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Autores: Prof. Roberto Toledo Rodrigues Junior Prof. Alexandre Ribeiro Arantes Prof. Denis Terezani Colaboradores: Profa. Vanessa Santhiago Prof. Marcel da Rocha Chehuen Organização de Campeonatos e Eventos Esportivos Professores conteudistas: Roberto Toledo Rodrigues Junior / Alexandre Ribeiro Arantes / Denis Terezani Roberto Toledo Rodrigues Junior Bacharel em Administração e Educação Física com mestrado em Administração de Empresas. Em 2014, concluiu o Curso Avançado de Gestão Esportiva (Cage), realizado pelo Instituto Olímpico Brasileiro do COB. Em 2017, atuou como palestrante no Congresso Internacional The Future of Football, realizado em Lisboa pelo Sporting Club sobre estratégias de expansão de marca e eventos em escolas de futebol. É autor do livro Gestão do Esporte Universitário: uma importante estratégia de marketing para as universidades. Como dirigente esportivo, participou de seis campeonatos mundiais com a seleção brasileira universitária de futsal, obtendo os títulos de campeão mundial em Novi Sad (Sérvia 2010) e Goiás (Brasil 2016). Alexandre Ribeiro Arantes Bacharel em Administração de Empresas com especializações em Políticas Públicas e Gestão do Esporte. Mestre em Educação Física. Professor nos campus São José dos Campos, Chácara Santo Antônio, Anchieta e Paraíso. Diretor administrativo da Federação Paulista de Vôlei. Trabalha com tecnologia no esporte desde 1989. Ao longo da sua carreira, trabalhou em importantes eventos realizados no Brasil, entre eles: Circuito Banco do Brasil de Vôlei de Praia; Verão Vivo, da TV Bandeirantes; Copa Davis de Tênis; Copa América de Voleibol; Circuito Paulista de Vôlei de Praia; entre outros. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Gestão do Esporte na USP (Gepae). Nos últimos anos, vem se dedicando ao tema gestão do conhecimento em organizações esportivas. Denis Terezani Professor doutor responsável pelas disciplinas Recreação e Organização de Campeonatos e Eventos Esportivos na UNIP (campi Paraíso e Santos). Ocupou o cargo de gerente de operações técnicas, modalidade Canoagem Slalom, nos Jogos Olímpicos do Rio 2016. Atualmente, integra o Comitê Técnico da Confederação Brasileira de Canoagem (CBCa) e o quadro de arbitragem da International Canoe Federation (ICF). Tem experiência na área de Educação Física, com ênfase em Pedagogia do Movimento, Atividades de Aventura e Natureza, e Políticas Públicas em Esporte e Lazer. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) R696o Rodrigues Junior, Roberto Toledo. Organização de Campeonato e Eventos Esportivos / Roberto Toledo Rodrigues Junior, Alexandre Ribeiro Arantes, Denis Terezani. – São Paulo: Editora Sol, 2020. 220 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Planejamento de eventos. 2. Marketing esportivo. 3. Mídia. I. Arantes, Alexandre Ribeiro. II. Terezani, Denis. III. Título CDU 796.06 U507.12 – 20 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcello Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Fabrícia Carpinelli Elaine Pires Sumário Organização de Campeonatos e Eventos Esportivos APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 EVENTOS ESPORTIVOS ......................................................................................................................................9 1.1 O que são eventos esportivos? ..........................................................................................................9 1.2 Mercado de eventos esportivos ...................................................................................................... 18 1.3 Subdivisões e tipologia dos eventos esportivos....................................................................... 22 1.4 Quando realizar um evento esportivo? ....................................................................................... 24 2 ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO DE EVENTOS ............................................................................ 25 2.1 Administração ........................................................................................................................................ 25 2.1.1 Planejamento ........................................................................................................................................... 28 2.1.2 Organização .............................................................................................................................................. 31 2.1.3 Direção ........................................................................................................................................................ 34 2.1.4 Controle ...................................................................................................................................................... 35 2.2 Gestão do esporte ................................................................................................................................ 36 2.3 O esporte como negócio ................................................................................................................... 39 2.4 Outros aspectos referentes ao papel do gestor esportivo ................................................... 42 2.4.1 Reuniões ..................................................................................................................................................... 42 2.4.2 Gestão de crises e planos de contingência .................................................................................. 43 3 EMPREENDEDORISMO ESPORTIVO .......................................................................................................... 44 3.1 O que é empreendedorismo? ........................................................................................................... 49 3.2 De empregado a chefe: qual a melhor forma de transição? .............................................. 54 3.3 “Se puder sonhar, poderá fazer”: desafios e tópicos de avaliação para abertura de uma empresa ........................................................................................................................ 56 3.4 Organizações vencedoras têm profissionais com perfil empreendedor......................... 60 4 MARKETING ESPORTIVO ............................................................................................................................... 63 4.1 O negócio do marketing esportivo ................................................................................................ 67 4.2 Mudanças no mix de marketing .................................................................................................... 72 4.3 Regras, patrocínio, tecnologia, atletastransgêneros, atletas com necessidades especiais e outros casos................................................................................................. 73 4.3.1 Regras .......................................................................................................................................................... 73 4.3.2 Patrocínio ................................................................................................................................................... 74 4.3.3 Tecnologia .................................................................................................................................................. 76 4.3.4 Atletas transgêneros, com necessidades especiais e outros casos ..................................... 78 4.4 Marketing pessoal com enfoque nos eventos esportivos .................................................... 81 4.5 Marca......................................................................................................................................................... 87 Unidade II 5 A ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIOCULTURAIS DE ESPORTE E LAZER E AS LEIS DE INCENTIVO ............................................................................................................................................. 96 5.1 Antes de elaborar o projeto, é necessário conhecer o produto. Mas, afinal, o que é esporte e lazer? ............................................................................................................................ 96 5.1.1 O que é esporte? ..................................................................................................................................... 96 5.1.2 O que é lazer? ........................................................................................................................................... 99 5.2 A elaboração de projetos socioculturais: a venda de uma ideia para as práticas esportivas e de lazer ................................................................................................................101 5.3 A Lei n. 11.438/06 (Lei de Incentivo ao Esporte) e a gestão de projetos .....................114 5.4 Projeto de patrocínio: oportunidades, investimentos, retornos e resultados ............117 6 MÍDIA .................................................................................................................................................................119 6.1 O que é mídia? .....................................................................................................................................120 6.1.1 Tipos de mídia ........................................................................................................................................121 6.2 Marketing institucional ...................................................................................................................124 6.2.1 Qual a diferença do relacionamento off-line para o relacionamento on-line com o consumidor? ....................................................................................................................... 