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cada esfera com uma lista característica de com- portamentos. Para caracterizar o TEA, o funcio- namento atípico em cada uma dessas esferas deve estar presente antes do três anos de idade e as manifestações clínicas devem variar amplamente em termos de níveis de gravidade, requerendo o preenchimento de mais de um critério comporta- mental em cada uma das três esferas de compor- tamento alterado, conforme prescrevem manuais de classi!cação internacional de doenças. Entre as manifestações do TEA, os aspectos da linguagem pragmática (ou linguagem fun- cional) são destacados como uma das di!culda- des mais acentuadas. Essas alterações incluem prejuízos em interpretar corretamente as ações dos outros e em expressar apropriadamente seus desejos e intenções, habilidades essas fun- damentais para uma efetiva inclusão educacio- nal e social. Os dé!cits na linguagem são uma manifestação clínica importante nos quadros do TEA e há estudos que investigam as iniciativas de comunicação na interação entre essas crian- ças e suas mães. Esses estudos observaram que as diferenças mais signi!cativas em termos esta- tísticos estão relacionadas a di!culdades em ini- ciar conversação e uso frequente e excessivo de gestos e vocalizações sem função (estereotipias), quando comparadas com o grupo-controle. Na maioria dos casos em que a criança é diag- nosticada com TEA, pode existir um diagnóstico associado de De!ciência Intelectual, em geral na faixa moderada (QI de 35–50). Aproximadamente 75% das crianças com TEA apresentam De!ciência Intelectual e desenvolvimento atípico de habilida- des cognitivas (DSM IV). Aquisição de linguagem e habilidades pré-requisitos em pessoas com transtorno do espectro autista Nota dos Editores: A APAE dE São PAulo não atende crianças com autismo. Ana Claudia M. Almeida-Verdu é professora da univer- sidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (unesp) em Bauru, pesquisadora do Instituto Nacional de Ciên- cia e Tecnologia sobre Comportamento Cognição e Ensi- no (INCT-ECCE). Maria Martha C. Hübner é professora do Instituto de Psicologia da universidade de São Paulo (uSP), pesquisadora do Centro de Apoio ao Autismo e In- clusão Social da uSP (CAIS-uSP), pesquisadora do INCT- -ECCE. Robson B. Faggiani é doutorando no Instituto de Psicologia da uSP. Supervisor no CAIS-uSP, pesquisador no INCT-ECCE. Daniela de S. Canovas é doutoranda no Instituto de Psicologia da uSP, pesquisadora no INCT- -ECCE. Marina S. Lemos é graduada em Psicologia pela Pontifícia universidade Católica (PuC) de São Paulo, su- pervisora do CAIS-uSP. A o longo deste artigo, pretende-se des- crever os principais dé!cits característi- cos do Transtorno do Espectro Autista (TEA) e apresentar possibilidades de intervenção que favorecem a aquisição de habi- lidades de linguagem e habilidades consideradas como pré-requisito para a aprendizagem de outras habilidades mais complexas. Por !m, serão apre- sentados dois estudos de caso para exempli!car a proposta de intervenção apresentada. TrAnsTorno Do EspEcTro