Buscar

EXERCICIOS RESOLVIDOS - ANALISE REAL (ELON FINO)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 30 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 30 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 30 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM MATEMÁTICA
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE BRAGANÇA
FACULDADE DE MATEMÁTICA
SOLUÇÕES DE ANÁLISE REAL - ELON FINO
(VOLUME 1)
Valdeir do Nascimento Cuité
BRAGANÇA – PA
2019
1 Soluções de Análise Real – Elon Fino (Volume 1)
1.1 Notações
• Denotamos (xn) uma sequência (x1, x2, ...). Uma n-upla (x1, x2, ..., xn) podemos
denotar como (xk)
n
1 ;
• O conjunto dos valores de aderência de uma sequência (xn) iremos denotar como
A[xn];
• Usaremos a abreviação PBO para Prinćıpio da Boa Ordenação;
• Denotamos f(x+ 1)− f(x) = ∆f(x);
• Usamos a Notação Qxn = xn+1xn ;
• Para simbolizar a k-ésima derivada da função f , usamos os śımbolos Dk ou f (k);
• Se a sequência (xn) converge para a, podemos usar as notações lim xn = a ou
xn → a.
2
2 Conjuntos Finitos e Infinitos
2.1 Números Naturais
Axiomas de Peano
1) ∃ s : N ⇒ N injetiva, tal que a imagem s(n) de cada n ∈ N chama-se o sucessor de
n ∈ N. Isso quer dizer que todo número natural tem um sucessor que também é natural,
e que números naturais diferentes têm sucessores diferentes.
2) ∃ ! 1 ∈ N, tal que 1 6= s(n),∀ n ∈ N. Isso quer dizer o número 1 é o único natural que
não é sucessor de nenhum outro.
3) Se X ⊂ N é tal que 1 ∈ X e s(X) ⊂ X (isto é, n ∈ X ⇒ s(n) ∈ X), então X = N.
Isso quer dizer se um conjunto possui o número 1, e também contém o sucessor de cada
de um de seus elementos, então esse conjunto contém todos os naturais.
Proposição: ∀ n ∈ N, n 6= s(n).
Demonstração: Temos que é verdade para n = 1, pois, pelo Axioma 2, 1 6= s(n),∀ n ∈
N, e em particular, 1 6= s(1). Dessa forma, suponhamos que seja verdade para um certo
n ∈ N, de modo que n 6= s(n). Segue que, como s é injetiva, então, pelo Axioma 1,
n 6= s(n)⇒ s(n) 6= s(s(n)). Portanto, a afirmação é válida para s(n).
Prinćıpio de Indução ou Recorrência: Se uma propriedade P é válida para o número
1, e se, supondo verdade para um certo n ∈ N, resultar que é válida para seu sucessor
s(n), então P é válida para todos os naturais.
Definição de Soma e Produto: Dados m,n ∈ N, definimos: + : N → N, tal que
+ (m,n) = m+ n e · : N→ N, tal que · (m,n) = m · n, de forma que:
3
s(m) = m+ 1
m+ s(n) = s(m+ n)⇔ m+ (n+ 1) = (m+ n) + 1
m · 1 = m
m · s(n) = mn+ n = m · (n+ 1)
Propriedades de Soma e Produto: Dados m,n, p ∈ N, temos:
Comutatividade: m+ n = n+m; m · n = n ·m
Associatividade: (m+ n) + p = m+ (n+ p); (m · n) · p = m · (n · p)
Distributividade: m · (n+ p) = mn+mp
Lei do Corte: m+ n = m+ p⇒ n = p; m · n = m · p⇒ n = p
Relações de Ordem: Dados m,n, p ∈ N, temos:
1) Menor / Maior: m < n⇒ ∃ p ∈ N;n = m+ p.
2) Menor ou Igual / Maior ou Igual: m ≤ n⇒ m < n ou m = n.
3) Transitividade: m < n e n < p⇒ m < p.
4) Tricotomia: Vale somente uma das alternativas: m < n,m > n ou m = n.
Prinćıpio da Boa Ordenação (PBO): A ⊂ N e A 6= ∅;n0 ≤ n,∀ n ∈ A.
Demonstração: Para tanto, consideremos In o conjunto dos números naturais ≤ n. Se
1 ∈ A, então é o menor elemento de A. Mas, caso 1 6∈ A, então seja X o conjunto dos
naturais n, tais que In ⊂ N − A. Segue que I1 = {1} ⊂ N − A e 1 ∈ X. Como A 6= ∅,
então X 6= N. Logo, o axioma 3, de Peano, é inclusivo, para este caso. Então, deve existir
4
n ∈ X, tal que n+1 6∈ X. Obtemos então que: In = {1, ...., n} ⊂ N−A e n0 = n+1 ∈ A.
Portanto, n0 é o menor elemento de A.
5
Exerćıcios Resolvidos Sobre Números Naturais:
Questão 1. Usando indução, prove:
(a) 1 + 2 + · · ·+ n = n(n+ 1)/2
Demonstração: Temos que:
n∑
k=1
k =
n(n+ 1)
2
.
Logo, para n = 1, a igualdade vale, pois:
1∑
k=1
k = 1 =
1 · (1 + 1)
2
=
1 · 2
2
= 1.
Supondo que valha para um certo n, tal que:
n∑
k=1
k =
n(n+ 1)
2
,
vamos provar que a proposição também é verdadeira para n+ 1, de modo que:
n+1∑
k=1
k =
(n+ 1)(n+ 2)
2
.
Desta feita, tem-se que:
n+1∑
k=1
k =
n+1∑
k=n+1
k +
n∑
k=1
k
= n+ 1 +
n(n+ 1)
2
=
2(n+ 1) + n(n+ 1)
2
=
(n+ 1)(n+ 2)
2
.
Portanto,
n+1∑
k=1
k =
(n+ 1)(n+ 2)
2
.
E dáı, conclúımos que a igualdade é válida ∀ n ∈ N.
6
(b) 1 + 3 + 5 + · · ·+ 2n− 1 = n2
Demonstração: Temos que:
n∑
k=1
(2k − 1) = n2.
Logo, a sentença é válida para n = 1, pois:
1∑
k=1
(2k − 1) = 1 = 12.
Suponhamos que valha para um certo n, tal que:
n∑
k=1
(2k − 1) = n2.
Então, provemos que seja verdade para n+ 1, de tal forma que:
n+1∑
k=1
(2k − 1) = (n+ 1)2.
Segue-se que:
n+1∑
k=1
(2k − 1) =
n+1∑
k=n+1
(2k − 1) +
n∑
k=1
(2k − 1)
= 2(n+ 1)− 1 + n2
= 2n+ 2− 1 + n2
= n2 + 2n+ 1
= (n+ 1)2.
