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1. Crédito Tributário Vimos que a obrigação tributária de pagar um tributo nasce a partir da prática do seu fato gerador previsto em lei. Entretanto, não basta a prática do fato gerador e a consequente obrigação de pagar o tributo para se constatar a existência do crédito tributário e o exigir, é preciso que seja feita a sua devida constituição, o que se dá por meio do lançamento. Uma vez constituído o crédito tributário, por meio do lançamento, esse só pode ser extinto, modificado ou ter sua cobrança (exigibilidade) suspensa ou excluída conforme determinação legal. Primeiramente, trataremos da forma como se dá a constituição do crédito tributário (modalidades de lançamento), para, em seguida, estudarmos as hipóteses de suspensão, exclusão e de extinção do crédito tributário. 1.1. Considerações Iniciais Da análise do artigo 3º do CTN, é possível identificar que a constituição do crédito tributário é requisito para a existência real de um tributo e para a sua consequente exigibilidade. Segundo esse dispositivo, o tributo é prestação pecuniária “cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. A referida atividade administrativa que formaliza a constituição do crédito tributário é um ato administrativo que é conhecido como lançamento. DISCIPLINA DIREITO CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO PROFESSOR MELINA DE F. LOPES MAIA PIRES DATA / / ALUNO CRÉDITO TRIBUTÁRIO UNIDADE DE CAMPINA GRANDE DIREITO Essas previsões constam no art. 142, CTN: Art. 142. Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível. Nesse sentido, o lançamento formaliza os elementos material, espacial, temporal, pessoal e quantitativo do crédito tributário. Efetuar o lançamento é aplicar a lei ao caso concreto, é constatar juridicamente a ocorrência de fato gerador e a ocorrência de obrigação tributária e realizar o cálculo do tributo devido. Por meio do lançamento, a Fazenda Pública credora determina o devedor (sujeito passivo), o tributo devido, calcula a sua quantia por meio da multiplicação da base de cálculo pela alíquota, e aplica, se for preciso, penalidade pecuniária (multa). O lançamento é vinculado e obrigatório, de forma que se o agente público que constatar a existência de uma obrigação tributária não formalizar o respectivo crédito tributário (por meio do lançamento), ele será responsabilizado. Art. 142, parágrafo único, CTN. A atividade administrativa de lançamento é vinculada e obrigatória, sob pena de responsabilidade funcional Afirmar que o tributo é cobrado por atividade administrativa plenamente vinculada nos leva a concluir que essa cobrança é ato obrigatório a ser realizado pelo agente administrativo/ fiscal/tributário. Nesse sentido, a obrigatoriedade de o agente público constituir o crédito tributário obedece ao Princípio da Indisponibilidade do Interesse Público. Afinal, a receita arrecadada com o tributo é destinada à sociedade. Caso o tributo esteja expresso em moeda estrangeira, deve-se considerar, na ocasião do lançamento, a taxa de câmbio vigente na data do fato gerador para calcular o tributo, nos termos do art. 143 do CTN: Art. 143. Salvo disposição de lei em contrário, quando o valor tributário esteja expresso em moeda estrangeira, no lançamento far- se-á sua conversão em moeda nacional ao câmbio do dia da ocorrência do fato gerador da obrigação. A título de curiosidade, saiba que embora estejamos afirmando que é a Fazenda Pública que realiza o lançamento, a legislação de cada ente prevê expressamente qual é o cargo competente do seu quadro de servidores que tem a competência para efetuar o lançamento do tributo. A Constituição determina o ente que tem a competência para editar lei criando determinado tributo, enquanto a legislação do ente correspondente é que determina quem é a pessoa responsável pela realização do lançamento do tributo. Por exemplo, tratando-se de tributos de competência da União, é o Auditor-Fiscal da Receita Federal que tem competência exclusiva para constituir os correspondentes créditos tributários. 1.2 Lançamento Em regra, o contribuinte pratica o fato gerador, que é o momento do nascimento da obrigação tributária, mas só depois de o crédito tributário ser devidamente constituído, por meio do lançamento, é que o tributo é considerado efetivamente exigível. Por essa razão, afirma-se que o lançamento tem natureza declaratória quanto à obrigação tributária e natureza constitutiva quanto ao crédito tributário. Por isso, afirma-se que a natureza jurídica do lançamento é mista. A natureza declaratória do lançamento produz efeitos retroativos, ex tunc, tendo em vista que se considera o nascimento da obrigação tributária e seus efeitos desde a ocorrência do fato gerador. Já a natureza constitutiva do lançamento opera efeitos não retroativos, ex nunc, ou seja, desse momento para frente. No caso da natureza constitutiva do lançamento, perceba que é a partir desse momento que o sujeito passivo é formalmente devedor do tributo e pode sofrer os desdobramentos legais. Apesar da classificação da natureza da obrigação tributária e do crédito tributário, respectivamente, como declaratória e constitutiva, o art. 139 do CT: Art. 139. O crédito tributário decorre da obrigação principal e tem a mesma natureza desta. O que isso quer dizer? Que o crédito tributário nasce posteriormente à obrigação tributária, sendo, consequentemente, institutos distintos, mas que têm a mesma natureza. Considera-se que ambos representam uma obrigação de dar (de pagar), o que caracteriza a sua natureza obrigacional. Nessa linha de raciocínio, o art. 140 do CTN destaca de forma clara a autonomia do crédito tributário em relação à obrigação tributária: Art. 140. As circunstâncias que modificam o crédito tributário, sua extensão ou seus efeitos, ou as garantias ou os privilégios a ele atribuídos, ou que excluem sua exigibilidade não afetam a obrigação tributária que lhe deu origem. Isso significa que determinadas peculiaridades aplicáveis ao crédito tributário, que ainda serão estudadas, não modificam a obrigação tributária principal que decorreu da prática de fato gerador. Com isso, as características aplicáveis ao crédito tributário não interferem na obrigação tributária. Essa afirmação parece confusa, mas guarde essa informação de que a obrigação tributária e o crédito tributário, do ponto de vista do CTN, são institutos autônomos, embora tenham a mesma natureza. 1.2.1. Notificação do Lançamento Esperamos que tenha ficado claro que o lançamento formaliza a existência de crédito tributário. Na prática, ele se torna efetivamente exigível com a notificação do sujeito passivo. O lançamento produz efeitos perante o contribuinte após ter sido notificado quanto a sua existência. Até ser notificado, o lançamento não produz efeitos para ele, e, até por essa razão, pode ser alterado pela própria autoridade administrativa. Segundo o STJ, considera-se também como notificação o envio de carnê para o contribuinte (Súmula n. 397), bem como a disponibilização de calendário aos contribuintes com datas de vencimento para pagamento do imposto, como acontece com o IPVA: Súmula n. 397, STJ: O contribuinte do IPTU é notificado do lançamento pelo envio do carnê ao seu endereço. Com a notificação, pode-se afirmar que o lançamento se torna definitivo. No entanto, considerando que o lançamento ainda poderá ser alterado, conforme as hipóteses a serem estudadas no próximo item, a sua definitividadeno momento da notificação é presumida. Além disso, saiba que, por meio da notificação, o sujeito passivo toma conhecimento do crédito tributário e é intimado para pagá-lo ou para apresentar defesa em face dessa cobrança. 