AuTisTA O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é referido como um transtorno de desenvolvi- mento complexo, de!nido a partir de investiga- ção clínica e baseado em evidências comporta- mentais. O TEA é caracterizado por prejuízos ou excessos comportamentais em três esferas de com- portamento: 1) interação social; 2) linguagem e padrões de interesses restritos; e 3) comporta- mentos repetitivos e estereotipados (DSM-IV), 0#4'12�ȩ"'ȩȩbȩȩ,oȩ�ȩȩbȩȩ�%-12- "#8#+ 0-ȩȩbȩȩ����36 �02'%-ȧȧbȧȧ�/3'1'ěĘ-ȩ"#ȩ*',%3�%#+ȩ#ȩ&� '*'"�"#1ȩ.0ĝ̅0#/3'1'2-1ȩ#+ȩ.#11-�1ȩ!-+ȩ20�,12-0,-ȩ"-ȩ#1.#!20-ȩ�32'12�ArTiGo Por Ana Claudia M. Almeida-Verdu, Maria Martha C. Hübner, Robson B. Faggiani, daniela de S. Canovas e Marina S. lemos Considerando a noção de que o comporta- mento é multideterminado por fatores genéti- cos e ambientais, os estudos têm indicado que o TEA é causado por alterações genéticas asso- ciadas a fatores ambientais que podem desen- cadear o quadro. Compreender os padrões de comportamento característicos do TEA como resultado de diferentes alterações genéticas e interações com o ambiente traz consigo a impli- cação de que, se forem realizadas intervenções e arranjos sistemáticos nas condições ambientais, essas podem resultar em mudanças nos padrões de comportamento. LinGuAGEm: cArAcTErizAção E pLAnEjAmEnTo DE inTErvEnção Alguns dos objetivos das intervenções em qua- dros do Transtorno do Espectro Autista (TEA) são: 1) ensinar novos comportamentos; e 2) obter mudanças em comportamentos não adaptativos de tal forma que os comportamentos: a) adqui- ram uma função mais adaptativa na obtenção de ganhos no ambiente físico e social; b) sejam generalizáveis para uma diversidade maior de ambientes do que aqueles restritos ao ensino; e c) sejam mantidos ao longo do tempo. Intervenções individualizadas, sistemáticas, bem estruturadas e com escopo conceitual sólido têm mostrado evi- dências de sucesso. De maneira geral, tais intervenções pressu- põem a identi!cação de comportamentos-alvo, o estabelecimento de relações funcionais (adap- tativas) entre o comportamento e o ambiente, a tomada de medidas diretas dessas relações, con- siderando aspectos contextuais, e as implicações do comportamento-alvo para a adaptação do indivíduo à sociedade. A hipótese primária que subsidia as ações orientadas por este modelo de intervenção é a de que o planejamento dos com- ponentes ambientais envolvidos no comporta- mento-alvo pode favorecer consideravelmente a aprendizagem e o progresso do indivíduo em direção a se tornar competente para lidar com seu mundo físico e social. No que concerne especi!camente à lingua- gem, considerando-a como algo que fazemos, isto é, um comportamento que é aprendido e mantido pelas interações entre o organismo e o 0#4'12�ȩ"'ȩȩbȩȩ,oȩ�ȩȩbȩȩ�%-12- "#8#+ 0-ȩȩbȩȩ���� 37 ambiente, a descrição desses comportamen- tos con!gura um importante meio para a inter- venção nos casos em que a linguagem não foi bem estabelecida. A capacidade de produzir sons é considerada como um pré-requisito para a emissão de compor- tamentos verbais vocais (fala), mas a criança pode apresentar comportamentos verbais, por exem- plo, utilizando gestos e sinais. Serão apresentadas aqui as habilidades de imitar vocalizações, descre- ver, pedir e interagir, descritas pela sua função, ou seja, pelos efeitos que produzem no ambiente da criança (este ambiente tem uma característica par- ticular que é o comportamento de outras pessoas), conforme segue: 1. Imitar vocalizações. O aluno deverá ouvir uma palavra falada por uma pessoa e dizer algo que tenha correspondência com a pala- vra falada. Se o professor diz “caderno”, a res- posta repetida deve ser “caderno” e não outra palavra qualquer; esse comportamento vocal pode ser mantido por aprovação de alguém ou quando a criança ouve a própria fala que corresponde à fala de outra pessoa. Isso é muito importante, pois, ao ser capaz de imi- tar vocalizações, a criança pode aprender pala- vras e frases novas, inicialmente por imitação, mas, aos poucos, pode ser capaz de falar tais palavras ou frases em outros contextos. Se as imitações iniciais são apenas aproximadas à palavra falada, é possível aprimorar as imi- tações, aprovando o esforço inicial do apren- diz e aumentando, gradualmente, a exigência para imitações mais re!nadas. 2. Nomear/descrever. Os comportamentos de nomear ou descrever, independentemente da forma (gestual, vocal), são aqueles apresenta- dos diante de qualquer aspecto do ambiente como, por exemplo, uma !gura, uma pessoa, um objeto ou um evento. Essa habilidade é importante no desenvolvimento da lingua- gem, pois, ao nomear ou descrever, o indiví- duo passa a estabelecer relações entre os nomes (ou descrições) e os próprios eventos a que se referem. Além disso, ao adquirir vocabulário e aprender a descrever eventos, o indivíduo pode interagir e comunicar-se com as outras pes- soas. Tais habilidadessão ensinadas e mantidas por atenção e aprovação social. Nesse caso, o aluno deverá ver o aspecto do ambiente e dizer a palavra correspondente; se o aluno vê/pega um caderno e diz “caderno” (e não outra pala- vra), é importante reconhecer seu progresso. 3. Pedir/solicitar. Esses são comportamentos que envolvem uma necessidade do aluno. A pre- sença de uma pessoa que atende essa neces- sidade é crítica, tanto como pista (“para essa pessoa, eu posso pedir...”) quanto como uma condição para que o comportamento ocorra e possa produzir o aspecto do ambiente espe- ci!cado na resposta do aluno. Nesse caso, se o aluno precisa do caderno e o solicita (“O caderno, por favor”), o professor então dá o caderno a ele. Esse comportamento não depende de uma forma especí!ca (pode ser em forma de gesto, fala ou até por meio da entrega de uma !gura) e o que o mantém é a obtenção do próprio objeto, item ou opor- tunidade de fazer alguma coisa (por exem- plo, “Posso pegar o caderno de desenho?” ou “Posso desenhar?”). 4. Interagir. Envolve ouvir alguém e interagir com o comportamento verbal dessa pessoa, mas não há correspondência pontual com a fala apre- sentada pelo interlocutor. Então, se o professor diz ao aluno “devemos anotar as tarefas reali- zadas em nosso...” e o aluno diz “caderno”; há uma interlocução ou conversação entre quem fala e quem ouve. Observa-se, nos exemplos, que a mesma pala- vra, “caderno”, pode ser falada em diferentes -QȩBĸȏAGRQȩL?