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Disciplina: Geografia do Semiárido e Desertificação Unidade 2: Desertificação: Conceitos e Métodos Autores: Ana Mônica de Britto Costa, Fernando Moreira da Silva e Vera Lucia Silva DESERTIFICAÇÃO: CONCEITOS E MÉTODOS APRESENTANDO A UNIDADE As Ciências Naturais estão iniciando uma etapa mais acurada graças à evolução dos satélites ambientais, aos computadores de alta velocidade, bem como ao desenvolvimento de métodos analíticos, que juntos permitem trabalhar com as melhores perspectivas de êxito no conhecimento dos mecanismos complexos do sistema solo-planta-atmosfera-fauna-homem. Considerando que o processo de desertificação está ligado ao comportamento destes mecanismos, este módulo aborda o estado da arte sobre a desertificação no Semiárido do Brasil. Ao final da Unidade, esperamos que você possa compreender o conceito de desertificação; identificar pesquisas acerca da desertificação; conhecer alguns indicadores de desertificação. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Conceito de desertificação A Caatinga, a começar pelo nome, é cheia de mistério. A maior parte dos pesquisadores concorda em que a palavra é de origem tupi-guarani e significa mata branca (caa-tinga, mata clara; caa-tinga, mata aberta; origem popular semelhante a “Sertão” que, para a escritora Raquel de Queiroz talvez venha de desertão) (Cereja e Magalhães, 1995). Porém existem dúvidas a esse respeito. Por que os índios chamariam de “mato branco” a essa vegetação, formada de cactos verdes e arbustos retorcidos, de casca escura e espinhenta? Pesquisadores da língua indígena afirmam que, na verdade, caa não se refere ao mato propriamente dito, mas aos morros e sua vegetação. Sendo ela rala e despida de folhas na época de seca, dá origem a uma paisagem clara e desértica. Finalmente, outros atribuem origem diferente ao termo. Alegam que ele surgiu da combinação abreviada de caa (mato) e tininga (seco), isto é “mato seco”. A paisagem que se denomina de Caatinga é o principal ecossistema existente na Região Nordeste. Silans e Silva (2003) abordaram que a caatinga não é uniforme, nem completamente desorganizada no espaço, passível de ser dividida em unidades ecológicas, no entanto, no seio de cada unidade, em cada região bioclimática, existe ainda uma heterogeneidade quanto aos seres vivos, cada um ou cada grupo apresentando relações Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce específicas com o clima, relações estas que são também dinâmicas e muitas vezes históricas e/ou culturais. Assim, dada as múltiplas possibilidades de relações existentes entre solo- planta-atmosfera-fauna-homem, o saber ecológico deve ser pensado, a priori, como algo transdisciplinar. No cerne da caatinga surge um processo de degradação da biota e solo e da vegetação, que alguns autores denominaram de processo de desertificação. O processo de desertificação está intrinsecamente relacionada ao conceito, definido segundo a ONU (1994, pag. 23) durante a CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS DE COMBATE A DESERTIFICAÇÃO E MITIGAÇÃO DOS EFEITOS DA SECA: É a degradação da terra nas regiões áridas, semiáridas e subúmidas secas, resultante de vários fatores, entre eles as variações climáticas e atividades humanas. A degradação da terra compreende a degradação dos solos, dos recursos hídricos, da vegetação e redução da qualidade de vida das populações. A degradação, também, pode ser entendida como sendo a alteração da paisagem a partir do desgaste ocorrido nos componentes do ambiente como solo, recursos hídricos, vegetação e biodiversidade, que acaba afetando na qualidade de vida das pessoas. As alterações que ocorrem em um ecossistema podem ter causas naturais e/ou antrópicas. Em geral, quando as alteraões ocorrem por causas naturais, o ecossistema é capaz de se autorecuperar. Para suprir suas necessidades e interesses, o ser humano realiza