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O CASAMENTO NO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

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Art. 7º. A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o
começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família.
 
§1º. Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos
impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração.
 
§2º. O casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante autoridades diplomáticas
ou consulares do país de ambos os nubentes.
§3º. Tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos de invalidade do matrimônio
a lei do primeiro domicílio conjugal.
 
§4º. O regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei de país em que tiverem
os nubentes domicílio, e, se este for diverso, a do primeiro domicílio conjugal.
 
§5º. O estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiro, pode, mediante expressa
anuência do seu cônjuge, requerer ao juiz, no ato de entrega do decreto de
naturalização, se apostile ao mesmo a adoção do regime de comunhão parcial de bens,
respeitados os direitos de terceiros e dada esta opção ao competente registro.
 
§6º. O divórcio realizado no estrangeiro, se um ou ambos os cônjuges forem
brasileiros, só será reconhecido no Brasil depois de 1 (um) ano da data da sentença,
salvo se houver sido antecedida de separação judicial por igual prazo, caso em que a
homologação produzirá efeito imediato, obedecidas as condições estabelecidas para a
eficácia das sentenças estrangeiras no país. O Superior Tribunal de Justiça, na forma de
seu regimento interno, poderá reexaminar, a requerimento do interessado, decisões já
proferidas em pedidos de homologação de sentenças estrangeiras de divórcio de
brasileiros, a fim de que se passem a produzir todos os efeitos legais.
Há duas espécies de casamentos realizados no exterior: casamento consular e o casamento
estrangeiro. Porém, o casamento estrangeiro só possuirá validade quando não contrariar a lei do
Brasil. O artigo 1.544 do Código Civil dispõe que o casamento realizado no exterior deverá ser
registrado no Brasil no período de 180 dias, a contar da data em que um ou ambos os cônjuges
regressarem ao Brasil.
O CASAMENTO NO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
 
Um dos casos mais recorrentes e problemáticos encontra-se no âmbito do
Direito de família, envolvendo brasileiros com estrangeiros. A sua fundamentação
legal está presente na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB).
Ementa- RECURSO ESPECIAL Nº 440.443-RS (2002/0065653-3)
Art. 1.544. O casamento de brasileiro, celebrado no estrangeiro, perante as
respectivas autoridades ou os cônsules brasileiros, deverá ser registrado em cento
e oitenta dias, a contar da volta de um ou de ambos os cônjuges ao Brasil, no
cartório do respectivo domicílio, ou, em sua falta, no 1º Ofício da Capital do Estado
em que passarem a residir.
Art. 32 . Os assentos de nascimento, óbito e de casamento de brasileiros em
país estrangeiro serão considerados autênticos, nos termos da lei do luar
em que forem feitos, legalizadas as certidões pelos cônsules ou quando por
estes tomados, nos termos do regulamento consular.
 
§1º. Os assentos de que trata este artigo serão, porém, transladados 
nos cartórios de 1º Ofício do Distrito Federal, em falta de domicílio conhecido,
quando tiverem de produzir efeito no País, ou, antes, por meio de segunda via que
os cônsules serão obrigados a remeter por intermédio do Ministério das Relações
Exteriores”.
REGISTRO CIVIL E O CASAMENTO NO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
O registro civil de pessoas naturais é o conjunto de atos tendentes a
demonstrar provas seguras do estado das pessoas. Ela fornece os meios
probatórios e garante a publicidade do ato.
A Lei 6.015/73 dispõe sobre registros públicos e regulamenta em seu artigo 32
que os casamentos realizados no exterior devem ser inscritos no cartório de
registro público das pessoas naturais”.
O casamento celebrado no exterior em conformidade com as formalidades legais do Estado em que
foi celebrada, com a lei brasileira, não contendo fraude à lei nacional e, principalmente, não
ofendendo a ordem pública, será reconhecida como válida no Brasil.
A Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça entende que o casamento
realizado no exterior que tenha seguido o rito necessário e condizente com a lei
do país em que foi celebrado, constitui ato jurídico perfeito, ou seja, possui
validade e existência. Dessa forma, a pessoa não poderá casar-se duas vezes,
ainda, que no Brasil ela conste, formalmente, como pessoa solteira.
Assim, depreende-se que o registro não é obrigatório, mas apenas
necessário para produzir publicidade e prova, conforme julgado abaixo:
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/246073/recurso-especial-resp-440443-rs-2002-0065653-3
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/246073/recurso-especial-resp-440443-rs-2002-0065653-3
Falsidade Ideológica
Art. 299. Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia
constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia
ser escrita, com fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade
sobre fato juridicamente relevante:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa, se o documento é público, e
reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa, se o documento é particular.
 
