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Reumatologia Pedro Antonio VASCULITES - As vasculites são patologias que se caracterizam por inflamação associada a áreas de necrose da parede dos vasos sanguíneos, acarretando dano tecidual. - A patogênese das vasculites envolve mecanismos imunológicos, e, na maioria dos casos, não se identifica o antígeno responsável. Além disso, algumas vasculites, principalmente as de pequenos vasos, têm seu diagnóstico definido ou sugerido quando é identificado o chamado ANCA, ou anticorpo citoplasmático antineutrófilos. A vasculite de Churg-Strauss, por exemplo, é uma vasculite de hipersensibilidade tipo Paciente que apresenta quadro asmático na 3ª idade, nunca apresentado anteriormente, pensar em vasculite - Reação de hipersensibilidade: Tipo 1: IgE, mastócito e eosinófilo – churg-straus Tipo 2: IgG e IgM contra antígenos de superfície – granulomatose de Wegener, poliarterite nodosa, churg-straus Tipo 3: IgG e IgM contra antígeno circulante – henoch-scholein, poliartrite nodosa, crioglobulinemia Tipo 4: macrófago e linfócito CD4 e CD8 – arterite temporal, takayassu e kawasaki - São doenças de diagnóstico difícil, quase sempre entra em diagnóstico diferencial - Geralmente há presença de púrpuras palpáveis, sendo diferenciada das púrpuras causada por plaquetopenia por essa característica de ser palpável - Pode apresentar sintomas gerais como: febre, perda de peso - Classificação de Chapel Hill Vasculites de grandes vasos - Arterite temporal (células gigantes) - Arterite de Tokayasu Vasculites de vasos de médio calibre - Poliarterite nodosa clássica - Doença de Kawasaki Vasculites de pequenos vasos - Granulomatose de Wegner - Poliangeíte microscópica - Arterite de Churg-Strauss - Púrpura de Henoch- Schonlein - Vasculite da crioglobulinemia - Vasculite leucocitoclástica cutânea Vasculites com predomínio de grandes vasos Arterite temporal ou de células gigantes (cefaleia de Horton) - É a vasculite sistêmica mais comum (2 casos a cada 1000 pessoas), e é mais prevalente em mulheres com idade superior a 50 anos. - O principal sintoma é a cefaleia unilateral na região temporal, geralmente associada à claudicação da mandíbula, que é um sintoma quase patognomônico. Além disso, pode ocorrer aumento da sensibilidade do couro cabeludo, perda da visão (vai pegar a arte oftálmica) e claudicação de membros superiores devido ao acometimento do arco aórtico. - Em 40% desses pacientes, há presença de polimialgia reumática -> responde ao corticoide rapidamente É um quadro inflamatório muscular Mais prevalente nas mulheres e na raça branca Quadro clínico: dor em região escapular e pélvica, pescoço rígido, mal-estar, cansaço, dor no corpo e sintomas depressivos VSH > 40 - O diagnóstico da arterite se baseia no quadro clínico associado a exames complementares, como VHS aumentado (acima de 50), anemia normocítica e normocrômica, e biópsia de artéria temporal, que é o padrão-ouro, pois identifica infiltrado linfocítico com granulomas contendo células gigantes. Contudo, lembre-se de que a biópsia normal não exclui o diagnóstico - O tratamento da arterite temporal é feito com corticoides (60 a 80mg/dia), e a resposta costuma ser tão boa que, se não houver melhora dos sintomas e queda do VHS em 3 dias de tratamento, o diagnóstico de arterite temporal é improvável. Arterite de Takayassu - A arterite de Takayasu é uma vasculite que acomete a aorta e seus ramos, prevalecendo em mulheres (90%) com idade entre 15 e 25 anos, claudicação de extremidades ou de membros superiores, diminuição de pulso radial, diferença de pressão arterial maior do que 10 mmHg nos membros superiores, sopro sobre artérias subclávia e aorta abdominal e estenoses e oclusões da aorta, seus ramos ou artérias proximais dos membros superiores na arteriografia. - Sintomas constitucionais: febre, perda de peso, adinamia, tontura, sopro de carótida - Complicações: insuficiência da