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NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 1 NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 2 ÍNDICE DIREITO ADMINISTRATIVO___________________________________________________________________3 DIREITO CONSTITUCIONAL__________________________________________________________________65 DIREITO PENAL E CRIMINOLOGIA___________________________________________________________ 130 DIREITO PROCESSUAL PENAL_______________________________________________________________268 NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 3 DIREITO ADMINISTRATIVO Olá, futuros Promotores de Justiça! Preparamos essa super revisão de véspera de prova, para refrescar a sua memória sobre aqueles temas que a gente insiste em esquecer na hora de marcar a alternativa correta. SENTIDOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA De acordo com Hely Lopes Meirelles, a Administração pratica atos de execução, os chamados atos administrativos, com poderes de decisão limitados a atribuições de natureza executiva, definidos em lei. Em sentido formal, subjetivo, orgânico, a Administração corresponde aos agentes, órgãos e pessoas jurídicas com incumbência de executar atividades administrativa. Em sentido material, objetivo, funcional, a Administração Pública abrange as atividades exercidas. Aspecto Subjetivo Aspecto Objetivo Conjunto de órgãos e entidades que integram a estrutura do Estado e tem como função satisfazer o interesse público, a vontade política governamental. Conjunto de atividades que esses órgãos e entidades desempenham. Ex.: fomentar iniciativa privada, prestar serviço público, exercer poder de polícia. O Direito Administrativo é o ramo do Direito Público que tem por objeto as regras e os princípios aplicáveis à atividade administrativa para a satisfação do interesse público. Administração Pública (com iniciais maiúsculas) designa o conjunto de órgãos e agentes estatais no exercício da função administrativa, independentemente de pertencerem ao Poder Executivo, Legislativo, Judiciário, ou a qualquer outro organismo estatal (como Ministério Público e Defensorias Públicas). A expressão “administração pública” (com iniciais minúsculas) é sinônima de “poder executivo” (também com iniciais minúsculas), e ambas designam a atividade consistente na defesa concreta do interesse público. As atividades precípuas da Administração Pública moderna são: 1ª) o exercício do poder de polícia; 2ª) a prestação de serviços públicos; 3ª) a realização de atividades de fomento. CRITÉRIOS DE DEFINIÇÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 4 CORRENTE LEGALISTA: Chamado de Escola Exegética. Para essa corrente, o direito administrativo seria um conjunto da legislação administrativa existente no país. Era apenas uma compilação de leis existentes, desconsiderando a jurisprudência e princípios, por esse motivo a corrente não vingou. CRITÉRIO DO PODER EXECUTIVO: Todo Direito Administrativo estaria incluído na atuação do Poder Executivo, ignorando a atuação administrativa fora do Executivo. Para essa teoria, o Direito Administrativo seria um conjunto de leis que disciplinam a atuação do Poder Executivo. CRITÉRIO DAS RELAÇÕES JURÍDICAS: O Direito Administrativo seria a disciplina das relações jurídicas entre a administração pública e o particular. Essa corrente, esquece que outros ramos do Direito Público possuem relações similares, como é o caso do Direito Penal e Direito Tributário. CRITÉRIO DO SERVIÇO PÚBLICO: Origem: Escola do Serviço Público (seguindo orientações de Leon Duguit). O Direito Administrativo tem por objeto a disciplina jurídica dos serviços públicos, ou seja, serviços prestados pelo Estado a toda sociedade. CRITÉRIO TELEOLÓGICO OU FINALÍSTICO: O Direito Administrativo deve ser considerado um conjunto de princípios que regulamenta as atividades do Estado para cumprimento de seus fins. É uma afirmação correta, porém incompleta. CRITÉRIO NEGATIVISTA: Esse conceito é obtido por exclusão, ou seja, seriam pertinentes a esse ramo do Direito as questões que não fossem pertinentes a nenhum outro ramo do Direto, assim seriam funções administrativas todas as funções do Estado que não as de natureza jurisdicional ou legislativa. CONCEITO POR HELLY LOPES MEIRELLES: Direito Administrativo é o conjunto harmônico de princípios jurídicos que regem os órgãos, os agentes e as atividades públicas tendentes a realizar de forma concreta, direta e imediatamente os fins desejados pelo Estado. PEDRAS DE TOQUE DO DIREITO ADMINISTRATIVO: A expressão foi criada por Celso Antônio Bandeira de Melo, para falar dos princípios básicos, mais importantes do Direito administrativo, dos quais todos os demais princípios decorrem, quais sejam: Princípio da supremacia do interesse público e Princípio da indisponibilidade do interesse público. A Supremacia do Interesse Público sobre o Particular estabelece que o interesse do Estado deve prevalecer em relação ao interesse do particular. A Indisponibilidade do Interesse Público significa que o administrador não pode abrir mão do interesse público. PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE: NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 5 O administrador não pode buscar interesses próprios, pessoais. Traz a ausência de subjetividade, sem inclinações pessoais. O administrador deve agir no atendimento do interesse público (de forma impessoal, abstrata e genérica). Está previsto na Constituição no art. 37, caput e no §1º nos seguintes termos: § 1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos. Está em desconformidade com a Constituição Federal (CF) a delegação a cada Poder para definir, por norma interna, as hipóteses pelas quais a divulgação de ato, programa, obra ou serviço públicos não constituirá promoção pessoal. A divulgação de atos e iniciativas de parlamentares é considerada legítima quando efetuada — com a finalidade exclusiva de informar ou educar — nos ambientes de divulgação do mandatário ou do partido político, não se havendo de confundi-la com a publicidade do órgão público ou entidade. (ADI 6522/DF, relatora Min. Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 14.5.2021). #OLHAOCHANGO: Nepotismo: O nepotismo decorre do princípio da isonomia, da impessoalidade e, especialmente, do princípio da moralidade, não tendo previsão legal ou constitucional expressa. Súmula Vinculante 13: A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal. O Supremo Tribunal Federal tem afastado a aplicação da Súmula Vinculante 13 a cargos públicos de natureza política, ressalvados os casos de inequívoca falta de razoabilidade, por manifesta ausência de qualificação técnica ou inidoneidade moral. Precedentes. 2. Não há nos autos qualquer elemento que demonstre a ausência de razoabilidade da nomeação. (Rcl 28.024 AgR, rel. min. Roberto Barroso, 1ª T, j. 29-5- 2018, DJE 125 de 25-6-2018). Não há nepotismo na nomeação de servidor para ocupar o cargo de assessor de controle externo do Tribunal de Contas mesmo que seu tio (parente em linhacolateral de 3º grau) já exerça o cargo de assessor-chefe de gabinete de determinado Conselheiro, especialmente pelo fato de que o cargo do referido tio não tem qualquer poder legal de nomeação do sobrinho. A incompatibilidade da prática enunciada na SV 13 com o art. 37 da CF/88 não decorre diretamente da existência de relação de parentesco entre pessoa designada e agente NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 6 político ou servidor público, mas de presunção de que a escolha para ocupar cargo de direção, chefia ou assessoramento tenha sido direcionado à pessoa com relação de parentesco com quem tenha potencial de interferir no processo de seleção. STF. 2ª Turma. Rcl 18564/SP, rel. orig. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em 23/2/2016 (Info 815). A Constituição do Estado do Espírito Santo prevê, em seu art. 32, VI, que é “vedado ao servidor público servir sob a direção imediata de cônjuge ou parente até segundo grau civil”. Foi proposta uma ADI contra esta norma. O STF julgou a norma constitucional, mas decidiu dar interpretação conforme à Constituição, no sentido de o dispositivo ser válido somente quando incidir sobre os cargos de provimento em comissão, função gratificada, cargos de direção e assessoramento. Em outras palavras, o STF afirmou que essa vedação não pode alcançar os servidores admitidos mediante prévia aprovação em concurso público, ocupantes de cargo de provimento efetivo, haja vista que isso poderia inibir o próprio provimento desses cargos, violando, dessa forma, o art. 37, I e II, da CF/88, que garante o livre acesso aos cargos, funções e empregos públicos aos aprovados em concurso público. STF. Plenário. ADI 524/ES, rel. orig. Min. Sepúlveda Pertence, red. p/ o acórdão Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 20/5/2015 (Info 786). ORGANIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA A Administração Direta consiste em conjunto de órgãos que integram as pessoas políticas do Estado (U, E, DF, M), aos quais foi atribuída a competência para o exercício de atividades administrativas, de forma centralizada. A Administração Indireta consiste em entidades administrativas vinculadas à Administração Direta, para o exercício de atividades de forma descentralizada. Centralização ou descentralização política: distribuir tarefas estatais entre esferas da Federação (descentralização vertical) ou entre poderes distintos dentro de uma mesma esfera administrativa (descentralização horizontal). Centralização ou descentralização administrativa: unir ou distribuir competências ou seu exercício entre entidades com personalidade jurídica própria, estatais ou não. Ex: União transfere as competências universitárias para uma autarquia. Concentração ou desconcentração: distribuir as tarefas de cada entidade pública (pessoa jurídica) internamente entre seus órgãos (sem personalidade jurídica própria), ou seja, repartição interna de tarefas dentro de uma mesma entidade entre seus órgãos. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 7 #FOCANATABELA: DESCONCENTRAÇÃO DESCENTRALIZAÇÃO Criação de centros de competência dentro da mesma pessoa jurídica. Transferência de algumas atribuições a outras pessoas. TERRITORIAL OUTORGA Descentralização por serviços DELEGAÇÃO/COLABORAÇÃO Descentralização por delegação DA TITULARIDADE E DA EXECUÇÃO Só à Adm. Pública DA EXECUÇÃO À Adm. Pública+ Particulares Por lei Por lei: à Adm. Pública Indireta Por contrato: aos particulares Teoria dos órgãos: TEORIA DO MANDATO TEORIA DA REPRESENTAÇÃO TEORIA DO ÓRGÃO Toma por base um instituto de Direito Privado: o mandato. - A relação entre o Estado e os seus agentes teria por base o contrato de mandato, ou seja, o agente público é um mandatário do Estado. - A pessoa física atuaria em nome da pessoa jurídica estatal e sob a responsabilidade dela, em razão da outorga específica de poderes. Coloca o agente público como o representante do Estado por força de lei. - O agente é equiparado a uma espécie de tutor ou curador do Estado. Críticas: - Equiparação do Estado a um incapaz. - Ato do representante com exorbitância não seria oponível ao Estado. Teoria Alemã (Otto Gierke) - Presume-se que a pessoa jurídica manifesta a sua vontade por meio dos órgãos, que são partes integrantes da própria estrutura da pessoa jurídica, de tal modo que quando os agentes atuam nestes órgãos manifestam sua vontade. - A vontade da pessoa jurídica se forma e se exterioriza com a atuação dos seus órgãos. - A manifestação exarada pela NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 8 Críticas: - Impossibilidade do Estado (sem vontade própria) outorgar mandato. - Prática de ato com exorbitância de poderes (impossibilidade de responsabilizar o mandante – Estado). pessoa física é imputada à pessoa jurídica de direito público (Teoria da Imputação Volitiva). - Agente público presenta a pessoa jurídica de direito público, corporificando o ente público. - Teoria dominante. AUTARQUIA: As autarquias são definidas como serviço autônomo, criado por lei, com personalidade jurídica, patrimônio e receita próprios, para executar atividades típicas da Administração Pública, que requeiram, para seu melhor funcionamento, gestão administrativa e financeira descentralizada. FUNDAÇÃO: As fundações podem ser públicas podem ser de direito público ou privado. #DEOLHONAJURIS: Segundo a jurisprudência da Corte, a qualificação de uma fundação instituída pelo Estado como sujeita ao regime público ou privado depende de dois fatores: i) do estatuto de sua criação ou autorização e ii) das atividades por ela prestadas. Não há na Constituição Federal o elenco das atividades que definiriam qual o regime jurídico a ser aplicado a uma determinada fundação pública. Entretanto, existem alguns pressupostos lógico-jurídicos que devem ser utilizados como critérios discriminadores. (RE 716378, Relator(a): DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 07/08/2019, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-164 DIVULG 29- 06-2020 PUBLIC 30-06-2020) #SELIGANATABELA Autarquia Criada e extinta por lei. Exerce atividades típicas de Estado. Regime Jurídico de Direito Público. Bens públicos. Regime jurídico único. Fundação Pode ser de direito público (criada por lei) ou de direito privado (autorizada por lei). Exerce atividades que beneficiam a coletividade. Regime jurídico de direito público ou privado. Empresa Pública Autorizada por lei, mais registro. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 9 Regime jurídico de direito privado. Intervenção no domínio econômico ou serviço público. Empregado público, sob o regime CLT. Admite qualquer forma societária. Capital exclusivamente público. Sociedade de Economia Mista Autorizada por lei, mais registro. Regime jurídico de direito privado. Intervenção no domínio econômico ou serviço público. Empregado público, sob o regime CLT. Sempre sociedade anônima. Capital majoritariamente público. #FOCANATABELA #IMPORTANTE EMPRESA PÚBLICA SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA Tem sua criação autorizada por lei Tem sua criação autorizada por lei Pessoa jurídica de direito privado Pessoa jurídica de direito privado Funcionários são empregados públicos regidos pela CLT Funcionários são empregados públicos regidos pela CLT Presta serviço público ou explora atividade Econômica Presta serviço público ou explora atividade econômica 100% do capital público Maioria das ações com direito a voto deve ser do ente público ou de entidade da administração indireta NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 10 Qualquer modalidade empresarial (sociedade simples, sociedade Ltda; S/A, etc) Somente na forma de S/A #DEOLHONAJURIS: É desnecessária a autorização legislativa expressa para a criação de subsidiáriasquando houver autorização legislativa da criação de empresa pública ou sociedade de economia mista e nesta constar permissão genérica da possibilidade de criação de subsidiárias. Assim, não se exige lei específica para autorizar a criação de subsidiária. Com base no paralelismo das formas, como não é exigida lei específica para criar a subsidiária, também não é necessária lei específica para alienar o seu controle acionário. Em palavras mais simples: como não se exige lei específica para criar, também não se exige lei específica para “vender”. STF. Plenário. ADPF 794/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 21/5/2021 (Info 1018). O art. 37, XIX, da CF/88 afirma que é necessária a edição de uma lei específica para se autorizar a instituição de uma sociedade de economia mista ou uma empresa pública. Para que ocorra a desestatização da empresa estatal também necessária lei específica ou basta uma autorização genérica prevista em lei que veicule programa de desestatização? A Lei nº 9.491/97 tratou sobre o Programa Nacional de Desestatização e autorizou a desestatização de empresas estatais. Essa lei genérica é suficiente? Em regra, sim. É desnecessária, em regra, lei específica para inclusão de sociedade de economia mista ou de empresa pública em programa de desestatização. Não se aplica o princípio do paralelismo das formas. Exceção: em alguns casos a lei que autorizou a criação da empresa estatal afirmou expressamente que seria necessária lei específica para sua extinção ou privatização. Nesses casos, obviamente, não é suficiente uma lei genérica (não basta a Lei nº 9.491/97), sendo necessária lei específica. STF. Plenário. ADI 6241/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 6/2/2021 (Info 1004). Agências reguladoras: São autarquias em regime especial (possuem regime jurídico distinto daquele dispensado às demais autarquias) e que foram criadas para exercer a regulação de atividades econômicas em sentido amplo. AGÊNCIAS REGULADORAS AGÊNCIAS EXECUTIVAS Não se trata de uma nova espécie integrante da Administração Pública. Não se trata de uma nova espécie integrante da Administração Pública. São autarquias sob regime especial. Podem ser autarquias ou fundações públicas. O grau de autonomia depende dos instrumentos específicos que a respectiva lei instituidora estabeleça. Trata-se de qualificação formal, nos termos da lei nº 9.649/98, arts. 51 e 52. Não existe a figura da desqualificação da A qualificação se dá por meio de Decreto e pode ocorrer NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 11 agência reguladora. a desqualificação da entidade (também por Decreto). Vale lembrar que essa desqualificação não afeta a natureza da entidade, que continua a ser uma autarquia ou fundação. Atuam na área de regulação. Não é prevista uma área específica de atuação. A lei instituidora pode prever ou não, a celebração do contrato de gestão com o Poder Público. A celebração de contrato de gestão com o Poder Público é condição obrigatória para a obtenção da qualificação. É possível uma agência reguladora ser qualificada como uma agência executiva, caso preencha os requisitos. Uma autarquia qualificada como agência executiva pode ou não ser uma agência reguladora. A Lei nº 9.986/2000 dispõe sobre a gestão de recursos humanos das Agências Reguladoras. Os art. 8º-A prevê algumas pessoas que são proibidas de integrar o Conselho Diretor ou a Diretoria Colegiada das agências reguladoras. Veja as hipóteses dos incisos III e VII: Art. 8º-A. É vedada a indicação para o Conselho Diretor ou a Diretoria Colegiada: III - de pessoa que exerça cargo em organização sindical; VII - de membro de conselho ou de diretoria de associação, regional ou nacional, representativa de interesses patronais ou trabalhistas ligados às atividades reguladas pela respectiva agência. O STF declarou que esses incisos são constitucionais. É constitucional dispositivo legal que veda a indicação de pessoa que exerça cargo em organização sindical ou que seja membro de conselho ou diretoria de associação patronal ou trabalhista para a alta direção das agências reguladoras. STF. Plenário. ADI 6276/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 17/9/2021 (Info 1030). TERCEIRO SETOR Com a falência do Estado, o setor privado começou a ajudar nas questões sociais, através das inúmeras instituições que compõem o chamado terceiro setor. Ou seja, o terceiro setor é constituído por organizações sem fins lucrativos e não governamentais, que tem como objetivo gerar serviços de caráter público. Quem são as Organização da sociedade civil: a) entidade privada sem fins lucrativos que não distribua entre os seus sócios ou associados, conselheiros, diretores, empregados, doadores ou terceiros eventuais resultados, sobras, excedentes operacionais, brutos ou líquidos, dividendos, isenções de qualquer natureza, participações ou parcelas do seu patrimônio, auferidos mediante o exercício de suas atividades, e que os aplique integralmente na consecução do respectivo objeto social, de forma imediata ou por meio da constituição de fundo patrimonial ou fundo de reserva; b) as sociedades cooperativas previstas na Lei nº 9.867, de 10 de novembro de 1999 ; as integradas por pessoas em situação de risco ou vulnerabilidade pessoal ou social; as alcançadas por programas e ações de NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 12 combate à pobreza e de geração de trabalho e renda; as voltadas para fomento, educação e capacitação de trabalhadores rurais ou capacitação de agentes de assistência técnica e extensão rural; e as capacitadas para execução de atividades ou de projetos de interesse público e de cunho social. c) as organizações religiosas que se dediquem a atividades ou a projetos de interesse público e de cunho social distintas das destinadas a fins exclusivamente religiosos. Termo de colaboração: O termo de colaboração deve ser adotado pela administração pública para consecução de planos de trabalho de sua iniciativa, para celebração de parcerias com organizações da sociedade civil que envolvam a transferência de recursos financeiros. Termo de fomento: O termo de fomento deve ser adotado pela administração pública para consecução de planos de trabalho propostos por organizações da sociedade civil que envolvam a transferência de recursos financeiros. Acordo de cooperação: instrumento por meio do qual são formalizadas as parcerias estabelecidas pela administração pública com organizações da sociedade civil para a consecução de finalidades de interesse público e recíproco que não envolvam a transferência de recursos financeiros. #OLHAOGANCHO #SELIGANATABELA OS OSCIP O Poder Executivo poderá qualificar como organizações sociais pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujas atividades sejam dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico, à proteção e preservação do meio ambiente, à cultura e à saúde. Podem qualificar-se como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público as pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos que tenham sido constituídas e se encontrem em funcionamento regular há, no mínimo, 3 (três) anos, desde que os respectivos objetivos sociais e normas estatutárias atendam aos requisitos instituídos por esta Lei. Contrato de Gestão. Termo de Parceria. #DEOLHONAJURIS: Em caso de irregularidades do Estado-membro em convênio federal, a União somente poderá inscrever o ente no SIAFI, no CADIN e no CAUC após o término do processo de prestação de contas especial, observados os princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório O cadastro restritivo não deve ser feito de forma unilateral e sem acesso à ampla defesa e ao contraditório. Isso porque, muitas vezes, a inscrição pode ter, além de motivação meramente financeira, razões políticas. Assim, ao poder central (União) é possívelsuspender imediatamente o repasse de verbas ou a execução de convênios, mas o cadastro deve ser feito nos termos da lei, ou seja, mediante a verificação da veracidade das irregularidades apontadas. Isso porque o cadastro tem consequências, como a impossibilidade da repartição constitucional de verbas das NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 13 receitas voluntárias. A tomada de contas especial, procedimento por meio do qual se alcança o reconhecimento