imediato, vejamos algumas características para justificar tal integração: a) uma certa teoria do diagnóstico clínico, baseada na avaliação da validade e na confiabilidade dos procedimentos de identificação de caso; b) uma metodologia para a construção do conhecimento etiológico partir de estratégias observacionais de pesquisa em pequenos grupos; c) uma metodologia correspondente para estudos de eficácia e efetividade de procedimentos terapêuticos; d) a proposição de uma “clinimetria”,estruturada com o emprego de modelos probabilísticos de tomada de decisões, para o estabelecimento do prognóstico clínico. É perceptível que a clínica e a epidemiologia encontram-se vinculadas epistemologicamente e que ambas tratam de corpos sociais: enquanto a clínica trata do sujeito considerado em suas particularidades, o caso, o um, a epidemiologia aborda o coletivo, busca a generalidade, o grupo de casos, o ‘todos’. A atuação individualizada da prática clínica não deixa de ser uma intervenção sobre corpos sociais, através de “encontros singulares”, na medida em que trata de homens concretos, em contextos sócio-históricos. A epidemiologia, mesmo no seu enfoque mais tradicional que reforça o hiologicismo da clínica ao reduzir o social ao mero conjunto de indivíduos, também trata de corpos social e historicamente definidos, nesse caso corpos sociais coletivos. Embora possa parecer que a epidemiologia clínica é um fenômeno atual devemos relembrar que ela caminhou e evoluiu pari passo com a clínica médica. É só observamos que em suas raízes, há mais de dois milênios que os médicos se debruçam sobre as questões do diagnóstico, do prognóstico e da terapêutica, que 7 quantificados e comparados entre grupos e contrastados com o conhecimento etiológico - causal - constituem o edifício da moderna epidemiologia clínica. Concordamos com Barros (2013) quando afirma que a epidemiologia clínica não conheceu um desenvolvimento tão rápido quanto outras disciplinas médicas, como a fisiologia ou a patologia, e uma das razões prender-se-á com a mais lenta produção de conhecimento na área do diagnóstico médico e da terapêutica, seus objetos centrais. Os critérios de Koch (depois Koch-Henle e Evans) para o diagnóstico da tuberculose podem ser considerados a primeira formulação das noções de sensibilidade (“o bacilo deve estar presente em todos os casos de doença”) e especificidade (“o bacilo não deve ser associar-se a qualquer outra patologia”) de um teste. A ideia de comparar tratamentos e sobretudo mostrar se eram melhores que não “fazer nada” foi servida pelo princípio de alocação aleatória e pelas técnicas estatísticas associadas à aleatorização, propostas pelo britânico Ronald A. Fisher (1890 - 1962) e, embora mais indiretamente, mas de forma não menos fecunda, pelo pensamento de Sewall Wright (1889 - 1988) e os conceitos de correlação e passos causais. Os primeiros ensaios clínicos controlados remontam a 1930, com o tratamento da tuberculose pela sanocrisina (um composto à base de ouro) e da pneumonia lobar pelo soro anti-pneumocócico. Em 1948, foi lançado o protótipo do ensaio clínico aleatorizado moderno: o objetivo foi avaliar o efeito da estreptomicina no tratamento da tuberculose. Até cerca de 1940, a epidemiologia era a disciplina de base da saúde pública e, só depois da clínica. O termo epidemiologia clínica foi utilizado pela primeira vez em 1938 por John R. Paul (1893 - 1971) no sentido da aplicação de métodos epidemiológicos ao exercício da medicina preventiva. A epidemiologia clínica tornou-se um ramo da medicina clínica pelo fim da década de 60, quando o excessivo recurso aos fármacos e aos testes laboratoriais começou a gerar desconforto no seio da profissão médica. Os clínicos com formação em epidemiologia sugeriram então que a disciplina era essencial para orientar a avaliação diagnóstica e o tratamento sobre bases científicas. O interesse pela epidemiologia clínica conheceu um novo êxito com a crise econômica de 1975. O aumento dos custos da saúde exigiu que a decisão médica fosse tomada sobre bases claras e aumentou o interesse por métodos empíricos que permitiam, a partir 8 de critérios científicos, reduzir o desperdício em exames e tratamentos inúteis e sobretudo prejudiciais. Figura 2 – Epidemiologia e Clínica Clínicos e epidemiologistas encontram assim um terreno comum ao reconhecerem que: 1. Na maior parte das situações clínicas, e perante um doente particular, são incertos o diagnóstico, o prognóstico ou até a resposta à terapêutica instituída, havendo necessidade de os expressar como probabilidades; 