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CONTRATOS INTERNACIONAIS

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CONTRATOS 
INTERNACIONAIS DE 
COMPRA E VENDA
Autoria: Ane Elise Brandalise Gonçalves
Indaial - 2021
UNIASSELVI-PÓS
1ª Edição
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Reitor: Prof. Hermínio Kloch
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: 
Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Cristiane Lisandra Danna
Norberto Siegel
Camila Roczanski
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Bárbara Pricila Franz
Marcelo Bucci
Revisão de Conteúdo: Bárbara Pricila Franz
Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais
Diagramação e Capa: 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Copyright © UNIASSELVI 2021
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial.
G635c
 Gonçalves, Ane Elise Brandalise
 Contratos internacionais de compra e venda. / Ane Elise 
Brandalise Gonçalves – Indaial: UNIASSELVI, 2021.
 141 p.; il.
 ISBN 978-65-5646-317-9
 ISBN Digital 978-65-5646-316-2
1. Contratos internacionais. - Brasil. II. Centro Universitário 
Leonardo da Vinci.
CDD 340
Impresso por:
Sumário
APRESENTAÇÃO ............................................................................5
CAPÍTULO 1
Teoria Geral dos Contratos e o Direito Internacional .......... 7
CAPÍTULO 2
Aspectos Fundamentais dos Contratos Internacionais de 
Compra de Venda ......................................................................... 51
CAPÍTULO 3
Normas Aplicáveis aos Contratos Internacionais de Compra 
e Venda .......................................................................................... 97
APRESENTAÇÃO
A presente obra – “Contratos Internacionais de Compra e Venda” – visa 
colocar você em contato com os conceitos essenciais dos contratos internacionais 
e, assim, melhor compreender as dinâmicas e processos inerentes aos contratos 
internacionais de compra e venda em uma conjuntura de globalização e crescentes 
transações internacionais. 
 
Outrossim, a obra busca trazer, sob um viés interdisciplinar e com especial 
enfoque aos âmbitos do Direito Internacional Privado, Direito Interno Brasileiro, 
Relações Internacionais e Comércio Exterior, as transformações e desafios na 
construção dos princípios e valores que regem as relações jurídicas contratuais 
internacionais (nova lex mercatoria). 
 
Com esta obra, você poderá realizar uma imersão na teoria e na prática dos 
contratos internacionais e, mais especificamente, dos contratos internacionais de 
compra e venda, assim como terá respaldo para reflexões na solução de conflitos 
e de jurisdição atinentes às lides contratuais internacionais. 
Para tanto, no Capítulo 1, você iniciará os estudos com as noções básicas e 
essenciais a respeito da Teoria Geral dos Contratos, verificando a atual conjuntura 
de globalização na qual se encontram envolvidas as relações jurídicas contratuais, 
o conceito de contratos internacionais, os princípios contratuais básicos e os seus 
requisitos de validade.
Verificados os pressupostos da Teoria Geral dos Contratos e suas 
peculiaridades na esfera internacional, no Capítulo 2 você analisará os aspectos 
fundamentais dos contratos internacionais de compra de venda. Nessa toada, 
você verá o tratamento jurídico conferido pela Convenção das Nações Unidas 
sobre Contratos de Compra e Venda Internacional de Mercadorias – UNCITRAL e, 
após, constatará quais são os contratos ligados à compra e venda internacional, 
assim como refletirá sobre os contratos via internet (e-commerce). Ainda, você 
vislumbrará quais são as cláusulas contratuais essenciais (incoterms) para se ter 
presente no instrumento contratual internacional. 
Por fim, no Capítulo 3, você analisará, de modo mais aprofundado, a questão 
das normas aplicáveis aos contratos internacionais de compra e venda, presentes 
na lex mercatoria e no Direito Internacional Privado, assim como verificará como 
se dá a resolução de conflitos e escolha da lei aplicável. 
Vale ressaltar, por fim, que esta obra conta com diversas atualidades, 
buscando proporcionar uma visão macroscópica, tanto no plano teórico quanto no 
plano fático, a você. 
Bons estudos! 
CAPÍTULO 1
TEORIA GERAL DOS CONTRATOS E O 
DIREITO INTERNACIONAL
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 Apontar a importância do estudo dos contratos internacionais na atualidade.
 Defi nir o conceito de contratos internacionais.
 Enunciar os princípios básicos das relações jurídicas contratuais.
 Identifi car os requisitos de validade dos contratos internacionais.
 Discutir a crescente relevância dos contratos internacionais em uma conjuntura 
de globalização. 
 Examinar o que se entende por contratos internacionais. 
 Empregar os princípios contratuais nas relações jurídicas internacionais. 
 Esquematizar os requisitos de validade dos contratos internacionais.
8
 Contratos Internacionais de Compra e Venda
9
TEORIA GERAL DOS CONTRATOS E O DIREITO INTERNACIONAL Capítulo 1 
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Caro estudante, no primeiro capítulo, nosso estudo será dedicado à teoria 
geral do contrato e sua compreensão em um contexto globalizatório, de crescentes 
consequências e relevância no cotidiano da sociedade mundial. 
Inicialmente, analisaremos justamente esse contexto globalizatório e seus 
impactos, diretos e indiretos, nas relações contratuais internacionais. Cumpre 
ressaltar, desde logo, que a globalização é ora compreendida enquanto processo 
histórico que culmina por atingir não apenas a esfera econômica, mas também 
diversos aspectos da vida social e cultural. 
Assim, a temática das relações jurídicas internacionais demonstra-se assunto 
de suma relevância a variados atores que convivem em sociedade, de modo que 
o presente capítulo assume enfoque interdisciplinar. 
Após, examinaremos o que se entende por contratos internacionais, de 
acordo com o que preleciona a doutrina e as principais normas emanadas pelo 
Direito Internacional Público, Direito Internacional Privado, bem como pelo Direito 
Interno Brasileiro. 
Outrossim, inserido no conceito de contratos internacionais, será vislumbrado 
o seu processo de formação, ou seja, o passo-a-passo para criação e consecução 
de um contrato internacional. 
Defi nido o conceito de contratos internacionais e seu processo de formação, 
verifi caremos, com base nos ensinamentos do Instituto Internacional para a 
Unifi cação do Direito Privado (UNIDROIT), os principais princípios contratuais 
aplicáveis no âmbito internacional, como a força obrigatória dos contratos (pacta 
sunt servanda), a autonomia da vontade e a boa-fé objetiva.
Por fi m, a obra apresenta os requisitos (condições, elementos) necessários 
para que todo e qualquer contrato internacional seja considerado válido, quais 
sejam: capacidade das partes, consentimento mútuo e livre (acordo livre entre as 
partes), licitude e possibilidade do objeto, forma livre e de acordo com a autonomia 
das partes. 
Assim, convidamos você, caro estudante, a conhecer, aprofundar e realizar 
um debate crítico a respeito dos contratos internacionais em um contexto de 
globalização. Bons estudos! 
10
 Contratos Internacionais de Compra e Venda
2 AS RELAÇÕES CONTRATUAIS 
INTERNACIONAIS E A 
GLOBALIZAÇÃO
O estudo das relações contratuais internacionais na atualidade perpassa, 
necessariamente, pelos temas surgidos com o desenvolvimento do comércio 
internacional nas últimas décadas, além das preocupações com os efeitos da 
globalização sobre os variados aspectos da vida social (BASSO, 2020, p. 50). 
Com efeito, é preciso verifi car qual o contexto no qual se encontra o 
atual estágio das relações contratuais no âmbito internacional e quais as 
consequências, positivas e negativas, quese pode extrair delas. 
No convívio entre os seres humanos, inseridos em uma sociedade, os 
contratos são uma realidade inexorável no cotidiano, sendo o principal instrumento 
operacional do comércio internacional (STRENGER, 2001, p. 472). 
De acordo com os ensinamentos clássicos de Francisco Amaral 
(2018, p. 257), pode-se compreender por relação jurídica “o vínculo 
que o direito reconhece entre pessoas ou grupos, atribuindo-lhes 
poderes e deveres. Representa uma situação em que duas ou mais 
pessoas se encontram, a respeito de bens ou interesses jurídicos”.
Assim, as relações contratuais são exemplos clássicos de 
relações jurídicas, que demandam organização e cuidado por parte 
do Direito. 
Fique tranquilo(a)! Ao longo desta obra, veremos atentamente 
o tratamento jurídico conferido aos contratos internacionais e, 
sobretudo, aos contratos internacionais de compra e venda.
Não obstante, ainda que se reconheça que as relações jurídicas contratuais 
são parte do histórico da humanidade e do desenvolvimento dos sistemas 
jurídicos da civil law e da common law (MADRUGA, 1999; CRETELLA JUNIOR, 
2009; ROPPO, 2009), também se verifi ca que os contratos internacionais são 
cada vez mais presentes, com a facilitação de acesso de diferentes locais e em 
menor espaço de tempo, maior mobilidade de pessoas e de bens etc. 
11
TEORIA GERAL DOS CONTRATOS E O DIREITO INTERNACIONAL Capítulo 1 
A globalização é fenômeno, processo que pode explicitar a maior 
interconectividade contratual, mas ela não se limita apenas ao aspecto puramente 
jurídico ou, ainda, à esfera econômica. 
Por ser um tema interdisciplinar e complexo, que envolve variados aspectos 
da vida social, política e cultural, não há um conceito único e defi nitivo do que seja 
a globalização, de quais sejam suas origens ou de quais seriam seus impactos 
aos diversos atores sociais (estatais ou não estatais). 
De início, a respeito das origens da globalização, apesar de ser um tema 
“da moda” e associado à atualidade, observam os teóricos que o processo 
globalizatório advém, desde muito, perfi lhando-se à ideia de que a globalização 
conta com fases históricas relevantes para seu advento e crescimento, partindo-
se do crescimento comercial proporcionado pelas grandes navegações e 
expansão econômica e hegemônica europeia dos séculos XV e XVI (BAUMAN, 
1999; GRAMSCI, 1989). 
