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UnidadeII_GeografiaSemiaridoDesertificacao_08_02_2012

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Disciplina: Geografia do Semiárido e Desertificação 
Unidade 2: Desertificação: Conceitos e Métodos 
Autores: Ana Mônica de Britto Costa, Fernando Moreira da Silva e Vera Lucia Silva 
 
 
DESERTIFICAÇÃO: CONCEITOS E MÉTODOS 
APRESENTANDO A UNIDADE 
As Ciências Naturais estão iniciando uma etapa mais acurada graças à evolução dos satélites 
ambientais, aos computadores de alta velocidade, bem como ao desenvolvimento de métodos 
analíticos, que juntos permitem trabalhar com as melhores perspectivas de êxito no 
conhecimento dos mecanismos complexos do sistema solo-planta-atmosfera-fauna-homem. 
Considerando que o processo de desertificação está ligado ao comportamento destes 
mecanismos, este módulo aborda o estado da arte sobre a desertificação no Semiárido do 
Brasil. 
 
Ao final da Unidade, esperamos que você possa 
 compreender o conceito de desertificação; 
 identificar pesquisas acerca da desertificação; 
 conhecer alguns indicadores de desertificação. 
 
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 
Conceito de desertificação 
A Caatinga, a começar pelo nome, é cheia de mistério. A maior parte dos pesquisadores 
concorda em que a palavra é de origem tupi-guarani e significa mata branca (caa-tinga, mata 
clara; caa-tinga, mata aberta; origem popular semelhante a “Sertão” que, para a escritora 
Raquel de Queiroz talvez venha de desertão) (Cereja e Magalhães, 1995). Porém existem 
dúvidas a esse respeito. Por que os índios chamariam de “mato branco” a essa vegetação, 
formada de cactos verdes e arbustos retorcidos, de casca escura e espinhenta? 
Pesquisadores da língua indígena afirmam que, na verdade, caa não se refere ao mato 
propriamente dito, mas aos morros e sua vegetação. Sendo ela rala e despida de folhas na 
época de seca, dá origem a uma paisagem clara e desértica. Finalmente, outros atribuem 
origem diferente ao termo. Alegam que ele surgiu da combinação abreviada de caa (mato) e 
tininga (seco), isto é “mato seco”. 
A paisagem que se denomina de Caatinga é o principal ecossistema existente na Região 
Nordeste. Silans e Silva (2003) abordaram que a caatinga não é uniforme, nem 
completamente desorganizada no espaço, passível de ser dividida em unidades ecológicas, no 
entanto, no seio de cada unidade, em cada região bioclimática, existe ainda uma 
heterogeneidade quanto aos seres vivos, cada um ou cada grupo apresentando relações 
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específicas com o clima, relações estas que são também dinâmicas e muitas vezes históricas 
e/ou culturais. Assim, dada as múltiplas possibilidades de relações existentes entre solo-
planta-atmosfera-fauna-homem, o saber ecológico deve ser pensado, a priori, como algo 
transdisciplinar. 
No cerne da caatinga surge um processo de degradação da biota e solo e da vegetação, que 
alguns autores denominaram de processo de desertificação. O processo de desertificação está 
intrinsecamente relacionada ao conceito, definido segundo a ONU (1994, pag. 23) durante a 
CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS DE COMBATE A DESERTIFICAÇÃO E MITIGAÇÃO DOS 
EFEITOS DA SECA: 
É a degradação da terra nas regiões áridas, semiáridas e subúmidas 
secas, resultante de vários fatores, entre eles as variações climáticas e 
atividades humanas. A degradação da terra compreende a degradação 
dos solos, dos recursos hídricos, da vegetação e redução da qualidade de 
vida das populações. 
A degradação, também, pode ser entendida como sendo a alteração da paisagem a partir do 
desgaste ocorrido nos componentes do ambiente como solo, recursos hídricos, vegetação e 
biodiversidade, que acaba afetando na qualidade de vida das pessoas. 
As alterações que ocorrem em um ecossistema podem ter causas naturais e/ou antrópicas. Em 
geral, quando as alteraões ocorrem por causas naturais, o ecossistema é capaz de se 
autorecuperar. 
Para suprir suas necessidades e interesses, o ser humano realiza diversas alterações nos 
ecissistemas, na maioria das vezes de difícil recuperação. Assim, o ecossistema caatinga 
encontra-se bastante alterado, com a substituição de espécies vegetais nativas por cultivos e 
pastagens, seja pelo desmatamento ou pelas queimadas, que provocam atividades humanas 
que provocam desequilíbrio ambiental nos ecossistemas. 
A expansão agrícola, o mau manejo, a exploração comercial insustentável, o pastoreio 
execessivo, os incentivos econômicos mal direcionados, dentre outros, tem contribuído muito 
para o agravamento desta situação. Segundo Morais (2005) esta degradação tem gerado 
repercussões graves, causando sérios problemas, especificamente a desertificação, que deve 
ser entendida como um fenômeno integrador de processos econômicos, sociais e naturais, 
induzindo o desequilíbrio entre o solo, a vegetação, o ar e a água, bem como uma baixa 
qualidade de vida da população nas áreas sujeitas ao processo de desertificação. 
 