2. As probabilidades, quando referidas a cada doente individualmente, resultam da quantificação da experiência prévia de grupos similares de doentes. O julgamento clínico é o resultado de informação fornecida pelos doentes, observações realizadas pelo médico ou medições com grau variado de sofisticação tecnológica, executadas sobre os indivíduos por exemplo, bioimpedância elétrica, pressão arterial, fração de ejeção ventricular) ou tendo por base amostras de material biológico (titulação de anticorpos no líquido cefalorraquidiano, contagem de leucócitos séricos ou doseamento de ferro em biópsia hepática), sujeitas a erros aleatórios e sistemáticos que podem perturbar a apreensão da verdadeira essência do problema em análise induzindo procedimentos desnecessários ou não apoiando a tomada de medidas indispensáveis; 9 3. Para diminuir a probabilidade de inferências erradas, a informação clínica - qualquer que seja a sua natureza - deve ser cientificamente sólida, assegurando em cada momento o máximo controle do efeito de vieses ou do acaso. 1. Questões para a Epidemiologia Clínica A epidemiologia clínica é a aplicação dos princípios e métodos da epidemiologia aos problemas encontrados na clínica. O quadro abaixo resume as perguntas feitas por um paciente e como estas questões chegam para a epidemiologia clínica: Figura 3 – Questões de trabalho para a Epidemiologia Clínica Anote aí: A epidemiologia clínica: 1) Aplica métodos epidemiológicos à atividade clínica. 2) Ajuda a olhar de forma crítica a literatura científica. 10 3) Dá um significado particular ao fato da prática clínica ser dominada pela relação médico-doente que, por definição, é única. 4) Ajuda a colocar o doente individual na sua comunidade de origem, o que o permite compreender simultaneamente como um ser único e enquanto membro de um grupo de indivíduos com os quais partilha algumas características, não só no sentido da abordagem epidemiológica de população que pode ser descrita estatisticamente - de onde o doente vem, mas enquanto mais um membro dessa outra população a que passa a pertencer - o daqueles que também partilham a mesma sintomatologia ou doença. Situar o doente dentro da sua população de origem permite ao clínico formular um certo número de hipóteses sobre o diagnóstico, prever o efeito do tratamento ou outras consequências da decisão médica e depois recalcular probabilidades a priori com base na informação que vai sendo obtida, ou seja, condicionadas, como ensina o teorema de bayes, o centro do pensamento probabilístico clínico (BARROS, 2013). 5) No âmbito da promoção da saúde, a epidemiologia exerce importante papel ao se preocupar não apenas com o controle de doenças e de seus vetores, mas, sobretudo, com a melhoria da saúde da população. Os estudos que privilegiam temáticas da saúde pública, em geral, estão frequentemente interessados em investigar o modo pelo qual as condições sociais influenciam e determinam o processo saúde-doença das populações, o que tem gerado uma forte articulação entre a epidemiologia e as ciências sociais. 3. Medicina Baseada em Evidência - MBE Nesse excerto ou fragmento de Clark e Clark (2010) temos uma explicação bem didática para a exposição da Medicina Baseada em Evidências (MBE) e sua importante relação com a Epidemiologia Clínica. Vejamos: A definição mais utilizada e citada em inúmeros artigos científicos é que a MBE é “o uso consciente, explícito e judicioso da melhor evidência clínica disponível ao tomar decisões sobre o tratamento de um paciente”. 11 Por definição, é a integração da melhor evidência científica com a experiência clínica e os desejos individuais do paciente. Olhem a tríadedissecada: 1) Evidências: são as pesquisas clinicamente relevantes, especialmente aquelas centradas em pacientes e que prezam pela acurácia de testes diagnósticos, pelo poder de marcadores prognósticos e pela eficácia e segurança de procedimentos terapêuticos e preventivos. 2) Experiência clínica: é a capacidade de colocar em prática habilidades clínica e experiências anteriores para identificar rapidamente o estado de saúde de cada paciente, seu diagnóstico, seus riscos individuais e os benefícios de intervenções potenciais. 