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EXAMES COMPLEMENTARES Josiane Maria Thomé Princípios da construção da imagem radiológica Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever os acontecimentos históricos que levaram ao uso das téc- nicas radiológicas. Explicar os principais métodos utilizados na formação da imagem radiológica. Definir a base física da imagem radiológica e as principais técnicas aplicadas. Introdução Desde 1895, quando Wilhelm C. Röntgen descobriu, a partir de uma experiência caseira, os princípios da radiologia, inúmeros pesquisadores se dedicaram ao aprimoramento da técnica e desenvolveram métodos e técnicas fundamentais para a construção da imagem radiológica. Neste capítulo, você vai compreender os acontecimentos históricos que levaram ao uso das técnicas radiológicas e explicar os principais métodos utilizados na formação da imagem radiológica. Além disso, vai ver como definir a base física da imagem radiológica e as principais técnicas aplicadas para que se garanta a qualidade das imagens nos exames radiológicos. História da radiologia O dia 8 de novembro de 1895 marca o nascimento da radiologia e da imagenologia médica. Nessa data, o físico alemão Wilhelm C. Röntgen (Figura 1) conduzia seus experimentos usando uma caixa de papelão e um tubo, que denominou Crookes-Hittorf, até que percebeu que uma folha de papel com platinocianato de bário colocada a poucos metros desses elementos fosforescia no escuro. Encantando com o resultado, acabou fi cando muitas horas envolvido na sua experiência e acabou descobrindo que esses raios que acabara de conhecer tinham a capacidade de penetrar em corpos opacos à luz. Após a sua descoberta, logo percebeu que os raios sensibilizavam filmes fotográficos, e não demorou muito para testar em muitos materiais, como livros, metais, suas espingardas, entre outros. Por seis semanas, Röntgen se trancou no seu porão investigando esse fenômeno luminoso chamado de “nova luz” e como suas emissões ocorriam a partir da descarga elétrica no tubo de Crookes (VAN GELDEREN, 2004). Figura 1. Wilhelm Conrad Röntgen (1845–1923). Fonte: Wilhelm Conrad Röntgen (2006, documento on-line). Quando percebeu que, enquanto segurava os objetos, podia ver a imagem dos ossos de sua mão, decidiu investigar o assunto e convenceu D. Bertha, sua esposa, a colocar a mão sobre um filme fotográfico, que, revelado, mostrou claramente a imagem dos ossos (Figura 2). A partir desse momento, a humanidade podia observar o interior do corpo, em um organismo intacto, por meio daquilo que foi por muitos anos conhecido pelo nome de seu descobridor: o roentgenograma (ETTER, 1946). Princípios da construção da imagem radiológica2 Figura 2. O primeiro uso de radiologia com humanos. Fonte: Tokus (2014, documento on-line). Ciente que estava diante de uma importante descoberta, a qual denominou raio X por não saber exatamente do que estava diante, Röntgen passou dias redigindo um artigo que foi submetido ao secretário da Sociedade Físico- -Médica de Wurzburg, solicitando a sua publicação. Segundo Eisenberg (1992), neste artigo, o autor descrevia minuciosamente as suas experiências de observações e relatava as premissas que você confere a seguir. Os raios X atravessam corpos opacos, mas Röntgen testou uma série de objetos e percebeu que alguns sólidos, como a pele e os músculos, eram mais facilmente penetrados por esses raios em comparação com ossos e metais. Dessa forma, postulou-se que a radiopacidade é proporcional à densidade do corpo. No caso de dois objetos com a mesma densidade, aquele de maior espessura terá maior radiopacidade. Os raios X são invisíveis, pelo menos ao olho humano, originando- -se a partir do ponto de impacto dos raios (no caso do experimento de Röntgen, a partir do tubo de Crookes), provocando um estímulo fluorescente em alguns materiais. A física dos raios X determina que eles não são refratários, não podem ser refletidos nem focalizados por lentes. Também não são defletidos em campo magnético ou polarizados. Por fim, sua propagação ocorre em linha reta. 3Princípios da construção da imagem radiológica Em reconhecimento à sua grande descoberta, Röntgen foi laureado com o 1º Prêmio Nobel da Física em 1901. Posteriormente, pela sua importância histórica, seu nome foi dado como o elemento número 111. O físico, sabendo da importância de seu estudo, rejeitou registrar qualquer tipo de patente, justamente