1.2.2 Formas de Alteração do Lançamento Uma vez que o lançamento tenha sido realizado e que o sujeito passivo tenha sido notificado da formalização do crédito tributário, o lançamento só poderá ser alterado por meio de 3 (três) formas, conforme art. 145 CTN: (i) impugnação do sujeito passivo; (ii) recurso de ofício; (iii) iniciativa de ofício da autoridade administrativa, nos casos previstos no artigo 149, CTN. A Impugnação do sujeito passivo é a defesa apresentada pelo contribuinte/responsável, nos autos de um processo administrativo, contestando a cobrança do respectivo tributo. Com isso, instaura-se a fase litigiosa do processo administrativo. No processo administrativo, pode ser interposto recurso contra a decisão que julga a mencionada impugnação . Se a decisão for desfavorável ao sujeito passivo, ele tem direito de interpor recurso, o qual também poderá alterar o lançamento, com base no inc. I do art. 145 do CTN. Ponto interessante sobre o tema diz respeito à hipótese de o julgador concluir que o lançamento impugnado foi equivocado ou omisso, e isso ocasione prejuízo ao contribuinte. Nesse caso, constata-se o agravamento da sua situação, o que é permitido no ordenamento jurídico brasileiro, no que se refere ao processo administrativo fiscal, em atenção ao Princípio da Verdade Material. Vamos, a partir dessas linhas, considerar os casos em que a decisão for desfavorável ao Poder Público. Nesse caso, há apresentação automática de um pedido de revisão pela própria Fazenda Pública à instância superior. Esse pedido é o recurso de ofício previsto no inc. II do art. 145 do CTN. Esse recurso não é interposto sempre. A legislação específica do ente tributante costuma determinar que até determinada quantia não há necessidade de interposição de “recurso de ofício” que vise reverter a conclusão do processo administrativo: aceita-se que o sujeito passivo é vencedor na demanda. A última hipótese de alteração do lançamento está prevista no inc. III do art. 145 do CTN. Esse dispositivo menciona que os casos do art. 149, de iniciativa da autoridade administrativa, podem alterar o lançamento. A autoridade administrativa, após ter realizado o lançamento do crédito tributário, pode revisá-lo e corrigi-lo se constatar que ele foi efetuado com irregularidades. Caso o lançamento equivocado prejudique o devedor, por estar cobrando tributo a maior, não há prazo para realização da revisão de ofício. Já se o lançamento equivocado for prejudicial à Fazenda Pública, o Fisco deve observar o prazo decadencial para realizar a revisão do lançamento e lançar o valor ainda não formalizado/cobrado, sob pena de perder o direito de exigir esse valor do contribuinte. 1.2.3. Modalidades de Lançamento Da análise dos dispositivos do CTN que tratam inicialmente do lançamento, conclui-se que a formalização do crédito tributário é ato exclusivo da autoridade administrativa, havendo casos em que há maior ou menor auxílio do contribuinte para que seja efetuado o lançamento. Considerando o grau de atuação do sujeito passivo no lançamento, há 3 diferentes modalidades de lançamento do crédito tributário, as quais são determinadas em lei: (i) lançamento misto ou por declaração; (ii) lançamento por homologação; (iii) lançamento direto ou de ofício. No lançamento misto/por declaração, há atuação do contribuinte e da Fazenda Pública: o contribuinte presta determinadas informações por meio de declaração, e o Fisco calcula o tributo devido com base nessas informações. Art. 147. O lançamento é efetuado com base na declaração do sujeito passivo ou de terceiro, quando um ou outro, na forma da legislação tributária, presta à autoridade administrativa informações sobre matéria de fato, indispensáveis à sua efetivação. Um bom exemplo é o ITBI. Em alguns municípios, em sua legislação específica, há a previsão de que esse imposto será calculado pela autoridade administrativa com base nas informações passadas pelo contribuinte. E se a declaração for apresentada com erro? É possível a retificação da declaração apresentada pelo sujeito passivo. Se for para reduzir ou excluir o tributo, o declarante deve comprovar o erro e apresentar o pedido antes da notificação do lançamento. Se o sujeito passivo retificar a declaração, e essa retificação aumentar o valor do tributo, é possível que tal pedido seja apresentado, inclusive, depois da notificação do lançamento efetuado pelo Fisco. É o que se conclui por meio da análise do par. 1º do art. 147 do CTN: § 1º A retificação da declaração por iniciativa do próprio declarante, quando vise a reduzir ou a excluir tributo, só é admissível mediante comprovação do erro em que se funde, e antes de notificado o lançamento. Já se for a própria autoridade administrativa que identificar os erros na declaração, ela poderá retificá-la de ofício, no momento da revisão. Tal previsão consta no 2º do art. 147 do CTN. § 2º Os erros contidos na declaração e apuráveis pelo seu exame serão retificados de ofício pela autoridade administrativa a que competir a revisão daquela. Como se vê, lançamento misto/por declaração é realizado com auxílio do sujeito passivo. No entanto, caso o contribuinte não apresente a declaração conforme determinação legal, ou a apresente fora do prazo, ou não preste os devidos esclarecimentos à autoridade administrativa, o lançamento será efetuado e revisto de ofício, nos termos do CTN, art. 149, incisos II e III, que ainda será visto no tópico “lançamento de ofício”: Art. 149, CTN. O lançamento é efetuado e revisto de ofício pela autoridade administrativa nos seguintes casos: ... II – quando a declaração não seja prestada, por quem de direito, no prazo e na forma da legislação tributária; III – quando a pessoa legalmente obrigada, embora tenha prestado declaração nos termos do inciso anterior, deixe de atender, no prazo e na forma da legislação tributária, a pedido de esclarecimento formulado pela autoridade administrativa, recuse-se a prestá-lo ou não o preste satisfatoriamente, a juízo daquela autoridade. Assim, a autoridade administrativa, além de lançar de ofício o tributo que inicialmente deveria se sujeitar a lançamento por declaração, também aplica uma penalidade pecuniária ao contribuinte, por descumprimento de apresentação de obrigação acessória, em razão da não apresentação da declaração exigida por lei. No lançamento por homologação, o contribuinte pratica ainda mais ações que acarretam a concretização do lançamento, e há também atuação do Fisco: o contribuinte presta determinadas informações por meio de declaração, calcula o tributo devido e o paga, e, na sequência, o Fisco analisa