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PROFESSORA CONTEUDISTA: Márcia Selivon Caro aluno, Professora da UNIP desde 2005, ministro diversas disciplinas na área de Língua Portuguesa no curso de Letras e de Produção de Textos em outros cursos. Atualmente também ministro aulas no curso de Letras a Distância. Sou mestra e doutora na área de Filologia e Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo, onde cursei a graduação. Antes de iniciar meu trabalho na universidade, ministrei durante vários anos aulas de produção textual para alunos do Ensino Médio e participei de várias correções de redação em vestibulares e em concursos públicos. Espero que você aproveite bastante este curso e procure refletir sobre o papel do professor em sala de aula. Abraços, Profa. Márcia Selivon GGGÊNEROS DISCURSIVOS: REFLEXÕES E ENSINO Os conteúdos propostos nesta disciplina, GÊNEROS DISCURSIVOS: REFLEXÃO E ENSINO, foram elaborados para incentivar suas reflexões sobre a função dos gêneros discursivos no contexto escolar, tanto nas atividades de leitura quanto da escrita. Ao longo das explanações, há lembretes, observações e sugestões de pesquisa para você ampliar o seu conhecimento. Você deve relacionar a sua experiência escolar e o papel do professor com as diversas teorias dos gêneros discursivos. Participe também do fórum, apresentando suas opiniões sobre o tema proposto no ambiente AVA. Assim, você vai aprimorar seus conhecimentos sobre as práticas didático- pedagógicas a serem desenvolvidas no ambiente escolar. Bom estudo! Profa Márcia Selivon : Sumário UNIDADE I: TEORIAS : GÊNEROS DISCURSIVOS 1.1 Gêneros na Antiguidade Clássica 1.2 Gênero Discursivo e Gênero Textual 1.3 Gêneros de Discurso: forma e função 1.4 Gêneros Discursivos e Tecnologia 1.5 Gêneros Discursivos e Cidadania UNIDADE II: GÊNEROS DISCURSIVOS E ENSINO 2.1 Gêneros Discursivos e PCN 2.2 O professor e as novas tecnologias 2.3 Práticas Didáticas UNIDADE I TEORIAS : GÊNEROS DISCURSIVOS 1.1 Gêneros na Antiguidade Clássica Vamos iniciar nossas reflexões sobre gêneros discursivos remontando à antiga Grécia. Aristóteles e Platão já apresentavam reflexões sobre os gêneros. Na literatura, havia o gênero lírico, épico, dramático, trágico, cômico. Os gêneros oratórios distinguiam-se quanto ao papel cumprido pelo auditório a quem se dirigia o discurso. Os gêneros oratórios tais como os definiam os antigos – gênero deliberativo, judiciário, epidítico -, correspondiam respectivamente, a auditórios que estavam deliberando, julgando ou sendo espectadores durante o discurso. Aristóteles classificou os três gêneros do discurso: o judiciário, o deliberativo e o epidítico. Esses gêneros podem ser visualizados no quadro de Mosca (2004, p. 32): Finalidade Tempo Categoria Auditório Avaliação Argum.tipo Judiciário Acusar/ Passado Ética juiz/jurados justo/ Entimema defender injusto (dedutivo) Deliberativo Aconselhar/ Futuro Epistêmica assembleia útil/ exemplo desaconselhar prejudicial (indutivo) Epidítico Elogiar/ Presente Estética espectador belo/feio amplificação Censurar Para Aristóteles, o orador pretende atingir, conforme o gênero do discurso, finalidades diferentes: no deliberativo, aconselhando o útil, ou seja, o melhor; no judiciário, reivindicando o justo; no epidítico, tratando do elogio ou da censura. A divisão dos discursos em gêneros se fundamenta na atitude que o auditório assume em relação à questão discutida, depois de ouvido o discurso. De fato, ou o auditório apenas aprecia o discurso, gosta ou não (gênero laudatório) ou delibera através de um voto (gênero político) ou julga através de uma sentença (gênero judiciário) (TRINGALI, 1988, p.31). . De acordo com Tringali (1988), no gênero epidítico, procura-se criar uma comunhão em torno de certos valores reconhecidos. Por isso será praticado de preferência por aqueles que, numa sociedade, defendem os valores tradicionais, os valores aceitos, e não os valores revolucionários, os valores novos que suscitam polêmicas . Aristóteles, ao refletir sobre uma aplicação específica da oratória deliberativa, considerada do bom e do útil, ensinava que o orador precisa mostrar que algo é mais ou menos importante e vantajoso e, ainda, que é possível