com o objetivo de que sua descoberta ficasse ao alcance de todos. Com os estudos de Röntgen e, posteriormente, de seus colegas, em diversos países, a descoberta era iminente e já tinha como planejamento o uso de écran nas próximas etapas das investigações. Ao perceber a capacidade que diversos materiais tinham de parar os raios X e ao colocar uma peça de chumbo durante a descarga, viu pela primeira vez uma imagem radiográfica. Logo após a descoberta, todos queriam ver o seu próprio esqueleto através dos raios X e a imprensa noticiou o fato, com destaque, em 1896, quando os médicos já começaram a utilizar esse avanço, que permitia observar os ossos quebrados e os órgãos doentes dentro do corpo humano através das imagens. O que ainda não sabiam é que logo a técnica também seria usada para os tratamentos do câncer, o que causou na sociedade uma reação de deslumbre. Além disso, segundo Linton e Mettler (2003), no ano de 1896, foram publi- cados mais de 1.000 artigos e 49 livros sobre os raios X, o que demonstrou que essa divulgação teve grande impacto na comunidade científica. Logo após, o americano Thomas Alva Edison rapidamente inventou um instrumento que, usando telas fluorescentes, auxiliaria na visualização das radiografias, e com a facilidade de não necessitar de revelação filmes. Porém, os verdadeiros riscos da radiação continuaram sendo ignora- dos em sua utilização, e rapidamente as lesões provocadas começaram a surgir. As primeiras vítimas foram os operadores dessas máquinas, que sofriam repetidas exposições, de modo que vários acabaram perdendo suas próprias mãos. Marcos históricos da radiologia Segundo Becquerel (1896), em 1895, a polonesa Marya Sklodowska adotou o nome francês de Marie Curie em função do seu casamento com Pierre Curie, e foi nesse momento que o mundo científi co teve a honra de conhecer o famoso casal Curie, notáveis pesquisadores na história. Marie interessou-se por trabalhos do físico Antoine H. Becquerel e, em busca de um tema para sua tese de doutorado, o casal iniciou uma pesquisa pela origem das radiações que fora anteriormente observada por Becquerel com o minério de urânio. Princípios da construção da imagem radiológica4 Para melhor observar esse minério, instalaram-se em lugar úmido dentro da Escola de Física e Química de Paris e, com alguns instrumentos de detec- ção, incluindo um que fora construído pelo irmão de Pierre, Jacques. Com a utilização do seu novo piezoeletrômetro, o casal pôde medir efetivamente as radiações, assim, afirmando que eram uma propriedade intrínseca do elemento urânio. Descobriram, ainda, que a intensidade era proporcional à quantidade de urânio, não dependendo de uma combinação química na fase de agregação e nem de condições exteriores. Outra descoberta do casal foi que o urânio não era o único elemento que apresentava essa propriedade, pois os sais de tório também eram emissores de radiação e, como resultado desse trabalho, nasceu o estudo do famoso fenômeno da radioatividade. Becquerel, Pierre e Marie Curie foram laureados com o prêmio Nobel de Física em 1903, sendo Marie Curie a primeira mulher a ganhar esse importante reconhecimento científico. Marie Curie foi também a cientista responsável pela descoberta de outros dois novos elementos químicos: polônio, que foi nomeado assim por uma homenagem ao país natal de Marie, e rádio. As pesquisas realizadas pelo casal Curie foram de extrema importância para a humanidade, pois eles foram percursoresno tema e deixaram um legado para a pesquisa científica e médica. Além do resultado direto das suas pesquisas, eles foram inspiração para muitos cientistas que estudaram posteriormente esse assunto. Com a morte de Pierre em 1906, Marie Curie não parou seus estudos sobre radioatividade, mas seguiu principalmente na linha de estudo de técnicas de uso da radiologia para aplicações terapêuticas. Em virtude disso, em 1911, Marie Curie foi laureada com o Prêmio Nobel de Química, tornando-se a primeira pessoa a ganhar o Prêmio Nobel duas vezes. Seguindo os passos de Röntgen, não patenteou qualquer descoberta sua, permitindo que a investigação das propriedades do elemento rádio pudesse continuar a ser desenvolvida por toda a comunidade científica. Marie Curie (1867–1934) é considerada uma das maiores cientistas da história. À frente do seu tempo, foi não somente a primeira mulher a vencer um Prêmio Nobel, como também foi a primeira pessoa a recebê-lo duas vezes, e em duas categorias diferentes. 