definitivo das irregularidades, com a devida observância do contraditório e da ampla defesa, tem suas regras definidas em lei. Ao final, é possível tornar o dano ao erário dívida líquida e certa, e a decisão tem eficácia de título executivo extrajudicial. STF. Plenário. ACO 2892 AgR/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/9/2019 (Info 951). PODERES ADMINISTRATIVOS #FOCANATABELA: Poder Hierárquico É a prerrogativa que garante ao administrador estruturar, escalonar e hierarquizar os seus quadros. Poder Disciplinar O poder disciplinar é a prerrogativa reconhecida à Administração para investigar e punir, após o contraditório e a ampla defesa (em PAD), os agentes públicos, na hipótese de infração funcional, e os demais administrados sujeitos à disciplina especial administrativa. Poder Normativo O poder normativo ou regulamentar é a prerrogativa reconhecida à Administração Pública para editar atos administrativos gerais para fiel execução das leis. Poder de Polícia É a prerrogativa que tem o Estado de limitar a atuação do particular em razão do interesse público. Art. 78. CTN: Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou a abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos. O fundamento do poder de polícia é o princípio da predominância do interesse público sobre o privado. POLÍCIA ADMINISTRATIVA POLÍCIA JUDICIÁRIA NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 14 Atua sobre bens, direitos ou atividades. Tem seu campo de atuação voltado para as pessoas. Atua para evitar ou reprimir o ilícito administrativo. Atua contra o ilícito penal. Exercida por diversos órgãos da Administração. É exercida pelas polícias civil e federal. Rege-se pelo Direito Administrativo. Rege-se pelo Direito Processual Penal. Ciclos de polícia: ORDEM DE POLÍCIA É a norma legal que estabelece, de forma primária, as restrições e as condições para o exercício das atividades privadas; CONSENTIMENTO DE POLÍCIA É a anuência do Estado para que o particular desenvolva determinada atividade ou utilize a propriedade particular. Nesse caso, o consentimento estatal pode ser dividido em, pelo menos, duas categorias: Licença: trata-se de ato vinculado por meio do qual a Administração reconhece o direito do particular (ex.: licença para dirigir veículo automotor ou para o exercício de determinada profissão); e Autorização: é o ato discricionário pelo qual a Administração, após a análise da conveniência e da oportunidade, faculta o exercício de determinada atividade privada ou a utilização de bens particulares, sem criação, em regra, de direitos subjetivos ao particular (ex.: autorização para porte de arma); FISCALIZAÇÃO DE POLÍCIA É a verificação do cumprimento, pelo particular, da ordem e do consentimento de polícia (ex.: fiscalização de trânsito, fiscalização sanitária etc.). A atividade fiscalizatória pode ser iniciada de ofício ou por provocação de qualquer interessado; e SANÇÃO DE POLÍCIA É a medida coercitiva aplicada ao particular que descumpre a ordem de polícia ou os limites impostos no consentimento de polícia (ex.: multa de trânsito, interdição do estabelecimento comercial irregular, NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 15 apreensão de mercadorias estragadas etc.). Delegação a pessoas jurídicas de direito privado: STJ O STJ, encampando a teoria dos ciclos de polícia, decidiu-se que somente os atos relativos ao consentimento e à fiscalização são delegáveis às pessoas jurídicas de direito privado, pois aqueles referentes à legislação e à sanção derivam do poder de coerção do Poder Público. Delegação a pessoas jurídicas de direito privado: STF O STF, por sua vez, decidiu que é constitucional a delegação do poder de polícia, por meio de lei, a pessoas jurídicas de direito privado integrantes da Administração Pública indireta, desde que possuam capital social majoritariamente público e que prestem exclusivamente serviço público de atuação própria do Estado e em regime não concorrencial. Apesar de ter chegado à mesma conclusão que o STJ, a Corte Suprema ressaltou que a única fase do ciclo de polícia que, por sua natureza, é absolutamente indelegável é a ordem de polícia, ou seja, a função legislativa. A competência legislativa é restrita aos entes públicos previstos na Constituição da República, sendo vedada sua delegação, fora das hipóteses expressamente autorizadas no texto constitucional, a pessoas jurídicas de direito privado. Em suma, os atos de consentimento, de fiscalização e de aplicação de sanções podem ser delegados a estatais que possam ter um regime jurídico próximo daquele aplicável à Fazenda Pública. É constitucional a delegação do poder de polícia, por meio de lei, a pessoas jurídicas de direito privado integrantes da Administração Pública indireta de capital social majoritariamente público que prestem exclusivamente serviço público de atuação própria do Estado e em regime não concorrencial. STF. Plenário. RE 633782/MG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 23/10/2020 (Repercussão Geral – Tema 532) (Info 996). #OLHAOGANCHO O excesso de poder ocorre em casos nos quais a autoridade pública atua fora dos limites de sua competência, ou seja, exorbita ou extrapola a competência que lhe foi atribuída, praticando atos que não estão previamente estipulados por lei. Abuso de poder Excesso de poder Desvio de poder (finalidade) NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 16 O desvio de poder estará presente sempre que o agente do Estado praticar o ato, até mesmo dentro dos limites da competência a ele conferida, mas visando a alcançar outra finalidade que não aquela prevista em lei. PODER VINCULADO X PODER DISCRICIONÁRIO a) Poder vinculado: é aquela situação em que o administrador não tem liberdade, juízo de valor, conveniência e oportunidade. Preenchidos os requisitos a autoridade tem que praticar o ato. Ex.: licença para construir, licença para dirigir, concessão de aposentadoria. Não seria necessariamente um poder, como o discricionário, pois não confere qualquer prerrogativa ao agente administrativo. b) Poder discricionário: no poder discricionário há a conveniência e oportunidade do administrador. Essa discricionariedade tem de estar dentro dos limites da lei, sob pena de se tratar de conduta arbitrária, sendo considerada ilegal. Ex.: permissão de uso de bem público, autorização para veículo acima do peso permitido. ATOS ADMINISTRATIVOS São ELEMENTOS OU REQUISITOS de um ato administrativo, que figuram como elementos de sua formação, a competência, a forma, o objeto, o motivo e a finalidade. O art. 2º da Lei nº 4.717/65, interpretado de forma reversa, permite que sejam aclarados os requisitos do ato administrativo. A competência é o poder previsto em lei que confere atribuições legais ao agente público para a prática do ato administrativo. #SELIGA: EXCESSO DE PODER, FUNÇÃO DE FATO E USURPAÇÃO DE FUNÇÃO. OcorreEXCESSO DE PODER quando o agente público atua fora ou além de sua esfera de competência, estabelecida em lei. O excesso de poder é uma das modalidades de “abuso de poder” (a outra modalidade é o desvio de poder, que corresponde a vício no elemento finalidade dos atos administrativos). O VÍCIO DE COMPETÊNCIA (excesso de poder), entretanto, nem sempre obriga a anulação do ato. O vício de competência admite convalidação, salvo se se tratar de competência em razão da matéria ou de competência exclusiva. A USURPAÇÃO DE FUNÇÃO é crime, e o usurpador é alguém que não foi por nenhuma forma investido em cargo, emprego ou função pública; não tem nenhuma espécie de relação jurídica funcional com a administração. Diferentemente, ocorre a denominada FUNÇÃO DE FATO quando a pessoa foi investida no cargo, no emprego público ou na função pública, mas há alguma ilegalidade em sua investidura ou algum impedimento legal para a prática do ato. Ex. Servidor que continua em exercício após a idade limite para aposentadoria compulsória. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 17 Na hipótese de função de fato, em virtude da “teoria da aparência” (a situação tem aparência de legalidade), o ato é considerado válido, ou, pelo menos, são considerados válidos os efeitos por ele produzidos ou dele decorrentes. Na hipótese de usurpação de função, a maioria da doutrina considera o ato inexistente. Já a forma representa a observância completa e regular das formalidades indispensáveis à existência ou seriedade do ato administrativo. O objeto é o conteúdo do ato administrativo, é o seu resultado prático. O motivo são as razões de fato e de direito que justificam a prática do ato administrativo. Pressuposto de fato Pressuposto de direito Conjunto de acontecimentos ocorridos no mundo real que levam a Administração a praticar o ato. Dispositivo legal que embasa o ato. Todo ato administrativo deve ter um motivo lícito, ou seja, baseado na lei. Ademais, o motivo deve guardar congruência, isto é, relação de lógica com o objeto e a finalidade do ato; caso contrário, o ato será nulo. TEORIA DOS MOTIVOS DETERMINANTES: Impõe que, uma vez declarado o motivo do ato, este deve ser respeitado. Esta teoria vincula o administrador ao motivo declarado. A validade do ato está adstrita aos motivos indicados como seu fundamento, de maneira que, se os motivos forem inexistentes ou falsos, o ato será nulo. TREDESTINAÇÃO: É lícita quando a mudança de motivo é realizada em razão da manutenção do interesse público. Ex. Ia desapropriar para construir um hospital, mas acaba construindo uma escola. A finalidade representa o bem jurídico objetivado pelo ato administrativo, que deve ser marcado pelo interesse público. #MACETE: COM-FO-FI-MO-OB São ATRIBUTOS do ato administrativo a presunção de legalidade (legitimidade, veracidade); a imperatividade (coercibilidade ou poder extroverso); a autoexecutoriedade (executoriedade e exigibilidade); e a tipicidade. A presunção de legalidade é atributo segundo o qual o ato administrativo é presumivelmente legal, verdadeiro e conforme o direito, até prova em contrário. Já a imperatividade e o atributo segundo o qual o ato administrativo pode ser imposto a terceiros independentemente de sua concordância, submetendo a vontade do particular à vontade do Estado. A autoexecutoriedade é atributo segundo o qual a Administração Pública pode praticar os atos administrativos sem precisar recorrer previamente ao Poder Judiciário. Com a autoexecutoriedade o Estado pode se valer de meios indiretos de coerção. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 18 #FOCANATABELA #NÃOCONFUNDIR ELEMENTOS/REQUISITOS ATRIBUTOS COMPETÊNCIA PRESUNÇÃO DE LEGALIDADE/LEGITIMIDADE/VERACIDADE FORMA IMPERATIVIDADE FINALIDADE AUTOEXECUTORIEDADE MOTIVO - OBJETO - Elementos Ato Vinculado Ato Discricionário Competência Vinculado Vinculado Finalidade Vinculado Vinculado Forma Vinculado Vinculado Motivo Vinculado Discricionário Objeto Vinculado Discricionário #DEOLHONAJURIS: Pedro e Soraia, casados entre si, são servidores públicos federais lotados em Recife. É aberta uma vaga em Salvador para o cargo de Pedro. Este concorre no concurso de remoção e consegue ser removido para a capital baiana. Soraia terá direito de ser removida junto com Pedro, com fulcro no art. 36, parágrafo único, III, “a”? O servidor que é transferido de localidade a pedido, após concorrer em concurso de remoção, gera para seu cônjuge o direito subjetivo de também ser transferido para acompanhá-lo, independentemente do interesse da Administração? NÃO. O servidor público federal somente tem direito à remoção prevista no art. 36, parágrafo único, III, "a", da Lei nº 8.112/90, na hipótese em que o cônjuge/companheiro, também servidor, tenha sido deslocado de ofício, para atender ao interesse da Administração (nos moldes do inciso I do mesmo dispositivo legal). STJ. 1ª Seção.EREsp 1247360-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 22/11/2017 (Info 617). O servidor público federal tem direito de ser removido a pedido, independentemente do interesse da Administração, para acompanhar o seu cônjuge empregado de empresa pública federal que foi deslocado para outra localidade no interesse da Administração. O art. 36, parágrafo único, III, “a”, da Lei 8.112/1990 confere o NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 19 direito ao servidor público federal de ser removido para acompanhar o seu cônjuge SERVIDOR público que foi deslocado no interesse da Administração. A jurisprudência do STJ vem atribuindo uma interpretação ampliativa ao conceito de servidor público para alcançar não apenas os que se vinculam à Administração Direta, mas também os que exercem suas atividades nas entidades da Administração Indireta. Desse modo, o disposto no referido dispositivo legal deve ser interpretado de forma a possibilitar o reconhecimento do direto de remoção também ao servidor público que pretende acompanhar seu cônjuge empregado de empresa pública federal. STJ. 3ª Seção. MS 14195-DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 13/3/2013 (Info 519). Enunciado 16 da I Jornada de Direito Administrativo CJF/STJ: As hipóteses de remoção de servidor público a pedido, independentemente do interesse da Administração, fixadas no art. 36, parágrafo único, III, da Lei n. 8.112/1990 são taxativas. Por esse motivo, a autoridade que indefere a remoção, quando não presentes os requisitos da lei, não pratica ato ilegal ou abusivo. O ato de remoção de servidor público por interesse da Administração Pública deve ser motivado. Caso não o seja, haverá nulidade. No entanto, é possível que o vício da ausência de motivação seja corrigido em momento posterior à edição dos atos administrativos impugnados. Assim, se a autoridade removeu o servidor sem motivação, mas ela, ao prestar as informações no mandado de segurança, trouxe aos autos os motivos que justificaram a remoção, o vício que existia foi corrigido. STJ. 1ª Turma. AgRg no RMS 40427-DF, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 3/9/2013 (Info 529). A “teoria do fato consumado" não pode ser aplicada para consolidar remoção de servidor público destinada a acompanhamento de cônjuge, em hipótese que não se adequa à legalidade estrita, ainda que tal situação haja perdurado por vários anos em virtude de decisão liminar não confirmada por ocasião do julgamento de mérito. Em outras palavras, se a pessoa consegue uma decisão provisória garantindo a ela a remoção e, posteriormente, esta decisão é revogada, esta remoção terá que ser desfeita mesmo que já tenha se passado muitos anos. Não se aplica a "Teoria do Fato Consumado" em relação a atos praticados sob contestação das pessoas envolvidas, que o reputam irregular e manifestam a existência da irregularidade nas vias adequadas, ainda que, pela demora no transcurso do procedimento destinado à apuração da legalidade do ato, estegere efeitos no mundo concreto. Verificada ou confirmada a ilegalidade, o ato deve ser desfeito, preservando-se apenas aquilo que, pela consolidação fática irreversível, não puder ser restituído ao status quo ante. Se a Administração Pública, mesmo após a decisão liminar, continuou questionando no processo a legalidade da remoção do servidor/autor, não se pode aplicar a teoria do fato consumado, devendo o ato ser desfeito, salvo se tivesse havido uma consolidação fática irreversível (ou seja, se não fosse mais possível voltar ao "status quo ante"). STJ. Corte Especial. EREsp 1157628-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 7/12/2016 (Info 598). A extinção dos atos administrativos pode ocorrer das seguintes formas: - Cumprimento dos seus efeitos: extinção natural, ex. fim do prazo. - Desaparecimento do sujeito ou objeto: extinção subjetiva ou objetiva, ex. servidor falece, bem público é destruído. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 20 - Retirada: revogação, anulação, cassação. Revogação Anulação Cassação Retirada por razões de conveniência e oportunidade. Em razão de ilegalidade. Descumprimento de condição fundamental. Também são formas de retirada: caducidade, contraposição e renúncia. Caducidade Contraposição Renúncia Norma jurídica posterior tornou inviável a permanência do ato. Edição posterior de ato cujos efeitos se contrapõe ao anterior. O próprio beneficiário abre mão. A anulação é o desfazimento do ato por ofensa à lei ou princípios. A anulação do ato com vício insanável é obrigatória. Já o ato com vício sanável sem lesão ao interesse público e terceiros pode ser anulado ou convalidado. #OLHAOGANCHO: Convalidação ou saneamento é a supressão do vício existente em um ato ilegal, com efeitos retroativos à data em que este foi praticado. A convalidação é feita, em regra, pela Administração, mas eventualmente poderá ser feita pelo administrado, quando a edição do ato dependia da manifestação de sua vontade e a exigência não foi observada. Anulação = ex – Tunc Revogação = ex – Nunc Convalidação = ex- Tunc A convalidação envolve a sanatória de um vício de legalidade, com efeitos retroativos à edição do ato, não havendo qualquer empecilho em se tratando de atos de efeitos exauridos. Já a revogação não pode atingir atos de efeitos já exauridos. Atos irregulares são detentores de defeitos levíssimos e irrelevantes normalmente à forma, não prejudicando a validade do ato administrativo. Nem precisa de convalidação. O defeito ANULÁVEL é passível de convalidação. Já nos atos nulos, os defeitos são graves, insuscetíveis de convalidação, tornando obrigatória a anulação. #NÃOCONFUNDA: CONVERSÃO CONVALIDAÇÃO É a transformação de um ato em outro, para aproveitar o que for válido. Ex tunc (retroativo). Correção feita no ato, que continua a ser o mesmo. Ex tunc (retroativo). NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 21 A anulação capaz de repercutir desfavoravelmente sobre a esfera de interesses do administrado deve ser precedida de procedimento administrativo, assegurado o contraditório e ampla defesa. A anulação desconstitui todos os efeitos já produzidos pelo ato anulado (ex tunc), além de impedir efeitos futuros. Ademais, em regra, não há direito adquirido, salvo para proteger os efeitos já produzidos em relação a terceiros de boa-fé. #DEOLHONAJURIS: Não deve ser determinada a devolução de valores recebidos de boa-fé por servidor público, percebidos a título precário no período em que liminar produziu efeitos. É desnecessária a devolução dos valores recebidos por liminar revogada, em razão de mudança de jurisprudência. Também é descabida a restituição de valores recebidos indevidamente, circunstâncias em que o servidor público atuou de boa-fé. STF. 1ª Turma. MS 32185/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 13/11/2018 (Info 923). #GOLDENTIPS1 #AJUDAMARCINHO2 O pagamento indevido feito ao servidor público e que decorreu de erro administrativo está sujeito à devolução, salvo se o servidor, no caso concreto, comprovar a sua boa-fé objetiva. Os pagamentos indevidos aos servidores públicos decorrentes de erro administrativo (operacional ou de cálculo), não embasado em interpretação errônea ou equivocada da lei pela Administração, estão sujeitos à devolução, ressalvadas as hipóteses em que o servidor, diante do caso concreto, comprova sua boa-fé objetiva, sobretudo com demonstração de que não lhe era possível constatar o pagamento indevido. STJ. 1ª Seção. REsp 1769306/AL, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 10/03/2021 (Recurso Repetitivo – Tema 1009) (Info 688). A anulação pode ser feita pela própria Administração (autotutela), de ofício ou mediante provocação ou pelo Poder Judiciário, apenas mediante provocação. Súmula 346-STF: A administração pública pode declarar a nulidade dos seus próprios atos. Súmula 473-STF: A administração pode anular os seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornem ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial. A revogação é a retirada de um ato administrativo válido do mundo jurídico por razões de conveniência e oportunidade, desde que o ato seja discricionário. A revogação produz efeito ex nunc, e é ato privativo da Administração Pública. Não há prazo para a revogação. 1 As #GOLDENTIPS foram incluídas pelo setor de revisão. 2 Disponível em: https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/2f2cd5c753d3cee48e47dbb5bbaed331?categoria =2&subcategoria=22&assunto=95 NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 22 Não são passíveis de revogação: - Atos exauridos ou consumados; - Vinculados; - Que geraram direitos adquiridos; - Integrantes de um procedimento administrativo; - Meros atos administrativos (ex. atestado); - Complexos; - Se já exauriu a competência para o ato. Em regra, não gera direito à indenização, salvo se afetou o direito de outrem. Classificação dos atos administrativos: Quanto aos destinatários: a) atos gerais: são atos abstratos, impessoais. Atingem a coletividade como um todo. Atos com finalidade normativa. Prevalecem sobre os atos individuais. Ex. regulamentos, instruções normativas. b) atos individuais: atos especiais. São atos que se dirigem a destinatários determinados. Pode ser ato individual singular (único destinatário) ou plúrimo (múltiplos destinatários). Quanto ao alcance: a) internos: produzem efeitos dentro da Administração. Independem de publicação oficial; basta comunicação interna. Ex.: instruções de serviços. b) externos: produzem efeitos para fora da Adm. Dependem de publicação no diário oficial. Quanto à formação: a) ato simples: basta uma única manifestação de vontade. Essa manifestação pode ser singular (única autoridade) ou colegiada. b) ato compostos: duas manifestações de vontade no mesmo órgão, em patamar de desigualdade. A primeira é principal e a segunda é secundária. Ex. atos dependentes de visto do chefe. José – não são vontades autônomas, pois uma delas é meramente instrumental, pois se limita à verificação de legitimidade do ato. c) atos complexos: duas manifestações de vontade, em órgãos diferentes, em patamar de igualdade. Ex. nomeação de dirigente de agência reguladora, concessão de aposentadoria. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 23 LICITAÇÕES E CONTRATOS A licitação é um procedimento obrigatório que antecede a celebração de contratos pela Administração Pública. A razão de existir dessa exigência reside no fato de que o Poder Público não pode escolher livremente um fornecedor qualquer, como fazem as empresas privadas. Os imperativos da isonomia, impessoalidade, moralidade e indisponibilidade do interessepúblico, que informam a atuação da Administração, obrigam à realização de um processo público para seleção imparcial da melhor proposta, garantindo iguais condições a todos que queiram concorrer para a celebração do contrato. #SELIGANATABELA PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS APLICÁVEIS À LICITAÇÃO Princípio da Isonomia; Princípio da Competitividade; Princípio da veiculação ao instrumento convocatório; Princípio do julgamento objetivo; Princípio da inalterabilidade do edital; Princípio do sigilo das propostas; Princípio da vedação à oferta de vantagens; Princípio da obrigatoriedade; Princípio do formalismo procedimental; Princípio da adjudicação compulsória ao vencedor do certame. Em 2021 foi publicada a Lei nº 14.133/21, conhecida como a “nova lei de licitações”. Esta inovação legislativa determina que o procedimento anterior poderá ser utilizado pelos entes públicos durante o período de dois anos. Assim, a Administração Pública poderá optar por licitar de acordo com a lei 14.133/2021 ou de acordo com a lei 8.666/93 e a opção escolhida deverá vir de forma expressa no edital licitatório. A licitação busca a satisfação do interesse público ao garantir contratos mais vantajosos, respeitando a isonomia das contratações e visando o desenvolvimento nacional sustentável. As finalidades da licitação estão enumeradas no art. 11 da Lei 14.133/21. Observa-se que o novo dispositivo legal trouxe um quarto objetivo do processo licitatório, em relação à lei 8.666/93: evitar contratações com sobrepreço ou com preços manifestamente inexequíveis e superfaturamento na execução dos contratos. Lei 8.666/93 (Antiga Lei de Licitação) Lei 14.133 (Nova lei de Licitação) Art. 3º A licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável e será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes Art. 11. O processo licitatório tem por objetivos: I - assegurar a seleção da proposta apta a gerar o resultado de contratação mais vantajoso para a Administração Pública, inclusive no que se refere ao ciclo de vida do objeto; II - assegurar tratamento isonômico entre os licitantes, bem como a justa competição; III - evitar contratações com sobrepreço ou com preços manifestamente inexequíveis e NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 24 são correlatos. superfaturamento na execução dos contratos; IV - incentivar a inovação e o desenvolvimento nacional sustentável. Parágrafo único. A alta administração do órgão ou entidade é responsável pela governança das contratações e deve implementar processos e estruturas, inclusive de gestão de riscos e controles internos, para avaliar, direcionar e monitorar os processos licitatórios e os respectivos contratos, com o intuito de alcançar os objetivos estabelecidos no caput deste artigo, promover um ambiente íntegro e confiável, assegurar o alinhamento das contratações ao planejamento estratégico e às leis orçamentárias e promover eficiência, efetividade e eficácia em suas contratações. O parágrafo único do artigo 11 trata da governança das contratações, um aspecto do chamado “compliance”. Trata-se da previsão de boas práticas na Administração, sempre visando padrões de eficiência e ética nas atividades administrativas. Ao longo da lei 14.133/2021, é possível verificar a inserção de dispositivos relacionados a um perfil moderno da Administração Pública, com referências à maior participação dos administrados, segurança jurídica, eficiência da Administração, “compliance”, “accountability” (prestação de contas e responsabilização) e controle das atividades administrativas. Aplicabilidade da Lei 14.133/2021: Art. 1º Esta Lei estabelece normas gerais de licitação e contratação para as Administrações Públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e abrange: I - os órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário da União, dos Estados e do Distrito Federal e os órgãos do Poder Legislativo dos Municípios, quando no desempenho de função administrativa; II - os fundos especiais e as demais entidades controladas direta ou indiretamente pela Administração Pública. § 1º Não são abrangidas por esta Lei as empresas públicas, as sociedades de economia mista e as suas subsidiárias, regidas pela Lei nº 13.303, de 30 de junho de 2016, ressalvado o disposto no art. 178 desta Lei. § 2º As contratações realizadas no âmbito das repartições públicas sediadas no exterior obedecerão às peculiaridades locais e aos princípios básicos estabelecidos nesta Lei, na forma de regulamentação específica a ser editada por ministro de Estado. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 25 § 3º Nas licitações e contratações que envolvam recursos provenientes de empréstimo ou doação oriundos de agência oficial de cooperação estrangeira ou de organismo financeiro de que o Brasil seja parte, podem ser admitidas: I - condições decorrentes de acordos internacionais aprovados pelo Congresso Nacional e ratificados pelo Presidente da República; II - condições peculiares à seleção e à contratação constantes de normas e procedimentos das agências ou dos organismos, desde que: III) sejam exigidas para a obtenção do empréstimo ou doação; b) não conflitem com os princípios constitucionais em vigor; c) sejam indicadas no respectivo contrato de empréstimo ou doação e tenham sido objeto de parecer favorável do órgão jurídico do contratante do financiamento previamente à celebração do referido contrato; d) (VETADO). § 4º A documentação encaminhada ao Senado Federal para autorização do empréstimo de que trata o § 3º deste artigo deverá fazer referência às condições contratuais que incidam na hipótese do referido parágrafo. § 5º As contratações relativas à gestão, direta e indireta, das reservas internacionais do País, inclusive as de serviços conexos ou acessórios a essa atividade, serão disciplinadas em ato normativo próprio do Banco Central do Brasil, assegurada a observância dos princípios estabelecidos no caput do art. 37 da Constituição Federal. Modalidades de licitações: Na Nova Lei, as modalidades Tomada de Preços e Carta Convite não existem mais. Continuam apenas a concorrência e o pregão. A definição de escolha entre as duas modalidades é exclusivamente em razão da complexidade do objeto da licitação. O pregão será utilizado sempre que o objeto possuir padrões de desempenho e qualidade que possam ser objetivamente definidos pelo edital, através de especificações usuais de mercado. Nas demais hipóteses será utilizada a modalidade concorrência, ou seja, quando se tratar de serviços técnicos especializados de natureza predominantemente intelectual e de obras e serviços de engenharia que não sejam considerados comuns. A Nova Lei de Licitações traz em seu artigo 28 as modalidades Pregão, Concorrência, Concurso, Leilão e ainda, prevê a nova modalidade Diálogo Competitivo. De modo simplificado, o pregão será utilizado para contratação de bens ou serviços comuns, já a concorrência será aplicável às contratações de bens e serviços especiais. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 26 Por sua vez, a modalidade concurso mantém aplicação para contratação de serviço técnico, científico ou artístico e o leilão, por outro lado, será aplicável para alienação de bens móveis ou imóveis. E o diálogo competitivo será utilizado para contratações nos casos de Inovação tecnológica ou técnica, para buscar soluções que dependam de adaptação das opções que se encontram disponíveis no mercado, bem como que envolvam especificações que a Administraçãonão consegue definir de modo objetivo e precisa elaborar junto com os interessados. MODALIDADES NA LEI 14.133/21 (ART. 28) Pregão Concorrência Concurso Leilão Diálogo competitivo Instrumentos auxiliares: Outra mudança trazida pela Nova Lei são a formalização dos instrumentos auxiliares, que poderão ser utilizados pelos órgãos para organizar e otimizar as contratações. Credenciamento: O primeiro é o credenciamento, que é uma forma que a administração pública tem para chamar todos os interessados na licitação. Visa a justa competição e a escolha da proposta mais vantajosa, portanto não pode haver limitação do credenciamento dos interessados. Então quaisquer pessoas que preencham os requisitos necessários do credenciamento e queiram prestar serviços ou fornecer bens ao órgão público, poderão participar da licitação. Pré-qualificação: É um dos procedimentos que solicita a comprovação das habilidades de fornecer do licitante. Com a pré-qualificação no início dos procedimentos poupa tempo porque, após a abertura da licitação, apenas será necessária a habilitação jurídica, financeira e fiscal. Quando a licitação chegar ao final, o vencedor do certame já estará apto a prestar o serviço, pois a qualificação já foi previamente apresentada e conferida pela banca da licitação. Esse instrumento auxiliar serve para demonstrar ao órgão público que o fornecedor do bem ou serviço tem condições de atender e satisfazer a entrega do objeto da licitação, evitando assim fraudes, demora ou falha na entrega. Procedimento de Manifestação de Interesse: Esse procedimento é referente à entrega de uma declaração manifestando o interesse em participar do processo licitatório. Como o próprio nome sugere, permite que o participante manifeste seu interesse no edital de chamamento público, através de estudos, investigações, levantamentos e projetos de soluções inovadoras que contribuam com questões de relevância pública NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 27 Sistema de Registro de Preços: O sistema de registro de preços, já era previsto nas legislações anteriores e agora na Nova Lei de Licitações no artigo 82. Seu objetivo é acelerar o processo licitatório e possibilitar a criação de atas de registro de preço por licitação, através das modalidades concorrência e pregão, sendo uma ferramenta que simplifica e otimiza os certames para a Administração Pública. Registro Cadastral: Por fim temos o registro cadastral, que é equivalente à utilização do SICAF para todos os órgãos e sem necessidade de registro em cada ente específico. Os órgãos e entidades da Administração Pública deverão utilizar esse instrumento auxiliar, que estará disponível no Portal Nacional de Contratações Públicas, para ter um cadastro unificado de licitantes. Este cadastro tem como objetivo proteger a administração pública de fraudes e frustrações na execução do contrato, pois um fornecedor que possui um bom cadastro é aquele que já está com a documentação em dia e consequentemente, é um bom candidato a fechar um contrato. Contratações diretas: A Lei 14.133/21 mantém a sistemática que era colocada na Lei 8.666/93: há casos de inexigibilidade de licitação (art. 74), casos de licitação dispensável (art. 75) e casos de licitação dispensada (art. 76). Esses dispositivos apresentam muitas semelhanças com os artigos da Lei 8.666/93, não só nas nomenclaturas, mas também nos casos de contratação direta. Isso não significa dizer, porém, que não houve inovações: Em relação à inexigibilidade de licitação (art. 74), a nova lei traz, agora expressamente, hipóteses que já eram elencadas pela doutrina e pela jurisprudência. Em relação à licitação dispensável (art. 75), muitas hipóteses foram mantidas e algumas hipóteses foram pontualmente alteradas. Por exemplo, nas hipóteses de dispensa de licitação em razão do valor, os valores foram ampliados. Além disso, no contrato emergencial, que antes tinha o prazo de 180 dias, o prazo poderá chegar a 1 ano. Ademais, a nova lei traz alguns casos novos de dispensa e não repete alguns casos anteriormente colocados no art. 24 da Lei 8.666/93. Em relação à licitação dispensada (art. 76), cabe lembrar que o leilão é agora previsto como modalidade aplicável à alienação de bens móveis e imóveis. Ele estará dispensado em hipóteses bastante semelhantes às da Lei 8.666/93. Os casos de inexigibilidade são exemplificativos (tanto na Lei 8.666/93 quanto na Lei 14.133/21). Se o gestor público chega à conclusão de que é inviável a licitação, a única saída é a inexigibilidade. O art. 72 da Lei 14.133/21 traz exigências que devem ser observadas para as contratações diretas em geral. Em comparação com a Lei 8.666/93, o art. 26 desta tinha uma preocupação muito tímida com a contratação direta e com os documentos do processo. A nova lei traz uma preocupação