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PROFESSORA CONTEUDISTA: Márcia Selivon 
 
 
Caro aluno, 
 
 
Professora da UNIP desde 2005, ministro diversas disciplinas na área de 
Língua Portuguesa no curso de Letras e de Produção de Textos em outros 
cursos. Atualmente também ministro aulas no curso de Letras a Distância. 
Sou mestra e doutora na área de Filologia e Língua Portuguesa pela 
Universidade de São Paulo, onde cursei a graduação. Antes de iniciar meu 
trabalho na universidade, ministrei durante vários anos aulas de produção textual 
para alunos do Ensino Médio e participei de várias correções de redação em 
vestibulares e em concursos públicos. 
 Espero que você aproveite bastante este curso e procure refletir sobre o 
papel do professor em sala de aula. 
 
Abraços, 
Profa. Márcia Selivon 
 
 
 
 
GGGÊNEROS DISCURSIVOS: REFLEXÕES E ENSINO 
 
 
Os conteúdos propostos nesta disciplina, GÊNEROS DISCURSIVOS: 
REFLEXÃO E ENSINO, foram elaborados para incentivar suas reflexões sobre 
a função dos gêneros discursivos no contexto escolar, tanto nas atividades de 
leitura quanto da escrita. Ao longo das explanações, há lembretes, observações 
e sugestões de pesquisa para você ampliar o seu conhecimento. 
 Você deve relacionar a sua experiência escolar e o papel do professor com 
as diversas teorias dos gêneros discursivos. Participe também do fórum, 
apresentando suas opiniões sobre o tema proposto no ambiente AVA. 
 Assim, você vai aprimorar seus conhecimentos sobre as práticas didático-
pedagógicas a serem desenvolvidas no ambiente escolar. 
 
 
 Bom estudo! 
 
 Profa Márcia Selivon 
 
: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sumário 
 
UNIDADE I: TEORIAS : GÊNEROS DISCURSIVOS 
1.1 Gêneros na Antiguidade Clássica 
1.2 Gênero Discursivo e Gênero Textual 
1.3 Gêneros de Discurso: forma e função 
1.4 Gêneros Discursivos e Tecnologia 
1.5 Gêneros Discursivos e Cidadania 
 
 
UNIDADE II: GÊNEROS DISCURSIVOS E ENSINO 
2.1 Gêneros Discursivos e PCN 
2.2 O professor e as novas tecnologias 
2.3 Práticas Didáticas 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 UNIDADE I 
TEORIAS : GÊNEROS DISCURSIVOS 
 
1.1 Gêneros na Antiguidade Clássica 
 
Vamos iniciar nossas reflexões sobre gêneros discursivos remontando à 
antiga Grécia. Aristóteles e Platão já apresentavam reflexões sobre os gêneros. 
Na literatura, havia o gênero lírico, épico, dramático, trágico, cômico. 
 
Os gêneros oratórios distinguiam-se quanto ao papel cumprido pelo 
auditório a quem se dirigia o discurso. Os gêneros oratórios tais como os 
definiam os antigos – gênero deliberativo, judiciário, epidítico -, correspondiam 
respectivamente, a auditórios que estavam deliberando, julgando ou sendo 
espectadores durante o discurso. 
 
Aristóteles classificou os três gêneros do discurso: o judiciário, o 
deliberativo e o epidítico. Esses gêneros podem ser visualizados no quadro de 
Mosca (2004, p. 32): 
 
 
 
Finalidade 
 
Tempo 
 
Categoria 
 
Auditório 
 
Avaliação 
 
Argum.tipo 
 Judiciário 
 
Acusar/ 
 
Passado 
 
Ética 
 
juiz/jurados 
 
justo/ 
 
Entimema 
 
 
 
defender 
 
 
 
 
 
 
 
injusto 
 
(dedutivo) 
 
Deliberativo 
 
Aconselhar/ 
 
Futuro 
 
Epistêmica 
 
assembleia 
 
útil/ 
 
exemplo 
 
 
 
desaconselhar 
 
 
 
 
 
 
 
prejudicial 
 
(indutivo) 
 
Epidítico 
 
Elogiar/ 
 
Presente 
 
Estética 
 
espectador 
 
belo/feio 
 
amplificação 
 
 
 
Censurar 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Para Aristóteles, o orador pretende atingir, conforme o gênero do 
discurso, finalidades diferentes: no deliberativo, aconselhando o útil, ou seja, o 
melhor; no judiciário, reivindicando o justo; no epidítico, tratando do elogio ou da 
censura. 
 
