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G1836.14 - Filosofia Cristã 2

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FILOSOFIA CRISTÃ
Fábio Augusto Darius
1ª Edição, 2020
Centro Universitário Adventista de São Paulo
Fundado em 1915 — www.unasp.br
Missão Educar no contexto dos valores bíblicos para um viver pleno e para 
a excelência no serviço a Deus e à humanidade.
Visão Ser uma instituição educacional reconhecida pela excelência nos serviços prestados, 
pelos seus elevados padrões éticos e pela qualidade pessoal e pro� ssional de seus egressos.
Administração da Entidade
Mantenedora (IAE)
Diretor-Presidente: Maurício Lima
Diretor Administrativo: Edson Medeiros
Diretor-Secretário: Emmanuel Oliveira Guimarães
Diretor Depto. de Educação: Ivan Góes
Administração Geral
do Unasp
Reitor: Martin Kuhn
Vice-Reitor Executivo Campus EC: Antônio Marcos da Silva Alves
Vice-Reitor Executivo Campus HT: Afonso Ligório Cardoso
Vice-Reitor Executivo Campus SP: Douglas Jeferson Menslin
Pró-Reitor Administrativo: Telson Bombassaro Vargas
Pró-Reitor Acadêmico: Afonso Ligório Cardoso
Pró-Reitor de Educação a Distância: José Prudencio Júnior
Pró-Reitor de Pesquisa e Desenvolvimento Institucional: Allan Macedo de Novaes
Pró-Reitor de Desenvolvimento Espiritual, Comunitário e Estudantil: Martin Kuhn
Secretário-Geral: Marcelo Franca Alves
Faculdade Adventista
de Teologia
Diretor: Reinaldo Wenceslau Siqueira
Coordenador de Pós-Graduação: Vanderlei Dorneles da Silva
Coordenador de Graduação: Adriani Milli Rodrigues
Órgãos Executivos 
Campus Engenheiro Coelho
Pró-Reitor Administrativo Associado: Murilo Marques Bezerra
Pró-Reitor Acadêmico Associado: Everson Muckenberger
Pró-Reitor de Desenvolvimento Estudantil Associado: Bruno de Moura Fortes
Pró-Reitor de Desenvolvimento Espiritual e Comunitário Associado: Ebenézer do Vale Oliveira
Órgãos Executivos 
Campus Hortolândia
Pró-Reitor Administrativo Associado: Claudio Valdir Knoener
Pró-Reitora Acadêmica Associada: Suzete Araújo Águas Maia
Pró-Reitor de Desenvolvimento Estudantil Associado: Daniel Fioramonte Costa
Pró-Reitor de Desenvolvimento Espiritual e Comunitário Associado: Wanderson Paiva
Órgãos Executivos 
Campus São Paulo
Pró-Reitor Administrativo Associado: Flavio Knöner
Pró-Reitora Acadêmica Associada: Silvia Cristina de Oliveira Quadros
Pró-Reitor de Desenvolvimento Estudantil Associado: Ricardo Bertazzo
Pró-Reitor de Desenvolvimento Espiritual e Comunitário Associado: Robson Aleixo de Souza
Editor-chefe Rodrigo Follis
Gerente de projetos Bruno Sales Ferreira
Editor associado Alysson Huf
Supervisor administrativo Werter Gouveia
Gerente de vendas Francileide Santos
Editores Adriane Ferrari, Gabriel Pilon Galvani,Jônathas Sant’Ana e � amires Mattos
Designers grá� cos Felipe Rocha e Kenny Zukowski
Imprensa Universitária Adventista
1ª Edição, 2020
FILOSOFIA CRISTÃ
Imprensa Universitária Adventista
Engenheiro Coelho, SP
Fábio Augusto Darius
Doutor em Teologia pela Escola Superior 
de Teologia de São Leopoldo
Darius, Fábio Augusto
Filoso� a Cristã [livro eletrônico] / Fábio Augusto Darius. Engenheiro Coelho: Unaspress, 2020.
1Mb, PDF
ISBN 978-65-86848-28-1 (e-book)
1. Filoso� a cristã. I Título. II. Darius, Fábio Augusto.
 CDD 210 
Dados Internacionais da Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Ficha catalográ� ca elaborada por Hermenérico Siqueira de Morais Netto CRB 7370
Filoso� a Cristã
1ª edição – 2020
e-book (PDF)
OP 00123_049
Editora associada:
Todos os direitos reservados para a Unaspress - Imprensa Universitária Adventista. 
Proibida a reprodução por quaisquer meios, sem prévia autorização escrita da editora, 
salvo em breves citações, com indicação da fonte.
Preparação: Mônica Makawetskas
Revisão: Thais Alencar
Projeto grá� co: Ana Paula Pirani 
Capa: Jonathas Sant’Ana
Diagramação: Enny Weber
Caixa Postal 88 – Reitoria Unasp
Engenheiro Coelho, SP CEP 13.448-900
Tels.: (19) 3858-5222 / (19) 3858-5221
www.unaspress.com.br
Imprensa Universitária Adventista
Validação editorial cientí� ca ad hoc:
Milton Luiz Torres
Doutor em Arqueologia Clássica pela University of Texas 
System e em Letras Clássicas pela USP, com estudos 
pós-doutorais em Estudos Literários pela Universidade 
Federal de Minas Gerais
Conselho editorial e artístico: Dr. Martin Kuhn, Esp. 
Telson Vargas, Me. Antônio Marcos, Dr. Afonso Cardoso, 
Dr. Douglas Menslin, Dr. Rodrigo Follis, Dr. Lélio Lellis, Dr. 
Allan Novaes, Esp. Jael Enéas, Esp. José Júnior, Dr. Reinaldo 
Siqueira, Dr. Fábio Al� eri, Dra. Gildene Lopes, Me. Edilson 
Valiante, Me. Diogo Cavalcante, Dr. Adolfo Suárez
SUMÁRIO
FILOSOFIA E COSMOVISÃO CRISTÃ ........................ 13
Introdução ........................................................................................14
A filosofia cristã em perspectiva a partir de tópicos da 
História da filosofia geral, destacando a importância e 
atualidade do estudo .......................................................................15
A visão teísta do mundo e sua importância para a cosmovisão 
cristã: as múltiplas visões de mundo face à superioridade 
do teísmo como resposta às indagações da existência. .................24
Fé e Filosofia: a metanarrativa do Grande Conflito: de onde 
viemos, o que estamos aqui fazendo e para onde vamos? 
A metanarrativa do Grande Conflito como chave interpretativa 
para as grandes questões do ser humano. ......................................32
O ser humano integral: perspectivas bíblico-filosóficas. Análise 
das diversas perspectivas que tornam o ser humano, 
ser humano ......................................................................................39
Filosofia cristã e sentido da vida: em busca da Verdade. As 
respostas provisórias da Filosofia e a solução da Cruz ....................47
Referências .......................................................................................58
TÓPICOS DE HISTÓRIA DA FILOSOFIA CRISTÃ ........ 63
Introdução ........................................................................................64
Filosofia Antiga e cristianismo ........................................................64
Filosofia Medieval e cristianismo: Idade da fé ou Idade das 
Trevas? O cristianismo resiliente em meio às perseguições ............73
Filosofia Moderna e Cristianismo: Pode a ciência suprimir 
a Verdade? .......................................................................................84
Filosofia Contemporânea e Cristianismo: onde está Deus? ...........95
A Pós-modernidade, o futuro e a essência do cristianismo: o ser 
humano líquido tem sede da Verdade ...........................................100
Referências ......................................................................................119
VO
CÊ
 ES
TÁ
 A
QU
I
PARA OTIMIZAR A IMPRESSÃO DESTE ARQUIVO, CONFIGURE 
A IMPRESSORA PARA DUAS PÁGINAS POR FOLHA.
EMENTA
Análise das condições para se situar a 
filosofia cristã no âmbito das filosofias 
antigas e contemporâneas. A visão teísta 
do mundo e sua importância para a 
cosmovisão.
CONHEÇA O CONTEÚDO
Caro(a) aluno(a),
Seja bem-vindo(a) ao estudo sobre Filosofia 
Cristã. Todos nós, em algum momento da 
vida, já nos perguntamos: quem sou? De onde 
vim? Para onde vou? Essas perguntas não são 
novas; elas estão no coração do homem desde 
o início dos tempos. Cosmovisão é o nome 
dado à maneira como cada um enxerga o sen-
tido de sua existência, e esse é um dos assun-
tos que abordaremos em nosso material. 
Para falar desse tema e situar a Filosofia Cristã 
na Filosofia Geral, será necessário percorrer 
os períodos da História e a maneira como o 
homem pensava em cada um desses períodos. 
Isso inclui saber como o ser humano enxerga a 
si mesmo, a Deus e ao próximo. 
Por fim, vamos estudar sobre o pensamento 
filosófico na Pós-modernidade, período no 
qual estamos inseridos. Será inevitável perce-
ber que a humanidade, independentemente 
do período histórico, continuabuscando saber 
quem é, de onde veio e para onde vai. Daí a 
importância de conhecer a Filosofia Cristã, 
que, em linhas gerais, coloca Deus no centro 
da existência, respondendo às mais profun-
das questões sobre nosso propósito de vida e 
preenchendo os vazios existenciais. 
Bons estudos!
TÓPICOS DE HISTÓRIA DA 
FILOSOFIA CRISTÃ
UNIDADE 2
OB
JE
TI
VO
S
- Compreensão da importância da cosmovisão bíblico-cristã como 
norteadora do estilo de vida;
- Percepção da metanarrativa do grande confl ito como background
histórico-fi losófi co da existência;
- Identifi cação do sentido da existência a partir da leitura do mundo 
pela via fi losófi ca cristã.
64
FILOSOFIA CRISTÃ
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) à unidade 2 do estudo 
sobre Filosofia Cristã. Neste material, vamos tratar de uma 
temática extremamente relevante para que você entenda melhor 
as diferenças entre a filosofia grega e a filosofia cristã bíblica. 
Com esse objetivo, vamos conhecer um pouco da história da 
Filosofia Antiga e percorrer alguns capítulos da História Geral. 