Considerações acerca da caatinga 
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O termo desertificação surgiu apenas no século XX, e é atribuído ao engenheiro francês André 
Aubréville (1897-1982) que em 1949 publica um trabalho intitulado “Climats, Forêsts et 
Desertification de L’Afrique Tropicale” que caracterizava a dinâmica do mal uso e ocupação do 
solo nas regiões da África Tropical e suas graves conseqüências ambientais (PASCHOAL, 2009). 
Embora o processo de desertificação seja antigo, apenas no século XX que as preocupações se 
avolumaram, um dos primeiros processos que gerou curiosidades foi o fenômeno conhecido 
por Dust Bowl ( algo como bacia de poeira), tal fenômeno ocorreu na região centro-oeste dos 
EUA, abrangendo parte dos Estados do Colorado, Kansas, Novo México, Oklahoma e Texas, 
durante a década de 1930. Esse fenômeno teve como principal causa, o excesso da retirada da 
vegetação nativa para o aproveitamento das terras na agricultura e pecuária, e como 
conseqüência, provocou enormes ondas de poeira associada a erosão eólica, favorecida pelas 
condições da região e por um período de seca que atingiu o local (PASCOAL, 2009). 
Um fenômeno marcante envolvendo desastres naturais ocorreu na região do Sahel, localizada 
na margem sul do deserto do Saara entre os anos de 1968 e 1974, na ocasião, um período 
longo de seca provocou a morte de centenas de milhares de pessoas, além de perdas agrícolas, 
econômicas e ambientais. 
Foi a partir dessa seca que as Nações Unidas começou a se preocupar com a questão 
desertificação. Em 1977, no Quênia, ocorreu a Conferência das nações Unidas sobre 
Desertificação, com o propósito de discutir o assunto e consolidar a questão envolvendo a 
comunidade científica e a gestão de território. 
A Convenção Internacional das Nações Unidas de Combate à Desertificação1 nos países 
afetados por seca grave e/ou desertificação2, particularmente na África (CCD) define que o 
fenômeno da desertificação ocorre nas regiões áridas, semi-áridas e subúmidas secas e 
estabelece como critério para delimitação dessas áreas o Índice de Aridez (THORNTHWAITE; 
MATHER, 1957), o qual é dado pela razão entre a precipitação (P) e a evapotranspiração 
potencial (ETP), classificado segundo a Tabela 01: 
 
 
1
 CONVENÇÃO DAS NAÇÕESUNIDAS DE COMBATE A DESERTIFICAÇÃO E 
MITIGAÇÃO DOS EFEITOS DA SECA – CCD: Instrumento jurídico do direito internacional, 
concluído pela ONU em 17 de junho de 1994 e ratificado por mais de 200 países, do qual o 
Brasil tornou-se signatário em 25 de junho de 1997. 
 
