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Psicologia da Aprendizagem Aline Cristina Lofrese Mauricio 1º Ed. / Setembro / 2013 Impressão em São Paulo - SP Editora Psicologia da Aprendizagem Coordenação Geral Nelson Boni Coordenador de Projetos Leandro Lousada Coordenadora Pedagógica de Cursos EaD Profª. Me. Maria Rita Trombini Garcia Professora Responsável Aline Cristina Lofrese Mauricio Projeto Gráfico, Diagramação e Capa Priscila Wu Temer Revisão Ortográfica Nádia Fátima de Oliveira 1º Edição: Setembro de 2013 Impressão em São Paulo/SP Copyright © EaD Know How 2013 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. Catalogação elaborada por Glaucy dos Santos Silva - CRB8/6353 M454p Mauricio, Aline Cristina Lofrese. Psicologia da aprendizagem / Aline Cristina Lofrese Mauricio. – São Paulo : Know How, 2010. 122 p. : 22 cm. : il. Inclui bibliografia ISBN : 978-85-63092-35-9 1. Psicologia da aprendizagem. 2. Aprendizagem social e emocional. I. Título. CDD – 153.15 APRESENTAÇÃO Parabéns! Você está recebendo o livro-texto da disciplina de Psicologia da Aprendizagem, construído especialmente para este curso, baseado no seu perfil e nas necessidades da sua formação. A finalidade deste livro é disponibilizar aos alunos de EAD conceitos e exercícios referentes aos principais temas da Psicologia da Aprendizagem. Estamos constantemente atualizando e melhorando este material, e você pode nos auxiliar, encaminhando sugestões e apontando melhorias, via monitor, tutor ou professor. Desde já, agradecemos a sua ajuda. Lembre-se de que a sua passagem por esta disciplina será também acompanhada pelo Sistema de Ensino EaD Know How, seja por correio postal, fax, telefone, e-mail ou Ambiente Virtual de Aprendizagem. Entre sempre em contato conosco quando surgir alguma dúvida ou dificuldade. Participe dos bate-papos (chats) marcados e envie suas dúvidas pelo Tira-Dúvidas. Toda equipe está à disposição para atendê-lo (a). Seu desenvolvimento intelectual e profissional é o nosso maior objetivo. Acredite no seu sucesso e tenha bons momentos de estudo! Equipe EaD Know How SUMÁRIO CARTA DO PROFESSOR UNIDADE 1 Psicologia enquanto ciência e a diferença entre Psicologia, senso comum e misticismo UNIDADE 2 A Psicologia da aprendizagem e a natureza da inteligência emocional UNIDADE 3 O ambiente familiar e a arte de viver em sociedade UNIDADE 4 Resultados da aprendizagem social e emocional e percepção e o desenvolvimento da Assertividade e Empatia UNIDADE 5 A interação Professor-aluno e Aluno-professor e o desenvolvimento de atitudes favoráveis ao ensino UNIDADE 6 Formas típicas de comunicação e seus efeitos REFERÊNCIAS 7 9 33 55 75 95 109 118 7 CARTA DO PROFESSOR Caríssimo (a), A Psicologia é uma ciência que permeia todas as relações humanas. O desconhecimento dos processos envolvidos na aprendizagem faz com que educadores não explorem todo o potencial da relação estabelecida entre o professor, o educando e o conhecimento. Atualmente, com o avanço das pesquisas científicas sobre as relações humanas, a inteligência emocional e o desenvolvimento, temos um panorama mais rico e completo da psicologia da aprendizagem. Mas não podemos deixar de observar a realidade brasileira! Além da relação entre educador, educando e conhecimento, outros fatores influenciam o aprendizado: as condições das escolas brasileiras, a formação dos docentes, a estrutura da escola pública, enfim, vários fatores compõem este panorama. Convido você para, juntos, mudarmos esse Cenário! Seja bem-vindo! UNIDADE 1 A Psicologia enquanto ciência e a diferença entre psicologia, senso comum e misticismo 11 Caro (a) Aluno (a) Nesta unidade estudaremos os conceitos da Psicologia enquanto ciência e a diferença entre Psicologia, senso comum e misticismo. Você também entenderá que a psicologia é uma ciência com fortes bases empíricas e teóricas. Bom Estudo! Objetivos da unidade Ao final desta unidade, você deverá ter condições de: — Identificar a importância do tema; — Ter conhecimento do processo histórico da constituição e reconhecimento da Psicologia como ciência; — Integrar os conhecimentos com a prática educativa. — A compreensão do conceito de senso comum; — A percepção das práticas ligadas ao misticismo; — A diferenciação entre psicologia, senso comum e misticismo. Conteúdos da unidade — As bases científicas da Psicologia; — O objeto da psicologia; — As metodologias em psicologia; — A psicologia aplicada. O que é psicologia do senso comum; — O que é ciência; — O objeto de estudo da Psicologia; — A subjetividade como objeto da Psicologia; — A Psicologia e o Misticismo; — Diferenciando áreas do conhecimento. 13 1. Introdução A Psicologia é uma ciência que estuda os comportamentos e processos mentais, partindo da sua descrição para a explicação desses comportamentos de modo a poder prever e controlar as respostas comportamentais. Tradicionalmente a psicologia foi referida como o estudo da Alma [psiquê + logos = mente + conhecimento], mas tal levou a informações erradas baseadas na fé e crenças populares, bem como ao surgimento da parapsicologia. Como atingir o estatuto de ciência? Esta foi a questão que se colocou nos finais do século XIX à Psicologia e que obteve respostas diferenciadas, levando diversos autores a definirem objetos e métodos específicos, consoante aos problemas estudados. 14 1.1 Conceito de educação Os caminhos possíveis para a Psicologia: — Estudar a consciência, os comportamentos ou ambos? — Os comportamentos são inatos ou adquiridos, ou possuímos comportamentos inatos e outros adquiridos? — Estudar os fatos isolados ou numa perspectiva de conjunto? 1.2 O Objeto da Psicologia Corrente Objeto Métodos de investigação População estudada Autores Associacionismo / Estruturalismo Estados de consciência Introspecção controlada Observadores treinados Wundt Titchener Reflexologia Reflexos Método experimental Animais e seres humanos Pavlov Behaviorismo/ Comportamentalismo Comportamento observável do ser humano e do animal Método experimental Seres humanos e animais Watson Skinner Tolman Hull Psicanálise Inconsciente; Estrutura psíquica; Funcionamento psíquico Método Psicanalítico Pacientes humanos Freud Adler Rank Jung Anna Freud Melanie Klein 15 Gestaltismo / Psicologia da Forma Percepção e pensamento como totalidade - Método experimental; - Introspecção Informal Seres humanos e primatas superiores Wertheimer Kohler Kofka Construtivismo Estruturas da inteligência - Método clínico; - Observação naturalista Crianças e adolescentes Piaget Centro de Epistemologia Genética 1.3 Metodologias em Psicologia Na afirmação da nova ciência, a Psicologia define o seu objeto, e estabelece o seu método de trabalho. Os diferentes ramos da psicologia resultam de diferentes modos de abordagem do comportamento humano. 