A divisão dos discursos em gêneros se fundamenta na 
atitude que o auditório assume em relação à questão 
discutida, depois de ouvido o discurso. De fato, ou o 
auditório apenas aprecia o discurso, gosta ou não (gênero 
 
laudatório) ou delibera através de um voto (gênero político) 
ou julga através de uma sentença (gênero judiciário) 
(TRINGALI, 1988, p.31). 
 . 
 
De acordo com Tringali (1988), no gênero epidítico, procura-se criar uma 
comunhão em torno de certos valores reconhecidos. Por isso será praticado de 
preferência por aqueles que, numa sociedade, defendem os valores tradicionais, 
os valores aceitos, e não os valores revolucionários, os valores novos que 
suscitam polêmicas . 
 
Aristóteles, ao refletir sobre uma aplicação específica da oratória 
deliberativa, considerada do bom e do útil, ensinava que o orador precisa mostrar 
que algo é mais ou menos importante e vantajoso e, ainda, que é possível de 
obter. Essa obtenção está, portanto, projetada no futuro. 
 
O discurso judiciário acusa ou defende, tem como valores o justo e o 
injusto. O auditório convertido em juiz ou condena ou absolve, pois há sempre o 
réu declarado culpado ou inocente. Esse gênero de discurso volta-se para um 
fato passado, pois só se absolve ou acusa alguém de um fato passado. 
 
<Observação início > 
 
Os antigos retóricos já advertiam que, em um mesmo discurso, os gêneros 
se misturavam. Na prática, não havia um discurso “puro”, só epidítico, judiciário 
ou deliberativo. Convinha, entretanto, saber qual era o gênero predominante. 
 
<Observação fim> 
 
 
 
 
 
 
1.2 Gênero discursivo e gênero textual 
 
 
Vários estudiosos têm-se dedicado ao tema gênero. Observa-se, contudo, 
certo desacordo, na denominação, entre gênero discursivo e gênero textual. 
 
Um dos primeiros estudiosos a refletir sobre os gêneros, Bakhtin afirma 
que “cada enunciado particular é individual, mas cada campo de utilização da 
língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, os quais 
denominamos gêneros do discurso” (BAKHTIN, 2003, p. 262). Nessa obra, 
Bakhtin menciona gênero de discurso ao abordar o diálogo do cotidiano, o relato 
do dia a dia, os gêneros literários, as saudações cotidianas etc. Nota-se que, 
nesses gêneros, ele considera, além da temática e estilo, a forma composicional 
de produção. 
 
<Lembrete início> 
 
Bakhtin destaca três importantes elementos nos gêneros discursivos: 
a) forma composicional 
b) temática 
c) estilo 
 
<Lembrete fim > 
 
Bakhtin trata ainda de gêneros discursivos simples (primários) e de 
secundários (complexos). Os complexos seriam os romances, dramas, 
pesquisas científicas etc. Os gêneros complexos “surgem nas condições de um 
convívio cultural mais complexo e relativamente muito desenvolvido e 
organizado (BAKHTIN, 2003, p. 263). 
 
No processo de formação, os gêneros complexos incorporam e 
reelaboram gêneros primários (simples). O autor cita como exemplo um diálogo 
cotidiano e uma carta, que são incorporados ao enunciado secundário 
(complexo) romance e que, por isso, perdem o estatuto de texto da vida 
cotidiana. 
 
 
Para Bakhtin, portanto, a noção de gênero relaciona-se à esfera 
discursiva em que prevalece a troca verbal interativa entre sujeitos, 
considerando as relações dialógicas. Por discurso, entende-se a atividade 
comunicativa que produz efeitos de sentido entre interlocutores nas suas 
relações interacionais. O discurso se manifesta linguisticamente por meio de 
textos. É por meio do texto que se pode entender o funcionamento do discurso. 
 