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Tabela 01: Índice de Aridez e suas zonas climáticas, adotado pelo Programa das Nações Unidas 
para o Meio Ambiente-PNUMA para a identificação e quantificação das áreas com riscos a 
desertificação. 
Índice de Aridez – IA Clima 
IA ≤ 0,05 Hiper-árido 
0,05< IA ≤ 0,20 Árido 
0,20 < IA ≤ 0,50 Semiárido 
0,50< IA ≤ 0,65 Subúmido seco 
IA > 0,65 Úmido 
Fonte: UNESCO (2003). 
Ab’Saber (1977) considera como os “processos parciais de desertificação, todos aqueles fatos 
pontuais ou aureolares, suficientemente radicais para criar degradações irreversíveis da 
paisagem e dos tecidos ecológicos naturais. 
Para Vasconcelos Sobrinho (1978) desertificação é um processo de fragilidade dos 
ecossistemas das terras secas em geral, que em decorrência da pressão excessiva exercida 
pelas populações humanas, ou às vezes pela fauna autó tone, perdem sua produtividade e 
capacidade de recuperar-se. 
Nimer (1988) enfoca que a crescente degradação ambiental expressa ressecamento e perda da 
capacidade de produção dos solos. Este ressecamento crescente do meio natural pode ser 
uma decorrência da mudança do clima regional e/ou do uso inadequado dos solos pelo 
homem. 
Segundo Conti (1989) a desertificação se caracteriza pela escassez de organismos vivos, 
principalmente de vegetais, com o declínio da atividade biológica e avanço do processo de 
mineralização do solo, além do agravamento da ação erosiva e invasão maciça de areia. A ação 
do homem estaria na origem desta modalidade de deserto. O citado autor caracterizou os 
graus de intensidade da desertificação em: 
 Fraca – uma pequena deterioração da cobertura vegetal e dos solos; 
 Moderada – grande degradação da cobertura vegetal e surgimento de areia, indícios de 
salinização dos solos e formação de voçorocas; 
 Severa – ampliação das áreas sujeitas à formação de voçorocas e aparecimento de 
dunas, avanço da erosão eólica; 
 Muito severa – desaparecimento quase completo da biomassa, impermeabilização e 
salinização dos solos. 
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Rodrigues (1995) considera que as condições de semi-aridez são umas das grandes 
dificuldades para a utilização e manejo dos recursos naturais, o que é agravado pelas 
atividades humanas, resultando na eliminação da cobertura vegetal original e perda parcial ou 
total do solo, por fenômenos físicos ou químicos, e na ocupação da área por espécies de 
plantas invasoras, culminando com a redução da biodiversidade. Destaca que, além dos 
fenômenos físicos como a seca, também atua como uma das causas da desertificação o 
sobrepastoreio extensivo por bovinos, caprinos e ovinos, além do emprego de práticas 
inadequadas no uso do solo. 
Roxo e Mourao (1998) propuseram um esquema, apresentado na Figura 01, indicando que 
diferentes combinações das causas e processos que conduzem a desertificação levam, todas 
elas, a erosão do solo, fenômeno que induz a criação de condições de deserto por meio da 
degradação natural e/ou antrópica dos recursos de solo, água e vegetação. 
 
Figura 01 – Concepção da desertificação segundo ROXO & MOURÃO (1998). 
 
Fonte: Noleto (2005) 
Para Tabarelli (2002) o bioma Caatinga encontra-se bastante alterado, com a 
substituição de espécies vegetais nativas por cultivos e pastagens. O desmatamento e as 
queimadas são ainda práticas comuns no preparo da terra para a agropecuária que, além de 
destruir a cobertura vegetal, prejudica a manutenção de populações da fauna silvestre, a 
qualidade da água, e o equilíbrio do clima e do solo. Aproximadamente 80% dos ecossistemas 
originais já foram antropizados. 
Conforme o reconhecimento dos autores, acima citados, vê-se que a ação antrópica nesse 
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bioma é o principal fator de sua degradação. Percebe-se que na questão da desertificação, o 
homem é um agente que deve ser levado em consideração, além de que, o processo está 
associado a mudanças paisagísticas, podendo se tornar um fenômeno irreversível. 
 