de obter. Essa obtenção está, portanto, projetada no futuro. O discurso judiciário acusa ou defende, tem como valores o justo e o injusto. O auditório convertido em juiz ou condena ou absolve, pois há sempre o réu declarado culpado ou inocente. Esse gênero de discurso volta-se para um fato passado, pois só se absolve ou acusa alguém de um fato passado. <Observação início > Os antigos retóricos já advertiam que, em um mesmo discurso, os gêneros se misturavam. Na prática, não havia um discurso “puro”, só epidítico, judiciário ou deliberativo. Convinha, entretanto, saber qual era o gênero predominante. <Observação fim> 1.2 Gênero discursivo e gênero textual Vários estudiosos têm-se dedicado ao tema gênero. Observa-se, contudo, certo desacordo, na denominação, entre gênero discursivo e gênero textual. Um dos primeiros estudiosos a refletir sobre os gêneros, Bakhtin afirma que “cada enunciado particular é individual, mas cada campo de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, os quais denominamos gêneros do discurso” (BAKHTIN, 2003, p. 262). Nessa obra, Bakhtin menciona gênero de discurso ao abordar o diálogo do cotidiano, o relato do dia a dia, os gêneros literários, as saudações cotidianas etc. Nota-se que, nesses gêneros, ele considera, além da temática e estilo, a forma composicional de produção. <Lembrete início> Bakhtin destaca três importantes elementos nos gêneros discursivos: a) forma composicional b) temática c) estilo <Lembrete fim > Bakhtin trata ainda de gêneros discursivos simples (primários) e de secundários (complexos). Os complexos seriam os romances, dramas, pesquisas científicas etc. Os gêneros complexos “surgem nas condições de um convívio cultural mais complexo e relativamente muito desenvolvido e organizado (BAKHTIN, 2003, p. 263). No processo de formação, os gêneros complexos incorporam e reelaboram gêneros primários (simples). O autor cita como exemplo um diálogo cotidiano e uma carta, que são incorporados ao enunciado secundário (complexo) romance e que, por isso, perdem o estatuto de texto da vida cotidiana. Para Bakhtin, portanto, a noção de gênero relaciona-se à esfera discursiva em que prevalece a troca verbal interativa entre sujeitos, considerando as relações dialógicas. Por discurso, entende-se a atividade comunicativa que produz efeitos de sentido entre interlocutores nas suas relações interacionais. O discurso se manifesta linguisticamente por meio de textos. É por meio do texto que se pode entender o funcionamento do discurso. Assim, no ponto de vista de Bakhtin, os discursos são produzidos de acordo com as diferentes esferas de atividade do homem. “Em cada campo existem e são empregados gêneros que correspondem às condições específicas de dado campo” (BAKHTIN, 2003, p. 266). A riqueza e a diversidade dos gêneros de discurso são infinitas porque são inesgotáveis as possibilidades da multiforme atividade humana e porque em cada campo dessa atividade é integral o repertório de gêneros do discurso, que cresce e se diferencia à medida que se desenvolve e se complexifica [em] um determinado campo. (BAKHTIN,2003, p. 262). <Observação início> Bronckart (1999) considera que a terminologia de Bakhtin é muito flutuante devido à evolução interna de sua obra e também sem dúvida a problemas de tradução. Os gêneros são mais frequentemente tratados como gêneros do discurso mas, às vezes, também como gêneros de texto. <Observação fim> Agora pense nas profissões a seguir e nos gêneros que cada uma delas utiliza: a) Quais são os textos que um publicitário utiliza no dia a dia? b) Quais são os textos que um engenheiro usa em seu trabalho? c) Quais são os textos que um advogado utiliza em sua atividade? Você pode notar que cada atividade apresenta diferentes textos, de acordo com a finalidade de cada uma delas. Cada um desses campos exige uma forma específica de uso da linguagem, um gênero diferente de discurso. Note também que há um número ilimitado de produções textuais mas todas apresentam uma organização própria e específica. Assim, os gêneros variam conforme se diversificam as atividades humanas e, além disso, facilitam a vida em sociedade. <Lembrete> início Como você notou, para Bakhtin, não há texto fora do