5Princípios da construção da imagem radiológica O legado de Marie Curie não é restrito apenas à radiologia. A cientista foi fundadora do Instituto do Rádio, na Universidade de Paris, onde estudaram cientistas renomados em todo o mundo. Em 1922, Marie Curie era também membro da Academia Francesa de Medicina. Faleceu aos 66 anos, em 4 de julho de 1934, em virtude de uma aplasia medular causada pela sua exposição aos elementos radioativos (EISENBERG, 1992). A pesquisa de Marie Curie também inspirou sua filha, Irène Joliot-Curie, que desenvolveu pesquisas no ramo da física nuclear com seu marido, Frédé- ric Joliot. O casal se dedicou a estudar a estrutura do nêutron e descobriu a radioatividade artificial. Ambos compartilharam o Prêmio Nobel de Química em 1935, um ano após a morte de Marie Curie. Após os fatos relacionados às descobertas de Marie Curie, houve outros marcos importantes para a história da radiologia, como você pode conferir com ajuda da linha do tempo a seguir. 1900: Wallace Jonhson e Walter Merril publicam um artigo descrevendo resultados positivos na aplicação de raios X em câncer de pele. 1920: iniciam-se efetivamente os estudos da aplicação de raios X na inspeção de materiais, dando origem à radiologia industrial. 1934: Irene e Fréderic Joliot Curie descobrem uma maneira de gerar radioatividade em elementos artificiais com a obtenção de isótopos radioativos. 1940: surge a ideia de usar a tensão alternada para acelerar partículas carregadas, originando, mais tarde, o acelerador de partículas. 1950: é construído um primeiro acelerador linear com a finalidade de realizar tratamento de cânceres mais profundos, pelo Stanford Micro- wave Laboratory, instalado no Stanford Hospital, localizado em São Francisco, nos Estados Unidos, EUA. 1972: Sir Godfrey Newbold Hounsfield inventa a tomografia computadorizada. Conforme relata Alan Bleich (1960) em seu livro The story of X-rays from Roentgen to Isotopes, a radiografia passou a ser objeto de curiosidade e até de preocupação, pois invadia a privacidade do corpo humano, oferecendo uma representação fotográfica inestética. Princípios da construção da imagem radiológica6 Conceitos fundamentais da formação da imagem radiológica A imagem radiográfi ca é o registro da absorção diferencial, mas, para que seja útil, é necessário que seja visível, para o que é necessário um conjunto de écran-fi lme, intensifi cador de imagem ou um detector conectado a um sistema digital. Para realizar um exame radiológico, é necessário que haja interação dos raios X com a matéria, de modo que, com isso, ocorra o registro da imagem da anatomia (Figura 3). O conjunto de écran-fi lme deverá estar posicionado atrás do paciente sob a mesa de exames ou em bucky vertical. Figura 3. Radiografia realizada em leito no Hospital Parnamirim. Fonte: Castro (2019, documento on-line). Imagem latente A imagem latente é invisível, pois apenas alguns íons de prata são alterados para a prata metálica e depositados no centro de sensibilidade. Processando o fi lme, essa ação é aumentada até que todos os íons de prata no cristal exposto sejam convertidos em prata atômica, transformando, assim, a imagem latente em imagem radiográfi ca visível. 7Princípios da construção da imagem radiológica Principais fatores de influência na imagem A seguir, conheça os principais fatores que infl uenciam na formação de imagem. Densidade óptica A densidade radiográfi ca óptica é o grau de enegrecimento da radiografi a, mas essa não é a sua única explicação, pois a densidade tem um valor numérico preciso que pode ser calculado caso o nível de luz incidente no fi lme processado e o nível da luz transmitida através do fi lme sejam conhecidos. A densidade óptica é uma função logarítmica que permite uma ampla série de valores, que variam de 0 a 4 nos filmes e correspondem a claro e escuro. O principal fator de controle da densidade é o mAs (lê-se miliamperes- -segundo). Trata-se da medida de radiação (miliamperagem) produzida em um determinado intervalo de tempo (segundos) por meio de um tubo de raio X. Uma duplicação do aumento do mAs pode, por exemplo, pode corrigir uma radiografia subexposta por ela estar muito clara (Figura 4) — isso porque a densidade é o único fator passível de alteração, enquanto os outros permanecem constantes (HALMSHAW, 1995). Figura 4. Imagem radiográfica de uma mão subexposto e