Desertificação no Nordeste do Brasil 
Como visto anteriormente, as áreas ameaçadas ou afetadas por processos de desertificação 
são aquelas enquadradas com índices de aridez oscilando entre 0,05 e 0,65, ou seja, as áreas 
com clima árido, semiárido e subúmido seco. 
Partindo desse critério as áreas susceptíveis a desertificação (ASD) estão nos estados do 
Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e norte de 
Minas Gerais (Mapa 01), praticamente a área de ocorrência do Bioma Caatinga. . Mas há áreas 
dos Estados do maranhão e do Espírito Santo onde as características ambientais hoje 
vislumbradas sugerem a ocorrência de processos de degradação tendentes a transformá-las 
em áreas também sujeitas à desertificação, caso não sejam ali adotadas medidas de 
preservação e conservação ambiental (BRASIL, 2004). 
Mapa 01: Áreas susceptíveis a desertificação – ASD. 
 
Fonte: BRASIL (2004). 
 
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Um dos primeiros estudos sobre a desertificação no território brasileiro foram os 
estudos de Vasconcelos Sobrinho, na década de setenta, segundo ele, “um grande deserto 
com todas as características ecológicas que conduziram à formação dos grandes desertos hoje 
existentes em outras regiões do globo. 
O mesmo autor também define os núcleos desertificação, como sendo “áreas onde a 
degradação da cobertura vegetal e do solo alcançou uma condição de irreversibilidade, 
apresentando-se como pequenos desertos já definitivamente implantados dentro do 
ecossistema primitivo”. A partir dessa definição, Vasconcelos Sobrinho seleciona seis áreas 
existentes no território brasileiro, são eles: Gibões/PI, Inhamus/CE, Seridó/RN, Cariris 
Velhos/PB, Sertão Central/PE e Sertão do São Francisco/BA. 
Segundo Brasil (2004), na linha das pesquisas iniciadas por Vasconcelos Sobrinho, o Núcleo 
Desert, da Universidade Federal do Piauí/UFPI, fez novos estudos na década de 1990, para a 
Conferência Nacional e Semiárido Latino-Americano – CONSLAD. Esse esforço, apoiado pelo 
Ministério do Meio Ambiente, agregou-se a EMBRAPA, por intermédio do CPTATSA (Embrapa 
Semiárido). Esses estudos trouxeram novas evidências sobre as áreas submetidas aos 
processos de desertificação. A partir delas foram selecionadas quatro áreas para realização de 
estudos mais específicos. Caracterizando-se como áreas desertificadas e de alto risco, o MMA 
agrupou-se na forma especificada, envolvendo suas causas (Tabela 02). 
 
Tabela 02: Núcleos de desertificação consensuados a partir dos estudos de Vasconcelos 
Sobrinho e posteriormente pelo Núcleo Desert. 
Núcleos Superfície 
(Km2) 
População 
(hab) 
Causas principais da desertificação e/ou 
degradação. 
Gilbués-Pi 6131 10000 Região devastada por mineradoras. 
Irauçuba-CE 4000 34250 Ocupaçãodesordenada do solo. 
Seridó-RN 2341 244000 Solos aluviais utilizados para a extração de 
argila e lenha. 
Cabrobó-PE 5960 24000 O solo frágil não suportou a pecuária e a 
agricultura. 
Total 18431 312250 
Fonte: BRASIL (2004). 
Segundo Brasil (2004) áreas Semiáridas e Subúmidas Secas do Brasil abrangem uma superfície 
de 1130790,53 Km2, dos quais 710437,3 Km2 ( 62,83%) são caracterizados como semiáridos e 
420258,8 Km2 (37,17% ) como subúmidos secos. Em 2000, residiam ali 22,5 milhões de 
habitantes. Desse total, 14,2 milhões (63,31%) habitavam em áreas semiáridas e 8,2 milhões 
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em áreas sub-úmidas secas (36,69%). As Áreas do Entorno das Áreas Semiáridas e Sub-úmidas 
Secas compreendem uma superfície de 207340Km2, distribuídos ao longo de 281 municípios. 
 