Assim, no ponto de vista de Bakhtin, os discursos são produzidos de 
acordo com as diferentes esferas de atividade do homem. “Em cada campo 
existem e são empregados gêneros que correspondem às condições específicas 
de dado campo” (BAKHTIN, 2003, p. 266). 
 
 
A riqueza e a diversidade dos gêneros de discurso são 
infinitas porque são inesgotáveis as possibilidades da multiforme 
atividade humana e porque em cada campo dessa atividade é 
integral o repertório de gêneros do discurso, que cresce e se 
diferencia à medida que se desenvolve e se complexifica [em] um 
determinado campo. (BAKHTIN,2003, p. 262). 
 
 
<Observação início> 
Bronckart (1999) considera que a terminologia de Bakhtin é muito 
flutuante devido à evolução interna de sua obra e também sem dúvida a 
problemas de tradução. Os gêneros são mais frequentemente tratados como 
gêneros do discurso mas, às vezes, também como gêneros de texto. 
<Observação fim> 
 
 
 
 
Agora pense nas profissões a seguir e nos gêneros que cada uma delas utiliza: 
 
a) Quais são os textos que um publicitário utiliza no dia a dia? 
 
b) Quais são os textos que um engenheiro usa em seu trabalho? 
 c) Quais são os textos que um advogado utiliza em sua atividade? 
 
Você pode notar que cada atividade apresenta diferentes textos, de 
acordo com a finalidade de cada uma delas. Cada um desses campos exige uma 
forma específica de uso da linguagem, um gênero diferente de discurso. Note 
também que há um número ilimitado de produções textuais mas todas 
apresentam uma organização própria e específica. Assim, os gêneros variam 
conforme se diversificam as atividades humanas e, além disso, facilitam a vida 
em sociedade. 
 
<Lembrete> início 
Como você notou, para Bakhtin, não há texto fora do discurso. Todo e 
qualquer texto nasce em situação de prática discursiva . 
<Lembrete> fim 
 
 Nessa perspectiva, como escolher o gênero adequado à situação? 
Bakhtin explica que essa escolha é determinada pela especificidade de uma 
dada esfera de comunicação e das intenções de quem elabora o discurso. 
 
Brandão reflete sobre as ideias de Bakhtin, enfatizando aspectos que 
devem ser levados em consideração nas práticas pedagógicas de leitura e de 
produção textual. 
 
Enquanto conjunto de traços marcados pela regularidade, 
pela repetibilidade, o gênero é relativamente estável, mas essa 
estabilidade é constantemente ameaçada por pontos de fuga, por 
forças que atuam sobre as coerções genéricas. Em determinados 
gêneros, essa tensão se faz marcar de maneira mais acentuada 
que em outros (BRANDÃO, 2004,p.14). 
 
A lista de gêneros abaixo está baseada em Brandão (2004 ) . Observe a 
noção de estabilidade que cada um deles apresenta: 
 
 
a) Exemplos de gêneros composicionais sobre os quais há forte controle: 
cartas comerciais, requerimento, textos cartoriais e administrativos. 
 
b) Um jornal televisionado, uma reportagem, um guia de viagem permitem 
desvios, recursos a estratégias mais originais. Por exemplo, um guia de 
viagem pode apresentar-se por meio de uma narrativa de aventuras ou 
um diálogo entre amigos; 
 
c) Certos tipos de anúncios publicitários, letras de música, textos literários 
constituem gêneros que provocam rupturas em relação ao esperado, 
 
Veja a seguir as reflexões de Brandão sobre o estilo coletivo e o estilo 
individual: 
 
 
O professor tem que estar atento a essa dupla face que o 
gênero apresenta: de um lado forças de concentração atuando ao 
lado de forças de expansão. Pois é a concentração que vai 
garantir, pela estabilidade do sistema, a economia nas relações 
de comunicação e a intercompreensão entre os falantes, e é a 
expansão que vai possibilitar a variabilidade desse sistema com a 
criação, a inovação e consequente inscrição do sujeito na 
linguagem com seu idioleto, seu estilo. No ensino-aprendizagem 
da língua, deve- se estar bastante atento a esse embate que se 
trava na arena do discurso: de um lado, o que constitui a 
genericidade – o estilo coletivo – de uma atividade de fala numa 
determinada esfera, de outro, o que constitui a marca individual 
do falante – o estilo individual, com a introdução da problemática 
da autoria. (BRANDÃO, 2004, p.14 – 15). 
 