Ainda que haja teóricos que possam atribuir uma visão crítica, no sentido de 
que a globalização valer-se-ia, em realidade, de metáforas por vezes falaciosas 
(IANNI, 1997), com nomenclatura dissimulada para designar um capitalismo 
desigual (CHESNAIS, 1996; STIGLITZ, 2007), tal fenômeno é realidade a ser 
estudada e da qual a humanidade já não mais consegue se desvencilhar, sobretudo 
quando se verifi ca seus impactos nas relações contratuais internacionais.
A título exemplifi cativo, na era atual é possível realizar compras e vendas 
internacionais em meio eletrônico sem que o consumidor tenha de se locomover 
ou sair de casa. É possível, ainda, realizar viagens internacionais com maior 
facilidade e menor espaço de tempo que em tempos pretéritos etc. Por outro lado, 
estar conectado o tempo todo e ter de buscar o lucro incessante em outros povos 
e culturas, em competição constante, também parecem ser fatores inerentes a 
um mesmo processo globalizatório. 
Desse modo, a globalização pode trazer aspectos positivos, mas também 
negativos, o que faz com que o debate sobre os efeitos e as consequências da 
globalização seja constante e presente nas agendas tanto dos Estados quanto de 
outros atores, a exemplo das empresas transnacionais. 
Conforme nota Zygmunt Bauman (1999, p. 7): “Para alguns, ‘globalização’ é 
o que devemos fazer se quisermos ser felizes; para outros, é a causa da nossa 
infelicidade. Para todos, porém, ‘globalização’ é o destino irremediável do mundo 
e um processo irreversível”. 
12
 Contratos Internacionais de Compra e Venda
Dica de Filme para assistir
O fi lme documentário “American Factory” (“Indústria Americana”), 
de 2019, retrata a chegada de empresa transnacional chinesa em 
território americano, trazendo refl exões a respeito do modo de 
vida ocidental e oriental, costumes, convivência e problemáticas 
relacionadas ao emprego e ao trabalho. 
Vencedor do Oscar de melhor documentário internacional 
(2020), vale conferir o fi lme para refl etir justamente os impactos 
positivos e negativos da globalização nas relações contratuais 
trabalhistas e empresariais. Disponível na plataforma Netfl ix.
De todo modo, cumpre-nos realizar uma breve tentativa de defi nir o que 
seria a globalização, ainda que minimamente e considerando os seus principais 
aspectos, para fi ns de delimitar nosso objeto de estudo neste primeiro capítulo da 
obra. 
Conforme visto há pouco, a globalização não possui data marcada de 
nascimento ou de falecimento, sendo contextualizada, na literatura, como um 
processo histórico, de constante aprofundamento, marcado por uma modifi cação e 
intensifi cação das estruturas e relações sociais, econômicas e culturais no mundo 
todo e com a compressão do tempo e do espaço (GIDDENS, 2000; HARVEY, 
1989). 
Ainda, em relação ao Estado, vale frisar que o aprofundamento do processo 
globalizatório implica, por um lado, uma desterritorialização e crescimento da ideia 
de supranacionalidade, a exemplo maior dos blocos econômicos, mas, por outro 
lado, também pode implicar a incidência de relativa nacionalização do poder. 
Cuidado: a globalização não é um processo exclusivamente estatal, 
uma vez que envolve variados atores sociais que não são necessariamente 
estatais, a exemplo maior dos blocos econômicos – de caráter supranacional ou 
intergovernamental), das grandes empresas transnacionais, das organizações 
internacionais não governamentais etc. 
13
TEORIA GERAL DOS CONTRATOS E O DIREITO INTERNACIONAL Capítulo 1 
Acerca dos blocos econômicos, de incidência signifi cativa às 
relações contratuais internacionais, visite os seguintes sites: 
• União Europeia  Bloco econômico de caráter supranacional, 
composto por atuais 27 Estados-membros localizados na região 
da Europa. Vide em: https://europa.eu/european-union/index_pt. 
• MERCOSUL (Mercado Comum do Sul)  Bloco econômico 
intergovernamental, do qual faz parte, desde as suas origens, o 
Brasil. Visite: https://www.mercosur.int/pt-br/.
• ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático)  Bloco 
econômico que engloba uma diversidade de Estados localizados 
no sudeste asiático e que parece ser um dos grandes destaques 
na atualidade. Vide em: https://asean.org/. 
• RCEP (Parceria Econômica Regional Abrangente)  Tratado 
de livre-comércio realizado entre diversos blocos econômicos e 
países da Ásia, incluindo a China (total de 15 países asiáticos). 
Foi assinado em novembro de 2020 e promete ser um dos 
maiores blocos econômicos do globo terrestre. Analise em: 
https://www.channelnewsasia.com/news/business/rcep-trade-
pact-asean-summit-singapore-china-13534960.
Vale frisar que, apesar de a globalização ser um fenômeno, um processo 
interdisciplinar, a presente obra possui como recorte, enfoque maior, a 
globalização em sua vertente econômica e seus efeitos no mundo jurídico e, mais 
especifi camente, na esfera dos contratos internacionais de compra e venda. 
Veja como o conceito de globalização foi cobrado no concurso 
público para Advogado da Câmara do Município de Jaguapitã-PR: 
(2015, Câmara de Jaguapitã – PR, Banca FAUEL, Advogado)
Assinale a alternativa que melhor defi ne o conceito de “globalização”:
a) Processo histórico que afeta determinados aspectos da 
sociedade, como as comunicações e o comércio internacional, 
mas pouco interfere na movimentação de pessoas e recursos 
pelo mundo.
14
 Contratos Internacionais de Compra e Venda
b) É parte integrante de um movimento histórico mais amplo: a 
ampliação da hegemonia econômica, política e cultural do Oriente 
sobre as nações ocidentais.c) Por ser um fenômeno estatal, independe da evolução espontânea 
do mercado capitalista e é direcionado por uma única entidade 
política: o governo dos Estados Unidos da América.
d) É um processo histórico, de longa duração, caracterizado pelo 
aprofundamento da integração econômica, social, cultural e 
política entre as diversas partes do mundo.
Em suma: as relações contratuais internacionais possuem intrínseca relação 
com a globalização, uma vez que ela é, em linhas gerais, processo histórico de 
aprofundamento constante, que culmina por impactar diversas esferas da vida 
social, cultural, política e econômica. Realizada a análise de conjuntura das 
relações contratuais internacionais, cumpre-nos verifi car o que se entende por 
contratos internacionais e qual seu processo de formação. 
3 CONCEITO DE CONTRATOS 
INTERNACIONAIS
Conforme observa Irineu Strenger (2001, p. 467), “estudar os contratos 
internacionais, sem determinar-lhes a natureza jurídica, equivaleria a uma cirurgia 
sem nenhum conhecimento de anatomia, no caso, anatomia descritiva”. 
Assim, é preciso ressaltar, desde logo, que os contratos, sejam internacionais 
ou nacionais, são negócios jurídicos que ocorrem pela voluntariedade livre das 
partes envolvidas, sendo bases de estudos da teoria dos atos jurídicos. 
De tal modo, esclarecido em um primeiro momento que o contrato 
internacional possui natureza jurídica de negócio jurídico, cumpre ressaltar a 
problemática doutrinária e prática na identifi cação de um contrato como sendo 
internacional ou não. 
Com efeito, não há uma concepção uniforme e aplicável a todo globo terrestre 
do que se entende por contrato internacional, nem há um único Código, aplicável a 
15
TEORIA GERAL DOS CONTRATOS E O DIREITO INTERNACIONAL Capítulo 1 
toda e qualquer situação ou pessoa natural/jurídica, a defi nir determinada relação 
jurídica como contratual internacional (CASELLA, 1990; MUIR WATT, 2019). 
Logo, nem todo contrato será internacional, exigindo-se a presença do 
requisito da internacionalidade ou da estraneidade, o que pode variar de caso a 
caso, face ao ordenamento jurídico ao qual se submete, exigindo, assim, análise 
sistemática e macroscópica dos elementos envolvidos (MUIR WATT, 2019). 
São exemplos de elementos indicativos de estraneidade, aptas a possibilitar 
a aplicação de outros ordenamentos jurídicos, o domicílio, residência ou 
sede social das partes; o local de assinatura do contrato; a nacionalidade 
dos envolvidos, entre outros dos quais se vale, com enfoque maior no Direito 
Internacional Privado. 
Portanto, em linhas gerais e sob uma perspectiva teórica, pode-se defi nir 
contrato internacional como: 
[...] um acordo de vontades que está potencialmente sujeito 
a dois ou mais sistemas jurídicos estrangeiros. Para que isto 
ocorra, ou seja, para que um contrato esteja potencialmente 
sujeito a dois ou mais ordenamentos jurídicos, há que se 
identifi carem os elementos de estraneidade do contrato, bem 
como verifi car se este elemento de estraneidade é relevante 
ou não. (SEGRE, 2018, p. 215)
Nessa toada, podemos constatar que os contratos internacionais se 
diferenciam dos contratos internos, na medida em que eles fi cam sujeitos apenas 
ao regime jurídico estipulado no direito interno e com elementos territorialmente 
limitados, ao passo que os contratos internacionais são, por defi nição, 
extraterritoriais (CASELLA, 1990, p. 130). 
Observa Irineu Strenger que o contrato internacional de comércio possui 
peculiaridades que o diferenciam do mero contrato interno na medida em 
que se trata de “verdadeiro complexo de situações oriundas de metodologia 
interdisciplinar, de natureza vinculante e, especialmente, de caráter abrangente 
dos múltiplos planos fi losófi co, político, econômico e social, além dos substratos 
jurídicos, que informam essas realidades” (STRENGER, 2001, p. 467).
Mais especifi camente, leciona Irineu Strenger (2001) que os contratos 
internacionais possuem as seguintes características que os diferenciam dos 
contratos clássicos e internos: 
• são contratos marcados pelo fenômeno de sua duração – longas 
negociações, execução prolongada, presença de mecanismos de 
adaptação e de revisão; 
16
 Contratos Internacionais de Compra e Venda
• tecnicidade dos contratos – cláusulas contratuais relativamente breves 
em relação às cláusulas técnicas (as primeiras normalmente redigidas 
de última hora, após longos meses de negociações);
• as partes têm a preocupação de assegurar a sobrevivência do contrato a 
todas as vicissitudes, em razão dos consideráveis interesses em jogo; 
• as partes, outrossim, não se preocupam somente em salvaguardar 
suas boas relações recíprocas, mas também de não se isolar do meio 
negocial em que atuam, por exercício excessivamente detalhista de seus 
direitos, ou violação fl agrante de suas obrigações. 