Desertificação no Rio Grande do Norte 
A dinâmica bioclimática do Semiárido está associada à limitação nos recursos hídricos, cuja 
restrição natural gera problemas relacionados a disponibilidade hídrica, comprometendo o 
sistema produtivo agropecuário. Sua ocupação ocorreu de forma desordenada e progressiva, 
levando a uma exploração excessiva de seus recursos naturais. 
As atividades econômicas desenvolvidas no sertão giraram por muito tempo em torno do 
binômio gado-algodão e da agricultura de subsistência desenvolvida em solos aluviais. Assim, 
majoritariamente, essa ocupação está agregada a alguma forma de degradação, seja do solo, 
da vegetação, da fauna ou dos recursos hídricos no ecossistema Caatinga. 
O estado do Rio Grande do Norte tem sua vegetação essencialmente constituída de plantas 
xerófilas. Ocupando cerca de 80% do território estadual, o volume de biomassa, 
historicamente tem provido grande parte da energia necessária às atividades produtivas e à 
subsistência da população. 
Fundamentado na classificação adotada pelo PAN-BRASIL, as áreas susceptíveis a 
desertificação abrangem praticamente todo o território do estado, de um total de 167 
municípios que o compõem, apenas oito (8) não estão categorizados em algum nível de 
susceptibilidade a desertificação, são eles: Arês, Baia Formosa, Canguaretama, Goianinha, 
Nísia Floresta, Senador Georgino Avelino, Tibau do Sul e Vila Flor. Tipicamente, todos estes 
municípios compõem uma única área e estão localizados no extremo sul do litoral leste do 
estado, onde ainda existe remanescência da Mata Atlântica. 
Assim, as Áreas Susceptíveis a Desertificação – ASD no Rio Grande do Norte correspondem a 
97,6% do território e abrigam 96,5% da população (BRASIL, 2004). Com uma área territorial 
total de 52796791 Km2, conclui-se que aproximadamente 51529,668 Km2 do território do RN 
estão inseridas na ASD, o que coloca o Rio grande do Norte como um dos estados com maior 
área (proporcional) inseridas nas ASD, o que por si só, se torna uma informação preocupante. 
Fundamentado na classificação adotada pelo PAN-BRASIL, as áreas susceptíveis a 
desertificação abrangem praticamente todo o território do estado, de um total de 167 
municípios que o compõem, apenas oito (8) não estão categorizados em algum nível de 
susceptibilidade a desertificação, são eles: Arês, Baia Formosa, Canguaretama, Goianinha, 
Nísia Floresta, Senador Georgino Avelino, Tibau do Sul e Vila Flor. 
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Indicadores de desertificação 
Por se tratar de uma problemática que envolve vários ramos da ciência, há uma enorme 
dificuldade de formular um sistema de indicadores padrão para todo o mundo, sejam eles 
físicos, biológicos, sociais e econômicos que são utilizados para mensurar o nível de 
desertificação de uma determinada área, não existindo um modelo fechado de indicadores 
que podem ser aplicados a qualquer parte do globo. 
A primeira tentativa de formulação de um sistema de indicadores de desertificação foi 
patrocinada pelo PNUMA quando do processo de preparação da Conferência de Nairobi, em 
agosto de 1977 (MATALLO JUNIOR, 2001). 
Em um trabalho realizado pela Fundação Grupo Esquel Brasil-FGEB, 1996, formulando um total 
de 19 indicadores de desertificação e suas variáveis, podendo ser mais de uma variável para 
cada indicador. Esse resultado foi enviado, juntamente com propostas de outros países a FAO, 
Metodologia Unificada para a Evaluación y Monitoreo de La Desertification em America Latina, 
cujo produto final envolveu 52 indicadores; socioeconômicos, biológicos, físicos e espectrais 
(MATALLO JUNIOR, 2001). 
Para Mouat et al. (1997) os indicadores de potenciais para avaliação do risco à desertificação 
deve envolver aspectos relacionados a solo-vegetação-atmosfera-água, incluindo população e 
veículo fora de estrada. 
Rubio e Bochet (1998) criaram um conjunto de matriz, processos e parâmetros potenciais para 
identificação de áreas com risco a desertificação, onde esta matriz está subdividida em cinco 
eixos principais: solo, clima, vegetação, topografia e sócio-economia. 
Para Prince (2002) os processos biofísicos comumente mencionados envolvidos na 
desertificação são; perda da estrutura e coesão do solo, incrustação e compactação do solo, 
erosão do solo por ablação, voçorocas, erosão laminar do solo, acumulação do solo na base de 
plantas perenes e estruturas permanentes, aumento da complexidade da paisagem, formação 
de dunas, adição de sedimentos em corpos d’água, perda da produtividade das lavouras, 
pastos e florestas, tempestade de areia, aumento de aerossóis atmosféricos, perda da 
rugosidade da superfície, aumento do albedo, diminuição da convecção, redução da 
precipitação e mudanças na circulação da atmosfera. 
Silva et al.(2002) consideraram que o processo de desertificação se desenvolve na Camada 
Limite Atmosférica (CLA), mas interage com as camadas da atmosfera livre, assim propuseram 
que o monitoramento da degradação poderá ser feito determinando certos parâmetros do 
solo (emissividade e albedo), da vegetação (Índice de área foliar) e da atmosfera (fluxos de 
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superfície) envolvendo os balanços de radiação, energia e hídrico local por técnicas de 
sensoriamento remoto. 
Para Brasil (2004) a exemplo dos autores mencionados, existe uma ampla variedade de 
indicadores de desertificação, abrangendo aspectos físicos, biológicos e socioeconômicos. Um 
aspecto diferenciado encontrado nessa proposta é a subclassificação quanto ao nível de 
importância e o grau de abrangência (para cada indicador de desertificação), onde para o nível 
de importância pode ser nível 1 ou 2, enquanto para o grau de abrangência pode ser de escala 
nacional ou local. 
Como foi visto, a análise proposta pelos autores acima citados envolvem variáveis e 
parâmetros complexos, que dependem de métodos físico e/ou estatístico padronizados, além 
de uma longa série temporal de dados geomorfoclimáticos e sócio-econômicos. 
Devido à dificuldade, complexidade e alto custo na obtenção de dados ambientais surgem uma 
nova ordem na aquisição dessas informações, são os chamados dados de sensoriamento 
remoto orbital (aquisição de dados sobre um objeto sem tocá-lo pela quantidade de energia 
eletromagnética que emana um alvo geográfico na superfície). Assim, tem papel importante 
como fonte de informações de parâmetros físicos, necessários para o manejo sustentável de 
recursos naturais e para proteção ambiental. 
O sensoriamento remoto funciona em harmonia com outras ciências da informação 
geográfica, incluindo cartografia, levantamento, e Sistemas de Informações Geográficas (SIG). 
Jensen (2011)sugeriu um modelo de interação (FIGURA 02) entre sensoriamento remoto, 
cartografia, levantamento e GIS, em que nenhuma sub-disciplina domina, e todas são 
conhecidas como tendo áreas únicas, ainda que com sobreposição, de conhecimento e 
atividade intelectual à medida que são usadas na pesquisa científica física, biológica e social. 
Figura 02: Modelo de Interação, mostrando a relação entre as ciências de informações 
geográficas. 
 