Portanto,
n+1∑
k=1
(2k − 1) = (n+ 1)2.
E, indutivamente, conclúımos que a proposição é verdadeira, pois é válida para n + 1 e
por fim ∀ n ∈ N.
Questão 2. Dados m,n ∈ N com n > m, prove que ou n é múltiplo de m ou existem
q, r ∈ N tais que n = mq + r e r < m. Prove que q e r são únicos com esta propriedade.
7
Demonstração: Temos que, se n > m, então ou n é múltiplo de m, ou está entre dois
múltiplos consecutivos de m, isto é, ∃ q ∈ N, tal que qm < n < (q + 1)m. Neste último
caso, ∃ r ∈ N, tal que n = mq + r, com r < m, pois n < m(q + 1)⇒ ∃ p ∈ N;m(q + 1) =
n+ p⇒ mq+m = n+ p. Como n = mq+ r, então: mq+m = (mq+ r) + p⇒ mq+m =
mq + (r + p) ⇒ m = r + p. Quanto à unicidade, procedemos da seguinte forma: Seja
n = mq + r = mq′ + r′, com r, r′ < m. Logo, mq + r = mq′ + r′ ⇒ mq −mq′ = r′ − r ⇒
m(q − q′) = r′ − r ⇒ r′ − r = m(q − q′)⇒ m|(r′ − r). Como r, r′ < m, então r′ − r < m.
E dáı, r′ − r = 0 ⇒ r′ = r. Segue que r′ − r = 0 = m(q − q′) ⇒ 0 = m(q − q′) ⇒ 0 =
mq −mq′ ⇒ mq = mq′ ⇒ q = q′. Portanto, q = q′ e r′ = r.
Questão 3. Seja X ⊂ N um subconjunto não-vazio tal que m,n ∈ X ⇔ m,m + n ∈ X.
Prove que ∃ k ∈ N, tal que X é o Conjunto dos Múltiplos de k.
Demonstração: Seja k o menor elemento de X. Se n ∈ X, então k ≤ n. Assim ou n é
múltiplo de k ou ∃ q, r ∈ N tais que n = kq+ r e r < k. Neste último caso, pela definição
de X, segue que kq, r ∈ X, o que é um absurdo, pois k é o menor elemento de X e r < k.
Logo, todo elemento n ∈ X é múltiplo de k.
Questão 4. Dado n ∈ N, prove que @ x ∈ N tal que n < x < n+ 1.
Demonstração: Suponhamos que ∃ x ∈ N tal que n < x < n + 1. Logo, tem-se que
x = n+q, para algum q ∈ N. Por outro lado, temos que ∃ r ∈ N, tal que n+1 = x+r, para
algum r ∈ N. Com isso, vem que: n+ 1 = (n+ q) + r ⇒ n+ 1 = n+ (q+ r)⇒ 1 = q+ r,
o que é um absurdo. Portanto, conclúımos que @ x ∈ N tal que n < x < n+ 1.
Questão 5. Prove o Prinćıpio da Indução como uma consequência do Prinćıpio da Boa
Ordenação (PBO : A ⊂ N, A 6= ∅ ⇒ ∃ n0 ∈ A;n0 ≤ n,∀ n ∈ A).
Demonstração: Seja X ⊂ N, com a seguinte propriedade X = {1 ∈ X, e se n ∈ X,
então n + 1 ∈ X}. Queremos provar que X = N. Suponhamos que X 6= N. Logo
N − X 6= ∅. Seja Y = N − X 6= ∅, então Y ⊂ N e Y 6= ∅. Segue-se que pelo PBO,
∃ k ∈ Y , tal que k ≤ y, ∀ y ∈ Y . Como 1 ∈ X, temos que k = p + 1, com p < k. Logo,
8
p ∈ X, pois k é o menor elemento de Y . Como p+ 1 = k e k 6∈ X, então p+ 1 6∈ X. Isto
é um absurdo, pois se p ∈ X, temos que p+ 1 ∈ X. Portando, X = N.
9
2.2 Conjuntos Finitos
Definição – Conjunto Finito: Um conjunto X diz-se Finito quando X 6= ∅ ou quando
∃ n ∈ N, tal que f : In → X é bijeção. Dessa forma, f bijetiva chama-se uma contagem
dos elementos de X, e o número n é denominado de cardinal ou número de elementos
do conjunto X finito. Nota-se ainda que: x1 = f(1), x2 = f(2), ..., xn = f(n) ⇔ X =
{x1, x2, ..., xn}.
Lema: Se ∃ f : X → Y bijetiva, então dados a ∈ X e b ∈ Y , também ∃ g : X → Y
bijetiva, tal que g(a) = b.
Demonstração: Seja f(a) = b′. Como f é sobre, então ∃ a′ ∈ X, tal que f(a′) = b.
Definamos, então, g : X → Y , pondo g(a) = b, g(a′) = b′ e g(x) = f(x), se x ∈ X é tal
que x 6= a e x 6= a′. Claramente, g é bijeção.
Teorema 01: A In ⇒ @ f : A→ In bijetiva.
Demonstração: Suponhamos, por absurdo, que o teorema seja falso, e consideremos
n0 ∈ N o menor naturalpara o qual ∃ A In0 e f : A → In0 bijetiva. Se n0 ∈ A,
então pelo Lema, ∃ g : A → In0 bijetiva, tal que g(n0) = n0. Logo, temos: g|A−{n0} :
A − {n0} → In0−1 bijetiva, com A − {n0} In0−1, o que contraria a minimalidade de
n0. Caso tivermos n0 6∈ A, então tomemos a ∈ A, tal que f(a) = n0. Logo, obtemos o
seguinte: f |A−{a} : A − {a} → In0−1 é bijetiva, com A − {a} In0−1, o que contraria a
minimalidade de n0.
Corolário 01: f : Im → X e g : In → X são bijeções ⇒ m = n.
Demonstração: Com efeito, sejam card Im = m e card In = n, com m,n ∈ N. Logo,
caso m < n, então Im In, o que violaria o Teorema 01, pois ϕ : g−1 ◦ f : Im → In é
bijeção. De modo análogo, mostramos que não é posśıvel para m > n. Logo, m = n.
Corolário 02: Seja X finito, ϕ : X → X é injetiva ⇔ ϕ : X → X é sobre.
