Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Érika Cerri dos Santos UFES 2022/2 CLASSIFICAÇÃO DA POSSE POSSE DIRETA X POSSE INDIRETA O direito à posse indica a possibilidade de ocorrer o desdobramento da posse em direta e indireta. Trata-se de uma distribuição dos poderes inerentes à posse para dois ou mais possuidores, mas sem que isso caracterize composse (FACHETTI, 2021). Quando ocorre essa transferência de poderes, pode-se perceber que há limitações nos poderes de domínio, de forma que nem o possuidor direto nem o possuidor indireto possui posse plena da coisa. Destaca-se que a posse pressupõe o exercício dos poderes da propriedade, sendo eles: Reaver; Uso; Usufruto; Dispor; Transferir POSSE INDIRETA -> Transfere poderes inerentes à propriedade para outra pessoa (possuidor indireto). Nesse caso, o possuidor não tem contato físico com a coisa, a apreensão, porque cedeu este poder a outrem. Entretanto, exerce poderes indiretamente, quando entrega a coisa para o possuidor direto, por exemplo, ou usufrui de alugueis. POSSE DIRETA -> O possuidor direto recebe alguns poderes inerentes à propriedade de outro possuidor. Nesse caso, o possuidor exerce seus poderes diretamente sobre a coisa porque tem sobre ela o controle direto e sua apreensão. LOCATÁRIA LOCADOR Exerce a posse direta Exerce a posse indireta Não possui domínio direto sobre a coisa. Possui domínio direto sobre a coisa. Érika Cerri dos Santos UFES 2022/2 O possuidor direto recebe a posse do possuídos indireto para exercer o uso e a fruição sobre a coisa. O possuidor indireto, exerce a faculdade de ceder a coisa e, assim, dela usufrui, por exemplo, se beneficiando com aluguéis. O possuidor direto não pode dispor da coisa e o indireto não pode usá-la, mas pode dispor. É nesse sentido que se fala de distribuição de poderes: o possuidor indireto cede o exercício de certos poderes ao direto, obviamente que para o benefício deste. - Fachetti, 2022 No Código Civil brasileiro, essa classificação é encontrada no art. 1.197. Art. 1.197, CC: A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto. A relação possessória, no caso, desdobra-se. O proprietário exerce a posse indireta, como consequência de seu domínio. O locatário, por exemplo, exerce a posse direta por concessão do locador. Uma não anula a outra. Ambas coexistem no tempo e no espaço e são posses jurídicas (jus possidendi), não autônomas, pois implicam o exercício de efetivo direito sobre a coisa. - Gonçalves, 2022 São algumas observações importantes a respeito do desdobramento da posse: → Há a necessidade de existir uma relação jurídica entre o possuidor direto e o indireto. → Tanto o possuidor direto quanto o possuidor indireto terão legitimidade ad causam; → Os desdobramentos podem ser sucessivos, de forma que o possuidor direto pode se tornar possuidor indireto, já que deixa de ter a coisa consigo, como ocorre nos casos de sublocação. → Não há desdobramento da posse em caso de esbulho, uma vez que a transferência deve ocorrer de forma voluntária. Haverá, entretanto, desdobramento da posse entre esbulhador e possível locatário de boa-fé17. No caso de esbulho, o esbulhador terá tensa e haverá perda da posse do legítimo possuidor. → Em caso de posse exclusiva não se fala em possuidor direto, pois não há desdobramento da posse. → O possuidor direto guarda ação possessória conta o indireto se este prejudicar o exercício da posse direta. → Alguns doutrinadores apontam a posse indireta como uma ficção jurídica, existente apenas para fins de ajuizamento de ação possessória, como é o caso de Godim Neto. 17 É sempre preciso observar as relações entre indivíduos isoladamente. Érika Cerri dos Santos UFES 2022/2 POSSE JUSTA X POSSE INJUSTA A classificação em posse justa e posse injusta é dada a partir da presença ou não de vícios na aquisição da posse. POSSE JUSTA POSSE INJUSTA É aquela que não apresenta os vícios da violência, da clandestinidade ou da precariedade, sendo uma posse limpa. Apresenta os vícios de clandestinidade, violência ou precariedade. Os vícios na aquisição da posse são problemas no apossamento de uma coisa. Podem ser de ordem subjetiva (elemento subjetivo, estado psicológico do