válvula aórtica, coactação invertida (pressão baixa nos MMSS e alta nos MMII), hipertensão renovascular - Sem tratamento a sobrevida é em média de 15 anos - Geralmente é assimétrica, ou seja, um braço pode manifestar sinais e sintomas diferente do outro, o que facilita o diagnóstico da doença - Portanto, resumindo, a dica para o diagnóstico clínico é: “mulher jovem que desenvolve diminuição ou ausência de pulsos periféricos, discrepância na pressão arterial, sopros arteriais, provas de atividade inflamatórias elevadas, alteração na aorta”. Além disso, o diagnóstico é confirmado com a angiografia. - O tratamento deve ser feito com corticoides doses muito altas e a ciclofosfamida, que é um imunossupressor. Drogas para evitar trombose. Cirurgias arteriais, como a angioplastia para melhorar a luz daquela artéria obstruída - A arterite temporal e a arterite de Takayasu são as únicas vasculites que predominam em mulheres Poliarterite nodosa clássica - É uma vasculite necrotizante em que a pele é um dos órgãos acometidos - Não acomete região glomerular e não causa hemorragia pulmonar (isso acontece na microscópica) - O órgão mais acometido pela PAN é o rim -> infarto renal -> insuficiência renal - A PAN clássica acomete somente vasos de médio e pequeno calibre, e não envolve a microvasculatura. Sendo assim, é importante você saber diferenciá-la da PAN microscópica, que envolve a microvasculatura e causa uma síndrome pulmão-rim. - A PAN clássica prevalece em homens entre 40 e 60 anos, e está, muitas vezes, associada à sorologia positiva para o vírus da hepatite B. - Obs.: pacientes com hepatite B podem evoluir para cirrose hepática ou CA - Tem baixa associação com o ANCA - Seu diagnóstico é realizado quando se identificam os seguintes critérios: perda de peso maior que 4 kg, livedo reticular, dor testicular, astenia e mialgia, mononeurite múltipla, púrpura palpável, hipertensão arterial diastólica de início recente, ureia ou creatinina elevadas, sorologia positiva para o vírus da hepatite B, aneurismas e estenoses de artérias viscerais, biópsias de artérias de médio e/ou pequeno calibres com neutrófilos. - A presença de mononeurite múltipla em paciente não diabético deve sempre levantar a hipótese de vasculite, especialmente a PAN. - O tratamento é feito com corticoides e ciclofosfamida. Púrpura palpável Poliarterite nodosa microscópica ou poliangeíte microscópica ou PAN microscópica - A PAN microscópica, homens 2:1 entre 40 e 60 anos, tem as mesmas características da PAN clássica, mas, além disso, cursa com acometimento de arteríolas, capilares e vênulas, causando também uma síndrome pulmão-rim (hematúria e hemoptise). - A glomerulonefrite rapidamente progressiva (GNRP) é marcada pela hematúria. A GNRP é caracterizada histologicamente pela formação de CRESCENTES. O paciente costuma perder a função renal em poucos dias. - A GNRP é uma indicação de plasmaferese - O acometimento renal ocorre com glomerulonefrite focal e segmentar necrosante, e o acometimento pulmonar envolve capilarite, levando à hemoptise. Além disso, pode ocorrer mononeurite múltipla (mão caída, mão em garra e pé caído), livedo reticular e lesões cutâneas, com a púrpura palpável - Diferentemente da PAN clássica, aqui encontramos o padrão ANCA, e praticamente todos os pacientes apresentam ANCA positivo, podendo ser o p-ANCA ou o c-ANCA, sendo o p muito mais comum. Em caso de suspeita, solicitar estes exames - O tratamento da PAN microscópica é idêntico ao da PAN clássica, ou seja, envolve corticoides e ciclofosfamida, mas, na prática clínica, o rituximabe pode ser utilizado como uma alternativa à ciclo- fosfamida. - Portanto, fique atento às questões que apresentam um paciente com síndrome pulmão-rim, sintomas constitucionais, mononeurite múltipla e ANCA positivo, pois geralmente teremos a PAN microscópica como resposta. Doença de Kawasaki - É uma vasculite de pequenose médios vasos, potencialmente