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AULA 2 - POSSE - TEORIA SUBJETIVA E OBJETIVA

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AULA 2 – POSSE - TEORIA SUBJETIVA E TEORIA OBJETIVA 
 
O significado técnico da palavra posse recebeu a influência de grandes escolas doutrinárias: 
a) para Savigny, a posse consistia na faculdade real e imediata de dispor fisicamente da coisa com intenção 
de dono e de defendê-la contra agressões de terceiros; 
b) para Ihering, a posse se retratava no fato de alguém proceder, intencionalmente em relação à coisa, 
como normalmente atuaria o proprietário, ou seja, a propriedade tem na posse a sua imagem exterior, a 
sua posição de fato. 
O art. 1.196, CC apenas apresenta a definição de possuidor, mas não conceitua a posse. Assim, de acordo 
com o texto codificado, o possuidor é aquele que tem poderes inerentes à propriedade previstos no art. 
1.228, do Código. Revela-se a posse quando um indivíduo exercita ou pode exercitar algum dos poderes 
correspondentes ao direito de propriedade. 
Tradicionalmente, só pode haver posse onde haja propriedade privada. Entretanto, com base na 
concepção social, a posse não pode mais ser compreendida como mera visualização (ou aparência) de 
propriedade. 
 
1.3.1. Teorias acerca da posse: o conceito de posse 
 
- O Direito Romano é referência permanente em torno do estudo histórico da posse. Diante de tal quadro, 
as duas principais teorias que foram construídas tiveram como base a tentativa de interpretar os textos 
romanos: a teoria subjetiva e a teoria objetiva. 
 
Teoria subjetiva (Savigny)- A posse se compõe de dois elementos: a) o corpus, que consiste no elemento 
material representado pelo poder físico da pessoa sobre a coisa, pressupondo a apreensão desta, ou seja, 
a existência de relação exterior da pessoa com a coisa (um poder de dominação); b) o animus. que se 
afigura no elemento intelectual (ou anímico) consistente na intenção de dono, ou seja, na vontade de ter a 
coisa como sua, daí as expressões animus domini ou animus rem sibi habendi. A posse resulta, assim, da 
conjunção dos elementos corpus e animus. Caso falte algum dos dois elementos, não há posse, e sim mera 
detenção, designada por Savigny como posse natural. 
 
Teoria objetiva (Ihering)- Parte da necessidade de se precisar a distinção entre as noções de posse e 
propriedade que, coloquialmente, são confundidas. A posse passa a caracterizar-se como o poder de fato e 
a propriedade como o poder de direito sobre a coisa. A teoria objetiva admite a separação dos dois 
poderes em casos de subtração da coisa (posse injusta) e de transferência do poder de fato sobre a coisa 
por iniciativa do proprietário (posse justa). 
 
Ihering sustentava que o ius possidendi tem importância prática para o proprietário, de modo que seu 
exercício (a utilização econômica da propriedade) consistia no uso da coisa por si mesmo (utilização 
imediata ou real), ou cedendo-a a outrem (utilização mediata ou jurídica). Todos os atos de uso, gozo e 
consumação da coisa têm a posse como condição, razão pela qual a privação da posse relativamente ao 
proprietário significa a paralisação da realização econômica da propriedade. A noção de propriedade 
acarreta, para os objetivistas, necessariamente o direito do proprietário à posse. 
 
Deste modo, a posse, para Ihering, consiste no aspecto normal da relação do proprietário com a coisa, é a 
condição para a realização econômica da propriedade que se expressa no uti (uso), frui (fruição) 
e consummere (consumo). De acordo com a doutrina objetiva, a posse é a expressão material da 
propriedade, o que influenciou a redação do art. 485, do CC de 1916 e, conseqüentemente, do art. 1.196, 
do CC de 2002. Para a teoria objetiva, a tutela da posse decorre da defesa imediata da propriedade, e não 
se fundamenta na necessidade de evitar a violência. 
Deste modo, o corpus consiste no estado normal externo da coisa, sobre que se cumpre o destino 
econômico de servir aos homens, e animus deve ser encarado sob o prisma da affectio tenendi (a vontade 
de ter), ou seja, a vontade de se tornar visível como proprietário. Ihering não exige, portanto, a presença 
do animus domini para configuração da posse. A posse corresponde ao exercício de um poder sobre a coisa 
atinente ao da propriedade ou de outro direito real. 
 