 
 
 
 
 
 
 
1.3 Gêneros de discurso: forma e função 
 
 
 Agora você será convidado a refletir sobre o posicionamento de alguns 
autores sobre a forma e a função dos gêneros discursivos. 
 
Segundo Marcuschi (2009, p.150), “todos os gêneros têm uma forma e 
uma função, bem como um estilo e um conteúdo, mas sua determinação se dá 
basicamente pela função e não pela forma”. Marcuschi utiliza a terminologia 
gênero textual em detrimento de gênero discursivo. Podem-se relacionar essas 
reflexões à perspectiva teórica de Bakhtin, ou seja, privilegia-se mais a função 
do gênero: “Quando dominamos um gênero textual, não dominamos uma forma 
linguística e sim uma forma de realizar linguisticamente objetivos específicos em 
situações sociais particulares” ( BAKHTIN,2003, p. 154). 
 
É comum que no lugar de uma determinada prática social surjam gêneros 
pertencentes a outros campos, com o intuito de produzir determinados efeitos de 
sentido. Para que esse efeito ocorra, é necessário que os seus ouvintes/leitores 
tenham conhecimento prévio dos gêneros em questão. É a intergenericidade, 
denominada também por Marcuschi (2002) de configuração híbrida, ou seja, um 
gênero que exerce a função de outro, o que mostra como os gêneros são 
maleáveis e com grande capacidade de adaptação. Observe a crítica de Josias 
de Souza no artigo de opinião em forma de poema (publicado na folha de 
S.Paulo, em 4 de outubro de 1999). Essa crítica também é intertextual, pois nos 
remete ao poema E agora José, de Carlos Drummond de Andrade: 
 
 
 Um novo José 
 
 Calma, José. 
A festa não recomeçou, 
a luz não acendeu, 
a noite não esquentou, 
o Malan não amoleceu. 
Mas se voltar a pergunta: 
e agora, José? 
Diga: ora, Drummond, 
agora Camdessus. 
Continua sem mulher, 
continua sem discurso, 
 
continua sem carinho, 
ainda não pode beber, 
ainda não pode fumar, 
cuspir ainda não pode, 
a noite ainda é fria, 
o dia ainda não veio, 
o riso ainda não veio, 
não veio ainda a utopia, 
o Malan tem miopia, 
mas nem tudo acabou, 
nem tudo fugiu, 
nem tudo mofou. 
Se voltar a pergunta: 
e agora, José? 
Diga: ora, Drummond, 
agora FMI. 
Se você gritasse, 
se você gemesse, 
se você dormisse, 
se você cansasse, 
se você morresse... 
O Malan nada faria, 
mas já há quem faça. 
Ainda só, no escuro, 
qual bicho-do-mato, 
ainda sem teogonia, 
ainda sem parede nua, 
para se encostar, 
ainda sem cavalo preto 
que fuja a galope, 
você ainda marcha, José! 
Se voltar a pergunta: 
José, para onde? 
Diga: ora, Drummond, 
por que tanta dúvida? 
Elementar, elementar. 
Sigo pra Washington. 
E, por favor, poeta, 
não me chame de José. 
Me chame Joseph. 
(Disponível em : <www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao> Acesso em 
12.mai.2015) 
 
 
 