3) Desejos do paciente: incluem nosso entendimento e nosso reconhecimento da individualidade de cada ser humano, com preferências e expectativas únicas que ele traz à consulta médica e que devem ser integradas e respeitadas numa decisão clínica. Figura 4 – Tríade da MBE 12 No entanto, MBE não é uma maneira simples de cortar custos, inventada por planos de saúde, não é a tiranização de estudos randomizados e de metanálises nem é uma prática impossível de se aplicar. Quando se fala em MBE, o objetivo é resolver problemas clínicos. No formato tradicional, a decisão clínica é feita com base em intuição, experiência clínica e em fisiopatologia. A MBE prega que esses elementos são insuficientes e que é necessário incluir informações extraídas de pesquisas clínicas – evidências – durante a tomada de decisão. Ela também valoriza menos o poder das autoridades no processo habitual de tomada de decisão em medicina, mas não desvaloriza a expertise clínica do médico, pois ela é parte fundamental na decisão sobre a aplicabilidade da evidência encontrada. Anote aí: MBE nada mais é que o uso intensivo de elementos de epidemiologia clínica com conhecimentos de informática. O uso de computadores e, mais recentemente, da internet, permitiu que o processo de encontrar, de criticar e de aplicar informações científicas ficasse ao alcance de qualquer um, democratizando a ciência. Com algumas técnicas simples, é possível buscar o que se precisa em bases de dados, e encontrar de forma rápida e prática artigos de boa qualidade que estão entre os 10% de interesse ao cotidiano médico. Com roteiros de avaliação crítica, é possível refinar ainda mais a seleção de artigos para descartar aqueles tendenciosos ou de má qualidade, e usar apenas os de boa qualidade. 1. Habilidades do profissional médico para praticar MBE 13 MBE requer do médico novas habilidades, muitas das quais não foram ensinadas na faculdade e outras que realmente precisam ser desenvolvidas. Sua prática requer: a) Definição clara de quem é o paciente e qual é a situação clínica envolvida. Essa é a habilidade de “construir a pergunta clínica adequada”. b) Condução de uma busca eficiente na literatura, utilizando as bases de dados informatizadas, como Medline. Para isso, é preciso algum grau de familiaridade com a informática e com o uso da internet. c) Conhecimentos básicos de metodologia científica para determinar, em cada estudo clínico, quais são os melhores desenhos metodológicos, as principais fontes de tendenciosidades e quais critérios utilizar para avaliação crítica da qualidade da publicação. Aqui, entram as habilidades que normalmente teríamos adquirido durante as aulas de epidemiologia e de bioestatística, disciplinas pouco apreciadas durante a graduação. Compreensão da validade interna e externa de um estudo científico e capacidade de aplicá-lo a um paciente ou a um sistema de saúde. Novamente, precisaremos recorrer aos conhecimentos de epidemiologia e de estatística (CLARK; CLARK, 2010). 2. A técnica PICO 14 Figura 5 – Técnica PICO Segundo Clark e Clark (2010), a elaboração da pergunta científica é crucial para sucesso de todo o processo. Para elaborá-la corretamente, utilizamos a técnica chamada PICO, acrônimo que descreve os quatro componentes fundamentais da pergunta clínica, a saber: Paciente: é preciso definir adequadamente o paciente ou a situação clínica de interesse. Isso orientará a busca por informações. Quanto mais informações incluirmos sobre o paciente, isto é, quanto mais precisa a descrição, mais direcionada se torna a pergunta. Intervenção: a qual o paciente se submeterá; deve ser sempre colocada de forma explícita. Intervenção pode ser um medicamento, um procedimento, um material cirúrgico, um exame diagnóstico etc. Comparação: em medicina, qualquer intervenção deve ser avaliada em termos comparativos. Não há nada absoluto, não há tratamentos ou exames bons ou ruins, mas tratamentos e exames melhores, piores ou iguais a outros. Portanto, é extremamente importante definir adequadamente contra qual comparação nossa intervenção deve mostrar-se melhor. 15 Outcome (desfecho clínico): que desfecho clínico é importante para nosso cenário clínico? Na elaboração da pergunta é preciso definir qual é o resultado de interesse. Sobrevida, qualidade de vida e cura são os principais e são chamados de desfechos orientados ao paciente. Outros desfechos, como melhora da pressão arterial, diminuição do volume tumoral, controle do PSA, controle do valor de colesterol etc; são chamados desfechos intermediários e nem sempre têm relação com desfechos clínicos principais. Em outras palavras: nem sempre a melhora de um desses parâmetros se traduzirá em benefício ao paciente (CLARK; CLARK, 2010). 4. Bioestatística A Estatística é a parte da ciência, ou seja, uma parte da matemática aplicada, responsável pela coleta, organização e interpretação de dados experimentais e pela extrapolação dos resultados da amostra para a população. 