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Fonte: Jensen (2011). 
A detecção de mudanças nas paisagens a partir do uso do Geoprocessamento e Sensoriamento 
Remoto permitem obter uma melhor vigilância sobre o estágio atual de degradação na 
Caatinga, possibilitando ainda fornecer material de suporte para a definição de estratégias de 
planejamento ambiental na aplicação mais adequada dos recursos naturais. 
De acordo com o trabalho realizado pelo grupo de Trabalho Interministerial para a 
Redelimitação do Semiárido Nordestino e do Polígono das Secas, realizado pela Agência de 
Desenvolvimento do Nordeste (BRASIL, 2004, p.52), 
Geoambientalmente além das vulnerabilidades climáticas do 
Semiárido, grande parte dos solos encontra-se degradada. Os 
recursos hídricos caminham para a insuficiência ou apresentam níveis 
elevados de poluição. A flora e a fauna vêm sofrendo a ação 
predatória do homem. E os frágeis ecossistemas regionais não estão 
sendo protegidos, ameaçando a sobrevivência de muitas espécies 
vegetais e animais e criando riscos à ocupação humana, inclusive 
associados a processos, em curso, de desertificação. 
Desta forma, os Sistemas de Informações Geográficas - SIG podem oferecer valiosos 
cruzamentos entre dados de sensoriamento remoto com dados de outras fontes a fim de 
monitorar, otimizar planejamentos e subsidiar tomadas de decisões no gerenciamento do 
meio ambiente, notadamente o processo de desertificação. 
 