Neste diapasão, o professor Irineu Strenger propõe a seguinte defi nição: 
“um contrato é internacional, desde que seja conectado a normas jurídicas 
emanadas de vários Estados, em razão, notadamente, de seu lugar de conclusão 
ou execução, da localização de seu objeto, da nacionalidade ou do domicílio das 
partes” (STRENGER, 2001, p. 470-471).
Por fi m, lembram Jacob Dolinger e Carmen Tiburcio que os Princípios da 
Haia sobre Escolha da Lei em Contratos Comerciais Internacionais, de 2015, 
aduzem que “um contrato é internacional a não ser que todas as partes tenham 
seu estabelecimento no mesmo Estado e a relação entre as partes e todos 
os outros elementos relevantes, independentemente da lei escolhida, estão 
conectados apenas a esse Estado” (DOLINGER; TIBURCIO, 2020, p. 893-894).
Como exemplo de contratos internacionais, pode-se mencionar a 
fusão, ocorrida em janeiro de 2021, entre empresas automobilísticas 
transnacionais (fusão entre Fiat – origem da Itália, Chrysler – origem 
dos Estados Unidos, e Peugeot Citroën – origem da França) e 
formação de novo grupo (Stellantis), considerado o 4º (quarto) maior 
do mundo. 
A Stellantis terá sede localizada na Holanda e conterá ações 
nas bolsas de Paris, Milão e Nova York. Além disso, manterá 
estabelecimentos empresariais ao longo de variados países, 
incluindo o Brasil. 
Video a notícia completa em: 
https://jornaldocarro.estadao.com.br/carros/stellantis-o-que-muda-
com-a-fusao-entre-fi at-chrysler-e-peugeot-citroen/.
17
TEORIA GERAL DOS CONTRATOS E O DIREITO INTERNACIONAL Capítulo 1 
Os contratos de compra e venda de mercadorias podem ser, assim, contratos 
internacionais, sendo, inclusive, considerados como via relevante de crescimento 
de Estados e de empresas no comércio internacional. 
Veremos, de forma mais específi ca os contratos internacionais de compra e 
venda de mercadorias em capítulo próprio para tanto, destacando seus elementos 
específi cos e cláusulas comerciais essenciais. 
De todo modo, é bom notar, desde logo, que o contrato internacional de 
compra e venda se trata do instrumento essencial da exportação e da importação, 
sem o qual não haverá qualquer processo a ser analisado pelo agente do comércio 
exterior. 
Saiba diferenciar o conceito de contratos internacionais de 
tratados internacionais! 
A diferença é sutil (mas de notórios impactos jurídicos), pois 
tanto os contratos quanto os tratados internacionais guardam as 
características de serem acordos oriundos de negociações mútuas e 
concluídos segundo os requisitos de validade. 
Conforme explica o professor Valério de Oliveira Mazzuoli, à 
luz do artigo 2, item 1, “a”, da Convenção de Viena sobre o Direito 
dos Tratados (1969), a regência dos tratados internacionais pelo 
Direito Internacional Público dá o tom que o destaca dos contratos 
internacionais comuns da vida comercial, cujos cuidados jurídicos 
fi cam a cargo principalmente do Direito Internacional Privado e de 
leis internas. 
Assim, a título exemplifi cativo, pode-se dizer que, nas relações 
exteriores de um Estado, este pode realizar tratados internacionais,hipótese em que se sujeitará às normas do Direito Internacional 
Público, ou, então, quando estiver na qualidade de agente particular, 
pode pactuar contratos internacionais, quando, então, deverá 
observar as lições do Direito Internacional Privado e do ordenamento 
interno de regência do contrato (MAZZUOLI, 2011, p. 47-48).
Não obstante, por certo, há de se notar que o Direito Internacional 
Público e o Direito Internacional Privado possuem uma relação 
sistêmica, e não estanque, de modo que ambos contribuem para 
auxílio da compreensão geral das relações jurídicas internacionais e 
de seus confl itos. 
18
 Contratos Internacionais de Compra e Venda
Acerca da formação do contrato internacional, cumpre notar que ele não 
é mero documento que nasce pronto ou que advém de simples modelo, mas 
que perpassa, regra geral, por variadas etapas essenciais para a consecução 
do negócio jurídico pretendido, com o objetivo de satisfazer as partes e, assim, 
proporcionar maior confi abilidade. 
Segundo observa Flávio Tartuce (2020, p. 170-183), são as fases de 
formação do contrato, seja nacional ou internacional: 
• fase de negociações preliminares ou de pontuação;
• fase de proposta, policitação ou oblação;
• fase de contrato preliminar;
• fase de contrato defi nitivo. 
 Vamos comentar, de forma simplifi cada, cada fase. 
• Fase de negociações preliminares ou de pontuação
Tal fase é de suma relevância na realização de um contrato internacional, 
porquanto consiste em “conversações prévias, sondagens e estudos sobre os 
interesses de cada contratante, tendo em vista um contrato futuro” (TARTUCE, 
2020, p. 171). Via de regra, as negociações preliminares não vinculam as partes, 
contudo, é preciso verifi car, no caso específi co colocado, o que cada ordenamento 
jurídico envolvido leciona a respeito. 
Nas negociações preliminares, é importante considerar aspectos como a 
cultura dos atores, tempo necessário para reuniões entre os envolvidos, custos 
da produção e da escolha do local do contrato etc. Afi nal, é nas negociações que 
será traçado o processo de importação/exportação a ser delimitado no contrato 
internacional a ser pactuado pelas partes. 
No meio internacional, a fase de negociações preliminares exige atenção 
redobrada, por envolver aspectos não somente jurídicos, mas também análises 
econômicas, questões de concorrência, estudo dos interesses políticos e custos 
fi scais etc. (STRENGER, 2001, p. 470). 
Considerando a importância desse processo negocial, estudaremos as 
negociações nos contratos internacionais de compra e venda em tópico próprio, 
com o objetivo de enfatizar a atuação dessa etapa na internacionalização de 
agentes e de empresas, assim como ressaltar a possibilidade de evitar confl itos e 
melhor gerir problemáticas que possam surgir no decorrer da execução contratual. 
19
TEORIA GERAL DOS CONTRATOS E O DIREITO INTERNACIONAL Capítulo 1 
• Fase de proposta, policitação ou oblação
Trata-se da fase da oferta, também denominada de policitação ou, ainda, 
de oblação, consistente em “declaração unilateral de vontade receptícia, ou seja, 
que só produz efeitos ao ser recebida pela outra parte” (TARTUCE, 2020, p. 175). 
Para tanto, a proposta deverá ser indicada pelo proponente (policitante/
solicitante) de forma clara, precisa e defi nitiva. De outro lado, o policitado/oblato/
solicitado será aquele que recebe a proposta e, se a aceitar, torna-se o aceitante 
ou, ainda, passa a formular uma contraproposta (TARTUCE, 2020, p. 175). 
A oferta se distingue das negociações preliminares na medida em que 
encerra, em si mesma, o objetivo e a possibilidade de alcançar a celebração do 
contrato. E, após, com a aceitação, pode-se dizer que há vínculo entre as partes 
a ser observado e respeitado (CASELLA, 1990, p. 125), com a possibilidade de 
geração de efeitos jurídicos relevantes, a depender do ordenamento jurídico ao 
qual escolheram se submeter as partes ou ao qual determina a lei. 
No caso específi co do contrato internacional de compra e venda de 
mercadoria, tem-se que a oferta, na qual se encontra as principais condições 
do contrato, é dada via simples fatura pro forma ao importador. A oferta aceita 
por este, o exportador passa a emitir a fatura comercial ou defi nitiva, consistente 
no documento principal no qual se expressa o contrato de compra e venda 
internacional de mercadorias (SEGRE, 2018, p. 219). 
É importante notar, ainda, que a Convenção das Nações Unidas para a Venda 
Internacional de Mercadorias (CISG), que rege grande parte desses contratos 
internacionais de compra e venda de mercadorias, cuida do assunto “formação 
dos contratos” e contém normas específi cas, nos artigos 14 a 24, a respeito da 
proposta e da aceitação, assim como das consequências dessas declarações de 
vontade para fi ns de que o contrato seja concluído em conformidade com essa 
Convenção. Observe: 
PARTE II – Formação do Contrato
Artigo 14
(1) Para que possa constituir uma proposta, a oferta de 
contrato feita a pessoa ou pessoas determinadas deve ser 
sufi cientemente precisa e indicar a intenção do proponente 
de obrigar-se em caso de aceitação. A oferta é considerada 
sufi cientemente precisa quando designa as mercadorias e, 
expressa ou implicitamente, fi xa a quantidade e o preço, ou 
prevê meio para determiná-los.
(2) A oferta dirigida a pessoas indeterminadas será considerada 
apenas um convite para apresentação de propostas, salvo se 
o autor da oferta houver indicado claramente o contrário.
20
 Contratos Internacionais de Compra e Venda
Artigo 15
(1) A proposta se torna efi caz quando chega ao destinatário.
(2) Ainda que seja irrevogável, a proposta pode ser retirada, 
desde que a retratação chegue ao destinatário antes da própria 
proposta, ou simultaneamente a ela.
Artigo 16
(1) A proposta poderá ser revogada até o momento da 
conclusão do contrato, se a revogação chegar ao destinatário 
antes de este expedir a aceitação.
(2) A proposta não poderá, porém, ser revogada:
(a) se fi xar prazo para aceitação, ou por outro modo indicar 
que seja ela irrevogável;
(b) se for razoável que o destinatário a considerasse irrevogável 
e tiver ele agido em confi ança na proposta recebida.
Artigo 17
Mesmo sendo irrevogável, a proposta de contrato extinguir-
se-á no momento em que chegar ao proponente a recusa 
respectiva.
Artigo 18
(1) Constituirá aceitação a declaração, ou outra conduta do 
destinatário, manifestando seu consentimento à proposta. O 
silêncio ou a inércia deste, por si só, não importa aceitação.