16 Figura 6 – A estatística na epidemiologia 1. Importância da Estatística aplicada à Epidemiologia A importância da estatística reside no auxílio ao processo de pesquisa, que permeia todas as áreas do conhecimento que lidam com observações empíricas. Assim, podemos dizer que a Estatística é a ciência do significado e uso dos dados (CAZORLA et al, 2017). Rocha e Carvalho (2008) apresentam vários motivos para estudarmos a Bioestatística e achamos muito importantes coloca-los abaixo como incentivo para o estudo e para mostrar sua aplicabilidade que leva à confiança aos resultados de pesquisas: a) Para avaliar a literatura que estamos lendo e consultando A leitura da literatura médica começa cedo no treinamento de profissionais da saúde e continua ao longo de suas carreiras. Eles têm que entender bioestatística para decidir se eles podem acreditar ou não nos resultados apresentados na literatura. Os editores tentam excluir artigos que são projetados ou analisados impropriamente, mas poucos têm treinamento estatístico formal e eles focalizam naturalmente mais no conteúdo da pesquisa do que no método. Investigadores de grandes estudos quase 17 sempre consultam estatísticos para ajudar no desenvolvimento do projeto e na análise de dados, especialmente em pesquisas custeadas pelos Institutos Nacionais de Saúde e outras agências nacionais e fundações. Mesmo assim é importante estar atento a possíveis falhas no modo como um estudo é projetado e realizado. Em projetos menores, os investigadores consultam menos frequentemente os estatísticos, por estarem desavisados da necessidade da estatística ou porque os recursos financeiros não são suficientes. A disponibilidade de programas de computação fácil- de-usar para executar análise estatística foi importante promovendo o uso de métodos mais complexos. Porém, esta mesma acessibilidade permite as pessoas sem o treinamento ou perícia em metodologia estatística a informar análises complicadas quando eles sempre não forem apropriados. b) Para aplicar os resultados dos estudos aos cuidados de pacientes: Aplicar os resultados de pesquisas nos pacientes é a principal razão pela qual os clínicos leem a literatura médica.Eles querem saber quais os melhores procedimentos diagnósticos, quais métodos de tratamento estão sendo utilizados com maior sucesso, e como o tratamento deve ser projetado e implementado. Eles também leem os artigos para se atualizarem. c) Para interpretar estatísticas vitais: Médicos devem conseguir interpretar estatísticas vitais para diagnosticar e tratar os pacientes efetivamente. Estatísticas vitais são baseadas em dados colecionados do registro contínuo de eventos vitais, como nascimentos e mortes. Uma compreensão básica de como estatísticas vitais são determinadas, o que eles querem dizer, e como eles são usados facilita muito o seu uso. 18 Figura 7 – Bioestatística e Epidemiologia d) Para entender problemas epidemiológicos: Os médicos têm que entender os problemas de epidemiologia porque esta informação lhes ajuda a fazer diagnósticos e desenvolver planos de tratamento para seus pacientes. Dados epidemiológicos revelam a prevalência de uma doença, sua variação por período do ano e local, e sua relação com certos fatores de risco. Além disso, a epidemiologia nos ajuda a entender como vírus e outros agentes infecciosos se disseminam. Estas informações também ajudam a sociedade a tomar decisões conscientes sobre o desenvolvimento de programas de saúde, por exemplo, se uma comunidade deveria começar um programa de vigilância, se um programa de screening deve ser executado e como pode ser projetado para ser eficiente, e se deveriam ser usados recursos da comunidade para problemas de saúde específicos. e) Para interpretar informações sobre drogas e equipamentos: Médicos avaliam continuamente informações sobre drogas e instrumentos médicos. Este material pode ser provido por representantes de companhias, enviados pelo correio, ou podem ser publicados em revistas. Por causa do custo alto de drogas e instrumentos médicos em desenvolvimento, companhias fazem tudo que podem para recuperar os investimentos. Para vender os produtos, tem que convencer os médicos 19 que seus produtos são melhores que os dos concorrentes. Para fazer isso, usa gráficos, quadros, e os resultados de estudos que comparam seus produtos com outros no mercado. f)Para usar técnicas diagnósticas: Identificar o procedimento diagnóstico correto é uma necessidade para tomar decisões sobre os cuidados do paciente. Além de saber a prevalência de uma determinada doença, médicos devem