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FACULDADE BATISTA/INSTITUTO PEDAGÓGICO DE MINAS GERAIS- IPEMIG WALQUIRIA PEREIRA RELATÓRIO DE ESTÁGIO DE PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA BELO HORIZONTE 2021 2 INTRODUÇÃO O vínculo que se estabelece entre o Psicopedagogo e o paciente, é de grande valia para o processo de ensino-aprendizagem. Uma comunicação clara, objetiva, facilitará a compreensão e confiança, gerando resultados positivos. Avaliar o aprendente é olhar nos detalhes mais minuciosos as suas habilidades e capacidade de desenvolvimento e também às suas dificuldades, é criar uma relação segura, de confiança. Quando o aprendente adquire essa confiança com o psicopedagogo os resultados se tornam positivos. Nas sessões psicopedagógicos são avaliados o desenvolvimento do indivíduo, suas habilidades, potencialidades e também as suas limitações. Existem vários testes a serem aplicados de acordo com a queixa e a idade do indivíduo. Nas avaliações utiliza-se jogos, brincadeiras, brinquedos, todas atividades, realizada de maneira lúdica tem um propósito: trazer a representação da realidade. No momento da brincadeira o aluno demonstra no seu mundo imaginário o que de fato vivencia no mundo real, neste momento ele pode vir a demonstrar o bloqueio responsável pela sua dificuldade de aprendizagem. Ler para o aprendente é sempre importante, motiva-o a querer ler também. É função do psicopedagogo construir o desejo do aprender, construir novos saberes, transformar dificuldades em facilidades. O psicopedagogo é um facilitador da aprendizagem. Nas sessões de desenvolvimento do plano pedagógico de estudo é importante que se trabalhe a autoestima, as potencialidades, responsabilidades, relação de direitos e deveres, organização, comprometimento com as tarefas a serem realizadas diariamente, cumprimento de metas. Cada indivíduo é único, tem sua história, sua trajetória, isto deve ser considerado, para isso o seu plano de trabalho deve ser somente seu. A parceria com a família, com a escola com equipe multidisciplinar quando for o caso é de máxima importância. Conhecer mais de perto a família e amigos facilitará a compreensão de como o sujeito se relaciona e se posiciona diante da vida social e como isto o afeta em seu desenvolvimento. 3 EFES (Entrevista Familiar Exploratória situacional) Nome: L. G. L. 8 anos D.N: 01/05/2013 2º ano fundamental (2020) Sexo: Feminino Mãe: G. G. L. Pai: não declarado Queixa: A menor mora com sua mãe, irmãos e avó. Está regularmente matriculada no segundo ano do Ensino Fundamental. A mãe relata que a filha apresenta dificuldade de aprendizagem, distrai facilmente. Apresentou dificuldades na alfabetização com a professora que era a regente no início do ano, quando houve a substituição para outra professora ela começou a desenvolver e aprendeu o alfabeto. Com o acontecimento das aulas em Reanp, ela não desenvolveu mais pois não tem um acompanhamento pedagógico. A menor nunca foi assumida a paternidade, portanto não tem contato o pai. A família é bem conflituosa, a menor presencia muitas brigas e xingamento no ambiente familiar. A mãe é arrimo da família, é analfabeta funcional. Ao aplicar os teste de leitura, ela só reconhece o alfabeto e ainda confunde algumas letras, não identifica o que é vogal ou consoante. É copista com letras bastão. Em matemática ela reconhece os números até dez, faz pequenas operações sendo elas concretas. Reconhece os membros familiares e o papel de cada um dentro da família. Demonstra desejo de aprender, mas cansa facilmente. ANANMENESE A menor nasceu de um relacionamento extra- conjugal. A mãe é solteira, envolveu em um relacionamento íntimo com o pai da menor que é casado e era seu vizinho. O 4 relacionamento nunca firmou por ele ter uma família, mas neste relacionamento gerou dois filhos um mais velho e a menor. Devido esse relacionamento não ser oficializado a mãe deve alguns desentendimentos com a família e com isto o pai da menor mudou-se para outro município não lhe dando assistência e nem ao menos a registrando assumindo a paternidade. Onde reside a família da menor é um pequeno espaço dividido para duas famílias, portanto existem muitos conflitos que acaba afetando a menor. Ela ainda não está alfabetizada, pois quando iniciou o processo