 
Na perspectiva de Bazerman (2006), os gêneros textuais são tipos de 
texto que as pessoas reconhecem como utilizados no dia a dia. Os gêneros 
surgem nos processos sociais em que as pessoas se organizam para realizar 
 
atividades com objetivos práticos. Portanto, linguagem é ação, ou seja, por meio 
dela pode-se interagir no espaço social, utilizando diversos textos .O autor 
afirma que os gêneros possibilitam todas essas ações. Para tanto, os vários 
textos se organizam em conjuntos de gêneros dentro de sistemas de gêneros, 
os quais fazem parte dos sistemas de atividades humanas. Desta forma, é por 
meio dos textos produzidos no dia a dia que agimos em sociedade, e essas 
ações são tipificadas pelas estruturas genéricas que orientam as produções 
textuais : 
 
 
Quando começar a escrever naqueles gêneros, você 
começará a pensar de maneira ativa, produzindo enunciados 
pertencentes à quela forma de vida, e também adotará todos os 
sentimentos, esperanças, incertezas e ansiedades relacionadas 
ao ato de tornar-se uma presença visível naquele mundo, 
participante das atividades disponíveis. Além disso, você passa a 
desenvolver e a se comprometer com a identidade que você está 
construindo dentro daquele domínio. Ademais, a extensão 
particular de sentimentos, impulsos e posições que você adota ao 
orientar-se para aquele mundo desenvolve-se na interação com 
as pessoas e atividades dentro daquele mundo. Dessa maneira, 
os gêneros moldam as intenções , os motivos, as expectativas, a 
atenção, a percepção, oafeto e o quadro interpretativo. O gênero 
traz para o momento local as ideias, os conhecimentos, as 
instituições e as estruturas mais geralmente disponíveis que 
reconhecemos como centrais à sua atividade. (BAZERMAN, 
2006, p.102) 
 
 
<Lembrete início> 
 
Bazerman considera que os sistemas de gêneros organizam as atividades 
sociais ao serem utilizados em contextos específicos. 
 
<Lembrete fim> 
 
 
 
1.4 Gêneros discursivos e tecnologia 
 
Marcuschi (2009) afirma que o estudo da comunicação virtual na 
perspectiva dos gêneros é de grande interesse porque a interação online torna 
mais rápida a evolução dos gêneros, tendo em vista a natureza do meio 
tecnológico em que ela se insere e os modos como se desenvolve. Esse meio 
proporciona, portanto, uma grande interação participativa. O autor considera a 
penetração e o papel da tecnologia digital na sociedade contemporânea e as 
novas formas comunicativas , sugerindo que se deva pensar essa tecnologia 
em uma perspectiva mais histórica e social e menos tecnicista. 
 Marcuschi ressalta também o caráter multissemiótico dos textos na 
atualidade: 
 
[...] a Internet e todos os gêneros a ela ligados são eventos 
textuais fundamentalmente baseados na escrita. Na Internet, a 
escrita continua essencial apesar da integração de imagens e de 
som. Por outro lado, a ideia que hoje prolifera quanto a haver 
uma “fala por escrito” deve ser vista com cautela, pois o que se 
nota é um hibridismo mais acentuado, algo nunca visto antes, 
inclusive com o acúmulo de representações semióticas 
(MARCUSCHI, 2009, p.9). 
 
Em relação ao texto multissemiótico, são relevantes os estudos realizados 
na perspectiva da Análise de Discurso Crítica, que você terá a oportunidade de 
verificar com mais detalhes ao final do nosso curso. Ormundo e Wetter (2013) 
ressaltam que essa abordagem teórica fornece elementos para investigar as 
práticas da linguagem e a produção de sentido na sociedade pós-moderna, 
tecnológica e globalizada. As autoras destacam os estudos de Fairclough, que 
atribui grande importância à compreensão da linguagem no contexto do mundo 
mundo globalizado. Para ele, o discurso é uma forma de prática social que se 
realiza total ou parcialmente por intermédio de gêneros textuais específicos. 
 
Na perspectiva da Análise de Discurso Crítica, considera-se que não se 
podem isolar elementos não-verbais que integram gêneros textuais orais e 
escritos. Portanto, a utilização da modalidade visual nas práticas de escrita tem 
 
evidenciado os textos multimodais, ou seja, aqueles que apresentam duas ou 
mais modalidades semióticas em sua elaboração. 
 