possuidor) ou objetiva (vícios da posse injusta). São algumas observações importantes a respeito desta classificação: → Apenas se fala em posse justa ou injusta entre aquele que toma a posse do legítimo possuidor. → Perante a sociedade e terceiro, aquele que se apossou da coisa do legítimo possuidor terá simplesmente posse. → Se terceiro pratica esbulho contra o esbulhador, o terceiro terá posse injusta. Isso porque, perante a sociedade, o primeiro esbulhador terá posse legítima. Além disso, o primeiro esbulhador terá direito à ação possessória em face do segundo esbulhador. → Toda posse ad usucapionem tem sua origem em um esbulho. Em razão do art. 1.208 do CC exige-se a intervesio possessionis para o início da contagem do prazo. O Código Civil brasileiro define a posse justa como: Art. 1.200: É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária18. São vícios da posse, que a tornam injusta: ❖ VIS: Violência. → Pode ser física ou moral, sendo a moral chamada de coação. 18 Ressalta-se que se tratam de vícios isolados e não cumulativos. Assim, a presença de apenas um deles já caracteriza a posse viciosa/injusta. Érika Cerri dos Santos UFES 2022/2 A coação deve ser exercida no ato do estabelecimento da posse. As ameaças devem ser equiparadas à violência material. → A posse violenta é obtida por meio de esbulho, por força física ou violência moral, portanto. → A doutrina associa esse tipo de vício ao roubo. → Posse injusta por violência pode ser convalidada19. ❖ CLAM (clandestinidade): Apossamento sorrateiro, silencioso, sem violência. → A doutrina associa esse tipo de vício ao furto. → Posse injusta por clandestinidade pode ser convalidada. ❖ PRECARIUM (precariedade): Quando alguém tem posse autorizada inicialmente e, a partir de um termo final, sem a devolução da coisa, tornou-se desautorizada. Trata-se de circunstância em que a posse perde seu caráter de autorizada e passa a ser uma detenção não autorizada. A concessão da posse precária é perfeitamente lícita. Enquanto não chegado o momento de devolver a coisa, o possuidor tem posse justa O vício se manifesta quando fica caracterizado o abuso de confiança. O instante em que se recusa a restituí-la, sua posse torna-se viciada e injusta, passando à condição de esbulhador. 19 Segundo Gonçalves (2022), tanto na hipótese de violência quanto na hipótese de clandestinidade, o que ocorre não é a convalidação, mas sim a transmudação da detenção em posse, com a cessação dos vícios. Érika Cerri dos Santos UFES 2022/2 A posse, mesmo que injusta, ainda é posse e pode ser defendida por ações do juízo possessório. Isso porque a posse somente é viciada em relação a uma determinada pessoa, não tendo o vício efeito erga omnes. OBSERVAÇÃO 1: Gonçalves (2022) e Tartuce (2022) apontam que os três vícios mencionados pelo art. 1.200 do CC não constituem rol taxativo, não esgotando, portanto, as hipóteses em que a posse é viciosa. Já Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2015) apontam que o rol é taxativo. OBSERVAÇÃO 2: É POSSÍVEL QUE UMA POSSE INJUSTA SE TORNE UMA POSSE JUSTA? Para responder essa pergunta, alguns autores desenvolveram teorias denominadas de teorias da intervesio possessionis. INTERVESIO POSSESSIONIS -> Consiste na transformação da posse exercida em nome de outrem para a posse em nome próprio.É a transformação da tensa em posse, também chamada de convalidação. Início da posse do legítimo possuidor Esbulhador se apossa da coisa mediante violência Cessam os atos de violência e clandestinidade Posse Injusta POSSE JUSTA ESBULHO POSSE INJUSTA Enquanto existir violência, haverá detenção (tença). Início da posse injusta. O esbulhador se torna possuidor injusto perante o legítimo possuidor. Perante a sociedade, é visto como possuidor justo. Assim, passa a ter direito ao intervesio possessionis. Érika Cerri dos Santos UFES 2022/2 Segundo S.F.D (1861, P. 65), a intervesio possessionis era uma regra da lei romana pela qual um homem que era possuidor de uma coisa com um título emanado de outro possuidor, não poderia começar a se manter de forma independente do título que sua posse era subordinada, conforme a fórmula cum nemo causam sibi possessionis mutare. A