1.3.1 Método introspectivo A Introspecção no sentido restrito da palavra propõe o conhecimento das emoções através da observação interna e reflexão por parte do próprio sujeito. O indivíduo é, ao mesmo tempo, sujeito do conhecimento e objeto de estudo num processo de auto-observação. A Introspecção controlada implica a presença de observadores externos e estruturação da descrição das emoções. É defendido pela corrente associacionista, de modo a permitir o estudo das emoções e estados da consciência de uma forma sistemática: orienta-se para o estudo do consciente. 16 1.3.2 Método da observação Na afirmação da nova ciência, a Psicologia define o seu objeto, e estabelece o seu método de trabalho. Os diferentes ramosda psicologia resultam de diferentes modos de abordagem do comportamento humano. Desde a Introspecção ao método clínico, o estudo da psicologia passa pela observação dos fenômenos psíquicos. A realização da observação isolada do método experimental sucede por, em determinadas ocasiões e por motivos práticos, não ser possível o recurso ao método experimental. Contudo é sempre possível estabelecer hipóteses e recorrer a técnicas de observação que permitam a verificação das hipóteses, sem passar pela experimentação. As condições em que essa observação é produzida levam a identificar diferentes formas: — Laboratorial - Produzida em condições controladas; — Naturalista - Elaborada no meio natural em que se desenrola a situação; — Invocada - Realizada a partir de situações ocasionais e em que as condições não são controladas nem previstas. 1.3.3 Método experimental O Método Experimental baseia-se no método científico comum à maioria das ciências. É defendido pelo Behaviorismo, 17 mas utilizado por outras correntes de psicologia. O seu objetivo é permitir conhecimentos sobre comportamentos comuns a um grupo de pessoas. Fases do método Hipótese prévia - Estabelecimento de uma relação causa- efeito explicativa de uma situação. Pretende relacionar a presença de um fato (situação) com a modificação de outro (comportamento). Experimentação - Fase de verificação da hipótese. Nesta fase é determinante o rigor das observações e controle da situação experimental. Controle de variáveis - Elementos que constituem a situação de estudo relativamente à alteração ou manifestação de um comportamento cuja natureza se desconhece. O objetivo desta fase é comprovar se o efeito que a variáveis independentes provocam na variável dependente é aquele que se supusera na hipótese. Registro de observações - Para garantir o rigor das observações e permitir a análise dos dados por investigadores independentes. Registros de ocorrências e duração de comportamento. Escalas de classificação - Níveis de frequência de um fato. Controle de condições - Validação da informação. Grupo experimental - Grupo de sujeitos onde é testada uma variável independente, sendo que as restantes condições e constituição devem ser iguais ao grupo de controle para permitirem a comparação de resultados. 18 Grupo de controle ou testemunha - Grupo de sujeitos em que as condições da experiência são mantidas inalteráveis, garantindo assim os dados resultantes da observação do grupo experimental. Amostra - Conjunto de indivíduos onde decorre a experimentação, sendo constituído a partir da segmentação do universo a estudar. A amostra deve ser significativa e representativa da população a estudar. Amostragem simples (aleatória) - Quando a população a estudar é homogênea todos os seus membros possuem condições iguais para o estudo, pelo que são escolhidos ao acaso. Amostragem estratificada - Quando a população a estudar é heterogênea os diversos grupos devem estar representados, pelo que é necessário selecionar a amostra, recorrendo-se aqui a técnicas da estatística. Trabalho de campo - Verificação da hipótese em situação real. Generalização - Estabelecimento das conclusões pela generalização dos dados da amostra para o universo a estudar. Apesar de toda a preocupação no controle da experiência determinados erros podem surgir nas diversas fases: Planificação - Possibilidade de erros na elaboração da amostra, na seleção das variáveis e no controle experimental. Isolamento de variáveis - Determinados elementos terão uma reação diferente a um conjunto de variáveis presentes ao mesmo tempo e não a cada uma individualmente. 19 Generalização - A amostra pode ser insuficiente ou demasiado seletiva. A estes há ainda a acrescentar os problemas éticos na produção de condições experimentais (lesões físicas ou mentais por exemplo), o que leva ao recurso da experiência em animais (hoje igualmente alvo de contestação social) e da experiência invocada: A Experiência invocada é realizada aproveitando as circunstâncias acidentais de um fenômeno, constituindo um estudo paralelo de fatos que só costumam serem observados em laboratório pelo seu caráter excepcional. É assim que a existência de catástrofes ou guerras permitem o estudo real de situações daí resultantes. Por outro lado, questões éticas impedem a produção de determinadas experiências (separar gêmeos para analisar o seu desenvolvimento, provocar lesões cerebrais, etc.), restando, por isso, o aproveitamento de acontecimentos fortuitos. Esta foi a técnica mais utilizada para o estudo do cérebro, mesmo ainda antes da existência de aparelhos modernos. 1.3.4 Método clínico Não é um método de pesquisa nem pretende descobrir leis do comportamento, mas constitui-se como uma série de procedimentos de diagnóstico e tratamento de pessoas com problemas de comportamento e /ou emocionais. Deste modo o estudo desenvolve-se sobre um único indivíduo ao longo de determinadas fases: 20 — Anamnese - Levantamento da história individual do paciente, recorrendo a fontes externas e trazendo à memória informações perdidas. Esta fase permite elaborar algumas hipóteses de trabalho que vão condicionar a fase seguinte. — Entrevista - Colocação de questões ao paciente na tentativa de selecionar hipóteses a partir das suas respostas verbais e não-verbais (gestos, reações, etc.) — Observação - Estudo dos comportamentos do paciente no seu ambiente natural de modo a confirmar a hipótese selecionada. — Testes - Realização de testes de personalidade (do tipo projetivo) de modo a certificar as conclusões. Note- se que estes testes podem ser igualmente utilizados no início do processo, de modo a fornecer informações. A partir da confirmação da hipótese deduz-se qual o tratamento a desenvolver. Encontramos a aplicação deste método em Piaget e em Khöler. 