Assim, será mais fácil entender as premissas de cada fase da 
História e como elas influenciaram a religião e a filosofia cristã 
como um todo. Nesta unidade, esperamos que você:
• identifique o pensamento helenista em 
contraponto à cosmovisão cristã bíblica;
• conheça os diferentes períodos da História e analise 
o cristianismo sob o prisma de cada um deles;
• reflita sobre a pós-modernidade, o futuro 
e a essência do cristianismo.
FILOSOFIA ANTIGA E CRISTIANISMO
Vários textos de História da Filosofia apontam que seu 
nascimento se deu na antiga Grécia, especificamente em Roma, 
65
TÓPICOS DE HISTÓRIA DA FILOSOFIA CRISTÃ
aproximadamente seis séculos antes do 
aparecimento de Cristo. Considera-se Tales, 
nascido em Mileto, mais ou menos em 624 
antes da Era Cristã, como o primeiro dos 
filósofos. Por certo, ao se supor dessa forma, 
é perceptível um apagamento dos supostos 
preceitos filosóficos de outras civilizações 
antigas. Contudo, não é o caso aqui de se 
estudar filosofia ou mitologia de outras 
civilizações. Nosso objetivo é entender 
melhor, ainda que em linhas muito gerais, 
as breves diferenças entre a filosofia grega e 
a filosofia cristã bíblica.
Para tanto, é necessário conhecer 
um pouco da história da Filosofia 
Antiga, e, por suposto, da História Geral, 
para perceber alguns aportes destes 
conhecimentos aplicados à religião e à 
filosofia cristã como um todo. É importante 
dizer que no primeiro século da Era Cristã, 
ou seja, no preciso século em que Cristo 
viveu neste mundo para possibilitar ao ser 
humano a salvação, o Império Romano 
vivia o seu apogeu. Estava plenamente 
Teatro em Mileto, terra de 
Tales, o primeiro filósofo da 
Antiga Grécia.
Fonte: Shutterstock (https://shutr.bz/3eFdNXU)
66
FILOSOFIA CRISTÃ
desenvolvido em relação às suas próprias 
potencialidades e possibilidades naquele 
contexto civilizacional e vivendo o que os 
historiadores chamam de Pax Romana. 
Isso não quer dizer que nesse período 
(que transcendeu um século) não houve 
conflitos militares ou algo assim, que 
certamente aconteceram, mas em pontos 
mais afastados do império. 
Esse pujante período permitiu que 
os cidadãos romanos vivenciassem 
um período relativamente longo de 
estabilidade em múltiplos sentidos. 
Contudo, essa estabilidade por vezes 
encontrava certo ponto de desequilíbrio 
quando o assunto dizia respeito à religião. 
A religião oficial romana, estatal, pomposa 
e circunstancial, em um primeiro momento, 
podia de fato satisfazer os sentidos do 
povo ao proporcionar um belo espetáculo 
de sons, cores e sabores. No entanto, não 
preenchia os anseios mais íntimos do 
coração humano.
PAX ROMANA
Segundo o site Conhecimento 
Científico, “Pax Romana (do la-
tim Paz Romana) foi uma políti-
ca de paz criada pelo Imperador 
Romano César” e representou 
um período de sucesso econô-
mico e de domínio territorial.
Fonte: <https://bit.ly/31rUuO7>. 
Acesso em: 29 jun. 2020.
67
TÓPICOS DE HISTÓRIA DA FILOSOFIA CRISTÃ
O Império Romano, nesse período, encontrava-se 
helenizado. Isso quer dizer que fora profundamente influenciado 
pela perspectiva ou cosmovisão grega. Em outras palavras, 
pode-se dizer que o helenismo foi precisamente a difusão do 
pensamento grego, tanto no Oriente, quanto na porção ocidental 
do Império Romano. Isso quer dizer que a forma de pensar, 
inclusive a filosófica, em grande medida foi incorporada por 
esses povos nesse período.
No entanto, percebe-se que entre a perspectiva ou cosmovisão 
grega e a judaico-cristã pouco existe em comum. Quando não 
se percebe essas essas sutis e explícitas diferenças, acaba-se por 
identificar o cristianismo dos primeiros séculos mais por conta 
da tradição influenciada pela premissa grega do que por seus 
fundamentos bíblicos em si. Reside aí um grave erro que deve ser 
revisto ao se estudar profundamente a própria Palavra de Deus.
O fato é que, material ou estruturalmente, o Império Romano, 
de alguma forma, beneficiou o estabelecimento do cristianismo em 
suas fronteiras a partir de elementos que transcendem a própria 
compreensão individual de seus fatores. Em primeiro lugar, graças 
à pujança econômica do império, existia todo um complexo, ágil 
e funcional sistema bem conservado de estradas que facilitavam 
o transporte de pessoas e bens até os destinos mais longínquos de 
68
FILOSOFIA CRISTÃ
Roma. Certamente essa rede de estradas pavimentadas serviu para 
que o evangelho chegasse mais facilmente aos seus residentes. 
Além disso, em virtude de ser o Império Romano o maior e 
mais poderoso de então, com uma série de povos conquistados, 
atribuía-se à figura do imperador o valor de lei universal. Por certo, 
essa constatação serviu para que os romanos que eventualmente 
aceitassem o cristianismo percebessem a universalidade da Lei 
de Deus, explicitada no livro de Êxodo e mais tarde ensinada 
pessoalmente por Cristo. 
Deve-se destacar ainda que, por conta de todas essas 
dinâmicas complexas que constituíam o império no período da 
Antiguidade em que foi escrito o Novo Testamento, o grego 
era a língua universal. Por conta disso, os evangelhos e o Novo 
Testamento como um todo foram escritos nessa língua, facilitando 
a compreensão de seu conteúdo. 
É importante notar que o grego bíblico não é exatamente o 
mesmo grego de séculos atrás, em relação ao próprio texto em si. 
O grego de Homero na Ilíada ou na Odisseia tem um caráter ainda 
muito mais complexo que aquele utilizado pelos escritores bíblicos. 
De todo modo, o ponto a ser aqui percebido é o de uma língua 
universal, no contexto de uma lei universal, por assim dizer, por 
meio de uma boa rede de estradas.
69
TÓPICOS DE HISTÓRIA DA FILOSOFIA CRISTÃ
SAIBA MAIS
De acordo com a definição clássica, na periodização das 
épocas históricas da humanidade, Idade Antiga ou Anti-
guidade é o período que se estende desde a invenção da 
escrita (de 4.000 a.C. a 3.500 a.C.) até a queda do Império 
Romano do Ocidente (476 d.C.).
Todos esses elementos por si mesmos não seriam 
suficientemente fortes se não fosse clara a necessidade de uma 
religião que verdadeiramente tocasse os corações daqueles 
cidadãos ou habitantes de Roma. Os povos dominados 
percebiam que seus próprios deuses eram fracos e não 
respondiam aos seus anseios, enquanto a religião estatal 
romana era inócua para a resolução dessas mesmas questões.
Deve-se perceber que o platonismo e o aristotelismo já 
haviam, em grande medida passado depois de vários séculos 
desde o seu estabelecimento, primeiro na velha Atenas, depois 
em Roma. De fato, as pessoas careciam de respostas às suas 
indagações. Isso se deu a partir de uma pequena, mas crescente 
seita judaica que, aos poucos, tomou a forma de uma religião 
independente. Ao menos era sob essa ótica que os romanos 
enxergavam essa nova religião, que prosperava entre os mais 
simples empregados do império e mesmo entre escravos, mas 
70
FILOSOFIA CRISTÃ
dificilmenteentre os aristocratas romanos, 
que gozavam de poderes e proteção 
estatal ao professarem a fé oficial. Era 
preferível, sem qualquer possibilidade de 
outra escolha, abraçar a fé imperial.
Embora a religião cristã fosse a religião 
dos pobres, fracos e oprimidos, com o 
passar dos próximos poucos séculos, ela 
se tornaria não apenas a maior religião do 
império, mas também ganharia estatuto 
oficial e não simplesmente por conta de 
um milagre, mas certamente por múltiplas 
e intrincadas questões políticas. No 
entanto, isso não deve ser aqui tematizado. 
Em realidade, a grande diferença entre 
a premissa filosófica grega e cristã, é 
que, para os cristãos, em Deus reside o 
conhecimento, o verdadeiro e único pilar 
que sustenta a Verdade em si, enquanto 
a filosofia grega foi estabelecida a partir 
do conhecimento racional do próprio ser 
humano. Assim sendo, para os gregos, 
Deus não era o pilar e o centro da natureza, 
mas o próprio ser humano.
O cristianismo 
passou de 
religião dos 
pobres, fracos e 
oprimidos para 
a religião oficial 
do império.
71
TÓPICOS DE HISTÓRIA DA FILOSOFIA CRISTÃ
Dentre os vários filósofos judaicos e cristãos dos primeiros 
séculos que defendiam, de alguma forma, a adoção de ambas 
as premissas, encontra-se Fílon de Alexandria e Clemente de 
Alexandria. De acordo com Cláudio Fernandes:
A principal obra de Clemente intitula-se Exortação aos Gregos, 
na qual ele procura destacar os elementos do pensamento 
helenístico que se aproximavam da verdade cristã, isto é, a 
realidade de Cristo como o Logos divino, a inteligência criadora 
de Deus. A busca filosófica pela verdade e a fuga do discurso 
mitológico era, para Clemente, um prenúncio necessário 
para a recepção da mensagem cristã no mundo. O mistério 
da encarnação do “Logos” e da revelação da “Verdade” 
aos homens teria, no discurso filosófico, um momento de 
ordem, de construção argumentativa (FERNANDES, 200-).
Contudo, o autor idealizava alcançar a todos com a 
mensagem cristã. De acordo com a tradução de Santos (2006):
se tu queres, recebe, tu também, a iniciação e tomarás parte 
no coro dos anjos em torno de Deus, enquanto o Logos de 
Deus se unirá a nossos hinos. Este é o eterno Jesus, o único 
grande sacerdote do Deus único que também é seu pai; ele 
ora pelos homens e os exorta: ‘Escutai, tribos inumeráveis’, 
mais ainda aqueles dentre os homens racionais, bárbaros e 
gregos; eu chamo toda a raça humana, eu, que sou o criador 
72
FILOSOFIA CRISTÃ
pela vontade do Pai (CLEMENTE 
DE ALEXANDRIA, [c. 180 d.C.]). 