estar atentos a sensibilidade de um teste diagnóstico em descobrir a doença quando estiver presente e a frequência com que o teste não indica nenhuma doença em uma pessoa que não tem nenhuma doença. Estas características são chamadas de sensibilidade e especificidade de um teste diagnóstico. g)Para ficar informados: Se manter atualizado e ser crítico sobre dados são habilidades gerais e difíceis de medir. Estas habilidades também não são fáceis de adquirir porque muitas responsabilidades tomam o tempo de um profissional. h)Para avaliar as diretrizes, os Guidelines: O número de diretrizes para diagnóstico e tratamento aumentou muito ultimamente. Os médicos avisam que devem ser aceitas diretrizes sem avaliação crítica do profissional; embora algumas estejam baseadas em evidências médicas, muitas representam a opinião coletiva de peritos. i)Para participar ou dirigir projetos de investigação: Clínicos que participam de pesquisas sabem que conhecimento sobre bioestatística e métodos de investigação é indispensável. Residentes em todas as especialidades devem mostrar evidência de atividade docente, e isto leva frequentemente a forma de 20 um projeto de investigação. Além de ser muito exigido produção científica no, currículo de graduados. 2. Glossário básico em Estatística Estatística compreende a coleta, a apresentação e a caracterização da informação, visando assistir a análise de dados e o processo de decisão. Estatística Descritiva envolve a coleta, a análise e a apresentação de conjuntos de dados, para descrever as diversas características destes conjuntos de dados. As ferramentas utilizadas para isso são as conhecidas tabelas de frequência; gráficos; cálculo de medidas de tendência central como média, mediana e moda; e cálculo de medidas de variação como variância e desvio padrão. Estatística Inferencial consiste nos métodos de estimativas de uma população com base nos estudos sobre amostras (por vezes é impossível trabalhar com a população inteira). As estatísticas inferenciais são valiosas quando não é conveniente ou possível examinar cada membro de uma população inteira. A ferramenta mais utilizada é justamente a probabilidade. Figura 8 – População, amostra, estatística descritiva e estatística inferencial 21 População (Universo) é a totalidade dos itens que estão sendo considerados. É qualquer conjunto, não necessariamente de pessoas, que constituem todo o universo de informações de que se necessita. População refere-se a grupos humanos definidos pelo seguinte conjunto de características comuns: sociais, culturais, econômicas, geográficas e históricas. Na definição de população não há nada que estabeleça que esta deva ser formada por uma grande quantidade de unidades, mas por todas as que estamos interessados em investigar, pode-se ter uma população com três elementos ou com um bilhão de unidades, por exemplo (ASSIS; SOUZA; DIAS, 2019). Amostra é a parte da população que é selecionada para análise. Ou seja, corresponde a um grupo representativo da população. A epidemiologia se detém em populações inteiras ou em suas amostras para, a partir dos indicadores de saúde e outros dados epidemiológicos construídos através da coleta de dados e de sua análise por métodos estatísticos, realizar o diagnóstico de saúde, subsidiando a implementação de medidas de promoção da saúde e prevenção de doenças coletivamente (MEDRONHO, 2005; ROUQUAYROL e ALMEIDA FILHO, 2003). Logo, a capacidade de aplicar o método epidemiológico é uma habilidade fundamental para todos os trabalhadores de saúde que tenham como objetivo reduzir doenças, promover saúde e melhorar os níveis de saúde da população, especialmente aqueles que trabalham na Estratégia Saúde da Família, que necessariamente precisam compreender o todo e as especificidades de uma área do conhecimento tão abrangente. 22 Figura 9 – Tamanho da amostra População finita é aquela que possui um limite quantitativo (exemplo: a produção de veículos no país, ou no mundo, a cada ano), enquanto a infinita se refere de quantitativos sem limite (exemplo: todos os resultados, cara ou coroa, dos lances de uma moeda qualquer). O Parâmetro é uma medida sintética que descreve um estado da população. Os Dados podem ser do tipo Qualitativos ou Quantitativos (Discretos ou Contínuos). Os Dados Quantitativos Discretos são aqueles que podem ser contados Os Dados Quantitativos Contínuos são os que podem ser medidos. Estão limitados pela precisão do sistema de medição (exemplo: altura ou peso de um indivíduo). Os dados podem ser organizados em diversas tabelas e gráficos. O rol é a lista dos dados numéricos da amostra ou da população analisada; é a tabela obtida após a ordenação dos dados. Rol é toda sequência de dados numéricos (a1, a2, a3,..., an) tal que cada elemento, a partir do segundo é maior ou igual a seu antecessor, ou é menor ou igual a seu sucessor. A frequência absoluta é o número de vezes que um dado aparece no rol. Os dados são organizados em categorias. 