diversas alterações nos ecissistemas, na maioria das vezes de difícil recuperação. Assim, o ecossistema caatinga encontra-se bastante alterado, com a substituição de espécies vegetais nativas por cultivos e pastagens, seja pelo desmatamento ou pelas queimadas, que provocam atividades humanas que provocam desequilíbrio ambiental nos ecossistemas. A expansão agrícola, o mau manejo, a exploração comercial insustentável, o pastoreio execessivo, os incentivos econômicos mal direcionados, dentre outros, tem contribuído muito para o agravamento desta situação. Segundo Morais (2005) esta degradação tem gerado repercussões graves, causando sérios problemas, especificamente a desertificação, que deve ser entendida como um fenômeno integrador de processos econômicos, sociais e naturais, induzindo o desequilíbrio entre o solo, a vegetação, o ar e a água, bem como uma baixa qualidade de vida da população nas áreas sujeitas ao processo de desertificação. Considerações acerca da caatinga Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce O termo desertificação surgiu apenas no século XX, e é atribuído ao engenheiro francês André Aubréville (1897-1982) que em 1949 publica um trabalho intitulado “Climats, Forêsts et Desertification de L’Afrique Tropicale” que caracterizava a dinâmica do mal uso e ocupação do solo nas regiões da África Tropical e suas graves conseqüências ambientais (PASCHOAL, 2009). Embora o processo de desertificação seja antigo, apenas no século XX que as preocupações se avolumaram, um dos primeiros processos que gerou curiosidades foi o fenômeno conhecido por Dust Bowl ( algo como bacia de poeira), tal fenômeno ocorreu na região centro-oeste dos EUA, abrangendo parte dos Estados do Colorado, Kansas, Novo México, Oklahoma e Texas, durante a década de 1930. Esse fenômeno teve como principal causa, o excesso da retirada da vegetação nativa para o aproveitamento das terras na agricultura e pecuária, e como conseqüência, provocou enormes ondas de poeira associada a erosão eólica, favorecida pelas condições da região e por um período de seca que atingiu o local (PASCOAL, 2009). Um fenômeno marcante envolvendo desastres naturais ocorreu na região do Sahel, localizada na margem sul do deserto do Saara entre os anos de 1968 e 1974, na ocasião, um período longo de seca provocou a morte de centenas de milhares de pessoas, além de perdas agrícolas, econômicas e ambientais. Foi a partir dessa seca que as Nações Unidas começou a se preocupar com a questão desertificação. Em 1977, no Quênia, ocorreu a Conferência das nações Unidas sobre Desertificação, com o propósito de discutir o assunto e consolidar a questão envolvendo a comunidade científica e a gestão de território. A Convenção Internacional das Nações Unidas de Combate à Desertificação1 nos países afetados por seca grave e/ou desertificação2, particularmente na África (CCD) define que o fenômeno da desertificação ocorre nas regiões áridas, semi-áridas e subúmidas secas e estabelece como critério para delimitação dessas áreas o Índice de Aridez (THORNTHWAITE; MATHER, 1957), o qual é dado pela razão entre a precipitação (P) e a evapotranspiração potencial (ETP), classificado segundo a Tabela 01: 1 CONVENÇÃO DAS NAÇÕESUNIDAS DE COMBATE A DESERTIFICAÇÃO E MITIGAÇÃO DOS EFEITOS DA SECA – CCD: Instrumento jurídico do direito internacional, concluído pela ONU em 17 de junho de 1994 e ratificado por mais de 200 países, do qual o Brasil tornou-se signatário em 25 de junho de 1997. Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Tabela 01: Índice de Aridez e suas zonas climáticas, adotado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente-PNUMA para a identificação e quantificação das áreas com riscos a desertificação. Índice de Aridez – IA Clima IA ≤ 0,05 Hiper-árido 0,05< IA ≤ 0,20 Árido 0,20 < IA ≤ 0,50 Semiárido 0,50< IA ≤ 0,65 Subúmido seco IA > 0,65 Úmido Fonte: UNESCO (2003). Ab’Saber (1977) considera como os “processos parciais de desertificação, todos aqueles fatos pontuais ou aureolares, suficientemente radicais para criar degradações irreversíveis da paisagem e dos tecidos ecológicos naturais. Para Vasconcelos Sobrinho (1978) desertificação é um processo de fragilidade dos ecossistemas das terras secas em geral, que em decorrência da pressão excessiva exercida pelas populações humanas, ou às vezes pela fauna autó tone, perdem sua produtividade e capacidade de recuperar-se. Nimer (1988) enfoca que a crescente degradação ambiental expressa ressecamento e perda da capacidade de produção dos solos. Este ressecamento crescente do meio natural pode ser uma decorrência da mudança do clima regional e/ou do uso inadequado dos solos pelo homem. Segundo Conti (1989) a desertificação se caracteriza pela escassez de organismos vivos, principalmente de vegetais, com o declínio da atividade biológica e avanço do processo de mineralização do solo, além do agravamento da ação erosiva e invasão maciça de areia. A ação do homem estaria na origem desta modalidade de deserto. O citado autor caracterizou os graus de intensidade da desertificação em: Fraca – uma pequena deterioração da cobertura vegetal e dos solos; Moderada – grande degradação da cobertura vegetal e surgimento de areia, indícios de salinização dos solos e formação de voçorocas; Severa – ampliação das áreas sujeitas à formação de voçorocas e aparecimento de dunas, avanço da erosão eólica; Muito severa – desaparecimento quase completo da biomassa, impermeabilização e salinização dos solos. Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Rodrigues (1995) considera que as condições de semi-aridez são umas das grandes dificuldades para a utilização e manejo dos recursos naturais, o que é agravado pelas atividades humanas, resultando na eliminação da cobertura vegetal original e perda parcial ou total do solo, por fenômenos físicos ou químicos, e na ocupação da área por espécies de plantas invasoras, culminando com a redução da biodiversidade. Destaca que, além dos fenômenos físicos como a seca, também atua como uma das causas da desertificação o sobrepastoreio extensivo por bovinos, caprinos e ovinos, além do emprego de práticas inadequadas no uso do solo. Roxo e Mourao (1998) propuseram um esquema, apresentado na Figura 01, indicando que diferentes combinações das causas e processos que conduzem a desertificação levam, todas elas, a erosão do solo, fenômeno que induz a criação de condições de deserto por meio da degradação natural e/ou antrópica dos recursos de solo, água e vegetação. Figura 01 – Concepção da desertificação segundo ROXO & MOURÃO (1998). Fonte: Noleto (2005) Para Tabarelli (2002) o bioma Caatinga encontra-se bastante alterado, com a substituição de espécies vegetais nativas por cultivos e pastagens. O desmatamento e as queimadas são ainda práticas comuns no preparo da terra para a agropecuária que, além de destruir a cobertura vegetal, prejudica a manutenção de populações da fauna silvestre, a qualidade da água, e o equilíbrio do clima e do solo. Aproximadamente 80% dos ecossistemas originais já foram antropizados. Conforme o reconhecimento dos autores, acima citados, vê-se que a ação antrópica nesse Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce bioma é o principal fator de sua degradação. Percebe-se que na questão da desertificação, o homem é um agente que deve ser levado em consideração, além de que, o processo está associado a mudanças paisagísticas, podendo se tornar um fenômeno irreversível. Desertificação no Nordeste do Brasil Como visto anteriormente, as áreas ameaçadas ou afetadas por processos de desertificação são aquelas enquadradas com índices de aridez oscilando entre 0,05 e 0,65, ou seja, as áreas com clima árido, semiárido e subúmido seco. Partindo desse critério as áreas susceptíveis a desertificação (ASD) estão nos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e norte de Minas Gerais (Mapa 01), praticamente a área de ocorrência do Bioma Caatinga. . Mas há áreas dos Estados do maranhão e do Espírito Santo onde as características ambientais hoje vislumbradas sugerem a ocorrência de processos de degradação tendentes a transformá-las em áreas também sujeitas à desertificação, caso não sejam ali adotadas medidas de preservação e conservação ambiental (BRASIL, 2004). Mapa 01: Áreas susceptíveis a desertificação – ASD. Fonte: BRASIL (2004). Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Um dos primeiros estudos sobre a desertificação no território brasileiro foram os estudos de Vasconcelos Sobrinho, na década de setenta, segundo ele, “um grande deserto com todas as características ecológicas que conduziram à formação dos grandes desertos hoje existentes em outras regiões do globo. O mesmo autor também define os núcleos desertificação, como sendo “áreas onde a degradação da cobertura vegetal e do solo alcançou uma condição de irreversibilidade, apresentando-se como pequenos desertos já definitivamente implantados dentro do ecossistema primitivo”. A partir dessa definição, Vasconcelos Sobrinho seleciona seis áreas existentes no território brasileiro, são eles: Gibões/PI, Inhamus/CE, Seridó/RN, Cariris Velhos/PB, Sertão Central/PE e Sertão do São Francisco/BA. Segundo Brasil (2004), na linha das pesquisas iniciadas por Vasconcelos Sobrinho, o Núcleo Desert, da Universidade Federal do Piauí/UFPI, fez novos estudos na década de 1990, para a Conferência Nacional e Semiárido Latino-Americano – CONSLAD. Esse esforço, apoiado pelo Ministério do Meio Ambiente, agregou-se a EMBRAPA, por intermédio do CPTATSA (Embrapa Semiárido). Esses estudos trouxeram novas evidências sobre as áreas submetidas aos processos de desertificação. A partir delas foram selecionadas quatro áreas para realização de estudos mais específicos. Caracterizando-se como áreas desertificadas e de alto risco, o MMA agrupou-se na forma especificada, envolvendo suas causas (Tabela 02). Tabela 02: Núcleos de desertificação consensuados a partir dos estudos de Vasconcelos Sobrinho e posteriormente pelo Núcleo Desert. Núcleos Superfície (Km2) População (hab) Causas principais da desertificação e/ou degradação. Gilbués-Pi 6131 10000 Região devastada por mineradoras. Irauçuba-CE 4000 34250 Ocupaçãodesordenada do solo. Seridó-RN 2341 244000 Solos aluviais utilizados para a extração de argila e lenha. Cabrobó-PE 5960 24000 O solo frágil não suportou a pecuária e a agricultura. Total 18431 312250 Fonte: BRASIL (2004). Segundo Brasil (2004) áreas Semiáridas e Subúmidas Secas do Brasil abrangem uma superfície de 1130790,53 Km2, dos quais 710437,3 Km2 ( 62,83%) são caracterizados como semiáridos e 420258,8 Km2 (37,17% ) como subúmidos secos. Em 2000, residiam ali 22,5 milhões de habitantes. Desse total, 14,2 milhões (63,31%) habitavam em áreas semiáridas e 8,2 milhões Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce em áreas sub-úmidas secas (36,69%). As Áreas do Entorno das Áreas Semiáridas e Sub-úmidas Secas compreendem uma superfície de 207340Km2, distribuídos ao longo de 281 municípios. Desertificação no Rio Grande do Norte A dinâmica bioclimática do Semiárido está associada à limitação nos recursos hídricos, cuja restrição natural gera problemas relacionados a disponibilidade hídrica, comprometendo o sistema produtivo agropecuário. Sua ocupação ocorreu de forma desordenada e progressiva, levando a uma exploração excessiva de seus recursos naturais. As atividades econômicas desenvolvidas no sertão giraram por muito tempo em torno do binômio gado-algodão e da agricultura de subsistência desenvolvida em solos aluviais. Assim, majoritariamente, essa ocupação está agregada a alguma forma de degradação, seja do solo, da vegetação, da fauna ou dos recursos hídricos no ecossistema Caatinga. O estado do Rio Grande do Norte tem sua vegetação essencialmente constituída