Prévia do material em texto
Curso de Direito Estágio Curricular Obrigatório Eixo III – Práticas Processuais DIREITO PENAL Peça Prático-Profissional Em 21 de junho de 2019, às 22h, Carlos fora vítima de homicídio, perpetrada por arma de fogo. A partir do boletim de ocorrência foram tomadas providências para que fosse apurada a autoria do crime de homicídio, bem como a motivação. Por disque-denúncia (anônima), foi apontado como possível autor do delito um indivíduo com a alcunha de “Bigode” e que tais fatos teriam ocorrido por conta de uma dívida de drogas. Diante de informações colhidas nos autos de Inquérito Policial, pessoas comentavam no bairro que Bigode, traficante da região, seria a pessoa de Denival Soares, o qual teve sua prisão em flagrante decretada. Diante desses fatos o réu Denival Soares foi denunciado como incurso nas sanções do artigo 121, § 2º, inciso IV, do Código Penal, pois, segundo o laudo cadavérico, a vítima teria sido vitimada com 4 disparos que atingiram suas costas. Durante a instrução processual, foi ouvido o policial que presidiu as investigações o qual afirmou que havia comentários na vila que o autor dos disparos teria sido o traficante conhecido por Bigode, e que acredita que Denival Soares seja essa pessoa. Também fora ouvida a testemunha arrolada pela defesa, Celi Silvestre a qual informou que é namorada de Denival e que na noite dos fatos ambos estavam juntos em sua casa, esta informou ainda que Denival não é traficante. Ao final da instrução o réu foi interrogado e afirmou que não é conhecido por bigode, que nunca utilizou bigode em sua vida, que não é traficante e que na noite dos fatos estava com sua namorada Celi. Apresentadas as alegações finais pelo representante do Ministério Público, este pugnou pela pronúncia de Denival Soares pelo crime de homicídio qualificado, nos termos da denúncia. Também foram apresentadas as alegações pela Douta Defesa requerendo a absolvição sumária do acusado, tendo em vista a ausência de provas da autoria. Enunciado Curso de Direito Estágio Curricular Obrigatório Eixo III – Práticas Processuais Sobreveio a decisão de pronúncia em face do réu Denival Soares pelo delito de homicídio qualificado, conforme artigo 121, § 2º, inciso IV, do Código Penal. Levado a julgamento perante o Tribunal do Júri, durante a instrução processual fora novamente ouvido o policial que presidiu as investigações, sendo que este informou que o autor dos disparos que teriam vitimado Carlos fora apontado como sendo o traficante conhecido como “Bigode”, e que por meio de denúncias anônimas, colhidas durante o inquérito apenas, chegou a um endereço onde estava residindo o acusado Denival Soares, informou ainda que nas denúncias anônimas não houve menção ao nome de Denival, mas apenas a indicação do endereço onde o suposto traficante residia. Ainda, no plenário do júri, fora arrolada a testemunha Celi Silvestre, porém a mesma não compareceu ao julgamento e não havia notícias do retorno do mandado que objetivava sua intimação para o ato, sendo que a defesa insistiu na oitiva de tal testemunha, porém o juiz presidente negou o pedido da defesa, e determinou o prosseguimento do julgamento. Por fim, fora realizado o interrogatório do acusado, o qual negou os fatos, disse novamente que estava com Celi, sua namorada, na noite de 21 de junho de 2019, informou que nunca ouviu falar da pessoa de Carlos, disse que não é conhecido por “Bigode”, que nunca utilizou bigode, que não é traficante, que passou a residir naquele endereço a menos de um ano, e ao final disse que dá para encher uma cadeira de “Bigode”, que não podem acusá-lo sem provas. Encerrada a instrução, abriram-se os debates orais, sendo que o Ministério Público pugnou pela condenação do acusado nas penas do crime de homicídio qualificado e a defesa pugnou pela absolvição, tendo em vista a ausência de provas da autoria. Ao final dos debates, os jurados foram convidados a votar, tendo decidido que o acusado seria culpado pelas acusações que pesavam contra si. Assim, o juiz togado proferiu sentença condenando-o nas penas do artigo 121, § 2º, inciso IV, do Código Penal, fixando como pena final o total de 21 (vinte e um) anos de reclusão em regime fechado. Na dosimetria da pena o juiz aumentou a pena base em 6 anos, pois considerou a circunstância judicial do motivo do crime como sendo torpe, por ter sido decorrente de uma dívida de drogas, bem como aumentou pelos maus antecedentes, tendo em vista que o acusado possui uma condenação anterior pelo delito