discurso. Todo e qualquer texto nasce em situação de prática discursiva . <Lembrete> fim Nessa perspectiva, como escolher o gênero adequado à situação? Bakhtin explica que essa escolha é determinada pela especificidade de uma dada esfera de comunicação e das intenções de quem elabora o discurso. Brandão reflete sobre as ideias de Bakhtin, enfatizando aspectos que devem ser levados em consideração nas práticas pedagógicas de leitura e de produção textual. Enquanto conjunto de traços marcados pela regularidade, pela repetibilidade, o gênero é relativamente estável, mas essa estabilidade é constantemente ameaçada por pontos de fuga, por forças que atuam sobre as coerções genéricas. Em determinados gêneros, essa tensão se faz marcar de maneira mais acentuada que em outros (BRANDÃO, 2004,p.14). A lista de gêneros abaixo está baseada em Brandão (2004 ) . Observe a noção de estabilidade que cada um deles apresenta: a) Exemplos de gêneros composicionais sobre os quais há forte controle: cartas comerciais, requerimento, textos cartoriais e administrativos. b) Um jornal televisionado, uma reportagem, um guia de viagem permitem desvios, recursos a estratégias mais originais. Por exemplo, um guia de viagem pode apresentar-se por meio de uma narrativa de aventuras ou um diálogo entre amigos; c) Certos tipos de anúncios publicitários, letras de música, textos literários constituem gêneros que provocam rupturas em relação ao esperado, Veja a seguir as reflexões de Brandão sobre o estilo coletivo e o estilo individual: O professor tem que estar atento a essa dupla face que o gênero apresenta: de um lado forças de concentração atuando ao lado de forças de expansão. Pois é a concentração que vai garantir, pela estabilidade do sistema, a economia nas relações de comunicação e a intercompreensão entre os falantes, e é a expansão que vai possibilitar a variabilidade desse sistema com a criação, a inovação e consequente inscrição do sujeito na linguagem com seu idioleto, seu estilo. No ensino-aprendizagem da língua, deve- se estar bastante atento a esse embate que se trava na arena do discurso: de um lado, o que constitui a genericidade – o estilo coletivo – de uma atividade de fala numa determinada esfera, de outro, o que constitui a marca individual do falante – o estilo individual, com a introdução da problemática da autoria. (BRANDÃO, 2004, p.14 – 15). 1.3 Gêneros de discurso: forma e função Agora você será convidado a refletir sobre o posicionamento de alguns autores sobre a forma e a função dos gêneros discursivos. Segundo Marcuschi (2009, p.150), “todos os gêneros têm uma forma e uma função, bem como um estilo e um conteúdo, mas sua determinação se dá basicamente pela função e não pela forma”. Marcuschi utiliza a terminologia gênero textual em detrimento de gênero discursivo. Podem-se relacionar essas reflexões à perspectiva teórica de Bakhtin, ou seja, privilegia-se mais a função do gênero: “Quando dominamos um gênero textual, não dominamos uma forma linguística e sim uma forma de realizar linguisticamente objetivos específicos em situações sociais particulares” ( BAKHTIN,2003, p. 154). É comum que no lugar de uma determinada prática social surjam gêneros pertencentes a outros campos, com o intuito de produzir determinados efeitos de sentido. Para que esse efeito ocorra, é necessário que os seus ouvintes/leitores tenham conhecimento prévio dos gêneros em questão. É a intergenericidade, denominada também por Marcuschi (2002) de configuração híbrida, ou seja, um gênero que exerce a função de outro, o que mostra como os gêneros são maleáveis e com grande capacidade de adaptação. Observe a crítica de Josias de Souza no artigo de opinião em forma de poema (publicado na folha de S.Paulo, em 4 de outubro de 1999). Essa crítica também é intertextual, pois nos remete ao poema E agora José, de Carlos Drummond de Andrade: Um novo José Calma, José. A festa não recomeçou, a luz não acendeu, a noite não esquentou, o Malan não amoleceu. Mas se voltar a pergunta: e agora, José? Diga: ora, Drummond, agora Camdessus. Continua sem mulher, continua sem discurso, continua sem carinho, ainda não pode beber, ainda não pode fumar, cuspir ainda não pode, a noite ainda é