com o mAs dobrado. Fonte: Adaptada de Tecnologia radiológica ([201-?]). Princípios da construção da imagem radiológica8 Contraste Podemos entender a escala de contraste como uma quantidade de diferentes densidades ópticas presentes em um fi lme e é representada por uma escala de tons de cinzas presentes em uma radiografi a. A observação de algumas características gerais de uma imagem radiográfi ca ajudam e defi nem variações comuns na escala de contraste. Na imagem radiográfi ca, os tons de cinza não estão organizados e estão arranjados de modo a formar a representação do objeto radiografado. Diversos fatores influenciam na escala de contraste, principalmente a energia do feixe de raio X, ou seja, a atenção radiográfica. A energia do feixe determina o poder de penetração da radiação: quanto maior a energia do feixe, mais fótons irão atravessar o meio sem interagir e atingirão o receptor de imagem. O fator de controle do contraste é o kV, que determina principalmente a penetrabilidade, também chamada de qualidade do feixe de raio X, pois controla a quantidade de fótons presentes no feixe. Quanto maior o kV, maior é a energia e, por consequência, maior a penetração na massa dos tecidos. O ajuste de tensão está disponível no painel do aparelho de raio X a partir de um valor mínimo até um valor máximo para o aparelho. Quando se usa maior quantidade de kV e menor quantidade de mAs, haverá uma redução na exposição do paciente. Detalhe O detalhe por defi nição é equivalente à nitidez das estruturas imagens para dar mais clareza às linhas fi nas e bordas dos tecidos e estruturas visíveis pelas imagens radiográfi cas. Um dos principais fatores de controle que infl uen- ciam na nitidez é o movimento, relacionado ao posicionamento. Também é importante avaliar o tamanho do ponto focal, DFoFi (distância foco-fi lme) e DOF (distância objeto-fi lme). Quanto menor o ponto focal, maior é a nitidez e maiores são os detalhes; por consequência, menor é o borramento geomé- trico. A perda de nitidez nos detalhes geralmente é causada pelo movimento, que pode ser controlado pelo uso de acessórios de imobilização no paciente, controle respiratório e tempos de exposição. Distorção A distorção pode interferir no diagnóstico, e existem três principais condições que contribuem para que não ocorra: espessura do objeto, posição do objeto e forma do objeto. Os objetos (estrutura) mais grossos são mais distorcidos que 9Princípios da construção da imagem radiológica os mais fi nos e, caso os planos do objeto e daimagem não sejam paralelos, também ocorre a distorção. Como uma imagem não tem padrão e a distorção nunca é totalmente ajustada, essa distorção deve ser mitigado, uma vez que pode apenas ser minimizada e controlada. Divergência do feixe de raio X O feixe do raio X é um importante conceito nos estudos de posicionamento radiográfi co, pois, se houver uma divergência, pode acarretar a cobertura do fi lme radiográfi co ou do receptor de imagem. Colimadores ajustáveis, que absorvem os raios X laterais, são utilizados para limitar o tamanho do feixe do próprio raio X. Dessa forma, é possível controlar o tamanho do campo. Veja, na Figura 5, um comparativo de tamanhos distintos de feixe de raios X. Figura 5. Tamanhos distintos de feixe de raios X. Fonte: Adaptada de Tecnologia radiológica ([201-?]). Existem diversas maneiras de se minimizar a incidente de distorção ra- diográfica e, para isso, podemos levar em consideração os fatores de controle que você confere a seguir. Princípios da construção da imagem radiológica10 Ajuste do DFoFi (distância foco-filme): o aumento da DFoFi diminui a distorção, pois aumenta a definição. Ajuste do DOF (distância objeto-filme): a diminuição da DOF diminui a distorção e, por consequência, aumenta a definição. Alinhamento do objeto: a distorção diminui significativamente quando o objeto está devidamente alinhado. Posicionamento do raio central: quando o raio central está devidamente posicionado, também reduz a distorção e a divergência, sendo, portanto, mais bem utilizado. A qualidade da imagem radiográfica é fator determinante na hora da sua uti- lização para servir de insumo de um diagnóstico. Por esse motivo, pode interferir no julgamento dos diversos profissionais que a utiliza — uma imagem radiológica com baixa qualidade exige que o médico solicite que o exame seja refeito. Você sabe por que a qualidade da imagem do exame é extremamente