10
Demonstração: Com efeito, ∃ h : In → X bijetiva. Notemos ainda que uma aplicação
ϕ : X → X é injetiva ou sobre se, e somente se, h−1 ◦ ϕ ◦ h : In → In o é. Consideremos
f : In → In. Se f é injetiva, então pondo B = f(In) ⊂ In, temos que f−1|B : B → In é
bijetiva e dáı pelo Teorema 01, temos que B = In. Logo, f é sobre. Reciprocamente, se
f é sobre, então ∀ y ∈ In,∃ x ∈ In; f(x) = y. Desse modo, para cada y ∈ In, podemos
escolher um x ∈ In, tal que g(y) = x. Segue que obtemos: g : In → In injetiva, com
g(f(x)) = x, ∀ x ∈ In. E, pelo que acabamos de provar, temos que g também é sobre.
Logo, sejam x1, x2 ∈ In, então: f(x1) = f(x2) ⇒ x1 = g(f(x1)) = g(f(x2)) = x2.
Portanto, f é injetiva.
Corolário 03: @ f : Y → X bijetiva, com Y X, e X finito.
Demonstração: Com efeito, sejam X finito e Y X. Logo, ∃ ϕ : In → X bijetiva.
Segue que: Y = ϕ(A) X e dáı: A = ϕ−1(Y ) In. Então, temos ϕ|A : A→ Y bijetiva.
Desse modo, se ∃ f : Y → X bijetiva, então temos: ϕ−1 ◦ f ◦ϕ|A : A→ In bijetiva, o que
contraria o Teorema 01.
Podeŕıamos também enunciar e demonstrar o Corolário 03 da seguinte forma:
Corolário 03: Não existe uma bijeção g : X → Y bijetiva, onde X 6= ∅ é finito e Y X.
Demonstração: Como X é finito, existe f : In → X bijetiva. Seja A = f−1(Y ) = {p ∈
In; f(p) ∈ Y }. Observe que A ( In e temos a bijeção f |A : A→ Y . Supondo por absurdo
que exista g : X → Y bijetiva, teŕıamos que a composta f−1 ◦ g−1 ◦ f |A : A → In seria
uma bijeção, o que nos levaria a um absurdo (pois contraria o Teorema 01).
Teorema 02: X finito e Y ⊂ X ⇒ Y é finito, ∀ Y .
Demonstração: Particularmente, se X é finito e a ∈ X, então X − {a} ⊂ X é finito.
Com efeito, ∃ f : In → X bijetiva, onde, pelo Lema, f(n) = a. Logo, se n = 1, então
X−{a} = ∅ é finito. Mas se n > 1, então f |In−1 : In−1 → X−{a} é bijeção. Logo: X−{a}
11
é finito, onde card (X − {a}) = n − 1 (por definição). De modo geral, indutivamente,
temos: É evidente quando X = ∅ ou n = 1. Agora, supondo verdade para um certo n,
seja X tal que card X = n + 1 e Y ⊂ X. Se Y = X, não há nada para provar. Mas se
Y X, então ∃ a ∈ X com a 6∈ Y . Logo, Y ⊂ X − {a}. Como card (X − {a}) = n,
segue que Y é finito.
Corolário 01: Sendo f : X → Y ,
i) Y finito e f injetiva ⇒ X finito.
Demonstração: Com efeito, se f é injetiva, então temos f |X : X → f(X) bijetiva. Mas
como Y é finito, então f(X) ⊂ Y é finito, pelo Teorema 2. Logo, ∃ m ∈ N, tal que
ϕ : Im → f(X) é bijetiva. E dáı: f−1|X ◦ ϕ : Im → X é bijeção, e então X é finito.
ii) X finito e f sobrejetiva ⇒ Y finito.
Demonstração: Seja f sobre, então ∀ y ∈ Y, ∃ x ∈ X; f(x) = y. Dessa forma, para
cada y ∈ Y , podemos escolher um x ∈ X, tal que g(y) = x. Isto define uma g : Y → X
injetiva, tal que f(g(y)) = y,∀ y ∈ Y . Logo, pelo que foi provado, obtemos que Y é finito.
Definição – Conjunto Limitado: Um conjunto X ⊂ N diz-se limitado, quando ∃ p ∈ N,
tal que x ≤ p, ∀ x ∈ X.
Corolário 02: X finito, com X ⊂ N⇔ X limitado, com X ⊂ N.
Demonstração: Com efeito, se X = {x1, x2, ..., xn} ⊂ N é finito, então pondo p =
x1 + x2 + ... + xn, vemos que ∀ x ∈ X, x ≤ p. Logo, X é limitado. Reciprocamente,
se X ⊂ N for limitado, então ∃ q ∈ N, tal que x ≤ q,∀ x ∈ X. Logo, consideremos
Iq = {1, 2..., q}. Segue que X ⊂ Iq. Agora, basta notar que Iq é finito. Desse modo, pelo
Teorema 02, obtemos que X é finito.
12
Exerćıcios Resolvidos Sobre Conjuntos Finitos:
Questão 1. Indicando com card X o número de elementos do conjunto finito X, prove:
(a) Se X é finito e Y ⊂ X, então card Y ≤ card X.
Demonstração: Basta provarmos o caso em que X = Im e Y = In. Suponha que
card Y > card X, ou seja, n > m. Por ser Y finito e card Y = n, temos que ∃ f : In → Y
bijetiva. Como Y ⊂ X = Im In, temos que f é uma bijeção entre In e Y In, o que é
um absurdo. Logo, card Y ≤ card X.
(b) Se X e Y são finitos, então X ∪ Y é finito e card (X ∪ Y ) = card X + card Y −
card (X ∩ Y ):
Demonstração: Primeiramente, provemos o seguinte: Se X e Y são finitos e disjuntos
com card X = n e card Y = m, então X ∪ Y é finito, com card (X ∪ Y ) = m + n.
Para tanto, notemos que existem bijeções f : In → X e g : Im → Y . Definamos então
h : Im+n → X ∪ Y , como: h(x) = f(x), se 1 ≤ x ≤ n e h(x) = g(x) = g(x − n), se
1 + n ≤ x ≤ m + n (1 ≤ x − n ≤ m). Como h é bijeção, segue o resultado. Agora, se
X∩Y 6= ∅, então: X = (X−Y )∪(X∩Y ). Logo: card X = card (X−Y )+card (X∩Y )⇒
card X − card (X ∩ Y ) = card (X − Y ). E ainda: X ∪ Y = (X − Y ) ∪ Y . E dáı:
card (X ∪ Y ) = card (X − Y ) + card Y ⇒ card (X ∪ Y ) − card Y = card (X − Y ).
Portanto: card X − card (X ∩ Y ) = card (X ∪ Y ) − card Y ⇒ card (X ∪ Y ) =
card X + card Y − card (X ∩ Y ).
(c) Se X e Y são finitos, então X × Y é finito e card (X × Y ) = card X · card Y .