de furto, cujo trânsito em julgado ocorreu em 21/07/2019. Tendo em vista ainda essa mesma condenação por furto, o magistrado considerou a agravante da reincidência, para aumentar a pena em mais 3 anos. Curso de Direito Estágio Curricular Obrigatório Eixo III – Práticas Processuais Você, na condição de advogado(a) de Denival Soares fora intimado(a) da publicação da sentença condenatória em 05 de outubro de 2021. Com base nas informações expostas acima e naquelas que podem ser inferidas do caso concreto, redija a peça cabível, excluída a possibilidade de habeas corpus, date a peça no último dia do prazo para interposição, sustentando todas as teses jurídicas pertinentes. EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ª VARA DO TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA DE ____ - ESTADO DE ____ Processo nº: XXXXXXXXXX DENIVAL SOARES, já qualificado nos autos da ação penal acima indicado, por intermédio de seu advogado e bastante procurador (mandato incluso), com escritório profissional sito à Rua..., nº..., Bairro..., Cidade..., Estado..., onde recebe notificações e intimações, vem mui respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, interpor RECURSO DE APELAÇÃO Com fulcro no artigo 593, inciso III, alíneas ‘a’, ‘c’ e ‘d’, do Código de Processo Penal, em face a r. sentença condenatória de fls..., prolatada no Tribunal de Júri, que condenou o recorrente 21 (vinte e um) anos de reclusão em regime fechado em ação pública incondicionada movida pelo Ministério Público, o que faz pelas razões em anexo, nos termos que a seguir passa a aduzir. Requer que, após o recebimento destas, com as razões inclusas, ouvida a parte contrária, sejam os autos encaminhados ao Egrégio Tribunal, onde serão processados e provido o presente recurso. Junta comprovação de pagamento de custas recursais. Nesses Termos, Pede Deferimento. [Local], 11 de outubro de 2021. [Assinatura do Advogado] [Número de Inscrição na OAB] EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE _____________ APELANTE: DENIVAL SOARES APELADO: MINISTÉRIO PÚBLICO PROCESSO CRIME N.º XXXXXXX RAZÕES DE APELAÇÃO, a teor do artigo 600 do CPP. Egrégio Tribunal, Colenda Câmara, Ínclitos julgadores, I. DOS FATOS Conforme narrado no incluso inquérito, aos dias 21 de junho de 2019, por volta dos 22h00 o Sr. Carlos foi vítima de homicídio, perpetrado por arma de fogo. Por disque-denúncia (anônima), foi apontado como possível autor do delito um indivíduo com a alcunha “Bigode” e que tais fatos teriam ocorrido por conta de uma dívida de drogas. Diante de informações colhidas nos autos de Inquérito Policial, pessoas comentavam no bairro que Bigode, traficante da região, seria a pessoa de Denival Soares, o qual teve sua prisão em flagrante decretada. Diante desses fatos o réu Denival Soares foi denunciado e pronunciado com incurso nas sanções do artigo 121, § 2º, inciso IV, do Código Penal, pois, segundo o laudo cadavérico, a vítima teria sido vitimada com 4 disparos que atingiram suas costas. Durante a instrução processual, foi ouvido o policial que presidiu asinvestigações o qual afirmou que havia comentários na vila que o autor dos disparos teria sido o traficante conhecido por Bigode, e que acredita que Denival Soares seja essa pessoa, informou ainda que nas denúncias anônimas não houve menção ao nome de Denival, mas apenas a indicação do endereço onde o suposto traficante residia. Também fora ouvida a testemunha arrolada pela defesa, Celi Silvestre a qual informou que é namorada de Denival e que na noite dos fatos ambos estavam juntos em sua casa, esta informou ainda que Denival não é traficante. Ao final da instrução o réu foi interrogado e afirmou que não é conhecido por bigode, que nunca utilizou bigode em sua vida, que não é traficante e que na noite dos fatos estava com sua namorada Celi. Apresentadas as alegações finais, sobreveio a decisão de pronúncia em face do apelante pelo delito de homicídio qualificado, conforme artigo 121, § 2º, inciso IV, do Código Penal. Levado a julgamento perante o Tribunal do Júri, o juiz togado proferiu sentença condenando-o nas penas do artigo 121, § 2º, inciso IV, do Código Penal, fixando como pena final o total de 21 (vinte e um) anos de reclusão em regime fechado. Assim, irresignado com a decisão proferida em primeira instância, com o devido respeito e acatamento, deve a sentença ser reformada, consoante os fatos e fundamentos a seguir expostos. II. PRELIMINARMENTE – NULIDADE – CERCEAMENTO DE DEFESA No plenário do júri, fora arrolada