importante? Por exemplo, uma imagem sem nitidez pode ser um dos principais problemas na qualidade da imagem, pois pode esconder lesões, microfraturas e outros sintomas importantes para o diagnóstico do médico. Para evitar isso, veja os aspectos que influenciam a nitidez das imagens. Ponto focal: o menor ponto focal possível produz imagens com melhor nitidez e mais detalhes. DFoFi: quanto maior for a distância entre o tubo e o receptor, melhor será a nitidez. DOF: reduzir a distância entre o objeto do filme auxilia a ter uma maior nitidez da imagem. Movimentos: reduzir o tempo de exposição do paciente e instruir e cuidar seus movimentos. A base física da imagem radiológica: as principais técnicas aplicadas Os fenômenos, tanto os físicos quantos os químicos, envolvidos na formação das imagens radiológicas dependem do tipo do detector utilizado, pois os sinais que formam uma imagem estão relacionados à sua variação espacial e à energia absorvida pelo detector. O conceito básico que melhor descreve uma imagem passa pelos seguintes itens: contraste, resolução e ruído. 11Princípios da construção da imagem radiológica Contraste De acordo com Hasegawa (1991), pode-se defi nir contraste como a diferença fracional em alguma grandeza mensurável entre duas regiões de uma imagem. Em radiologia, o contraste pode ser dividido em radiográfi co e do detector. O radiográfico, que tem relação com região anatômica a ser irradiada, depende das características físicas e das diferenças de atenuação dos fótons de raios X entre cada parte. Selecionando uma tensão (kVp) no equipamento de raios X e a filtração total do feixe que passa pelo paciente, ocorre uma determinada atenuação, que se caracteriza pelo coeficiente de atenuação daquela parte irradiada, que fornece a quantidade de fótons que são absorvidos pelo material e que influenciarão a imagem a ser formada. Os valores dos coeficientes de atenuação em geral diminuem com o aumento da energia do fóton incidente (CONTRASTE, [(200-?]). O contraste do detector se refere à habilidade do receptor de imagem em converter o sinal que incide sobre ele em imagem e depende de suas proprie- dades químicas, físicas, de espessura, entre outras (CONTRASTE, [(200-?]). As características que influenciam estão relacionadas a composição química do material do detector, espessura, número atômico, densidade eletrônica, processos físicos pelos quais o detector converte o sinal de radiação em um sinal eletrônico, óptico ou fotográfico. As influências que cada um desses contrastes sofre varia de acordo com as propriedades das partes anatômicas ou dos detectores. A Figura 6 ilustra como a variação de contraste pode influenciar a visualização da imagem. A imagem A possui contraste alto, a B possui um contraste médio e a C contraste baixo. A opção intermediária possui melhor visualização por seu nível de contraste. Figura 6. Comparação de uso de contraste em imagens para visualização. Princípios da construção da imagem radiológica12 Meios de contraste São elementos químicos introduzidos nas regiões estudadas com o intuito de aumentar o contraste e, sendo assim, aumentando a atenuação, auxiliando a delinear as bordas entre tecidos com radiodensidade similar e, consequente- mente, melhorando a visibilidade das imagens (AAAEIC; SAR, 2001). O uso dessas substâncias como meio de contraste introduzidas no corpo hu- mano, administrada via oral ou intravenosa, pode causar reações adversas, uma vez que nem sempre elas são inofensivas e podem alterar a circulação sanguínea, causando reações inesperadas (SCHILD, 1995). Assim, diversas precauções devem ser tomadas tanto com os pacientes quanto no preparo e no armazenamento dos meios de contraste (COLÉGIO BRASILEIRO DE RADIOLOGIA, 2000). O bário, por exemplo, pode ser utilizado nos exames de diagnósticos gas- trointestinais, pois permite observar rupturas como úlceras e outras doenças presentes. A maioria dos meios de contraste tem como base o iodo, que serve para opacificar os vasos e mostrar a atividade circulatória vascular. Outro elemento também utilizado é o ar, cuja principal vantagem é possuir uma baixa densidade. Fatores que influenciam no contraste radiográfico O contraste radiográfi co pode ser afetado consideravelmente por alterações no contraste do receptor de imagem ou no contraste do objeto. Contraste de receptor de imagem: é inerente à combinação écran-filme e influenciado pelo processamento