bem mais intensa nesse aspecto. ART. 72, LEI 14.133/21: “O processo de contratação direta, que compreende os casos de inexigibilidade e de dispensa de licitação, deverá ser instruído com os seguintes documentos: NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 28 I - documento de formalização de demanda e, se for o caso, estudo técnico preliminar, análise de riscos, termo de referência, projeto básico ou projeto executivo; II - estimativa de despesa, que deverá ser calculada na forma estabelecida no art. 23 desta Lei; III - parecer jurídico e pareceres técnicos, se for o caso, que demonstrem o atendimento dos requisitos exigidos; IV - demonstração da compatibilidade da previsão de recursos orçamentários com o compromisso a ser assumido; V - comprovação de que o contratado preenche os requisitos de habilitação e qualificação mínima necessária; VI - razão da escolha do contratado; VII - justificativa de preço; VIII - autorização da autoridade competente. Parágrafo único. O ato que autoriza a contratação direta ou o extrato decorrente do contrato deverá ser divulgado e mantido à disposição do público em sítio eletrônico oficial”. ART. 73, LEI 14.133/21: “Na hipótese de contratação direta indevida ocorrida com dolo, fraude ou erro grosseiro, o contratado e o agente público responsável responderão solidariamente pelo dano causado ao erário, sem prejuízo de outras sanções legais cabíveis”. #DEOLHONAJURIS: O regime de licitação e contratação previsto na Lei nº 8.666/93 é inaplicável às sociedades de economia mista que explorem atividade econômica própria das empresas privadas, concorrendo, portanto, no mercado. Não é possível conciliar o regime previsto na Lei nº 8.666/93 com a agilidade própria desse tipo de mercado que é movido por intensa concorrência entre as empresas que nele atuam. STF. Plenário. RE 441280/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 6/3/2021 (Info 1008). CONTRATOS ADMINISTRATIVOS: Art. 89. Os contratos de que trata esta Lei regular-se-ão pelas suas cláusulas e pelos preceitos de direito público, e a eles serão aplicados, supletivamente, os princípios da teoria geral dos contratos e as disposições de direito privado. § 1º Todo contrato deverá mencionar os nomes das partes e os de seus representantes, a finalidade, o ato que autorizou sua lavratura, o número do processo da licitação ou da contratação direta e a sujeição dos contratantes às normas desta Lei e às cláusulas contratuais. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 29 § 2º Os contratos deverão estabelecer com clareza e precisão as condições para sua execução, expressas em cláusulas que definam os direitos, as obrigações e as responsabilidades das partes, em conformidade com os termos do edital de licitação e os da proposta vencedora ou com os termos do ato que autorizou a contratação direta e os da respectiva proposta. A principal característica dos contratos administrativos é a possibilidade de haver tratamento desigual entre a Administração (que atua com prerrogativas públicas) e o contratado. Maria Sylvia ZanellaDi Pietro assim dispõe: no contrato administrativo, a Administração age como poder público, com poder de império na relação jurídica contratual, não agindo nessa qualidade, o contrato será de direto privado. Portanto, os contratos administrativos são manifestações de vontade entre duas ou mais pessoas objetivando a celebração de um negócio jurídico, com a Participação do Poder Público, que atua com supremacia. Esse contrato é regido pelo direito público, sendo inerentes a ele todas as prerrogativas e limitações de Estado. As cláusulas exorbitantes estão previstas no art. 58 da Lei 8.666/93 e no art. 104 da Lei 14.133/21. Lei 8.666/93 Lei 14.133/21 Art. 58. O regime jurídico dos contratos administrativos instituído por esta Lei confere à Administração, em relação a eles, a prerrogativa de: I - modificá-los, unilateralmente, para melhor adequação às finalidades de interesse público, respeitados os direitos do contratado; II - rescindi-los, unilateralmente, nos casos especificados no inciso I do art. 79 desta Lei; III - fiscalizar-lhes a execução; IV - aplicar sanções motivadas pela inexecução total ou parcial do ajuste; V - nos casos de serviços essenciais, ocupar provisoriamente bens móveis, imóveis, pessoal e serviços vinculados ao objeto do contrato, na hipótese da necessidade de acautelar apuração administrativa de faltas contratuais pelo contratado, bem como na hipótese de rescisão do contrato administrativo. § 1º As cláusulas econômico-financeiras e monetárias dos contratos administrativos não poderão ser alteradas sem prévia concordância do contratado. Art. 104. O regime jurídico dos contratos instituído por esta Lei confere à Administração, em relação a eles, as prerrogativas de: I - modificá-los, unilateralmente, para melhor adequação às finalidades de interesse público, respeitados os direitos do contratado; II - extingui-los, unilateralmente, nos casos especificados nesta Lei; III - fiscalizar sua execução; IV - aplicar sanções motivadas pela inexecução total ou parcial do ajuste; V - ocupar provisoriamente bens móveis e imóveis e utilizar pessoal e serviços vinculados ao objeto do contrato nas hipóteses de: a) risco à prestação de serviços essenciais; b) necessidade de acautelar apuração administrativa de faltas contratuais pelo contratado, inclusive após extinção do contrato. § 1º As cláusulas econômico-financeiras e monetárias dos contratos não poderão ser alteradas NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 30 § 2º Na hipótese do inciso I deste artigo, as cláusulas econômico-financeiras do contrato deverão ser revistas para que se mantenha o equilíbrio contratual. sem prévia concordância do contratado. § 2º Na hipótese prevista no inciso I do caput deste artigo, as cláusulas econômico-financeiras do contrato deverão ser revistas para que se mantenha o equilíbrio contratual. Durações dos contratos: Art. 105. A duração dos contratos regidos por esta Lei será a prevista em edital, e deverão ser observadas, no momento da contratação e a cada exercício financeiro, a disponibilidade de créditos orçamentários, bem como a previsão no plano plurianual, quando ultrapassar 1 (um) exercício financeiro. Art. 106. A Administração poderá celebrar contratos com prazo de até 5 (cinco) anos nas hipóteses de serviços e fornecimentos contínuos, observadas as seguintes diretrizes: I - a autoridade competente do órgão ou entidade contratante deverá atestar a maior vantagem econômica vislumbrada em razão da contratação plurianual; II - a Administração deverá atestar, no início da contratação e de cada exercício, a existência de créditos orçamentários vinculados à contratação e a vantagem em sua manutenção; III - a Administração terá a opção de extinguir o contrato, sem ônus, quando não dispuser de créditos orçamentários para sua continuidade ou quando entender que o contrato não mais lhe oferece vantagem. § 1º A extinção mencionada no inciso III do caput deste artigo ocorrerá apenas na próxima data de aniversário do contrato e não poderá ocorrer em prazo inferior a 2 (dois) meses, contado da referida data. § 2º Aplica-se o disposto neste artigo ao aluguel de equipamentos e à utilização de programas de informática. Art. 107. Os contratos de serviços e fornecimentos contínuos poderão ser prorrogados sucessivamente, respeitada a vigência máxima decenal, desde que haja previsão em edital e que a autoridade competente ateste que as condições e os preços permanecem vantajosos para a Administração, permitida a negociação com o contratado ou a extinção contratual sem ônus para qualquer das partes. Art. 108. A Administração poderá celebrar contratos com prazo de até 10 (dez) anos nas hipóteses previstas nas alíneas “f” e “g” do inciso IV e nos incisos V, VI, XII e XVI do caput do art. 75 desta Lei. Art. 109. A Administração poderá estabelecer a vigência por prazo indeterminado nos contratos em que seja usuária de serviço público oferecido em regime de monopólio, desde que comprovada, a cada exercício financeiro, a existência de créditos orçamentários vinculados à contratação. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 31 Art. 110. Na contratação que gere receita e no contrato de eficiência que gere economia para a Administração, os prazos serão de: I - até 10 (dez) anos, nos contratos sem investimento; II - até 35 (trinta e cinco) anos, nos contratos com investimento, assim considerados aqueles que impliquem a elaboração de benfeitorias permanentes, realizadas exclusivamente a expensas do contratado, que serão revertidas ao patrimônio da Administração Pública ao término do contrato. Art. 111. Na contratação que previr a conclusão de escopo predefinido, o prazo de vigência será automaticamente prorrogado quando seu objeto não for concluído no período firmado no contrato. Parágrafo único. Quando a não conclusão decorrer de culpa do contratado: I - o contratado será constituído em mora, aplicáveis a ele as respectivas sanções administrativas; II - a Administração poderá optar pela extinção do contrato e, nesse caso, adotará as medidas admitidas em lei para a continuidade da execução contratual. Art. 112. Os prazos contratuais previstos nesta Lei não excluem nem revogam os prazos contratuais previstos em lei especial. Art. 113. O contrato firmado sob o regime de fornecimento e prestação de serviço associado terá sua vigência máxima definida pela soma do prazo relativo ao fornecimento inicial ou à entrega da obra com o prazo relativo ao serviço de operação e manutenção, este limitado a 5 (cinco) anos contados da data de recebimento do objeto inicial, autorizada a prorrogação na forma do art. 107 desta Lei. Art. 114. O contrato que previr a operação continuada de sistemas estruturantes de tecnologia da informação poderá ter vigência máxima de 15 (quinze) anos. #DEOLHONAJURIS: O edital de licitação não pode fixar um preço mínimo a ser oferecido pelos licitantes (art. 40, X, da Lei nº 8.666/93). Só um preço máximo. Essa vedação se justifica porque o objetivo da licitação é o de selecionar a proposta mais vantajosa. Ocorre que algumas propostas apresentadas são claramente inexequíveis, ou seja, o licitante não conseguirá custear o bem ou prestar o serviço e ainda ter lucro. Isso significa que, mais a frente, haverá transtornos para a Administração Pública com a inexecução do contrato. Diante disso, alguns entes públicos passaram a exigir algo que denominaram de “taxa de administração”. Essa taxa é o percentual de remuneração que a empresa irá obter com aquela venda ou serviço. Se a taxa for equivalente a zero ou mesmo negativa, a proposta é claramente inexequível considerando que não haverá lucro para a empresa. Assim, alguns editais passaram a exigir um percentual mínimo de taxa de administração (ex: a empresa deverá demonstrar que, na planilha de custos que gerou opreço, está prevista a sua remuneração em, no mínimo, 1%). Essa prática é válida? O ente público pode estipular cláusula editalícia em licitação/pregão prevendo percentual mínimo de taxa de administração como forma de se resguardar de eventuais propostas NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 32 inexequíveis? Não. A fixação de percentual mínimo de taxa de administração em edital de licitação/pregão fere expressamente a norma contida no inciso X do art. 40 da Lei nº 8.666/93. A taxa de administração é uma forma de remuneração do contratado pela Administração Pública, integrando, portanto, o conceito de preço. Logo, ao exigir um percentual mínimo de taxa de administração, o