ȩJGLES?ECKȩQijMȩSK?ȩ manifestação clínica importante nos quadros do TEA. As diferenças mais QGELGȏA?RGT?QȩCQRijMȩPCJ?AGML?B?Qȩ?ȩ BGȏASJB?BCQȩCKȩGLGAG?PȩAMLTCPQ?ĶijMȩCȩ uso frequente e excessivo de gestos e vocalizações sem função (estereotipias) 0#4'12�ȩ"'ȩȩbȩȩ,oȩ�ȩȩbȩȩ�%-12- "#8#+ 0-ȩȩbȩȩ����38 �02'%-ȧȧbȧȧ�/3'1'ěĘ-ȩ"#ȩ*',%3�%#+ȩ#ȩ&� '*'"�"#1ȩ.0ĝ̅0#/3'1'2-1ȩ#+ȩ.#11-�1ȩ!-+ȩ20�,12-0,-ȩ"-ȩ#1.#!20-ȩ�32'12� �.PMEP?K?ȩAMKȩGLļAGMȩCKȩ���� ȩAMKMȩNPMBSRMȩBCȩSKȩNPMHCRMȩ@GL?AGML?Jȩ P?QGJ�#QR?BMQȩ3LGBMQȩ�!�.#1ȩCȩ$'.1# 31���ȩ#QRıȩ GLQCPGBMȩ LMȩ "CN?PR?KCLRMȩ BCȩ .QGAMJMEG?ȩ #VNCPGKCLR?Jȩ B?ȩ 31. ȩ GLRCEP?LBMȩ BGQAGNJGL?Qȩ BCȩ %P?BS?ĶijMȩ Cȩ .ŁQ�%P?BS?ĶijMȩ KGLGQRP?B?QȩNCJ?ȩQCESLB?ȩ?SRMP?ȩBCQRCȩ?PRGEM�ȩ2CKȩAMKMȩN?PACGPMQȩMȩ'LQRGRSRMȩ%CLMK?ȩ&SK?LMȩB?ȩ3LGTCPQGB?BCȩBCȩ1ijMȩ .?SJMȩCȩAMLQRGRSG ȩBCQBCȩ���� ȩSK?ȩB?Qȩ?RGTGB?BCQȩBMȩ.PMEP?K?ȩBCȩ!GĹLAG?ȩ�NJGA?B?ȩBMȩ 'LQRGRSRMȩ,?AGML?JȩBCȩ!GĹLAG?ȩCȩ Tecnologia sobre Comportamento, Cognição e Ensino (INCT-ECCE), sediado na universidade Federal de São Carlos. contextos, com diferentes formas de manutenção e, consequentemente, ter diferentes funções. Isso demonstra porque uma criança pode ser capaz de imitar sua professora dizendo “caderno”, mas não ser capaz de pedir “caderno”, quando neces- sita fazer a tarefa. Essa é uma evidência de que, para se estabelecer diferentes funções das capa- cidades verbais, devem ser fornecidas instru- ções especí!cas e, muitas vezes, será necessário o ensino direto de cada função. Um passo inicial pode ser dado pela avaliação das diferentes habi- lidades verbais básicas e outras habilidades cog- nitivas da criança, como ponto de partida para delimitar as condições de ensino e os objetivos da intervenção. Ao priorizar as habilidades verbais, veri!ca-se o nível dessas competências no repertório da criança e se ela apresenta os pré-requisitos para os com- portamentos de falante e de ouvinte. As habilida- des de ouvinte envolvem a compreensão auditiva de vocábulos e frases. As habilidades de falante compreendem as habilidades expressivas de voca- lizações, nomeação, descrição, pedidos e diálogos (manter e iniciar interações). A avaliação do repertório inicial da criança irá guiar o plano de ensino. Esse sistema de ensino, que embute a própria avaliação, foi o predo- minantemente empregado nos casos descritos adiante e que foram conduzidos de acordo com a proposta curricular adotada no Centro de Apoio ao Autismo e Inclusão Social da Universidade de São Paulo (CAIS-USP1). o conTExTo Dos ATEnDimEnTos Os casos aqui relatados foram atendidos no Programa CAIS-USP, cujo objetivo é, primor- dialmente, atender gratuitamente pais de crian- ças diagnosticadas, por psiquiatras ou neurolo- gistas, com o Transtorno do Espectro Autista (TEA), além das próprias crianças. As principais !nalidades do projeto são formar recursos huma- nos que possam colaborar para a inclusão social de pessoas