1.3.2. Posse: sujeitos, objeto e natureza jurídica 
 
Natureza da posse - Para a teoria subjetiva (Savigny), a posse é, ao mesmo tempo, um fato e um direito. 
Considerada em si mesma, a posse é um fato; considerada nos efeitos que produz (usucapião e interditos, 
entre outros), é um direito. Isto porque, como fato, a posse independe do ordenamento jurídico, tanto 
assim que pode se originar da violência, de negócio nulo, por exemplo. No entanto, levando em 
consideração os efeitos que ela produz, a posse é um direito. 
 
Já, de acordo com a teoria objetiva (Ihering), a posse é um direito ( jus possidendi), assim entendido como o 
interesse juridicamente protegido, pois nela reúnem-se os dois elementos de um direito subjetivo, a saber, 
o elemento substancial (interesse) e o elemento formal (a proteção jurídica). 
 
Sujeitos da posse - tanto pessoas naturais (ou físicas) quanto pessoas jurídicas, sejam de direito público ou 
de direito privado. 
 
Objeto da posse - A posse tem por objeto coisas (bens corpóreos), havendo polêmica quanto à 
admissibilidade da posse sobre direitos reais e, com mais intensidade, sobre direitos pessoais. A coisa, 
desde que não considerada fora do comércio jurídico, é objeto de posse, eis que viável sua utilização 
econômica seja direta ou indiretamente e, a esse respeito, não há discussão. 
Contudo, algumas polêmicas surgem: 
 
a) discute-se acerca da possibilidade de serem objeto de posse em separado os bens acessórios. Em se 
tratando de parte integrante e constitutiva da coisa principal de maneira que não possam ser destacados 
sem alteração e prejuízo da substância da coisa, entende-se que não é admissível a posse sobre o bem 
acessório; 
 
b) controverte-se ainda acerca da possibilidade de a posse incidir sobre cada um dos bens que integram a 
universalidade. Caso sejam universalidades de fato, compostas por coisas, obviamente que a posse pode 
incidir sobre cada uma delas (e não sobre a universalidade). Já na hipótese de serem universalidades de 
direito, sustenta-se a impossibilidade da posse eis que são abstrações jurídicas como no exemplo da 
herança. Contudo, todos os elementos que a integram, considerados individual e separadamente, são 
suscetíveis de posse eis que também compostos por direitos patrimoniais; 
 
c) há ainda, o tema dos novos bens e o objeto da posse. A questão remonta aos direitos autorais (Lei n° 
9.610/98), à propriedade intelectual dos programas de computador (Lei n° 9.609/98). A esse respeito, o 
Superior Tribunal de Justiça editou a Súmula n° 228, com o seguinte teor: É inadmissível o interdito 
proibitório para a proteção do direito autoral. No que concerne à questão do fornecimento/corte de 
energia, em regra, tem-se entendido que há obrigação de fazer no fornecimento de energia e, por isso, o 
regime a ser aplicado é o do Direito das Obrigações, mas há julgado que admitiu ação possessória para 
obstar o desligamento da linha telefônica ou a retirada do aparelho pela concessionária telefônica. 
 
d) A grande controvérsia diz respeito à posse de direitos. Alguns autores reconhecem apenas a posse dos 
direitos reais de fruição (ou gozo) como nos exemplos do uso, usufruto, habitação e servidão. Outros 
doutrinadores também incluem os direitos reais de garantia além dos direitos reais de gozo. Há, 
finalmente, aqueles que inserem, ainda, os direitos pessoais patrimoniais. Contudo, só pode haver posse 
sobre coisa, e não sobre direito (real ou pessoal). 
1.3.3. Distinção entre detenção, posse e outros atos 
A detenção se caracteriza pela presença de dois elementos: a) a presença de um vínculo de subordinação 
entre o detentor e o titular da posse; b) o detentor conserva a coisa em seu poder, em nome do titular da 
posse e sob as suas instruções. Daí o detentor ser também denominado servidor daposse. O conceito que 
é traduzido no art. 1.198, do CC, é o do fâmulo da posse em relação ao dono, ou seja, uma pessoa que, 
devido à dependência (compreendida sob o ponto de vista econômico) relacionada a outro indivíduo, 
exerce sobre a coisa não um poder próprio, mas sim o poder de fato por ordem do último. 
 