essas ações do contribuinte. Ao concordar com o pagamento, afirma-se que o Fisco homologa o lançamento. Art. 150. O lançamento por homologação, que ocorre quanto aos tributos cuja legislação atribua ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa, opera-se pelo ato em que a referida autoridade, tomando conhecimento da atividade assim exercida pelo obrigado, expressamente a homologa. Veja que a atuação do Fisco nesse tipo de lançamento é mínima. Caso o Fisco não analise esses atos em 5 anos, conclui-se que houve homologação tácita. § 4º Se a lei não fixar prazo a homologação, será ele de cinco anos, a contar da ocorrência do fato gerador; expirado esse prazo sem que a Fazenda Pública se tenha pronunciado, considera-se homo logado o lançamento e definitivamente extinto o crédito, salvo se comprovada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação. Caso nãoconcorde com os atos do contribuinte, o Fisco não homologa o lançamento, podendo efetivar o lançamento de ofício da quantia não declarada e/ou não paga pelo devedor. São exemplos clássicos de tributos lançados por homologação: IR, IPI, PIS, COFINS, CSLL, ITR, ICMS e ISS. Já no lançamento de ofício, há atuação somente do Poder Público – Fisco. Ignorando os casos em que há omissão, erro ou dolo/fraude por parte do sujeito passivo, é a lei do ente instituidor do tributo que determina que tributo de sua competência se sujeita a lançamento de ofício. Quando se trata de um tributo a ser lançado de ofício, há a prática do fato gerador pelo sujeito passivo e, na sequência, há a efetivação do lançamento pelo Poder Público, que em seguida notifica o devedor do lançamento e lhe cobra o respectivo tributo. Exemplos de tributos sujeitos a lançamento de ofício: IPVA, IPTU, taxas, contribuições de melhoria e COSIP. Os casos de lançamento de ofício constam no art. 149 do CTN: Art. 149, CTN. O lançamento é efetuado e revisto de ofício pela autoridade administrativa nos seguintes casos: I – quando a lei assim o determine; II – quando a declaração não seja prestada, por quem de direito, no prazo e na forma da legislação tributária; III – quando a pessoa legalmente obrigada, embora tenha prestado declaração nos termos do inciso anterior, deixe de atender, no prazo e na forma da legislação tributária, a pedido de esclarecimento formulado pela autoridade administrativa, recuse-se a prestá-lo ou não o preste satisfatoriamente, a juízo daquela autoridade; IV – quando se comprove falsidade, erro ou omissão quanto a qualquer elemento definido na legis lação tributária como sendo de declaração obrigatória; V – quando se comprove omissão ou inexatidão, por parte da pessoa legalmente obrigada, no exercício da atividade a que se refere o artigo seguinte; VI – quando se comprove ação ou omissão do sujeito passivo, ou de terceiro legalmente obrigado, que dê lugar à aplicação de penalidade pecuniária; VII – quando se comprove que o sujeito passivo, ou terceiro em benefício daquele, agiu com dolo, fraude ou simulação; VIII – quando deva ser apreciado fato não conhecido ou não provado por ocasião do lançamento anterior; IX – quando se comprove que, no lançamento anterior, ocorreu fraude ou falta funcional da autoridade que o efetuou, ou omissão, pela mesma autoridade, de ato ou formalidade especial. Parágrafo único. A revisão do lançamento só pode ser iniciada enquanto não extinto o direito da Fazenda Pública. 1.2.4. Lançamento” por Arbitramento Além dos três tipos tradicionais de lançamento, para parte da doutrina, existe outro tipo especial de lançamento, que é o por arbitramento. O “lançamento” por arbitramento consta no art. 148, CTN: Art. 148. Quando o cálculo do tributo tenha por base, ou tome em consideração, o valor ou o preço de bens, direitos, serviços ou atos jurídicos, a autoridade lançadora, mediante processo regular, arbitrará aquele valor ou preço, sempre que sejam omissos ou não mereçam fé as declarações ou os esclarecimentos prestados, ou os documentos expedidos pelo sujeito passivo ou pelo terceiro legalmente obrigado, ressalvada, em caso de contestação, avaliação contraditória, administrativa ou judicial 1.3 Suspensão do Crédito Tributário Com o lançamento, o crédito tributário é constituído e exigível. No entanto, há casos em que é possível suspender a cobrança do crédito tributário. As hipóteses de suspensão da exigibilidade constam no art. 151 do CTN: Art. 151. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário: I – moratória; II – o depósito do seu montante integral; III – as reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do processo tributário administrativo; IV – a concessão de medida liminar em mandado de segurança. V – a concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em outras espécies de ação judicial; VI – o parcelamento. Utilizaremos como recurso de memorização o indicado pelo professor Eduardo Sabbag1, o qual sugere palavra MO-DE-RE-CO-PA, que contém as letras iniciais das causas suspensivas: MO = MOratória DE = DEpósito do montante integral RE = REclamações e REcursos administrativos CO = COncessão de liminar em mandado de segurança e Concessão de tutela antecipa da em outras ações PA = PArcelamento Com a suspensão da exigibilidade do crédito tributário, a Fazenda Pública é impedida de cobrar o valor supostamente devido pelo contribuinte e de considerá-lo inadimplente. Regra geral, as causas de suspensão da exigibilidade do crédito tributário se dão após o lançamento, no entanto, há casos em que é reconhecida a referida suspensão antes do lançamento. Ressalte-se que, nesses casos, embora suspensa a exigibilidade do crédito tributário, este pode ser constituído por meio do lançamento, mas não será exigível enquanto existente a causa suspensiva. Neste sentido, afirma-se que a suspensão da exigibilidade do crédito tributário não impede o lançamento, e, por isso, não interfere no prazo decadencial, que é caso de extinção do crédito tributário que será estudado na aula seguinte. Importante ressaltar também, que mesmo estando suspensa a exigibilidade do crédito tributário (obrigação de pagar tributo ou penalidade pecuniária), o sujeito passivo deve cumprir as obrigações acessórias relativas à obrigação principal suspensa (par. único, art. 151, CTN): Parágrafo único. O disposto neste artigo não dispensa o cumprimento das obrigações assessórios dependentes da obrigação principal cujo crédito seja suspenso, ou dela consequentes. 1 Retirado de: Direito tributário essencial. Eduardo Sabbag. – 7. ed. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2020. Nesse sentido, ainda que você não tenha que pagar tributo em razão de suspensão da sua exigibilidade, você terá que cumprir obrigação acessória de emitir nota fiscal, por exemplo. 