fria, o dia ainda não veio, o riso ainda não veio, não veio ainda a utopia, o Malan tem miopia, mas nem tudo acabou, nem tudo fugiu, nem tudo mofou. Se voltar a pergunta: e agora, José? Diga: ora, Drummond, agora FMI. Se você gritasse, se você gemesse, se você dormisse, se você cansasse, se você morresse... O Malan nada faria, mas já há quem faça. Ainda só, no escuro, qual bicho-do-mato, ainda sem teogonia, ainda sem parede nua, para se encostar, ainda sem cavalo preto que fuja a galope, você ainda marcha, José! Se voltar a pergunta: José, para onde? Diga: ora, Drummond, por que tanta dúvida? Elementar, elementar. Sigo pra Washington. E, por favor, poeta, não me chame de José. Me chame Joseph. (Disponível em : <www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao> Acesso em 12.mai.2015) Na perspectiva de Bazerman (2006), os gêneros textuais são tipos de texto que as pessoas reconhecem como utilizados no dia a dia. Os gêneros surgem nos processos sociais em que as pessoas se organizam para realizar atividades com objetivos práticos. Portanto, linguagem é ação, ou seja, por meio dela pode-se interagir no espaço social, utilizando diversos textos .O autor afirma que os gêneros possibilitam todas essas ações. Para tanto, os vários textos se organizam em conjuntos de gêneros dentro de sistemas de gêneros, os quais fazem parte dos sistemas de atividades humanas. Desta forma, é por meio dos textos produzidos no dia a dia que agimos em sociedade, e essas ações são tipificadas pelas estruturas genéricas que orientam as produções textuais : Quando começar a escrever naqueles gêneros, você começará a pensar de maneira ativa, produzindo enunciados pertencentes à quela forma de vida, e também adotará todos os sentimentos, esperanças, incertezas e ansiedades relacionadas ao ato de tornar-se uma presença visível naquele mundo, participante das atividades disponíveis. Além disso, você passa a desenvolver e a se comprometer com a identidade que você está construindo dentro daquele domínio. Ademais, a extensão particular de sentimentos, impulsos e posições que você adota ao orientar-se para aquele mundo desenvolve-se na interação com as pessoas e atividades dentro daquele mundo. Dessa maneira, os gêneros moldam as intenções , os motivos, as expectativas, a atenção, a percepção, oafeto e o quadro interpretativo. O gênero traz para o momento local as ideias, os conhecimentos, as instituições e as estruturas mais geralmente disponíveis que reconhecemos como centrais à sua atividade. (BAZERMAN, 2006, p.102) <Lembrete início> Bazerman considera que os sistemas de gêneros organizam as atividades sociais ao serem utilizados em contextos específicos. <Lembrete fim> 1.4 Gêneros discursivos e tecnologia Marcuschi (2009) afirma que o estudo da comunicação virtual na perspectiva dos gêneros é de grande interesse porque a interação online torna mais rápida a evolução dos gêneros, tendo em vista a natureza do meio tecnológico em que ela se insere e os modos como se desenvolve. Esse meio proporciona, portanto, uma grande interação participativa. O autor considera a penetração e o papel da tecnologia digital na sociedade contemporânea e as novas formas comunicativas , sugerindo que se deva pensar essa tecnologia em uma perspectiva mais histórica e social e menos tecnicista. Marcuschi ressalta também o caráter multissemiótico dos textos na atualidade: [...] a Internet e todos os gêneros a ela ligados são eventos textuais fundamentalmente baseados na escrita. Na Internet, a escrita continua essencial apesar da integração de imagens e de som. Por outro lado, a ideia que hoje prolifera quanto a haver uma “fala por escrito” deve ser vista com cautela, pois o que se nota é um hibridismo mais acentuado, algo nunca visto antes, inclusive com o acúmulo de representações semióticas (MARCUSCHI, 2009, p.9). Em relação ao texto multissemiótico, são relevantes os estudos realizados na perspectiva da Análise de Discurso Crítica, que você terá a oportunidade de verificar com mais detalhes ao final do nosso curso. Ormundo e Wetter (2013) ressaltam que essa abordagem teórica fornece elementos para investigar as práticas da linguagem e a produção de sentido na sociedade pós-moderna, tecnológica