Deve-se ainda ressaltar que não se consideram possuidores, e sim equiparados a meros detentores, 
aqueles que têm mera permissão (deve ser expressa) ou recebem a tolerância do possuidor para 
manterem contato com a coisa, bem como não autorizam a aquisição da posse os atos violentos, 
clandestinos ou precários (art. 1.208, CC). 
 
Finalmente, também pode ser considerada mera DETENÇÃO a situação fática relacionada à pessoa no bem 
público de uso comum do povo ou de uso especial (art. 100, CC). Tratando-se de bens que apresentam 
finalidade pública, nos termos do ordenamento jurídico brasileiro se situam fora do comércio jurídico e, 
consequentemente, são insuscetíveis de apropriação privada. 
 
Não se pode, ainda, confundir posse com mera permissão (exemplo: solicitação de uso do bem, com 
permissão do proprietário ou mero possuidor) e com a tolerância (caso em que outra pessoa utiliza a coisa, 
o que é presenciado pelo possuidor ou proprietário que, no entanto, não interfere para proibir o uso). 
 
Espécies de posse 
 
Há duas grandes classificações a respeito da posse em consonância com os critérios do modo de aquisição 
e da subjetividade: 
a) acerca do modo de aquisição no que repercute o reconhecimento (ou não) de vícios objetivos, a posse 
se divide em posse justa e posse injusta; 
b) no plano da subjetividade pode-se distinguir a posse de boa fé da posse de má fé. A presença (ou 
ausência) de qualquer dos vícios objetivos influi na qualificação da posse (justa ou injusta), podendo o 
possuidor ter (ou não) convicção de que seu poder é legítimo ou ilegítimo (posse de boa fé ou de má fé). 
 
Há, no entanto, vários outros critérios de classificação da posse, inclusive sob a perspectiva da 
funcionalização da posse. Contudo, deve haver especial cuidado na análise da doutrina e legislação 
estrangeiras a respeito da posse, eis que não existe uniformidade nos conceitos e terminologia. 
Posse direta e indireta - A divisão da posse em direta e indireta atende a uma necessidade prática, a saber, 
a determinação acerca das pessoas que merecem proteção possessória, identificando as conseqüências 
jurídicas que se relacionam à posse na sua plenitude. Lembre-se que o desdobramento da posse somente é 
possível na concepção de Ihering no âmbito da teoria objetiva da posse. Assim, podem coexistir duas 
posses sobre a mesma coisa, ou seja posses paralelas que não se excluem. A distinção entre posse direta e 
posse indireta se verifica quando os poderes inerentes à propriedade possuem distintas titularidades e 
passou a ser importante para o fim de conferir proteção possessória às pessoas que detêm algum tipo de 
poder inerente à propriedade. 
 
Desdobramento da posse - A teoria subjetiva da posse não admitia, por exemplo, a posse do locatário, do 
comodatário, e considerava que o credor pignoratício e o depositário somente tinham posse derivada 
porque a lei expressamente o autorizou. A teoria objetiva da posse, ao contrário, passou a admitir o 
desdobramento da posse e, desse modo, reconheceu e legitimou a posse em favor das pessoas acima 
referidas na condição de possuidores diretos. 
O art. 1.197, encampou a possibilidade do desdobramento da relação possessória, referindo-se claramente 
à posse direta que pode coexistir com a posse indireta. Em razão da mediação que se estabelece entre 
posse direta e posse indireta, costuma-se designar o fenômeno como desmembramento vertical da posse, 
distinguindo-o do desmembramento horizontal da posse, este reconhecido em relação à composse. 
Distinção - A posse direta (também denominada de posse subordinada) é aquela reconhecida ao não 
proprietário a quem cabe o exercício de uma das faculdades da propriedade, por força de obrigação ou de 
direito real sobre coisa alheia. A posse direta envolve o exercício de contato físico imediato (direto) sobre o 
bem, permitindo que o possuidor administre o bem. É a posse pertencente à pessoa que tem a coisa sob 
seu poder físico e imediato, em razão de um direito real ou obrigacional. 
 