1.3.1 Moratória A suspensão do crédito tributário por meio da moratória se dá por previsão em lei, que a concede diretamente, ou autoriza que a autoridade administrativa conceda a moratória por despacho. Assim, a moratória concedida terá, respectivamente, caráter geral ou caráter individual. A moratória está prevista no art. 152 do CTN: Art. 152. A moratória somente pode ser concedida: I – em caráter geral: a) pela pessoa jurídica de direito público competente para instituir o tributo a que se refira; b) pela União, quanto a tributos de competência dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios, quando simultaneamente concedida quanto aos tributos de competência federal e às obrigações de direito privado; II – em caráter individual, por despacho da autoridade administrativa, desde que autorizada por lei nas condições do inciso anterior A moratória é a dilatação do prazo para pagamento do tributo ou da penalidade pecuniária, e no que se refere à de caráter geral, esta pode ser concedida: (i) pela pessoa jurídica competente para a instituição do tributo - moratória autônoma; ou (ii) pela União, quanto a tributos de competência dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios, quando simultaneamente concedida quanto aos tributos de competência federal e às obrigações de direito privado - moratória heterônoma. Já a moratória individual, autorizada em lei, é concedida por despacho da autoridade administrativa nas hipóteses em que o beneficiário cumpra os requisitos legais. Outro ponto importante quanto à moratória é que ela pode ser total ou parcial, de forma que quanto a esta última classificação a sua aplicabilidade se dará somente: (i) em determinada região do território da pessoa jurídica de direito público que a expedir; ou (ii) para determinada classe ou categoria de sujeitos passivos (par. único, art. 152, CTN): Parágrafoúnico. A lei concessiva de moratória pode circunscrever expressamente a sua aplicabilidade à determinada região do território da pessoa jurídica de direito público que a expedir, ou a determinada classe ou categoria de sujeitos passivos. Além disso, conforme o art. 153 do CTN, a lei concessiva da moratória deve conter algumas exigências: Art. 153. A lei que conceda moratória em caráter geral ou autorize sua concessão em caráter indivi dual especificará, sem prejuízo de outros requisitos: I – o prazo de duração do favor; II – as condições da concessão do favor em caráter individual; III – sendo caso: a) os tributos a que se aplica; b) o número de prestações e seus vencimentos, dentro do prazo a que se refere o inciso I, podendo atribuir a fixação de uns e de outros à autoridade administrativa, para cada caso de concessão em caráter individual; c) as garantias que devem ser fornecidas pelo beneficiado no caso de concessão em caráter individual. Como se vê, a lei da moratória deve prever por quanto tempo o prazo para pagamento esta rá suspenso, os tributos que poderão ter seus prazos de pagamento dilatado, e, tratando- se de moratória individual, a lei deve prever as condições em que o contribuinte poderá se beneficiar da respectiva suspensão, número de prestações e seus vencimentos, bem como as garantias que devem ser fornecidas pelo beneficiário para usufruir da moratória. Interessa também saber que, salvo disposição de lei em contrário, apenas pode ser objeto do benefício da moratória o crédito tributário que estiver definitivamente constituído na data da lei ou do despacho que a conceder, ou que, ao menos, na data da concessão, já tenha seu lançamento sido iniciado com a devida notificação do sujeito passivo. (art. 154, CTN). Art. 154. Salvo disposição de lei em contrário, a moratória somente abrange os créditos definitivamente constituídos à data da lei ou do despacho que a conceder, ou cujo lançamento já tenha sido iniciado àquela data por ato regularmente notificado ao sujeito passivo. Perceba que quando o legislador afirmou “salvo disposição em contrário”, ele admitiu que excepcionalmente seja aplicada a moratória: - a crédito tributário que não esteja definitivamente constituído; - a casos em que não tenha ainda nem sido iniciado o lançamento; e - a casos em que o sujeito passivo não tenha sido nem notificado do lançamento. Assim, podemos concluir que a regra é que não se aplique moratória aos tributos que ainda não tenham sido lançados, mas pode ser editada lei autorizando a moratória para tributos ainda não lançados. Ressalte-se, ainda, que a moratória não aproveita aos casos de dolo, fraude ou simulação, segundo o disposto no parágrafo único do art. 154 do CTN. Outra informação importante quanto à moratória em caráter individual, é que esta não gera direito adquirido e pode ser revogada de ofício se for constatado que o beneficiado não satisfaz mais ou nunca satisfez, ou não cumpre ou nunca cumpriu, respectivamente, nem as condições nem os requisitos para a sua concessão, hipótese em que o tributo será cobrado com juros de mora, e, se for constatado o dolo ou a simulação por parte do beneficiado ou de terceiro em benefício daquele, será ainda imposta penalidade (art. 155, CTN).] 1.3.2 Depósito Integral No intuito de suspender a exigibilidade do crédito tributário e não ficar com esse débito pendente nos registros da Secretaria de Fazenda, pode o contribuinte depositar em dinheiro o valor integral do tributo. O sujeito passivo pode realizar esse depósito no âmbito administrativo ou judicial. O comum é que haja depósito do tributo em sede judicial. No entanto, é possível que o depósito seja realizado ainda em sede administrativa, quando o processo administrativo ainda não tenha sido finalizado. No entanto, o que não pode ser feito pelo Poder Público é condicionar a interposição de recurso administrativo à realização de depósito do tributo. Esse assunto já foi analisado pelo Supremo Tribunal Federal, que sedimentou o seu entendimento por meio de edição da Súmula Vinculante n. 21. E o STJ tem súmula editada no mesmo sentido: Súmula Vinculante n. 21, STF: É inconstitucional a exigência de depósito ou arrolamento prévios de dinheiro ou bens para admissibilidade de recurso administrativo. Súmula n. 373, STJ: É ilegítima a exigência de depósito prévio para admissibilidade de recurso administrativo. O depósito não é condição para questionar a legitimidade do ato, pois a sua exigência feriria o Princípio do Contraditório e da Ampla Defesa, mas, uma vez que o contribuinte deseje suspender a exigibilidade do crédito tributário sem que se possa se beneficiar de outros institutos de suspensão, ele pode depositar o valor do tributo, a fim de que seja suspensa a sua exigibilidade. Tanto é assim que o STF entende que não é possível exigir realização de depósito para que se discuta a exigibilidade do crédito tributário judicialmente. Súmula Vinculante n. 28, STF: É inconstitucional a exigência de depósito prévio como requisito de admissibilidade de ação judicial na qual se pretenda discutir a exigibilidade de crédito tributário. Condicionar o direito de ação a depósito do valor questionado viola a garantia constitucional de que nenhuma lesão ou ameaça a direito será excluída da apreciação do Judiciário. Nesse sentido, o contribuinte não é obrigado a depositar o valor do débito judicialmente para discuti-lo. No entanto, o contribuinte tem a prerrogativa de depositar judicialmente o valor do crédito tributário exigível, a fim de suspender a sua exigibilidade, com o intuito de se proteger do ajuizamento de execução fiscal ou do indeferimento de certidão de regularidade fiscal, por