fatal, ela tem maior prevalência em meninos menores de 5 anos - Agente etiológico ainda desconhecido - Seu diagnóstico é feito quando são identificados pelo menos 5 dos 6 critérios a seguir: febre (38º a 40º por 5 dias que o pediatra não consegue achar uma explicação convincente), exantema polimorfo (ainda no primeiro dia), congestão ocular, língua em framboesa ou em morango, eritema e edema palmo-plantar (após 5 dias de doença) e linfadenopatia cervical aguda. - A presença da febre é obrigatória para se fechar o diagnóstico. - O grande problema dessa patologia e que o paciente pode ter uma miocardite e aneurisma de coronária. A miocardite gera um quadro de insuficiência cárdica aguda/edema agudo de pulmão - Escarlatina, parvovírus 19, sarampo, varicela, eritema infeccioso e exantema súbito são diagnósticos diferencias de kawasaki - Exames complementares podem mostrar VHS e proteína C reativa aumentados, trombocitose (até 800.000/mm3) e C3 aumentado na primeira semana. - Uma vez fechado o diagnóstico de doença de Kawasaki, é fundamental realizar o ecocardiograma e repeti- lo em 4 a 8 semanas, pois as artérias coronárias podem ser acometidas irreversivelmente, podendo evoluir com desenvolvimento de aneurismas, infarto e morte súbita. - O tratamento deve ser feito com cuidado. É importante que seja utilizada imunoglobulina endovenosa ainda na fase febril até no máximo 10 dias de doença, para prevenir complicação coronariana. Além disso, deve-se administrar salicilatos, tanto para tratar a inflamação quanto para prevenir eventos trombóticos. Doença de Buerger ou tromboangeíte obliterante - Comum em homens e tem relação com tabagismo, podendo levar à amputação. - É uma vasculite grave, presença de isquemia digital - Acomete principalmente as artérias das extremidades dos membros superior e inferior. - As manifestações clínicas incluem a tríade claudicação intermitente, tromboflebite migratória dos membros e fenômeno de Raynaud. Arteriografia das mãos – desaparecimento das artérias (isquemia digital) - O tratamento envolve a interrupção imediata do fumo -> é o único tratamento efetivo. - Simpatectomia pode gerar uma vasodilatação - Corticoide e vasodilatadores funcionam razoavelmente bem Granulomatose de Wegner - Vasculite necrotizante de pequenos e médios vasos - Granuloma é uma reação de hipersensibilidade tipo 4 (celular) - A grande característica da granulomatose de Wegener é o acometimento do trato respiratório superior. Dessa maneira, o paciente pode cursar com sinusite, rinite, otite, rinorreia sanguinolenta, úlcera nasal, necrose septal e estenoses traqueal e brônquica. Além disso, os pulmões podem estar acometidos, com pre- sença de tosse, dispneia, dor pleurítica e hemoptise. Portanto, a radiografia de tórax demonstra infiltrados com nódulos e cavitações. - Os rins e os olhos também podem ser acometidos. Há presença de hematúria e insuficiência renal devido ao desenvolvimento da glomerulonefrite rapidamente progressiva (GNPR). Além disso, pode ocorrer também uveíte, conjuntivite e neurite ocular. - Púrpuras palpáveis em membros inferiores e mononeurite múltipla também são comuns - O diagnóstico se baseia no quadro clínico, histopatologia, radiografia de tórax e exames bioquímicos, sendo que a presença de c-ANCA fecha o diagnóstico. Além disso, o nariz em cela é muito comum nos pacientes portadores - O tratamento é feito com corticoides e ciclofosfamida. Além disso, outras drogas podem ser utilizadas, como a azatioprina, methotrexate e rituximab que é uma nova droga. - Em caso de GNPR -> pulsoterapia ou plasmaferese Síndrome de Churg-Strauss - É uma vasculite necrosante, quadro granulomatoso alérgico - Tem quadro alérgicos pulmonares, por exemplo, um paciente não asmático e ficou asmático, esta síndrome é uma hipótese - A síndrome de Churg-Strauss é dividida em 3 fases: prodrômica, eosinofílica e vasculítica. É uma doença rara, que acomete mais homens. - Apresenta