(2) Tornar-se-á efi caz a aceitação da proposta no momento em 
que chegar ao proponente a manifestação de consentimento 
do destinatário. A aceitação não produzirá efeito, entretanto, se 
a respectiva manifestação não chegar ao proponente dentro 
do prazo por ele estipulado ou, à falta de tal estipulação, 
dentro de um prazo razoável, tendo em vista as circunstâncias 
da transação, especialmente a velocidade dos meios de 
comunicação utilizados pelo proponente. A aceitação da 
proposta verbal deve ser imediata, salvo se de outro modo as 
circunstâncias indicarem.
(3) Se, todavia, em decorrência da proposta, ou de práticas 
estabelecidas entre as partes, ou ainda dos usos e costumes, 
o destinatário da proposta puder manifestar seu consentimento 
através da prática de ato relacionado, por exemplo, com a 
remessa das mercadorias ou com o pagamento do preço, ainda 
que sem comunicação ao proponente, a aceitação produzirá 
efeitos no momento em que esse ato for praticado, desde que 
observados os prazos previstos no parágrafo anterior.
Artigo 19
(1) A resposta que, embora pretendendo constituir aceitação 
da proposta, contiver aditamentos, limitações ou outras 
modifi cações, representará recusa da proposta, constituindo 
contraproposta.
(2) Se, todavia, a resposta que pretender constituir aceitação 
contiver elementos complementares ou diferentes mas que 
não alterem substancialmente as condições da proposta, tal 
resposta constituiráaceitação, salvo se o proponente, sem 
demora injustifi cada, objetar verbalmente às diferenças ou 
envie uma comunicação a respeito delas. Não o fazendo, as 
condições do contrato serão as constantes da proposta, com 
as modifi cações contidas na aceitação.
21
TEORIA GERAL DOS CONTRATOS E O DIREITO INTERNACIONAL Capítulo 1 
(3) Serão consideradas alterações substanciais das 
condições da proposta, entre outras, as adições ou diferenças 
relacionadas ao preço, pagamento, qualidade e quantidade 
das mercadorias, lugar e momento da entrega, extensão da 
responsabilidade de uma das partes perante a outra ou o meio 
de solução de controvérsias.
Artigo 20
(1) O prazo de aceitação fi xado pelo proponente em telegrama 
ou carta começará a fl uir no momento em que o telegrama 
for entregue para expedição, ou na data constante da carta, 
ou, à falta desta, na data que constar do envelope. O prazo 
de aceitação que o proponente fi xar por telefone, telex ou 
outro meio de comunicação instantâneo começará a fl uir no 
momento em que a proposta chegar ao destinatário.
(2) Serão considerados na contagem de prazo os feriados 
ofi ciais ou os dias não úteis nele compreendidos. Todavia, 
caso a comunicação de aceitação não possa ser entregue no 
endereço do autor da proposta no último dia do prazo, por ser 
feriado ou dia não útil no local do estabelecimento comercial do 
proponente, o prazo considerar-se-á prorrogado até o primeiro 
dia útil subsequente.
Artigo 21
(1) A aceitação tardia produzirá efeito de aceitação caso 
o proponente, sem demora, informe verbalmente ou envie 
comunicação neste sentido ao destinatário.
(2) Se a carta ou outra comunicação escrita contendo 
aceitação tardia revelar ter sido expedida em condições tais 
que chegaria a tempo ao proponente caso a transmissão fosse 
regular, a manifestação tardia produzirá efeito de aceitação, 
salvo se o proponente, sem demora, informar ao destinatário 
que considera expirada sua proposta, ou enviar comunicação 
para este efeito.
Artigo 22
A aceitação poderá ser retirada desde que a retratação chegue 
ao proponente antes ou no momento em que a aceitação se 
tornaria efi caz.
Artigo 23
Considerar-se-á concluído o contrato no momento em que 
a aceitação da proposta se tornar efi caz, de acordo com as 
disposições desta Convenção.
Artigo 24
Para os fi ns desta Parte da Convenção, se considerará que 
a proposta, a manifestação de aceitação ou qualquer outra 
manifestação de intenção “chega” ao destinatário quando 
for efetuada verbalmente, ou for entregue pessoalmente 
por qualquer outro meio, no seu estabelecimento comercial, 
endereço postal, ou, na falta destes, na sua residência habitual. 
(BRASIL, 2014)
• Fase de contrato preliminar
A fase de contrato preliminar, normalmente associada a negócios jurídicos 
que demandem maior tempo para concretização, é etapa voltada para conferir 
22
 Contratos Internacionais de Compra e Venda
maior segurança às partes, sendo vínculo anterior ao contrato e ilustrado pela via 
de instrumento que fi xa os elementos do contrato principal, a exemplo maior da 
carta de intenções. 
Nas palavras da doutrina clássica, o contrato preliminar trata-se de acordo 
“por via do qual ambas as partes ou uma delas se compromete a celebrar 
mais tarde outro contrato, que será o principal” (PEREIRA, 2020, p. 112). 
Apesar de não ser etapa obrigatória aos contratos internacionais, é altamente 
recomendável para fi ns de garantir maior segurança jurídica e para dispor sobre a 
ciência das partes em torno dos riscos envolvidos.
• Fase de contrato defi nitivo
Trata-se da fase na qual o contrato estará aperfeiçoado, gerando todas 
as suas consequências jurídicas (a exemplo maior da responsabilidade civil 
contratual) e sintetizando o “choque ou encontro de vontades originário da 
liberdade contratual ou autonomia privada” (TARTUCE, 2020, p. 183). É, pois, o 
negócio jurídico volitivo aperfeiçoado. 
Ademais, o contrato defi nitivo é considerado o instrumento de trabalho a ser 
seguido pontualmente pelas partes, de modo que se trata de negócio jurídico não 
apenas pertinente de análise na solução de eventual confl ito ou problema jurídico 
a ser solucionado, como também é pacto que deve guiar toda execução contratual 
com vistas ao atendimento dos interesses das partes (STRENGER, 2001, p. 466). 
No caso de contrato internacional de compra e venda de mercadorias regidos 
pela CISG, entende-se concluído o contrato quando a aceitação da proposta se 
tornar efi caz, conforme artigo 24. Note-se que “a distância entre o exportador e 
o importador determina que o Contrato de Compra e Venda Internacional de 
Mercadorias seja um contrato de tipo consensual, quer dizer, que não requer 
expressão escrita nem formalidades para sua elaboração” (SEGRE, 2018, p. 218). 
Inclusive, na aplicação prática da Convenção das Nações Unidas sobre 
Contratos de Compra e Venda Internacional de Mercadorias (UNCITRAL), já 
entendeu o Tribunal da Áustria (Caso 1 R 273/07t) que a conduta consistente em 
um aperto de mão pelas partes já perfaz um contrato, pactuando o entendimento 
de que não há necessidade do contrato internacional ser escrito para ter efi cácia 
jurídica (CISG CASE PRESENTATION, 2007).
Ainda assim, por mais que tais contratos dispensem formalidades, é 
imprescindível a todo e qualquer negócio jurídico observar alguns princípios 
básicos, assim como é necessário que cumpra com os requisitos de validade. 
Confi ra mais sobre esses requisitos nos próximos tópicos! 
23
TEORIA GERAL DOS CONTRATOS E O DIREITO INTERNACIONAL Capítulo 1 
Leia a notícia abaixo e, após, verifi que em qual fase contratual 
encontra-se a venda da fábrica automotiva situada na Bahia: 
“Ford: Bahia já procura marcas chinesas interessadas na fábrica
O governo da Bahia já está em busca de compradores para a 
fábrica da Ford em Camaçari, que foi fechada imediatamente pela 
montadora americana, assim como Taubaté, no Vale do Paraíba. A 
planta da Troller no Ceará fecha no quarto trimestre.
De volta à Bahia, o governador Rui Costa (PT) vai buscar montadoras 
chinesas interessadas em adquirir a fábrica da Ford para manter 
a produção de veículos no estado e garantir que a mão de obra 
especializada não se perca.
Rui Costa já entrou em contato com a Embaixada da China no Brasil, 
objetivando o interesse de fabricantes daquele país. Além disso, o 
governador vai criar um grupo de trabalho com a Federação das 
Indústrias da Bahia, de modo a buscar alternativas para a planta da 
Ford.
Com repercussão internacional, o fechamento das fábricas da Ford 
no Brasil também teve refl exos nas mais diversas áreas da economia 
nacional.
[...]
Marcas como Changan, BYD e Geely estão em expansão para fora 
da China e essa fábrica da Ford, diferente de Taboão, parece bem 
mais atrativa para uma operação brasileira.
Além disso, os incentivos fi scais regionais foram estendidos até 
2025, o que torna a planta mais interessante para quem está 
chegando. Das marcas citadas, apenas a BYD tem fábrica no Brasil, 
em Campinas, onde faz chassis de ônibus elétricos”.
Leia mais em: https://www.noticiasautomotivas.com.br/ford-bahia-ja-
procura-marcas-chinesas-para-compra-de-fabrica/. Acesso em: 12 
jan. 2021. 
24
 Contratos Internacionais de Compra e Venda
4 PRINCÍPIOS CONTRATUAIS 
BÁSICOS NO ÂMBITO 
INTERNACIONAL
Nas relações jurídicas contratuais, é imprescindível observar os princípios 
contratuais básicos no âmbito internacional, que compõem, em conjunto com 
as regras costumeiras, o que se denomina de lex mercatoria (AGUIAR JÚNIOR, 
2016, p. 1408). 
Saliente-se desde logo que os princípios contratuais abaixo trazidos são 
elencados apenas a título exemplifi cativo (ou seja: não compõem um rol taxativo), 
assim como servem a toda e qualquer relação jurídica contratual internacional. 
Referidos princípios, inclusive, são relevantes para fi ns de interpretação da 
Convenção das Nações Unidas sobre Contratos de Compra e Venda Internacionalde Mercadorias (CISG), conforme preleciona o artigo 7, em destaque: 
Artigo 7
(1) Na interpretação desta Convenção ter-se-ão em conta 
seu caráter internacional e a necessidade de promover a 
uniformidade de sua aplicação, bem como de assegurar o 
respeito à boa fé no comércio internacional.