1.3.5 Método psicanalítico Com o objetivo de conhecer o inconsciente, Freud estabelece um conjunto de procedimentos que nos podem fornecer informações sobre o inconsciente do paciente, responsável pelos seus distúrbios: 21 — Hipnose - Induzir o paciente, através de uma sugestão intensa, num estado semelhante ao sono, mas no qual é possível estabelecer a comunicação com o hipnotizador e ser sugestionado, podendo assim revelar memórias ocultas ou ser condicionado para determinada ação ou comportamento. — Interpretação dos sonhos - Os sonhos apresentam imagens figurativas de recalcamentos, ansiedades e medos, que depois de interpretados vão permitir ao psicanalista confirmar os resultados das suas investigações sobre problemas de comportamento apresentados pelo paciente. É o meio de exploração mais seguro dos processos psíquicos, pelo que acaba por abandonar a técnica da hipnose. — Atos falhos - fenômenos ligados a lapsos de linguagem, de escrita, esquecimentos momentâneos de palavras. São acidentes de caráter insignificante e de curta duração. — Transferência - Transferência inconsciente para a figura do psicanalista de sentimentos de ternura ou de hostilidade (transferência positivo ou negativo) atualizando situações reprimidas e esquecidas, de forma a que o psicanalista possa detectar as razões do conflito inconsciente. É um processo de catarse, descarga psíquica, restabelecendo a relação entre a emoção e o objeto que inicialmente a despertou. Estas técnicas, indiretas, permitem que o próprio paciente tome consciência dos seus problemas, só assim sendo possível a sua cura. Por seu lado, a Hipnose, que não permitia a tomada de 22 consciência do problema pelo paciente, vem a ser abandonada. [consultar - Freud] 1.4 Psicologia aplicada Especializações Objetivos Psicologia Biológica Investigação dos mecanismos fisiológicos que estão subjacentes aos comportamentos e às desordens mentais. Psicologia Cognitiva Investigação dos processos mentais como o pensamento, a memória, a resolução de problemas e a tomadade decisões. Psicologia do Desenvolvimento Investigação dos processos que se alteram durante o curso da vida: na infância, na adolescência e na idade adulta. Psicologia Educacional Aplicação dos princípios psicológicos à prática educativa, incluindo métodos de ensino na sala de aula, concepção do currículo escolar. Psicologia Experimental Investigação dos processos que envolvem a aprendizagem, a percepção, a motivação, a emoção. Psicologia Social Investigação do comportamento de grupos, da dinâmica de grupos, das características de um líder. Psicologia Clínica Diagnóstico, investigação das causas e tratamento de comportamentos desajustados. Psicologia da Personalidade Investigação dos fatores que tornam cada indivíduo único. Psicologia das Organizações Investigação dos processos tendentes à otimização do rendimento no trabalho, motivação e formação dos trabalhadores. 23 A diferença entre psicologia, senso comum e misticismo O que é psicologia do senso comum? Usamos o termo psicologia, no nosso cotidiano, com vários sentidos, como por exemplo, quando falamos do poder de persuasão ou de compreensão de alguém, ou da capacidade que algumas pessoas têm de escutar os outros e darem bons conselhos. Essa psicologia, usada no dia a dia pelas pessoas, é chamada de psicologia do senso comum. O senso comum: conhecimento da realidade Durante nossa vida cotidiana, vamos adquirindo várias aprendizagens pela via do hábito e da tradição, que passam de geração para geração. Assim, aprendemos com nossos pais a atravessar a rua, a fazer a televisão funcionar, a plantar alimentos na época e da maneira correta. Com nossos amigos e colegas, aprendemos a paquerar, a ficar ou a pedir para namorar a pessoa que desejamos, a nos comportarmos em sala de aula, no trabalho, e assim por diante. Na vida cotidiana, as teorias científicas são simplificadas, quer seja para viabilizar seu uso no dia a dia, quer seja pela interpretação sempre singular dos fatos vividos, que muitas vezes parecem contradizer as considerações feitas pela ciência. É justamente o conhecimento que vamos acumulando no nosso dia a dia que é chamado de senso comum. O senso comum mistura e recicla saberes muito mais especializados e os reduz a um tipo de teoria simplificada, produzindo uma determinada visão de mundo. 24 O senso comum vai integrando, ainda que de um modo precário, todo o conhecimento humano, produzindo para cada pessoa ou grupo social, um modo particular de interpretar os fatos e o mundo que o cerca. Sem esse conhecimento intuitivo, espontâneo, construído muitas vezes de tentativas e erros, a nossa vida no dia a dia seria muito complicada. E é na tentativa de facilitar o dia a dia que o senso comum produz suas próprias “teorias” médicas, físicas, psicológicas, etc. O que é ciência? A ciência é uma atividade reflexiva, que procura compreender, elucidar e alterar o cotidiano a partir de um estudo sistemático e não simplesmente da adaptação à realidade. Quando fazemos ciência, afastamo-nos da realidade para compreendê- la melhor, transformando-a em objeto de investigação - o que permite a construção do conhecimento científico sobre o real. A ciência é composta de um conjunto de conhecimentos sobre fatos ou aspectos da realidade (objeto de estudo), expresso por meio de uma linguagem precisa e rigorosa. Esses conhecimentos devem ser obtidos de maneira programada, sistemática e controlada, para que se permita a verificação de sua validade. A ciência tem ainda uma característica fundamental: ela aspira à objetividade. Suas conclusões devem ser passíveis de verificação e isentas de emoção (isto é, busca-se atingir a neutralidade), para, assim, tornarem-se válidas para todos, ou seja, poderem ser generalizadas em todas as situações. Objeto específico, linguagem rigorosa, métodos e técnicas específicos, processo cumulativo do conhecimento e objetividade, fazem da ciência uma forma de conhecimento que 25 supera em muito o conhecimento espontâneo do senso comum. Esse conjunto de características é o que permite denominarmos um conjunto de conhecimentos de científico. O objeto de estudo da Psicologia Como dissemos acima, para ser considerado científico, um conhecimento precisa ter um objeto específico de estudo. Assim, por exemplo, o objeto da astronomia são os astros e o da biologia são os seres vivos. Tal classificação aponta para a possibilidade de se isolar o objeto de estudo, tornando-o distante da nossa realidade cotidiana e estabelecendo com ele a neutralidade e objetividade desejadas. Entretanto, o mesmo não ocorre com a Psicologia, que, como a Antropologia, a Economia, a Sociologia e outras ciências humanas, estuda o homem. Estamos diante, portanto, de uma dificuldade comum a todas as ciências humanas: separar o