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Auxilio-doença-UFT

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Sim, é possível que o empregado tenha a suspensão do contrato de trabalho, e assim, usufruir do auxílio-doença decorrente do coronavírus. Conforme aponta a medida provisória 936/2020 que mais tarde se transformou na lei 14.020/20 traz em seu bojo a confirmação da suspensão do contrato de trabalho, em decorrência da pandemia provocada pela pandemia do coronavírus.
Todavia, mesmo diante da situação narrada, o trabalhador tem o direito ao auxílio-doença, conforme disciplina o Regime Geral de Previdência Social, no qual aponta que o auxílio-doença (auxílio por incapacidade temporária) é devido ao segurado que, havendo cumprido, quando for o caso, o período de carência, ficar incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de 15 dias consecutivos (art. 59 da Lei 8.213/1991).
A concessão do auxílio-doença, em regra, depende do período de carência de 12 contribuições mensais (art. 25, inciso I, da Lei 8.213/1991). Independe de carência a concessão de auxílio-doença nos casos de acidente de qualquer natureza ou causa e de doença profissional ou do trabalho, bem como nos casos de segurado que, após filiar-se ao Regime Geral de Previdência Social, for acometido de alguma das doenças e afecções especificadas em lista elaborada pelos Ministérios da Saúde e da Previdência Social (atualmente, Ministério da Economia), atualizada a cada três anos, de acordo com os critérios de estigma, deformação, mutilação, deficiência ou outro fator que lhe confira especificidade e gravidade que mereçam tratamento particularizado (art. 26, inciso II, da Lei 8.213/1991).
Frise-se que mantém a qualidade de segurado, independentemente de contribuições, até 12 meses após cessar a segregação, o segurado acometido de doença de segregação compulsória (art. 15, inciso III, da Lei 8.213/1991). Trata-se de período de graça que pode ocorrer em caso de isolamento em razão de doença decorrente do coronavírus.
Na realidade, o benefício previdenciário em questão não é devido em razão de doença em si, mas sim da incapacidade temporária para o trabalho ou para a atividade habitual. Confirmando o exposto, o art. 201, inciso I, da Constituição da República, com redação dada pela Emenda Constitucional 103/2019, estabelece que a Previdência Social deve atender, na forma da lei, a cobertura do evento de incapacidade temporária para o trabalho.
Logo, em caso de empregado infectado pelo coronavírus, o auxílio-doença é devido se ele estiver incapacitado temporariamente para realizar o seu trabalho habitual. Como salienta Fábio Zambitte Ibrahim: “A doença, por si só, não garante o benefício – o evento deflagrador é a incapacidade. Pode um segurado ter uma doença, como miopia, mas nem por isso ser incapacitado”. 
O auxílio-doença é devido ao segurado empregado a contar do 16º dia do afastamento da atividade, e, no caso dos demais segurados, a contar da data do início da incapacidade e enquanto ele permanecer incapaz (art. 60 da Lei 8.213/1991). Quando requerido por segurado afastado da atividade por mais de 30 dias, o auxílio-doença é devido a contar da data da entrada do requerimento (art. 60, § 1º, da Lei 8.213/1991)10. 
Em caso de auxílio-doença, o empregado é considerado em licença não remunerada durante o prazo desse benefício (art. 476 da CLT). Portanto, em regra, ocorre a suspensão do contrato de trabalho durante o recebimento do mencionado benefício previdenciário, pois o salário não é devido pelo empregador nesse período. Durante os primeiros 15 dias consecutivos ao do afastamento da atividade por motivo de doença, incumbe à empresa pagar ao segurado empregado o seu salário integral (art. 60, § 3º, da Lei 8.213/1991). Nota-se que essa previsão específica não se aplica ao empregado doméstico. Logo, em se tratando de segurado empregado, os primeiros 15 dias têm natureza de interrupção do contrato de trabalho. A empresa que dispuser de serviço médico, próprio ou em convênio, terá a seu cargo o exame médico e o abono das faltas correspondentes ao período relativo aos primeiros 15 dias, somente devendo encaminhar o segurado à perícia médica da Previdência Social quando a incapacidade ultrapassar 15 dias (art. 60, § 4º, da Lei 8.213/1991).
Fica o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) autorizado a antecipar um salário-mínimo mensal para os requerentes do benefício de auxílio-doença de que trata o art. 59 da Lei 8.213/1991, durante o período de três meses, a contar da publicação da Lei 13.982/2020 (ocorrida em 02.04.2020), ou até a realização de perícia pela Perícia Médica Federal, o que ocorrer primeiro (art. 4º da Lei 13.982/2020).
A mencionada antecipação estará condicionada: I - ao cumprimento da carência exigida para a concessão do benefício de auxílio-doença (salvo quando este independe de carência, conforme art. 26, inciso II, da Lei 8.213/1991); II - à apresentação de atestado médico, cujos requisitos e forma de análise devem ser estabelecidos em ato conjunto da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia e do INSS (art. 4º, parágrafo único, da Lei 13.982/2020)
REFERÊNCIAS
BRASIL. Medida provisória n° 936, de 04 de abril de 2020. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF.
JORGE NETO, Francisco. F; CAVALCANTE, Jouberto de Q. P. Direito do trabalho. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2019.
Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Plano de Benefícios da Previdência Social. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/leis/L8213cons.htm
Lei nº 13.982, de 02 de Abril de 2020. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/lei-n-13.982-de-2-de-abril-de-2020-250915958 
Lei nº 14.020, de 06 de Julho de 2020. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/lei-n-14.020-de-6-de-julho-de-2020-265386938
O Direito do Trabalho na crise da COVID-19 / coordenadores Alexandre Agra Belmonte, Luciano Martinez, Ney Maranhão – Salvador: Editora JusPodivm, 2020.

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