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Aprendizagem, dois olhares: a cognição e o condicionamento SST Barbosa, Orlando Coelho Aprendizagem, dois olhares: a cognição e o condiciona- mento / Orlando Coelho Barbosa Ano: 2021 nº de p.: 13 Copyright © 2021. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados. Aprendizagem, dois olhares: a cognição e o condicionamento 3 Apresentação Caro estudante, o processo de aprendizagem tem grande contribuição para o desenvolvimento, ou seja, aprendizagem humana não pode ser considerada somente do ponto de vista individual, ela envolve questões técnicas, ambientais, emocionais podendo ou não contribuir para que a aprendizagem se concretize. Você irá aprender melhor como os teóricos da aprendizagem tem influência na nossa educação, na maneira de como conduzir a um ensino significativo, onde o protagonista é o aluno, focando no seu desenvolvimento cognitivo e emocional para construção de vida. Bons Estudos! 4 1 Considerações sobre o Behaviorismo A diversidade de saberes pode ou não impactar o processo de aprendizagem humana de forma significativa, e é abordada por diversas teorias da aprendizagem. De forma generalizada, porém, existem duas linhas teóricas que as englobam, seriam elas, a abordagem cognitiva da aprendizagem e as teorias do condicionamento. As abordagens cuja referência é o condicionamento segundo Boch (2009, p. 150), são aquelas que “definem a aprendizagem pelas suas consequências comportamentais e enfatizam as condições ambientais como forças propulsoras da aprendizagem” e, assim considera-se que a aprendizagem “é a conexão entre o estímulo e a resposta. Completada a aprendizagem, estímulo e resposta estão de tal modo unidos, que o aparecimento do estímulo evoca a resposta” (BOCH, 2009, p. 150). Esta abordagem referenciada no condicionamento é mencionada no behaviorismo. Quando falamos das teorias cognitivas, estamos falando de um processo de relação do sujeito com o mundo externo e que tem consequências no plano da organização interna do conhecimento ou organização cognitiva. Práticas Internalizadas Fonte: Plataforma Deduca (2021). #PraCegoVer: a imagem mostra uma mulher, em uma sala de aula, apontando para uma criança, chamando sua atenção. Ao fundo, um quadro. 5 Nesse sentido, temos a concepção de Ausubel, que trata da aprendizagem significativa, que seria a aprendizagem na qual o indivíduo dá significado, dá sentido, compreende, reflete, abstrai, elabora e organiza as informações que recebe do mundo exterior. O que se torna diferente de repetir uma tarefa de forma automática, no qual ele pode perceber o porquê de executar a tarefa. A aprendizagem nas diferentes interpretações Para os adeptos das teorias de inspiração no condiciona- mento a aprendizagem se dá por meio de hábitos, e para os adeptos das teorias cognitivistas, o aprendizado se dá por meio de conceitos. Para os adeptos das teorias do condicionamento o fator principal presente na aprendizagem é a evocação, ou dito de outra forma, uma vez aprendido uma operação, os princípios básicos de uma operação, estes serão evocados. Por exemplo, se já aprendi a amarrar os sapatos, saberei amarrar presentes, e assim em outros processos nos quais a aprendizagem possa ser evocada. Para os adeptos da teoria cognitivista mesmo sabendo todas as fases ou partes que compõem o problema, não existem garantias de um aprendizado efetivo e, a forma como a apresentação do problema é feita poderá ou não permitir a aprendizagem. Se apresentado de forma diferente, não será possível a sua resolução ou aprendizagem. 