objeto de estudo e o sujeito que o examina. Por outro lado, dizer que a psicologia estuda o homem é conceituá-la de um modo abrangente demais e apenas coloca a Psicologia entre as outras ciências humanas. Na verdade, estamos aqui diante de um problema fundamental para a psicologia: na psicologia, o homem é visto de maneiras bem diversas entre si. A diversidade de objetos da psicologia é explicada, principalmente, por dois fatores. Em primeiro lugar, este campo do conhecimento constituiu-se como área do conhecimento científico só muito recentemente. Até o fim do século XIX, apenas a Filosofia e a Teologia preocupavam-se com esse objeto. Um segundo motivo que contribui para dificultar a clara definição de objeto em Psicologia é o fato de o cientista - o pesquisador - confundir-se, nessa disciplina, com o objeto a ser pesquisado. No sentido mais amplo, o objeto de estudo da Psicologia 26 é o homem, e neste caso o pesquisador está inserido na categoria a ser estudada. Assim, a concepção de homem que o pesquisador traz consigo “contamina” inevitavelmente a sua pesquisa em Psicologia. Isso ocorre porque há diferentes concepções de homem entre os cientistas (na medida em que estudos filosóficos, teológicos e mesmo doutrinas políticas acabam definindo o homem à sua maneira, e o cientista acaba necessariamente se vinculando a uma destas crenças). Na realidade, este é um “problema” enfrentado por todas as ciências humanas, muito discutido pelos cientistas de cada área e até agora sem perspectiva de solução. Assim, a Psicologia hoje se caracteriza por uma diversidade de objetos de estudo. Esta situação leva-nos a questionar a caracterização da Psicologia como ciência e a postular que no momento não existe uma psicologia, mas Ciências Psicológicas embrionárias e em desenvolvimento. A subjetividade como objeto da Psicologia Considerando toda essa dificuldade na conceituação única do objeto de estudo da psicologia, preferimos apresentar a você uma definição que sirva como referência para nossas próximas aulas, uma vez que você irá se deparar com diversos enfoques – diversas escolas de psicologia - que trazem definições específicas desse objeto: o comportamento, o inconsciente, a consciência, etc. A identidade da psicologia é o que a diferencia dos demais ramos das ciências humanas, e pode ser obtida considerando-se que cada um desses ramos enfoca o homem de maneira particular. Assim, cada especialidade - a economia, a política, a história etc. trabalha essa matéria-prima de maneira particular, construindo conhecimentos distintos e específicos a respeito dela. A psicologia colabora com o estudo da subjetividade: é essa a sua forma 27 particular específica de contribuição para a compreensão da totalidade da vida humana. A subjetividade é a síntese singular e individual que cada um de nós vai constituindo conforme vamos nos desenvolvendo e vivenciando as experiências da vida social e cultural; é uma síntese que nos singulariza, de um lado, por ser única, e nos iguala, de outro, na medida em que os elementos que a constituem são experienciados no campo comum da objetividadesocial. Esta síntese - a subjetividade - é o mundo de ideias, significados e emoções, construído internamente pelo sujeito, a partir de suas relações sociais, de suas vivências e de sua constituição biológica; é, também, fonte de suas manifestações afetivas e comportamentais. Importa muito ressaltar aqui que a subjetividade não só é fabricada, produzida, moldada pelo campo da cultura, pelos pais, amigos, colegas e grupos. Vale dizer que ela é também automoldável, ou seja, o homem pode promover novas formas de subjetividade, recusando-se ao assujeitamento e à perda de memória imposta pela fugacidade da informação; recusando a massificação que exclui e estigmatiza o diferente, a aceitação social condicionada ao consumo, a medicalização do sofrimento. Nesse sentido, retomamos a utopia que cada homem pode participar da construção do seu destino e de sua coletividade. A Psicologia e o misticismo A Psicologia, como área da Ciência, vem se desenvolvendo na história desde 1875, quando Wilhelm Wundt (1832-1926) criou o primeiro Laboratório de Experimentos em Psicofisiologia, em Leipzig, na Alemanha. Esse marco histórico significou o desligamento da Psicologia da Filosofia e da religião, com suas ideias abstratas e espiritualistas que defendiam a existência de 28 uma alma nos homens, como a morada da vida psíquica. A partir deste marco histórico, a história da Psicologia fortalece seu vínculo com os princípios e métodos científicos. A ideia de um homem autônomo, capaz de se responsabilizar pelo seu próprio desenvolvimento e pela sua vida, também vai se fortalecendo a partir desse momento. Hoje, a Psicologia ainda não consegue explicar muitas coisas sobre o homem. A invenção dos computadores, por exemplo, trouxe e trará mudanças em nossas formas de pensamento, em nossa inteligência, e a Psicologia precisará absorver essas transformações em seu quadro teórico. Alguns dos “desconhecimentos” da Psicologia têm levado os psicólogos a buscarem respostas em outros campos do saber humano. Com isso, algumas práticas não-psicológicas têm sido associadas às práticas psicológicas. O tarô, a astrologia, a quiromancia, a numerologia, entre outras práticas adivinhatórias e/ou místicas, têm sido associadas ao fazer e ao saber psicológico. Vale, entretanto, ressaltar que estas não são práticas da Psicologia. São outras formas de saber sobre o humano que não podem ser confundidas com a Psicologia, pois não são construídas no campo da Ciência, a partir do método e dos princípios científicos, além de estarem em oposição aos princípios da Psicologia, que vê o homem como ser autônomo. As práticas místicas têm pressupostos opostos, pois nelas há a concepção de destino, da existência de forças que não estão no campo do humano e do mundo material. A Psicologia, ao relacionar-se com esses saberes, deve ser capaz de enfrentá-los sem preconceitos, reconhecendo que o homem construiu muitos “saberes” em busca de sua felicidade. Mas é preciso demarcar nossos campos. Esses saberes não estão no campo da Psicologia, mas podem se tornar seu objeto de estudo. 