edital está fixando um preço mínimo. Sendo o objetivo da licitação selecionar a proposta mais vantajosa para a Administração (art. 3º da Lei nº 8.666/93), a fixação de um preço mínimo atenta contra essa finalidade. A Lei de Licitações prevê outros mecanismos de combate às propostas inexequíveis em certames licitatórios, permitindo que o licitante preste garantia adicional, tal como caução em dinheiro ou em títulos da dívida pública, seguro-garantia e fiança bancária. STJ. 1ª Seção. REsp 1840113-CE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 23/09/2020 (Recurso Repetitivo – Tema 1038) (Info 683). As normas previstas na Lei da Relicitação para a prorrogação antecipada dos contratos de concessão não violam os princípios constitucionais da eficiência, da razoabilidade, da impessoalidade, da moralidade e da competitividade. As regras complementam os requisitos da legislação geral (Lei nº 8.987/95) sobre o regime de concessão de serviços públicos, que exige a regularidade, a continuidade, a eficiência, a segurança e a fixação de tarifas em valores razoáveis (modicidade). A prorrogação é analisada caso a caso e está sujeita à fiscalização da agência reguladora. Vale ressaltar, ainda, que o contrato deve ser submetido à consulta pública, havendo ainda a necessidade de encaminhar ao TCU o termo aditivo para análise final. STF. Plenário. ADI 5991 MC/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 20/2/2020 (Info 967). Não contrariando a lei nem sendo abusivo, o contrato administrativo pode tratar de renúncia a direito do contratado. Esta renúncia será eficaz e produzirá seus regulares efeitos na hipótese em que houver expressa concordância do contratado. Especificamente com relação aos advogados, o Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94) dispõe serem do advogado os honorários de sucumbência. Havia previsão expressa a respeito da impossibilidade de retirar-lhes esse direito. Estava no art. 24, § 3º. Contudo, em 2009, o STF declarou a inconstitucionalidade da regra, uma vez que se trata de direito disponível e, por isso, negociável com o constituinte do mandato (ADI 1194, Relatora p/ Acórdão Min. Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, julgado em 20/05/2009). Nessa linha, não se pode concluir pela abusividade ou ilegalidade da cláusula contratual que prevê a renúncia do direito aos honorários de sucumbência, notadamente quando a parte contratada, por livre e espontânea vontade, manifesta sua concordância e procede ao patrocínio das causas de seu cliente mediante a remuneração acertada no contrato. No caso em análise, a parte autora manifestou, de forma expressa e consciente, a renúncia e só procurou discutir a cláusula após o fim do contrato. STJ. 1ª Turma. AREsp 1825800-SC, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 05/04/2022 (Info 733). O art. 27 da Lei nº 8.987/95 permite que se transfira a concessão ou o controle societário da concessionária para uma outra pessoa, desde que o poder público concorde e sejam respeitados os requisitos legais. Art. 27. A transferência de concessão ou do controle societário da concessionária sem prévia anuência do poder concedente implicará a caducidade da concessão. Parágrafo único. Para fins de obtenção da anuência de que trata o caput deste artigo o pretendente deverá: I - atender às exigências de capacidade técnica, idoneidade financeira e regularidade jurídica e fiscal necessárias à assunção do serviço; e II - comprometer-se a cumprir todas as cláusulas do contrato em vigor. O STF decidiu que esse dispositivo é constitucional. O parágrafo único do art. 27 prevê que, mesmo com essa transferência, a base objetiva do contrato continuará intacta. Permanecem o mesmo objeto contratual, as mesmas obrigações contratuais e a mesma equação NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 33 econômico-financeira. O que ocorre é apenas a sua modificação subjetiva, seja pela substituição do contratado, seja em razão da sua reorganização empresarial. Em nosso sistema jurídico, o que interessa à Administração é, sobretudo, a seleção da proposta mais vantajosa, independentemente da identidade do particular contratado, ou dos atributos psicológicos ou subjetivos de que disponha. STF. Plenário. ADI 2946/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 8/3/2022 (Info 1046). O art. 33 da Lei nº 8.987/95 afirma que, depois de ter sido declarada a intervenção, o poder concedente deverá, no prazo de 30 dias, instaurar procedimento administrativo para comprovar as causas determinantes da medida e apurar responsabilidades, assegurado o direito de ampla defesa. Desse modo, verifica-se claramente que, em se tratando de intervenção, o direito de defesa do concessionário só é propiciado após a decretação da intervenção, a partir do momento em que for instaurado o procedimento administrativo para apuração das irregularidades. Isso porque a intervenção possui finalidades investigatória e fiscalizatória, e não punitiva. STJ. 2ª Turma. RMS 66794-AM, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 22/02/2022 (Info 727). CONSÓRCIO PÚBLICO A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios podem contratar consórcios públicos para a realização de objetivos de interesse comum. O consórcio público constituirá associação pública ou pessoa jurídica de direito privado. O consórcio público com personalidade jurídica de direito público integra a administração indireta de todos os entes da Federação consorciados. Os consórcios públicos poderão emitir documentos de cobrança e exercer atividades de arrecadação de tarifas e outros preços públicos pela prestação de serviços ou pelo uso ou outorga de uso de bens públicos por eles administrados ou, mediante autorização específica, pelo ente da Federação consorciado. Os consórcios públicos poderão outorgar concessão, permissão ou autorização de obras ou serviços públicos mediante autorização prevista no contrato de consórcio público, que deverá indicar de forma específica o objeto da concessão, permissão ou autorização e as condições a que deverá atender, observada a legislação de normas gerais em vigor. É nula a cláusula do contrato de consórcio que preveja determinadas contribuições financeiras ou econômicas de ente da Federação ao consórcio público, salvo a doação, destinação ou cessão do uso de bens móveis ou imóveis e as transferências ou cessões de direitos operadas por força de gestão associada de serviços públicos. O protocolo de intenções deverá ser publicado na imprensa oficial. O contrato de consórcio público será celebrado com a ratificação, mediante lei, do protocolo de intenções. É dispensado da ratificação o ente da Federação que, antes de subscrever o protocolo de intenções, disciplinar por lei a sua participação no consórcio público. Os entes consorciados somente entregarão recursos ao consórcio público mediante contrato de rateio. Ademais, deverão ser constituídas e reguladas por contrato de programa, como condição de sua validade, as obrigações que um ente da Federação constituir para com outro ente da Federação ou para com consórcio NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 34 público no âmbito de gestão associada em que haja a prestação de serviços públicos ou a transferência total ou parcial de encargos, serviços, pessoal ou de bens necessários à continuidadedos serviços transferidos. #SELIGANALEI Art. 1º Esta Lei dispõe sobre normas gerais para a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios contratarem consórcios públicos para a realização de objetivos de interesse comum e dá outras providências. § 1º O consórcio público constituirá associação pública ou pessoa jurídica de direito privado. § 2º A União somente participará de consórcios públicos em que também façam parte todos os Estados em cujos territórios estejam situados os Municípios consorciados. § 3º Os consórcios públicos, na área de saúde, deverão obedecer aos princípios, diretrizes e normas que regulam o Sistema Único de Saúde – SUS. § 4º Aplicam-se aos convênios de cooperação, no que couber, as disposições desta Lei relativas aos consórcios públicos. (Incluído pela Lei nº 14.026, de 2020) #DEOLHONAJURIS: Se um consórcio público celebrou convênio com a União por meio do qual estão previstos repasses federais, o fato de um dos entes integrantes do consórcio possuir pendência inscrita no CAUC não pode impedir que o consórcio receba os valores prometidos. Isso porque o consórcio público é uma pessoa jurídica distinta dos entes federativos que o integram e, segundo o princípio da intranscendência das sanções, as punições impostas não podem superar a dimensão estritamente pessoal do infrator, ou seja, não podem prejudicar outras pessoas jurídicas que não sejam aquelas que praticaram o ato.Assim, o fato de ente integrante de consórcio público possuir pendência no Serviço Auxiliar de Informações para Transferências Voluntárias (CAUC) não impede que o consórcio faça jus, após a celebração de convênio, à transferência voluntária a que se refere o art. 25 da LC 101/2000. STJ. 2ª Turma. REsp 1463921-PR, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 10/11/2015 (Info 577). SERVIÇO PÚBLICO CONCESSÃO DE SERVIÇO PÚBLICO PERMISSÃO DE SERVIÇO PÚBLICO A delegação de sua prestação, feita pelo poder concedente, mediante licitação, na modalidade concorrência ou diálogo competitivo, a pessoa jurídica ou consórcio de empresas que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco e por prazo determinado; (Redação dada pela Lei nº 14.133, de 2021) A delegação, a título precário, mediante licitação, da prestação de serviços públicos, feita pelo poder concedente à pessoa física ou jurídica que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 35 Concessão administrativa: é uma modalidade de Parceria Público-Privada, regida pela Lei Federal 11.079/2004, que prevê a concessão da prestação de serviços públicos tendo Administração Pública como usuária direta ou indireta (§ 2º do art. 2º da Lei Federal 11.079/2004), realizando o pagamento de contraprestações pecuniárias ao parceiro privado. Nesta modalidade, não existe pagamento de tarifa pelo usuário final. Concessão patrocinada: é uma modalidade de Parceria Público-Privada, regida pela Lei Federal 11.079/2004, que prevê a concessão de serviços públicos ou de obras públicas nos moldes da Lei Federal 8.987/1995. Em função do alto valor do investimento e para garantir o equilíbrio econômico-financeiro do contrato, bem como não onerar o usuário do serviço, a Administração Pública realiza pagamentos de contraprestações pecuniárias ao parceiro privado, de forma a complementar a tarifa cobrada dos usuários (§ 1º do art. 2º da Lei Federal 11.079/2004). O principal exemplo deste tipo de concessão é o contrato para construção e operação de linhas de metrô. Encerramento do contrato de concessão: No que tange ao encerramento do contrato de concessão, podemos vislumbrar algumas hipóteses: a) Advento do termo contratual; b) Encampação: ocorre todas as vezes que não há mais interesse público na manutenção do contrato, configurando cláusula exorbitante dos contratos administrativos. Essa cláusula permite ao ente estatal extinguir a avença, sem a necessidade de concordância do particular; c) Caducidade: trata-se de rescisão unilateral do contrato justificada por motivo de inadimplemento do particular contratado; d) Rescisão: pode se dar por duas situações distintas: (i) Consensual ou bilateral; (ii) Judicial: requerida pela concessionária, diante do inadimplemento contratual do poder público. Tal situação decorre do fato de