exemplo. O valor depositado fica à disposição do juízo até a decisão judicial final, que decidirá se o crédito tributário é realmente devido ou não. Antes disso, não é possível o levantamento do depósito. Se a decisão for favorável ao sujeito passivo, ele pode levantar (sacar) o valor, o qual será corrigido monetariamente desde a data do depósito. Se desfavorável, o valor será convertido em renda a favor da Fazenda Pública. Outro ponto interessante sobre essa modalidade de suspensão do crédito tributário diz respeito à quantia do tributo que deve ser depositada. Nos termos da súmula 112 do Superior Tribunal de Justiça, somente o depósito em dinheiro do valor integral do tributo é capaz de suspender a exigibilidade do crédito tributário. Súmula n. 112, STJ: O depósito somente suspende a exigibilidade do crédito tributário se for integral e em dinheiro. Pontue-se que, feito o depósito, não incidirão juros e multa sobre o valor devido. O valor depositado é atualizado com a taxa Selic até a data do seu levantamento pelo contribuinte (se este for vitorioso na ação) ou da conversão do depósito em renda em favor do Fisco (se este for vitorioso na ação) 1.3.3 Reclamações e Recursos Administrativos O Princípio Constitucional do Contraditório e da Ampla Defesa, previsto no inc. LV, art. 5º, CF/88, assegura a todos o direito de se defender nos processos administrativos e judiciais: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualda de, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: ... LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegura dos o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes. No CTN, art. 151, III, o legislador destacou que as reclamações/impugnações e os recursos administrativos suspendem a exigibilidade do crédito tributário, garantindo aos contribuintes que, enquanto existirem defesas administrativasapresentadas por eles que estejam pendentes de apreciação nos processos administrativos, não poderá o Fisco exigir o tributo. Entretanto, veja que se a peça processual de defesa do contribuinte for apresentada por ele depois do vencimento do prazo para impugnar/recorrer, o crédito tributário ficará exigível, podendo o Fisco seguir com os procedimentos para cobrança e impedimentos legais diante do débito pendente de pagamento. Segundo entendimento do Superior Tribunal de Justiça, o crédito só se torna definitivamente constituído após o esgotamento do prazo para recurso sem a sua devida interposição, ou após o proferimento de decisão administrativa final, sem que haja, nesse caso, possibilidade de apresentação de mais alguma peça de defesa. Caso o contribuinte se defenda administrativamente, e a decisão administrativa final seja desfavorável a ele, o crédito será cobrado com a sua devida atualização monetária. Pelo que já vimos, interessa-nos concluir que a apresentação de defesa pela via administrativa suspende a exigibilidade do crédito tributário. De forma contrária, a discussão da legitimidade do crédito tributário na via judicial não suspende a sua exigibilidade de forma automática. E, mais, não é possível o questionamento do crédito tributário, simultaneamente, pela via administrativa e pela via judicial. Tal vedação está presente no par. único do art. 38 da Lei n. 6.830/1980. Parágrafo único. A propositura, pelo contribuinte, da ação prevista neste artigo importa em renúncia ao poder de recorrer na esfera administrativa e desistência do recurso acaso interposto. Uma vez que o sujeito passivo opte por discutir judicialmente a legitimidade do débito, não será mais considerada a sua situação conforme o seu processo administrativo, já que se considera que ele foi interrompido, e, consequentemente, o crédito não será mais considerado suspenso em razão de apresentação de defesa administrativa. Cabe ressaltar que já houve controvérsia quanto à necessidade de realização de depósito em dinheiro ou arrolamento de bens como requisito para apresentação de recurso administrativo, mas após inúmeros julgamentos pelo Supremo Tribunal Federal, houve a edição da Súmula Vinculante 21, prevendo a inconstitucionalidade dessas exigências, já vista no tópico anterior: Súmula Vinculante 21: É inconstitucional a exigência de depósito ou arrolamento prévios de dinheiro ou bens para admissibilidade de recurso administrativo. 1.3.4 Concessão de Medida Liminar em Mandado de Segurança e Concessão de Medida Liminar ou de Tutela Antecipada em outras Espécies de Ação Judicial Essas hipóteses de suspensão de exigibilidade do crédito tributário dependem de ordem judicial que conceda medida liminar ou tutela antecipada. Vamos tratar inicialmente do inc. IV do art. 151 do CTN: Art. 151. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário: ... IV – a concessão de medida liminar em mandado de segurança. A CF/88 prevê que será concedido mandado de segurança “para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público” (CF/88, art. 5º, LXIX). Assim, tendo sido impetrado um mandado de segurança, a concessão de medida liminar é possível pelo juiz quando (inc. III, art. 7º, Lei 12.016/2009): i - houver fundamento relevante do ato impugnado; ii - houver a ineficácia da medida, caso ela não seja logo deferida. O item i representa a fumaça do bom direito (fumus boni juris), que é a exposição de indícios de que realmente existe o direito pleiteado. Já o item ii representa o perigo da demora (periculum in mora), que é a possibilidade de o impetrante sofrer um dano irreparável e perder o seu direito solicitado ao final da ação se ele não for reconhecido no início da ação, em sede de liminar. Nesse sentido, reconhecendo o juiz que o pedido do contribuinte apresenta esses dois requisitos , concede a liminar, e, consequentemente, suspende a exigibilidade do crédito tributário. Quanto à tutela antecipada nas outras ações judiciais, utiliza-se o mesmo raciocínio aplicado à concessão de liminar em mandado de segurança, no que se refere à identificação pelo juiz de fundamento relevante do ato impugnado e de ineficácia da medida pleiteada se ela não for logo deferida. Note que ajuizar a ação não é o suficiente para ter a exigibilidade do crédito tributário sus pensa, se faz necessária a concessão da liminar. 1.3.5 Parcelamento O parcelamento é uma modalidade de suspensão do crédito tributário que está prevista no artigo 155-A do CTN. Anteriormente, o posicionamento doutrinário era de que o parcelamento era uma espécie de moratória, representando a dilatação do prazo de pagamento do tributo em parcelas, sendo assim, uma moratória parcelada. Contudo, houve a inclusão do parcelamento no CTN, em 2001, com a edição da Lei Complementar n. 104/2001, quando boa parte dos tributaristas passou a reconhecer que são hipóteses autônomas de suspensão do crédito tributário. Quanto ao parcelamento, ele deve ser previsto em lei específica, de modo que, em regra, sobre o crédito tributário, objeto do parcelamento, incidirão juros e multa, o que não acontece com a moratória, que exclui juros e multa. Importante salientar que serão aplicadas ao parcelamento, subsidiariamente, as normas aplicadas à moratória. Caso o contribuinte deixe de pagar o parcelamento, o prazo da prescrição (a ser estudado na próxima aula) é interrompido pelo parcelamento e é recomeçada a sua contagem do dia em que ele deixou de cumprir com suas prestações, conforme a Súmula 248 do extinto TFR: Súmula 248, TFR: O prazo da prescrição interrompido pela confissão e parcelamento da dívida fiscal recomeça a fluir no dia que o devedor deixa de cumprir o acordo celebrado. Ainda temos no CTN, em seu art. 155-A, § 3º e § 4º, a situação peculiar do parcelamento para o devedor em recuperação judicial. O parcelamento exige lei específica, mas o parcelamento para o deve dor em recuperação judicial necessita de uma lei mais específica ainda. 