29 Diferenciando áreas do conhecimento Faz-se necessário também discernir com clareza as diferenças entre psiquiatria, psicologia e psicanálise, para clarificar o campo de ação das três disciplinas. Psiquiatria - A psiquiatria é uma especialização da medicina voltada ao tratamento dos transtornos mentais causados por um funcionamento inadequado do cérebro. De fato, existem evidências exaustivas de que existem correlações entre diversos distúrbios de comportamento e afetações dos mecanismos cerebrais. O psiquiatra é, portanto, um médico que estará estudando as interrelações entre as funções orgânicas e psíquicas e buscará cessar os sintomas decorrentes das disfunções através do uso de medicamentos adequados a este fim. Psicologia - A psicologia, como vimos, é o conjunto de ciências que estuda a pessoa através de seu comportamento ou dos processos mentais, relacionando-os a fatores sócioculturais e /ou estruturais. Ela foca, principalmente, o funcionamento dos indivíduos e grupos, visando sua melhor condição de interação com o mundo. Podemos dizer que sua ética se dirige para a busca do bem-estar ou da felicidade possível dos/entre os homens, vinculada à vontade do eu ou ao controle dos comportamentos. Psicanálise - A psicanálise, fundada por Sigmund Freud, é um método de investigação do psiquismo humano que busca evidenciar o significado inconsciente das palavras, ações e produções imaginárias de um sujeito (Laplanche e Pontalis, 57:384), bem como investigar os conflitos psíquicos resultantes das intensidades que atravessam o sujeito e que se opõem aos limites sócioculturais por ele internalizados. Ela dá um golpe no 30 narcisismo da humanidade ao revelar que o eu – investido pela psicologia - não é o senhor em sua própria casa, além de enunciar uma sexualidade em ruptura com instintos e impulsos naturais. Através da escuta, o psicanalista pretende auxiliar o paciente na busca de um maior conhecimento dos desejos que o atravessam, de sua constituição como diferença e singularidade, através de um instrumento terapêutico essencial: a palavra. 31 Síntese da unidade Nesta unidade você pôde identificar a fundamentação da psicologia enquanto ciência. Tais conceitos são fundamentais para a sequência do nosso curso. A psicologia como campo do saber é bem definida, cada vez mais se distancia de qualquer tipo de confusão entre ciência, misticismo ou senso comum! O conhecimento da base conceitual da psicologia nos aproxima cada vez mais do nosso foco de estudos: A Psicologia da Aprendizagem. Fique ligado! Exercício proposto Analise as tendências no seu meio social, as percepções das pessoas a respeito da psicologia. Registre também se encontrar preconceitos a respeito da área, pois embora estejamos em pleno século XXI, ainda esbarramos em preconceitos tais como: “Não preciso de psicólogo, isto é coisa para louco!’. Bom trabalho! UNIDADE 2 A Psicologia da Aprendizagem e a natureza da inteligência emocional 35 Caro (a) Aluno (a) Nesta unidade, iremos estudar a Psicologia da Aprendizagem. Será apresentada uma síntese do que autores e pesquisadores vêm escrevendo sobre o assunto. Para termos uma noção mais completa da natureza da inteligência emocional, iremos conhecer um pouco do pensamento de Daniel Goleman, pesquisador que se dedica aos estudos da inteligência emocional. Vamos então aprender sobre a inteligência emocional? Boa aula! Objetivos da unidade Ao final desta unidade, você deverá ter condições de: — Conhecer o conceito de psicologia da aprendizagem; — Identificar as principais teorias de psicologia da aprendizagem; — Estabelecer correlações entre as teorias e seus autores. — Perceber os principais aspectos da inteligência emocional; — Identificar a importância da inteligência emocional e sua relação com a expressão do conhecimento. 36 Conteúdos da unidade Acompanhe os assuntos desta unidade: — Introdução às teorias da aprendizagem; — As teorias da aprendizagem; — As características das teorias da aprendizagem. — A natureza da inteligência emocional — Percepção e expressão da emoção; — Facilidade emocional de pensamento; — Compreender e analisar informação emocional; emprego do conhecimento emocional; — Regulação da emoção. 37 2.1 Introdução às teorias de aprendizagem Neste tópico, serão apresentados alguns conceitos introdutórios das teorias de aprendizagem, que é um subconjunto da Ciência Cognitiva. Este estudo da evolução das teorias da psicologia da aprendizagem, chamada de ciência do comportamento humano, tem como objetivo principal mostrar a importância destas teorias na Ciência Cognitiva. Segundo Gardner (1996, p.20), “Atualmente, a maioria dos cientistas cognitivistas é proveniente das fileiras de disciplinas específicas - em especial, da filosofia, da psicologia, da inteligênciaartificial, da linguística, da antropologia e da neurociência (Essas disciplinas conjuntamente serão referidas como ‘Ciências Cognitivas’).” É importante compreender o modo como as pessoas aprendem e as condições necessárias para a aprendizagem, bem como identificar o papel de um professor nesse processo. Estas teorias são importantes porque possibilitam a este mestre adquirir conhecimentos, atitudes e habilidades que lhe permitirão alcançar melhor os resultados no processo de aprendizagem ensino. 38 Na aprendizagem escolar, existem os seguintes elementos que compõem o processo de aprendizagem: o aluno, o professor e a situação de aprendizagem. As teorias de aprendizagem buscam reconhecer a dinâmica envolvida nos atos de ensinar e aprender, partindo do reconhecimento da evolução cognitiva do homem, e tentam explicar a relação entre o conhecimento pré-existente e o novo conhecimento. A aprendizagem não seria apenas inteligência e construção de conhecimento, mas, também composta pela identificação pessoal e relação através da interação entre as pessoas. Os ambientes computacionais destinados ao ensino devem trazer à tona fatores pertinentes à mediação humana através da tecnologia. As teorias de aprendizagem têm em comum o fato de assumirem que indivíduos são agentes ativos na busca e construção de conhecimento, dentro de um contexto significativo. A seguir, encontram-se resumidas as características de algumas das principais teorias de aprendizagem. Teorias de Aprendizagem Epistemologia genética de Piaget Características Ponto central: estrutura cognitiva do sujeito. As estruturas cognitivas mudam através dos processos de adaptação: assimilação e acomodação. A assimilação envolve a interpretação de eventos em termos de estruturas cognitivas existentes, enquanto que a acomodação se refere à mudança da estrutura cognitiva para compreender o meio. Níveis diferentes de desenvolvimento cognitivo. 