e globalizada. As autoras destacam os estudos de Fairclough, que atribui grande importância à compreensão da linguagem no contexto do mundo mundo globalizado. Para ele, o discurso é uma forma de prática social que se realiza total ou parcialmente por intermédio de gêneros textuais específicos. Na perspectiva da Análise de Discurso Crítica, considera-se que não se podem isolar elementos não-verbais que integram gêneros textuais orais e escritos. Portanto, a utilização da modalidade visual nas práticas de escrita tem evidenciado os textos multimodais, ou seja, aqueles que apresentam duas ou mais modalidades semióticas em sua elaboração. 1.5 Gêneros discursivos, educação e cidadania Vamos agora relacionar alguns aspectos das teorias apresentadas com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) cuja função é orientar a coerência dos investimentos no sistema educacional, compartilhando pesquisas e discussões por todo o território nacional. Em virtude da heterogeneidade brasileira, os PCN configuram uma proposta flexível, e os professores e as autoridades governamentais devem adaptá-los às diversas regiões (embora isso nem sempre ocorra). Não se trata, portanto, de um modelo curricular homogêneo, que não levaria em conta a diversidade sociocultural. O processo de elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais teve início a partir de propostas curriculares de Estados e Municípios brasileiros, da análise realizada pela Fundação Carlos Chagas sobre os currículos oficiais e das informações a respeito do ensino em outros países. A partir disso, elaborou-se uma proposta inicial que passou por uma discussão em âmbito nacional, em 1995 e 1996, da qual participaram docentes de universidades públicas e particulares e técnicos de instituições de várias áreas de conhecimento. Os gêneros discursivos são importantes para o aprimoramento da análise crítica e para a participação responsável do cidadão em relação aos temas transversais propostos pelos PCN (Ética, Pluralidade Cultural, Meio Ambiente, Saúde e Orientação Sexual). O aluno poderá ter contato com os diversos textos que circulam no dia a dia, refletindo sobre os valores dominantes e minimizando qualquer forma de preconceito. Veja a relação entre interdisciplinaridade e transversalidade abordada nos PCN: Na prática pedagógica, interdisciplinaridade e transversalidade alimentam-se mutuamente, pois o tratamento das questões trazidas pelos Temas Transversais expõe as inter- relações entre os objetos de conhecimento, de forma que não é possível fazer um trabalho pautado na transversalidade tomando- se uma perspectiva disciplinar rígida. A transversalidade promove uma compreensão abrangente dos diferentes objetos de conhecimento, bem como a percepção da implicação do sujeito de conhecimento na sua produção, supe rando a dicotomia entre ambos. Por essa mesma via, a transversalidade abre espaço para a inclusão de saberes extra-escolares, possibilitando a referência a sistemas de significado construídos na realidade dos alunos. Os Temas Transversais, portanto, dão sentido social a procedimentos e conceitos próprios das áreas convencionais, superando assim o aprender apenas pela necessidade escolar. (PCN - Temas transversais – p.31) Dentre as várias propostas dos PCN, enfatizam-se a ética e a identidade, portanto, uma determinada área de estudo deve contribuir para a construção da identidade pessoal e social dos educandos. Nesse sentido, a construção das identidades considera a diversidade social, rejeitando qualquer forma de preconceito, discriminação e exclusão : Frente às imposições de uma economia e de uma rede de informações cada vez mais globalizadas, urge assegurar a preservação das identidades territoriais e culturais, não como sobrevivências anacrônicas, mas como realidades sociais constitutivas de sentido vivencial para os diversos grupos humanos. Nesse sentido, a Geografia, a Antropologia e também a História têm um significativo papel a desempenhar na formação dos futuros cidadãos, entendendo-se estes quer como cidadãos de uma nação, quer como cidadãos do mundo. Em um mundo globalizado, em que culturas e processos políticos e econômicos parecem fugir ao controle e ao