sintomas constitucionais como: febre, perda de peso e mal-estar - O seu diagnóstico pode ser feito quando se identificam pelo menos 4 dos 6 critérios a seguir: asma, eosinofilia, mononeurite múltipla, infiltrado pulmonar migratório, anormalidades dos seios paranasais e eosinófilos extravasculares na biópsia. - Paciente com crises asmáticas associadas à mononeurite múltipla. - O p-ANCA está positivo em 70% dos casos e a IgE está elevada na maioria dos casos. - O tratamento é feito com prednisona e ciclofosfamida. - Pulsoterapia é indicada em casos selecionados, como a GNRP ou quando o quadro pulmonar não responde a mais nenhum tratamento Púrpura de Henoch-Scholein - A púrpura de Henoch-Schönlein é a vasculite mais comum da infância, com incidência entre 3 e 20 anos de idade. - Ela tem caráter autolimitado, geralmente 4 a 6 semanas, o que faz de seu tratamento uma simples conduta observacional. - Essa vasculite está associada à hiperprodução de IgA e deposição tecidual de imunocomplexos. - Sempre pedir plaquetas para afastar leucemia aguda, aplasia de medula ou PTI. Quando as plaquetas estão normais, é possível afastar essas 3 hipóteses - Raramente a criança terá alguma alteração em glomérulo, mas pode acontecer, necessitando de um tratamento mais pesado - Existe uma suspeita de associação com IVAS, virais e bacterianas - O seu diagnóstico é feito quando é identificada a tétrade: púrpura palpável, hematúria, dor abdominal e artralgia. Crioglobulinemia - É uma vasculite mais grave - Tem a hepatite C como principal causa, cursa com púrpura palpável e é a única vasculite que está associada ao consumo do complemento, ou seja, C4 baixo - Presença de púrpura palpável, hepatoesplenomegalia, hematúria, glomerulonefrite, sorologia + para hepatite B ou C, mononeurite múltipla - Presença de criócitos, fator reumatoide - Paciente portador de mieloma múltiplo pode evoluir para crioglobulinemia mista - Tratamento é feito com corticoide e imunossupressor, e caso tenha o diagnóstico confirmado da hepatite B ou C, tratar. Vasculite de hipersensibilidade - Paciente toma um remédio que apresenta certa sensibilidade e apresenta esse tipo de vasculite - A vasculite leucocitoclástica é a causa mais comum de vasculite acometendo a pele, sendo que o paciente apresenta púrpura palpável e lesões urticariformes. Seu diagnóstico é de exclusão, e a cura é espontânea na maioria dos casos Síndrome de Cogan - A síndrome de Cogan predomina por volta dos 25 anos de idade, e acomete a aorta e seus ramos de médio e pequeno calibres. - Paciente apresenta ceratite e acometimento do sistema vestibular Dica para provas: alterações vestíbulo auditivas + ceratite intersticial. - O diagnóstico se baseia no quadro clínico e na angiografia, que demonstra estenoses e aneurismas. - O tratamento da síndrome de Cogan é feito com corticoides tópicos, quando o acometimento é exclusivamente ocular, e corticoides sistêmicos, quando existe acometimento vestíbulo auditivo. Doença de Behçet - A doença de Behçet é uma vasculite associada ao HLA-B51 que prevalece entre 25 a 35 anos, é mais grave nos homens jovens, e acomete vasos de qualquer calibre, mas, principalmente, as artérias pulmonar e cerebral e vasos de pequeno calibre. Lembre-se de que tromboflebites superficiais, raramente com eventos embólicos, são comuns. - Pode causar aneurimas de artéria pulmonar - No diagnóstico devem ser identificadas úlceras orais associadas a pelo menos 2 dos 4 seguintes critérios: úlceras genitais, pseudofoliculite e lesões acneiformes, uveíte anterior com hipópio e patergia. - O tratamento da doença de Behçet é variado, dependendo do grau de acometimento sistêmico do paciente. - Sendo assim, podem ser utilizados corticoides associados ou não a sulfassalazina, talidomida (proibido em mulheres jovens e gravidas), azatioprina, ciclofosfamida, aspirinae imunossupressores.
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