23 A frequência relativa é o número de observações de cada variável divido pelo número total de observação. Ou seja, é a frequência absoluta de cada variável dividida pela somatória das frequências absolutas. A frequência relativa é uma porcentagem do todo. Essa medida é usada para comparar dados. Os dados de uma tabela geralmente são descritos por gráficosde diferentes tipos, exemplificados abaixo. Figura 10 – Gráfico de linhas Números randômicos ou aleatórios são valores tomados sem nenhuma lei de formação, normalmente obtidos de uma tabela apropriada ou gerados eletronicamente por microprocessadores. Estudos Enumerativos envolvem a tomada de decisão, com base nas características de uma população sob análise (ex. Votações políticas). Estudos Analíticos envolvem a tomada de uma ação sobre um processo visando o aumento de performance no futuro (ex. Processo de fabricação de peças de automóveis). Variável é a característica dos elementos da amostra que nos interessa averiguar estatisticamente. Elas podem ser: 24 Variável quantitativa é aquela que mede quantidade, por exemplo, idade, altura, preço, quantidade de vendas etc. Ou: aquelas que são numericamente mensuráveis, ou seja, seus possíveis valores são numéricos ou resultantes de contagem. As variáveis quantitativas podem ser: Discretas: quando o conjunto de resultados possíveis é finito ou enumerável. Exemplo: número de filhos, alunos numa escola, quantidade de televisores numa casa, quantidade de habitantes de uma cidade, etc. Contínuas: quando os valores são expressos como intervalo ou união de números reais. Exemplo: peso, massa, altura, pressão sistólica, idade, nível de açúcar no sangue. A variável qualitativa é aquela que mede uma qualidade do indivíduo e pode ser separada em categorias, por exemplo, sexo: masculino ou feminino; nível de escolaridade: nível fundamental, médio ou superior; satisfação: baixa, média, alta e assim por diante. As variáveis qualitativas se baseiam em qualidades e não podem ser mensuradas numericamente. Uma variável é qualitativa quando seus possíveis valores são categorias. Podem ser organizadas em diferentes escalas, segundo a possibilidade de mensuração: Escala ordinal: quando as variáveis podem ser colocadas em ordem, mas não é possível quantificar a diferença entre os resultados. Exemplo: classe social (A, B, C, D ou E) ou nível de escolaridade: fundamental, médio e superior. Escala nominal: quando as variáveis não podem ser hierarquizadas ou ordenadas, sendo comparadas apenas por igualdade ou diferença. Exemplos: cor dos olhos, local de nascimento ou de residência, gênero (masculino e feminino), carreira, religião, esporte praticado (futebol, basquete, ciclismo), etc. Escala intervalar: quando é possível quantificar as diferenças entre as medidas, mas não há um ponto zero absoluto. Exemplo: temperatura mínima e máxima. Anote aí: Objetivo da estatística – tirar conclusões sobre populações com base nos resultados observados em amostras extraídas dessas populações. 25 Medida estatística de posição: são medidas que indicam o posicionamento dos elementos de uma amostra de números quando está representada num rol. Moda: é o elemento de maior frequência em uma amostra. Nem sempre a média aritmética é o melhor elemento para a representação de uma amostra. Dependendo da situação, é possível que outro elemento seja a melhor escolha ou, até mesmo que não exista média aritmética. É o caso de amostras cujos elementos não são números. A média aritmética, pela sua facilidade de cálculo e de compreensão aliada às suas propriedades matemáticas, é a medida de localização mais conhecida e utilizada. Pode ser de dois tipos: simples ou ponderada. A média aritmética simples, representada por x, é calculada considerando que todas as observações participam com o mesmo peso. Assim, para um conjunto de n observações (x1, x2, ... xn), a média aritmética simples ou simplesmente média é definida por: A média aritmética ponderada, representada por xp, é calculada considerando que pelo menos uma das observações deve participar com peso diferente das demais. Assim, se as observações xi, x2, ... xn forem associadas aos pesos pi, p2, ... pn, a média