Demonstração: Seja card X = m e card Y = n. Denotemos Y = {y1, · · · , yn}. Assim,
X×Y = X1∪· · ·∪Xn, onde Xi = X×{yi}. Note que card Xi = card X = m. Além disso,
observe que, por ser Xi dois a dois disjuntos: card (X × Y ) = card X1 + · · ·+ card Xn =
m+ · · ·+m = n ·m = card Y · card X = card X · card Y .
13
Questão 2. Seja P (X) o conjunto cujos elementos são os subconjuntos de X. Prove por
indução que se X é finito, então card P (X) = 2card X .
Demonstração: Para n = 1 é verdade, pois X = {x1} ⇒ card X = 1. E dáı, P (X) =
{∅, {x1}} ⇒ card P (X) = 2 = 21 = 2card X . Suponhamos que ∀ Y com n elementos,
card P (Y ) = 2n. Então, provemos que dado Z com n+ 1 elementos tem-se card P (Z) =
2n+1. Tomemos x ∈ Z, então Z − {x} possui 2n subconjuntos. Porém, notemos que Z −
{x} ∪ {x} possui mais 2n subconjuntos. Portanto, obtemos 2n + 2n = 2n+1 subconjuntos.
Questão 3. Seja F(X;Y ) o conjunto das funções f : X → Y . Se card X = m e
card Y = n, prove que card F(X;Y ) = nm.
Demonstração: Sem perda de generalidade, podemos supor queX = Im = {1, 2, · · · ,m}.
Agora, procedendo por indução sobre m: Para m = 1, temos que cada elemento de
F(I1;Y ) corresponde à escolha de um elemento de Y e, card F(I1;Y ) = card Y = n. Su-
ponha que card F(Im;Y ) = nm. Note que, para cada f ∈ F(Im+1;Y ), ∃! f |Im ∈ F(Im;Y )
tal que f é extensão de f |Im . Por outro lado, cada g ∈ F(Im;Y ) pode ser estendida a
exatamente card Y funções em F(Im+1;Y ). Portanto, card F(Im+1;Y ) = nm · card Y =
nm · n = nm+1.
Questão 4. Prove que todo conjunto finito não-vazio X de números naturais contém um
elemento máximo (isto é, existe x0 ∈ X tal que x ≤ x0 ∀ x ∈ X).
Demonstração: Seja Y = {n ∈ N;n > x,∀ x ∈ X}. Logo: Y 6= ∅ e Y ⊂ N. Então, pelo
PBO, Y possui um elemento mı́nimo. Tal elemento não pode se 1, então é sucessor de
algum número natural, que denotaremos por t + 1. Logo, t tem que satisfazer uma das
seguintes propriedades: ∃ a ∈ X; t < a ou ∃ a ∈ X; t = a. A primeira opção não pode
valer, pois teŕıamos: t < a < t + 1 que é absurdo. Mostremos que tal a é o máximo de
X. Seja z ∈ X, com z 6= a, então z < a, pois se t = a < z, então: a < z < a + 1, que é
absurdo.
14
2.3 Conjuntos Infinitos
Definição – Conjunto Infinito: Diz-se que um conjuntoé infinito, quando não é finito.
Assim, X é infinito, quando não é vazio e nem existe uma bijeção f : In → X, seja qual
for n ∈ N.
Simbolicamente, temos: X infinito⇔ X não é finito / X infinito⇔ X 6= ∅ e @ f : In → X
bijetiva, ∀ n ∈ N.
Teorema 03: Se X é um conjunto infinito, então ∃ f : N→ X injetiva.
Demonstração: Primeiramente, para cada subconjunto A ⊂ X, com A 6= ∅, escolhemos
um xA ∈ A. Definamos então f : N→ X indutivamente. Ponhamos f(1) = xX e, supondo
já definidos f(1), ..., f(x), escrevemos: An = X−{f(1), ..., f(n)}. Como X é infinito, então
An 6= ∅. Definamos f(n+ 1) = xAn , completando assim a definição de f . Para provar que
f é injetiva, sejam m,n ∈ N, digamos com m < n. Então f(m) ∈ {f(1), ..., f(n − 1)} e
f(n) ∈ X − {f(1), ..., f(n− 1)}. Logo, f(m) 6= f(n).
Corolário 01: Um conjunto X é infinito se, e somente se, ∃ ϕ : X → Y bijetiva, com
Y X.
Demonstração: Com efeito, sejam X infinito e f : N → X injetiva. Escrevamos para
cada n ∈ N, f(n) = xn. Consideremos Y = X − {x1} X. Definamos a bijeção
ϕ : X → Y pondo ϕ(x) = x, se x 6= xn e ϕ(xn) = xn+1(n ∈ N). Reciprocamente, se
∃ ϕ : X → Y bijetiva, com Y X, então X é infinito, devido o Corolário 03 do Teorema
01 (Contra-positiva).
Observações:
i) N1 = N− {1} ⇒ ϕ : N→ N1, tal que ϕ(n) = n+ 1, é bijeção.
ii) Fixando p ∈ N;Np = {p+ 1, p+ 2, ...} ⇒ ϕ : N→ Np, tal que ϕ(n) = n+ p, é bijeção.
15
iii) Galileu Galilei: Há tantos números pares quantos números naturais.
iv) P = {2, 4, 6, ...} ⇒ ϕ : N→ P , tal que ϕ(n) = 2n, é bijeção.
v) I = {1, 3, 5, ...} ⇒ ψ : N→ I, tal que ψ(n) = 2n− 1, é bijeção.
vi) N− P = I e N− I = P são infinitos, enquanto que: N− Np = {1, 2, 3, ..., p} é finito.
Observação: O conjunto N dos números naturais é infinito.
Prova 1: Com efeito, suponhamos que N não o seja. Dessa forma ∃ n ∈ N, tal que
ϕ : In → N é bijeção, isto é, N é finito. Seja p = ϕ(1)+...+ϕ(n). Então ϕ(x) < p,∀ x ∈ In,
donde p 6∈ ϕ(In). Logo, nenhuma função ϕ : In → N é sobrejetiva. Portanto, N é infinito,
ou seja, não ∃ ϕ : In → N bijetiva.
Prova 2: Com efeito, consideremos P = {2, 4, 6, ...}, o conjunto dos números pares,
sendo este um subconjunto próprio de N, ou seja, P N. Definamos: f : N→ P , tal que
f(n) = 2n. Logo, f é bijetiva. Segue que como P N, então do Corolário 3 do Teorema
1, N é infinito.
16
Exerćıcios Resolvidos Sobre Conjuntos Infinitos:
Questão 1. Dada f : X → Y , prove:
(a) Se X é infinito e f é injetiva, então Y é infinito.