ninguém era dado mudar a causa de sua posse e se opor adversamente ao direito sob o qual ele possuía a coisa. Tratava-se da máxima nulla extinsecus accedente causa. - Fachetti, 2021 Prescreve o art. 1.208 do CC: Art. 1.208, CC: Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade. Assim, apenas após cessada a violência e a clandestinidade, haverá posse, mas será posse injusta. Importante ressaltar que a posse será injusta apenas em face do legítimo possuidor; em face da sociedade, a posse será justa, razão pela qual é juridicamente protegida. Enquanto perdurar a violência ou enquanto subsistir a situação na clandestinidade, não haverá a situação possessória. A posse que venha a ser assim adquirida, em decorrência da prática de tais ilícitos, é injusta, cuja injustiça se mantém, em relação ao precedente possuidor, viciando essa posse, em face desse precedente possuidor. - Arruda Alvim, 2015 Ou seja, de acordo com a parte final do art. 1.208, a intervenção da posse ou convalescença se inicia a partir da cessação dos atos de violência e clandestinidade. Entretanto, existem teorias que explicam se essa posse deixa ou não de ser injusta, bem como explicam em que momento ocorrerá a conversão após cessar a violência ou clandestinidade. Érika Cerri dos Santos UFES 2022/2 TEORIA DE CARVALHO SANTOS A posse injusta existirá até cessarem os atos de violência e clandestinidade e a partir disso, ela se torna justa – posse útil. Segundo essa teoria, a posse injusta não seria posse, mas sim detenção. POSSE INJUSTA: Aquela que existe entre o esbulho e a intervesio. POSSE JUSTA: Aquela a partir da intervesio, a qual ocorre a partir de cessados os atos de violência e clandestinidade. TEORIA DE PONTES DE MIRANDA E MOREIRA ALVES A posse injusta sempre existirá após cessarem os atos de violência e clandestinidade, pois a injustiça é um estigma da posse que indica sua origem, tratando-se, portanto, de uma questão conceitual20. A posse injusta é ad usucapionem. TENÇA: Detenção entre o esbulho e a intervesio. Enquanto durarem os atos de violência, existirá a tença. POSSE INJUSTA: Posse estigmatizada. TEORIA DE SILVIO RODRIGUES E MARIA HELENA DINIZ A posse se torna justa um ano e um dia após cessarem os atos de violência e clandestinidade, caso não haja oposição ao esbulho por parte do legítimo possuidor21. DETENÇÃO: Do apossamento até cessarem os atos de violência e clandestinidade. POSSE INJUSTA: Durante um ano e um dia após cessarem os atos e violência e clandestinidade. POSSE JUSTA: Após um ano e um dia da posse injusta. A usucapião apenas ocorre após firmada a posse justa. TEORIA FUNCIONALISTA (JOSÉ SIMÃO E FLÁVIO TARTUCE) A posse se torna justa a partir da primeira oportunidade que o legítimo possuidor tenha para agir, porém não agiu; e paralelamente o esbulhador dá função socioeconômica à coisa. POSSE INJUSTA: Surge após cessarem os atos de violência e clandestinidade e vai até o desinteresse do legítimo possuidor. 20“ Enquanto perdurar a violência e a clandestinidade, nem posse existe, mas mera detenção. Quando cessam é que nasce a posse injusta. A posse injusta somente se converte em posse justa se mudar o que ela tem de ilícito, ou seja, a sua causa. Logo, somente com a inversão da causa possessionis, da razão pela qual se possui, é possível a conversão da posse injusta em justa, porque se retira a ilicitude de sua origem.” (LOUREIRO, 2011) 21 Maria Helena Diniz aponta que o art 1.203 do CC confere à posse uma presunção juris tantum, aceitando, portanto, prova em contrário. Dessa forma, a posse irá guardar o caráter de sua aquisição mesmo se transmitida a terceiros. Assim, se o adquirente a título clandestino ou violento provar que sua clandestinidade ou violência cessaram há mais de ano e dia, sua posse passa a ser reconhecida (CC, art. 1.208), convalescendo-se dos vícios que a maculavam. O mesmo não ocorre com a posse precária, isto porque a precariedade não cessa nunca. Érika Cerri dos Santos UFES 2022/2 Existem dúvidas a respeito da convalescença da posse, principalmente relacionadas a um possível termo a quo da convalidação do vício. Duas teorias explicam: HÁ INTERVESIO POSSESSIONIS DA TENÇA PRECÁRIA? PR IM EI RO