do filme. Contraste do objeto: é determinado pelo tamanho, pela forma e por características de atenuação dos raios X na anatomia que está sendo examinada e pela energia do feixe de raios X (BUSHONG, 2010). Resolução espacial É a habilidade de detectar pequenas estruturas de alto contraste na radiografi a, ou seja, permite que seja possível distinguir duas estruturas adjacentes para que possam ser visualizadas separadamente em uma mesma imagem. Como fator que afeta a resolução, podemos citar o borramento de movimento, que diminui muito a qualidade da imagem — o movimento do paciente é usual- mente a principal causa do borramento. Para quantificar a resolução, utiliza-se um padrão de barras, em que as estruturas opacas e transparentes se alternam de forma que a imagem se 13Princípios da construção da imagem radiológica apresenta em formatos de pares de linhas. A unidade de medida, nesse caso, é chamada de pares de linha por milímetro (pl/mm). O borramento é um dos principais fatores, pois prejudica a identificação dos pares de linha, perdendo qualidade na imagem; por isso, a medição é feita considerando-se alto contraste, pois, com baixo contraste, a identificação de estruturas pode complicar-se. Segundo Williams et al. (2006), uma medição mais sofisticada da resolu- ção espacial é a função de transferência de modulação, FTM (ou Modulation transfer function — MTF), que descreve a capacidade do detector de transferir a modulação do sinal de entrada em uma frequência espacial no sinal de saída. Assim, os objetos de diferentes tamanhos e 15 opacidadessão mostrados na imagem com diferentes valores de tons de cinza (WILLIAMS et al., 2006). Ruído O ruído de uma imagem pode ser defi nido como a quantidade de informação indesejável que ela possui, ou seja, impede a realização de diagnóstico. Esse ruído é uma variação indesejável do sinal incidente ao receptor de imagem. O ruído radiográfico é a flutuação randômica da densidade óptica da imagem. Baixo ruído resulta em melhor imagem radiográfica, pois melhora a resolução do contraste. Existem quatro componentes que influenciam no ruído: granulação do filme, variação estrutural, mancha quântica e radiação espalhada. A granulação do filme refere-se à distribuição espacial e de tamanho dos grãos de haleto e de prata na emulsão. A variação estrutural é similar à granulação, mas se refere ao fósforo da tela intensificadora radiográfica. A granulação do filme e a variação estrutural são inerentes ao receptor de imagem. A mancha quântica refere-se à natureza randômica pela qual os raios X interagem com o receptor de imagem — caso uma imagem seja produzida com uso de poucos raios X, a mancha quântica será maior do que uma imagem formada por grande número de raio X. O uso de telas intensificadoras muito rápidas resulta em acrescimento de mancha quântica (HENDEE, 2002). Receptor de imagem O receptor de imagem recebe os raios X, transmitidos através do paciente e pela grade e utilizados para a formação da imagem das estruturas radiografadas. Os receptores são distribuídos em convencional e digital. O sistema receptor de imagem convencional é composto por chassi radio- gráfico, tela intensificadora e filme radiográfico. Esse tipo de receptor tem Princípios da construção da imagem radiológica14 a resolução espacial baseada pelo tamanho do ponto focal e é necessária a emissão da quantidade exata de radiação. Já os receptores de imagens digitais são formados por sistemas tecnoló- gicos com uso de computadores. Nesse caso, as imagens são formadas pelo princípio tecnológico numérico, ou seja, a quantidade de radiação necessária para produzir uma imagem radiográfica é adequada para um diagnóstico mais preciso, sendo uma evolução em relação à radiografia convencional. Cada pixel tem valor correspondente à intensidade de fótons que atingem a área irradiada, e os valores numéricos correspondem aos tons de cinza e à posição em que o pixel é demonstrado no monitor do computador. Nesse caso, o sistema binário é usado para realizar esse processo, e os bits nada mais são do que os códigos binários que formam a imagem em formato totalmente digital. A cada 8 bits agrupados, forma-se uma unidade maior denominada byte, que pode ser apresentada em 256 possíveis combinações — nessa lógica, os tons de preto e branco podem variar em 256 tons diferentes (HENDEE, 2002). AAAEIC; SAR. 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