com autismo, fornecer atendimento aos pais de crianças diagnosticadas com TEA e ensinar os pais a aplicar estratégias de ensino com seus !lhos em casa. A sEquênciA curricuLAr Os programas de ensino adotados são indi- vidualizados e descrevem, basicamente, os comportamentos a serem trabalhados com a criança (o tratamento em si), adaptados a uma criança especí!ca. Cada um dos programas descreve uma medida do repertório inicial do aluno, o comportamento-alvo a ser alcançado, os comportamentos pré-requisito ou necessários para se atingir os objetivos, as atividades neces- sárias (descritas em termos dos procedimentos a serem aplicados), os materiais a serem emprega- dos e as folhas de registro. Os programas de ensino seguem uma sequên- cia curricular para a condução do ensino, baseada na pesquisa cientí!ca que tem acumulado, nos últimos 40 anos, conhecimento sobre sequências ɕɞ ɣɞ �ȩ� ɡɠ ɤɘ ɥɞ ȩ'ɝ ɣɔ ɡɝ ɞ 0#4'12�ȩ"'ȩȩbȩȩ,oȩ�ȩȩbȩȩ�%-12- "#8#+ 0-ȩȩbȩȩ���� 39 sequência curricular, nas três primeiras tentati- vas ou ocasiões em que a criança era solicitada em cada nível descrito anteriormente (Quadro 1). Comportamentos-alvo: aplicação dos progra- mas básicos do CAIS (entre eles, sentar-se atenta- mente e fazer contato visual, de interesse para o presente artigo). Ensino: Sessões conjuntas: aplicação dos Programas com a criança durante uma hora por semana (com a presença dos terapeutas e dos pais), além de orientações para os pais aplicarem os pro- gramas em casa; implementação de mudanças nos comportamentos dos pais diretamente na sessão, via modelos, interferência ponto a ponto nas ações dos pais, dando feedback, corrigindoou elogiando. Resultados: na Figura 1, observam-se os desempenhos de Carla nos programas de Sentar-se atentamente e Contato Visual aplicados em casa pelos pais e em algumas sessões com a presença das terapeutas. No programa Sentar-se atentamente, a linha tracejada mostra o número de solicitações feitas à criança para que se sentasse atentamente e a linha contínua refere-se ao número de vezes que Carla atendeu de modo apropriado às solicitações. O ideal seria que as duas curvas (tracejada e contí- nua) estivessem no mesmo ponto, o que signi!ca- ria acertos em todas as solicitações feitas à criança. A parte da curva que mostra pouca inclinação sig- ni!ca que um número menor de solicitações foi feita à criança porque o programa foi !nalizando. Assim, no programa Sentar-se Atentamente, no mês de maio, na única sessão de avaliação (linha níveis comportamento-alvo comportamento para participar em sessão de ensino Sentar-se, estabelecer e manter o contato visual olho a olho, atender pelo nome, despertar interesse pela voz e face humana. Discriminação visual 0?QRPC?PȩM@HCRMQ�ȩJMA?JGX?PȩM@HCRMQȩOSCȩQijMȩBCQJMA?BMQ� controle instrucional Seguir instruções simples e complexas. imitação motora 0C?JGX?PȩNCOSCLMQȩKMTGKCLRMQȩAMKȩMȩAMPNMȩCȩAMKȩM@HCRMQȩ?ȩN?PRGPȩBCȩKMBCJMQȩBCȩMSRP?ȩNCQQM?� pareamentos auditivo-visuais #QR?@CJCACPȩPCJ?ĶŃCQȩCLRPCȩN?J?TP?QȩBGR?B?Q ȩCLRPCȩN?J?TP?QȩBGR?B?QȩCȩM@HCRMQ ȩCȩA?RCEMPGX?P (formar categorias e conceitos). Habilidades Acadêmicas 'BCLRGȏA?PȩCȩMNCP?PȩLņKCPMQ�ȩGBCLRGȏA?PȩJCRP?Q ȩQļJ?