A posse direta é temporária, eis que entre o possuidor direto e o possuidor indireto existe uma relação 
jurídica de natureza transitória que tende a se extinguir, quando então todos os poderes se concentram na 
pessoa do titular da propriedade. Além disso, a posse direta é sempre derivada, sendo limitada no tempo. 
Entretanto, isto não obsta que o possuidor direto defenda sua posse por iniciativa própria, 
independentemente da assistência ou intervenção do possuidor indireto. Reconhece-se, inclusive, a 
possibilidade de o possuidor direto defender sua posse contra o possuidor indireto, e vice-versa. 
 
A posse indireta, por sua vez, é aquela que o proprietário conserva para si quando se demite, 
temporariamente, de um dos poderes elementares da propriedade, cedendo-o seu exercício a outra 
pessoa. Neste caso, o proprietário permanece como titular do ius possidendi, transferindo o ius 
possessionisou parte do ius possidendi a alguém. 
 
Pressupostos da posse indireta: 
a) que a coisa se encontre na posse direta de outra pessoa; 
b) que entre os dois possuidores direto e indireto haja relação jurídica de que derive o desdobramento da 
posse, seja por vínculo originário dos Direitos Reais, Direito das Obrigações, Direito das Sucessões ou 
Direito de Família. 
 
Posse justa e injusta - A classificação que distingue a posse justa da posse injusta leva em conta o 
reconhecimento da existência (ou ausência) de vícios objetivos quando da aquisição da posse. 
 
A posse justa é aquela cuja aquisição não repugna ao Direito, ou seja, é a posse isenta dos vícios da 
violência, clandestinidade ou precariedade no momento da sua aquisição pelo possuidor (CC, art. 1.200). 
Ao revés, a posse injusta é aquela cuja aquisição repugna ao Direito, cuidando-se da posse adquirida por 
modo proibido, apresentando vício objetivo na sua aquisição (violência, clandestinidade ou precariedade); 
é a posse ilícita no momento da sua aquisição. Os vícios da posse são a violência (vi), a clandestinidade 
(clam) e a precariedade, daí a subclassificação da posse injusta em posse violenta, posse clandestina e 
posse precária. 
 
É importante mencionar a possibilidade da posse justa se transformar em posse injusta e vice-versa. A 
mudança do título da posse (justa e injusta) ocorre pela superveniência de uma causa exterior adversa à 
manutenção da mesma espécie de posse. 
 
2.4. Posse de boa fé e de má fé - A classificação que distingue a posse de boa fé e a posse de má fé 
também é adotada no CC (art. 1.201), apresentando clara importância prática quanto aos seus efeitos. 
Trata-se de classificação que leva em consideração o plano da subjetividade do possuidor quanto à 
circunstância de haver vício ou obstáculo que impeça a regular e legítima aquisição da coisa. 
 
A posse de boa fé é aquela em que o possuidor ignora o vício original, ou o obstáculo que lhe impede a 
aquisição da coisa. A boa fé é concebida de modo negativo, como ignorância, e não como convicção. 
Aspectos essenciais da posse de boa fé: a) existência de um vício obstativo da aquisição da posse, ou seja, 
uma mácula, mancha ou senão que restringe a aquisição da posse ao campo dos meros fatos; b) ou a 
presença de um obstáculo impeditivo da aquisição da posse, a saber, um empeço, um estorvo, um óbice à 
constituição da situação jurídica titularizada; c) e a ignorância, por parte do possuidor, da ocorrência do 
elemento material que impede a regular aquisição da coisa. Os tribunais brasileiros presumem a boa fé do 
possuidor. 
 