aritmética ponderada é dada por A mediana, por sua vez, é o termo central de um rol. Representada por Md, é a medida que divide um conjunto de dados ordenado em duas partes iguais: 50% dos valores ficam abaixo e 50% ficam acima da mediana. As medidas de posição, como média aritmética, a mediana e a moda de um conjunto de dados numéricos não são suficientes para uma análise conclusiva sobre como 26 variam os valores desse conjunto; por exemplo, o quanto esses valores estão próximos ou distantes de uma medida previamente fixada, por isso é preciso usar outras medidas para avaliar a distribuição de uma amostra de números como a medida de dispersão. As medidas de variação ou dispersão complementam as medidas de localização ou tendência central, indicando quanto as observações diferem entre si ou o grau de afastamento das observações em relação à média. As medidas de variação mais utilizadas são: a amplitude total, a variância, o desvio padrão e o coeficiente de variação. A Amplitude total: denotada por at, fornece uma ideia de variação e consiste na diferença entre o maior valor e o menor valor de um conjunto de dados. Assim, temos: at = ES-EI, onde: ES: extremo superior do conjunto de dados ordenado; El: extremo inferior do conjunto de dados ordenado. A amplitude total é uma medida pouco precisa, uma vez que utiliza apenas os dois valores mais extremos de um conjunto de dados. Também por esta razão é extremamente influenciada por valores discrepantes. É utilizada quando apenas uma ideia rudimentar da variabilidade dos dados é suficiente. A variância, denotada por s2, é a medida de dispersão mais utilizada, seja pela sua facilidade de compreensão e cálculo, seja pela possibilidade de emprego na inferência estatística. A variância é definida como sendo a média dos quadrados dos desvios em relação à média aritmética. Assim, temos O desvio padrão, denotado por s, surge para solucionar o problema de interpretação da variância e é definido como a raiz quadrada positiva da variância. Assim, temos: 27 O coeficiente de variação, denotado por CV, é a medida mais utilizada quando existe interesse em comparar variabilidades de diferentes conjuntos de dados. Embora esta comparação possa ser feita através de outras medidas de variação, nas situações em que as médias dos conjuntos comparados são muito desiguais ou as unidades de medida são diferentes, devemos utilizar o CV. O coeficiente de variação é definido como a proporção da média representada pelo desvio padrão e dado por 3. Medidas de frequência de doenças As medidas de frequências de doenças são indicadores construídos com o objetivo de mensurar a ocorrência de doenças na população. Em termos gerais, as principais medidas em saúde são: a) Índices: termo genérico apropriado para referir-se a todos os descritores da vida e da saúde; inclui todos os termos numéricos existentes e incidentes que trazem a noção de grandeza. b) Coeficientes: são medidas secundárias que, ao serem geradas pelos quocientes entre medidas primárias de variáveis independentes, deixam de sofrer influência dessas variáveis para expressar somente a intensidade dos 28 riscos de ocorrência. Em outras palavras, trata-se da frequência com que um evento ocorre na população. c) Taxas: são medidas de risco aplicadas para cálculos de estimativas e projeções de incidências e prevalências em populações de interesse. d) Indicadores: são os índices críticos capazes de orientar a tomada de decisão em prol das evidências ou providências (LIMA; PORDEUS; ROUQUAYROL, 2013). Para se calcular a frequência com que as doenças ou problemas de saúde acometem a população, são utilizadas as seguintes medidas de frequência: incidência e prevalência Incidência A incidência é a frequência de novos casos de uma determinada doença ou problema de saúde num determinado período de tempo, oriundo de uma população sob risco deadoecer no início da observação (COSTA; KALE, 2009). Os novos casos ou incidentes podem ser compreendidos como aqueles indivíduos não doentes no início do período de observação (sob-risco/susceptível) e que adoeceram durante o período observado. Portanto, para se definir a incidência de uma doença com acurácia, é necessário acompanhar a população em observação. Com base nessa definição, pode-se deduzir que uma mesma doença pode incidir sobre um mesmo indivíduo mais de uma vez durante o período observado, o que é denominado de incidência total (COSTA; KALE, 2009). Tal medida é muito utilizada para se calcular a incidência de doenças agudas, podendo ser essas infecciosas (mas que não conferem