E N TE N DI M EN TO A PO SS E PR EC ÁR IA C O N VA LE SC E Hipótese 1: O que ocorre é que não há o que cessar, uma vez que o início da precariedade já é a intervesio possessionis. Segundo Gonçalves (2022), o que ocorre é a transmudação entre a detenção e a posse injusta assim que se inicia a precariedade. Há a transmudação em posse ad usucapionem. Hipótese 2: A precariedade se convalesce com a inversão do título da posse. Assim, se ficar elidida a presunção inicial de tença na precariedade, o apoderamento da coisa implicará em posse (art. 1.203, CC). A partir da inversão, o esbulhador passa a agir como se fosse proprietário, com animus domini. Nesse caso, se o precarista se comportar como possuidor e não como detentor, haverá a intervesio possessionis. Além disso, há uma modificação na causa possessionis: passará de uma posse consentida pelo legítimo possuidor para uma tença decorrente de um inadimplemento para posteriormente se tornar em um esbulho com animus domini. SE GU N DO E N TE ND IM EN TO A PO SS E PR EC ÁR IA N ÃO CO N VA LE SC E Trata-se de uma interpretação literária do art. 1.208 do CC. Ao excluir do dispositivo a posse precária, a lei indica que esta não é passível de se tornar posse. A precariedade nunca cessa. Não há transmudação em posse ad usucapionem. A jurisprudência brasileira com relação a este assunto não é pacífica. Em verdade, existem tanto jurisprudências favoráveis quanto jurisprudências contrárias à convalescência da posse precária. Érika Cerri dos Santos UFES 2022/2 POSSE DE BOA-FÉ X POSSE DE MÁ-FÉ22 A boa-fé constitui um dos princípios básicos e seculares do direito civil, ao lado de muitos outros. Trata-se da alma das relações sociais e representa um papel importante no campo do direito (GONÇALVES, 2021). A análise a respeito da eticidade da posse tem efeitos práticos, vez que a posse de boa-fé cria o domínio e confere ao possuidor os frutos provenientes da coisa possuída23. Art. 1.219, CC: O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhes forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis. O possuidor de má-fé, por outro lado, será obrigado a devolver todos os frutos, indenizar os prejuízos e só terá direito ao valor das benfeitorias necessárias, sem poder de retenção (Arts. 1.216 e 1.220, CC). BOA-FÉ -> O possuidor desconhece os vícios de sua posseou possui um justo título que a fundamente. Art. 1.201, CC: É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa. É de suma importância, para caracterizar a posse de boa-fé, a crença do possuidor de se encontrar em uma situação legítima. Se ignora a existência de vício na aquisição da posse, ela é de boa-fé; se o vício é de seu conhecimento, a posse é de má-fé. - Gonçalves, 2021 MÁ-FÉ -> O possuidor conhece os vícios de sua posse ou possui condições de conhecê-las. Verificar se uma posse é de má-fé exige uma análise mais atenta do caso concreto. Existem dois caminhos possíveis, por meio da análise psicológica, analisa-se se o possuidor possuía ciência dos vícios. Já sob um aspecto ético, analisa- se se a crença deriva de um erro escusável ou não, a partir das ações do indivíduo. 22 Importante ressaltar que essa classificação leva em consideração a boa-fé subjetiva. 23 O possuidor de boa-fé terá direito à indenização, mas não à retenção, pelas benfeitorias necessárias. Érika Cerri dos Santos UFES 2022/2 SOB A ÓTICA DO FIDES POSSESSIORIAE24 POSSE DE BOA-FÉ O indivíduo desconhece os vícios. POSSE DE MÁ-FÉ O indivíduo conhece os vícios ou possui condições de conhece-los. O QUE ACONTECE QUANDO O INDIVÍDUO TEM DÚVIDAS A RESPEITO DA INCOLUMIDADE DA POSSE? Dúvida relevante/Erro inescusável25 -> Configura má-fé. Dúvida não relevante/Erro inescusável -> Configura boa-fé. Importante ressaltar que tanto a posse de boa-fé quanto a posse de má-fé admitem a ação possessória. Isso porque as ações possessórias discutem a posse legítima e a existência ou não de esbulho, o que tem relação com os vícios objetivos da posse. Assim, ainda que de má-fé, o possuidor não perde o direito de ajuizar a ação possessória competente para proteger- se de um ataque à sua posse (GONÇALVES, 2021). A boa-fé ganha relevância nas ações de usucapião, na