de plantas xerófilas. Ocupando cerca de 80% do território estadual, o volume de biomassa, historicamente tem provido grande parte da energia necessária às atividades produtivas e à subsistência da população. Fundamentado na classificação adotada pelo PAN-BRASIL, as áreas susceptíveis a desertificação abrangem praticamente todo o território do estado, de um total de 167 municípios que o compõem, apenas oito (8) não estão categorizados em algum nível de susceptibilidade a desertificação, são eles: Arês, Baia Formosa, Canguaretama, Goianinha, Nísia Floresta, Senador Georgino Avelino, Tibau do Sul e Vila Flor. Tipicamente, todos estes municípios compõem uma única área e estão localizados no extremo sul do litoral leste do estado, onde ainda existe remanescência da Mata Atlântica. Assim, as Áreas Susceptíveis a Desertificação – ASD no Rio Grande do Norte correspondem a 97,6% do território e abrigam 96,5% da população (BRASIL, 2004). Com uma área territorial total de 52796791 Km2, conclui-se que aproximadamente 51529,668 Km2 do território do RN estão inseridas na ASD, o que coloca o Rio grande do Norte como um dos estados com maior área (proporcional) inseridas nas ASD, o que por si só, se torna uma informação preocupante. Fundamentado na classificação adotada pelo PAN-BRASIL, as áreas susceptíveis a desertificação abrangem praticamente todo o território do estado, de um total de 167 municípios que o compõem, apenas oito (8) não estão categorizados em algum nível de susceptibilidade a desertificação, são eles: Arês, Baia Formosa, Canguaretama, Goianinha, Nísia Floresta, Senador Georgino Avelino, Tibau do Sul e Vila Flor. Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Indicadores de desertificação Por se tratar de uma problemática que envolve vários ramos da ciência, há uma enorme dificuldade de formular um sistema de indicadores padrão para todo o mundo, sejam eles físicos, biológicos, sociais e econômicos que são utilizados para mensurar o nível de desertificação de uma determinada área, não existindo um modelo fechado de indicadores que podem ser aplicados a qualquer parte do globo. A primeira tentativa de formulação de um sistema de indicadores de desertificação foi patrocinada pelo PNUMA quando do processo de preparação da Conferência de Nairobi, em agosto de 1977 (MATALLO JUNIOR, 2001). Em um trabalho realizado pela Fundação Grupo Esquel Brasil-FGEB, 1996, formulando um total de 19 indicadores de desertificação e suas variáveis, podendo ser mais de uma variável para cada indicador. Esse resultado foi enviado, juntamente com propostas de outros países a FAO, Metodologia Unificada para a Evaluación y Monitoreo de La Desertification em America Latina, cujo produto final envolveu 52 indicadores; socioeconômicos, biológicos, físicos e espectrais (MATALLO JUNIOR, 2001). Para Mouat et al. (1997) os indicadores de potenciais para avaliação do risco à desertificação deve envolver aspectos relacionados a solo-vegetação-atmosfera-água, incluindo população e veículo fora de estrada. Rubio e Bochet (1998) criaram um conjunto de matriz, processos e parâmetros potenciais para identificação de áreas com risco a desertificação, onde esta matriz está subdividida em cinco eixos principais: solo, clima, vegetação, topografia e sócio-economia. Para Prince (2002) os processos biofísicos comumente mencionados envolvidos na desertificação são; perda da estrutura e coesão do solo, incrustação e compactação do solo, erosão do solo por ablação, voçorocas, erosão laminar do solo, acumulação do solo na base de plantas perenes e estruturas permanentes, aumento da complexidade da paisagem, formação de dunas, adição de sedimentos em corpos d’água, perda da produtividade das lavouras, pastos e florestas, tempestade de areia, aumento de aerossóis atmosféricos, perda da rugosidade da superfície, aumento do albedo, diminuição da convecção, redução da precipitação e mudanças na circulação da atmosfera. Silva et al.