126 6.2.2 Quais seriam as possíveis ações do marketing institucional utilizando a tecnologia em um estádio? ....................................................................................................................... 128 6.2.3 Como anda a retórica digital nos clubes no Brasil em comparação com os clubes da Europa? ..................................................................................................................................... 129 6.3 Retorno de mídia ................................................................................................................................132 7 GESTÃO DE PESSOAS ...................................................................................................................................135 8 REGULAMENTOS, SISTEMAS DE DISPUTA E OUTROS ASPECTOS ...............................................152 8.1 Regulamento ........................................................................................................................................152 8.2 Sistemas de disputa...........................................................................................................................159 8.2.1 Eliminatória simples ........................................................................................................................... 160 8.2.2 Eliminatória consolação .................................................................................................................... 168 8.2.3 Eliminatória Bagnall-Wild ................................................................................................................ 168 8.2.4 Repescagem ........................................................................................................................................... 169 8.2.5 Eliminatória dupla ................................................................................................................................170 8.2.6 Rodízios .................................................................................................................................................... 172 8.2.7 Escalas ...................................................................................................................................................... 177 8.2.8 Outros sistemas .................................................................................................................................... 178 8.3 Arbitragem e segurança ..................................................................................................................179 8.3.1 Arbitragem .............................................................................................................................................. 179 8.3.2 O papel da tecnologia no esporte ..................................................................................................181 8.3.3 Segurança ............................................................................................................................................... 182 8.4 Visita técnica, montagem e desmontagem .............................................................................187 8.5 Cerimonial e protocolo ....................................................................................................................191 8.5.1 O que é protocolo? .............................................................................................................................. 192 8.5.2 O que é cerimonial? ............................................................................................................................ 192 7 APRESENTAÇÃO Esta disciplina tem como objetivo principal fornecer conhecimentos para que os futuros profissionais de educação física desenvolvam uma visão geral dos conceitos básicos de administração e marketing voltados para a organização de eventos esportivos ao mostrar como adquirir competências para viabilizar eventos ligados ao esporte. Além disso, também pretende apresentar aspectos sobre como organizar eventos esportivos com uma visão responsável e empreendedora, envolvendo diversos aspectos sobre planejamento, captação de recursos, marketing esportivo, patrocínio, retorno de mídia e gestão de pessoas. Com o avançar da matéria, a ideia central é que o aluno comece a entender a aplicabilidade desses eventos esportivos em diversos segmentos que ele atue como profissional de educação física, tendo a iniciativa para propor a realização destes projetos, mostrando à sua empresa, escola, academia ou equipe os benefícios estratégicos diretos com a realização de tais eventos. Será visto como se constrói um projeto esportivo e a importância da venda de uma ideia para sensibilizar diversos stakeholders, exibindo as vantagens que todos terão com a realização do evento. Ao término, o aluno terá consciênciasobre a importância de utilizar o evento esportivo como ferramenta para o seu crescimento profissional, entendendo que ao ser capacitado para ser o responsável por um evento, se destacará no mercado de trabalho. INTRODUÇÃO Este material é de suma importância, tendo em vista que abre uma ampla gama de variáveis para o crescimento profissional do aluno. Em todas as áreas dentro do segmento esportivo haverá oportunidades para que sejam realizados eventos esportivos. Dentro deles temos a possibilidade de “encantar” nosso público, oferecendo produtos e serviços que garantam a satisfação destes clientes e, principalmente, o retorno deles nos próximos campeonatos, aulas e atividades distintas que pretendemos realizar. Inicialmente, conceituaremos o que é um evento esportivo abordando o tamanho do mercado de eventos, apresentando também suas subdivisões e tipologias. Também veremos tópicos sobre administração e planejamento esportivo, tendo uma abordagem do esporte como negócio, discutindo importantes aspectos sobre o papel do gestor esportivo. Além disso, vamos mostrar a importância do tema referente ao empreendedorismo esportivo, o qual apresenta a possibilidade de abertura de empresas (startups), as quais movimentam o mercado e geram empregos. Por fim, conceituamos o que é marketing esportivo e sua importância dentro do segmento de eventos, abordando também diversos aspectos que podem impactar na imagem de um evento, além de apresentar questões sobre marketing pessoal com enfoque nos eventos e a questão da importância da marca. 8 Na sequência estudaremos o tema sobre a elaboração de projetos esportivos e leis de incentivo, fornecendo conceitos básicos e técnicas para a elaboração de projetos e captação de recursos. A seguir, mostramos como mensurar o retorno de mídia de um evento esportivo, redes sociais e marketing institucional, ressaltando a importância das redes sociais como forma de comunicação e as importantes estratégias de comunicação que fazem parte deste composto. Depois discutiremos o tema sobre gestão de pessoas, mostrando que os líderes que estão à frente dos eventos precisam estar preparados para tomadas de decisões cada vez mais complexa. Para isso, são mostradas abordagens inovadoras para resolver problemas, apresentando as 11 habilidades interpessoais que um gestor esportivo deve possuir. Por fim, será discutida a importância dos regulamentos, apresentados os principais sistemas de disputa, equipes de arbitragem, segurança, além dos cerimoniais e protocolos dos eventos. Num mercado profissional altamente competitivo, quando temos candidatos a uma vaga com qualificações básicas semelhantes (outros idiomas, cursos de pós-graduação, entre outros aspectos), o profissional pode se diferenciar pela sua capacidade de realizar eventos esportivos. 9 ORGANIZAÇÃO DE CAMPEONATOS E EVENTOS ESPORTIVOS Unidade I 1 EVENTOS ESPORTIVOS 1.1 O que são eventos esportivos? A origem exata dos primeiros eventos é incerta. Acredita-se que eles começaram há milhares de anos, quando os povos ainda não civilizados se reuniam para comemorar os bons tempos de caça ou mesmo quando realizavam competições que tinham como objetivo identificar os mais fortes e habilidosos ao mesmo tempo que já entretinham o restante do grupo. Muitas vezes, esses povos se preparavam durante várias semanas para essas comemorações pintando seus rostos e ensaiando cânticos que eram apresentados em sequência e com alguém da tribo conduzindo o cerimonial que, via de regra, sempre continha muita comida, música e disputas. Mesmo em um cenário tão primitivo como este, é fácil identificar um evento. Há um planejamento prévio, com as tribos preparando a comida e ensaiando os cantos; existe um motivo principal (comemorar a fartura da caça); há as disputas esportivas (lutas para ver o mais forte); além da participação praticamente completa da tribo (público), com grande entretenimento. Quando as tribos acendiam a fogueira, as comemorações começavam. Essa simbologia ainda permanece, pois, nos Jogos Olímpicos, quando do seu início, acende-se a pira olímpica. Já faz um bom tempo que os eventos esportivos deixaram de ser organizados por amadores para se tornar uma área para profissionais qualificados. Atualmente, os eventos esportivos movimentam milhões de dólares em suas edições, e as principais capitais mundiais disputam o privilégio de sediar uma Olimpíada ou Copa do Mundo. Mas por que tanto interesse em receber o evento? Quando falamos sobre Jogos Olímpicos ou Copa do Mundo, temos diversas justificativas, tais como a melhora das estruturas (tanto das instalações desportivas quanto da malha viária, com reformas em aeroportos, metrôs e transporte urbano). A Vila Olímpica, a qual é construída como dormitório para os atletas, posteriormente tem seus imóveis vendidos com condições