(2) As questões referentes às matérias reguladas por esta 
Convenção que não forem por ela expressamente resolvidas 
serão dirimidas segundo os princípios gerais que a 
inspiram ou, à falta destes, de acordo com a lei aplicável 
segundo as regras de direito internacional privado. (BRASIL, 
2014, grifo nosso)
Assim, são diversos, e em constante evolução, os princípios atinentes às 
relações jurídicas contratuais internacionais. Para tanto, o Instituto Internacional 
para a Unifi cação do Direito Privado (UNIDROIT) procurou compilar e uniformizar 
os mais essenciais princípios aplicáveis aos contratos internacionais, sendo eles 
conhecidos popularmente como “Princípios do UNIDROIT”. 
25
TEORIA GERAL DOS CONTRATOS E O DIREITO INTERNACIONAL Capítulo 1 
O Instituto Internacional para a Unifi cação do Direito Privado 
(UNIDROIT) consiste em uma organização intergovernamental 
independente, voltada aos estudos do Direito Internacional Privado, 
com sede localizada em Roma, Itália. 
Trata-se de instituição relevante ao ramo jurídico dos Contratos 
Internacionais, na medida em que possui diversos estudos e 
princípios (com caráter de soft law, ou seja, sem força vinculante) 
com vistas à harmonização e uniformização das normas atinentes ao 
comércio internacional. 
Visite o site ofi cial do Instituto Internacional para a Unifi cação do 
Direito Privado (UNIDROIT) em: https://www.unidroit.org/. 
Dentre os princípios do UNIDROIT, consistentes também em princípios 
gerais aplicáveis às relações contratuais internas, cumpre destacar os seguintes, 
considerados essenciais ao desenvolvimento das relações jurídicas contratuais 
internacionais: 
• princípio da força obrigatória do contrato (pacta sunt servanda);
• princípio da autonomia da vontade;
• princípio da boa-fé objetiva.
 Vejamos, especifi camente, cada um. 
• Princípio da força obrigatória do contrato (pacta sunt servanda) 
O princípio da força obrigatória do contrato, instituído pelo brocardo pacta 
sunt servanda, em simples palavras, signifi ca que o contrato, uma vez fi rmado 
e válido, faz “lei entre as partes”, ou seja, que gera efeitos jurídicos vinculativos 
entre contratante e contratado (PEREIRA, 2020, p. 53). 
Ainda, de acordo com tal princípio, uma vez vinculado o contrato entre as 
partes e preenchidos os requisitos de validade, não pode qualquer uma delas 
negar o vínculo obrigacional para se exonerar do cumprimento das obrigações a 
que se comprometeu cumprir. Ou seja: uma vez realizado o contrato, deverá ele 
ser cumprido ponto a ponto, em sua integralidade e com vistas a concretizar o 
negócio jurídico pactuado. 
26
 Contratos Internacionais de Compra e Venda
Contudo, hodiernamente, o princípio da força obrigatória do contrato não 
é considerado absoluto, podendo comportar exceções em face de situações 
de força maior, podendo ser mitigado para fi ns de aplicação da lei interna de 
determinado Estado. 
Outrossim, o princípio da força obrigatória do contrato pode ser relativizado 
face à necessidade de obediência às regras imperativas do ordenamento jurídico 
a que se encontra submetido, a exemplo maior dos contratos internacionais 
consumeristas e contratos internacionais trabalhistas, que contam com tratamento 
diferenciado no âmbito brasileiro e no âmbito internacional, na medida em que 
demandam maior proteção face às vulnerabilidades da parte consumidora ou 
trabalhadora. 
• Princípio da autonomia da vontade
De modo geral, a autonomia da vontade é a “aptidão que possui toda pessoa 
capaz, pela vontade unilateral ou pelo concurso de vontades, de criar, modifi car 
ou extinguir relações jurídicas” (BASSO, 1996, p. 198). 
O princípio da autonomia da vontade, corolário da disciplina de Direito 
Internacional Privado e do tratamento conferido às relações contratuais 
internacionais, possui diversos enfoques e múltiplas nuances. Assim, sob um 
ponto de vista processual do Direito Internacional Privado, a doutrina tende a 
enfatizar a autonomia da vontade enquanto possibilidade de escolha, via contrato, 
da lei aplicável ou escolha atinente ao foro judicial ou arbitral (da arbitragem) 
competente para dirimir possíveis controvérsias/omissões oriundas da relação 
contratual. 
Já sob um ponto de vista inicial, relacionado às noções gerais do contrato 
internacional, pode-se dizer que o princípio da autonomia da vontade guarda o 
sentido de liberdade de contratar, sem a qual não há como uma relação jurídica 
contratual ser iniciada ou válida. É esse, pois, o signifi cado que mais nos 
interessa, ao menos por ora. 
A liberdade de contratar, além de expressar a escolha de quem e quando vai 
contratar, também traz a possibilidade de estipular, em igualdade de condições, 
determinadas cláusulas pelas partes e possibilidade de negociações a respeito 
do contrato visado. 
Ressalva-se, nesse ponto, os contratos de adesão, cuja margem de liberdade 
não é tão ampla quanto nos contratos cujas partes encontram-se em igualdade 
de condições para discussão da redação conferida às cláusulas negociais. Desse 
27
TEORIA GERAL DOS CONTRATOS E O DIREITO INTERNACIONAL Capítulo 1 
modo, os contratos de adesão, sobretudo quando comporem relações contratuais 
consumeristas, podem mitigar o princípio da autonomia da vontade das partes. 
Conforme explica Maristela Basso (1996, p. 199), “nos contratos 
internacionais as limitações à autonomia das partes decorrem tanto das noções 
de ordem pública interna, como de ordem pública internacional”.
Por isso mesmo, face às limitações objetivas e nova roupagem conferida 
ao princípio, para parte da doutrina é melhor valer-se do termo “princípio da 
autonomia privada” ao invés de “princípio da autonomia da vontade” (TARTUCE, 
2020, p. 60; AMARAL, 2018, p. 361). 
Por fi m, a autonomia da vontade, como ideia de liberdade contratual, 
também traz a noção de possibilidade de realização do contrato internacional sem 
a necessidade de maiores formalidades, e parece facilitar as trocas comerciais 
em uma conjuntura globalizada. 
No âmbito dos contratos internacionais de compra e venda de mercadorias 
regidos pela Convenção das Nações Unidas sobre Contratos de Compra e Venda 
Internacional de Mercadorias (CISG), preleciona que não há a necessidade de 
observância de forma específi ca, conforme dispõe o artigo 11: “o contrato de 
compra e venda não requer instrumento escrito nem está sujeito a qualquer 
requisito de forma. Poderá ele ser provado por qualquer meio, inclusive por 
testemunhas” (BRASIL, 2014).
• Princípio da boa-fé objetiva
O princípio da boa-fé objetiva visa resguardar a confi ança nas relações 
jurídicas fi rmadas, impondo o dever de manutenção de um comportamento leal e 
coerente, perfazendo um modelo cuja aplicabilidade há de ser analisada caso a 
caso (TARTUCE, 2020, p. 119). 
Frise-se aqui que a boa-fé aplicável no âmbito das relações jurídicas é a 
objetiva, não se confundindo com a boa-fé subjetiva. A boa-fé subjetiva signifi ca 
a boa intenção do agente, ao passo que a boa-fé objetiva traz o sentido de 
modelo dogmático de lealdade a ser seguido para além da boa intenção da parte 
(TARTUCE, 2020, p. 119).
A boa-fé objetiva, ainda, traz função integrativa aos contratos, suprindo 
lacunas do contrato e trazendo deveres implícitos às partes contratuais, a ser 
analisado caso a caso (TARTUCE, 2020). No âmbito internacional, um exemplo 
28
 Contratos Internacionais de Compra e Venda
da função integrativa da boa-fé objetiva, conforme vislumbrado acima, encontra-
se estampado no artigo 7 da Convenção das Nações Unidas sobre Contratos de 
Compra e Venda Internacional de Mercadorias (CISG), supracitado. 
Ainda, na esfera internacionalnota-se que a boa-fé objetiva guarda o 
sentido de cooperação entre os povos, destacando do contrato internacional um 
compromisso de lealdade entre todos os seus atores envolvidos (que não apenas 
as partes contratante e contratada) (MUIR WATT, 2019; RAMOS, 2018). 
A efetiva proteção ao consumidor pode ser considerada uma 
das facetas do princípio da boa-fé objetiva. 
Nesse sentido, confi ra notícias, relatórios e orientações 
voltadas aos consumidores no meio internacional, publicadas 
pela Consumers International, organização associativa de grupos 
formados por consumidores em todo o mundo: https://www.
consumersinternational.org/.
Devido a impor comportamentos leais e probos em diversos ramos da 
vida social, o princípio da boa-fé objetiva é um dos sustentáculos ao que hoje a 
doutrina denomina de “nova lex mercatoria”, mais aberta e globalizada em relação 
aos usos e costumes de outrora, no qual a boa-fé objetiva não era um elemento 
necessário de aferição (BASSO, 2020; RAMOS, 2018). 
Ora, os princípios contratuais no âmbito internacional, do qual se destaca 
o da boa-fé, estão em constante transformação e evolução, e isso em virtude 
da própria estrutura do direito comercial, para o qual é inerente a tendência de 
constante renovação (RECHSTEINER, 2019).
Por outro lado, por conta de o princípio da boa-fé objetiva não comportar 
um conceito defi nitivo e único, parte da doutrina tece críticas a respeito da noção 
aberta de boa-fé objetiva, na medida em que tornaria uma disputa contratual 
imprevisível e à mercê de múltiplas e variáveis interpretações (BONNEL, 1997; 
JUNQUEIRA DE AVEZEDO, 2000). 