Demonstração: Notemos que f : X → f(X) é bijeção. ComoX é infinito, f(X) também
o é, pois, do contrário, ∃ n ∈ N, tal que g : In → f(X) é bijeção. Dáı, f−1 ◦ g : In → X
também o é, afirmando que X é finito, o que é absurdo. Dessa forma, f(X) é infinito e Y
também, pois se Y fosse finito, f(X) também seria, o que nos levaria a uma contradição.
(b) Se Y é infinito e f é sobrejetiva, então X é infinito.
Demonstração: Como f é sobre, ∀ y ∈ Y, ∃ x ∈ X, tal que f(x) = y. Escolhamos então
para cada y ∈ Y , um x ∈ X, tal que g(y) = x. Com isso, definimos a função g : Y → X
injetiva. Logo, pelo resultado anterior, item (a), segue que X é infinito.
Questão 2. Sejam X um conjunto finito e Y um conjunto infinito. Prove que existe uma
função injetiva f : X → Y e uma função sobrejetiva g : Y → X.
Demonstração: Seja X = {x1, · · · , xm}. Escolhamos m elementos distintos de Y, a
saber y1, · · · , ym. Dessa forma, definamos: f : X → Y pondo f(xi) = yi. Claramente,
vemos que f é injetiva. Agora, denotemos A = {y1, · · · , ym} ⊂ Y e consideremos g : Y →
X definida por g(yi) = xi, se yi ∈ A e g(y) = xm, se y 6∈ A. Dessa maneira, claramente g
é sobrejetiva.
Questão 3. Prove que o conjunto P dos números primos é infinito.
Demonstração: Suponha que existam n primos, onde (pk)
n
1 . Vamos mostrar que existe
mais um primo distinto dos anteriores. Considere:
s =
(
n∏
k=1
pk
)
+ 1 = a+ 1.
17
Se esse número é primo, a demonstração termina. Se não, ele é composto e irá existir um
número primo p tal que p|s. Tal p não pode ser nenhum dos pk dados, pois se pk|s, então
pk|(s− a) = 1, o que é absurdo. Assim, existe um fator primo p 6= pk.
Questão 4. Dê exemplo de uma sequência decrescente X1 ⊃ X2 ⊃ · · · ⊃ Xn ⊃ · · · de
conjuntos infinitos cuja interseção
∞⋂
n=1
Xn seja vazia.
Demonstração: Seja In = {p ∈ N; p ≤ n}. Considere o conjunto: Xn = N− In = {p ∈
N; p > n}. Desta forma, temos que X1 ⊃ X2 ⊃ · · · ⊃ Xn ⊃ · · · e
∞⋂
n=1
Xn = ∅. Pois
dizer n0 ∈ N e ainda n0 ∈
∞⋂
n=1
Xn significa afirmar que n0 é maior que todos os números
naturais, o que é um absurdo.
18
2.4 Conjuntos Enumeráveis
Definição – Conjuntos Enumeráveis: Um conjunto X diz-se enumerável quando é
finito ou quando existe uma bijeção f : N→ X. Dessa forma, f chama-se uma enumeração
dos elementos de X. Escrevendo f(1) = x1, f(2) = x2, ..., f(n) = xn, ..., tem-se então
X = {x1, x2, ..., xn, ...}.
Podemos observar em śımbolos que, X enumerável:
(1) X finito: X = ∅ ou ∃ n ∈ N;h : In → X é bijeção.
(2) ∃ f : N→ X bijetiva. Note que N é infinito.
(3) f chama-se uma enumeração dos elementos de X.
(4) Enumeração: f(1) = x1, f(2) = x2, ..., f(n) = xn, ...⇔ X = {x1, x2, ..., xn, ...}.
Teorema 04: Todo subconjunto X ⊂ N é enumerável.
Demonstração: Se X for finito, é enumerável. Se for infinito, definiremos indutiva-
mente uma bijeção f : N → X. Pondo f(1) como menor elemento de X, suponhamos
f(1), ..., f(n) definidos de tal forma a satisfazerem as condições: (i) f(1) < f(2) < ... <
f(n) e (ii) pondo Bn = X − {f(1), f(2), ..., f(n)}, tem-se f(n) < x, ∀ x ∈ Bn. Notemos
que Bn 6= ∅, pois X é infinito. Então definamos: f(n+ 1) como sendo o menor elemento
de Bn. Logo, completamos a definição de f : N → X, satisfazendo (i) e (ii), ∀ n ∈ N.
Segue de (i) que f é injetiva. E de (ii), temos que f é sobre, pois se ∃ x ∈ N − f(N),
teŕıamos x ∈ Bn, e dáı x > f(n),∀ n ∈ N. Logo, f(N) ⊂ N, que é infinito, seria limitado,
o que é absurdo, pois contraria o Corolário 2, do Teorema 2.
Podeŕıamos também demonstrar o Teorema acima da seguinte forma:
Teorema 04: Todo subconjunto X ⊂ N é enumerável.
19
Demonstração: Se X é finito, então, por definição, é enumerável. Supondo X infinito,
então X 6= ∅ e pelo PBO, X tem um menor elemento, o qual denotaremos por x1.
Definamos A1 = X−{x1 6= ∅ ⊂ N}. Novamente, pelo PBO, A1 tem um menor elemento,
o qual chamaremos de x2, onde x1 < x2. Definamos A2 = X = {x1, x2} 6= ∅ ⊂ N.
Supondo definidos x1 < x2 < x3 < ... < xn e An = X − {x1, x2, x3, ..., xn} 6= ∅ ⊂ N, tem-
se, pelo PBO, que An possui um menor elemento, o qual denotaremos por xn+1. Agora,
definamos f : N → X, tal que f(n) = xn. Note que f está bem definida. Além disso, f
é injetiva, pois, dados m,n ∈ N, tal que m 6= n, com f(m) = xm e f(n) = xn, e supondo
m < n, então xm < xn. E dáı, por construção, xm 6= xn. Por outro lado, f também é
sobre, pois, caso contrário, existiria um elemento x ∈ X, tal que x > xn,∀ n ∈ N. Assim,
o conjunto X = {x1, x2, x3, ..., xn, ...} é limitado. Logo, N seria limitado, o que é um
absurdo. Portanto, f é sobrejetiva.
Corolário 01: Seja f : X → Y injetiva. Se Y é enumerável, então X também é. Em
particular, todo subconjunto de um conjunto enumerável é enumerável.