A cosmovisão bíblico-cristã é 
certamente distinta da cosmovisão greco-
romana, ou helenística. A ideia, ainda 
que com boas intenções, de misturar 
uma premissa com a outra, certamente 
provocou, ainda na Antiguidade e 
obviamente em toda a Idade Média, 
grandes dificuldades àqueles que, 
desejosos de seguir os ensinamentos 
bíblicos, foram sumariamente perseguidos 
por forças consideráveis implementadas 
pelo próprio Estado e sob a aprovação da 
igreja então estabelecida. 
A Idade Média, o período de mil 
anos de extraordinário desenvolvimento 
humano por um lado, mas de 
cerceamentos de liberdades e perseguições 
por outros, testemunhou o perigo da 
tentativa de estabelecer um poder a partir 
de uma falsa ideia filosófica supostamente 
validada por uma leitura bíblica estranha 
aos seus preceitos originais.
A Idade Média foi um 
período de desenvolvimen-
to humano por um lado, 
mas de cerceamento à 
liberdade por outro.
Fonte: Shutterstock (https://shutr.bz/3eTvG5C)
73
TÓPICOS DE HISTÓRIA DA FILOSOFIA CRISTÃ
Portanto, deve-se sempre e com todo cuidado perceber a 
história a partir de seus próprios paradigmas e pressupostos, 
para que não se estabeleçam falsas premissas a partir de textos 
supostamente conhecidos e extraídos da tradição bíblica, mas 
lidos a partir de outra cosmovisão. 
A beleza do texto filosófico grego, em toda a sua imensidão 
e complexidade, às vezes pode eclipsar a verdade contida na 
Bíblia para aqueles que não têm a clareza de perceber, cada um 
deles, em suas próprias características e alcance. 
FILOSOFIA MEDIEVAL E CRISTIANISMO: 
IDADE DA FÉ OU IDADE DAS TREVAS? O 
CRISTIANISMO RESILIENTE EM MEIO ÀS 
PERSEGUIÇÕES
A Idade Média foi um período que durou aproximadamente 
mil anos, compreendido entre o fim do Império Romano do 
Ocidente e o declínio e fim do Império Romano do Oriente, 
entre 476 e 1.453. Essa ideia de tempo e marcos não é única. Há 
quem defenda que a Antiguidade durou bem mais que o fim do 
Império Romano e se estendeu até a coroação de Carlos Magno, 
que aconteceu precisamente na noite de 25 de dezembro de 800. 
74
FILOSOFIA CRISTÃ
Alguns historiadores consideram esse primeiro período da Idade 
Média de acordo com a concepção tradicional de Antiguidade.
Outros historiadores, dentre os quais o mais famoso de todos 
os medievalistas, Jacques Le Goff, afirma que a Idade Média durou 
até o surgimento da Contemporaneidade, como já foi mencionado. 
Nesta seção, será abordada a relação entre a Filosofia Medieval 
e o Cristianismo e, principalmente, a resistência dos cristãos face 
às perseguições múltiplas em nome da fé. Contudo, antes de se 
apresentar o tema proposto, faz-se necessário estruturar a partir 
de uma fonte externa o sentido da Idade Média e sua intrínseca 
dependência de certas porções da Filosofia Antiga. 
SAIBA MAIS
Jacques Le Goff (Toulon, 1 de janeiro de 1924 — Paris, 1 
de abril de 2014) foi um historiador francês especialista 
em Idade Média. Autor de dezenas de livros e trabalhos, 
era membro da Escola dos Annales. Pertencente à tercei-
ra geração, dedicou-se ao estudo da antropologia histó-
rica do ocidente medieval.
Esse entendimento se faz necessário para uma melhor 
percepção do próprio cerne da perseguição perpetrada 
contra os muitos cristãos que protestaram acerca de tais 
75
TÓPICOS DE HISTÓRIA DA FILOSOFIA CRISTÃ
relações. De acordo com Santos (2015), eis o sentido da 
Idade Média, dentre os muitos em meio a tantas premissas e 
concepções, criadas ou não:
Caso pudéssemos precisar um sentido primeiro, fundacional 
e estruturante de todas as filosofias medievais, o círculo da 
filosofia exposto no Hortus deliciarum (Jardim das delícias, 
c. 1180) da abadessa Herrada de Hohenburg (c. 1130–1195) 
é bastante esclarecedor. O círculo, imagem perfeita e que 
representa a divindade — desde Platão. Na iluminura, ao 
centro, a Rainha Filosofia. A seus pés, Sócrates e Platão (o 
século 12 ainda era platônico — e neoplatônico, como vimos). A 
Filosofia tem uma coroa de três cabeças: são a Ética, a Lógica e 
a Física (segundo Platão, as três partes do ensino da Filosofia). 
Em suas mãos, um imenso rolo de papel, no qual se lê: “Toda 
sabedoria vem de Deus; somente os sábios podem fazer o que 
desejam”, sinal da preponderância da Filosofia, ainda que a 
serviço da Teologia. Sócrates e Platão estão a seus pés, porque 
eram considerados os filósofos precursores do pensamento 
cristão, embora pagãos. Eram “os sábios do mundo” e “os 
professores do povo”, e tinham como tarefa a exploração 
da natureza profunda de todas as coisas. O círculo interior 
da Rainha Filosofia e de seus discípulos Sócrates e Platão é 
envolto por outro círculo, maior, onde estão as disciplinas 
necessárias para o estudo da Filosofia. São as Sete Artes 
76
FILOSOFIA CRISTÃ
Liberais: a primeira parte, introdutória, chamada de Trivium, 
por conter a Gramática, a Dialética e a Retórica. Na ordem: 
aprender a escrever e a ler corretamente, a argumentar e a 
fazer isso com beleza. Acima, com um vestido de cor grená, a 
Gramática tem um livro na mão esquerda e um látego (chicote 
de cordas) na direita, e diz: “Por mim, todos podem aprender 
o que são as palavras, as sílabas e as cartas”. A Retórica veste 
azul e tem um estilete e duas tabuinhas, e diz: “Graças a 
mim, orgulhoso orador, teus discursos poderão ter vigor”. 
Com sua mão direita a Dialética, de verde, aponta para um 
interlocutor. Com a esquerda,segura a cabeça de um cachorro 
e afirma: “Meus argumentos são rápidos como os latidos de um 
cachorro”. Após aprender as disciplinas do Trivium, o aspirante 
à Filosofia deveria passar para as do Quadrivium, matérias 
matemáticas: Aritmética, Geometria, Música e Astronomia. 
No círculo do Jardim das Delícias, a ruiva Aritmética tem um 
ábaco (instrumento formado por uma moldura com bastões ou 
arames paralelos nos quais havia bolas ou contas deslizáveis 
para contar) e afirma: “Baseio-me nos números e discrimino 
o que existe entre eles”. A seguir, a Geometria. Com régua 
e compasso ela, triunfante, afirma: “Examino as terras com 
exatidão”. A Música graciosamente toca uma harpa — outros 
instrumentos estão juntos dela (uma lira e um pequeno órgão) 
— e diz: “Eu ensino minha arte com a ajuda de uma variedade 
de instrumentos”. Por fim, a Astronomia veste um traje azul-
77
TÓPICOS DE HISTÓRIA DA FILOSOFIA CRISTÃ
celeste. Tem uma lupa (ou um tipo de espelho) em sua mão 
esquerda, e aponta para as estrelas: “Eu tenho meu nome dos 
corpos celestes e prevejo o futuro”. O sentido retilíneo do 
círculo é claramente do físico para o metafísico (isso porque, 
desde os antigos pitagóricos, os filósofos pensavam que o 
mundo fora criado pela divindade de acordo com as regras 
da harmonia e da ordem). Assim, estudar Geometria, por 
exemplo, significava seguir a máxima da Academia de Platão: 
“Que ninguém exceto os geômetras entrem aqui”. No grande 
círculo exterior há os seguintes versos: “A Filosofia ensina as 
artes por sete ramos. Investiga os segredos dos elementos e 
de todas as coisas. O que descobre, retém em sua memória e 
escreve para transmitir aos alunos”. Fora do círculo, na parte 
inferior da iluminura, aquilo que está excluído do âmbito da 
Filosofia: quatro homens (poetas e magos), sentados diante 
de púlpitos. Como o texto indica, são guiados por “espíritos 
maus e impuros”, e o que vem deles são contos, fábulas, 
frívolas poesias ou receitas de magia. Os “maus espíritos” 
estão representados por pássaros negros, em oposição à pomba 
branca, símbolo do Espírito Santo. Eles estão em seus ombros 
e falam coisas más em seus ouvidos. O Jardim das delícias 
foi redigido, conforme sua própria autora, para informar e 
deleitar suas monjas, e assim ajudá-las a progredir no serviço 
de Deus. Esse documento do século 12 é um fascinante exemplo 
do nível intelectual e artístico que as mulheres oriundas de 
78
FILOSOFIA CRISTÃ
segmentos sociais elevados podiam 
alcançar em uma abadia segura e 
rica (SANTOS, 2015, p. 17-19).
Como foi facilmente percebido, o rico 
texto apresentado expõe, sem dúvida, 
a relação intrínseca entre cristianismo e 
Filosofia Grega. Essa relação foi percebida 
desde o início por alguns quadros da igreja 
medieval, que se apressaram a apresentar 
uma solução àquilo que percebiam como 
heresias. Assim, de acordo com Hoffmann 
(2010), “para poder combater os filósofos 
de tradição greco-romana, os Padres da 
Igreja tiveram que buscar na filosofia 
antiga, principalmente em Platão e no 
neoplatonismo, os seus argumentos”. A 
partir dessa premissa, surge o que até hoje 
se conhece por Patrística, a saber, essa 
especulação filosófica que teria o intuito de 
apresentar o cristianismo aos não-crentes, 
protegendo a igreja dos desvios heréticos, a 
fim de convertê-los. 
A primeira perseguição aos 
cristãos foi no império de 
Nero.
Fonte: Wikimedia Commons (https://bit.ly/2YIIHZL)
79
TÓPICOS DE HISTÓRIA DA FILOSOFIA CRISTÃ
O fato é que, desde o final do primeiro século da Era 
cristã, quando finalmente os romanos perceberam claramente 
que os cristãos não eram judeus, embora partilhassem de 
seu Livro Sagrado, começaram as perseguições. Faz-se 
necessário, para melhor compreensão da igreja na Idade 
Média, um breve e sucinto recorte citando a história das 
perseguições para finalmente se estabelecer uma doutrina 
que dê sentido e vazão ao Medievo. 