(2002) consideraram que o processo de desertificação se desenvolve na Camada Limite Atmosférica (CLA), mas interage com as camadas da atmosfera livre, assim propuseram que o monitoramento da degradação poderá ser feito determinando certos parâmetros do solo (emissividade e albedo), da vegetação (Índice de área foliar) e da atmosfera (fluxos de Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce superfície) envolvendo os balanços de radiação, energia e hídrico local por técnicas de sensoriamento remoto. Para Brasil (2004) a exemplo dos autores mencionados, existe uma ampla variedade de indicadores de desertificação, abrangendo aspectos físicos, biológicos e socioeconômicos. Um aspecto diferenciado encontrado nessa proposta é a subclassificação quanto ao nível de importância e o grau de abrangência (para cada indicador de desertificação), onde para o nível de importância pode ser nível 1 ou 2, enquanto para o grau de abrangência pode ser de escala nacional ou local. Como foi visto, a análise proposta pelos autores acima citados envolvem variáveis e parâmetros complexos, que dependem de métodos físico e/ou estatístico padronizados, além de uma longa série temporal de dados geomorfoclimáticos e sócio-econômicos. Devido à dificuldade, complexidade e alto custo na obtenção de dados ambientais surgem uma nova ordem na aquisição dessas informações, são os chamados dados de sensoriamento remoto orbital (aquisição de dados sobre um objeto sem tocá-lo pela quantidade de energia eletromagnética que emana um alvo geográfico na superfície). Assim, tem papel importante como fonte de informações de parâmetros físicos, necessários para o manejo sustentável de recursos naturais e para proteção ambiental. O sensoriamento remoto funciona em harmonia com outras ciências da informação geográfica, incluindo cartografia, levantamento, e Sistemas de Informações Geográficas (SIG). Jensen (2011)sugeriu um modelo de interação (FIGURA 02) entre sensoriamento remoto, cartografia, levantamento e GIS, em que nenhuma sub-disciplina domina, e todas são conhecidas como tendo áreas únicas, ainda que com sobreposição, de conhecimento e atividade intelectual à medida que são usadas na pesquisa científica física, biológica e social. Figura 02: Modelo de Interação, mostrando a relação entre as ciências de informações geográficas. Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Fonte: Jensen (2011). A detecção de mudanças nas paisagens a partir do uso do Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto permitem obter uma melhor vigilância sobre o estágio atual de degradação na Caatinga, possibilitando ainda fornecer material de suporte para a definição de estratégias de planejamento ambiental na aplicação mais adequada dos recursos naturais. De acordo com o trabalho realizado pelo grupo de Trabalho Interministerial para a Redelimitação do Semiárido Nordestino e do Polígono das Secas, realizado pela Agência de Desenvolvimento do Nordeste (BRASIL, 2004, p.52), Geoambientalmente além das vulnerabilidades climáticas do Semiárido, grande parte dos solos encontra-se degradada. Os recursos hídricos caminham para a insuficiência ou apresentam níveis elevados de poluição. A flora e a fauna vêm sofrendo a ação predatória do homem. E os frágeis ecossistemas regionais não estão sendo protegidos, ameaçando a sobrevivência de muitas espécies vegetais e animais e criando riscos à ocupação humana, inclusive associados a processos, em curso, de desertificação. Desta forma, os Sistemas de Informações Geográficas - SIG podem oferecer valiosos cruzamentos entre dados de sensoriamento remoto com dados de outras fontes a fim de monitorar, otimizar planejamentos e subsidiar tomadas de decisões no gerenciamento do meio ambiente, notadamente o processo de desertificação. RESUMO Nessa aula você estudou conceitos fundamentais de Desertificação sua origem e alguns indicadores. Essa análise