especiais, geralmente com preço mais baixo e com auxílio no financiamento através de um programa de moradia do governo federal. Além disso, temos a criação de novos empregos e grandes benefícios para o setor de turismo, o qual contribui significativamente com o aumento do PIB (Produto Interno Bruto) das cidades-sedes devido ao grande número de turistas que comparecem aos eventos e gastam em diversos setores, como, por exemplo, em hotelaria, bares, restaurantes, compras, entre outros. Apesar de todos esses motivos, ainda existe uma controvérsia sobre o real benefício que tais eventos podem trazer para as suas cidades-sedes, pois, apesar da possibilidade de eles serem responsáveis por 10 Unidade I trazer retorno econômico, podem também prejudicar muito as finanças do país-sede. Temos como exemplo a Grécia. O país sediou os Jogos Olímpicos de 2004 e teve um grande prejuízo financeiro, além do abandono das instalações olímpicas após o seu término. Se, por um lado, temos exemplos positivos sobre legado esportivo e a transformação da cidade, por outro temos cidades que não conseguiram realizar uma política para que o evento esportivo servisse como ponto de partida para uma transformação por meio do esporte. Entre os exemplos bem-sucedidos, temos os Jogos Olímpicos realizados em Los Angeles (1984), Atlanta (1996) e Barcelona (1992). EUA e Espanha conseguiram ganhos econômicos com a realização do evento e, especialmente em Barcelona, ocorreu um dos melhores exemplos de legado esportivo. No caso da Copa do Mundo, pode-se citar como exemplos positivos e de sucesso a Alemanha em 2006 e novamente os EUA em 1994. Independentemente da discussão sobre o legado, esses eventos tiveram o envolvimento direto de milhares de pessoas entre participantes, voluntários, técnicos e público presente, além de serem vistos por milhões de pessoas ao redor do planeta devido às transmissões de TV. Segundo o Global Broadcast and Audience Report (INTERNACIONAL..., 2016), o relatório oficial elaborado pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro de 2016 contaram com a maior audiência da história, levando em consideração a cobertura de TV vista nas plataformas digitais e televisivas, além do engajamento nas redes sociais. Conforme o relatório, metade da população mundial assistiu à cobertura da Olimpíada do Rio 2016, atingindo uma audiência de 6,9 bilhões de pessoas. Figura 1 – Abertura dos Jogos Olímpicos de 2016 11 ORGANIZAÇÃO DE CAMPEONATOS E EVENTOS ESPORTIVOS Saiba mais Algumas curiosidades sobre os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016 podem ser vistas no link a seguir. RIO 2016 sets records on the field of play and online. Olympic. Org, 22 ago. 2016. Disponível em: <https://www.olympic.org/news/ rio-2016-sets-records-on-the-field-of-play-and-online-1>. Acesso em: 12 mar. 2019. Se contabilizarmos as redes sociais e toda a mídia gerada pela internet, que está cada vez mais acessível, os impactantes números ficam difíceis de mensurar. Mas qual a importância de tamanha audiência de um evento? Segundo a matéria publicada pela revista The Week (WORLD..., 2018), a Copado Mundo de 2018, que ocorreu na Rússia, teve previsão de investimentos em patrocínio que chegaram a US$ 1.450 milhões. Apesar de destacar que o investimento em patrocínio na Copa da Rússia foi menor que os valores da Copa do Mundo no Brasil em 2014, o que foi creditado à má reputação da Fifa decorrente dos escândalos de corrupção, ainda assim os valores são muito significativos. Dessa maneira, chegamos à conclusão de que quanto mais público e audiência tem o evento, maior é o seu valor para o mercado. Temos inúmeros exemplos seguindo esta lógica. A final do campeonato de futebol americano de 2018, que leva o nome de Super Bowl, entre o New England Patriots, do astro Tom Brady, e Philadelphia Eagles, teve como show de intervalo a apresentação do cantor Justin Timberlake e foi transmitida ao vivo para 130 países. Na decisão do Super Bowl de 2019, entre o mesmo New England Patriots e a equipe dos Los Angeles Rams, o show do intervalo foi realizado pela banda Maroon 5. Segundo matérias publicadas pelo site da Folha de S.Paulo nos dias 1º e 5 de fevereiro de 2019, apesar de o placar do jogo derrubar a audiência, quase 100 milhões assistiram a final nos EUA (DRAPER, 2019), e um comercial de 30 segundos custou US$ 5,2 milhões (R$ 19 milhões de reais) (SUPER..., 2019). Muitas companhias multinacionais com abrangência global, como as grandes empresas de automóveis, cartões de crédito, refrigerantes, entre outras, incluem como estratégias de divulgação de serviços ou produtos em nível mundial o lançamento de suas campanhas publicitárias no intervalo do Super Bowl. Observação Na lista das 20 maiores audiências da TV americana, 19 são Super Bowl. Além disso, o jogo é narrado em mais de 25 idiomas diferentes. 12 Unidade I Mas o que há em comum em todos esses segmentos? Em todas as situações, temos claramente o conceito de evento: Evento é um acontecimento previamente planejado, com objetivos claramente definidos. Tem um perfil marcante: esportivo, social, cultural, filantrópico, religioso, entre outros. Sua realização obedece a um planejamento e costuma ter como um de seus objetivos a interação entre seus participantes, público, personalidade e entidades (POIT, 2013, p.19). Depois de definido o que é um evento, pode-se constatar que existem poucas diferenças conceituais entre a comemoração que as tribos faziam para celebrar as temporadas de caça em comparação com uma Copa do Mundo, pois, guardadas as proporções, em ambas as situações temos planejamento, objetivos definidos, perfil marcante e inteiração de seus participantes. A diferença básica é que no evento tribal ainda não existiam conceitos de administração e marketing. Essas analogias com o passado são importantes para que possamos trazer o conceito de evento para a realidade em que atuamos. Um dos principais pontos deste livro-texto é contextualizar o evento, trazendo-o para nosso dia a dia. Além do conceito já abordado anteriormente, Poit (2013) acredita que, provavelmente, a origem do evento tenha vindo da necessidade dos homens em viver em grupo e, assim, congregar as pessoas, compartilhar as emoções, homenagear os feitos históricos, entre outros motivos. Quando um cliente contrata um personal trainer, ele tem alguns objetivos claros, os quais, via de regra, abrangem saúde, um corpo “sarado”, melhor condicionamento físico, entre outras metas mais comuns. O personal trainer contratado se preparou tecnicamente para atender o cliente com o melhor programa de treinamento. Ele tem ótimas noções de fisiologia, biomecânica, micro, meso e macrociclos e ainda entende de nutrição para dar dicas de dieta e suplementação. Ele pode ter essa capacitação técnica e realmente ter um bom número de alunos, mas onde está inserido o congraçamento? Em qual local o treinamento cedeu espaço para que o aluno possa compartilhar as emoções da superação do treino e do avanço do programa? Como o personal trainer construirá um ambiente favorável para que o seu aluno evidencie o prazer em ver o resultado do sacrifício do treinamento? Em que lugar o personal trainer consegue criar sinergia e um sentimento comum de superação, recompensa e satisfação pessoal pelo que foi realizado? A resposta é simples: isso será atingido no evento. O profissional deve separar um momento para planejar o encontro de todos os alunos em um lugar especial; criar um perfil marcante, como a entrega de prêmios àqueles que superaram suas marcas e atingiram objetivos; e, por fim, formular a inteiração dos participantes, momento em que pode até convidar outras pessoas, aumentando a divulgação de seu trabalho. Esse tipo de ação pode ser crucial para a criação de um diferencial competitivo como profissional. 13 ORGANIZAÇÃO DE CAMPEONATOS E EVENTOS ESPORTIVOS O limite do evento é até onde vai a imaginação, atrelada a um bom plano, orçamento e uma meta bem definida. Mesmo que o profissional de educação física seja um personal trainer ou professor de educação física escolar, a lógica é a mesma. Atualmente, não podemos mais considerar a opção conformista de optar por uma profissão apenas por conta do cargo e do salário, imaginando que as coisas serão feitas da mesma forma por muitos anos. Em um cenário de constante mudança, precisamos estar à frente de nosso tempo para sermos os propositores de nossos eventos, para, assim, propor ações que vão integrar as pessoas e poderão gerar dividendos (os quais podem ser tanto pessoais como profissionais) para os organizadores. O professor de educação física escolar pode criar um evento esportivo – como um campeonato interno de futsal ou uma olimpíada – e, assim, contribuir muito para a retenção de clientes por meio da satisfação dos alunos, os quais, muitas vezes, querem permanecer no colégio por conta dos vínculos criados no esporte. A qualidade do ensino é a coisa mais importante de uma escola? Evidente que sim. Mas em um cenário mercadológico, em que outras variáveis entram em cena (como preço da mensalidade e satisfação pessoal do aluno), o evento passa a disputar um importante espaço neste contexto. Já numa escola estadual, se o professor de educação física quiser se destacar e ser visto de uma forma diferente pelos seus alunos e superiores, é necessário que tenha a coragem necessária para inovar e criar situações que promovam o congraçamento necessário entre as pessoas. O grande gerente de eventos “dança conforme a música”, ou seja, se não há orçamento, deve-se empenhar o sacrifício pessoal, muitas vezes trabalhando de forma voluntária para criar um case. Quando uma instituição de ensino superior (IES) não tem um programa esportivo consistente, muitas vezes são os próprios alunos que têm a oportunidade de mostrar trabalho