Já com Nero, nos anos 60 d.C., se deu a primeira delas. 
Em seguida, com Domiciano, depois com Septimus Severo, 
Diocleciano e Galério, em um período de mais de três 
séculos, entre relativa paz e severa provação, se deram as 
outras grandes perseguições, angustiando e transtornando 
os cristãos ao longo do Império. Em 306, Constantino, 
tão famoso personagem da história de Roma e também 
da história eclesiástica, é aclamado imperador e, alguns 
anos depois, em 313, estabelece o famoso Edito de Milão, 
findando a perseguição aos cristãos e supostamente 
permitindo para todos os cidadãos do império a liberdade 
de consciência. Em 330, Roma, a capital do Império 
Romano, é transferida para a cidade cujo nome honra o 
próprio Constantino: Constantinopla. 
80
FILOSOFIA CRISTÃ
Finalmente, em 476, Rômulo Augusto, ainda um 
adolescente, último imperador romano, é deposto por 
Teodorico. Nesse contexto, um papa chamado Gelásio I 
estabeleceu uma doutrina que ficou mundialmente famosa 
e é até hoje estudada para uma melhor compreensão da 
Idade Média, sem a qual é impossível obtê-la: a doutrina das 
duas espadas. Essa doutrina estabelece simplesmente que 
a autoridade sagrada deve ser exercida, sem dúvida e sem 
questionamentos, pelo Papa. Já a autoridade temporal deve 
ser exercida, indubitavelmente, pelo rei ou senhor feudal. 
Contudo, é muito importante que se diga que a autoridade 
sagrada era, para a grande maioria dos medievais, muito mais 
importante que a autoridade temporal. 
No mundo medieval, a autoridade da Igreja Católica 
Apostólica Romana era praticamente inquestionável para as 
pessoas comuns, embora, a fim de angariar poder político, 
diversos reis, ao longo de muito tempo, questionaram 
esse estabelecimento, naquilo que ficou conhecido como 
“querela das investiduras”, um assunto que não será 
abordado nesta seção.
Justiniano, imperador bizantino (ou imperador do 
Império Romano do Oriente) entre 527 a 565 – que incumbiu a 
si mesmo de reestabelecer o Império Romano do Ocidente das 
81
TÓPICOS DE HISTÓRIA DA FILOSOFIA CRISTÃ
mãos dos bárbaros, simplesmente ignorou tal teoria de modo 
que a própria igreja passou a ser concebida dentro da esfera 
do poder estatal. Assim, papas e bispos deviam ser nomeados 
por ele e ter uma vida regrada sob sua rígida observação. 
Além disso, os próprios concílios eclesiásticos foram em 
grande medida limitados em suas resoluções e eficácias. 
SAIBA MAIS
O Apelido de João, Crisóstomo, que significa boca de 
ouro, é uma maneira de reconhecer a importância de 
toda a eloquente obra que esse santo homem deixou 
para a Igreja. O Papa Bento XVI, em uma audiência geral, 
disse: “Os seus escritos permitem também a nós, como 
aos fiéis do seu tempo, que foram repetidamente priva-
dos dele por causa dos seus exílios, de viver com os seus 
livros, apesar da sua ausência” (2007).
Ao longo da Idade Média, a teoria dos dois poderes ou 
duas espadas foi amplamente aceita, muito embora indefinida 
por conta de uma série de disputas. O fato é que o Estado 
tinha, então, sob a premissa da fé, a função de sustentar, 
proteger e difundir os ideais da igreja ao mesmo tempo em 
que, imbuída de certo poder sobrenatural autoimposto, 
também deveria punir os hereges.
82
FILOSOFIA CRISTÃ
Contudo, de que fé aqui se fala? Comentamos há pouco 
que a Igreja Medieval, ao longo do período patrístico, ou seja, 
em seus inícios, se apropriou dos textos da Filosofia Antiga 
para combater aquelas falsas doutrinas percebidas sob a lente 
da filosofia greco-romana, a partir de textos da Antiguidade 
clássica, escritos entre o terceiro século antes de Cristo e o 
primeiro século depois de Cristo, aproximadamente. Dentre 
os patrísticos, pode-se citar Agostinho, Orígenes, João 
Crisóstomo, Leão Magno, Justino de Roma, Justino Mártir. 
Os patrísticos se utilizaram majoritariamente de textos 
platônicos para fundamentar suas discussões e diálogos. 
Assim, praticamente desde o fim do primeiro século da 
Era Cristã, o cristianismo foi fundamentalmentelido sob 
uma ótica distinta daquela estabelecida na própria Bíblia. 
Essa perspectiva manteve-se viva e atuante ao longo 
de toda a Idade Média, começando com Agostinho de 
Hipona e sua claríssima influência platônica. Portanto, 
o argumento proposto aqui é que a Filosofia Medieval, 
nesses moldes, pouco tem a ver com a perspectiva bíblica 
de entendimento do mundo. 
Grandes heresias, como a imortalidade da alma, escritas 
por Platão talvez sob influência órfica e, portanto, sem 
comprovação bíblica, acabaram resistindo e se fortalecendo 
83
TÓPICOS DE HISTÓRIA DA FILOSOFIA CRISTÃ
na Idade Média, chegando até a Idade Contemporânea. 
Assim, a partir desse aspecto, fica evidente que a Idade Média 
foi a Idade das Trevas no sentido de não favorecer a expansão 
e conhecimento do texto bíblico e, pior ainda: dele se utilizar, 
às avessas, sob pretextos cristãos, para usurpar e manter o 
poder, perseguindo e torturando cristãos resilientes, que, 
apesar de tamanhas provas, se mantiveram fiéis. 
Muitas são as histórias de comunidades e pessoas 
individualmente identificadas que resistiram fielmente aos 
desmandos cometidos na Idade Média e na Modernidade. A 
Bíblia Sagrada, que contém a verdadeira e única filosofia cristã, 
resistiu bravamente apesar dos aguerridos ataques. Veja na 
Figura 1 uma foto tirada no Dublinia Museum a caminho de St. 
Torre de Michael, representando a Idade Média.
Figura 1 – Foto representando a Idade Média
Fonte: Wikimedia Commons (https://bit.ly/3gmBWDh)
84
FILOSOFIA CRISTÃ
Deve-se, no entanto, perceber e reconhecer que a Idade 
Média foi o berço da Universidade, ainda que sob os auspícios 
da Igreja Católica Medieval. O fato é que as universidades 
cristãs que hoje se mantêm geralmente fazem um bom trabalho 
de docência e pesquisa desde uma cosmovisão bíblico-cristã.
FILOSOFIA MODERNA E CRISTIANISMO: 
PODE A CIÊNCIA SUPRIMIR A VERDADE? 
A filosofia cristã, tônica de toda a Idade Média, não se 
limitou apenas à Patrística, como se pode pressupor. Enquanto 
esta escola tinha como ideário a elaboração de uma defesa 
da fé cristã por meio da construção de doutrinas sólidas, ao 
mesmo tempo subsidiando a igreja e atacando os pagãos, 
pode-se citar ao menos mais uma que se deu na parte final 
do Medievo. Trata-se da Escolástica. Essa escola gestou um 
método elaborado pela igreja do Ocidente, no seio das escolas 
monásticas, bebendo principalmente de fontes platônicas e 
aristotélicas. Talvez a principal diferença entre a Patrística e a 
Escolástica é que, enquanto a primeira, como sugerido, tinha 
um caráter apologético (exatamente a defesa da fé), a segunda 
85
TÓPICOS DE HISTÓRIA DA FILOSOFIA CRISTÃ
era mais uma espécie de método de aprendizagem em si 
mesmo e menos uma teologia. 
De fato, foi o método escolástico, baseado na dialética, que 
impulsionou as primeiras universidades, nascidas no interior 
da igreja de então. Destaca-se a importância capital dessa 
construção visto que tanto a universidade e mesmo a escola tal 
como as entendemos hoje nasceram na Idade Média, enquanto 
produto da reflexão e produção eclesiástica medieval. Veja na 
Figura 2 uma gramática usada nesse período. Acerca da escola, 
conforme Franco Cambi:
Também a escola, como nós a conhecemos, é um produto 
da Idade Média. A sua estrutura ligada à presença de um 
professor que ensina a muitos alunos de diversas procedências 
e que deve responder pela sua atividade à Igreja ou a outro 
poder (seja local ou não); suas práticas ligadas à lectio e aos 
auctores, à discussão, ao exercício, ao comentário, à arguição 
etc.; as suas práxis disciplinares (prêmios e castigos) e 
monásticas e nas catedrais e, sobretudo, nas universidades. 
Vêm de lá também alguns conteúdos culturais da escola 
moderna e até mesmo contemporânea: o papel do latim, 
86
FILOSOFIA CRISTÃ
o ensino gramatical e retórico da língua; a imagem da 
filosofia, como lógica e metafísica (CAMBI, 1999, p.145).
Figura 2 - Gramática romena dos anos 1500 em edição do século 19
Fonte: Wikimedia Commons (https://bit.ly/38hcHz2)
87
TÓPICOS DE HISTÓRIA DA FILOSOFIA CRISTÃ
Além disso, é preciso levar em conta que a Europa, como 
nós a conhecemos hoje, nasceu precisamente na Idade Média, 
no século 10, a partir da fusão dos cristãos estabelecidos 
(romanos e bárbaros) e invasores dos séculos 9 e 10, a saber, 
vikings e muçulmanos. Portanto, a Europa nasceu em um 
ambiente e contexto dito cristão (embora não exatamente 
bíblico); o cristianismo foi a tônica, o fundamento, essência 
e razão de ser daquele continente e isso, ao menos, desde o 
Império Carolíngio, com Carlos Magno, que imbuiu a si mesmo 
da sagrada missão de defender e expandir a influência da Igreja 
Católica ainda no século 9. 
Para tanto, ainda que de forma fugaz, Carlos Magno 
estabeleceu o assim chamado Renascimento Carolíngio, isto é, 
uma tentativa de estabelecer em seus domínios uma espécie de 
aprofundamento cultural sob molde cristão, de tal sorte que 
ali se percebesse o melhor de Atenas, por um lado, e o melhor 
de Jerusalém, por outro – ou seja, os aspectos filosóficos e 
espirituais, indissociavelmente unidos sob ímpeto cristão.