1.4 Exclusão do Crédito Tributário O crédito tributário é constituído por meio do lançamento. No entanto, há casos em que o contribuinte pratica o fato gerador, mas que o crédito tributário não é constituído, pois assim autoriza o legislador. O Código Tributário Nacional nomeia como hipóteses que excluem o crédito tributário. Tais modalidades de exclusão do crédito tributário estão destacadas no CTN no art. 175: isenção e anistia. A isenção é a exclusão do crédito tributário relativamente ao tributo, enquanto a anistia é relativa à multa. Excluir o crédito tributário é dispensar a sua constituição após a ocorrência do fato gerador e do surgimento da respectiva obrigação tributária de pagar o tributo ou penalidade pecuniária. Com efeito, não nasce a obrigatoriedade de pagar o tributo, pois o respectivo crédito tributário não é constituído. Apesar disso, o CTN obriga o contribuinte a cumprir as obrigações acessórias decorrentes da prática do fato gerador tributário ainda que ele se beneficie da isenção ou da anistia. Em outras palavras, o contribuinte favorecido com exclusão do crédito tributário permanece obrigado ao cumprimento de obrigações acessórias. A título de reflexão, veja como é confusa a nomenclatura dada pelo legislador a esse instituto: como excluir algo que nem existe? O crédito tributário nem chega a ser constituído e o CTN afirma que ele se sujeita a hipóteses de exclusão. Confuso, né? Mas o que importa aqui é entendermos a essência da exclusão do crédito tributário. Segundo o § 6º do art. 150 da CF/88, a exclusão do crédito tributário deve ser prevista em lei, de modo que somente por meio de ediçãode lei específica pode ser concedida isenção ou anistia: § 6º Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão de crédito presumido, anistia ou remissão, relativos a impostos, taxas ou contribuições, só poderá ser concedido mediante lei específica, federal, estadual ou municipal, que regule exclusivamente as matérias acima enumeradas ou o correspondente tributo ou contribuição, sem prejuízo do disposto no art. 155, § 2º, XII, g. Com isso, a exclusão do crédito tributário deve ser interpretada de forma literal. Essa previsão também consta no art. 141 do CTN: Art. 141. O crédito tributário regularmente constituído somente se modifica ou extingue, ou tem sua exigibilidade suspensa ou excluída, nos casos previstos nesta Lei, fora dos quais não podem ser dispensadas, sob pena de responsabilidade funcional na forma da lei, a sua efetivação ou as respectivas garantias. 1.4.1. Isenção Na aula que tratamos da imunidade, falamos brevemente da isenção, que é um dos tipos de exclusão do crédito tributário, e destacamos as peculiaridades que as distinguem. O art. 176 do CTN informa que a isenção deve ser prevista em lei específica, a qual deve especificar as condições e os requisitos para a sua concessão, os tributos que serão excluídos e o prazo de sua duração (se for uma isenção onerosa - por prazo certo), sendo que o único ente político responsável pela concessão da isenção é o detentor da competência para instituição do tributo: Art. 176. A isenção, ainda quando prevista em contrato, é sempre decorrente de lei que especifique as condições e requisitos exigidos para a sua concessão, os tributos a que se aplica e, sendo caso, o prazo de sua duração. Diante da análise desse dispositivo, conclui-se que a isenção pode ser concedida por lei ou até por meio de contrato, mas nesse caso também deve ser editada uma lei, a qual deve prever as condições e requisitos para a concessão da isenção. Com isso, a isenção deve ser prevista em lei. Vamos agora analisar o comando do parágrafo único do art. 176 do CTN. Quando estudamos os princípios constitucionais, tratamos do Princípio da Uniformidade Geográfica, e vimos que a União não pode tributar de maneira diferente as suas regiões (inc. I do art. 151 da CF/88): essa é a regra. No entanto, a fim de proporcionar equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico entre as diferentes regiões do país, o constituinte autoriza a concessão de benefícios fiscais à determinada região: CF/88, Art. 151, I. É vedado à União: I – instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional ou que implique distinção ou preferência em relação a Estado, ao Distrito Federal ou a Município, em detrimento de outro, admitida a concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico entre as diferentes regiões do País. ... CTN, Art. 176, parágrafo único. A isenção pode ser restrita a determinada região do território da entidade tributante, em função de condições a ela peculiares. Como se vê, o parágrafo único do art. 176 do CTN autoriza a concessão de isenção a determinada região, conforme peculiaridades dela. Vamos agora analisar o art. 177 do CTN: Art. 177. Salvo disposição de lei em contrário, a isenção não é extensiva: I – às taxas e às contribuições de melhoria; II – aos tributos instituídos posteriormente à sua concessão. Nos casos das taxas e das contribuições de melhoria, elas são espécies de tributos criadas pelo Poder Público a fim de remunerá-lo pela prestação de uma atividade ao contribuinte, então realmente não faz sentido beneficiá-lo com a isenção do tributo, mas essa é a regra, podendo ser editada lei concedendo de forma clara e expressa isenção a essas espécies tributárias. O inc. II do art. 177 do CTN garante que a isenção beneficia os tributos que forem instituídos anteriormente à sua concessão, porém, havendo disposição em contrário, poderá ser estendida àqueles tributos que forem instituídos depois da sua concessão. Uma vez concedida, a isenção pode ser revogada ou modificada por lei, a qualquer momento, segundo o art. 178 do CTN: Art. 178. A isenção, salvo se concedida por prazo certo e em função de determinadas condições, pode ser revogada ou modificada por lei, a qualquer tempo, observado o disposto no inciso III do art. 104. Mas, note, nem sempre a isenção pode ser revogada. Ela não pode ser revogada ou modificada a qualquer momento quando for concedida por prazo certo e determinado. A isenção que for concedida por prazo certo e em função de determinadas condições – conhecida como isenção onerosa, não pode ser revogada livremente, tendo direito adquirido os contribuintes que já tenham cumprido as condições para usufruir do benefício ou sendo assegurada a manutenção do benefício enquanto durar o prazo determinado pelo legislador. Exemplo de isenção onerosa: um município que conceda isenção de IPTU por 