1.5 Gêneros discursivos, educação e cidadania 
 
Vamos agora relacionar alguns aspectos das teorias apresentadas com 
os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) cuja função é orientar a coerência 
dos investimentos no sistema educacional, compartilhando pesquisas e 
discussões por todo o território nacional. Em virtude da heterogeneidade 
brasileira, os PCN configuram uma proposta flexível, e os professores e as 
autoridades governamentais devem adaptá-los às diversas regiões (embora isso 
nem sempre ocorra). Não se trata, portanto, de um modelo curricular 
homogêneo, que não levaria em conta a diversidade sociocultural. 
O processo de elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais teve 
início a partir de propostas curriculares de Estados e Municípios brasileiros, da 
análise realizada pela Fundação Carlos Chagas sobre os currículos oficiais e das 
informações a respeito do ensino em outros países. A partir disso, elaborou-se 
uma proposta inicial que passou por uma discussão em âmbito nacional, em 
1995 e 1996, da qual participaram docentes de universidades públicas e 
particulares e técnicos de instituições de várias áreas de conhecimento. 
Os gêneros discursivos são importantes para o aprimoramento da análise 
crítica e para a participação responsável do cidadão em relação aos temas 
transversais propostos pelos PCN (Ética, Pluralidade Cultural, Meio Ambiente, 
Saúde e Orientação Sexual). O aluno poderá ter contato com os diversos textos 
que circulam no dia a dia, refletindo sobre os valores dominantes e minimizando 
qualquer forma de preconceito. 
 
 
Veja a relação entre interdisciplinaridade e transversalidade abordada nos 
PCN: 
Na prática pedagógica, interdisciplinaridade e 
transversalidade alimentam-se mutuamente, pois o tratamento 
das questões trazidas pelos Temas Transversais expõe as inter-
relações entre os objetos de conhecimento, de forma que não é 
 
possível fazer um trabalho pautado na transversalidade tomando-
se uma perspectiva disciplinar rígida. A transversalidade promove 
uma compreensão abrangente dos diferentes objetos de 
conhecimento, bem como a percepção da implicação do sujeito 
de conhecimento na sua produção, supe rando a dicotomia entre 
ambos. Por essa mesma via, a transversalidade abre espaço para 
a inclusão de saberes extra-escolares, possibilitando a referência 
a sistemas de significado construídos na realidade dos alunos. Os 
Temas Transversais, portanto, dão sentido social a 
procedimentos e conceitos próprios das áreas convencionais, 
superando assim o aprender apenas pela necessidade escolar. 
(PCN - Temas transversais – p.31) 
 
Dentre as várias propostas dos PCN, enfatizam-se a ética e a identidade, 
portanto, uma determinada área de estudo deve contribuir para a construção da 
identidade pessoal e social dos educandos. Nesse sentido, a construção das 
identidades considera a diversidade social, rejeitando qualquer forma de 
preconceito, discriminação e exclusão : 
 
Frente às imposições de uma economia e de uma 
rede de informações cada vez mais globalizadas, urge 
assegurar a preservação das identidades territoriais e 
culturais, não como sobrevivências anacrônicas, mas 
como realidades sociais constitutivas de sentido vivencial 
para os diversos grupos humanos. Nesse sentido, a 
Geografia, a Antropologia e também a História têm um 
significativo papel a desempenhar na formação dos futuros 
cidadãos, entendendo-se estes quer como cidadãos de 
uma nação, quer como cidadãos do mundo. Em um mundo 
globalizado, em que culturas e processos políticos e 
econômicos parecem fugir ao controle e ao alcance, a 
construção de identidades solidamente alicerçadas em 
conhecimentos originados nas Ciências Humanas e na 
Filosofia constitui condição imprescindível ao 
prosseguimento da vida social, evitando-se os riscos da 
fragmentação ou da perda de referências existenciais, 
responsável por variadas formas de reação violentas e 
destrutivas ( PCN–Ensino Médio, p.13) 
 
Vejamos, a seguir, exemplos de alguns dos objetivos dos PCN em relação 
ao Ensino Fundamental: 
 
 
compreender a cidadania como participação social e 
política, assim como exercício de direitos e deveres 
políticos, civis e sociais, adotando, no dia-a-dia, atitudes 
de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, 
respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito; 
 