Este preâmbulo se faz necessário ao pensarmos que a 
Modernidade, conforme o pensamento do já citado historiador 
francês Jacques Le Goff, não foi senão a continuidade do 
Medievo, embora com uma percepção de quebra de paradigma 
em função da qual, aos poucos, a premissa teocêntrica foi 
88
FILOSOFIA CRISTÃ
dando lugar a uma percepção cada vez mais antropocêntrica. O 
fato é que a educação foi o grande motriz que levou, ainda no 
final da Idade Média, à construção de um movimento chamado 
de Renascimento, cujo objetivo era voltar aos ideais clássicos, 
ou seja, greco-romanos, percebendo Deus e a Humanidade sob 
outras cores. Ainda assim, 
A Igreja foi o “palco fixo” por trás do qual se moveu 
toda a história da Idade Média e um dos motores do seu 
inquieto desenvolvimento [...] A Europa, de fato nasceu 
cristã e foi nutrida de espírito cristão, de modo a colocá-
lo no centro de todas as suas manifestações, sobretudo no 
âmbito cultural. Caso exemplar é o da educação, que se 
desenvolve em estreita simbiose com a Igreja, com a fé cristã 
e com as instituições eclesiásticas que [...] são as únicas 
delegadas (com as corporações no plano profissional) a 
educar, a formar, a conformar. Da Igreja partem os modelos 
educativos e as práticas de formação (CAMBI, 1999, p. 146).
Percebidas essas nuanças, deve-se concordar com as 
considerações elaboradas poucos anos atrás em um artigo 
científico. Diz o seguinte a Dra. Rosana Silva de Moura:
De modo abrangente vimos que a intencionalidade formativa 
na educação medieval do Ocidente esteve marcada pela 
formação de consciências. Em Santo Agostinho, exemplo 
89
TÓPICOS DE HISTÓRIA DA FILOSOFIA CRISTÃ
da Patrística, esta formação apresenta um caráter bem 
mais voltado ao suporte da fé. Com Tomás de Aquino, 
representante de escolástica, o horizonte formativo se 
atualiza com base na orientação da lógica aristotélica 
marcando a junção entre filosofia e teologia, razão e 
fé. Além disso, vimos que a pergunta pelo sentido do 
ensinar traz à cena um télos para a educação assim como a 
relação de dupla face, dialética, entre quem ensina, quem 
aprende e o que é aprendido (o conhecimento). A pergunta 
também aponta certa antecipação em Aquino de uma 
perspectiva de ensino que, segundo nossa interpretação, 
ultrapassa a sua época (MOURA, 2013, p. 141-159). 
MATERIAL COMPLEMENTAR
Conheça mais sobre o desenvolvimento da fé cristã e da 
Igreja desde os seus primórdios, lendo a obra História da 
Igreja nas Idades Antiga e Média, de Dilernando Ramos 
Vieira, publicada pela Editora InterSaberes. 
Ao ler o apanhado acima, nota-se que, enquanto o início 
da Idade Média foi abordado sob o pressuposto da fé e 
sua defesa, o fim do período, ainda que não tenha perdido 
essa percepção, se abre à lógica aristotélica, abraçando, nas 
palavras de Moura, “filosofia e teologia,fé e razão” (MOURA, 
2013). A Modernidade expandiu essa perspectiva, ampliando 
cada vez mais profundamente a perspectiva racional enquanto 
90
FILOSOFIA CRISTÃ
pouco a pouco foi se distanciando daquela filosofia voltada 
aos interesses eclesiásticos, bem como da teologia. 
No entanto, embora a Era da Fé tenha se encerrado com o 
fim da Idade Média, deve-se levar em conta que a Modernidade 
viu nascer uma nova e pujante religiosidade a partir do protesto 
de alguns contra os vis desmandos que há séculos maculavam 
a Palavra de Deus: o Protestantismo. Em concordância a essa 
ideia, Araújo (2017) afirma que:
Apesar de todos esses fatores favoráveis, a ciência 
progrediu vagarosamente durante o período medieval. 
Foi somente durante os séculos 16 e 17 que as ciências 
passaram por uma transformação drástica na forma e nos 
métodos empregados para se obter novos conhecimentos 
do mundo natural. Curiosamente, durante o mesmo 
período, outra revolução estava acontecendo no mundo 
religioso – a Reforma Protestante (ARAÚJO, 2017, p. 138). 
O mesmo autor, algumas páginas além, em seu mesmo 
texto, argumenta que:
Os cientistas protestantes entenderam que era seu dever 
reconquistar esse conhecimento por meio de experiências 
sensoriais. Ao contrário da interpretação alegórica, a leitura 
literalista protestante incentivava cientistas cristãos a buscar 
91
TÓPICOS DE HISTÓRIA DA FILOSOFIA CRISTÃ
no mundo natural a confirmação daquilo que estava registrado 
no texto sagrado. “A localização geográfica do jardim do Éden 
e os efeitos do dilúvio haviam se tornado questões empíricas 
a serem estudadas não por leituras adicionais das Escrituras, 
mas por meio do saber histórico-natural e da pesquisa física” 
(GAUKROGER, 2006, p. 148). Assim, a maioria dos filósofos 
naturais do século 17 acreditava que Deus havia criado o 
mundo com um propósito e que pertencia ao ser humano a 
responsabilidade de descobrir esse propósito (ARAÚJO, 2017).
Nesse bom contexto, aparentemente os cientistas 
modernos finalmente se desvencilharam dos empecilhos 
medievais que outrora os cegaram, de tal sorte que não 
podiam estabelecer uma relação entre as Escrituras e a 
Natureza. Portanto, é parte importante da filosofia cristã essa 
nova percepção. A ciência, nos moldes como a conhecemos 
hoje, nasceu precisamente no século 17 e sob forte e inegável 
influência do Protestantismo nascente. 
A grande questão que se estabelece é que, infelizmente, 
com o passar dos breves séculos da Modernidade, muitos 
desses cientistas acabaram por majoritariamente abandonar 
esses bons pressupostos e a ciência por si, de acordo com o 
entendimento de muitos e a própria vivência e percepção 
contemporânea, tornou-se detentora da única suposta 
92
FILOSOFIA CRISTÃ
verdade, ainda que provisória: aquela oriunda não da fé, mas 
da razão e da lógica. 
A Modernidade, felizmente, permitiu que a Humanidade 
tivesse acesso à Bíblia em escala cada vez maior – é do último 
suspiro da Idade Média e do nascimento da Idade Moderna 
o surgimento dos tipos móveis nas mãos do ourives Johannes 
Gutenberg, conforme Figura 3. Contudo, cada vez mais surgiu 
nesse mesmo ser humano, agora visto como autônomo por 
não mais estar sob tão feroz tutela da igreja, um desejo de 
emancipação que o afastou de Deus. 
Figura 3 – Gutenberg analisando sua primeira impressão
Fonte: Wikimedia Commons (https://bit.ly/38gzCe3)
93
TÓPICOS DE HISTÓRIA DA FILOSOFIA CRISTÃ
Lamentavelmente, esse afastamento 
levou a civilização ocidental a uma perda 
de sua própria identidade concebida no seio 
do cristianismo. Essa perda, embora tenha 
possibilitado várias supostas conquistas 
que outrora seriam impossíveis, levou esse 
mesmo ser humano a mergulhar em uma 
existência vazia, sombria e sem sentido, 
cujos resultados seriam bem visíveis no 
século 20, certamente até aqui o mais triste 
da história. 
Cabe aqui, ao fim desta seção sobre a 
Modernidade, uma proposição reflexiva: 
está ainda a Humanidade sob os mesmos 
pressupostos do fim da Modernidade, 
olhando para si mesma e pouco 
relacionada com Deus e o próximo, 
provocando um afastamento ainda maior 
de si mesma e do outro? Se assim for, 
o que deve ser feito para melhorar tal 
situação que provoca angústia e aflição?
O encontro com a Verdade não 
precisa e não deve matar a razão. Afinal, 
O encontro com 
a verdade não 
precisa e não 
deve suprimir a 
razão.
94
FILOSOFIA CRISTÃ
Deus é o autor da ciência e, quando Ele é percebido a partir 
da beleza e complexidade de Sua criação, ou seja, pelo viés 
da ciência, maior deve ser o entendimento de Sua existência 
e maior deve ser a nossa necessidade de reflexão em Sua 
Palavra. Portanto, deve-se aproveitar o atual estado do 
desenvolvimento humano em termos de técnica e tecnologia 
para que a espiritualidade latente em todo ser humano 
também possa se desenvolver e abraçar o mundo como 
dádiva, presente amoroso de um Deus criador. 
Foi a partir da Modernidade que textos e comentários 
bíblicos surgiram, desde a tradução de documentos 
antigos escritos em línguas originais e pouco acessíveis a 
quase todos os Modernos. A própria educação cristã foi 
grandemente favorecida na Modernidade. Comenius, um 
pastor protestante do século 16, foi um dos precursores da 
moderna pedagogia, contribuindo para que a escola, que 
ainda mantém os moldes da Antiguidade (o que parece ser 
algo muito bom, visto que a interação humana não pode 
ser substituída totalmente pela máquina, de longe...) fosse 
pensada a partir de um olhar clínico para a natureza, sem 
perder de vista seu caráter espiritual. 
Observando-se pontos positivos e outros estranhos ao 
cristianismo ao longo de toda a Modernidade, é possível 
95
TÓPICOS DE HISTÓRIA DA FILOSOFIA CRISTÃ
tomar esse período como importante por possibilitar 
aprendizados que devem permear a vida contemporânea. 
Aprender com os erros e acertos do passado sempre 
possibilita uma melhor existência.
FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA E 
CRISTIANISMO: ONDE ESTÁ DEUS? 
A contemporaneidade, de acordo com a historiografia 
clássica, tem o seu início gestado nos campos de batalhas 
da Revolução Francesa, que levou não apenas a França, mas 
praticamente toda a Europa Ocidental e suas colônias na 
África e nas Américas, a um novo estado de coisas. Napoleão 
Bonaparte, antes de ser derrotado na famosa batalha de 
Waterloo por um punhado de exércitos combinados, destronou 
reis e príncipes, literalmente modificando o mapa da Europa. 