alcance, a construção de identidades solidamente alicerçadas em conhecimentos originados nas Ciências Humanas e na Filosofia constitui condição imprescindível ao prosseguimento da vida social, evitando-se os riscos da fragmentação ou da perda de referências existenciais, responsável por variadas formas de reação violentas e destrutivas ( PCN–Ensino Médio, p.13) Vejamos, a seguir, exemplos de alguns dos objetivos dos PCN em relação ao Ensino Fundamental: compreender a cidadania como participação social e política, assim como exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia-a-dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito; • posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar decisões coletivas; • conhecer características fundamentais do Brasil nas dimensões sociais, materiais e culturais como meio para construir progressivamentea noção de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinência ao País; • conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro, bem como aspectos socioculturais de outros povos e nações, posicionando-se contra qualquer discriminação baseada em diferenças culturais, de classe social, de crenças, de sexo, de etnia ou outras características individuais e sociais; perceber-se integrante, dependente e agente transformador do ambiente, identificando seus elementos e as interações PCN- Ensino Fundamental, p.5) Considerando esses aspectos mencionados- cidadania e construção de identidades – ,nota-se que o estudo dos gêneros discursivos pode contribuir de forma efetiva na sociedade, indo ao encontro das considerações de Bazerman: Os gêneros e os sistemas de atividade dos quais fazem parte fornecem as formas de vida dentro das quais construímos nossas vidas, isso é tão verdadeiro em nossos sistemas de criatividade, de comunidade, de lazer e de intimidade, como em nossos sistemas de imposto – cada um mediado através de formas linguísticas, ao lado de outros aspectos materiais e corporificados que fazem parte das interações (BAZERMAN, 2006, p.104). Perceba também como as teorias propostas por Bakhtin, que sugerem pensar a língua em um contexto enunciativo concreto, fundamentam parte dos PCN. Nas práticas pedagógicas, o aluno deve observar o funcionamento da língua a partir dos enunciados que ele é capaz de produzir: Todo texto se organiza dentro de um determinado gênero. Os vários gêneros existentes, por sua vez, constituem formas relativamente estáveis de enunciados, disponíveis na cultura, caracterizados por três elementos: conteúdo temático, estilo e construção composicional. Pode-se ainda afirmar que a noção de gêneros refere-se a “famílias” de textos que compartilham algumas características comuns, embora heterogêneas, como visão geral da ação à qual o texto se articula, tipo de suporte comunicativo, extensão, grau de literariedade, por exemplo, existindo em número quase ilimitado. Os gêneros são determinados historicamente. As intenções comunicativas, como parte das condições de produção dos discursos, geram usos sociais que determinam os gêneros que darão forma aos textos. É por isso que, quando um texto começa com “era uma vez”, ninguém duvida de que está diante de um conto, porque todos conhecem tal gênero. Diante da expressão “senhoras e senhores”, a expectativa é ouvir um pronunciamento público ou uma apresentação de espetáculo, pois sabe-se que nesses gêneros o texto, inequivocamente, tem essa fórmula inicial. Do mesmo modo, pode-se reconhecer outros gêneros como cartas, reportagens, anúncios, (PCN-Língua Portuguesa, p.21) <Saiba mais início> Para ampliar seus conhecimentos em relação aos Parâmetros Curriculares Nacionais, pesquise no site www.mec.gov.br <Saiba mais fim> <Resumo início> Nesta unidade apresentamos várias teorias relacionadas aos gêneros discursivos e o importante papel da contextualização. As reflexões demonstraram que algumas dessas teorias em relação aos gêneros discursivos fundamentam parte dos PCN , estando de acordo com a concepção das suas http://www.mec.gov.br/ propostas. Na unidade II vamos fazer mais reflexões sobre gêneros discursivos e ensino, além de sugerir algumas práticas pedagógicas que aprimorem a competência discursiva dos alunos. <Resumo fim>