2 anos (prazo certo) para a empresa que contratar e mantiver nesse período 100 funcionários (condição determinada). Súmula 544, STF: Isenções tributárias concedidas, sob condição onerosa, não podem ser livremente suprimidas. Outro aspecto importante da revogação da isenção diz respeito à observância ou não ao Princípio da Anterioridade. Assunto polêmico! Segundo a literalidade do CTN, art. 104, III, a revogação da isenção deve respeitar ao Princípio da Anterioridade, só sendo exigido o tributo no ano seguinte da publicação da norma que revoga a isenção, salvo disposição legal contrária: Art. 104. Entram em vigor no primeiro dia do exercício seguinte àquele em que ocorra a sua publicação os dispositivos de lei, referentes a impostos sobre o patrimônio ou a renda: ... III – que extinguem ou reduzem isenções, salvo se a lei dispuser de maneira mais favorável ao contribuinte, e observado o disposto no artigo 178. Fato importante a ser notado é que o CTN foi editado quando vigia a EC n. 18/1985 da CF/1946, e nesse texto constitucional constava o Princípio da Anualidade, o qual deveria ser observado apenas para a instituição de impostos sobre o patrimônio ou a renda O STF concluiu que com a revogação da isenção o tributo pode ser automaticamente exigido, sem necessidade de observância ao Princípio da Anterioridade. Súmula n. 615, STF: O princípio constitucional da anualidade (§ 29 do art. 153 da Constituição Federal) não se aplica à revogação de isenção. Ocorre que esse entendimento é antigo, tendo posicionamento mais recente do STF que considera que com a redução da base de cálculo de um benefício fiscal há aumento indireto do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS por meio da revogação de benefício fiscal, e, consequentemente, surge o dever de observância ao princípio da anterioridade, geral e nonagesimal, constante das alíneas “b” e “c” do inciso III do artigo 150, da Carta (RE 564225 AgR). O STF concluiu nesse julgado que o contribuinte não pode ser surpreendido com esse aumento do tributo, ainda que indireto. 1.4.1.1 Isenção Geral x Isenção Individual Há isenções concedidas em caráter geral e isenções concedidas em caráter individual. Art. 179. A isenção, quando não concedida em caráter geral, é efetivada, em cada caso, por despacho da autoridade administrativa, em requerimento com o qual o interessado faça prova do preenchimento das condições e do cumprimento dos requisitos previstos em lei ou contrato para sua concessão. § 1º Tratando-se de tributo lançado por período certo de tempo, o despacho referido neste artigo será renovado antes da expiração de cada período, cessando automaticamente os seus efeitos a partir do primeiro dia do período para o qual o interessado deixar de promover a continuidade do reconhecimento da isenção. § 2º O despacho referido neste artigonão gera direito adquirido, aplicando-se, quando cabível, o disposto no artigo 155. A isenção concedida em caráter individual se dá em razão de preenchimento de requisitos e condições previstos em lei ou em contrato. No caso da isenção concedida diretamente por contrato, lembre-se de que ainda que prevista em contrato, a isenção é decorrente de lei. Nessas hipóteses de isenção concedida em caráter individual, é necessário que seja feito um requerimento pelo interessado à autoridade administrativa provando que satisfaz as exigências para gozo do benefício, que ao reconhecê-las concede a isenção por meio de despacho. No caso da isenção individual se referir a tributo lançado por período certo, conforme §1º, art. 179, CTN, o despacho deverá ser renovado antes de finalizar o prazo do benefício. Se não houver mais preenchimento dos requisitos pelo interessado, os efeitos da isenção serão cessados imediatamente no dia seguinte após o período do benefício antes concedido. Segundo o §2º do art. 179 do CTN, o despacho da autoridade administrativa não gera direito adquirido à isenção individual, devendo haver expressa renovação da concessão da isenção. Imagine que uma lei municipal conceda isenção de IPTU para instituições de ensi no que tenham em seu corpo técnico menos de 20 professores. Se a instituição de ensino, antes do ano seguinte, não comprovar que cumpre os requisitos da isenção, a isenção deve ser revogada. Em contrapartida, se a isenção individual exigir simultaneamente o cumprimento de determinadas condições (isenção onerosa) e for concedida por prazo certo, podemos considerar que essa isenção é irrevogável. Veja, a lei isentiva pode ser revogada, mas a isenção como direito adquirido do contribuinte permanecerá sendo usufruída até o fim do prazo de concessão da isenção, desde que a empresa continue atendendo os requisitos legais. O §2º faz referência ao art. 155, e, com isso, podemos concluir que se não forem cumpridos os requisitos para concessão da isenção, essa deve ser revogada, e o tributo deve ser pago com juros de mora. Além disso, se a isenção foi erroneamente concedida em decorrência de casos de dolo ou simulação do beneficiado, ou de terceiro em benefício daquele, o infrator ainda sofrerá as penalidades cabíveis. Art. 155. A concessão da moratória em caráter individual não gera direito adquirido e será revogado de ofício, sempre que se apure que o beneficiado não satisfazia ou deixou de satisfazer as condições ou não cumprira ou deixou de cumprir os requisitos para a concessão do favor, cobrando-se o crédito acrescido de juros de mora: I – com imposição da penalidade cabível, nos casos de dolo ou simulação do beneficiado, ou de terceiro em benefício daquele; II – sem imposição de penalidade, nos demais casos. 1.4.1.2 Isenções Autônomas x Isenções Heterônomas (Heterotópicas) Por meio do inciso III do art. 151 da CF/88, há previsão do Princípio da Vedação às Isenções Heterônomas, o qual proíbe a União de conceder isenção de tributo distrital, estadual ou municipal: Art. 151. É vedado à União: ... III – instituir isenções de tributos da competência dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios. Embora esse dispositivo vede somente a União de instituir tributos que não sejam de sua competência, compreende-se que os estados também estão proibidos de editar lei isentando tributos de competência municipal, em respeito ao pacto federativo e à autonomia de cada ente político. Contudo, destacamos que esse princípio comporta exceções, autorizadas pelo legislador constituinte. Por meio da alínea “e”, do inciso XII, § 2º, art. 155, se poderia admitir que a União, mediante lei complementar, excluísse ICMS nas exportações. Como a referida lei complementar só pode ser editada pela União, e o ICMS é imposto estadual, estaríamos diante de um caso de isenção heterônoma. No entanto, em 2003, por meio da Emenda Constitucional n. 42, foi inserido na Constituição dispositivo que afirma que não incide ICMS: “sobre operações que destinem mercadorias para o exterior, nem sobre serviços prestados a destinatários no exterior, assegurada a manutenção e o aproveitamento do montante do imposto cobrado nas operações e prestações anteriores.” (CF/88, art. 155, § 2º, X, “a”) Cotejando esses dois dispositivos, constatamos que a mencionada isenção