Demonstração: Com efeito, basta considerar o caso em que ∃ ϕ : Y → N bijetiva. Então
ϕ ◦ f : X → N é uma bijeção de X sobre um subconjunto de N, o qual é enumerável,
devido o teorema 4. No caso particular de X ⊂ Y , tomamos f : X → Y como a função
inclusão.
Corolário 02: Seja f : X → Y sobrejetiva. Se X é enumerável, então Y também é.
Demonstração: Como f é sobre, então ∀ y ∈ Y, ∃ x ∈ X, tal que f(x) = y. Dessa
forma, podemos escolher para cada y ∈ Y , um x ∈ X, tal que x = g(y). Isto define
uma g : Y → X injetiva, tal que f(g(y)) = y,∀ y ∈ Y . Segue do Corolário1, que Y é
enumerável.
Corolário 03: O Produto Cartesiano de dois conjuntos enumeráveis é um conjunto
enumerável.
20
Demonstração: Com efeito, se X e Y são enumeráveis, então existem sobrejeções f :
N → X e g : N → Y . Logo: ϕ : N × N → X × Y , dada por ϕ(m,n) = (f(m), f(n)) é
sobrejetiva. Dessa forma, basta provar que N× N é enumerável. Para isso, consideremos
a aplicação ψ : N × N → N, dada por ψ(m,n) = 2m · 3n. Logo, pela unicidade da
decomposição de um número em fatores primos, ψ é injetiva. Segue-se que N × N é
enumerável.
Corolário 04: A reunião de uma famı́lia enumerável de conjuntos enumeráveis é enu-
merável.
Demonstração: Com efeito, dados X1, ..., Xn, ... enumeráveis, existem sobrejeções: f1 :
N→ X1, ..., fn : N→ Xn, .... Tomando X =
⋃∞
n=1Xn, definimos a sobrejeção f : N×N→
N, pondo f(m,n) = fn(m). O caso de uma reunião finita X = X1 ∪ ... ∪Xn, reduz-se ao
anterior. Basta considerar: Xn+1 = Xn+2 = ... = ∅.
Observação: O conjunto enumerável é o menor dos infinitos. Dessa forma, todo conjunto
infinito contém um subconjunto infinito enumerável.
Exemplo 01: O conjunto Z = {...,−2,−1, 0, 1, 2, ...} dos números inteiros é enumerável.
Uma bijeção f : N→ Z pode ser definida pondo f(n) = n− 1
2
para n ı́mpar e f(n) = −n
2
para n par.
Formalmente, temos: Mostre que Z é enumerável.
Demonstração. Seja a função f : N → Z definida por f(n) = n− 1
2
, se n é ı́mpar
e f(n) = −n
2
se n é par. Desse modo, temos que f é bijeção e consequentemente Z é
enumerável. Com efeito, f é injetiva, pois dados m,n ∈ N tais que são ı́mpares, então
f(m) = f(n)⇒ m− 1
2
=
n− 1
2
⇒ m− 1 = n− 1⇒ m = n. Mas se m,n ∈ N são pares,
então f(m) = f(n) ⇒ −m
2
= −n
2
⇒ −m = −n ⇒ m = n. E f também é sobre, pois
∀ y ∈ Z+, y =
n− 1
2
⇒ 2y = n − 1 ⇒ n = 2y + 1, onde f(n) = y e n ∈ N é ı́mpar; e
ainda, ∀ w ∈ Z∗−, w = −
n
2
⇒ 2w = −n ⇒ n = −2w, onde f(n) = w e n ∈ N é par. E
dáı, Z+ ∪ Z∗− = Z = f(N).
21
Exemplo 02: O conjunto Q =
{
m
n
,m, n ∈ Z, n 6= 0
}
dos números racionais é enu-
merável. Com efeito, escrevendo Z∗ = Z − {0}, podemos definir uma função sobrejetiva
f : Z× Z∗ → Q, pondo f(m,n) = m
n
.
Formalmente, temos: Mostre que Q é enumerável.
Demonstração. Com efeito, escrevendo Z∗ = Z−{0}, temos que Z∗ ⊂ Z é enumerável.
Temos ainda que Z∗ × Z é enumerável, pois é o produto cartesiano de dois conjuntos
enumeráveis. Definamos a função sobrejetiva f : Z∗ × Z → Q, pondo f(m,n) = m
n
. De
fato, f é sobre, pois ∀ y ∈ Q, y = m
n
⇒ m = ny, onde f(ny, n) = y. Logo, como f é
sobre e Z∗ × Z é enumerável, temos que Q é enumerável.
Exemplo 03 – Um Conjunto Não Enumerável: Seja S o conjunto de todas as
sequências infinitas, como por exemplo: s : (0, 1, 1, 0, 0, 0, 1, 0, ...), formadas com os
śımbolos 0 e 1. Noutras palavras, S é o conjunto de todas as funções s : N→ {0, 1}. Para
cada n ∈ N, o valor s(n), igual a 0 ou 1, é o n-ésimo termo da sequência s. Afirmamos
que nenhum subconjunto enumerável X = {s1, s2, ..., sn, ...} ⊂ S é igual a S. Com efeito,
dado X, indiquemos com snm o n-ésimo termo da sequência sm ∈ X. Formamos uma
nova sequência s∗ ∈ S, tomando o n-ésimo termo de s∗ igual a 0 se for snn = 1, ou igual a
1, se for snn = 0. A sequência s
∗ não pertence ao conjunto X porque seu n-ésimo termo
é diferente do n-ésimo termo de sn.
22
Exerćıcios Resolvidos Sobre Conjuntos Enumeráveis:
Questão 1. Defina f : N×N pondo f(1, n) = 2n− 1 e f(m+ 1, n) = 2m(2n− 1). Prove
que f é uma bijeção.
Demonstração: Seja f : N× N→ N definida por
f(x, y) =
 2n− 1, se x = 1 e y = n2m(2n− 1), se x = m+ 1 e y = n.
Primeiramente, provemos que f é injetiva. Tomemos (1, n), (1, k) ∈ N × N. Logo, se
f(1, n) = (1, k), então n = k. Agora, tomemos (m + 1, n), (p + 1, q) ∈ N × N. Caso,
f(m + 1, n) = f(p = 1, q), temos que 2m(2n − 1) = 2p(2q − 1). Logo, pelo Teorema
Fundamental da Aritmética, m = p. Segue que temos 2n− 1 = 2q− 1, e dáı n = q. Dessa
forma, f é injetiva. Agora, mostremos que f é sobre. Seja r ∈ N. Se r é ı́mpar, então
r = 2n − 1, e dáı n = r + 1
2
, ou seja, ∃ (1, n) ∈ N × N, tal que f
(
1,
r + 1
2
)
= r. Mas
se r é par, então r = 2k(2n − 1), e dáı n = r + 2
k
2k+1
. Isto é, ∃ (k + 1, n) ∈ N × N, tal que
f
(
k + 1,
r + 2k
2k+1
)
= r. Desse modo, f é sobre. Portanto, obtemos que f é bijetiva.