com poucos recursos por meio de Centros Acadêmicos e Associações Atléticas Acadêmicas. Quando temos pelo menos uma praça esportiva e uma bola, já podemos olhar para o espaço e vislumbrar um evento esportivo completo. Mesmo sem investimento da IES, se a quadra estiver disponível, temos algumas possibilidades. Com a anuência da reitoria, é possível montar um sistema de inscrições das equipes para conseguir recursos com as taxas e assim obter alguns apoios pontuais que arquem com custos pequenos de premiação (medalhas e troféus). Com a receita da inscrição, quadra e a bola, e tendo recursos suficientes para garantir a premiação, é possível começar o trabalho voluntário. Esse trabalho, que muitas vezes é amparado na ideologia e o prazer de ver o esporte acontecer dentro do campus, nos faz assumir tarefas que são imprescindíveis para a realização do evento. Neste caso, citando como exemplo um campeonato de futsal, temos as seguintes tarefas que precisariam ser feitas de forma voluntária diante da falta de investimento da IES: divulgar o evento na faculdade por 14 Unidade I meio de cartazes ou redes sociais; controlar as inscrições; montar o regulamento e a tabela de jogos; divulgar os resultados (com cartões, pontuação, artilharia) e fazer a arbitragemde todo evento. Quando você tem um campeonato com quase 100 times, realmente é muita coisa para fazer sem remuneração. Mas o que devemos ter em mente é que, muitas vezes, além da paixão em realizar um evento, o fato de você mobilizar tanta gente de forma positiva, atingindo todos os objetivos básicos de um evento, pode mostrar aos responsáveis da IES que ali existe um grupo capacitado que sabe mostrar suas competências e deixar clara a mensagem de que, futuramente, podem confiar na sua equipe para a realização de novos eventos, de preferência, com remuneração. Ao chegar até aqui, é preciso que o futuro organizador de eventos esteja com aquela inquietação necessária de não se conformar com sua rotina de trabalho sem que haja o seguinte questionamento de forma cíclica em sua mente: “Aonde cabe um campeonato ou evento esportivo aqui?” Ao descobrir a resposta desta pergunta, é preciso ter em mente algumas diretrizes. Em primeiro lugar, a gestão de eventos surgiu como uma nova profissão que abrange uma série de atividades consideradas, anteriormente, como áreas distintas. Num segundo ponto, os ambientes em que os eventos são realizados, assim como as expectativas dos participantes, se tornaram muito mais complexos, o que aumenta a necessidade de gerenciar riscos. Por último, cresceu muito o envolvimento das empresas e governos com interesses diretos na realização destes eventos, e, com isso, o incremento da necessidade de medir o retorno deste investimento (ALLEN et al., 2008). Um conceito claro que deve ser observado é que se deve buscar a satisfação de todos dentro de um evento. Quando falamos de um campeonato esportivo, temos vários stakeholders. Atletas, diversas equipes de trabalho (arbitragem, segurança, staff), voluntários, púbico, patrocinadores, donos das empresas envolvidas, entre outros. A tarefa do organizador é elaborar um planejamento que atenda à necessidade de todos os envolvidos. Dentre os diversos pontos que precisam fazer parte do check-list, é preciso ver se as praças de jogo têm a condição necessária (quadras com metragem oficial, placar eletrônico, vestiários); se as equipes de trabalho terão boas condições para exercer suas funções; se o público vai contar com todo o conforto e conseguirá encontrar no evento todos os atributos que ele pode proporcionar; se os patrocinadores terão o retorno do investimento necessário; e se os organizadores terão seus dividendos com a edição do evento. Para isso, é necessário que o gerente de eventos obtenha capacitação contínua, sempre aproveitando para realizar cursos de gestão e, principalmente, se envolvendo de forma prática na realização de eventos diversos. Em seu trabalho, Allen et al. (2008) citam uma pesquisa feita com 105 gerentes para identificar o conhecimento exigido desses profissionais. Eles descobriram sete atributos que eram citados com frequência. Dentre eles, a visão foi apontada como o mais importante, seguida pela liderança, adaptação, habilidades em organização, comunicação, marketing e gestão de pessoas. 15 ORGANIZAÇÃO DE CAMPEONATOS E EVENTOS ESPORTIVOS Ciente de que tais competências são importantes para o gerente de eventos, podemos focar nossos esforços em aprimorá-las cada vez mais para que nossos eventos sejam memoráveis e consigam atingir os objetivos propostos em sua realização. É interessante lembrar que os eventos, por menores que sejam, têm um grande adversário: o controle remoto da TV! Hoje, além do controle remoto, o evento disputa público também pelo celular, com as redes sociais. Basta um dispositivo móvel para fazer uma transmissão ao vivo no Facebook que o evento já pode ser visto por todos, e de forma gratuita, na internet. Mas lembre-se de um conceito importante: o que faz uma pessoa sair de casa para ir ao evento é a possibilidade de encontrar coisas que ela não pode obter em casa. Por maior que seja a emoção de ver o seu time do coração ser campeão pela TV, nada se compara à catarse coletiva que acontece dentro de um estádio de futebol. Independentemente do evento presencial ser único, é preciso ter em mente a visão de possíveis quebras de paradigmas. Em um futuro próximo, ainda vamos ver as tecnologias aproximarem cada vez mais a experiência de sentir em casa a mesma emoção do estádio. Você já ouviu falar em realidade virtual ou realidade aumentada? Uma tecnologia que já está em uso são os óculos que proporcionam essa experiência. Figura 2 – Óculos de realidade virtual Imagine uma pessoa sentada no sofá de sua casa, usando óculos que lhe proporcionam uma visão completa, em 360º, de todo o estádio, em tempo real; ou seja, os óculos permitem que ela olhe para todos os lados, para cima e para baixo, e a imagem que é vista é a mesma de uma pessoa sentada em um lugar específico do estádio. Uma das experiências que poderia ser vendida é colocar uma câmera no meio de uma torcida organizada, local mais pulsante do estádio, mas que muitos têm receio de ir pelos constantes problemas de violência. Com os óculos, as pessoas poderiam vivenciar uma experiência completa de realidade virtual, como se estivessem no coração da torcida. Além disso, os óculos contam com um menu, no qual 16 Unidade I os indivíduos podem, a qualquer momento, acessar e “entrar” no vestiário, sala de imprensa e até ter um contato “privado” com o destaque da partida. A diferença da realidade virtual para a realidade aumentada é que na segunda você pode fazer a mesma transmissão e, além disso, inserir elementos que não estão lá, como, por exemplo, fazer aparecer o mascote do time, jogadores do passado e, obviamente, utilizar essa ferramenta para vender produtos e serviços que podem ser inseridos no contexto do evento. Com tudo isso, fica até difícil saber como será a decisão do torcedor no futuro. Será que ele vai preferir ir ao estádio ou usar seus óculos no conforto de seu lar? Mas o que falta para isso se tornar uma realidade? Primeiramente, aprimorar a tecnologia que está praticamente desenvolvida. Mas o ponto nevrálgico é a negociação com as emissoras de TV que detêm o direito de transmissão e pagam valores consideráveis aos clubes para poder transmitir os jogos. As emissoras de TV não querem abrir mão deste direito, pois, no futuro, serão elas as responsáveis em gerar as imagens para os óculos, os quais poderão ser comprados em lojas por qualquer torcedor. Ao abordar-se tais questões, fica evidente que as tecnologias ainda vão quebrar muitas barreiras e mudar paradigmas de como entendemos os eventos hoje em dia. Mas, independentemente das tecnologias que virão, o que precisamos ter em mente é que apenas no evento presencial poderemos encontrar alguns atributos como congraçamento, vibração coletiva e a visão geral do espetáculo ao vivo. Tudo isso cria um senso de pertencimento nas pessoas. Sobre essa questão, há uma série de atributos que as pessoas buscam em um evento: A experiência tem nos mostrado que as pessoas vão assistir ou participar de um evento esperando algum tipo de retorno. Como um evento esportivo é muito rico, quando bem planejado e organizado, oferece uma gama de atributos que contagia seus participantes (POIT, 2013, p. 27). Mas quais atributos podem ser alcançados em um evento? No quadro a seguir estão detalhadas as expectativas mais comuns encontradas junto ao público dos eventos em geral. A missão do organizador de eventos é identificar, de forma prévia, como criar situações para que as pessoas encontrem tais atributos. 17 ORGANIZAÇÃO DE CAMPEONATOS E EVENTOS ESPORTIVOS Quadro 1 Atributos dos eventos esportivos Abnegação Estratégia Prazer Agilidade Excelência Qualidade Alegria Exemplo Qualidade de vida Ambiente familiar Expectativa Raça Amizade Fair play Radicalismo Carisma Fantasia Realização Civismo Felicidade Recompensa Companheirismo Força Reconhecimento Competição Glamour Rede de relacionamento Concentração Glória Resiliência Confiança Inesperado Resistência Confronto Inovação Respeito Cooperação InspiraçãoRiqueza Coragem Integração Satisfação Criatividade Interação Satisfação pessoal Dedicação Inusitado Saúde Desempenho Irreverência Ser sorteado Dinamismo Justiça Sinergia Disciplina Juventude Solidariedade Disputa Lazer Sucesso Emoção Leveza Superação Empatia Liderança Surpresa Empenho Organização Tática Encanto Originalidade Tecnologia Energia Paixão Tradição Entretenimento Participação União Equilíbrio Performance Valentia Esforço Pertencimento Velocidade Espetáculo Planejamento Vibração Espírito de equipe Plasticidade Vitória Fonte: Poit (2013, p. 28). Muitos destes atributos que as pessoas buscam podem, ou não, ser encontrados em um evento, pois o esporte pode proporcionar momentos especiais não previstos. Atrativos como glória, esforço, glamour e fair play são situações que podem ocorrer de forma inusitada dentro do evento esportivo. Todavia, o gerente de eventos tem como planejar situações nas quais o público encontre a maioria desses atributos. 