Bigamia
Art. 235. Contrair alguém, sendo casado, novo casamento:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
CASAMENTO REALIZADO NO ESTRANGEIRO, SEM QUE TENHA SIDO REGISTRADO NO
PAÍS. O casamento realizado no exterior produz efeitos no Brasil, ainda que não
tenha sido aqui registrado. Recurso especial conhecido e provido em parte, tão só
quanto à fixação dos honorários de advogado.
(STJ, Relator: Ministro ARI PARGENDLER, Data de Julgamento: 26/11/2002, T3 - TERCEIRA
TURMA)
DIVÓRCIO
Para que haja reconhecimento desse fato, será necessária a homologação
de sentença estrangeira pelo STJ ou fazer o divórcio diretamente no Brasil.
Portanto, para contrair um novo casamento é obrigatória a homologação de
divórcio pelo STJ, caso a parte se case novamente e não proceda à homologação
estará, segundo doutrinadores, cometendo crime de Bigamia e Falsidade
Ideológica. Ou seja, torna-se indispensável a homologação de divórcio de
sentença estrangeira para contrair novo casamento.
O divórcio obtido posteriormente, em relação ao segundo casamento, não
isenta o agente do delito de bigamia” (TJSP, RJTJSP 110/503) 3ª Câmara do TJSP: Casamento –
Anulação – Bigamia – Cônjuge casado e divorciado no estrangeiro – Sentença não homologada pelo
STF [hoje STJ] – Invalidade do casamento contraído em segundas núpcias no Brasil – Arts. 15, e, da
Lei de Introdução ao CC, 483 do CPC e 102 , I, h, da Constituição da República [art. 105, I, i, da
CF/88]”.
Em relação ao crime de bigamia, há julgados no STJ que não considera
crime contrair novo casamento, antes da homologação de sentença estrangeira.
A justificativa está baseada na fundamentação de que o novo casamento seria
considerado nulo e, consequentemente, inexistente.
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10686645/artigo-483-da-lei-n-5869-de-11-de-janeiro-de-1973
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91735/c%C3%B3digo-processo-civil-lei-5869-73
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10688723/artigo-102-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10688695/inciso-i-do-artigo-102-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10688361/alinea-h-do-inciso-i-do-artigo-102-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10686645/artigo-483-da-lei-n-5869-de-11-de-janeiro-de-1973
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10686645/artigo-483-da-lei-n-5869-de-11-de-janeiro-de-1973
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91735/c%C3%B3digo-processo-civil-lei-5869-73
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91735/c%C3%B3digo-processo-civil-lei-5869-73
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10688723/artigo-102-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10688723/artigo-102-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10688695/inciso-i-do-artigo-102-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10688695/inciso-i-do-artigo-102-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10688361/alinea-h-do-inciso-i-do-artigo-102-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10688361/alinea-h-do-inciso-i-do-artigo-102-da-constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-de-1988
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988
Art. 15. Será executada no Brasil a sentença proferida no estrangeiro, que reúna os
seguintes requisitos:
a)Haver sido proferida por juiz competente;
b)Terem sido as partes citadas ou haver-se legalmente verificado à
revelia;
c)Ter passado em julgado e estar revestida das formalidades
necessárias para a execução no lugar em que foi proferida;
d)Estar traduzida por intérprete autorizado;
e)Ter sido homologada pelo Supremo Tribunal Federal.
“Casamento – Nulidade – Bigamia – Inocorrência – Casamento de estrangeiro no
Brasil, antes da homologação da sentença estrangeira, que anulou o primeiro
casamento no exterior – Condição de não casado ao tempo do segundo
matrimônio – Formalidade da homologação que, no caso, pode ser suprida a
posteriori – Nulidade absoluta do artigo 183, VI, do CC [art. 1.521, VI, do CC/2002 ,
inexistente”.
Por fim, há diversos requisitos legais para a eficácia de um novo casamento
no exterior, com destaque para a homologação do divórcio do brasileiro perante o STJ. Pois, apenas
com a homologação será possível contrair um novo matrimônio. Portanto, conclui-se a real
necessidade de as partes cumprirem todas as legalidades para dar existência ao negócio jurídico.
 
CONCLUSÃO
Dessa forma, consideramos que caso uma brasileira deseje contrair um
novo matrimônio com outro estrangeiro, será indispensável a homologação de divórcio do
casamento anterior, pois assim dará existência ao novo casamento.
 
REQUISITOS LEGAIS PARA HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA
I – Haver sido proferida por autoridade competente; 
II – terem as partes sido citadas ou haver-se legalmente verificado a revelia;
III – ter transitado em julgado;
IV – estar autenticada pelo cônsul brasileiro e acompanhada de tradução por
tradutor oficial ou juramentado no Brasil;
V – Não ofender a soberania ou ordem pública.
Além disso, a citação de pessoa domiciliada no Brasil para responder a
processo judicial, no exterior, deverá ser realizada por meio de carta rogatória,
sendo inadmissível a sua realização por outras modalidades.
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10718871/artigo-183-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983995/c%C3%B3digo-civil-lei-10406-02
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/589767/conflito-de-competencia-cc-2002-pb-1991-0008014-4
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10718871/artigo-183-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10718871/artigo-183-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002
http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983995/c%C3%B3digo-civil-lei-10406-02
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/589767/conflito-de-competencia-cc-2002-pb-1991-0008014-4
O casamento no exterior entre brasileiro e estrangeiro é cada vez mais comum, muitas vezes
os brasileiros se casam sem saber as consequências da
não homologação do casamento e do divórcio.
O direito brasileiro busca se adequar à realidade social do Brasil, o fato de
diversos casos envolvendo matrimônio realizado no exterior, levou ao
aprimoramento jurídico.
Outrossim, a lei que regulariza casamento realizados no exterior é a Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB), porém esta lei sozinha não
basta, sendo necessário o auxílio de jurisprudência e doutrina para resolver
alguns conflitos judiciais envolvendo casamento/divórcio no exterior.
Assim, o casamento sendo realizado em outro país, respeitando as normas
do local da celebração do contrato e, principalmente, convergindo com as leis
brasileiras, possuirá validade no Brasil. Além disso o brasileiro não poderá
contrair outro casamento no Brasil.
Ademais, ressalta-se a importância da homologação do divórcio realizado
no exterior, caso o brasileiro não regularize a sua situação no Brasil e contraia um
novo casamento, este será considerado nulo.
Dessa forma, demonstrado a importância da homologação de sentença
estrangeira e a dispensabilidade do registro, mostra-se importante, também,
destacar que as normas do domicílio dos cônjuges é que vão determinar o direito
de família, ou seja, nesse caso o registro no Brasil se torna indispensável.

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