Napoleão coroou-se Imperador em 1804 e imediatamente 
também coroou Josefina, sua esposa, conforme vemos na Figura 
4. A cerimônia em si, grandiloquente, chamou a atenção para 
o fato de Napoleão ter supostamente desrespeitado a ordem 
das coisas ao não receber do papa a coroa de imperador. Desde 
a Idade Média, era costume estabelecido que o próprio Sumo 
Pontífice coroasse um novo monarca.
96
FILOSOFIA CRISTÃ
Figura 4 – A coroação de Napoleão, por ele mesmo, em 1804, marcou uma importante ruptura que se dava 
desde a Idade Média
Fonte: Wikimedia Commons (https://bit.ly/2BUszLO)
Essa imagem pode metaforizar a filosofia cristã na Idade 
Contemporânea, que resiste, ainda que em meio a situações tão 
problemáticas, como o ateísmo e o niilismo, para citar apenas duas 
delas. De fato, no século 19, com o surgimento de muitas disciplinas 
acadêmicas, tais como a Psicologia, a História, a Antropologia e 
o desenvolvimento das Ciências Humanas ou Humanidades, a 
relação entre a Europa Ocidental com a religião como um todo, 
já bastante abalada pelo desenvolvimento moderno ulterior, 
chega, quem sabe, ao seu nível mais crítico. Contudo, deve-se aqui 
97
TÓPICOS DE HISTÓRIA DA FILOSOFIA CRISTÃ
relacionar conceitualmente o que se deu com a Filosofia após sua 
emancipação ou ruptura com a Teologia. De acordo com Puntel:
A filosofia surgiu primordialmente em absoluta independência 
de qualquer forma de “teologia”. O fato histórico de a filosofia 
ter sido integrada à teologia cristã gerou aos poucos umasituação de dependência da filosofia, uma dependência 
que nunca foi completa, mas que sempre teve o estatuto 
de uma certa subordinação que se poderia chamar de 
sistemático-arquitetural. A expressão desta dependência/
subordinação é a conhecida fórmula: philosophia ancilla 
theologiae. Mas, pelo menos no caso de grandes pensadores 
cristãos como Santo Tomás de Aquino, só se pode falar 
de dependência da filosofia com relação à teologia numa 
perspectiva muito mais diferenciada (PUNTEL, 2001, p. 365).
O que dizer da filosofia cristã na contemporaneidade? 
Particularmente percebe-se o surgimento de outra divisão 
da filosofia chamada de Filosofia da Religião, na qual, em 
linhas muito gerais, com o aporte da ética, metafísica e 
antropologia, pergunta-se acerca do papel da religião. Na 
contemporaneidade, alguns ditos teólogos estabeleceram que, 
na absoluta falta de possibilidade de se estudar Deus visto 
que Ele não pode ser objeto de estudos por questões óbvias, a 
Antropologia passou a ser teologia. No entanto, essa ideia não 
se mostrou como única no contexto ora estudado. 
98
FILOSOFIA CRISTÃ
Apesar dos beligerantes ataques diuturnos ao cristianismo, 
muitas vezes perpetrados inclusive por igrejas ditas cristãs, 
percebe-se que a filosofia cristã cresceu e tomou novamente 
forma no século 20, por meio de uma série de autores, como 
Puntel, conforme a citação direta acima expressa, e Étienne 
Gilson, lembrado na primeira unidade de nosso estudo. 
Isso demonstra que, apesar das muitas rupturas oriundas 
do próprio desenvolvimento da Modernidade, a filosofia cristã 
ainda tem razão de ser ao pensar o mundo através de uma lente 
cristã. Porém, é importante mais uma vez frisar que: 
Não se deve imaginar que o diálogo entre filosofia e 
teologia está preso à Idade Média. Pelo contrário, apesar 
da modernidade ser caracterizada como um momento 
histórico centrado na razão ou em uma perspectiva da 
razão, esse período tem fortes momentos de diálogo e de 
aproximação entre fé e razão, entre cristianismo e filosofia 
moderna. É possível citar, por exemplo, a escolástica tardia 
desenvolvida no período que compreende os séculos 16 
ao 18, a rica apropriação do pensamento cristão e o seu 
respectivo diálogo com a filosofia realizado no novo mundo 
e até mesmo a presença de elementos autenticamente 
cristãos na obra de importantes pensadores modernos e 
contemporâneos como é o caso de Kant, Hegel e Heidegger. 
Um exemplo ilustrativo do diálogo contemporâneo, fora 
99
TÓPICOS DE HISTÓRIA DA FILOSOFIA CRISTÃ
dos limites históricos da Idade Média, entre o cristianismo 
e a filosofia, entre a fé, ao menos numa perspectiva cristã, e 
a razão, é a fenomenologia. É certo que o desenvolvimento 
da fenomenologia se deu em amplos aspectos e, em muitos 
casos, divergentes. Esse desenvolvimento produziu filosofias 
ateias, como as de Sartre ou Merleau-Ponty, ou enormemente 
ambíguas como a de Heidegger, mas também houve 
fenomenólogos muito próximos do teísmo e, principalmente, 
do cristianismo. Encontramos variedades de exemplos na 
filosofia judaica, evidentemente Emmanuel Levinas é o 
nome mais conhecido. Na filosofia cristã, tem-se Edith Stein, 
contemporânea e ajudante de Husserl, mas também Max 
Scheler e, posteriormente, Xavier Zubire, entre outros, e uma 
parte importante da escola fenomenológica francesa com 
autores como Jean-Luc Marion, Michel Henri, Jean Louis 
Cherétien ou atualmente nomes como Michel García-Baro. 
Sem mencionar outros autores que, seguindo o ponto de 
vista da teologia católica, tem feito uso da fenomenologia, 
como é o caso de Hans Urs von Balthasar. (SANJUÁN, 2004, 
p. 50-51, apud SANTOS, 2019, p. 38-39, tradução nossa).
É possível dizer que alguns autores, como Stein, por 
assim dizer, atualizaram a chamada Escolástica através da 
fenomenologia, que pode ser caracterizada como a experiência 
que a consciência tem do mundo. Eis aqui um novo caminho 
e processo distinto da proposição dos ditos filósofos cristãos 
contemporâneos. Ainda que por meios distintos, eis a 
continuidade da filosofia cristã na contemporaneidade, 
100
FILOSOFIA CRISTÃ
ainda que por caminhos distintos daqueles necessariamente 
atrelados à igreja enquanto instituição. 
SAIBA MAIS
Você sabia que a palavra “contemporâneo”, de Idade 
Contemporânea, “é relativo ao período histórico iniciado 
em 1789 com a Revolução Francesa (ex.: época contem-
porânea; história contemporânea)”, conforme definição 
do Dicionário Priberam da Língua Portuguesa.
Disponível em: https://bit.ly/2BkI6Vi. Acesso em: 08 jun. 2020.
A PÓS-MODERNIDADE, O FUTURO E A 
ESSÊNCIA DO CRISTIANISMO: O SER 
HUMANO LÍQUIDO TEM SEDE 
DA VERDADE
Confira abaixo um texto escrito pelo autor deste material 
e publicado na Revista Kerygma em 20191, que explicita uma 
visão da pós-modernidade a partir de seus autores. O texto 
também apresenta possibilidades de pensar a religião segundo 
nossos tempos contemporâneos:
1 O texto desta seção foi extraído de: Darius (2019, p. 29-34).
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TÓPICOS DE HISTÓRIA DA FILOSOFIA CRISTÃ
Nossa sociedade “totalmente esclarecida” (SANTOS, 
2019, p. 38-39) ainda tem o seu povo destruído, “porque lhe 
falta o conhecimento” (Os 4:6)? Ou a dureza das palavras 
do filho de Beeri, nascido 800 anos antes de Cristo, foi 
finalmente suplantada pelas aparentes glórias do progresso 
e da racionalidade proferidas pelos pensadores da Escola 
de Frankfurt? Ainda: é possível tomar como exemplo dois 
protagonistas de mundos tão diferentes? De que conhecimento 
estamos falando, afinal?
 Não se pode aqui deixar de escrever que essa sociedade 
“totalmente esclarecida” proposta pelos citados filósofos não 
passa de uma sociedade que critica a razão instrumental, na 
qual o ser humano simplesmente possui domínio racional sobre 
a natureza. Observando a situação a partir dessa perspectiva, 
esse esclarecimento iluminista não parece tão glorioso quanto 
no corpo do texto, mas, ainda assim, trata-se de uma verdadeira 
revolução em relação ao tempo de Oseias.
Miríades de perguntas povoam a mente dos pós-
modernos – que o filósofo de Grenoble prefere chamar de 
Hipermodernidade (LIPOVETSKY; CHARLES, 2004) em 
íntima relação com o hipertexto que aparentemente nunca tem 
fim, em uma sucessão de cada vez mais perguntas que geram 
o acúmulo de informações e proporcionam praticamente a 
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FILOSOFIA CRISTÃ
impossibilidade de esvaziamento do ser – que experiencia 
uma espécie de fim da história. Certamente esse alegado “fim 
da história” não se refere ao já “desculpado” estadunidense 
Francis Fukuyama – que, no afã de pensar um novo mundo sem 
a existência da União Soviética, não percebeu as novas matizes 
para as quais o mundo poderia se encaminhar – mas sim a uma 
construção vivencial muito mais etérea, visto que, de acordo 
com Vattimo:
O que, ao contrário, caracteriza o fim da história na 
experiência pós-moderna é que, enquanto na teoria a noção 
de historicidade se torna cada vez mais problemática, 
na prática historiográfica e em sua autoconsciência 
metodológica a ideia de uma história como processo 
unitário se dissolve, instaurando-se, na existência concreta, 
condições efetivas (não apenas a ameaça da catástrofe 
atômica, mas também e sobretudo a técnica e o sistema de 
informação) que lhe conferem uma espécie de imobilidade 
realmente não histórica (VATTIMO, 2002, p. 10 e 11). 