RESUMO 
Nessa aula você estudou conceitos fundamentais de Desertificação sua origem e alguns 
indicadores. Essa análise evidenciou que o processo de desertificação no Nordeste só poderá 
ser controlado e ter sua regressão alcançada através de medidas de ordem política, técnica e 
econômica, com metodologias mais rigorosas de identificação do processo de ruptura do 
equilíbrio ecológico, bem como de formas de atuação corretiva dos processos em curso, 
percebendo-se a necessidade de mapeamento, análise crítica das condições reais de 
degradação de diversas áreas e estudos de medidas factíveis, para a recuperação do equilíbrio 
ecológico. 
 
ATIVIDADES 
1. Apresente a definição de desertificação segundo a CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS 
DE COMBATE A DESERTIFICAÇÃO E MITIGAÇÃO DOS EFEITOS DA SECA. 
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2. Pesquise em artigos científicos e disserte sobre as divergências conceituais a respeito 
do tema desertificação. 
3. Comente os princípios fundamentais envolvidos em conservação da caatinga. 
4. Quais as concepções da desertificação segundo Roxo; Mourão (1998), suas bases 
conceituais e metodológicas da análise integrada do meio ambiente. 
5. Apresente a metodologia utilizada por Brasil (2004) na elaboração da carta Áreas 
Susceptíveis a Desertificação – ASD (Mapa 01), e explique geograficamente por que 
apenas 8 municípios do Rio Grande do Norte não estão categorizados no nível de 
susceptibilidade a desertificação. 
6. Comente sobre os mecanismos de erosão hídrica e de erosão eólica dos solos nas 
mesorregiões do Rio Grande do Norte. 
7. Pequise em revistas científicas modelos de avaliação do processo de desertificação e 
descreva três métodos. 
8. Disserte sobre a importância, vantagens e desvantagens do uso de técnicas de 
sensoriamento remoto e geoprocessamento na avaliação e mitigação da 
desertificação. 
 
LEITURAS OBRIGATÓRIAS 
BRASIL. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Secretaria de Recursos Hídricos. Programa de ação 
nacional de combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca: PAN-BRASIL. Brasília, 
2004. 
LOPES, H.L; CANDEIAS, A.L.B.; ACCIOLY, L.J.O.; SOBRAL, M.C. Modelagem De Parâmetros 
Biofísicos Para Desenvolvimento De Algoritmo Para Avaliação E Espacialização De Risco A 
Desertificação. 2009 
ROXO, M. J.; MOURAO, J. M. Desertificação: a percepção pública do fenômeno. Revista 
Florestal, v. XI, n. 1, p. 27-34,1998. 
THORNTHWAITE, C.W.; MATHER, J.R. Instruction and tables for computing potencial 
evapotranspiration and water balance in climatology. New Jersey, 10(3):185-312, 1957. 
 
REFERÊNCIAS 
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Paulo: Instituto de Geografia da USP, 1977. 
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nacional de combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca: PAN-BRASIL. Brasília, 
2004. 
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Física Aplicada. Nova Friburgo-RJ. V.1, PP.189-194. Mai/jun, 1989. 
CONTI, J.B. O conceito de desertificação. Climatologia e Estudos da Paisagem. Rio Claro, vol. 
3p. 39-52, n°2, Jul/Dez, 2008. 
JENSEN, J.R. Sensoriamento Remoto do Ambiente: uma Perspectiva em Recursos Terrestres: 
Tradução José Carlos Neves Epiphanio et al. São José dos Campos, SP: Parêntese, 2011 
LOPES, H.L; CANDEIAS, A.L.B.; ACCIOLY, L.J.O.; SOBRAL, M.C. Modelagem De Parâmetros 
Biofísicos Para Desenvolvimento De Algoritmo Para Avaliação E Espacialização De Risco A 
Desertificação. 2009 
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2001. 
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v.50, n.1, PP.7-39,1988. 
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VASCONCELOS SOBRINHO, J. Identificação de processos de desertificação no Polígono das 
Secas do Nordeste Brasileiro. Recife: SUDENA, 1978.

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