heterônoma antes admitida deixou de ter aplicabilidade, pois a Constituição passou a afirmar de forma direta que não incide ICMS nas exportações, sendo esse, portanto, um caso de imunidade. Passemos agora para o segundo caso de exceção ao princípio em análise: Conforme o inc. II, § 3º do art. 156 da CF/88, a União, por meio de lei complementar, tem competência para excluir ISS nas exportações de serviços, vejamos: Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre ... III – serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art. 155, II, definidos em lei complementar. § 3º Em relação ao imposto previsto no inciso III do caput deste artigo, cabe à lei complementar: ... II – excluir da sua incidência exportações de serviços para o exterior Mais uma hipótese de exceção ao Princípio da Vedação a Isenção Heterônoma, não prevista expressamente na Constituição, diz respeito a tratados internacionais que concedem isenção de tributos estaduais e municipais. Considerando que a União, ao celebrar o tratado internacional desonerando tributos estaduais e municipais, não atua como pessoa jurídica de direito público interno, mas como pessoa jurídica de direito internacional público, o STF entende que não se trata de isenção heterônoma, muito menos de exceção a esse princípio. No caso em que o Presidente da República assina o tratado internacional que desonera tributos estaduais e municipais, ele age como Chefe de Estado, em atenção à soberania inerente à República Federativa do Brasil, e não como Chefe de Governo. Se ele agisse como Chefe de Governo, aí sim, estaria atuando em atenção à autonomia que é inerente à União, como ente político, invadindo a competência do outro ente. 1.4.2 Anistia Já a anistia, outra modalidade de exclusão do crédito tributário, é aplicável exclusivamente às infrações. Nessa hipótese, há a ocorrência do fato gerador, nasce a obrigação tributária de pagar uma penalidade pecuniária, mas é dispensada a constituição do respectivo crédito tributário, por meio de previsão legal. Segundo o art. 180 do CTN, a lei que conceder anistia do pagamento de penalidades pecuniárias deve ter como objeto infrações cometidas antes da data da sua publicação. Assim, as infrações que podem ser beneficiadas pela anistia são aquelas praticadas anteriormente à vigência da lei que a concede. A anistia deve se concretizar antes do lançamento do crédito tributário, estando a Fazenda Pública proibida de constituí-lo, quando for publicada uma lei concedendo anistia. E se atente ainda ao fato de que somente as multas que não tiverem sido pagas é que serão anistiadas. Vamos agora analisar os incisos do art. 180 do CTN. São hipóteses que não podem ser objeto de anistia, e se referem: (i) a atos qualificados em lei como crime, contravenções ou forem praticados com dolo, fraude ou simulação pelo sujeito passivo ou terceiro em benefício daquele; (ii) às infrações resultantes de conluio entre duas ou mais pessoas naturais ou jurídicas, salvo disposição em contrário. Repare que não é qualquer ato supostamente infrator que pode ser objeto de anistia: se o ato for enquadrado como crime ou contravenção ou for praticado com dolo, fraude ou simulação, ou for praticado em conluio, o infrator não poderá se beneficiar da anistia. No que se refere à abrangência de seus efeitos, considera-se que a anistia pode ser concedida em caráter geral ou de forma limitada (art. 181,CTN) Art. 181. A anistia podeser concedida: I – em caráter geral; II – limitadamente: a) às infrações da legislação relativa a determinado tributo; b) às infrações punidas com penalidades pecuniárias até determinado montante, conjugadas ou não com penalidades de outra natureza; c) a determinada região do território da entidade tributante, em função de condições a ela peculiares; d) sob condição do pagamento de tributo no prazo fixado pela lei que a conceder, ou cuja fixação seja atribuída pela mesma lei à autoridade administrativa. Na anistia geral, o contribuinte se beneficia por características previstas de forma ampla, sem a necessidade de comprovar que cumpre determinados requisitos, e, consequentemente, não há necessidade de autorização da Fazenda Pública para que ele se beneficie. Já a anistia que for concedida de forma limitada se sujeita a regras similares àquelas relativas à isenção, havendo necessidade de apresentar requerimento à autoridade administrativa comprovando que cumpre os requisitos legais da anistia. Interessa notar que essa anistia pode ser revogada pela autoridade administrativa quando ela constatar que o contribuinte não cumpre mais os requisitos legais da anistia, tendo em vista que o requerimento que a concede não gera direito adquirido. O art. 155 do CTN – que trata da moratória - estabelece que a penalidade pecuniária será exigida acrescida de juros de mora e de multa se o contribuinte agir com dolo ou simulação ou se terceiro agir em seu benefício. Se não houver atos intencionais que prejudiquem a Fazenda Pública, a penalidade pecuniária passa a ser cobrada somente acrescida de juros, sem multa. Nos termos do parágrafo único do art. 155, o período compreendido entre a concessão da isenção e a sua revogação não será considerado para contagem do prazo prescricional, nos casos em que há má fé do inciso I. Já se o contribuinte não agiu intencionalmente para descumprir as condições da anistia, a revogação desse benefício somente poderá se dar antes do fim do prazo prescricional. Outra característica da anistia diz respeito à previsão do parágrafo 6º do art. 150 da CF/88: a anistia deve estar prevista em lei específica, seja em lei que trate especificamente da sua concessão seja em lei que trate do respectivo tributo a que se refere. § 6º Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão de crédito presumido, anistia ou remissão, relativos a impostos, taxas ou contribuições, só poderá ser concedido me diante lei específica, federal, estadual ou municipal, que regule exclusivamente as matérias acima enumeradas ou o correspondente tributo ou contribuição, sem prejuízo do disposto no art. 155, § 2º, XII, g. Outra previsão constitucional que interessa saber é a previsão do seu art. 195, parágrafo 11: Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: I – do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; ... II – do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, podendo ser adotadas alíquotas progressivas de acordo com o valor do salário de contribuição, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo Regime Geral de Previdência Social; ... § 11. São vedados a moratória e o parcelamento em prazo superior a 60 (sessenta) meses e, na forma de lei complementar, a remissão e a anistia das contribuições sociais de que tratam a alínea “a” do inciso I e o inciso II do caput. Dessa redação, podemos concluir que é proibido conceder anistia relativamente a: a) contribuições sociais do empregador incidentes sobre a folha de salários e demais rendimentos pagos ou creditados (a, I, art. 195, CF/88); b) contribuições sociais do trabalhador e demais segurados da (II, art. 195, CF/88).
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