A posse de boa fé, por sua vez, se subdivide em posse de boa fé real e posse de boa fé presumida. A 
primeira ocorre quando a convicção do possuidor se fundamentaem elementos objetivos evidentes, não 
suscitando dúvida quanto à legitimidade da aquisição. A segunda consiste na posse de boa fé em que o 
possuidor tem justo título, gerando presunção iuris tantum. 
 
A posse de má fé, ao contrário, é aquela em que o possuidor tem consciência de que há obstáculo, ou sabe 
da existência do vício que impede a aquisição da coisa. É a posse em que o possuidor tem conhecimento 
do vício, sabe da ilegitimidade de sua posse e, apesar de tal conhecimento, mantém-se possuidor. Não 
basta a alegação da ausência de ciência da ilicitude como atitude passiva do indivíduo para caracterizar a 
posse de boa fé; há um aspecto dinâmico na questão da ciência de boa fé no sentido da investigação 
acerca da existência de proprietário ou de outro possuidor com melhor posse. Devem ser empregados 
todos os meios necessários para certificação da legitimidade de sua posse. 
 
A posse originalmente de boa fé pode, no curso da situação possessória, pode transformar-se em posse de 
má fé. Há dificuldade em se determinar o momento em que a posse de boa fé perde esse caráter. Em tese, 
a boa fé desaparece quando as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui 
indevidamente, deslocando-se para dados objetivos (CC, art. 1.202). Há parcela da doutrina que defende 
que, neste caso, o momento da cessação da boa fé seria o momento da citação. 
 
Posse com ou sem justo título - Tal classificação é especialmente importante para o efeito da usucapião 
ordinária com a diminuição dos prazos para fins de reconhecimento do fenômeno da aquisição da 
propriedade através da usucapião, entre outros efeitos. Além disso, trata-se de classificação que se 
relaciona à classificação anterior na distinção entre posse de boa fé e posse de má fé. 
 
O justo título é a situação jurídica, o fato jurígeno que, formalmente, é hábil para transmitir um direito, 
mas que possui um defeito intrínseco, normalmente não conhecido pelo adquirente, daí a posse com justo 
título ser normalmente considerada como posse de boa fé (presumida). O título é considerado a causa 
eficiente da posse, a qualidade com que a pessoa figura na situação possessória, e não o instrumento 
comprobatório de negócio ou ato jurídico. O justo título configura estado de aparência que enseja a 
conclusão de que o indivíduo tem boa posse. 
A presunção de boa fé em favor do possuidor com justo título, no entanto, não é absoluta ( iuris et de iure), 
admitindo seu afastamento diante da certeza provocada pela prova em contrário ou decorrente de 
mandamento legal expresso proibitivo da presunção. 
 
Posse nova e posse velha - O CC de 2002 não reproduziu os antigos preceitos contidos nos arts. 507 e 508, 
do CC de 1916, que disciplinavam as denominadas posse nova e posse velha. A posse nova é aquela 
reconhecida com período temporal inferior a ano e dia. Já a posse velha é aquela reconhecida com período 
temporal superior a ano e dia. Tais preceitos, no entanto, prosseguem previstos no CPC, que atribui o 
direito de reintegração ou manutenção de posse liminarmente quando o esbulho ou a turbação datar de 
menos de ano e dia. 
 
Posse ad interdicta e ad usucapionem - A classificação que divide a posse ad interdicta e a posse ad 
usucapionem leva em conta os efeitos jurídicos da posse. 
 
A posse ad interdicta é aquela considerada em si mesma, correspondendo ao ius possessionis já que 
independe da existência de direito do possuidor sobre a coisa. É a posse apenas considerada como poder 
de fato sobre a coisa e, assim, merece proteção dos interditos possessórios. Posse ad interdicta é aquela 
apta a receber os benefícios da proteção possessória via os interditos (ações de reintegração e 
manutenção, e ação proibitória). Toda situação de fato caracterizada como posse, em regra, é tutelada via 
os interditos possessórios, inclusive o possuidor injusto e o possuidor de má fé quando sofrer ameaça ou 
agressão de terceiro. 
 