Questão 2. Prove que existe g : N → N sobrejetiva tal que g−1(n) é infinito, para cada
n ∈ N.
Demonstração: Seja g : N→ N definida como minEn, com En = {k ∈ N; k é o expoente
da decomposição de n em números primos} e g(n) = n, caso contrário. Então provemos
que g é sobre. De fato, tomando n ∈ N,∃ r = 2n · 3n+k ∈ N, tal que g(r) = n, e k ∈ N.
Agora, mostremos que g−1(n) é infinito, ∀ n ∈ N. Com efeito, pela definição de g, temos
que g(2n ·3n+k) = n,∀ n, k ∈ N. Seja M = {r ∈ N; r = 2n ·3n+k,∀ n, k ∈ N}. Logo, M ⊂ N
é infinito e enumerável. Mas g−1(n) ⊂M , e por transitividade, tem-se g−1(n) ⊂ N, donde
conclúımos que g−1(n) é infinito e enumerável, ∀ n ∈ N.
Questão 3. Exprima N = N1∪N2∪N3∪· · ·∪Nn∪· · · como união infinita de subconjuntos
infinitos, dois a dois disjuntos.
23
Demonstração: Seja Ap = {pk; p é primo e ∀ k ∈ N}. Temos então definidos: A2 =
{2, 4, 8, 16, ...}, A3 = {3, 9, 27, ...}, A5 = {5, 25, 125, ...}, A7 = {7, 49, ...}, ..., os quais são
infinitos e Aj ∩ Ai = ∅, com j 6= i. Definamos ainda: A1 = N − A2 ∪ A3 ∪ A5 ∪ A7 ∪ ....
Agora, tomando A1 = N1, A2 = N2, A3 = N3, A5 = N4, A7 = N5, ..., temos: N1 =
N−N2∪N3∪N4∪N5∪ ... = N−
∞⋃
k=2
Nk. Portanto, segue o resultado, ou seja, N =
∞⋃
k=1
Nk,
com Nk infinito, ∀ k ∈ N e Nj ∩ Ni = ∅, com j 6= i.
Questão 4. Para cada n ∈ N, seja Pn = {X ⊂ N; card X = n}. Prove que Pn é
enumerável. Conclua que o conjunto Pf dos subconjuntos finitos de N é enumerável.
Demonstração: Seja Pn = {X ⊂ N; card X = n}, Definamos f : Pn → Nn, onde
f(X) = (m1,m2, · · · ,mn), com X = {m1 < m2 < · · · < mn}. Notemos que Nn =
N×N×N×...×N é enumerável, pois é produto cartesiano finito de conjuntos enumeráveis.
Notemos ainda que f é injetiva. Com efeito, dados X, Y ∈ Pn, tem-se f(X) = f(Y ) ⇒
(x1, x2, x3, ..., xn) = (y1, y2, y3, ..., yn) ⇒ x1 = y1, x2 = y2, x3 = y3, ..., xn = yn. Segue
que X = Y . E dáı, como f é injetiva e Nn é enumerável, temos que Pn é enumerável.
Como Pf é o conjunto de todos os subconjuntos finitos de N, isto é, Pf =
∞⋃
n=1
Pn, então
Pf é enumerável, pois é reunião de uma famı́lia enumerável de subconjuntos enumeráveis,
sendo que X ⊂ N é enumerável.
Questão 5. Prove que o conjunto P (N) de todos os subconjuntos de N não é enumerável.
Demonstração: Definimos a função f : X → P (N), onde X é o conjunto de sequências
de elementos 0 ou 1, da seguinte forma: Para cada sequência (xk), definimos: f(xk) = V =
{k;xk 6= 0}. Tal função é bijeção, pois dados duas sequências distintas (xk) e (yk), então
∃ k;xk 6= yk, e sem perda de generalidade, yk = 0, então k 6∈ f(yk) e k ∈ f(xk). Logo, as
imagens são distintas. A função também é sobrejetiva, pois dado um subconjunto V ⊂ N,
a ele está associado a sequência (xk), onde xk = 0 se k 6∈ V e xk = 1, se k ∈ V . Como tal
função é bijeção e X é não enumerável, segue que P (N) também é não numerável.
Questão 6. Sejam Y enumerável e f : X → Y tal que, para cada y ∈ Y, f−1(y) é
enumerável. Prove que X é enumerável.
24
Demonstração: Notemos que X =
⋃
y∈Y f
−1(y), então X é União Enumerável de Con-
juntos Enumeráveis. Logo, X é Enumerável.
25
3 Preliminares Para Construção do Conjunto dos Números
Reais
Definição 3.1. Anel. Um sistema matemático constitúıdo de um conjunto não-vazio
X e um par de operações sobre A, respectivamente uma adição (x, y) 7−→ x + y e uma
multiplicação (x, y) 7−→ x · y = xy, é chamado anel se:
(i) (X,+) é um grupo Abeliano, isto é: Se a, b, c ∈ X, então a + (b + c)= (a + b) + c;
Se a, b ∈ X, então a + b = b + a;∃ 0X ∈ X;∀ a ∈ X, a + 0X = a; e, ∀ a ∈ X, ∃ − a ∈
X; a+ (−a) = 0X , onde −a é o elemento inverso e 0X é o elemento neutro.
(ii) Na multiplicação, temos: Se a, b, c ∈ X, então a(bc) = (ab)c.
(iii) A multiplicação é distributiva em relação à adição: Se a, b, c ∈ X, então a(b + c) =
ab+ ac e (a+ b)c = ac+ bc.
Definição 3.2. Anel Com Unidade. Seja X um anel. Se X conta com elemento
neutro para a multiplicação, ou seja, se existe um elemento 1X ∈ X, 1X 6= 0X , tal que
a · 1X = 1X · a = a,∀ a ∈ X, então se diz que 1X é a unidade de X e que X é um Anel
Com Unidade.
Definição 3.3. Anel Comutativo Com Unidade. Um anel cuja multiplicação é co-
mutativa e que possui unidade chama-se anel comutativo com unidade.
Definição 3.4. Anel de Integridade. Seja X um anel comutativo com unidade. Se
para esse anel vale a lei do anulamento do produto, ou seja, se uma igualdade do tipo
ab = 0X em que a, b ∈ X, só for posśıvel para a = 0X ou b = 0X , então se diz que X é
um anel de integridade ou domı́nio de integridade. A contra-positiva é: Se a 6= 0 e b 6= 0,
então ab 6= 0.