Essa história, “enquanto processo unitário que se dissolve” 
(VATTIMO, 2002, p. 10 e 11) (seria a história dissoluta?) mostra-
se paradoxal visto que, enquanto o mesmo ser humano hoje 
goza de pseudoliberdades impensáveis em qualquer outra 
época de nossa civilização, ao mesmo tempo se flagra diante 
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TÓPICOS DE HISTÓRIA DA FILOSOFIA CRISTÃ
de sua própria pequenez em relação aos 
pretensos avanços “conquistados” em 
sua própria geração. Assim, o homem e a 
mulher pós-modernos, como nunca antes 
foram tão fortes e aparentemente seguros 
de si e de suas próprias existências 
individuais, mas tampouco foram tão 
fracos e autodestrutivos.Seu grande intelecto os levou 
a promover a fissão nuclear, e 
consequentemente, a bomba atômica, 
mas a construção dessa bomba, em algum 
momento não tão distante da história, 
o ápice do desenvolvimento técnico, 
revelou um retrato flagrantemente 
triste do artífice de sua própria morte: 
finalmente, desvendando o conhecimento 
profundo do bem e do mal, lá estava ele, 
o homem, nu, procurando refúgio – não 
apenas em Deus, mas em si mesmo, ao 
se encarcerar em um bunker firmemente 
construído para suportar os efeitos de sua 
própria criação. Quem magistralmente 
O homem pós-
moderno nunca 
foi tão forte e 
aparentemente 
seguro de si, 
e ao mesmo 
tempo 
tão fraco e 
autodestrutivo.
104
FILOSOFIA CRISTÃ
escreve a esse respeito é Pierre Teilhard de Chardin em sua 
obra The Future of Man, publicada em 1964.
A geração dos anos 40, a mesma que desenvolveu e, 
com “sucesso”, detonou a primeira bomba atômica, foi 
precisamente aquela que, em sua juventude, devastada pelos 
horrores de uma guerra mundial jamais vista até então, 
paulatinamente trocou a Bíblia por aquele que, de acordo 
com Habermas, Vattimo, Tillich e outros, como um profeta às 
avessas, anunciou e descreveu nossos tempos pós-modernos: 
Friedrich Nietzsche (Figura 5). Embora muitos e plurais 
sejam os conceitos e exemplos de pós-modernidade, quase 
todos encontram em Nietzsche, senão seu “fundador”, seu 
profeta. Isso se dá precisamente na passagem do século 19 
para o 20, naquele particular período em que nasce o breve 
século 20, nas palavras de Eric Hobsbwan (1995). Segundo 
Tillich (2009), que se interessou pelo filósofo após a batalha 
de Champagne em 1915:
Lembro-me que me sentava entre as árvores das florestas 
francesas e lia “Assim Falou Zaratustra”, de Nietzsche, como 
faziam muitos outros soldados alemães, em contínuo estado de 
exaltação. Tratava-se da liberação definitiva da heteronomia. 
O niilismo europeu desfraldava o dito profético de Nietzsche, 
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TÓPICOS DE HISTÓRIA DA FILOSOFIA CRISTÃ
‘Deus está morto’. Pois bem, o conceito tradicional de 
Deus estava morto mesmo (TILLICH, 2009, p. 10). 
Figura 5 – Friedrich Nietzsche, um dos filósofos que mais influenciou o século 20
Fonte: Wikimedia Commons (https://bit.ly/2BhZBpw)
Assim, o século 20 foi inaugurado com uma demonstração 
tão irracional de poder, que subjugou a própria existência 
ao aniquilar milhares de seres humanos a cada dia, durante 
quatro anos, em uma guerra fratricida. E “a história que, na 
visão cristã, se apresentava como história da salvação tornou-
se, primeiramente, busca de uma condição de perfeição 
intramundana” (VATTIMO, 2002) para que, finalmente, se 
tornasse história do progresso que, por si só, é história vazia, 
visto que sua obtenção tão somente cria novas possibilidades 
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FILOSOFIA CRISTÃ
desse mesmo progresso e que se tornará obsoleta quase que no 
mesmo momento em que for lançada. 
Dessa forma, a “secularização se torna também a dissolução 
da própria noção de progresso” (VATTIMO, 2002, p. 13) [do 
ponto de vista judaico-cristão], o que, apenas algumas décadas 
mais para frente, levaria o ser humano a viver naquilo que 
Lipovetsky chamou de “sociedade do vazio” (LIPOVETSKY, 
2004). É claro que a chamada “perfeição intramundana” nada 
tem a ver com aquela que diz respeito à santificação do ponto 
de vista cristão, mas simplesmente uma espécie de eufemismo 
ou tentativa vã de criar novas coisas com o intuito de consertar 
o estrago que as coisas anteriores produziram, em uma busca 
sem fim, criando sociedades hiperconsumistas, hiperliberais e 
pós-moralistas (LIPOVETSKY, 2004), bem como o esgotamento 
dos recursos naturais. 
Sob essa mudança de prisma histórico – portanto, 
sob a perspectiva de Nietzsche – na qual o cristianismo 
fica eclipsado, a própria moral judaico-cristã e sua busca 
eudemonológica se tornam aparentemente secundárias, visto 
que, por estranho que seja, o inevitável progresso trará a 
felicidade. Nesse ponto, o aludido filósofo destrói as bases da 
sociedade ocidental com sua pesada marreta: 
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TÓPICOS DE HISTÓRIA DA FILOSOFIA CRISTÃ
A moral já não é mais um reflexo das condições que 
promovem vida sã e o crescimento de um povo; não é mais 
um instinto vital primário; em vez disso se tornou algo 
abstrato e oposto à vida – uma perversão dos fundamentos 
da fantasia, um “olhar maligno” contra todas as coisas. Que 
é a moral judaica? Que é a moral cristã? A sorte despida 
de sua inocência; a infelicidade contaminada com a ideia 
de “pecado”; o bem-estar considerado como um perigo, 
como uma “tentação”; um desarranjo fisiológico causado 
pelo veneno do remorso (NIETZSCHE, 2012, p. 27). 
Concorda com ele Gilles Lipovetsky ao afirmar que 
“na época anterior às Luzes, reinava a ideia de que, sem 
o Evangelho e a crença num Deus punidor dos erros e 
recompensador da virtude, nada podia impedir o homem 
de enveredar pela vida de crimes. Privadas de religião, as 
virtudes são ilusórias, apenas a revelação e a fé num Deus 
justiceiro estão em condições de assegurar eficazmente a 
moralidade” (LIPOVETSKY, 2004, p. 35).
Nesse processo sem volta, escreve Habermas sobre 
Nietzsche, como um ponto de inflexão na entrada da 
pós-modernidade, ao afirmar que “as forças religiosas 
de integração social debilitaram-se em virtude de um 
processo de esclarecimento que, na medida em que 
não foi produzido arbitrariamente, tampouco pode ser 
cancelado” (HABERMAS, 2000, p. 122). Contudo, a religião 
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FILOSOFIA CRISTÃ
institucionalizada sobreviveu a essa 
mudança de paradigma, ainda que tenha 
se submetido ao establishment.
No auge das convulsões populares 
francesas, conhecidas simplesmente como 
Maio de 1968, dois pensadores, entre 
tantos outros, foram catapultados para o 
inflamado centro nervoso do movimento 
estudantil: Jean-Paul Sartre, que, 
aparentemente assustado com a proporção 
daquilo tudo, ficou na retaguarda, e 
certo escritor chamado Guy Debord, que, 
embora tenha escrito um clássico sobre a 
sociedade que vive de um espetáculo para 
outro, era avesso a essa estrutura circense 
e, ironicamente, foi alvo de um filme 
documentário depois de sua morte.
Para Debord, “toda a vida das 
sociedades nas quais reinam as modernas 
condições de produção se apresenta como 
uma imensa acumulação de espetáculos. 
Tudo o que era vivido diretamente tornou-
se uma representação” (DEBORD, 1997, 
ESTABLISHMENT
Segundo o site Dicio, establish-
ment é um “grupo sociopolítico 
que exerce sua autoridade, con-
trole ou influência, defendendo 
seus privilégios; ordem estabe-
lecida, sistema”.
Fonte: <https://bit.ly/2Vsdisv>. 
Acesso em: 30 jun. 2020.
109
TÓPICOS DE HISTÓRIA DA FILOSOFIA CRISTÃ
p. 13). Essa espetacularização da própria existência humana, 
uma irrefreável busca pelo conforto proporcionado por aquilo 
que está longe da realidade, se dá no instante em que o ser 
humano se percebe frustrado pela troca da possibilidade de 
salvação pelo progresso. Encontra-se perdido em si mesmo e no 
mundo. Solitário, vai ao cinema e volta para a sua casa vazia sem 
perceber que passou todo o tempo do filme sozinho, ainda que 
com outras duzentas pessoas. E, assim, para espantar um pouco 
essa tristeza vivencial, as pessoas se agarram às experiências, 
que evidentemente são quase sempre proporcionadas através da 
aquisição via dinheiro – pois está incutido de forma inadvertida 
o falacioso adágio que diz que “dinheiro traz felicidade”. 
MATERIAL COMPLEMENTAR
A Sociedade da decepção, obra de Gilles Lipovestky, fala 
acerca da sociedade atual, que vive um momento de 
grande descontentamento e vazio, sentimentos que o 
autor atribui ao esquecimento da religião. Vale a pena 
ler e refletir sobre o assunto.
Desta forma, comprar experiências é fugir do mundo, visto 
que este encontra-se desencantado, como escreveu Max Weber 
(2004) em seu clássico. Assim, infelizmente para essas pessoas, 
dinheiro traz felicidade pois compra experiências – sensações 
110
FILOSOFIA CRISTÃ
que nos levam a outromundo. Afinal, “pós-moderno indica 
simplesmente um estado de alma, ou melhor, um estado de 
espírito” (TEIXEIRA, 2005, p. 89). 
Esse reencantamento, ainda que artificial, foi o recurso 
encontrado por muitas denominações para, dentro de um 
escopo totalmente capitalista, embora de forma torpe, incutir, 
de alguma maneira, resquícios de evangelho. Com isso, todos 
os perigosos subprodutos de uma sociedade egocêntrica e 
individualista surgem com ainda mais ênfase nas igrejas. 
Conforme Armstrong: 
A televisão e a admiração do público constituem armadilhas para 
os espiritualmente incautos. Não só o narcisismo implícito no culto 
da personalidade é incompatível com a transcendência do ego que 
deve caracterizar a busca espiritual, como o televangelista também 
pode se distanciar da realidade. As fortunas controladas pelas 
redes de maior sucesso não combinam com o desprendimento 
da riqueza material” (ARMSTRONG, 2009, p. 473).