6 2 A teoria do ensino de Jerome Bruner e abordagem cognitivista da aprendizagem de David Ausubel Para Boch (2009), a teoria do ensino de Bruner “envolve a organização da matéria de maneira eficiente e significativa para o aprendiz. Assim, o professor deve preocupar-se não só com a extensão da matéria, mas, principalmente, com sua estrutura”. A teoria do ensino de Bruner foca na estruturação da matéria de forma a possibilitar que o aprendiz obtenha uma aprendizagem significativa. Dentro desta estruturação da matéria, devem ser observadas formas que permitam fomentar o interesse, a investigação, e a motivação. A estrutura seria necessária partir dos princípios gerais que ordenam a matéria e ou disciplina a ser ensinada para os conteúdos mais complexos e particulares delas. Este formato seria a de uma espiral, no que se refere à investigação, na qual: [...] se utilize o método da descoberta como método básico do trabalho educacional. O aprendiz tem plenas condições de percorrer o caminho da descoberta científica, investigando, fazendo perguntas, experimentando e descobrindo. (BOCH, 2009, p.156) Um aspecto importante na teoria do ensino de Bruner é o papel do erro no processo de aprendizagem. O erro não é visto como um empecilho no processo, mas sim, como uma parte fundamental para ele seja parte da compreensão da matéria por parte do aprendiz. Outro aspecto é motivação, na psicologia, existe certa controvérsia em como abordar o assunto, sabemos que a motivação está presente em diversos aspectos da vida. Na psicologia, o estudo da motivação considera três aspectos e/ou variáveis presentes: o ambiente, as forças internas que movimentam o indivíduo (necessidade, vontade etc.) e o objeto que mobiliza o indivíduo. Dentro dessa perspectiva, definimos motivação “como um processo que relaciona necessidade, ambiente e objeto, e que predispõe o organismo para a ação em busca da satisfação da necessidade. 7 Para mais informações sobre o Behaviorismo, leia o artigo “Behaviorismo: guia completo sobre a psicologia comportamental”, acessando o link https://www.vittude.com/blog/behaviorismo/ Saiba mais O trabalho que foi desenvolvido pela psicopedagoga Emília Ferrero pode ser considerado exemplar, especialmente no que se refere à escrita, à função social dela, à relação entre o conteúdo ensinado e aprendido e, principalmente, ao que se refere aos papéis atuantes da criança no processo de aprendizagem, o trabalho dela é referência em muitas escolas mundo afora. A grande contribuição de Ferrero é justamente demonstrar, por suas pesquisas, esse caráter evolutivo da escrita e os aspectos sociais envolvidos nos processos de aquisição dela os quais não podem ser ignorados. Diferente do que se tem propagado, Emília não criou um método de alfabetização, mas sim, uma grande pesquisa que propiciou novas formas de alfabetização e um novo olhar sobre a escrita levando em conta os sujeitos envolvidos e sua história: [...] a aprendizagem da escrita tem um caráter evolutivo, no qual é relativamente tardia a descoberta de que a escrita representa a fala, não sendo necessário que se estabeleça, de início, a associação entre letras e sons. Outro aspecto importante nesta evolução refere-se ao aspecto conceitual da escrita. Para que as crianças possam descobrir o caráter simbólico da escrita, é preciso oferecer-lhes situações em que a escrita se torne objeto de seu pensamento. Este aprendizado é considerado fundamental, ao lado de outras habilidades que as concepções tradicionais já foram capazes de apontar, como as relacionadas à percepção e à motricidade. (BOCH, 2009, p.168) A grande contribuição de Ferrero é justamente demonstrar, por suas pesquisas, esse caráter evolutivo da escrita e os aspectos sociais envolvidos nos processos de aquisição dela os quais não podem ser ignorados. Diferente do que se tem propagado, Emília não criou um método de alfabetização, mas sim, uma grande pesquisa que propiciou novas formas de alfabetização e um novo olhar sobre a escrita levando em conta os sujeitos envolvidos e sua história. Para Ferrero, as crianças têm um entendimento da escrita que é anterior ao seu processo de https://www.vittude.com/blog/behaviorismo/ 8 alfabetização escolar, assim também os adultos analfabetos têm, sobre a língua escrita, os seus conceitos e entendimentos. 