A posse ad usucapionem é aquela que apenas é reconhecida em favor da pessoa que possui a coisa como 
sua, ou seja, com a presença do animus rem sibi habendi (ou animus domini) de Savigny. Cuida-se da posse 
que enseja a usucapião como modo de aquisição da propriedade, ou em outras palavras, é o elemento de 
suporte fático da usucapião, a posse qualificada pelo animus domini. Não há usucapião sem posse, daí a 
posse ad usucapionem como modalidade de posse cujo titular é o possuidor que possui a coisa como lhe 
pertencendo. Não é necessário que o possuidor da coisa se julgue proprietário ? opinio domini -, sendo 
suficiente que tenha vontade de possuir a coisa como se ela lhe pertencesse. 
O locatário, por exemplo, somente tem posse ad interdicta eis que não apresenta o ânimo de ter a coisa 
para si. 
 
Outras classificações - Além dos critérios de classificação da posse mais conhecidos, há outros que se 
revelam importantes para certos fins e efeitos, além de haver classificação mais atual e contemporânea à 
luz da função social. 
 
Posse natural e civil - A posse natural é a posse considerada como poder físico sobre a coisa ou a 
possibilidade de utilização da coisa; posse que se exterioriza; exige-se o contato físico do possuidor em 
relação à coisa. A posse civil é a que decorre da lei sem que o possuidor pratique qualquer comportamento 
ou adote qualquer conduta para tanto, como no exemplo do direito de saisine no âmbito do Direito das 
Sucessões (CC, art. 1.784; CC 1916, art. 1.572). 
 
Ius possessionis e ius possidendi - Trata-se de critério de classificação da posse que leva em consideração a 
figura do possuidor relativamente à coisa, daí a distinção entre ius possessionis e ius possidendi. O ius 
possessionis é a posse que decorre do poder físico, do assenhoreamento da coisa. O ius possidendi é a 
posse que existe por força de um direito, como no exemplo do proprietário que, em razão do direito real 
de propriedade, tem posse baseada no ius possidendi. 
 
Posse simples e posse funcionalizada - Na realidade, a tessitura da função social, seja na propriedade, seja 
na posse, se localiza na atividade desempenhada pelo titular da relação sobre a coisa à sua disposição. Se a 
função social da propriedade se exerce pela função social que a posse-conteúdo tem, ou seja, se é pela 
posse que a função da propriedade se cumpre, é correta a afirmação de que é a posse que tem uma 
função social saliente, e não a propriedade em si. 
 
A função social da posse gera a distinção entre a posse qualificada (ou pos se social) e a posse simples. 
Atitudes como cercar, murar o terreno, construir um cômodo nos fundos, de modo a atrair, a tentar 
exteriorizar poder sobre a coisa, impedindo que outras pessoas se apossem da coisa imóvel, caracterizam a 
posse simples, ou seja, atos de gestor de negócios de modo a atender presumivelmente à vontade do dono 
da coisa. 
 
A posse funcionalizada permite a proteção do ser nas exigências mínimas da vida em sociedade, como um 
lugar para morar (posse-moradia), um lugar para plantar (posse-trabalho), um lugar para exercer as 
atividades econômicas e sociais relevantes, ou seja, seu exercício permite o atendimento aos direitos 
fundamentais de segunda geração. 
A posse com função social permite que o imóvel (urbano ou rural) atenda aos direitos fundamentais de 
segunda geração e, por isso, é mister reconhecer-se a necessidade de proteção especial à posse 
funcionalizada. 
 
Posse exclusiva, Composse e posses paralelas - Como regra, o objeto da posse deve ser exclusivo. A posse 
exclusiva é o que comumente ocorre. A título excepcional, no entanto, admite-se a pluralidade de 
possuidores sobre a mesma coisa. Se a propriedade pode ser comum, também é reconhecida a posse 
comum, exercida pro indiviso. Daí a regra do art. 1.199, do CC, que reconhece a composse, ou seja, a posse 
em comum da mesma coisa, no mesmo grau, de mais de uma pessoa. A composse é a posse de duas ou 
mais pessoas sobre coisa indivisa, desde que os atos possessórios de qualquer deles não excluam os 
demais. A composse éa comunhão da situação fática da posse, ao passo que o condomínio é a comunhão 
da propriedade. 
 