39 Teoria construtivista de Bruner Características O aprendizado é um processo ativo, baseado em seus conhecimentos prévios e os que estão sendo estudados. O aprendiz filtra e transforma a nova informação, infere hipóteses e toma decisões. Aprendiz é participante ativo no processo de aquisição de conhecimento. Instrução relacionada a contextos e experiências pessoais. Teoria sóciocultural de Vygotsky Características Desenvolvimento cognitivo é limitado a um determinado potencial para cada intervalo de idade (ZPD); o indivíduo deve estar inserido em um grupo social e aprende o que seu grupo produz; o conhecimento surge primeiro no grupo, para só depois ser interiorizado. A aprendizagem ocorre no relacionamento do aluno com o professor e com outros alunos. Aprendizagem baseada em Problemas/ Instrução ancorada (John Bransford & the CTGV) Características Aprendizagem se inicia com um problema a ser resolvido. Aprendizado baseado em tecnologia. As atividades de aprendizado e ensino devem ser criadas em torno de uma “âncora”, que deve ser algum tipo de estudo de um caso ou uma situação envolvendo um problema. 40 Teoria da flexibilidade cognitiva (R. Spiro, P. Feltovitch & R. Coulson) Características Trata da transferência do conhecimento e das habilidades. É especialmente formulada para dar suporte ao uso da tecnologia interativa. As atividades de aprendizado precisam fornecer diferentes representações de conteúdo. Aprendizado situado (J. Lave) Características Aprendizagem ocorre em função da atividade, contexto e cultura e ambiente social na qual está inserida. O aprendizado é fortemente relacionado com a prática e não pode ser dissociado dela. Gestaltismo Características Enfatiza a percepção ao invés da resposta. A resposta é considerada como o sinal de que a aprendizagem ocorreu e não como parte integral do processo. Não enfatiza a sequência estímulo-resposta, mas o contexto ou campo no qual o estímulo ocorre e o insight tem origem, quando a relação entre estímulo e o campo é percebida pelo aprendiz. Teoria da inclusão (D. Ausubel) Características O fator mais importante de aprendizagem é o que o 41 aluno já sabe. Para ocorrer a aprendizagem, conceitos relevantes e inclusivos devem estar claros e disponíveis na estrutura cognitiva do indivíduo. A aprendizagem ocorre quando uma nova informação ancora-se em conceitos ou proposições relevantes preexistentes. Aprendizado experimental (C. Rogers) Características Deve-se buscar sempre o aprendizado experimental, pois as pessoas aprendem melhor aquilo que é necessário. O interesse e a motivação são essenciais para o aprendizado bem sucedido. Enfatiza a importância do aspecto interacional do aprendizado. O professor e o aluno aparecem como os co-responsáveis pela aprendizagem. Inteligências múltiplas (Gardner) Características No processo de ensino, deve-se procurar identificar as inteligências mais marcantes em cada aprendiz e tentar explorá-las para atingir o objetivo final, que é o aprendizado de determinado conteúdo. 2.2 A natureza da inteligência emocional O que permite distinguir pessoas que com um QI elevado falham frequentemente, enquanto outras com um QI modesto se portam surpreendentemente, será aquilo a que se chama inteligência emocional, que inclui o autocontrole, o zelo, 42 a persistência e a capacidade de nós próprios nos motivarmos. Através da inteligência emocional, tentamos compreender o que significa trazer inteligência à emoção e como fazê-lo (Goleman,1995). Durante a vida acadêmica, o fato de existirem muitas pessoas com um alto QI, não as impede de cometer atos irracionais, pelo simples fato de que a inteligência acadêmica tem pouco a ver com a vida emocional. As pessoas que possuem um QI elevado podem, no que diz respeito às suas vidas particulares, ter pouco repertório de comportamentos sociais bem sucedidos. No entanto, podemos verificar que muitas pessoas com um QI baixo acabam por desempenhar funções subalternas, enquanto que as que têm um QI elevado tendem a ser mais bem pagas, mas nem sempre. Para além disto, existem outras características, que se podem resumir na inteligência emocional, como a capacidade de a pessoa se motivar a si mesma, sendo persistente, apesar das frustrações; de controlar os impulsos e adiar a recompensa; de regular o seu próprio estado de espírito e impedir que o desânimo impeça a faculdade de pensar; de sentir empatia e de ter esperança.(Goleman, 1995) Segundo Arnold (1992, cit. Goleman, 1995) “... saber que alguém faz parte do grupo dos melhores alunos só nos diz que essa pessoa é excelente no desempenho de certas tarefas que são medidas por notas. Nada nos diz a respeito como reage às vicissitudes da vida”. (pág..56) Apesar de QI elevado não ser garantia de prosperidade, prestígio ou vencer na vida, o fato é que as escolas e a própria cultura fixam-se nas capacidades acadêmicas, ignorando assim a inteligência emocional, que engloba um conjunto de 43 características fundamentais para o nosso destino pessoal. Várias provas testemunham que as pessoas que conhecem e controlam os seus próprios sentimentos e sabem também reconhecer e lidar perfeitamente com os sentimentos dos outros, levam vantagem em todos os domínios da vida, porém aqueles que não conseguem obter um determinado controle sobre as suas vidas emocionais travam constantemente batalhas íntimas que os impede de produzir trabalho continuado e pensamentos claros. (Goleman, 1995) Segundo Gardner (1986, cit. Goleman, 1995) “... a contribuição mais importante que a escola pode fazer para o desenvolvimento de uma criança, é ajudar a encaminhá-la para a área onde os seus talentos lhe sejam mais úteis, onde se sinta satisfeita e competente.” (pag.57) A educação deve alimentar em vez de ignorar ou até frustrar os talentos. Ao encorajar a criança a desenvolver todo o tipo de capacidades a que um dia recorrerá para ter sucesso, ou que utilizará para se realizar naquiloque fizer, a escola transforma- se numa educação da arte de viver. Em 1983, Gardner publica “Frames of Mind”, onde tem visão de inteligência múltipla, cujo modelo vai para além do conceito padrão de QI como um fator único e imutável. Desta maneira, Gardner sustenta que possuímos 7 tipos de inteligência distintas, cada uma delas relativamente independentes das outras - Inteligência musical; Inteligência cinestésica – Inteligência corporal; Inteligência lógico-matemática; Inteligência linguística; Inteligência intrapessoal [1] e Inteligência Interpessoal [2]. (Goleman, 1995) A respeito das inteligências pessoais, segundo Gardner (1993, cit. Goleman, 1995) “A inteligência interpessoal é a capacidade de compreender as outras pessoas; o que é que as motiva, 44 como é que funcionam, como trabalhar cooperativamente com elas. Os vendedores, políticos, professores, clínicos e líderes religiosos bem sucedidos terão tendência para ser pessoas possuidoras de um elevado nível de inteligência interpessoal. A inteligência intrapessoal (...) é uma capacidade correlativa, voltada para dentro. É a capacidade de criarmos um modelo correto e verídico de nós mesmos e de usar esse modelo para funcionar eficazmente na vida”. (pag.59) A visão de Gardner a respeito destas inteligências põe a