a testemunha Celi Silvestre, namorada do até então pronunciado, porém a mesma não compareceu ao julgamento e não havia notícias do retorno do mandado que objetivava sua intimação para o ato, sendo que a defesa insistiu na oitiva de tal testemunha, porém o juiz presidente negou o pedido da defesa, e determinou o prosseguimento do julgamento. Assim, quando o juiz determinou o prosseguimento do feito sem a oitiva da testemunha pela defesa arrolada, configurou-se cerceamento de defesa, caracterizando, assim, nulidade posterior à pronúncia, sendo nulo o julgamento no plenário do tribunal do júri, como assegura a Carta Magna em seu artigo 5º, inciso LV. III. MÉRITO RECURSAL a. DA ABSOLVIÇÃO POR AUSÊNCIA DE PROVAS PARA A CONDENAÇÃO – APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO IN DUBIO PRO REO O apelante fora pronunciado e condenado pelo crime de homicídio qualificado por motivo torpe e recurso que dificultou a defesa da vítima (art. 121, § 2º, I e IV, do CP). Todavia, ao longo do processo, a acusação não logrou êxito em indicar provas concretas que comprovassem o elemento essencial do crime - qual seja, a autoria. Por denúncia anônima, foi apontado como possível autor do delito um indivíduo com a alcunha de “Bigode”. Chegou-se na conclusão de ser o apelante Denival Soares a pessoa conhecida por “Bigode” mormente diante de meras conjecturas, despidas de substrato probatório e, pois, inidôneas à comprovação cristalina do apelido. Por depoimento dos policiais, estes alegaram que em virtude de comentários dos moradores da vila, acreditava ser o Sr. Denival o portador da alcunha “Bigode”. Suposições, comentários e achismos não formam prova robusta e concreta de que o apelante seria a pessoa conhecida por esta alcunha, assim inexistindo tal comprovação de que o apelante Denival Soares é a pessoa que atende pelo citado apelido, por conseguinte, inexiste elemento de prova que o vincule à autoria do delito. A condenação não pode ser satisfeita por denúncia anônima, nem mesmo por intuições com carga de subjetividade que não oferecem fundamentos para posterior sindicabilidade dos fatos pelo poder judiciário. Não havendo prova segura e judicializada da prática do crime, é necessário invocar o princípio do in dubio pro reo. No processo penal, a dúvida não pode militar em desfavor do réu, haja vista que a condenação, como medida rigorosa e privativa de uma liberdade pública constitucionalmente assegurada (Constituição Federal, Art. 5º, XV, LIV, LV, LVII e LXI), requer a demonstração cabal da autoria e materialidade, pressupostos autorizadores da condenação. Havendo, pois, dúvida sobre a autoria, incerteza quanto à participação do apelante no delito, deve esta corte abraçar-se ao princípio do in dubio pro reo, para garantir a absolvição do apelante, visto que a dúvida sempre milita em favor do acusado. Como no caso em tela, existem elementos de prova que conduzem à dúvida acerca da ocorrência do crime, sendo a absolvição medida que se impõe, em observância ao princípio do in dubio pro reo. Cumpre observar que não cabe ao réu provar que não é chamado pela alcunha e provar sua inocência, e sim, acerca do sistema de distribuição do ônus probatório na seara processual penal, a prova da alegação incumbirá a quem a fizer, a teor do artigo 156 do CPP. Assim, o acusado não pode ser condenado por não provar sua inocência, porquanto o ônus da prova pertence à acusação . Ademais, pode-se afirmar que transferir o ônus da prova para o réu é, no mínimo, incoerente, visto que sua inocência é presumida nos termos da Constituição Federal, já que não é o acusado que deve provar sua inocência, mas, sim, cabe ao Estado provar sua culpabilidade . Não reuniu o Ministério Público prova que sejam satisfatórias a propiciar a prolação de édito condenatório contra o apelante, tendo em vista que não há provas suficientes produzidas em juízo para desmistificar o quesito autoria do delito. Desta feita, impositiva a absolvição, tendo em vista a existência de dúvida, devendo aplicar este Tribunal o universal princípio in dubio pro reo e absolver a parte acusada, para não correr o risco de cometer injustiça, eis que a condenação só poderá ser proferida não havendo nenhuma dúvida a respeito da materialidade e autoria do delito, sendo a medida impositiva a absolvição do apelante por inexistência de prova suficiente para a condenação, na forma do art. 386, VII do CPP. b. DO ÁLIBI Na data declinada em que aconteceu o homicídio, o acusado estava na residência de sua namorada