Os requisitos para configuração da composse são: a) a posse de duas ou mais pessoas; b) a coisa indivisa 
como objeto da composse. A composse é situação verificável nos casos de em que várias pessoas exercem 
simultaneamente ingerência fática sobre a mesma coisa, sem que as partes sejam localizadas, contando 
cada compossuidor com uma fração ideal sobre a posse. É alvissareiro salientar que cada compossuidor: a) 
é considerado possuidor do todo em relação a terceiro e, assim, poderá exercer todos os direitos que lhe 
competem, inclusive o de, per se, invocar a proteção possessória para a defesa da coisa comum no seu 
todo, e não apenas na sua parte ideal; b) deverá agir de modo harmônico e civilizado para não suprimir os 
direitos dos outros compossuidores, na relação interna. 
 
A composse pode terminar pela: 
a) divisão consensual ou judicial da coisa comum devido ao desaparecimento da coisa comum; b) posse 
comum de um dos compossuidores que isole uma parte da coisa comum, sem oposição dos demais, 
passando a praticar atos possessórios com exclusividade, acarretando uma divisão de fato. 
 
Insta também salientar que a composse oferece dois fenômenos: 
a) a posse pro-diviso que consiste naquela que o compossuidor continua a ter, em termos de contato físico 
e material, eis que antes da morte do antigo possuidor já tinha. Na posse pro-diviso, a coisa é divisível 
(apesar de manter-se indivisa), e os compossuidores podem exercer poderes sobre partes distintas; 
b) a posse pro-indiviso é aquela que os compossuidores passarão a ter pela primeira vez, porquanto nunca 
a tiveram anteriormente. Neste caso, a coisa é indivisível fisicamente e, por isso, não comporta o exercício 
de poderes em relação a partes distintas, e sim apenas sobre a totalidade da coisa. 
 
Por fim, a composse não pode ser confundida com o desdobramento da relação possessória em posse 
direta e posse indireta, em que os graus da posse são diversos, como nos exemplos do locador (possuidor 
indireto) e locatário (possuidor indireto). Neste caso, sobre uma coisa pode incidir mais de uma posse 
exclusiva, cada qual recaindo sobre poder diferente. O desdobramento da relação possessória em posse 
direta e posse indireta caracteriza, ao seu turno, a existência de posses paralelas em graus diferentes, o 
que distingue tal situação da composse. O fenômeno do desdobramento da relação possessória só foi 
admitido na teoria objetiva de Ihering. 
 
Convalescimento (interversão) da posse - De acordo com o Direito brasileiro, considera-se que a posse 
mantém o mesmo caráter em que foi adquirida, preservando suas características e particularidades, salvo 
prova em contrário (CC, art. 1.203). A regra é, portanto, a de que não há possibilidade de alguém, 
unilateralmente, modificar a qualificação da posse, convalescendo os vícios objetivos e subjetivos quanto à 
aquisição da posse. 
 
Contudo, duas exceções têm sido indicadas à imodificabilidade do caráter da posse: 
a) fato de natureza jurídica, que consiste na constituição de relação jurídica de direito real ou de direito 
obrigacional, convertendo-se a posse injusta em posse justa com base na interversão da posse que se 
caracteriza pela bilateralidade; 
b) fato de natureza material, que se verifica quando da manifestação da inequívoca intenção do possuidor 
de privar o proprietário do poder de disposição sobre a coisa, mediante a prática de atos prolongados 
neste sentido, sem a oposição da pessoa que deveria reverter a situação. O Enunciado n° 237, da III 
Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal, encampou tal orientação. 
 
Função social da posse - Tal como ocorre em relação à propriedade, a posse não pode ser dissociada da 
noção de função social. No sistema jurídico brasileiro, fundado na solidariedade política, econômica e 
social e na busca do pleno desenvolvimento da pessoa humana, o conteúdo da função social assume a 
idéia e o papel do tipo promocional na direção de que a disciplina das formas e espécies de posse e suas 
interpretações devem ser atuadas para garantir e promover os valores sobre os quais se funda o 
ordenamento.

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