Esquece-se, assim, a antiga espiritualidade, exemplificada, 
aqui, por Armstrong: 
A melhor espiritualidade pré-moderna - de João da 
Cruz, Isaac Luria, Mulla Sadra, por exemplo, evitava esse 
excesso emocional, explicando que não tem nada a ver com 
111
TÓPICOS DE HISTÓRIA DA FILOSOFIA CRISTÃ
religião; a viagem interior, diziam, é serena, disciplinada, 
complementada pela razão (ARMSTRONG, 2009, p. 477).
Conforme Armstrong: “A televisão e a admiração do público 
constituem armadilhas para os espiritualmente incautos. Não só 
o narcisismo implícito no culto da personalidade é incompatível 
com a transcendência do ego que deve caracterizar a busca 
espiritual, como o televangelista também pode se distanciar da 
realidade. As fortunas controladas pelas redes de maior sucesso 
não combinam com o desprendimento da riqueza material” 
(ARMSTRONG, 2009, p. 473).
Tal como uma droga, na melhor rasa acepção do fraseado 
de Marx que diz que a “religião é o ópio do povo” (MARX, 
2005), muitas denominações espetacularizam seus cultos com 
doses cada vez maiores e frequentes de frívolo emocionalismo 
e músicas cada vez mais altas na mesma proporção de sermões 
mais rasos e curtos – pois que a televisão e a internet têm o 
poder de tirar também a concentração ao apresentar pouca 
coisa sobre muito assunto – fazendo com que o crente receba 
assim seu quinhão de fantasia diária. 
Claro que, para tal experiência, existe um custo financeiro, 
visto que a partir dessa dinâmica mercadológica hodierna à 
qual homens e mulheres estão acostumados, paga-se até mesmo 
por experiências religiosas, esquecendo-se da riqueza da 
112
FILOSOFIA CRISTÃ
Palavra de Deus que afirma que Cristo já nos comprou por todo 
o seu sangue e que nós, mortais pecadores, não temos a menor 
condição de pagar (conforme escrito em Isaías 55). 
Mas quantos afinal, querem realmente ser salvos e 
efetivamente recebidos por Cristo no Paraíso? A igreja, na 
maioria dos casos, injeta esperanças artificiais para que 
seres humanos continuem acreditando na falsa ideia de 
progresso terrestre. 
O ser humano como um todo – corpo, alma e espírito 
– criado à imagem e semelhança de Deus é, por si mesmo, 
“um espetáculo ao mundo, tanto a anjos como a homens” 
(WHITE, 1985, p. 75). Esse espetáculo não é falso e artificial, 
mas transcende o próprio mundo e encontra os ternos braços 
do Criador. É o Amor a medida de todas as coisas – eis o 
verdadeiro progresso. É puramente pela percepção da graça 
divina, algo tão difícil de percepção em nosso mundo material, 
que se aproxima genuinamente de Deus. Só assim o culto 
pode ser efetivamente pleno e agradável. O culto apresentado 
pelo ser humano é, em grande medida, em uma palavra, 
idolátrico, porque cultua o próprio ser humano que, imerso em 
si mesmo, busca a própria autossalvação pelo progresso que 
ele próprio, embora tenha percebido problemático, continua 
incessantemente a buscar. 
113
TÓPICOS DE HISTÓRIA DA FILOSOFIA CRISTÃ
Nossa sociedade dita esclarecida perece por falta daquele 
conhecimento que já pregava Paulo nos primeiros tempos 
do cristianismo. Obviamente, trata-se de dois conhecimentos 
diferentes, mas ambos necessários para a salvação total do ser 
humano, que nesses tempos percebeu que é dotado também 
de um corpo, e que este é digno instrumento a serviço de Deus 
e do próximo, e não tão-somente algo propenso ao pecado. A 
ciência da salvação deve ser a primeira das ciências. Só assim o 
culto será verdadeiro.
RESUMO
Nesta unidade, aprendemos que:
• considera-se Tales, nascido em Mileto, mais ou menos em 
624 antes da Era Cristã, como o primeiro dos filósofos;
• no primeiro século da Era Cristã, Roma viveu a Pax Romana, seu 
apogeu, que permitiu aos seus cidadãos viverem um período 
relativamente longo de estabilidade em múltiplos sentidos;
• o helenismo foi a difusão do pensamento grego no 
Oriente e na porção ocidental do Império Romano; 
114
FILOSOFIA CRISTÃ
• o grego era a língua da época e atribuía-se à 
figura do imperador o valor de lei universal;
• os aristocratas romanos gozavam de poderes e 
proteção estatal ao professarem a fé oficial;
• a grande diferença entre a premissa filosófica grega e cristã, 
é que, para os cristãos, reside em Deus o conhecimento, 
o verdadeiro e único pilar que sustenta a Verdade em 
si, enquanto a filosofia grega foi estabelecida a partir 
do conhecimento racional do próprio ser humano;
• a Idade Média foi um período que durou aproximadamente 
mil anos, compreendido entre o fim do Império 
Romano do Ocidente e o declínio e fim do Império 
Romano do Oriente, entre 476 e 1.453;
• desde o final do primeiro século da Era cristã, quando 
finalmente os romanos perceberam claramente que 
os cristãos não eram judeus, embora partilhassem de 
seu Livro Sagrado, começaram as perseguições;
• após 3 séculos de opressão aos ditos “hereges”, Constantino 
estabelece o famoso Edito de Milão, findando a perseguição 
115
TÓPICOS DE HISTÓRIA DA FILOSOFIA CRISTÃ
aos cristãos e supostamente permitindo para todos os 
cidadãos do Império a liberdade de consciência;
• mais de um século depois, o papa Gelásio I estabeleceu 
a doutrina das duas espadas, a qual determina 
que a autoridade sagrada deve ser exercida, sem 
dúvida e sem questionamentos, pelo Papa;
• o Estado tinha, então, sob a premissa da fé, a função de 
sustentar, proteger e difundir os ideais da igreja ao mesmo 
tempo em que, imbuída de certo poder sobrenatural 
autoimposto, também deveria punir os hereges;
• desde o fim do primeiro século da Era Cristã, o 
cristianismo foi fundamentalmente lido sob uma ótica 
distinta daquela estabelecida na própria Bíblia;
• a principal diferença entre a Patrística e a Escolástica 
é que, enquanto a primeira, como sugerido, tinha 
um caráter apologético (exatamente a defesa da 
fé), a segunda era mais uma espécie de método de 
aprendizagem em si mesmo e menos uma teologia;
• foi o método escolástico, baseado na dialética, que impulsionou as 
primeiras universidades, nascidas no interior da igreja de então;
116
FILOSOFIA CRISTÃ
• a educação foi o grande motriz que levou, ainda no 
final da Idade Média, à construção de um movimento 
chamado de Renascimento, cujo objetivo era voltar 
aos ideais clássicos, ou greco-romanos, percebendo 
Deus e a Humanidade sob outras cores;
• o Protestantismo encerrou a chamada Era da Fé, da 
Idade Média, e inaugurou a Idade Moderna;
• a ciência, nos moldes como a conhecemos hoje, 
nasceu precisamente no século 17 e sob forte e 
inegável influência do Protestantismo nascente;
• surgiu nesse mesmo ser humano moderno, agora visto como 
autônomo por não mais estar sob tão feroz tutela da igreja, 
um desejo de emancipação que o afastou de Deus e o levou a 
mergulhar em uma existência vazia, sombria e sem sentido;
• foi a partir da Modernidade que textos e comentários 
bíblicos surgiram, desde a tradução de documentos 
antigos escritos em línguas originais e pouco 
acessíveis a quase todos os Modernos;
• a contemporaneidade, de acordocom a historiografia clássica, 
tem o seu início com a Revolução Francesa, que levou a 
117
TÓPICOS DE HISTÓRIA DA FILOSOFIA CRISTÃ
França, praticamente toda a Europa Ocidental e suas colônias 
na África e nas Américas, a um novo estado de coisas;
• no século 19, com o surgimento de muitas disciplinas 
acadêmicas, tais como a Psicologia, a História, a 
Antropologia e o desenvolvimento das Ciências Humanas 
ou Humanidades, a relação entre a Europa Ocidental com 
a religião como um todo chega ao seu nível mais crítico;
• na contemporaneidade, alguns ditos teólogos estabeleceram 
que, na absoluta falta de possibilidade de se estudar 
Deus visto que Ele não pode ser objeto de estudos por 
questões óbvias, a Antropologia passou a ser teologia;
• surge então a fenomenologia, caracterizada como a 
experiência que a consciência tem do mundo, e pode ser vista 
como a continuidade da filosofia cristã na contemporaneidade;
• embora muitos e plurais sejam os conceitos e 
exemplos de pós-modernidade, quase todos 
encontram em Nietzsche sua principal influência;
• o século 20 foi inaugurado com uma demonstração tão 
irracional de poder, que subjugou a própria existência 
ao aniquilar milhares de seres humanos a cada dia, 
durante quatro anos, em uma guerra fratricida;
118
FILOSOFIA CRISTÃ
• sob essa mudança de prisma histórico – portanto, 
sob a perspectiva de Nietzsche –, a própria moral 
judaico-cristã e sua busca eudemonológica se tornam 
aparentemente secundárias, visto que, por estranho 
que seja, o inevitável progresso trará a felicidade;
• a espetacularização da própria existência humana, 
uma irrefreável busca pelo conforto proporcionado por 
aquilo que está longe da realidade, se dá no instante 
em que o ser humano se percebe frustrado pela troca 
da possibilidade de salvação pelo progresso;
• para espantar um pouco essa tristeza vivencial, as 
pessoas se agarram às experiências, que evidentemente 
são quase sempre proporcionadas através da aquisição 
via dinheiro – pois está incutido de forma inadvertida o 
falacioso adágio que diz que “dinheiro traz felicidade”;
• comprar experiências é fugir do mundo, visto que este 
encontra-se desencantado, como escreveu Max Weber (2004);
• o culto apresentado pelo ser humano é, em grande medida, 
em uma palavra, idolátrico, porque cultua o próprio 
ser humano que, imerso em si mesmo, busca a própria 
autossalvação pelo progresso que ele próprio, embora tenha 
percebido problemático, continua incessantemente a buscar.
119
TÓPICOS DE HISTÓRIA DA FILOSOFIA CRISTÃ
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