disputa sobres os frutos e benfeitorias da coisa possuída ou da definição da responsabilidade pela sua perda ou deterioração. SOBRE O JUSTO TÍTULO -> O justo título é um documento aparentemente capaz de transferir a posse, mas que não o faz legitimamente. É o documento que seria hábil para transmitir o domínio e a posse se não contivesse nenhum vício impeditivo dessa transmissão. Segundo a lição de Lenine Nequete, justo título para fins de usucapião “é todo ato formalmente adequado a transferir o domínio ou o direito real de que trata, mas que deixa de produzir tal efeito em virtude de não ser o transmitente senhor da coisa ou do direito, ou de faltar-lhe o poder de alienar. - Gonçalves, 2021 24 Confiança na aquisição da posse. 25 “se o possuidor adquiriu a coisa possuída de menor impúbere e de aparência infantil, não pode alegar ignorância da nulidade que pesa sobre o seu título. Como também não pode ignorá-la se comprou o imóvel sem examinar a prova de domínio do alienante. Nos dois casos, sua ignorância deflui de culpa grave, de negligência imperdoável, que por isso mesmo é inalegável” – Silvio Rodrigues Érika Cerri dos Santos UFES 2022/2 Por exemplo: ❖ Escritura falsificada; ❖ Recibo; ❖ Contrato de compra e venda, quando o vendedor não era o verdadeiro dono; ❖ Contrato verbal. O Código Civil protege aquele que possui justo título. Art. 1.201, Parágrafo Único: O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção. Assim, tal instrumento. Para que esta seja afastada, é necessário provar sua ilegitimidade (presunção juris tantum, transfere o ônus à parte contrária). Importante ressaltar, ainda, que a discussão a respeito da legitimidade do justo título tem natureza reinvindicatória. Isso porque implicará diretamente na discussão a respeito da propriedade da coisa, não a respeito de sua posse. Veja, a legitimidade do justo título de que é munido o possuidor vai depender da legitimidade que o vendedor tinha de alienar aquela coisa. Por isso, discute-se a propriedade. Assim, a discussão a respeito de tal legitimidade é feita em sede de ação reivindicatória. TERCEIRO POSSUIDOR COM JUSTO TÍTULO LEGÍTIMO POSSUIDOR DESEJA REAVER A POSSE DO BEM ESBULHADOR VENDE A POSSE MEDIANTE JUSTO TÍTULO O justo título confere ao atual possuidor a máxima presunção de boa-fé. Assim, em tese, a posse é legitimamente dele. Para que seja discutida a posse, anteriormente deve-se discutir a propriedade do bem antes da venda da posse, o que deve acontecer por meio de ação reivindicatória e pode ter como objeto o justo título envolvido. Érika Cerri dos Santos UFES 2022/2 RELAÇÃO ENTRE VÍCIOS SUBJETIVOS E VÍCIOS OBJETIVOS SOBRE A CONVERSÃO DA POSSE EM BOA-FÉ EM POSSE DE MÁ-FÉ -> É possível que a posse de boa-fé se transforme em posse de má-fé26. Prevê essa possibilidade o art. 1.202 do CC. Art. 1.202, CC: A posse de boa-fé só perde este caráter no caso e desde o momento em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente. Não basta, entretanto, apenas o conhecimento do vício, mas é necessário que ocorram atos que façam presumir a cessação dessa ignorância. Essa exteriorização é inevitável, porquanto não se pode apanhar, na mente do possuidor, o momento preciso em que soube que possui indevidamente. Para isso, a doutrina aponta dois momentos relevantes. 1) Quando descoberto o vício 2) Quando o possuidor responde a ação possessória. No último caso, existem discussões a respeito de qual momento da ação, o possuidor de boa-fé passa a se tornar possuidor de má-fé. A jurisprudência não é pacífica, mas há uma posição majoritária que aponta que essa conversão ocorre no momento em que o possuidor apresenta contestação. Assim, os efeitos da sentença retroagirão ao momento da contestação, a partir do qual o possuidor será tratado como possuidor de má-fé, com todas as consequências cabíveis. 26 Historicamente, existem correntes que diferem no que tange a este posicionamento. Para os romanos, adquirida a posse de boa-fé, esta se conserva, ainda que o possuidor passe a conhecer o vício. Já para os canônicos, a posse de boa-fé existe apenas enquanto se desconhece o vício. POSSE JUSTA POSSE INJUSTA POSSE DE BOA-FÉ POSSE DE MÁ-FÉ
Compartilhar