@?Q ȩN?J?TP?QȩCȩRCVRMQȩAMKȩAMKNPCCLQijMȩ �AMKNMPR?KCLRMȩK?RCKıRGAMȩCȩJCGRSP?ȩAMKȩAMKNPCCLQijM�� Habilidades sociais Brincar com outras pessoas, iniciar conversas, dialogar, trabalhar em grupo e com ele interagir. Quadro 1. Ilustração da sequência curricular parcial adotada pelo CAIS-uSP. curriculares bem e!cientes para pessoas diag- nosticadas com o TEA. O que é individualizado nessa proposta são os programas escolhidospara cada criança e a comparação dos resultados do aluno, pois cada aluno será comparado com ele mesmo, a partir de suas habilidades iniciais (repertório de entrada), e não com a média espe- rada para a idade ou para um grupo de alunos em particular. Dessa forma, a sequência curricu- lar adotada segue uma diretriz geral, cienti!ca- mente embasada, que pode ser alterada e adap- tada a cada criança. O conjunto de trabalhos realizado pelo CAIS- USP está baseado em avaliação de habilidades básicas de aprendizagem e em uma sequência cur- ricular derivada que inclui, entre outras habilida- des, os níveis descritos no quadro a seguir: EsTuDos DE cAso2 Em ambos os casos relatados a seguir, os aten- dimentos consistiam em sessões separadas com os pais e com a criança, para avaliação e orientação dos pais. Ao longo dos atendimentos, foram prio- rizadas sessões com a presença dos pais, da criança e dos terapeutas. caso carla, menina, com 3 anos e 6 meses no início do atendimento Repertório de Entrada: a criança não apre- sentava contato visual, imitação, fala, seguimento de instruções; apresentava muitas estereotipias. Os repertórios de entrada foram avaliados pela �-QȩA?QMQȩ?NPCQCLR?BMQȩLCQRCȩRP?@?JFMȩDMP?Kȩ?RCLBGBMQȩCKȩ����ȩCȩQijMȩPCDCPGBMQȩNMPȩLMKCQȩȏARļAGMQ� 0#4'12�ȩ"'ȩȩbȩȩ,oȩ�ȩȩbȩȩ�%-12- "#8#+ 0-ȩȩbȩȩ����40 �02'%-ȧȧbȧȧ�/3'1'ěĘ-ȩ"#ȩ*',%3�%#+ȩ#ȩ&� '*'"�"#1ȩ.0ĝ̅0#/3'1'2-1ȩ#+ȩ.#11-�1ȩ!-+ȩ20�,12-0,-ȩ"-ȩ#1.#!20-ȩ�32'12� de base), não ocorreram acertos; nos meses seguin- tes ao que Carla recebeu ensino, além de ter apren- dido a sentar-se atentamente, observa-se que o número de acertos aumentou de maneira corres- pondente ao aumento nas solicitações apresenta- das, notando-se apenas uma pequena diferença entre as duas curvas. No programa de Contato Visual, Carla apresen- tou uma evolução semelhante à do programa ante- rior, garantindo-se assim os dois pré-requisitos fundamentais para que ela estivesse pronta para os demais programas. Nessa mesma época, outros programas foram desenvolvidos, em paralelo, à medida que os progressos foram sendo obtidos nos programas considerados como pré-requisitos. Para as etapas seguintes do trabalho com Carla, foram realizadas outras sessões conjuntas com a participação da criança, dos terapeutas e dos pais, em que os pais foram ensinados a trabalhar com a criança com tentativas apresentadas uma a uma, em mesa de trabalho, no formato de ensino individualizado. caso vitor: menino, com 8 anos no início do atendimento. Repertório de entrada: a criança já apresen- tava respostas de imitação motora, seguia instru- ções, olhava