29
TEORIA GERAL DOS CONTRATOS E O DIREITO INTERNACIONAL Capítulo 1 
No âmbito internacional, a respeito dos contratos envolvendo 
compra e venda de mercadorias relativas ao controle da pandemia 
do coronavírus (COVID-19), a exemplo maior de máscaras e outros 
equipamentos de proteção (EPIs), a doutrina já suscita diversos 
questionamentos a respeito das consequências da não observância 
dos princípios contratuais básicos, como o da boa-fé pelas partes 
e por terceiros envolvidos. Para parte da doutrina, inclusive, nos 
contratos internacionais de produtos de combate ao coronavírus 
(COVID-19) foi possível notar uma “pirataria moderna”, o que 
contraria princípios gerais de direito e afl ora a necessidade de um 
combate coletivo (e não individualista) à pandemia mundial. 
Vide a discussão em: https://www.conjur.com.br/2020-jun-20/
zanelatto-moraes-roubo-contratos-covid-19.
Ainda assim, é interessante notar que o princípio da boa-fé objetiva e seu 
resguardo por parte de normas internacionais (nova lex mercatoria) também 
demandou proteção no meio interno brasileiro, pela via do Código Civil Brasileiro 
e de seu artigo 422, que prega que: “Os contratantes são obrigados a guardar, 
assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de 
probidade e boa-fé” (BRASIL, [2018]). 
Desse modo, variados desdobramentos decorrentes da boa-fé objetiva no 
plano internacional e de outros ordenamentos jurídicos (direito estrangeiro) 
serviram de inspiração à aplicação da boa-fé objetiva no Brasil, conforme conta 
Flávio Tartuce (2020, p. 139): 
Uma dessas construções inovadoras, relacionada diretamente 
com a boa-fé objetiva, é justamente o duty to mitigate the loss, 
ou mitigação do prejuízo pelo próprio credor. Sobre essa tese 
foi aprovado o Enunciado n. 169 do CJF/STJ na III Jornada de 
Direito Civil, pelo qual “o princípio da boa-fé objetiva deve levar 
o credor a evitar o agravamento do próprio prejuízo”. 
A proposta, elaborada por Vera Maria Jacob de Fradera, 
professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 
representa muito bem a natureza do dever de colaboração, 
presente em todas as fases contratuais e que decorre do princípio 
da boa-fé objetiva e daquilo que consta do art. 422 do CC. O 
enunciado está inspirado no art. 77 da Convenção de Viena 
de 1980, sobre a venda internacional de mercadorias (CISG), 
no sentido de que “a parte que invoca a quebra do contrato 
deve tomar as medidas razoáveis, levando em consideração 
as circunstâncias, para limitar a perda, nela compreendido o 
30
 Contratos Internacionais de Compra e Venda
prejuízo resultante da quebra. Se ela negligencia em tomar tais 
medidas, a parte faltosa pode pedir a redução das perdas e 
danos, em proporção igual ao montante da perda que poderia 
ter sido diminuída”. 
Para a autora da proposta, Professora Vera Fradera, há uma 
relação direta com o princípio da boa-fé objetiva, uma vez 
que a mitigação do próprio prejuízo constituiria um dever de 
natureza acessória, um dever anexo, derivado da boa conduta 
que deve existir entre os negociantes. 
É, nesse sentido, por exemplo, a faceta do princípio da boa-fé objetiva 
referente à cooperação das partes para fi ns de realização de renegociações. 
Conforme enuncia o princípio 6.2. 3 do UNIDROIT, de 2016, acerca dos processos 
de renegociação (UNIDROIT, 2016): 
5. Renegociações de Boa-fé
Embora nada seja dito neste artigo para esse efeito, tanto 
o pedido para renegociações pela parte em desvantagem 
e a conduta de ambos as partes durante o processo de 
renegociação estão sujeitas ao princípio geral de boa fé e 
negociação justa (ver Artigo 1.7) e ao dever de cooperação 
(ver Artigo 5.1.3). Assim, a parte em desvantagem deve 
honestamente acreditar que realmente existe um caso de 
difi culdade e não solicitar renegociações como uma manobra 
puramente tática. Da mesma forma, uma vez que o pedido foi 
feita, ambas as partes devem conduzir as renegociações em 
uma forma construtiva, em particular, abstendo-se de qualquer 
forma de obstrução e fornecendo todas as informações 
necessárias. (UNIDROIT, 2016, p. 225, tradução do autor)
É importante notar, ainda, que o princípio da boa-fé objetiva, seja pela via 
nacional ou internacional, aplica-se a todas as etapas de formação do contrato, 
impondo às partes deveres de aplicarem condutas leais e cooperativas em todos 
os pontos do contrato (para saber mais sobre a formação do contrato, vide tópico 
anterior deste presente capítulo). 
Série documental de 4 episódios, “Broken” (em português: 
“Desserviço ao consumidor”) aborda diversas problemáticas de temas 
correlacionados à compra e venda de produtos sem a observância 
dos princípios gerais, como a venda de produtos falsifi cados, a não 
destinação correta de resíduos, entre outros. 
Atente-se para a importância da incidência dos princípios contratuais 
básicos para fi ns de proporcionar relações consumeristas conscientes.
A série de 2019 encontra-se disponível na Netfl ix.
31
TEORIA GERAL DOS CONTRATOS E O DIREITO INTERNACIONAL Capítulo 1 
Verifi que o trecho abaixo: 
“A escolha do Direito aplicável normalmente é feita quando da 
celebração do contrato, embora alguns Estados admitam que essa 
indicação se processe posteriormente ou seja alterada. A escolha 
poderá ser expressa ou tácita, o que, neste último caso, deve resultar 
claramente das circunstâncias da relação jurídica” (PORTELA, 2020, 
p. 684). 
No trecho acima lido, o autor da obra está se referindo a qual princípio 
contratual básico? 
a) Princípio da força normativa do contrato. 
b) Princípio da autonomia da vontade.
c) Princípio da boa-fé objetiva.
d) Princípio da boa-fé subjetiva. 
e) Princípio do pacta sunt servanda.
Lembre-se, por fi m, que o princípio da boa-fé objetiva há de ser analisado em 
conjunto com os demais princípios mencionados (força obrigatória do contrato e 
autonomia da vontade), para fi ns de consolidação de relações jurídicas contratuais 
cooperativas. 
Inclusive, para fi ns de proteção de aludidos princípios, são diversos os 
regimes jurídicos internacionais que buscam valorizar contratos internacionais em 
conformidade com a boa-fé e com a cooperação. 
Nesse sentido, pode-se mencionar, apenas a título exemplifi cativo, as normas 
do âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC) e o combate ao dumping
(práticacomercial que, ao estabelecer produto a preço inferior à do mercado, 
fere a concorrência leal), as normas de proteção da propriedade intelectual 
resguardadas pelo Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual 
Relacionados ao Comércio (TRIPS), entre diversas outras, as quais, contudo, não 
serão aqui aprofundadas.
32
 Contratos Internacionais de Compra e Venda
Para resumir: os princípios básicos no âmbito contratual ora analisados (força 
obrigatória do contrato, autonomia da vontade e boa-fé objetiva) são relevantes 
para relações contratuais leais e probas, pautadas no respeito aos contratos 
fi rmados e à vontade e cooperação entre as partes. 
Por certo, outros variados princípios do âmbito internacional e do comércio 
internacional poderiam ser suscitados, mas a presente obra, para fi ns didáticos e 
de clareza, procura demonstrar aqueles considerados mais essenciais e inerentes 
a todo e qualquer negócio jurídico contratual internacional e a todo e qualquer 
ordenamento jurídico interno e internacional. 
Contudo, além de observância dos princípios contratuais básicos 
vislumbrados, os contratos internacionais também dependem de observância dos 
requisitos de validade. A respeito desses, confi ra o assunto em tópico próprio, 
explanados a seguir de forma resumida. 
5 REQUISITOS DE VALIDADE DOS 
CONTRATOS INTERNACIONAIS
Vislumbrados os elementos essenciais ao plano de existência dos contratos 
internacionais e de seus princípios elementares, cumpre-nos ver os requisitos 
(condições, elementos) necessários para que os negócios jurídicos contratuais 
internacionais sejam considerados válidos. 
Com efeito, sem os requisitos de validade, os negócios jurídicos entabulados 
poderão ser considerados nulos ou anuláveis, a depender das condições fáticas e 
do tratamento conferido ao ordenamento jurídico no qual se submetem. No direito 
brasileiro, os requisitos de validade do contrato encontram disposição por meio do 
artigo 104 do Código Civil: 
Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:
I - agente capaz;
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III - forma prescrita ou não defesa em lei. (BRASIL, [2018])
Tais requisitos valem a qualquer negócio jurídico, aplicando-se, por via de 
consequência, aos contratos internacionais que se submetam ao ordenamento 
jurídico brasileiro, afi nal, conforme visto (para saber mais, vide o Tópico 3 deste 
capítulo – conceito de contratos internacionais), o que diferencia os contratos 
internacionais dos meros contratos internos é a incidência dos variados 
ordenamentos jurídicos, em característica da internacionalidade e de elementos 
de estraneidade. 
33
TEORIA GERAL DOS CONTRATOS E O DIREITO INTERNACIONAL Capítulo 1 
No que tange aos contratos internacionais de compra e venda de mercadorias 
regidos pela Convenção das Nações Unidas sobre Contratos de Compra e Venda 
Internacional de Mercadorias (UNCITRAL), cumpre notar que ela não dispõe 
sobre os requisitos de validade dos contratos, conforme se afere do artigo 4: 
Artigo 4
Esta Convenção regula apenas a formação do contrato 
de compra e venda e os direitos e obrigações do vendedor 
e comprador dele emergentes. Salvo disposição expressa 
em contrário da presente Convenção, esta não diz respeito, 
especialmente:
(a) à validade do contrato ou de qualquer das suas cláusulas, 
bem como à validade de qualquer uso ou costume;
(b) aos efeitos que o contrato possa ter sobre a propriedade 
das mercadorias vendidas. (BRASIL, 2014)
Por via de consequência, os requisitos de validade de determinado contrato 
internacional de compra e venda de mercadorias dependerão do que dispõe 
o direito interno do país. Por isso, a análise aqui realizada tomará por base o 
que dispõe o artigo 104 do Código Civil, com as observações atinentes à ótica 
internacional a respeito desses elementos de validade. 