18 Unidade I Só temos equilíbrio se os participantes tiverem um nível técnico similar, conceito que as principais ligas norte-americanas trabalham quando realizam os drafts dos atletas universitários. Observação O draft é um evento anual, no qual os times da NBA recrutam seus jogadores. O princípio básico é que as franquias com piores campanhas têm prioridade na escolha dos melhores calouros. Encontramos justiça quando temos situações tecnológicas que evitam que um erro beneficie alguém, tais como as imagens de vídeo, que estão sendo cada vez mais utilizadas nos eventos esportivos, citando como exemplo mais recente o Vídeo Assistant Referee (VAR), utilizado na Copa do Mundo de Futebol da Rússia e também na Copa do Brasil de 2018. Para a recompensa, ou ser sorteado, temos brindes, promoções. Para performance, precisamos de nível técnico elevado e assim por diante. No planejamento, as medidas e ações tomadas devem ser claras, para que as pessoas encontrem tais atributos. Por fim, precisamos ter em mente que as tecnologias são criadas para manter o conforto e melhorar os serviços. Ao longo dos anos, os carros tiveram suas mudanças básicas e, hoje, praticamente todos têm vidro elétrico, direção hidráulica e ar-condicionado. Nos eventos, o conceito é o mesmo. Se o cliente chegar com segurança ao estádio, tiver uma boa vaga para estacionar o carro, ficar em um lugar confortável e, principalmente, viver a emoção coletiva de gritar gol com mais de oitenta mil pessoas, dificilmente os óculos de realidade virtual vão tirá-lo do estádio. 1.2 Mercado de eventos esportivos No tópico anterior foi conceituado o evento esportivo. É possível perceber que, apesar das diferenças entre uma Copa do Mundo, uma celebração tribal ou um campeonato de supino numa academia, em todas essas situações temos características de um evento. Além de ter um mercado de trabalho muito amplo e já existente, o evento é um terreno no qual a criatividade pode fazer a diferença. Adiante, será abordada a questão de como elaborar um projeto esportivo para fazer a “venda de uma ideia”. Mas, independentemente dos eventos que serão criados no futuro, já existe um vasto mercado que movimenta milhões de pessoas em diversos segmentos diferentes. 19 ORGANIZAÇÃO DE CAMPEONATOS E EVENTOS ESPORTIVOS Exemplo de aplicação Eventos esportivos tradicionais acontecem de forma contínua. Quantos deles podemos nomear? Além da Copa do Mundo, Jogos Olímpicos, os quais, inclusive, tiveram suas últimas edições realizadas aqui no Brasil, quais outros eventos fazem parte de um possível campo de trabalho? Para que possamos analisar alguns destes campos de trabalho, é importante relacionar de forma sintetizada alguns destes tradicionais eventos esportivos: • Jogos Olímpicos: evento multidesportivo global, os Jogos Olímpicos, que datavam da Grécia Antiga, renasceram em 1896, em Antenas, com a realização da primeira edição dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, evento idealizado pelo Barão de Coubertin. Os Jogos são realizados de quatro em quatro anos e têm um programa esportivo com várias modalidades. O que faz um esporte ser olímpico é a sua realização em, no mínimo, 75 países em quatro continentes para homens e 40 países em três continentes para mulheres. A Olimpíada é o evento esportivo mais tradicional do mundo e temos uma vasta simbologia de união dos povos com valores olímpicos, além do significado dos arcos e da tocha que leva o fogo olímpico. O evento conta com cerimônias de abertura e encerramento, e a medalha olímpica é o símbolo máximo do êxito de um atleta. Devido à sua importância e complexidade, existem muitas discussões e campos de estudo dentro dos Jogos Olímpicos que abordam assuntos como boicotes, dopping, terrorismo, além da chance de um país ganhar notoriedade internacional por conta da sua atuação no evento. • Jogos Pan-Americanos: têm suas bases de realização nos Jogos Olímpicos, mas são realizados de quatro em quatro anos, seguindo um rodízio entre América do Sul, Central e do Norte. • Jogos Olímpicos de Inverno: realizados também de quatro em quatro anos de forma alternada com os Jogos Olímpicos, eles fazem parte do programa de competições específicas com modalidades de inverno, tais como esqui, bobsled, curling, hóquei no gelo, patinação, entre outras. • Universíade: a Universíade é a Olimpíada do esporte universitário. Realizada pela International University Sports Federation (Fisu) a cada dois anos, tem a participação de atletas universitários de todos os países filiados. O nível técnico é muito alto e tem a presença da nata do esporte mundial universitário. Atletas como Arthur Zanetti e Danielle Hipólito, da ginástica, assim como Aurélio Miguel, do judô, já foram alguns dos medalhistas do Brasil. • Copa do Mundo: principal evento do calendário do futebol mundial, a Copa do Mundo é realizada pela Fédération Internationale de Football Association (na tradução em português, Federação Internacional de Futebol – FIFA), a cada quatro anos, de forma alternada com os Jogos Olímpicos. Sua última edição foi na Rússia, com a participação de 32 países. Segundo matéria da revista Veja, a edição da Copa do Mundo no Brasil teve 3,2 bilhões de espectadores, sendo que 1 bilhão só na final (COPA..., 2017). 20 Unidade I • Jogos Paralímpicos: realizados após os Jogos Olímpicos e Pan-Americanos, os Jogos Paralímpicos utilizam a mesma estrutura dos eventos já realizados e também têm um conceito de superação. O esporte adaptado começou no início do século XX com natação e atletismo. Após a Segunda Guerra Mundial, o evento começou a gerar mais interesse por conta dos soldados que retornavam da batalha com algum tipo de deficiência física e queriam competir. Além do conceito de superação, temos também presente nos Jogos a questão da inclusão social. • Special Olympics: diferentemente dos esportes Paralímpicos, que são realizados para atletas com algum tipo de deficiência física, a Special Olympics é um evento realizado para portadores de deficiências intelectuais, como atletas portadores de síndrome de Down e diversos níveis de paralisia cerebral. O evento tem como objetivo desenvolver nos atletas a autoconfiança, relacionamento interpessoal e sentido de realização. Ele ocorre de dois em dois anos e tem mais de 2,5 milhões de atletas envolvidos em programas de 180 países. • Jogos Regionais e Jogos Abertos: principal evento esportivo entre cidades no Brasil, os Jogos Regionais e Abertos são os principais motivos de investimento das prefeituras no esporte. Junto com os clubes, muitas equipes subsidiadas pelas prefeituras formam a base de seleções nacionais de diversas modalidades. Os Jogos Regionais são realizados em oito regiões diferentes e servem como seletiva para os Jogos Abertos. • Jogos Universitários Brasileiros (JUBs): são organizados pela Confederação Brasileira do Desporto Universitário (CBDU) em parceria com o Ministério do Esporte. O evento é realizado anualmente e conta com a participaçãode mais de 400 IES de todo o Brasil. Desde 2005, os Jogos passaram a contar com os recursos oriundos da Lei Agnelo/Piva, o que proporcionou um grande salto de qualidade na estrutura do evento, além do subsídio dos custos de hospedagem e alimentação para as IES classificadas nas etapas estaduais. • Olimpíadas Escolares: realizada anualmente pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB), em parceria com o Ministério do Esporte, as Olimpíadas Escolares contam com a participação de escolas de todo o Brasil. Realizada para alunos de 12 a 17 anos das escolas públicas e particulares, é considerada a maior competição estudantil do país e conta com 14 modalidades esportivas. O evento contempla mais de 2 milhões de jovens nas seletivas municipais e estaduais, representando quarenta mil escolas de 3.950 cidades do Brasil. A competição já revelou vários atletas, como a campeã olímpica Sarah Menezes e a campeã mundial Mayra Aguiar, ambas no judô. • Federações, Confederações e outras entidades: além dos eventos já relacionados, temos inúmeras entidades federativas que organizam milhares de campeonatos. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF); Federação Paulista de Vôlei (FPV); Federação Paulista de Futebol de Salão (FPFS); Confederação Brasileira de Vôlei (CBV); Liga Nacional de Basquete (LNB); Federação Paulista de Handebol (FPH); Coorpore, que organiza corridas de rua; e diversas outras entidades que representam modalidades específicas. Dentro de cada uma delas existe um campo muito grande para a realização de diversos eventos. Em apenas uma entidade pode haver diversos tipos de campeonatos. No futsal, por exemplo, temos campeonatos metropolitanos, estaduais e nacionais de diversas categorias (sub9 ao principal), além das categorias para atletas veteranos, masculina 21 ORGANIZAÇÃO DE CAMPEONATOS E EVENTOS ESPORTIVOS e feminina. Além disso, as entidades também realizam festivais, amistosos, cursos de arbitragem, jogo das estrelas (com atletas do passado), intercâmbios, entre outros. • Esportes radicais: ao buscar um segmento que procura intensidade, existem diversos eventos de esportes radicais, sendo o mais famoso deles o X Games. Existem dois tipos de evento: o Summer X Games (ou simplesmente X Games), realizado no verão; e o Winter X Games, realizado no inverno. No evento de verão, temos as modalidades de motocicleta, skateboard, BMX; no de inverno, destacam-se as provas específicas de snowboard e esqui. • Outros eventos esportivos: além de todos os eventos tradicionais já relacionados, temos um grande campo de trabalho em diversos outros eventos esportivos que são realizados por entidades, muitas vezes de forma a atender um determinado segmento de público. Aqui também encontramos muitas empresas que, para divulgar suas marcas, patrocinam eventos especiais, muitas vezes com caráter único. Observação O símbolo dos Jogos Olímpicos é composto por cinco anéis coloridos (azul, preto, vermelho, amarelo e verde) que, entrelaçados e dispostos sobre um fundo branco, simbolizam a união dos continentes em prol do esporte. Os eventos podem ser segmentados de diversas maneiras: • sexo ou opção sexual; • idade; • profissão (campeonatos para advogados, dentistas ou engenheiros); • escolar e universitário; • segmentos empresariais (gráficas, concessionárias de veículos, papelarias etc.); • combinados (segmentos empresariais com idade limitada; campeonatos para advogados formados até cinco anos). Além de todos eventos relacionados anteriormente, ainda temos eventos esportivos que fogem de qualquer padrão. Um dos casos mais emblemáticos foi a Copa Credicard Technoball. Trata-se de um jogo de futebol realizado para equipes universitárias, dentro de uma balada com música techno em alto volume, em uma quadra reduzida, com equipes de cinco atletas em cada, sendo três na quadra de jogo e dois reservas. O ambiente é muito escuro, mas a luz negra destaca apenas os uniformes, bola e traves. Os atletas mal enxergam o rosto de seus parceiros de time, assim como o restante do ambiente. O público também. Estão lá aproveitando a festa, vendo um evento esportivo 22 Unidade I completamente inusitado. O DJ trabalha junto com o evento (conceito utilizado hoje nas principais ligas esportivas do mundo). Quando uma equipe marca um gol, todos escutam um som especial marcando o placar. O sistema de jogo é de eliminatória simples, ou seja, quem perder é eliminado – situação que proporciona dramaticidade extra – e existe um prêmio especial que será dado para apenas um dos atletas da equipe campeã: um carro 0 km. Mas para que esse atleta da equipe campeã ganhe o carro, é necessária uma competição. Existe uma parede com cinco volantes de automóvel e em cada um há a possibilidade de “ligar” o carro. Ao time campeão é dada apenas uma chave, que cada um dos cinco atletas tem a chance de escolher uma opção de volante. Quando o atleta acerta a chave no volante certo, as luzes se acendem, e toda a festa escuta o som alto do motor. Tudo isso, obviamente, com grande presença da marca patrocinadora. Esse evento da Credicard teve algumas edições e grande apelo do público universitário, o qual compareceu em massa para apoiar as equipes de sua universidade e aproveitar a festa. Mas qual o motivo de ele ser descrito aqui? É para que tenhamos claro que, além do que consideramos convencional, a criatividade dentro de um evento pode fazer diferença. 1.3 Subdivisões e tipologia dos eventos esportivos Anteriormente, foi visto o conceito de evento e que ser capacitado para realizá-lo cria uma vantagem competitiva em relação aos concorrentes, o que pode diferenciá-lo no mercado de trabalho. Existem eventos esportivos para todos os públicos, incluindo até aqueles que não gostam de esporte. As facilidades iniciais, como comprar o ingresso pela internet; escolher no site o seu lugar na arena; chegar ao local e sua cadeira estar vazia; estacionar o carro com facilidade; e o grau de entretenimento gerado pelo evento, podem mudar a opinião daqueles que não têm o costume de apreciar esse tipo de evento. Um exemplo são os jogos da NBA, os quais são realizado como um show. O jogo serve apenas como pano de fundo para algo maior que inclui diversas outras ações. O sistema de som, aliado aos enormes telões no teto do ginásio, fazem parte do evento, motivando a torcida. Além disso, temos a câmera do beijo (quando focam em casais que ficam com a “obrigação” de se beijar); câmera focando famosos; público que dança com a música e replays das jogadas incríveis complementam o espetáculo. Quando a pessoa quer comer um lanche, tem diversas opções em uma praça de alimentação, com dezenas de TVs espalhadas reproduzindo o jogo, para que esta não perca um minuto do jogo. 23 ORGANIZAÇÃO DE CAMPEONATOS E EVENTOS ESPORTIVOS Por fim, na saída (ou na entrada, se você chegar cedo), uma loja com inúmeros produtos do time mandante da partida. Em cada um dos jogos da temporada encontramos tudo isso. Repare que estamos falando da NBA, que tem uma temporada repleta de jogos. Muitas vezes, pensamos em um evento como um campeonato ou torneio, mas é preciso entender que dentro de cada um deles é necessário trabalhar cada jogo, cada partida, de forma separada com o conceito de evento. Os eventos esportivos têm uma tipologia e características próprias que, segundo Poit (2006, p. 26), podem ser diferenciadas da seguinte maneira: • Campeonato: forma de competição em que todos os concorrentes se enfrentam pelo menos uma vez e tem duração relativamente longa. Recomendável quando há tempo e recursos. Os melhores exemplos deste tipo de evento são os campeonatos nacionais de futebol. O Campeonato Brasileiro, assim como os principais campeonatos de futebol nos países europeus, são realizados neste sistema também chamado de “ponto corrido”. Esse modelo, consolidado no exterior, muitas vezes é questionado aqui no Brasil por conta de não ter a emoção da eliminatória simples (mata-mata). Mas, sem dúvida, é a formamais justa de definir o campeão, que é o time que obtém mais vitórias ao longo da temporada. • Torneio: competição de caráter eliminatório que é realizada num curto espaço de tempo. Dificilmente ocorre confronto entre todos os participantes. Indicado quando se tem pouco tempo e grande número de participantes. • Olimpíadas: competição que reúne várias modalidades esportivas e consome alguns dias na realização das diversas categorias. No Curso Avançado de Gestão Esportiva (Cage), realizado pelo Instituto Olímpico Brasileiro, baseado no livro Managing Olympic Sport Organisations, os responsáveis do Comitê Olímpico Brasileiro falam muito sobre a questão de propriedade de marca em relação ao termo “Olimpíada”, que é de propriedade do COB. Mas o fato é que, culturalmente, o termo olimpíada é usado em escolas, universidades e em outros segmentos quando o evento é realizado com diversas modalidades esportivas. • Copa ou Taça: com exceção da Copa do Mundo e alguns eventos tradicionais, normalmente se usa o nome Taça ou Copa juntamente com o nome oficial do torneio para prestar alguma homenagem ou promover o patrocinador (Taça Libertadores; Copa Toyota; Copa Bobby Fischer de Xadrez; Taça ou Troféu Cidade de São Paulo etc.). • Festival: participativo e informal. Visa à integração e promoção da modalidade e, principalmente, motivar os participantes e familiares. • Gincana: atividade desportiva e recreativa que conta com diversas estações criativas e ou objetivos a serem atingidos. 24 Unidade I • Desafios: competições, normalmente individuais, que têm os processos de escala como referência. É importante atentar para cada uma das subdivisões desses eventos, trabalhando as datas de forma separada. Em um campeonato, por exemplo, em que todas as equipes vão se enfrentar, temos um cenário muito bem delimitado da quantidade de jogos. Tal condição ajuda muito o gerente de eventos a organizar as ações que serão feitas em cada uma das partidas, ou em cada uma das rodadas, em um mesmo local, o qual servirá de sede para receber vários jogos. Se, por exemplo, temos um jogo de futebol para quarenta mil pessoas, que é “apenas” um jogo dentro de um campeonato com quase quarenta rodadas, deve-se trabalhar com todas as situações e variáveis de organização inerentes a essa partida. No caso de um campeonato de futsal, no qual há várias sedes, com diversos jogos sendo realizados em um mesmo local, o conceito será trabalhado para cada rodada completa de jogos. Nesse caso, todas as equipes que tiverem seus jogos no mesmo local, no mesmo dia, sofrerão as mesmas ações de marketing dentro desta rodada. 1.4 Quando realizar um evento esportivo? Como já visto, foi conceituado o que é um evento, feita uma revisão de como é o mercado atual dos eventos esportivos e apresentadas suas nomenclaturas e subdivisões. Com todas essas informações, já existe aptidão para responder à questão proposta. Um evento esportivo reúne um número de pessoas que pode variar de um pequeno grupo de alunos a milhares de torcedores. Portanto, a decisão de organizar um evento pode surgir de diversas formas. Se, por um lado, temos entidades esportivas que têm o evento como motivo de sua existência, citando como exemplo as inúmeras organizações esportivas que organizam campeonatos em sistemas federativos, por outro, temos um cenário em que a realização do evento vem complementar uma outra atividade. Uma federação de futsal ou vôlei precisa organizar os campeonatos entre os seus filiados. Mas em uma escola, em que a atividade-fim é o ensino, a educação física entra como uma disciplina vinculada principalmente à saúde. Assim, o evento acaba tendo outra dimensão. Ele aparece para “movimentar” a escola, para que exista inteiração entre os alunos, para que todos se divirtam e tenham entretenimento em outra atividade, bem como para que o seu idealizador tenha visibilidade profissional. Portanto, a resposta correta para a pergunta que abre este tópico é: sempre. Ou seja, sempre que existir uma oportunidade para organizar um evento, obviamente, com todo o planejamento necessário e demais cuidados para sua realização, ele deve ocorrer. No entanto, é preciso ter em mente que ao realizar um evento esportivo, o sucesso dele vai ser diretamente proporcional ao seu planejamento. O evento não é uma ciência exata. Ele segue alguns pressupostos básicos e, conforme os inúmeros feedbacks, vai saindo do papel para se tornar realidade. 