CELI, em sua companhia, razão pela qual, não poderia estar presente no local dos fatos, o que foi comprovado através da oitiva de testemunha em juízo. Em que pese a proximidade da testemunha com o acusado, no Direito Penal familiares podem se eximir do dever de testemunhar. Se testemunhar, deverão se submeter às mesmas regras das demais testemunhas, podendo se for o caso, responderem por falso testemunho, sendo, portanto, juramentadas na forma da lei. O artigo 206 não veda o depoimento, devendo seus testemunhos serem considerados em conjunto com as demais provas do processo. c. DAS PROVAS COLHIDAS NO PRESENTE PROCESSO A prova que o juízo sentenciante necessitava para vislumbrar certeza sobre a autoria do delito não foi produzida. Como já mencionado, todo o manancial probatório que consta no presente processo, relativamente à autoria do fato, foi baseado em meras suposições e comentários dos moradores da vila, devendo ser desconsideradas. d. DA INEXISTÊNCIA DE MOTIVO TORPE Conforme pode ser verificado, o Tribunal do Júri reconheceu o motivo torpe, consistente em assassinato em razão de dívida de drogas. No presente caso, a acusação se limita a pressupor que este Apelante é traficante, indicando que assassinou a vítima por motivo torpe que consiste dívida de drogas, no entanto, é preciso de um conjunto probatório de que o acusado seja de fato traficante para configuração da motivação torpe como circunstância qualificadora. Cumpre salientar que este apelante não é traficante, e ainda que assim fosse, os motivos de homicídio torpe são um elemento objetivo- normativo do tipo e, a autoria, contudo, com eles não se confunde, por integrar a tipicidade objetivo-descritiva, ou seja, a presença de prova do suposto motivo não supre a ausência de prova da autoria. e. DA DOSIMETRIA DA PENA Verificando-se asentença que aplicou a pena ao apelante, vislumbra-se um erro em sua aplicação, não obstante a Juíza de Direito Presidente do Egrégio Tribunal do Júri da Comarca de _______ seja conhecida por seus vastos conhecimentos jurídicos, todavia, especificamente quando da concretização da pena que fora imposta ao apelante, tal magistrado não agiu com o acerto que lhe é tão peculiar. Na decisão que concretizou a pena em abstrato a MM Juíza Presidente fixou como pena final o total de 21 (vinte e um) anos de reclusão em regime fechado. Na dosimetria da pena o juiz aumentou a pena base em 6 anos, ou seja, pena base de 18 (dezoito) anos, pois considerou a circunstância judicial do motivo do crime como sendo torpe, por ter sido decorrente de uma dívida de drogas, entretanto, inexistem provas que corroborem o motivo torpe, devendo ser mantida a pena base no mínimo legal, ou subsidiariamente aumentá-la em 1/6, diante da jurisprudência majoritária. Considerou ainda a MM. Juíza que, em razão de o acusado possuir uma condenação anterior pelo delito de furto, cujo trânsito em julgado ocorreu em 21/07/2019, a agravante da reincidência, para aumentar a pena em mais 3 anos, o que não merece prosperar, visto que o homicídio ocorreu em 21 de junho de 2019, e o trânsito em julgado do crime de furto se deu em 21 de julho de 2019, portanto um mês antes do trânsito, devendo ser considerado PRIMÁRIO, conforme o disposto no artigo 63 do CP. Com base na mesma condenação de furto, a honrada magistrada aumentou a pena por maus antecedentes, ofendendo, assim, o princípio do non bis in idem. Na eventualidade de ser mantida a condenação, requer seja revista a dosimetria da pena, para redução da pena injustamente imposta. IV. DOS PEDIDOS Ante o exposto, requer, respeitosamente à esta Colenda Câmara, seja recebido, autuado e processado o presente recurso de apelação, bem como apreciada as razoes anexas, para que, seja conhecido e ao final, provido o presente apelo, para que: a. Em face da nulidade do julgamento contrário à prova dos autos, deve ser o caso remetido à novo julgamento; b. Subsidiariamente, seja declarada a absolvição do apelante, nos termos do art. 386, VII do CPP, pois não há prova nos autos de quem deu causa ao homicídio, reformando a sentença prolatada pelo juízo a quo; c. Em caso de não anulação do julgamento do apelante, requer então a revisão da dosimetria da pena para sua minoração Assim fazendo, o Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de _______, além de velar pela correta aplicação da Lei, fará a tão sonhada e almejada JUSTIÇA! São os termos em que, Pede-se deferimento. [Local], 11 de outubro de 2021. [Assinatura do Advogado] [Número de Inscrição na OAB]