de alfabetização veio a pandemia e aulas foram suspensas. A mãe não tem condições de acompanhar nas atividades pois é analfabeta funcional. Os irmãos não demonstram interesse, portanto a criança se encontra sem suporte pedagógico. Nas atividades com jogos ela se interessa em aprender, gosta de atividades feitas com o material dourado e o compreende. Histórico Clínico A gestação ocorreu normal, nasceu nas 39 semanas, parto normal. A mãe tinha complicações renais, mas não afetou na gestação. Aparentemente a criança é saudável, não houve nenhuma queixa clínica. A criança tem uma vida normal para sua idade, gosta de brincar, correr, etc Tem uma alimentação normal, gosta de verduras, frutas, carnes e cereais. 5 EOCA. (Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem) Ao apresentar todo o material ela se interessou logo pelo jogo Uno e o jogo de xadrez, lápis caderno, material de escrita, nem observou. Foi logo abrindo o jogo e dizendo como o usaria. Pegou o jogo de xadrez e foi logo olhar na embalagem como se joga. EOCA 6 PROVA DE CONSERVAÇÃO DE MASSA Ela conseguiu perceber a mesma quantidade de massa na forma cilíndrica, mas na variação de formatos, teve dúvidas,quando fez em bolinha, disse ter menos massa. Depis pensou um pouco e viu que era a mesma quantidade. De acordo com as respostas referente a este teste, a menor está no nível dois (2) de desenvolvimento cognitivo. 7 PROVA DE CONSERVAÇÃO DE PESO A princípio interpretou que o formato de salsicha era mais pesado por ser maior que a bolinha. Depois observou a balança e disse que era igual. Nível 2 de desenvolvimento cognitivo. PROVA DE CONSERVAÇÃO DE VOLUME 8 Ela compreendeu que o líquido no copo fino tinha mais quantidade, pois ficava mais alto o volume, trocando o líquido ficava em dúvida. Nível três de conservação cognitiva. PROVA DE CONSERVAÇÃO DE SUPERFÍCIE Todas as respostas foram coerentes, percebeu que se mais espaço fosse ocupado, menos comida teria para vaquinha. Nível de conservação 3. 9 PROVA DE CLASSIFICÃO – Interseção de classes. A criança sobressaiu muito bem. Todas as perguntas feitas foram realizadas de maneira clara e coerente. Identificou a organização por agrupamentos por cores. Nível de conservação 3. 10 PROVA DE SERIAÇÃO (ORDENAR OS BASTONETES) Este teste foi sem sucesso, não conseguiu compreender a regra, menor para o maior. A seriação não foi compreendida, foi dada várias oportunidades, mas não houve compreensão, apenas quando retirei um bastonete da ordem conseguiu perceber de onde tirei. Nível 1 de preservação de série. 11 PROVA DE CONSERVAÇÃO DE COMPRIMENTO Esta foto foi só demonstrativa, pois na aula prática ela havia feito com corrente. Ela compreendeu corretamente todo o percurso a ser feito. Nível 3 de preservação de conservação de comprimento. PROVAS TÉNICAS PROJETIVAS. (DESENHO DA SUA FAMÍLIA) 12 A criança apresentou conhecimento da organização familiar. Percebe-se ai a real ausência do pai. Ele não é incluído, pois ela nem o conhece. Percebe-se no desenho que não há uma hierarquia familiar, ela e o irmão que são filhos do mesmo pai ficaram nas laterais, como se fossem uma sobra, filhos não desejados por uma das partes. Seu desenho ficou no alto da folha, isto representanecessidade de aprendizagem, mas demonstra ser bem retraída através do tamanho do desenho por ela criado. PROVAS TÉNICAS PROJETIVAS ( desenho da casa onde mora). 13 A menor desenhou sua casa tal e qual ela é, até a cor é a mesma. São duas moradas e um espaço em cima da laje. Ela projetou corretamente. Este ela usou toda a altura da folha. O desenho foi recuado a esquerda, demonstra que a criança se encontra ligada ao passado por momentos bons ou ruins, não projeta o futuro. Sua casa tem apenas duas janelas de frente e uma porta de entrada. Está um pouco inclinada demonstrando um desiquilíbrio familiar. Nível 3 em sua projeção. PROVAS TÉNICAS PROJETIVAS. (DESENHO DA SUA SALA DE AULA) Demonstrou perfeccionismo ao desenvolver o desenho. Tentou fazer de forma a ficar mais idêntica possível da sua realidade. Relatou que fez poucas carteiras pois tinha só uns oito alunos na turma. Seu desenho feito ao lado esquerdo da folha, demonstra que seus pensamentos giram em função do passado, não vive o presente e nem projeta o futuro. A aluna ainda não sabe usar corretamente a régua. 