25 ORGANIZAÇÃO DE CAMPEONATOS E EVENTOS ESPORTIVOS Como já visto, também temos eventos de vários formatos diferentes que envolvem tamanhos (estruturais e de público) e segmentos específicos de mercado. Independentemente das variáveis, a importância de determinados procedimentos é inerente a qualquer evento. Entre eles, é possível citar a importância da venda de uma ideia que tenha condição de envolver todos os stakeholders dentro de um objetivo comum; ter claro o cronograma, data, local; fazer reuniões com os diversos interessados; saber muito sobre o esporte ou tipo de evento que vai realizar, estudando todas as variáveis; fazer o check-list de todos os pontos; utilizar os conceitos de administração e marketing atrelados ao evento esportivo; e, por fim, cercar-se de uma equipe competente e motivada que vai fazer o evento acontecer. Lembre-se que antes do orçamento, da definição do local, da contratação de fornecedores e de todos os procedimentos iniciais, estão as pessoas. Tal como em um time de futebol, é o trabalho em equipe que vai ter condições de proporcionar que o evento seja memorável. Para isso, todos precisam estar engajados com a ideologia do evento, motivados com a perspectiva de sua realização e apaixonados por estarem presentes, tendo o claro sentimento de pertencimento à causa. Se, por um lado, o público poderá dizer no futuro: “Eu estive lá!”, ou os participantes podem passar gerações falando sobre as medalhas que ganharam, por outro lado, todos que fizeram parte da equipe organizadora vão poder dizer: “Eu também fui responsável por isso acontecer”. 2 ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO DE EVENTOS A administração é a ciência que organiza as diversas atividades da vida. Por esse motivo ela é tão importante. Em todos os segmentos, a ação de um bom gestor se reverte em ganhos para a empresa. No esporte não é diferente. Apenas quando os responsáveis pela organização dos eventos esportivos realmente ganharam ciência da importância da gestão do esporte, os grandes eventos esportivos tomaram a dimensão que têm hoje. Mas para aprender sobre a gestão do esporte, precisamos entender primeiramente o que é administração. Esta ciência, ao longo dos anos, teve uma vasta evolução de ideias e apresentou várias ferramentas gerenciais que muitas vezes são aplicadas aos eventos esportivos com grande eficiência. Serão abordadas essas ideias e ferramentas, verificando a aplicabilidade de tais conceitos na gestão de campeonatos e eventos esportivos. 2.1 Administração A história da evolução da administração é rica. Registros apontam que a administração surgiu na Suméria 5.000 a.C., quando seus habitantes procuravam um método para melhorar o resultado de seus serviços. Posteriormente, no Egito, verificou-se um sistema econômico que seria inviável de ser viabilizado sem uma administração pública organizada. A seguir, na China, em 500 a.C., o governo precisou criar um sistema organizado para o império. Assim, foram elaboradas as oito regras da administração pública de Confúcio, que 26 Unidade I continham: a) alimento; b) mercado; c) os ritos; d) o Ministério do Emprego; e) o Ministério da Educação; f) a administração da justiça; g) a recepção de hóspedes; h) o exército. Poit (2013) ainda lembra que tivemos, em 600 a.C., importante contribuição dos filósofos da Grécia antiga com Sócrates, Platão e Aristóteles, em que cada um, ao seu modo, deixou subsídios para a consolidação daquilo que no futuro chamaríamos de Teoria Geral da Administração (TGA). Existem outras diversasraízes históricas, muitas delas com origem nas igrejas católicas e organizações militares até o fenômeno da Revolução Industrial, que provocou o aparecimento da empresa e da moderna administração, fato ocorrido no final do século XVIII e que se estendeu ao longo do século XIX. Observação A Revolução Industrial teve origem na Inglaterra, com a invenção da máquina a vapor por James Watt, provocando um grande avanço e mudando o paradigma da indústria. A mudança ocorrida pela Revolução Industrial, que tinha como seu principal pilar a substituição do trabalho artesanal pelas máquinas, provocou um crescimento acelerado e desordenado que ensejou a criação de novas rotinas de organização. Neste momento surgiram estudiosos como Taylor e Fayol, que, com seus estudos, examinaram maneiras cada vez mais eficientes de operação, sugerindo que sempre poderia existir uma “forma melhor” para desempenhar tarefas. Os negócios eram organizados em rotinas precisas, e os trabalhadores precisavam supervisionar e “alimentar” as máquinas, como se fossem parte delas. Com isso, no começo do século XX, tivemos o começo das linhas de produção, e a administração foi caracterizada pela padronização e pela produção em massa. Com o avançar do século XX e início do século XXI, apareceram diversos estudiosos que mudaram a forma de como devemos administrar uma empresa, muitas vezes obtendo significativas vantagens competitivas sustentáveis. Após as teorias de Taylor e Fayol, muitos outros estudiosos da administração desenvolveram teorias que ajudaram muito na evolução do pensar da ciência administrativa. Estudiosos como Henry Ford, Elton Mayo, Peter Senge, Peter Druker, Michael Portes e Philip Kotler foram alguns dos que desenvolveram teorias que revolucionaram muitas formas de pensar. Poit (2013) diz que, ao estudarmos administração, devemos tomar como referência as cinco variáveis básicas da Teoria Geral da Administração (TGA), ou seja, as tarefas, as estruturas, as relações pessoais, o ambiente e a tecnologia. 27 ORGANIZAÇÃO DE CAMPEONATOS E EVENTOS ESPORTIVOS Ele complementa exemplificando tais referências tomando como base um evento esportivo (POIT, 2013): • Tarefas: atribuições das diversas comissões, cumprimentos dos objetivos etc. • Estruturas: infraestrutura do evento, estrutura organizacional etc. • Relações pessoais: contato com o público, trabalho em equipe, contatos externos, comunicação interpessoal etc. • Ambiente: local de trabalho, clima do evento, espaço utilizado, recinto das disputas etc. • Tecnologia: equipamentos utilizados, sistemas de disputa escolhido, processos e procedimentos empregados etc. A lógica utilizada aqui é a mesma para outros estudos da área da administração, ou seja, devemos entender essas ideias e ferramentas gerenciais, tais como a análise Swot, que veremos mais a frente, e ver a sua aplicabilidade dentro dos eventos esportivos. Na área acadêmica, quando pesquisamos sobre um determinado tema, muitas vezes acabamos achando várias definições para um mesmo assunto. Citando o esporte, por exemplo, encontramos mais de uma dezena de definições, tanto em artigos acadêmicos quanto em uma rápida pesquisa na internet, como: • “Prática metódica, individual ou coletiva, de jogo ou qualquer atividade que demande exercício físico e destreza, com fins de recreação, manutenção do condicionamento corporal e da saúde e/ou competição; desporte, desporto” (HOUAISS, 2009). • “Esporte é uma forma de atividade física praticada com a finalidade recreativa, educativa, sociocultural, profissional ou como meio de melhorar a saúde” (CONCEITO..., 2019). • “Prática metódica de exercícios físicos visando o lazer e o condicionamento do corpo e da saúde; desporte, desporto” (MICHAELIS, [s.d.]). • “Conjunto das atividades físicas ou de jogos que exigem habilidade, que obedecem a regras específicas e que são praticados individualmente ou em equipe; desporte, desporto” (MICHAELIS, [s.d.]). Com relação à ciência da administração é a mesma situação. Mas, apesar dos diferentes conceitos, para o nosso estudo seguimos como premissa básica a seguinte definição: “Conceituamos administração como a harmonia de um conjunto de quatro processos básicos: planejamento, organização, liderança e controle, caminhando de forma ordenada na direção dos objetivos traçados” (POIT, 2013, p. 37). 28 Unidade I Poit também cita a definição do professor Chiavenato (2000 apud POIT, 2013, p. 37): Interpretar os objetivos propostos pela organização e transformá-los em ação organizacional por meio do planejamento, organização, direção e controle de todos os esforços realizados em todas as áreas e em todos os níveis da organização, a fim de alcançar tais objetivos da maneira mais adequada à situação (grifo nosso). Ao adotarmos esse conceito, entendemos que a realização dos objetivos organizacionais são as metas a serem atingidas quando organizamos um evento esportivo. Na sequência, serão exemplificados de forma mais aprofundada os termos que compõem as principais funções da administração (planejamento, organização, direção e controle). 2.1.1 Planejamento É o ato de pensar antecipado. Envolve pesquisa, programação, avaliação e estratégia. É uma importante ferramenta administrativa que nos permite avaliar os caminhos possíveis e construir um referencial futuro. O planejamento nos auxilia nas tomadas de decisão e evita que as atitudes sejam tomadas ao acaso. Muitas vezes, um problema nos parece sério simplesmente por conta da iminência de sua chegada, ou seja, tal contratempo só vai prejudicar nossa empresa ou nosso evento por falta de planejamento. Um exemplo é a falta de programação financeira e fluxo de caixa para a troca de equipamentos que têm sua depreciação natural. O dono de uma academia precisa saber que os equipamentos têm um prazo máximo de durabilidade. Após alguns bons anos eles vão precisar ser trocados, e, se o proprietário não realizou um planejamento financeiro adequado para viabilizar essa troca, vai ter dificuldades quando eles começarem a apresentar problemas técnicos. Todo evento esportivo precisa de um bom planejamento para que seja possível organizar todas as atividades inerentes a sua realização. Johnny Allen et al. (2008, p. 50) citam como benefícios associados ao processo de planejamento: • gerar uma série de estratégias alternativas potenciais a serem consideradas; • identificar e resolver problemas, reduzir as incertezas sobre o futuro; • ajudar para que um evento continue sendo competitivo (HANNAGAN, 1998 apud ALLEN et al., 2008). 