tônica na cognição, isto é, a compreensão de nós mesmos e dos outros em termos de motivos, de hábitos de trabalho e na interiorização desse conhecimento na condução da nossa vida e das relações que temos com os outros. No seu trabalho Gardner concentra-se mais na cognição dos sentimentos, do que no papel das sensações nessas inteligências. Contudo, Gardner sabe bem a importância que as capacidades emocionais e de relacionamento têm nos altos e baixos da vida. (Goleman, 1995) Estas características nucleares da inteligência pessoal vêm a constituir-se afinal, como a essência em si do conceito de inteligência emocional tal como originalmente o definem Salovey e Mayer (1990, cit.Veríssimo,2000): “capacidade de reconhecer as emoções e os sentimentos pessoais e dos outros, de os discriminar, e de usar esta informação para orientar o seu modo de pensar e agir”. (pág.30) Salovey e Mayer (1990, cit. Veríssimo, 2000) referem que “os processos subjacentes à inteligência emocional são desencadeados quando informações impregnadas de afeto acedem inicialmente ao sistema perceptivo.” (pág.31) 45 Segundo Salovey & Mayer, (1990, cit. Lewis, Havinland, Jones,2000) “as competências emocionais são fundamentais para uma inteligência social. Isto porque situações e dificuldades sociais estão muito ligadas a uma componente afetiva. Além disso as competências sociais não só se manifestam nas experiências sociais como também nas experiências com o indivíduo.” (pag. 504) A seguinte tabela apresenta um modelo por quatro campos, cada um representando um grupo de características ordenadas hierarquicamente segundo a sua complexidade. Inteligência emocional Percepção e expressão da emoção — Capacidade para identificar emoções tanto a nível físico como psicológico. — Capacidade para identificar emoções noutras pessoas e objetos. — Capacidade para exprimir emoções correspondentes e exprimir necessidades relacionadas com essas emoções. — Capacidade para discriminar expressões emocionais, honestidade e desonestidade. Facilidade emocional de pensamento — Capacidade para redirecionar e analisar a prioridade dos seus pensamentos baseados em sentimentos associados a objetos, acontecimentos e a outras pessoas. — Capacidade de gerar emoções que facilitam julgamentos e recordações associadas a sentimentos. 46 — Capacidade para capitalizar mudanças de espirito para se poder integrar em múltiplos pontos de vista, assumindo diferentes perspectivas. — Capacidade para utilizar os estados emocionais para facilitar a resolução de problemas e na criatividade. Compreender e analisar informação emocional; emprego do conhecimento emocional — Capacidade de compreender como diferentes emoções estão relacionadas. — Capacidade de perceber as causas e consequências das emoções. — Capacidade de interpretar emoções complexas tal como estados emocionais contraditórios. — Capacidade para compreender e prever transições entre emoções. Regulação da emoção — Capacidade de gerir tanto emoções agradáveis como também desagradáveis. — Capacidade de refletir sobre as emoções. — Capacidade de se envolver, prolongar ou desligar de um determinado estado emocional. — Capacidade de gerir as suas emoções. Adaptado de Mayer & Salovey (1997, cit Lewis, Havinland, Jones,2000) Este conceito de inteligência emocional proposto por Salovey e Mayer inclui o fato de que são meta-habilidades que podem ser categorizadas em cinco competências ou dimensões: 47 1 - Conhecer as nossas próprias emoções. A autoconsciência é a pedra-base da inteligência emocional. As pessoas que têm uma maior certeza acerca dos seus sentimentos governam melhor as suas vidas, tendo uma maior certeza e segurança das decisões que tomam. 2- Gerir as emoções. Lidar com as sensações de modo apropriado é uma capacidade que nasce do auto- conhecimento. As pessoas a quem falta esta capacidade estão em constante luta com sensações de angústia, enquanto que aquelas que a possuem, se recuperam mais facilmente dos tombos da vida. 3- Motivarmo-nos a nós mesmos. Mobilizar as emoções a serviço de um objetivo é essencial para concentrar a atenção, para a automotivação, para a competência e para a criatividade. O autocontrole emocional está subjacente a todo o tipo de realizações. 4-Reconhecer as emoções dos outros. A empatia, que também nasce da autoconsciência é a mais fundamental das “aptidões pessoais”. As pessoas empáticas são mais sensíveis àquilo que as outras pessoas necessitam ou desejam, tornado-as aptas em profissões que envolvam a prestação de cuidados, o ensino, as vendas e a gestão. 5- Gerir relacionamentos. A arte de nos relacionarmos é, em grande parte, a aptidão para gerir as emoções dos outros. Apesar de referidas estas cinco dimensões, as pessoas diferem nas suas capacidades em cada um deles, pois alguns de nós poderão ser particularmente hábeis em controlar a sua própria ansiedade, mas incapazes de acalmar as perturbações de terceiros. A base subjacente ao nosso nível de aptidão é neuronal, contudo 48 o cérebro é notavelmente plástico, capaz de uma aprendizagem constante. (Goleman, 1995) A injunção de Sócrates “Conhece-te a ti mesmo” refere- se à inteligência emocional: a consciência dos nossos próprios sentimentos no momento em que ocorrem. Geralmente os psicólogos usam a palavra metacognição para significarem a consciência das próprias emoções, contudo Goleman prefere o termo autoconsciência para refletir a atenção continuada dada aos nossos estados íntimos. É esta consciência das emoções a competência emocional básica sobre a qual todas as outras se constroem. (Goleman,1995) Autoconsciência é, segundo Mayer (1993, cit. Goleman, 1995) “ter consciência tanto do nosso estado de espírito como dos nossos pensamentos a respeito desse estado de espírito”. Os pensamentos típicos que denunciam a autoconsciência emocional incluem “ Não devia sentir-me assim”, “Estou a pensar em coisas agradáveis para me animar”. (pag.67) Mayer (1995, cit. Goleman, 1995) pensa que as pessoas se distribuem por três grupos principais na maneira de enfrentar e lidar com as próprias emoções: — Autoconscientes. Conscientes dos seus estados de espírito à medida que eles ocorrem — Imersas. Deixam-se frequentemente avassalar pelas emoções e são incapazes de escapar-lhes, como se os seus estados de espírito assumissem o comando. — Aceitantes. Embora as pessoas tenham consciência do que sentem, têm também tendência para aceitar os estados de espírito tais como lhe veem e nada fazendo para modificá-los. (pag. 68) 49 A autoconsciência é fundamental para a introspecção psicológica, pois é estafaculdade que a maior parte da psicoterapia tem como objetivo reforçar. A autoconsciência emocional é o material de base