De todo modo, os requisitos previstos pelo Código Civil brasileiro contemplam 
princípios gerais de direito aplicáveis pelos Estados em todo e qualquer negócio 
jurídico. Ainda, conforme já analisado, no âmbito contratual e sobretudo na esfera 
internacional, o requisito da vontade livre, enraizado no princípio da autonomia da 
vontade, também é elemento concernente à validade do negócio entabulado.
Assim, considerando o artigo 104 do Código Civil, aliado ao elemento 
da vontade livre, podemos sintetizar os requisitos de validade dos contratos 
internacionais no seguinte esquema (TARTUCE, 2020, p. 49):
1. Partes capazes (capacidade dos agentes).
2. Vontade livre.
3. Objeto lícito, possível, determinado ou determinável.
4. Forma prescrita ou não defesa em lei (forma livre).
 Vejamos, de forma mais específi ca, cada um deles. 
• Capacidade dos agentes
A capacidade das partes é elemento essencial para a validade do contrato, seja 
nacional ou internacional. Em linhas gerais, a capacidade consiste na possibilidade 
do exercício dos direitos e deveres inerentes à personalidade. Na doutrina clássica: 
a capacidade é “a medida da personalidade” (GOMES, 2008, p. 149). 
34
 Contratos Internacionais de Compra e Venda
A respeito da capacidade da pessoa física (pessoa natural), dispõe o Código 
Civil: 
Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente 
os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos. 
(BRASIL, [2018])
Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira 
de os exercer: (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; (Redação dada 
pela Lei nº 13.146, de 2015) 
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não 
puderem exprimir sua vontade; (Redação dada pela Lei nº 
13.146, de 2015) 
IV - os pródigos.
Da leitura do artigo 3º do Código Civil Brasileiro, percebe-se que ele elenca 
os casos nos quais a pessoa física, por si só, não conta com a possibilidade do 
exercício dos direitos inerentes à sua personalidade, perfazendo a incapacidade 
absoluta. Em outros casos, inscritos no rol do artigo 4º do Código Civil, a 
incapacidade será relativa a certos atos ou à maneira de exercício.
Nessas situações, tem-se que, para a realização de negócios jurídicos, os 
absolutamente incapazes, ou seja, menores de 16 (dezesseis) anos de idade, 
deverão ser representados por seus pais ou tutores, ao passo que os relativamente 
incapazes, inscritos no art. 4º do Código Civil, deverão ser assistidos pelas 
pessoas que a lei determinar (TARTUCE, 2020, p. 323).
Não obstante, mormente na esfera internacional, nem sempre se 
considera nulo/anulável um negócio jurídico contratual realizado com crianças 
ou adolescentes, uma vez que seriam atos dotados de ampla aceitação social 
e utilização cotidiana, aplicando-se o que a teoria jurídica denomina de ato-fato 
jurídico. 
Nesse sentido, explica Carlos Roberto Gonçalves (2017, p. 280): “não se 
considera nula a compra de um doce ou sorvete feita por uma criança de sete 
ou oito anos de idade, malgrado não tenha ela capacidade para emitir a vontade 
qualifi cada que se exige nos contratos de compra e venda”. 
Tudo dependerá, pois, das condições fáticas e do tipo de contrato internacional 
realizado, sem se descurar que aos incapazes, relativamente ou absolutamente, 
há de se ter maior tratamento jurídico protetivo, justamente porque nesses casos 
não há de se falar em capacidade plena e liberdade para escolher e determinar 
suas vontades. 
35
TEORIA GERAL DOS CONTRATOS E O DIREITO INTERNACIONAL Capítulo 1 
Acerca da capacidade entre as partes, pende na atualidade 
questões relacionadas ao comércio internacional voltado ao público 
infantil e juvenil, sobretudo quando há incidência das consequências 
jurídicas envolvidas e da validade do negócio jurídico. 
Com efeito, a “geração Z” (composta de jovens de até 24 anos) 
encontra-se cada vez mais conectada à internet, sendo consumidora 
potencial do e-commerce (comércio eletrônico), já atuandocom 
grande infl uência no mercado. 
Outrossim, não apenas na qualidade de consumidor, o jovem, 
no meio eletrônico, muitas vezes pode ser considerado como o 
fornecedor da relação jurídica contratual. 
Assim, cresce a discussão a respeito da necessidade de 
uniformização de normas de proteção à criança e ao adolescente no 
e-commerce, sobretudo quando adquirem o papel de consumidoras. 
Para saber mais a respeito da participação da criança/
adolescente como agente da relação jurídica contratual e as 
problemáticas jurídicas possíveis, vide: 
• A criança/adolescente como fornecedora (caso Isabela Matte e o 
e-commerce): https://www.jornalcontabil.com.br/ela-criou-uma-marca-
de-roupas-aos-12-anos-e-com-14-anos-ja-era-milionaria-saiba-mais/.
• A criança/adolescente como consumidora no e-commerce
brasileiro: https://meunegocio.uol.com.br/blog/geracao-z-qual-
seu-papel-no-e-commerce-brasileiro-e-como-conquista-la/#rmcl.
• Pesquisa e dados do uso da internet por crianças/adolescentes: 
https://cetic.br/pesquisa/kids-online/. 
• Proteção da criança/adolescente nas relações de consumo 
eletrônicas (e-commerce) e questões relacionadas à publicidade 
– ONG ALANA: https://alana.org.br/project/crianca-e-consumo/. 
• Programa “Criança e Consumo”, da ONG ALANA: https://
criancaeconsumo.org.br/. 
• Tratamento a dados de crianças e adolescentes no contexto da 
Lei Geral de Proteção de Dados: https://migalhas.uol.com.br/
depeso/333029/como-tratar-dados-de-criancas-e-adolescentes-
no-contexto-da-lgpd.
36
 Contratos Internacionais de Compra e Venda
As transações internacionais são cada vez mais frequentes não apenas em 
relação às pessoas físicas, mas também – e principalmente – às pessoas jurídicas, 
sobretudo quando a internacionalização é parte do crescimento da empresa. 
A capacidade referente à pessoa jurídica, no ordenamento jurídico brasileiro, 
decorre do reconhecimento jurídico da personalidade, por ocasião do registro 
junto ao órgão competente (Junta Comercial, Cartório do registro civil das pessoas 
jurídicas etc.). Nesse sentido, de acordo com o art. 45 do Código Civil: “Começa 
a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato 
constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização 
ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações 
por que passar o ato constitutivo” (BRASIL, [2018]).
Ainda assim, as pessoas jurídicas, para fi ns de realização de seus negócios 
jurídicos (como os contratos e contratos internacionais), serão representadas por 
agentes físicos que atuarão em nome da empresa. 
Na questão da capacidade, é preciso que a parte, seja pessoa física ou 
jurídica, possa exercer seus direitos e deveres, além de ter legitimação para 
atuar em determinados casos inscritos em lei. No âmbito do Comércio Exterior, 
é importante, nesse sentido, que a empresa brasileira possua habilitação própria 
para atuação na seara. 
Mais especifi camente, as empresas brasileiras que visem à realização de 
atividades de importação ou exportação necessitarão de habilitação por parte da 
Receita Federal, com base na atual Instrução Normativa RFB nº 1.984, de 27 de 
outubro de 2020, que dispõe sobre a habilitação de declarantes de mercadorias 
para atuarem no comércio exterior e de pessoas físicas responsáveis pela prática 
de atos nos sistemas de comércio exterior em seu nome, bem como sobre o 
credenciamento de seus representantes para a prática de atividades relacionadas 
ao despacho aduaneiro de mercadorias e dos demais usuários dos sistemas de 
comércio exterior que atuam em seu nome.
De forma resumida, a Instrução Normativa RFB nº 1.984, de 27 de outubro 
de 2020 trata, em seu texto, além de suas disposições preliminares e disposições 
fi nais e transitórias: 
• dos sujeitos habilitados e credenciados (arts. 4º a 15);
• da habilitação do declarante de mercadorias (arts. 16 a 33);
• dos sistemas de comércio exterior (arts. 34 a 37);
• da revisão de ofício de habilitação do declarante de mercadorias (arts. 38 
a 45);
37
TEORIA GERAL DOS CONTRATOS E O DIREITO INTERNACIONAL Capítulo 1 
• da desabilitação do declarante de mercadorias (arts. 46 a 51);
• suspensão e do cancelamento da habilitação do declarante de 
mercadorias (arts. 52 a 55);
• dos prazos (art. 56 e 57);
• do recurso administrativo (art. 58 e 59). 
Com a habilitação, a empresa importadora/exportadora atuará junto ao 
sistema integrado de comércio exterior – SISCOMEX, sistema do governo federal 
que confere acesso e maior uniformidade aos sistemas de registro e operações 
do comércio exterior. 
Ao lidar com contratos internacionais e, sobretudo, contratos internacionais 
de compra e venda de mercadorias que exijam importação/exportação no Brasil, 
a empresa atuante no comércio exterior deverá atender aos requisitos previstos 
nas instruções normativas da Receita Federal e correlata habilitação junto ao 
SISCOMEX.
Visite o site ofi cial do Sistema de Comércio Exterior 
(SISCOMEX): http://siscomex.gov.br/
• Vontade Livre
Conforme já analisado (vide item 4 do capítulo 1 – princípios contratuais 
básicos no âmbito internacional), a autonomia da vontade é princípio primordial 
das relações contratuais, sobretudo quando consideradas em seu aspecto 
internacional. 
Isso porque o contrato é vislumbrado justamente como um negócio jurídico 
que envolve a vontade das partes, de modo que, não havendo esta, o contrato 
sequer chegará a existir no plano jurídico. 
Por outro lado, haverá vício da vontade (vício do consentimento) quando 
constatado que determinado contrato internacional não conta com a vontade 
livre de alguma das partes, podendo caracterizar-se por situações de erro, dolo, 
coação, estado de perigo ou lesão.
38
 Contratos Internacionais de Compra e Venda
• Objeto lícito, possível, determinado ou determinável
Apenas será válido o contrato que tenha como conteúdo um objeto lícito, 
de acordo com os limites impostos por lei. Assim, o objeto do contrato não pode 
contrariar os bons costumes, a ordem pública, a boa-fé ou a função social e 
econômica (TARTUCE, 2020, p. 20). 