29 ORGANIZAÇÃO DE CAMPEONATOS E EVENTOS ESPORTIVOS Poit (2013, p. 40) também cita três categorias de planejamento, as quais são relacionadas diretamente com questões temporais: • Estratégico: é aquele que mostra para onde vamos. Como a duração deste planejamento estratégico pode ser longa, sendo de meses ou anos, ele vai sendo adequado constantemente com as mudanças de ambiente. • Tático: é aquele que define o que faremos e tem uma periodicidade normal de semanas e meses. • Operacional: define como vamos fazer e tem uma periodicidade de horas ou dias. A estratégia é um conceito que tem seus alicerces na história militar, quando os generais planejavam suas campanhas de guerra. Hoje, a palavra está, de certa forma, esgotada e muitas vezes é mal-entendida na teoria administrativa. De maneira simples, estratégia é a forma com que uma empresa vai de onde está para onde quer chegar. Isso envolve as escolhas que precisam ser feitas para superar os problemas que vão aparecer no caminho. Observação Com frequência, quando falamos sobre estratégia, escolher o que não fazer é tão importante quanto escolher o que fazer. Por esse motivo precisamos sempre realizar um planejamento adequado para cada evento esportivo. No entanto, mesmo considerando o planejamento como ferramenta que serve como guia imprescindível para a realização de qualquer atividade, ele sempre deve sempre ser reavaliado. Allen et al.(2008 apud HANNAGAN, 1998; THOMPSON 1997), por exemplo, afirmam que os gerentes de eventos precisam ter em mente que os planos devem ser adaptados à dinâmica das circunstâncias. Além disso, eles precisam estar atentos para não entrarem em conflito com “armadilhas” em seus planos. Dentre elas, citam: • O excesso de planejamento e a preocupação com detalhes, em vez de atentar para o conjunto de considerações estratégicas. • A visão dos planos como imutáveis quando, na verdade, eles são documentos que devem ser consultados e adaptados com frequência. • A consideração dos planos como conclusivos, desconsiderando seu caráter eminentemente direcional (ALLEN, 2008, p. 51). 30 Unidade I Mas, independentemente das eventuais adaptações, precisamos ter em mente o que deve ser feito quando tomamos a decisão de planejar um evento. De fato, os gerentes de evento precisam lembrar que, como Mintzberg, Quinn e Voyer (1995) indicaram, o processo de planejamento tende a estimular crescentes mudanças, quando o que pode ser necessário é uma completa reconsideração da estratégia atual (ALLEN et al., 2008, p. 51). Plano estratégico estabelecimento da visão/missão/propósito do evento; desenvolvimento de objetivos e metas do evento; realização da análise situacional; identificação das opções estratégicas; avaliação e seleção de uma estratégia; desenvolvimento de planos operacionais em áreas como finanças, marketing, administração, gestão de recursos humanos e logística; criação de sistemas de controle; desenvolvimento de processos de avaliação e feedback. Implementação do plano estratégico e planos operacionais associados refinamentos; solução de problemas; coleta de informações alinhada às necessidades da avaliação. Fe ed ba ck Desenvolvimento do conceito do evento ou da intenção à concorrência Decisão de prosseguir com a concorrência Preparação e envio do documento de concorrência Rejeição da oferta Aprovação da oferta Estabelecimento da estrutura organizacional Decisão de prosseguir com o novo evento Decisão de parar Estudo de viabilidade custos e benefícios do evento; recursos do evento e exigências quanto à infraestrutura. Figura 3 – Processo de planejamento estratégico do evento 31 ORGANIZAÇÃO DE CAMPEONATOS E EVENTOS ESPORTIVOS A figura anterior nos serve como um importante guia sobre a decisão de planejar um evento, além de merecer algumas considerações sobre pontos importantes. O conceito de propósito da concorrência implica em algumas decisões sobre tipo e formato do evento, época de realização e outros elementos que podem tornar o evento singular ou especial. Muitas vezes, temos mais de uma empresa querendo realizar um evento, e, assim, as avaliações precisam ser bem elaboradas. Em todo evento é importante realizar um estudo de viabilidade, verificando questões orçamentárias, se existe capacidade técnica e gerencial para conduzir todos os procedimentos, quais são os requisitos necessários, suporte, possibilidade de patrocinadores adicionais, apoio da comunidade e apoio político entre outros. Decisão de prosseguir ou parar Segundo Allen et al. (2008), no caso de eventos novos, os resultados do estudo de viabilidade terão o papel de determinar diretamente quando e se o evento terá prosseguimento. No caso de eventos que envolvem oferta, essa decisão dependerá de sua aceitação ou rejeição. É muito importante considerar todas essas variáveis no processo de planejamento, pois elas visam nos auxiliar nas várias etapas em que precisaremos tomar importantes decisões, assim como minimizar a possibilidade de erros. 2.1.2 Organização É com a organização que se consegue estabelecer uma estrutura de autoridade formal, ou seja, a hierarquia funcional. Em um evento esportivo de grande porte, a organização define as diferentes comissões de trabalho, fazendo as divisões necessárias, as quais podem ser vistas na sequência: • Comissão Central Organizadora (CCO): — apresentar o projeto do evento (venda da ideia); — organizar a Semana de Educação Física, marcando reuniões com os líderes das demais comissões; — responsabilizar-se pelo contato com a chefia de campus e coordenação geral do curso; — organizar a logística da semana; — padronizar os relatórios para entrega de um projeto único; — auxiliar as demais comissões; — criar sistemas de controle de presença para alunos participantes; — responsabilizar-se pelo contato direto e formal com o professor. 32 Unidade I • Comissão de Criação: — criar o logo do evento; — criar a comunicação visual de todo o material do evento, tal como faixas, banners, fichas de inscrição, folders; — elaborar o design de eventuais materiais, como camisetas, bonés; — possibilidade de criação de slogan da semana; — verificar se na decoração do anfiteatro existem elementos que sejam similares à comunicação visual dos demais materiais elaborados; — fazer orçamentos para a confecção de todo o material e passar à CCO e à Comissão de Captação de Recursos. • Comissão dos Palestrantes: — fazer uma lista com todos os possíveis palestrantes; — definir em sala quais palestrantes são mais interessantes aos alunos do curso de educação física; — criar sistemas democráticos para definir os palestrantes caso haja discordância dos nomes; — definir o cronograma dos palestrantes (quais farão palestra no primeiro dia quais ficarão no segundo dia) e submeter a aprovação desta lista ao professor da disciplina e ao coordenador do curso; — confirmar a presença dos palestrantes no evento; — pegar a foto, o currículo e o tema da palestra de cada palestrante; — ter em ordem de prioridade, caso haja cancelamento, quais serão os substitutos imediatos e ter planos para eventuais desistências (plano B); — cuidar de toda a logística dos palestrantes, dando suporte nas informações sobre como chegar, estacionamento, sala VIP, fazendo contato antes, no dia do evento e depois para fazer os devidos agradecimentos; — solicitar as mídias que os palestrantes usarão no evento. • Comissão de Captação de Recursos: — pedir os orçamentos de todo o material que será utilizado no evento (comunicação/criação e inscrição); 33 ORGANIZAÇÃO DE CAMPEONATOS E EVENTOS ESPORTIVOS — pedir orçamentos de outros produtos que possam ser distribuídos na Semana de Educação Física (camisetas para os responsáveis das comissões estarem identificados no dia, chaveiros, canetas); — elaborar um enxuto projeto de patrocínio para apresentá-lo a possíveis patrocinadores. Este projeto precisa conter: – um breve histórico do que é a Semana de Educação Física; – o total do público participante; – as propriedades disponíveis que o investidor poderá usar (de que forma a empresa estará presente no evento – com seu logotipo ou ações de ativação de marca); – o valor do investimento; — fazer um relatório com o status do andamento destas negociações. • Comissão de Divulgação: — identificar todos os canais de divulgação possíveis; — definir as estratégias de divulgação nas redes sociais de forma direcionada, criando canais no Facebook, Instagram e demais mídias disponíveis; — definir com a Comissão de Criação quais materiais estarão disponíveis e coordenar a divulgação deles; — divulgar a Semana de Educação Física em todas as salas do curso; — definir com a chefia de campus, de forma conjunta com a CCO, como fazer a divulgação do material promocional impresso; — responsabilizar-se pela logística da divulgação, caso haja distribuição de panfletos, abordagem direta ou mesmo cronograma de aviso em sala de aula. • Comissão das Inscrições: — disponibilizar à Comissão de Criação todas as informações que precisarão conter na ficha de inscrição para a criação do layout do documento; — informar à Comissão de Criação como o modelo precisa ser feito para que a ficha seja elaborada em duas vias, com a possibilidade de entregar uma via ao aluno inscrito e a Comissão ficar com a outra via; 34 Unidade I — controlar todos os inscritos elaborando também uma lista dos
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