3 Inteligência e inteligências múltiplas Paradiscutirmos o que são inteligências múltiplas e seus conceitos, faz-se necessária uma reflexão anterior sobre como o senso comum identifica a inteligência, como a psicologia tem estudado o tema, e as diferenças entre as duas concepções. Se pensarmos no senso comum, veremos que a inteligência estaria relacionada à capacidade de se resolver corretamente um problema apresentado. Porém, para a psicologia, as coisas não são tão simples assim. A psicologia diferencial, que tem uma tradição positivista, ou seja, postula que é possível mensurar e quantificar, hierarquizar. Lembrando que, quando falamos de positivismo, falamos daquilo que é visível. Embora não possamos ver a inteligência, é possível verificar a sua existência por comportamentos que identificam a sua existência e assim mensurá-los. Por esta abordagem, nós [...] “vemos” e medimos a inteligência das pessoas através de sua capacidade de verbalizar ideias, compreender instruções, perceber a organização espacial de um desenho, resolver problemas, adaptar-se a situações novas, comportar-se criativamente frente a uma situação. A inteligência, nesta abordagem, seria um composto de habilidades e poderia ser medida por meio dos conhecidos testes psicológicos de inteligência. (BOCH, 2009, p. 236) Todos nós, possivelmente, já ouvimos falar com frequência dos testes de quociente de intelectual (QI). Eles surgiram a partir das pesquisas de Alfred Binet (1857-1911), as quais se iniciaram com crianças diagnosticadas como deficientes do ponto de vista intelectual, e para verificar os avanços delas e compará-los com o que seria considerado adequado para as que não apresentavam deficiências intelectuais. 9 O conceito de inteligência Fonte: Plataforma Deduca (2021). #PraCegoVer: a imagem mostra a imagem de um rosto humano e um cérebro, representando as formas de desenvolvimento do indivíduo. Os questionamentos em relação aos testes de inteligência vão desde sua metodologia única para avaliar conceitos distintos de inteligência, e envolvem a estigmatização de alguns grupos sociais o foco dos testes estritamente na linguagem escrita, além do direcionamento de fatores sociais considerados relevantes para os grupos sociais. dominantes na sociedade. Entenda mais sobre os experimentos de Ivan Pavlov, assistindo ao vídeo. “O experimento de Ivan Pavlov (Condicionamento clássico)”, por meio do link: https://www.youtube.com/watch?v=DDla3BJMjIU Saiba mais Nesta abordagem teórica, é importante destacar que o conceito de inteligência, como apresentado na abordagem da psicologia diferencial, é questionado. Não é possível para essa teoria, considerar a inteligência como um substantivo, mas sim, como adjetivo. Ou seja, não existe a inteligência, existe o inteligente que não é mensurado, e sim qualificado em relação à sua produção cognitiva, de forma que https://www.youtube.com/watch?v=DDla3BJMjIU 10 esta possa ser observada dentro de outras questões, possibilitando ver o sujeito na sua totalidade: A teoria das inteligências múltiplas, por outro lado, pluraliza o conceito tradicional. Uma inteligência implica na capacidade de resolver problemas ou elaborar produtos que são importantes num determinado ambiente ou comunidade cultural. A capacidade de resolver problemas permite à pessoa abordar uma situação em que um objetivo deve ser atingido e localizar a rota adequada para esse objetivo. A criação de um produto cultural é crucial nessa função, na medida em que captura e transmite o conhecimento ou expressa as opiniões ou os sentimentos da pessoa. Os problemas a serem resolvidos variam desde teorias científicas até composições musicais para campanhas políticas de sucesso. (GARDNER, 2010, p.15) Um dos pilares da teoria de Gardner é contrapor a noção de inteligência única. Gardner propõe como alternativa as dimensões nas quais estariam organizadas as mais diversas inteligências, ao falar da inteligência lógico-matemática, assim definida por ele como a que ocupa um lugar de destaque na sociedade, assim como a inteligência linguística. Em comparação com as