nos olhos (por pequena duração), apresentava imitação de vocalizações, comporta- mentos de sessão e era sensível a elogios. Comportamentos-alvo: aplicação dos progra- mas básicos do CAIS (entre eles, sentar-se, imi- tar vocalizações, nomear objeto e fazer pedidos, de interesse para o presente artigo). Ensino: Sessões separadas: aplicação dos pro- gramas com a criança durante uma hora por semana, conduzidos pelos terapeutas, e orienta- ção para os pais aplicarem os programas em casa. Sessões conjuntas: aplicação dos programas com a criança durante uma hora por semana pelos tera- peutas, pais e cuidadora, para fornecimento de modelos e orientações para a aplicação dos pro- gramas em casa. 1600 2000 SENTAR-SE ATENTAMENTE 800 400 maio (1) jun (16) jul (22) Meses e Número total de sessões N ú m e ro a c u m u la d o ago (26) set (23) out (31) nov (23) dez (11) O 1200 1600 2000 CONTATO VISUAL Acertos Tentativas 800 400 maio (1) jun (4) jul (21) Meses e Número total de sessões N ú m e ro a c u m u la d o ago (26) set (23) out (31) nov (23) dez (11) O 1200 Acertos Tentativas Figura 1. Número acumulado de acertos (círculos cheios, linha contínua) CȩBCȩRCLR?RGT?Qȩ�AļPASJMQȩT?XGMQ ȩJGLF?ȩRP?ACH?B?� ȩBSP?LRCȩMȩNPMEP?K?ȩN?P?ȩ ensinar a “Sentar-se atentamente” e “Contato Visual” com Carla. Resultados: a Figura 2 apresenta a porcenta- gem de acertos de Vitor durante a avaliação ini- cial do repertório de entrada e depois da aplicação dos programas Fazer pedidos e Nomear. A !gura mostra porcentagem de acertos nula na avalia- ção do repertório de entrada, seguida de melhora substancial depois do ensino com ajuda de imi- tação vocal3 e sem ajuda (ou seja, o aluno apre- sentou acertos independentes). No programa Nomear, o aumento de acertos foi gradual, indi- cando que se trata de uma habilidade mais com- plexa e um dos principais dé!cits em pessoas com TEA. Porém, o progresso na ação inde- pendente nas sessões ao longo do mês !nal indica a importância do ensino persistente e sistemático. 3,MȩCLQGLMȩAMKȩ?HSB?ȩBCȩGKGR?ĶijMȩTMA?J ȩMȩRCP?NCSR?ȩMDCPCACȩ?ȩAMLBGĶijMȩN?P?ȩMȩAJGCLRCȩD?XCPȩMȩNCBGBMȩ�NMPȩCVCKNJM ȩ @C@CPȩıES? ȩK?QȩLijMȩRCKȩMȩAMNMȩAMLQGEM��ȩCLRijM ȩA?QMȩMȩAJGCLRCȩ?NCL?QȩMJFCȩN?P?ȩMȩM@HCRMȩMSȩRCLRCȩAMLBSXGPȩMȩ RCP?NCSR?ȩ?RĸȩMȩM@HCRM ȩMȩRCP?NCSR?ȩBGXȩ|"GE?�ȩBĹȩMȩAMNMȩBCȩıES?}ȩC ȩCLRijM ȩQMKCLRCȩ?NŁQȩMȩNCBGBMȩBMȩAJGCLRCȩ�OSCȩHıȩ Q?@CȩGKGR?PȩTMA?JGX?ĶŃCQ� ȩMȩRCP?NCSR?ȩBıȩMȩAMNMȩBCȩıES?�ȩȩ 0#4'12�ȩ"'ȩȩbȩȩ,oȩ�ȩȩbȩȩ�%-12- "#8#+ 0-ȩȩbȩȩ���� 41 LEiTurA rEcomEnDADA 0�%��)#7,-, ȩ.��ȩ)#7,-, ȩ1��ȩ+'%3#* ȩ!�ȩ�LıJGQCȩ Comportamental Aplicada – um modelo para a Educação Especial. In: !�+�0%-1 Jr., W. (org.). Transtornos Invasivos do Desenvolvimento�ȩ�̰ȩKGJĹLGM�ȩ P?QļJG?�ȩ!-0"# ȩ�����ȩN�ȩ �������� 0'2- ȩ+�!��ȩ!�00�0� ȩ)�ȩ�JSLMQȩAMKȩBGQRņP@GMQȩBMȩ espectro autístico em interação com professores na CBSA?ĶijMȩGLAJSQGT?�ȩBCQAPGĶijMȩBCȩF?@GJGB?BCQȩNP?EKıRGA?Q�ȩ Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia ȩT�ȩ�� ȩ L�ȩ� ȩN�ȩ������� ȩ����� %0##0 ȩ"�0��ȩ0-11 ȩ"�#�ȩVerbal Behavior Analysis: inducing and expanding new verbal capabilities in children with J?LES?ECȩBCJ?WQ�ȩ MQRML�ȩ.C?PQMLȩ#BSA?RGML ȩ'LA� ȩ����� Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais - dSM-IV. Washington, dC: Associação de .QGOSG?RPG?