No plano internacional, o conceito de ordem pública ganha notório 
enfoque, pois impõe limites à observância de direito estrangeiro na jurisdição 
nacional, sob o fundamento maior da soberania do Estado e aos bons costumes 
(RECHSTEINER, 2019, p. 121). Nesse sentido, conforme dispõe o art. 17 da Lei 
de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB): 
Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como 
quaisquer declarações de vontade, não terão efi cácia no Brasil, 
quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os 
bons costumes. (BRASIL, [2010])
Em outros termos, conforme observa Maristela Basso (2020, p. 216): “os 
efeitos de determinados contratos internacionais estarão imediatamente adstritos 
à incidência de normas de ordem pública e regras imperativas dos ordenamentos 
nacionais, sempre que eles apresentarem algum vínculo com a atividade e com 
interesses protegidos em nível doméstico”. 
Não há, contudo, um conceito defi nitivo do que seria a ordem pública, a 
qual seria aferida “pela mentalidade e pela sensibilidade médias de determinada 
sociedade em determinada época. Aquilo que for considerado chocante a esta 
média será rejeitado pela doutrina e repelido pelos tribunais” (DOLINGER; 
TIBURCIO, 2020, p. 622). 
Em outros termos: o que é ilícito para uma determinada sociedade e um 
determinado Estado, perfazendo uma afronta aos valores básicos e soberania 
estatal, pode ser considerado plenamente lícito na perspectiva de outros locais e 
outros ordenamentos jurídicos. 
Por isso mesmo, a noção média de ordem pública vai variar em face de cada 
situação concreta, ou seja: cada relação jurídica contratual deverá ser analisada 
sob o prisma da nova lex mercatoria e dos valores essenciais de justiça de sua 
época. 
Longe de esgotarmos o assunto da ordem pública na esfera do direito 
internoe do direito internacional privado, vale frisar apenas que a aferição da 
ordem pública sobre a licitude do objeto contratual pactuado é primordial, uma 
vez que ela serve, em conjunto com os princípios básicos contratuais e demais 
39
TEORIA GERAL DOS CONTRATOS E O DIREITO INTERNACIONAL Capítulo 1 
normas internas ou internacionais, como limite para a utilização da lei estrangeira 
no âmbito interno, assim como pode servir de obstáculo quanto aos efeitos 
contratuais no país. 
A respeito do requisito do objeto lícito e da ordem pública, leia 
o texto abaixo, que traz uma decisão do Superior Tribunal de Justiça 
(STJ) que permitiu a cobrança de dívida de jogo de azar (cassino) 
feita no exterior: 
“Dívida de jogo de azar no exterior pode ser cobrada no Brasil, 
diz STJ
Tudo o que acontece em Las Vegas, fi ca em Las Vegas? Nem 
tanto. As dívidas de jogo, por exemplo. A cobrança de dívidas 
contraídas em países onde jogos de azar são legais pode ser feita 
por meio de ação ajuizada pelo credor no Brasil, submetendo-se 
ao ordenamento jurídico nacional. Com base nesse entendimento, 
a 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça entendeu ser possível 
que o cassino Wynn Las Vegas, dos EUA, cobre um brasileiro que 
deixou dívida superior a US$ 1 milhão em torneio de pôquer no local.
O ministro relator do caso, Villas Bôas Cueva, lembrou que a ação 
foi ajuizada no Brasil em virtude do domicílio do réu, mas a dívida 
foi constituída no estado de Nevada, onde a exploração do pôquer 
é legal. Ele explicou que a cobrança só seria impossível caso 
ofendesse a soberania nacional ou a ordem pública, o que não fi cou 
confi gurado no caso.
“Não ofende a soberania nacional a cobrança de dívida de jogo, 
visto que a concessão de validade a negócio jurídico realizado 
no estrangeiro não retira o poder do Estado em seu território 
e nem cria nenhuma forma de dependência ou subordinação a 
outros Estados soberanos”, resumiu o ministro.
Villas Bôas Cueva afi rmou ser delicada a análise a respeito 
de ofensa à ordem pública, alegação que, se fosse aceita, 
inviabilizaria a cobrança. O relator destacou que diversos tipos de 
jogos de azar são permitidos e regulamentados no Brasil, tais como 
loterias e raspadinhas. Com esse raciocínio, segundo o ministro, é 
razoável o pedido de cobrança de um jogo semelhante (pôquer), que 
é regulamentado no local em que os fatos ocorreram.
40
 Contratos Internacionais de Compra e Venda
“Há, portanto, equivalência entre a lei estrangeira e o Direito 
brasileiro, pois ambos permitem determinados jogos de azar, 
supervisionados pelo Estado, sendo, quanto a esses, admitida a 
cobrança. Não se vislumbra, assim, resultado incompatível com a 
ordem pública”, frisou o ministro. REsp 1.628.974”
Veja a matéria completa em: https://www.conjur.com.br/2017-jul-11/
divida-jogo-azar-exterior-cobrada-brasil.
Além de ser um objeto lícito, também deverá ser possível no plano fático. 
Ensina Flávio Tartuce (2020) que a impossibilidade poderá ser física ou jurídica. 
Trata-se de impossibilidade física o objeto que não pode ser apropriado por 
alguém ou quando a prestação não puder ser cumprida. Já a impossibilidade 
jurídica refere-se à vedação do conteúdo pela legislação. 
Cumpre salientar, ainda, que com relação aos contratos internacionais 
envolvendo importação/exportação de produtos, que eles também dependem, 
no Brasil, de controles por parte da Agência Nacional de Vigilância Sanitária 
(ANVISA), Ministério da Agricultura, Receita Federal, entre outros agentes. 
• A respeito da importação de produtos sujeitos à Vigilância 
Sanitária no Brasil, não deixe de visitar o site da ANVISA, 
disponível em: 
 https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/paf/importacao/
importacao-de-produtos 
• Sobre a importação de produtos sujeitos à fi scalização do 
Ministério da Agricultura, visite o site disponível em: 
 https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/importacao-e-
exportacao/importacao 
• Sobre importação e fi scalização da Receita Federal, acesse: 
 https://receita.economia.gov.br/orientacao/aduaneira/importacao-
e-exportacao/importacao 
41
TEORIA GERAL DOS CONTRATOS E O DIREITO INTERNACIONAL Capítulo 1 
Ainda, o objeto do negócio deve ser determinado ou, pelo menos, 
determinável. Neste último caso, comumente, por exemplo, nos contratos de 
sacas de soja, ocorrerá o processo denominado de “concentração” do objeto, 
necessário para consolidação do objeto pactuado (TARTUCE, 2020, p. 42). 
Por fi m, lembra Flávio Tartuce (2020) que os contratos de compra e venda 
de bens também exigem que o objeto possa ser alienável, sendo consumível do 
ponto de vista jurídico. Por via de consequência, o contrato de compra e venda 
que tenha por objeto bem considerado inalienável será considerado nulo por 
ilicitude do objeto ou por fraude à lei.
A respeito do requisito do objeto lícito e possível, vejamos um 
exemplo de situação que levanta polêmicas doutrinárias e práticas na 
seara do Direito Internacional (Público e Privado) e que pode suscitar 
consequências não apenas na esfera civil, mas como também em 
casos de responsabilização penal: compra e venda de ações de 
produtos envolvendo maconha (“ações da maconha”). 
A questão ainda não encontra uma resposta defi nitiva e 
específi ca no Brasil ou a nível mundial e de aplicação uniforme a 
todos os Estados, restando suscetível de problemáticas variadas. 
Vide a discussão em: 
ht tps: / /va lor investe.g lobo.com/mercados/renda-var iavel /
noticia/2019/09/23/acoes-de-maconha-sao-o-novo-barato-nos-eua-
e-no-canada-veja-como-investir.ghtml.
• Forma prescrita ou não defesa em lei (forma livre)
No âmbito dos contratos internacionais, vigora a liberdade das formas, ou 
seja, os contratos não necessitam de uma forma preestabelecida pelas fontes 
internacionais ou leis internas dos países. 
Nesse viés, o artigo 11 da Convenção das Nações Unidas sobre Contratos 
de Compra e Venda Internacional de Mercadorias (UNCITRAL) dispõe 
expressamente que: “O contrato de compra e venda não requer instrumento 
escrito nem está sujeito a qualquer requisito de forma. Poderá ele ser provado por 
qualquer meio, inclusive por testemunhas” (BRASIL, 2014).
42
 Contratos Internacionais de Compra e Venda
Inclusive, a prática e a doutrina constam que tal disposição convencional 
auxilia o trabalho daqueles que laboram diuturnamente com o comércio exterior, 
na medida em que os contratos internacionais de compra e venda de mercadorias 
ocorrem, grande parte das vezes, pela via de simples emissão de fatura comercial 
ou defi nitiva ou mesmo pela via oral, mediante acordo verbal entre as partes 
(SEGRE, 2018, p. 219). 
A título exemplifi cativo, na aplicação dos aludidos ditames da Convenção das 
Nações Unidas sobre Contratos de Compra e Venda Internacional de Mercadorias 
(UNCITRAL), já entendeu o Tribunal da Áustria (Caso 1 R 273/07t) que a conduta 
consistente em um aperto de mão pelas partes já perfaz um contrato válido e 
legal, não necessitando ser escrito para ter efi cácia jurídica (CISG CASE 
PRESENTATION, 2007). 
No direito brasileiro, como regra geral, os contratos também contam com 
liberdade quanto à forma, nos moldes do que preleciona o art. 107 do Código 
Civil: “A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, 
senão quando a lei expressamente a exigir” (BRASIL, [2018]).
De todo modo, ainda que os contratos, nacionais ou internacionais, sejam 
regidos pela liberdade das formas, há a necessidade de observação dos 
princípios contratuais básicos (para saber mais, vide Tópico 4 do Capítulo 1), a 
exemplo maior da boa-fé objetiva. Assim, por mais que a forma contratual possa 
ser livremente pactuada entre as partes, não poderão elas se descurarem dos 
demais princípios e requisitos no conteúdo do contrato. 
Em alguns casos, contudo, os contratos dependerão de formalidades 
requeridas pela lei, para fi ns de garantir maior segurança jurídica nas relações 
envolvidas. Nessas

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