26
Definição 3.5. Corpo. Seja K um anel comutativo com unidade. Se U(K) = K∗ =
K − {0}, então K recebe o nome de corpo. A notação U(X) indica os elementos de um
anel X que tem inverso, os quais são chamados de inverśıveis. Desse modo, U(X) 6= ∅, e
não inclui o zero.
Definição 3.6. Definição Mais Conveniente Para Corpo. Um objeto matemático
constitúıdo de um conjunto não-vazio K, uma adição e uma multiplicação sobre K recebe
o nome de corpo: Se K é um grupo Abeliano no que se refere à adição; Se 0 indica o
elemento neutro da adição e K∗ = K − {0} é um grupo Abeliano no que se refere à
multiplicação e se a multiplicação é distributiva em relação à adição.
Definição 3.7. Outra Definição Posśıvel Para Corpo. Seja K um anel comuta-
tivo com unidade. Este é denominado corpo se todo elemento não-nulo possuir inverso
multiplicativo, isto é, ∀ x ∈ K, x 6= 0⇒ ∃ x−1 ∈ K;x · x−1 = 1.
27
4 Números Reais
Para ińıcio de conversa, o conjunto dos números reais será simbolizado por R.
Dessa forma, vamos descrever suas propriedades e as consequências destas, as quais serão
utilizadas posteriormente.
4.1 R é Um Corpo
Quando se diz que R é um corpo, então estão definidas em R duas operações,
chamadas Adição e Multiplicação, que cumprem certas condições:
(i) A adição faz corresponder a cada par x, y ∈ R, sua soma x+ y ∈ R;
(ii) A multiplicação associa a cada par x, y ∈ R, seu produto x · y ∈ R.
Essas operações obedecem os seguintes axiomas:
(1) Associatividade: ∀ x, y, z ∈ R, (x+ y) + z = x+ (y + z) e (x · y) · z;
(2) Comutatividade: ∀ x, y ∈ R, x+ y = y + x e x · y = y · x;
(3) Elementos Neutros: ∃ 0, 1 ∈ R, distintos, tais que x+ 0 = x e x · 1 = x,∀ x ∈ R;
(4) Inversos: ∀ x ∈ R,∃! − x ∈ R, tal que x + (−x) = 0, onde −x é chamado inverso
aditivo. E se x 6= 0, ∃! x−1 ∈ R, tal que x · x−1 = 1, onde x−1 é denominado inverso
multiplicativo;
(5) Distributividade: ∀ x, y,∈ R, x · (y + z) = x · y + x · z.
28
Há de se notar que dos axiomas acima tem-se todas as regras comumente conhecidas
de manipulação com números reais. A seguir temos algumas dessas regras:
(i) Da Comutatividade: ∀ x ∈ R, 0 + x = x e −x+ x = 0, e ainda: 1 · x = x e x−1 · x = 1,
quando x 6= 0.
(ii) Diferença: A soma x + (−y) será indicada por x − y e denomina-se diferença entre
x, y ∈ R.
(iii) Quociente: Se y 6= 0, o produto x · y−1 pode ser representado também por x
y
e é
denominado quociente de x por y.
(iv) Subtração e Divisão: As operações (x, y) 7−→ x − y e (x, y) 7−→ x
y
são denominadas
respectivamente, subtração e divisão, com y 6= 0 para esta última.
(v) Da Distributividade: ∀ x ∈ R, x · 0 +x = x · 0 +x · 1 = x · (0 + 1) = x · 1 = x. Ou seja,
x · 0 + x = x. E somando −x a ambos os membros desta igualdade, obtemos: x · 0 = 0.
(vi) De x · y = 0, conclui-se que x = 0 ou y = 0. De fato, se y 6= 0, então pode-se
multiplicar ambos os membros de x ·y = 0 por y−1 e dáı: x ·y ·y−1 = 0 ·y−1, donde x = 0.
(vii) Da Distributividade, tem-se ainda as “regras de sinais”: x ·(−y) = (−x) ·y = −(x ·y)
e (−x) · (−y) = xy. De fato, temos: x · (−y) + x · y = x · (−y + y) = x · 0 = 0. Donde
x · (−y) + x · y = 0. Agora, somando ambos os membros desta igualdade por −(x · y),
temos: x · (−y) = −(x · y). De modo análogo, obtemos (−x) · y = −(x · y). E destas
igualdades, obtém-se: (−x) · (−y) = −[x · (−y)] = −[−(x · y)] = x · y. Em particular,
temos: (−1) · (−1) = 1.
(viii) A igualdade −(−z) = z, resulta de somar-se z a ambos os membros da igualdade:
−(−z) + (−z) = 0.
(ix) Se x, y ∈ R é tal que x2 = y2, então x = ±y. De fato, de x2 = y2, tem-se 0 =
29
x2 − y2 = (x+ y) · (x− y) e, como sabemos, o produto de dois números só é zero quando
no mı́nimo um dos fatores é zero.
4.2 R é Um Corpo Ordenado
Em outras palavras, ∃ R+ ⊂ R, denominado o Conjunto dos Números Reais Posi-
tivos, o qual cumpre as seguintes condições:
P1. A Soma e o Produto de números reais positivos são positivos, isto é: Dados x, y ∈ R+
então x+ y ∈ R+ e x · y ∈ R+.
P2. Dado x ∈ R, exatamente uma das três alternativas seguintes ocorre: ou x = 0, ou
x ∈ R+ ou −x ∈ R+.
Observações:
(1) Tomando R− como o conjunto dos números −x onde x ∈ R+, da condição P2, tem-se
R = R+ ∪ R− ∪ {0}, e ainda: R+,R− e {0} são conjuntos dois a dois disjuntos, ou seja,
R+ ∩ R− = R+ ∩ {0} = R− ∩ {0} = ∅. Podemos representar também R+ como R∗+,
e R− como R∗−, onde ∗ indica a exclusão de 0 ∈ R. E ainda, os números y ∈ R− são
denominados de negativos.
(2) Todo x ∈ R, com x 6= 0, tem quadrado positivo. De fato, se x ∈ R+, então x2 = x ·x ∈
R+, devido P1. Se x 6∈ R+, então −x ∈ R+, e ainda devido P1, tem-se x2 = (−x) · (−x) ∈
R+. E em particular, 1 é um número positivo, pois 1 = 12 = 1 · 1.
Definição 4.1. Menor/Maior. Escreve-se x < y e diz-se que x é menor do que y,
quando y − x ∈ R+, ou seja, ∃ z ∈ R+, tal que y = x+ z.
30

Mais conteúdos dessa disciplina