imunidade) ou não infecciosas (acidente vascular cerebral, por exemplo). A incidência pode ser mensurada de forma bastante simples, basta contabilizar a ocorrência de determinado agravo sobre uma população num determinado período de tempo, o que representa o número de casos incidentes. No entanto, essa medida é pouco útil para se compreender a proporção desse número sobre a população ou para se comparar tal medida com os resultados encontrados 29 em outras populações. Portanto, para que seja utilizada como um indicador de saúde, é necessário que se calcule a taxa de incidência (MEDRONHO, 2005; PEREIRA, 1995). Vejamos como calcular a incidência: * A constante é uma potência com base de 10 (100, 1.000, 100.000), pela qual se multiplica o resultado para torná-lo mais “amigável”, ou seja, para se ter um número inteiro. É muito mais difícil compreender uma taxa de 0,15 morte por 1.000 habitantes a uma taxa de 15 mortes por 100.000 habitantes. Quanto menor for o numerador em relação ao denominador, maior a constante utilizada. Como é possível observar na expressão matemática acima, a taxa de incidência é a razão entre o número de casos novos observados durante um determinado período e o número de pessoas expostas ao risco de adoecer no mesmo período, multiplicada por uma constante de base 10 (10n). Essa constante, além de facilitar a compreensão do resultado, tem a função de tornar os dados comparáveis quando estamos tratando de população com tamanhos variados (GOMES, 2015). Vale salientar que as medidas de mortalidade e letalidade podem ser entendidas como casos particulares dentro do conceito de incidência, quando o evento de interesse é a morte, e não o adoecimento (COSTA; KALE, 2009). Tais medidas podem ser definidas como a) Mortalidade: é uma medida muito utilizada como indicador de saúde porque permite avaliar as condições de saúde de uma população. É calculada dividindo-se o número de óbitos pela população em risco. b) Letalidade: é uma medida da gravidade da doença. Expressa o poder que uma doença ou agravo à saúde tem de provocar a morte nas pessoas acometidas. É calculada dividindo-se o número de óbitos por determinada doença pelo número de casos da mesma doença. Algumas doenças apresentam letalidade nula, como, por 30 exemplo, escabiose; enquanto para outras, a letalidade é igual ou próxima de 100%, como a raiva humana (UNA-SUS/UFSC, 2013). Prevalência Segundo Costa e Kale (2009), a prevalência pode ser definida como a frequência de casos existentes de uma determinada doença em uma determinada população e em um dado momento. Em outras palavras, são os casos já existentes (antigos) somados aos casos novos, numa dada população durante um período de tempo. A imagem abaixo expressa bem essas definições e observe que a prevalência é alimentada pela incidência de casos. Figura 11 – Modelo representativo da prevalência de uma doença A prevalência é uma medida estática que representa a aferição do número de casos existentes em uma população em: um dado instante: chamada de prevalência pontual ou instantânea. Exemplo: aferição dos casos no 1º dia do ano. num dado período: chamada de prevalência de período. Exemplo: aferição dos casos durante 1 ano. 31 Vale salientar que, diferentemente da incidência, a prevalência só considera um evento de determinada doença por indivíduo, ou seja, se o indivíduo tiver gripe por três vezes durante o ano, o evento só será contado uma vez. Com exceção da casualidade de ele se encontrar com gripe nos dois momentos em que for mensurada a prevalência pontual para este agravo (GOMES, 2015). Fórmula para se calcular a prevalência: Anote aí: Figura 12 – Fatores que podem influenciar negativa ou positivamente a prevalência A incidência é bastante utilizada em investigações etiológicas para elucidar relações de causa e efeito, avaliar o impacto de uma política, ação ou serviço de saúde, além de estudos de prognóstico. A prevalência pode ser utilizada para o planejamento de ações e serviços de saúde, previsão de recursos humanos, diagnósticos e terapêuticos. Ressalte-se que a prevalência é uma medida mais adequada para doenças crônicas ou de longa duração (GOMES, 2015). 32 5. Referências ALMEIDA FILHO, N. de. A clínica, a epidemiologia e a epidemiologia clínica. PHYSIS - Revista de Saúde Coletiva, v. 3, n. 1, 1983. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/physis/v3n1/02.pdf ALMEIDA FILHO, N. de. Bases históricas da Epidemiologia. Caderno de Saúde Pública [online]. 1986, vol.2, n.3 [citado 2020-05-28], pp.304-311. 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