demais, o que o autor considera um erro (GARDNER, 2010). Na sequência, apresentamos as definições de cada uma dessas dimensões. Inteligência lógico-matemática como o próprio nome diz, se refere às nossas capacidades de resolver questões relacionadas à lógica, à matemática, e facilidades nessas áreas. Tem como base o empirismo e, filósofos, matemáticos, físicos, entre outros, teriam essa inteligência de forma privilegiada; Inteligência linguística está relacionada à comunicação, à atividade verbal, à linguagem, e estaria presente nos bebês; é amplamente pesquisada pela psicologia, sobretudo por Piaget, que a descreve a inteligência de pessoas como poetas, jornalistas, escritores entre outros, que fazem uso da linguagem como profissão com maestria; 11 Inteligência espacial se refere à capacidade humana de lidar com mapas, diagramas ou com outras formas de representação espacial. Pessoas detentoras dessa inteligência percebem certos padrões e os interpreta de forma que permita a orientação ou modificação de um espaço. Cita como possíveis exemplos arquitetos, geógrafos, pilotos de corrida, entre outros; Inteligência cinestésica e ou corporal relaciona-se à capacidade de percepção do próprio corpo em toda a sua amplitude; de comunicar-se com o corpo, de direcionar o corpo inteiro ou partes dele para resolução de problemas. O autor cita como exemplos atletas, atores, mímicos como referências de desenvolvimento dessa inteligência; Inteligência interpessoal se refere à capacidade de percepção do outro, da empatia como capacidade de comunicação, distinta da linguagem, capacidade de cuidar, entre outros aspectos, os quais favoreçam a inter- ração social, a sociabilidade entre outros aspectos; seria possível presenciar em professores e líderes religiosos; Inteligência intrapessoal se refere à capacidade de reconhecer-se os próprios sentimentos, capacidade de lidar e/ou discriminar as emoções, o comportamento; seria a capacidade de compreender a si; Inteligência musical estaria ligada à capacidade humana de produzir música com base em instrumentos, ou do próprio corpo. O autor relaciona pesquisas históricas para afirmar os aspectos importantes da presença da música desde o paleolítico, também aponta que algumas áreas do cérebro evidenciam essa facilidade em relação à percepção musical. Em relação à educação e à aprendizagem, Gardner propõe que avaliações dos indivíduos nas mais diferentes etapas de seu desenvolvimento de forma que se possa identificar e potencializar as diversas inteligências, levando em consideração 12 cada fase do desenvolvimento. Assim, os estímulos dados a um bebê serão diferentes dos dados a uma criança na fase escolar, ou a um adolescente que tem que escolher o seu futuro profissional. Entenda mais sobre os experimentos de Ivan Pavlov, assistindo ao vídeo. “O experimento de Ivan Pavlov (Condicionamento clássico)”, por meio do link: https://www.youtube.com/watch?v=DDla3BJMjIU Saiba mais Fechamento Todos os conceitos apresentados foram reunidos a fim de promover a compreensão dos importantes aspectos das abordagens psicológicas da aprendizagem e os conceitos relacionados ao condicionamento e a cognitivista, dentro da teoria David Ausubel abordagem cognitivista da aprendizagem do ensino de Jerome Bruner seus conceitos. A teoria da psicopedagoga Emília Ferrero, a forma de como as crianças aprendem a ler escrever, finalizamos nosso estudo da unidade, apresentando as abordagens psicológicas sobre a inteligência e o conceito de inteligências múltiplas de Gardner. https://www.youtube.com/watch?v=DDla3BJMjIU 13 Referências BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. de L. T. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. GARDNER, H. Inteligências múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 2010. OLIVEIRA MELLO, M. C. de. Emília Ferreiroe a alfabetização no Brasil: um estudo sobre a Psicogênese da língua escrita. São Paulo: EdUNESP, 2007.
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