14 AVALIAÇÃO DE ESCRITA E LEITURA. A criança ainda não reconhece sílabas, somente o alfabeto e ainda se perde em algumas letrinhas, os fonemas ainda não são reconhecidos, se encontra ainda no pré-silábico. A mãe fica nervosa, não tem paciência em auxiliar. As atividades que a escola envia está em nível de criança que já sabe ler e escrever, portanto é inviável. A mãe vai se compromete em colocar a criança em aula de acompanhamento escolar. AVALIAÇÃO DE CÁLCULOS MATEMÁTICOS Foi utilizado o matéria dourado, a criança desenvolveu todos os cálculos orais propostos, fez agrupamentos, pequenas divisões, conceito de números pares e números ímpares. Apresenta facilidade de compreensão nos cálculos matemáticos. CONCLUSÃO / PROGNÓSTICO Após várias sessões de atendimento, avaliações e testes aplicados, conversas com 15 responsáveis e com a aluna, algumas hipóteses são levantadas no intuito de entender os motivos da não alfabetização. As justificativas são diversas, mas no ponto de vista pedagógico a aluna é um pouco imatura, com pouco estímulo, sem perspectiva de projeção para o futuro. O que foi possível perceber, de acordo com informações dos familiares, é que esta aluna frequentou a escola por pouco tempo, não teve uma boa base na educação infantil. Ao iniciar o ano escolar, houve a interrupção das aulas presenciais devido ao Covid-19. Como a sua família é de baixa instrução isto a dificulta a desenvolver o conhecimento pedagógico. Após algumas avaliações, foi possível propor atividades com níveis de acordo com o seu desenvolvimento, sendo realizadas de maneira favorável, com boa assimilação e evolução, apresentando resultados melhores a cada ação desenvolvida. Seu desenvolvimento em geral é o intermediário, pois houve oscilação de níveis entre os testes aplicados. A maior demanda no momento é a não alfabetização. Possui outras habilidades, como raciocínio lógico, organização, vocabulário correto, conhecimentos gerais, valores morais e éticos e consciência quanto a sua lucidez e existência. Apesar da negação conforme citado anteriormente (quando diz que não sabe ler), tem desejo de aprender. Avaliações foram aplicadas durante trinta dias, com bastante critério e observação, as imagens foram feitas após a aplicação de todos testes para fins de registro acadêmicos. A aluna necessita de um acompanhamento constante para vencer as dificuldades devido alguns bloqueios familiares. Sugiro a intervenção de um trabalho não apenas com o psicopedagogo, mas também um acompanhamento com um psicólogo. 16 DEVOLUTIVA DA INTERVENÇÃO Após realizar todos os testes avaliativos, foi possível fazer algumas observações, dentre elas quando perguntada porque apresenta dificuldades ela disse que tem preguiça de estudar. Percebe-se então que a autoestima dela precisa ser melhorada. Como a criança não tem um acompanhamento em casa, a mãe relata que o pouco que consegue ensinar ela perde a paciência e grita com a criança. Este ato a deixa mais complexada achando- se incapaz de aprender. Para alcançar os objetivos serão necessárias medidas eficazes, tais como mudança de comportamento dos familiares com relação ao acompanhamento escolar neste REANP (quando for possível), estabelecer rotina com horário e local determinados para estudar com ajuda especializada, as cobranças deverão ser evitadas, sendo substituídas por incentivos, elogios e apoio. É fundamental e a participação da família neste processo, de forma positiva, se mostrando parceira para que o menor se sinta acolhido em suas dificuldades. 17 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Manual Prático do Diagnóstico Psicopedagógico Clinica. Sampaio, Simaia - 7ª ed. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2018 Como Interpretar os Desenhos das Crianças. Bédard, Nicole – 1ª ed. São Paulo: Editora Ísis, 2013 Psicopedagogia Clínica – Uma visão Diagnóstica dos Problemas de Aprendizagem Escolar. Weiss, Maria Lúcia Lemme – 14ª ed. Rio de Janeiro 2007: Ed. Lamparina. 2ª reimpressão. Diagnóstico e Tratamento dos Problemas de Aprendizagem. Pain, Sara – 4ª ed. Porto Alegre 1992 Ed. Artes Médicas. O Diagnóstico Operatório na Pratica Psicopedagógica. Parte I Visca, Jorge – 2ª ed. 2016. São José dos Campos: Ed. Pulso 2008
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