 
 
• posicionar-se de maneira crítica, responsável e 
construtiva nas diferentes situações sociais, utilizando o 
diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar 
decisões coletivas; 
• 
conhecer características fundamentais do Brasil nas 
dimensões sociais, materiais e culturais como meio para 
construir progressivamentea noção de identidade nacional 
e pessoal e o sentimento de pertinência ao País; 
 
 
• conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio 
sociocultural brasileiro, bem como aspectos socioculturais 
de outros povos e nações, posicionando-se contra 
qualquer discriminação baseada em diferenças culturais, 
de classe social, de crenças, de sexo, de etnia ou outras 
características individuais e sociais; 
 
 
perceber-se integrante, dependente e agente 
transformador do ambiente, identificando seus elementos 
e as interações PCN- Ensino Fundamental, p.5) 
 
 
 
Considerando esses aspectos mencionados- cidadania e construção de 
identidades – ,nota-se que o estudo dos gêneros discursivos pode contribuir de 
forma efetiva na sociedade, indo ao encontro das considerações de Bazerman: 
 
Os gêneros e os sistemas de atividade dos quais 
fazem parte fornecem as formas de vida dentro das quais 
construímos nossas vidas, isso é tão verdadeiro em 
nossos sistemas de criatividade, de comunidade, de lazer 
e de intimidade, como em nossos sistemas de imposto – 
cada um mediado através de formas linguísticas, ao lado 
de outros aspectos materiais e corporificados que fazem 
parte das interações (BAZERMAN, 2006, p.104). 
 
 
Perceba também como as teorias propostas por Bakhtin, que sugerem 
pensar a língua em um contexto enunciativo concreto, fundamentam parte dos 
PCN. Nas práticas pedagógicas, o aluno deve observar o funcionamento da 
língua a partir dos enunciados que ele é capaz de produzir: 
 
 
Todo texto se organiza dentro de um determinado gênero. 
Os vários gêneros existentes, por sua vez, constituem formas 
relativamente estáveis de enunciados, disponíveis na cultura, 
caracterizados por três elementos: conteúdo temático, estilo e 
construção composicional. Pode-se ainda afirmar que a noção de 
gêneros refere-se a “famílias” de textos que compartilham 
algumas características comuns, embora heterogêneas, como 
visão geral da ação à qual o texto se articula, tipo de suporte 
comunicativo, extensão, grau de literariedade, por exemplo, 
existindo em número quase ilimitado. Os gêneros são 
determinados historicamente. As intenções comunicativas, como 
parte das condições de produção dos discursos, geram usos 
sociais que determinam os gêneros que darão forma aos textos. 
É por isso que, quando um texto começa com “era uma vez”, 
ninguém duvida de que está diante de um conto, porque todos 
conhecem tal gênero. Diante da expressão “senhoras e 
senhores”, a expectativa é ouvir um pronunciamento público ou 
uma apresentação de espetáculo, pois sabe-se que nesses 
gêneros o texto, inequivocamente, tem essa fórmula inicial. Do 
mesmo modo, pode-se reconhecer outros gêneros como cartas, 
reportagens, anúncios, (PCN-Língua Portuguesa, p.21) 
 
 
 
 
<Saiba mais início> 
Para ampliar seus conhecimentos em relação aos Parâmetros Curriculares 
Nacionais, pesquise no site www.mec.gov.br 
<Saiba mais fim> 
 
 
 
 
 
<Resumo início> 
Nesta unidade apresentamos várias teorias relacionadas aos gêneros 
discursivos e o importante papel da contextualização. As reflexões 
demonstraram que algumas dessas teorias em relação aos gêneros discursivos 
fundamentam parte dos PCN , estando de acordo com a concepção das suas 
http://www.mec.gov.br/
 
propostas. Na unidade II vamos fazer mais reflexões sobre gêneros discursivos 
e ensino, além de sugerir algumas práticas pedagógicas que aprimorem a 
competência discursiva dos alunos. 
 <Resumo fim>

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