evidenciou que o processo de desertificação no Nordeste só poderá ser controlado e ter sua regressão alcançada através de medidas de ordem política, técnica e econômica, com metodologias mais rigorosas de identificação do processo de ruptura do equilíbrio ecológico, bem como de formas de atuação corretiva dos processos em curso, percebendo-se a necessidade de mapeamento, análise crítica das condições reais de degradação de diversas áreas e estudos de medidas factíveis, para a recuperação do equilíbrio ecológico. ATIVIDADES 1. Apresente a definição de desertificação segundo a CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS DE COMBATE A DESERTIFICAÇÃO E MITIGAÇÃO DOS EFEITOS DA SECA. Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce Jairo Felipe Realce 2. Pesquise em artigos científicos e disserte sobre as divergências conceituais a respeito do tema desertificação. 3. Comente os princípios fundamentais envolvidos em conservação da caatinga. 4. Quais as concepções da desertificação segundo Roxo; Mourão (1998), suas bases conceituais e metodológicas da análise integrada do meio ambiente. 5. Apresente a metodologia utilizada por Brasil (2004) na elaboração da carta Áreas Susceptíveis a Desertificação – ASD (Mapa 01), e explique geograficamente por que apenas 8 municípios do Rio Grande do Norte não estão categorizados no nível de susceptibilidade a desertificação. 6. Comente sobre os mecanismos de erosão hídrica e de erosão eólica dos solos nas mesorregiões do Rio Grande do Norte. 7. Pequise em revistas científicas modelos de avaliação do processo de desertificação e descreva três métodos. 8. Disserte sobre a importância, vantagens e desvantagens do uso de técnicas de sensoriamento remoto e geoprocessamento na avaliação e mitigação da desertificação. LEITURAS OBRIGATÓRIAS BRASIL. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Secretaria de Recursos Hídricos. Programa de ação nacional de combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca: PAN-BRASIL. Brasília, 2004. LOPES, H.L; CANDEIAS, A.L.B.; ACCIOLY, L.J.O.; SOBRAL, M.C. Modelagem De Parâmetros Biofísicos Para Desenvolvimento De Algoritmo Para Avaliação E Espacialização De Risco A Desertificação. 2009 ROXO, M. J.; MOURAO, J. M. Desertificação: a percepção pública do fenômeno. Revista Florestal, v. XI, n. 1, p. 27-34,1998. THORNTHWAITE, C.W.; MATHER, J.R. Instruction and tables for computing potencial evapotranspiration and water balance in climatology. New Jersey, 10(3):185-312, 1957. REFERÊNCIAS AB’SABER, A.N. Problemática da desertificação e da savanização no Brasil intertropical. São Paulo: Instituto de Geografia da USP, 1977. BRASIL. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Secretaria de Recursos Hídricos. Programa de ação nacional de combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca: PAN-BRASIL. Brasília, 2004. CEREJA, W.R.; MAGALHÃES, T.C. Literatura brasileira. São Paulo: Atual Editora, 463p, 1995. CONTI, J.B. A desertificação como problema ambiental. In: Anais do II Simpósio de Geografia Física Aplicada. Nova Friburgo-RJ. V.1, PP.189-194. Mai/jun, 1989. CONTI, J.B. O conceito de desertificação. Climatologia e Estudos da Paisagem. Rio Claro, vol. 3p. 39-52, n°2, Jul/Dez, 2008. JENSEN, J.R. Sensoriamento Remoto do Ambiente: uma Perspectiva em Recursos Terrestres: Tradução José Carlos Neves Epiphanio et al. São José dos Campos, SP: Parêntese, 2011 LOPES, H.L; CANDEIAS, A.L.B.; ACCIOLY, L.J.O.; SOBRAL, M.C. Modelagem De Parâmetros Biofísicos Para Desenvolvimento De Algoritmo Para Avaliação E Espacialização De Risco A Desertificação. 2009 MATALLO JÚNIOR, H. Indicadores de desertificação: histórico e perspectiva. Brasília: UNESCO, 2001. MORAIS, J. M. A desertificação no contexto de políticas públicas. Monografia. Natal: UFRN, 2005 MOUAT, D.; LANCASTER, J.; WADE, T.; WICKHAM, J.; FOX, C.; KEPNER, W.; BALL, T. 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