ȩ�KCPGA?L? ȩ����� 13," #0% ȩ+�*��ȩ.�02',%2-, ȩ(�5�ȩTeaching language to children with autism or other developmental disabilities. .JC?Q?LRȩ&GJJ ȩ!��ȩ CF?TGMPȩ�L?JWQRQ ȩ'LA� ȩ����� 1600 DESEMPENHO ANTES E DEPOIS DO ENSINO DE PAIS EM SESSÃO Antes da instrução Após instrução e modelos Após modelagem 800 400 N úm er o de a ce rt os O 1200 Sessões (meses de março a novembro) Figura 3. Número de acertos de Vitor (em todos os programas de ensino) antes do ensino de pais (antes da instrução), depois do ensino de pais por instrução e apresentação de modelo (em sessões separadas com os pais) e, ȏL?JKCLRC ȩ?NŁQȩQCQQŃCQȩAMLHSLR?QȩAMKȩMQȩN?GQ ȩ?ȩAPG?LĶ?ȩCȩMQȩRCP?NCSR?Q� de sessões com os pais, a criança e os terapeu- tas e modelagem do comportamento dos pais (o que signi!cava dar feedback constante à medida que o comportamento dos pais se aproxi- mava do esperado). Veri!ca-se que o ensino com a presença dos pais na sessão juntamente com a criança e os terapeutas favoreceu a competência de Vitor, pois os acertos foram mais frequentes (e em um número muito maior) depois que os pais passaram a atuar diretamente com o !lho. consiDErAçõEs FinAis Os casos apresentados ilustram que habilida- des básicas (pré-requisitos para outras mais com- plexas) e habilidades verbais ou interação social podem ser ensinadas com sucesso a pessoas com diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA) quando tomadas como alvo de interven- ção e quando consideradas as especi!cidades de cada caso. Os dé!cits, presentes não apenas em crianças no TEA, mas em muitas outras de!- ciências intelectuais, podem ser drasticamente reduzidos com os programas e estratégias des- critos neste texto. Dito de outra forma, dadas as condições de ensino adequadas, a probabilidade de aprendiza- gem é alta. A concepção subjacente a essa prá- tica consiste em uma posição otimista, pragmá- tica, com evidências empíricas que embasam esta nossa conclusão. 75 100 NOMEAR FAZER PEDIDOS 25 21/3 18/4 25/4 Sessões (datas) Sessões (datas) P o rc e n ta g e n s d e a c e rt o s 9/5 16/523/5 30/5 14/3 28/3 4/4 18/4 9/5 16/5 30/528/3 4/4 11/4 25/4 9/5 23/5 20/6 O 50 75 100 25 P o rc e n ta g e n s d e a c e rt o s O 50 Figura 2. Porcentagem de acertos de Vitor nos programas Fazer pedidos e Nomear, na avaliação do repertório de entrada (círculos vazios), no ensino AMKȩ?HSB?ȩ�AļPASJMQȩAGLX?�ȩCȩGLBCNCLBCLRCȩ�AļPASJMQȩNPCRMQ�� Um dado interessante é mostrado na Figura 3, que apresenta uma análise dos acer- tos da criança em todos os programas aplica- dos antes do ensino de pais (antes da instru- ção), depois do ensino de pais por instrução e apresentação de modelo (em sessões separadas com os pais) e, !nalmente, após a realização 0#4'12�ȩ"'ȩȩbȩȩ,oȩ�ȩȩbȩȩ�%-12- "#8#+ 0-ȩȩbȩȩ����42 �02'%-ȧȧbȧȧ�/3'1'ěĘ-ȩ"#ȩ*',%3�%#+ȩ#ȩ&� '*'"�"#1ȩ.0ĝ̅0#/3'1'2-1ȩ#+ȩ.#11-�1ȩ!-+ȩ20�,12-0,-ȩ"-ȩ#1.#!20-ȩ�32'12�
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