para o próximo componente fundamental da inteligência emocional: ser capaz de se libertar de um estado de espírito negativo. O sentido do autodomínio, ser capaz de resistir às tempestades emocionais, em vez de ser “escravo das paixões”, é considerado uma virtude desde os tempos de Platão. Ser capaz de controlar as emoções que nos perturbam é a chave para o bem- estar emocional. Os altos e baixos dão sabor à vida, porém precisam ser equilibrados. Nos cálculos do coração, é a relação entre emoções positivas e negativas que determina o sentimento de bem-estar. (Goleman, 1995) Tal como há na mente um constante murmúrio de fundo de pensamentos, também existe uma presença permanente de emoções. De qualquer forma, tentar gerir as nossas emoções é um trabalho de tempo inteiro, pois grande parte do que fazemos é uma tentativa para controlar o nosso estado de espírito. O design do cérebro significa que muitas vezes temos pouco ou nenhum controle sobre quando somos invadidos pela emoção ou sobre qual será essa emoção, contudo temos alguma coisa a dizer a respeito de quanto tempo essa emoção irá durar. Quando as emoções são muito intensas e perduram durante longo tempo, acabam por atingir os extremos, ou seja, ansiedade crônica, raiva incontrolável, depressão. De todos o estados de espírito a que procuramos escapar, a raiva parece ser o mais intransigente, pois ao contrário da tristeza, a raiva dá energia, é excitante. 50 O estado de espírito de que as pessoas mais procuram se afastar é a tristeza. A melancolia é um tipo de abatimento que a pessoa pode enfrentar sozinha, mas apenas se tiver os recursos interiores. Aquilo que nos pode indicar se um estado de espírito deprimido irá persistir durante longo tempo é o grau a que a pessoa rumina as suas desgraças. Pensar naquilo que nos deprime torna a depressão mais intensa e prolongada. É comum numa depressão preocuparmo-nos com o fato de nos sentirmos cansados, de termos tão pouca energia ou motivação e de produzirmos tão pouco. (Goleman,1995) Segundo Susan Nolen-Hocksma, psicóloga de Stanford e que estudou o remoer dos deprimidos, refere que existem duas estratégias eficazes na terapia, Uma é aprender a confrontar os pensamentos perturbadores, questionar-lhes a validade e pensar em alternativas mais positivas e a outra estratégia é programar acontecimentos agradáveis e que proporcionem distração, em que esta quebra a corrente dos pensamentos geradores de tristeza. As distrações mais eficazes são aquelas que alteram o estado de espírito, como um acontecimento desportivo excitante, um filme divertido, um livro emocionante. Segundo Diane Tice, uma psicóloga de Case Western Reserve University, outra maneira eficaz de combater a depressão é ajudar os outros, entregar-se a qualquer espécie de trabalho voluntário. No que diz respeito aos repressores, de início eram vistos como um bom exemplo da incapacidade para sentir emoções, mas o pensamento atual considera-os extremamente competentes na gestão das emoções. Tornaram-se de tal forma peritos em isolarem- se dos pensamentos negativos, que até parece não tomarem consciência da negatividade. Assim, em vez do termo repressores, seria mais adequado o termo imperturbáveis. 51 Daniel Weinberger, um psicólogo da Case Western Reserve University, mostra através de investigações, que embora estas pessoas possam parecer calmas e impassíveis, podem por vezes fervilhar de perturbações fisiológicas de que nem se apercebem. A implicação é que estas pessoas não fingem a sua falta de consciência; é o cérebro que lhes esconde essa informação. A imperturbabilidade é uma espécie de negação otimista, uma dissociação positiva e, possivelmente, uma pista para os mecanismos neuronais que intervêm nos mais graves estados dissociativos que podem ocorrer, por exemplo, nas desordens ligadas ao stress pós-traumático. (Goleman, 1995) Segundo Goleman (1995), ser capaz de gerir as emoções das outras pessoas é o melhor da arte de gerir relacionamentos. Para manifestar um poder interpessoal, a criança tem primeiro de ter um autocontrole, de ser capaz de dominar os seus sentimentos de ira ou desgosto, os seus impulsos e excitações. A sintonia com as exigências dos outros exige de nós próprios o mínimo de calma. Assim, gerir as emoções dos outros requer a maturação de outras duas habilidades emocionais, que são o auto-controle e a empatia. É nesta base que as “aptidões pessoais” amadurecem. São estas as competências sociais que explicam o sucesso das relações que mantemos com os outros. Qualquer déficit nesta área leva a pessoa a ter problemas com o mundo social, bem como desastres interpessoais. Sendo assim, estas aptidões sociais, permitem- nos programar um encontro, ter bons relacionamentos íntimos, persuadir e influenciar, pôr os outros à vontade. Segundo Goleman (1995), o funcionamento da mente emocional é em larga medida determinado por estados específicos, ditado pelos sentimentos dominantes num dado momento. A forma como pensamos e agimos quando nos sentimos românticos 52 é totalmente diferente de quando estamos furiosos ou tristes, isto porque na mecânica da emoção, cada sentimento tem o seu repertório diferente de pensamentos, reações e até recordações. O que nos indica se um destes repertórios está a funcionar é a memória seletiva. Parte da resposta da mente a uma situação emocional é reorganizar as recordações e as opções de ação, de maneira que as mais relevantes fiquem em primeiro lugar. Cada emoção tem a sua parte biológica característica, um padrão de alterações que modificam o corpo sempre que essa emoção ocorre e um conjunto único de sinais que o corpo emite quando está sob o seu domínio. 53 Síntese da unidade Nesta unidade você pôde identificar as teorias da aprendizagem e suas principais características. Conseguiu relacionar algumas das características com a forma que você aprende? Após essa conceituação você conseguiu refletir a respeito de como sua memória e sua atenção estão envolvidas no processo de aprendizagem? Você percebeu a importância que a inteligência emocional exerce sobre a aprendizagem! O conhecimento desta nova faceta nos aproxima cada vez mais do sucesso de nossa prática docente. É uma experiência e tanto! Exercício proposto Que tal analisar um pouco suas motivações, desejos, apreensões, enfim caminhar no sentido do autoconhecimento?. A partir de agora registre seus sentimentos, um primeiro passo é tentar nomear o sentimento que percebe sentir. Quando nomeamos o sentimento nossa angústia já diminui. É importante também atentar para a mudança de humor, quando ela acontecer anote-as reflita o motivo desta mudança e registre. Boa jornada!
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