que a entidade privada não tem poder de rescindir o contrato unilateralmente (não se aplica a cláusula exorbitante), devendo recorrer ao Judiciário. e) Anulação: é a extinção do contrato administrativo em virtude de ilegalidade originária. Nestes casos, a medida pode ser definida pela própria Administração Pública, no exercício de seu poder de autotutela ou por decisão judicial. f) Falência ou extinção da empresa concessionária e falecimento ou incapacidade do titular, no caso de empresa individual: é a extinção do contrato em razão do desaparecimento da concessionária. Isso decorre do fato de que os contratos administrativos, em geral, são celebrados intuito personae. Corte de serviço público: NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 36 A Lei nº 14.015/2020, que dispõe sobre a interrupção e o restabelecimento de serviços públicos, explicitou o dever de prévia comunicação ao usuário de serviços a serem interrompidos. Resumindo a Lei nº 14.015/2020: • Em caso de inadimplemento, é possível a suspensão da prestação do serviço público, mesmo que se trate de serviço público essencial (ex: energia elétrica, água etc.); • Essa suspensão/interrupção não viola o princípio da continuidade dos serviços públicos; • Para que essa suspensão seja válida, contudo, é indispensável que o usuário seja previamente comunicado de que o serviço será desligado, devendo ser informado também do dia exato em que haverá o desligamento; • O desligamento do serviço deverá ocorrer em dia útil, durante o horário comercial; • É vedado que o desligamento ocorra em dia de feriado, véspera de feriado, sexta-feira, sábado ou domingo. • Caso o consumidor queira regularizar a situação e pagar as contas em atraso, a concessionária poderá cobrar uma taxa de religação do serviço. Essa taxa de religação, contudo, não será devida se a concessionária cortou o serviço sem prévia notificação. • Assim, se a concessionária não comunicou previamente o consumidor do corte ela estará sujeita a duas consequências: a) terá que pagar multa; b) não poderá cobrar taxa de religação na hipótese do cliente regularizar o débito. #DEOLHONAJURIS: Afronta o princípio da separação dos Poderes a anulação judicial de cláusula de contrato de concessão firmado por Agência Reguladora e prestadora de serviço de telefonia que, em observância aos marcos regulatórios estabelecidos pelo Legislador, autoriza a incidência de reajuste de alguns itens tarifários em percentual superior ao do índice inflacionário fixado, quando este não é superado pela média ponderada de todos os itens. STF. Plenário. RE 1059819/PE, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 18/2/2022 (Repercussão Geral – Tema 991) (Info 1044). Salvo situações excepcionais, devidamente comprovadas, o implemento de transporte público coletivo pressupõe prévia licitação. STF. Plenário. RE 1001104, Rel. Marco Aurélio, julgado em 15/05/2020 (Repercussão Geral – Tema 854) (Info 982 – clipping). Na hipótese de débito estrito de recuperação de consumo efetivo por fraude no aparelho medidor atribuída ao consumidor, desde que apurado em observância aos princípios do contraditório e da ampla defesa, é NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 37 possível o corte administrativo do fornecimento do serviço de energia elétrica, mediante prévio aviso ao consumidor, pelo inadimplemento do consumo recuperado correspondente ao período de 90 (noventa) dias anterior à constatação da fraude, contanto que executado o corte em até 90 (noventa)dias após o vencimento do débito, sem prejuízo do direito de a concessionária utilizar os meios judiciais ordinários de cobrança da dívida, inclusive antecedente aos mencionados 90 (noventa) dias de retroação. STJ. 1ª Seção. REsp 1412433- RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 25/04/2018 (recurso repetitivo) (Info 634). NOVIDADE LEGISLATIVA - Lei nº 14.015/2020. Alterou a Lei nº 8.987/95 e a Lei nº 13.460/2017 para deixar mais explícito que é possível a interrupção do serviço público em caso de inadimplemento do usuário, desde que ele seja previamente avisado. AGENTES PÚBLICOS As atividades administrativas são exercidas pelas pessoas físicas denominadas agentes públicos. Este gênero é dividido pelas seguintes espécies: AGENTES POLÍTICOS São os ocupantes dos primeiros escalões do Poder Público, ex. chefes do Executivo; ministros; membros do Poder Legislativo; etc. AGENTES ADMINISTRATIVOS Se vinculam aos órgãos e entidades da Administração Pública por relações profissionais e remuneradas, sujeitos à hierarquia funcional. Ex. servidores públicos; empregados públicos; temporários. AGENTES HONORÍFICOS Cidadãos convocados para prestar transitoriamente serviços relevantes ao Estado, sem vínculo empregatício. Ex. jurados e mesários. AGENTES DELEGADOS Particulares que executam determinada atividade/obra/serviço, em nome próprio, por sua conta e risco, de acordo com normas do Estado e sua fiscalização. AGENTES CREDENCIADOS Representa a Administração em determinado ato mediante remuneração. Ex. jogadores na copa do mundo. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 38 Acumulação de cargos públicos: Em regra, o ordenamento jurídico brasileiro proíbe a acumulação remunerada de cargos ou empregos públicos. Porém, a Constituição Federal prevê um rol taxativo de casos excepcionais em que a acumulação é permitida. Importante lembrar que, em qualquer hipótese, a acumulação só será permitida se houver compatibilidade de horários e observado o limite máximo de dois cargos. As únicas hipóteses de acumulação constitucionalmente autorizadas são: a) a de dois cargos de professor (art. 37, XVI, a); b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico (art. 37, XVI, b); c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões regulamentadas (art. 37, XVI); c) inclusive militares (Emenda Constitucional n. 77/2014); d) a de um cargo de vereador com outro cargo, emprego ou função pública (art. 38, III); e) a de um cargo de magistrado com outro no magistério (art. 95, parágrafo único, I); f) a de um cargo de membro do Ministério Público com outro no magistério (art. 128, § 5º, II, d) #DEOLHONAJURIS: É possível a acumulação de cargos mesmo que a jornada semanal ultrapasse 60h. A acumulação de cargos públicos de profissionais da área de saúde, prevista no art. 37, XVI, da CF/88, não se sujeita ao limite de 60 horas semanais previsto em norma infraconstitucional, pois inexiste tal requisito na Constituição Federal. O único requisito estabelecido para a acumulação é a compatibilidade de horários no exercício das funções, cujo cumprimento deverá ser aferido pela administração pública. STF. 1ª Turma. RE 1176440/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 9/4/2019 (Info 937). STF. 2ª Turma. RMS 34257 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 29/06/2018. STJ. 1ª Seção. REsp 1767955/RJ, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 27/03/2019. Direito adquirido: A aprovação em concurso público, como regra, gera simples expectativa de direito à nomeação. Porém, haverá direito subjetivo (ou direito adquirido) à nomeação nas seguintes hipóteses excepcionais: 1) preterição da ordem classificatória (gera direito imediato à posse para todos os preteridos, exceto se a preterição ocorreu pela via judicial); NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 39 2) contratação temporária para a mesma função (direito imediato à posse do mesmo número de contratados); 3) aprovação dentro do número de vagas anunciadas no edital (direito à posse surge com a proximidade do encerramento do prazo de validade do concurso); 4) requisição de servidores para exercício da mesma tarefa a ser provida pelo concurso (direito imediato à posse do mesmo número de requisitados); 5) desistência do candidato aprovado na posição imediatamente anterior (direito imediato à posse do mesmo número de desistentes); 6) convocação dos candidatos para apresentar documentos necessários à nomeação (direito imediato à posse dos convocados); 7) prática de qualquer ato inequívoco que torne incontestável a necessidade do preenchimento de novas vagas. Cargo em comissão Função de confiança Qualquer pessoa pode ocupar. Somente servidores efetivos. #SELIGA: o direito de greve é norma de eficácia limitada; aplica-se aos servidores públicos a lei de greve dos trabalhadores privados. #DEOLHONAJURIS É inconstitucional norma estadual que, de maneira genérica e abrangente, permite a convocação temporária de profissionais da área da educação sem prévio vínculo com a Administração Pública para suprir vacância de cargo público efetivo. STF. Plenário. ADPF 915/MG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 20/5/2022 (Info 1055). Não é possível inviabilizar o pedido de concessão do benefício previdenciário ou de seu restabelecimento em razão do transcurso de quaisquer lapsos temporais - seja decadencial ou prescricional. Diante da decisão do STF na ADI 6.096/DF, não é possível inviabilizar o próprio pedido de concessão do benefício (ou de restabelecimento), em razão do transcurso de quaisquer lapsos temporais - seja decadencial ou prescricional -, de modo que a prescrição se limita apenas às parcelas pretéritas vencidas no quinquênio que precedeu à propositura da ação, nos termos da Súmula 85/STJ. Assim, fica superado o entendimento firmado pelo STJ nos EDcl nos EREsp 1.269.726/MG, tendo em vista que o art. 102, § 2º, da CF/1988 confere efeito vinculante às NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 40 decisões definitivas em sede de ADI em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta nos âmbitos federal, estadual e municipal. STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1805428-PB, Rel. Min. Manoel Erhardt (Desembargador convocado do TRF5), julgado em 17/05/2022 (Info 737). O STF possui critérios para definir se as atribuições dos cargos podem ser enquadradas como direção, chefia e assessoramento? SIM. O STF, ao analisar o Tema 1010, afirmou que a criação de cargos em comissão é exceção à regra de ingresso no serviço público mediante concurso público de provas ou provas e títulos e somente se justifica quando presentes os pressupostos constitucionais para sua instituição. Na oportunidade, foram fixadas as seguintes teses: a) A criação de cargos em comissão somente se justifica para o exercício de funções de direção, chefia e assessoramento, não se prestando ao desempenho de atividades burocráticas, técnicas ou operacionais; b) tal criação deve pressupor a necessária relação de confiança entre a autoridade nomeante e o servidor nomeado; c) o número de cargos comissionados criados deve guardar proporcionalidade com a necessidade que eles visam suprir e com o número de servidores ocupantes de cargos efetivos no ente federativo que os criar; e d) as atribuições dos cargos em comissão devem estar descritas, de forma clara e objetiva, na própria lei que os instituir. Caso não se respeite esses requisitos, a criação dos cargos em comissão será considerada inconstitucional. STF. Plenário. ADI 6655/SE, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 6/5/2022 (Info 1053). Para a recusa à nomeação de aprovados dentro do número de vagas em concurso público devem ficar comprovadas as situações excepcionais elencadas pelo Supremo Tribunal Federal no RE 598.099/MS, não sendo suficiente a alegaçãode estado das coisas - pandemia, crise econômica, limite prudencial atingido para despesas com pessoal -, tampouco o alerta da Corte de Contas acerca do chamado limite prudencial. A recusa à nomeação dos candidatos aprovados dentro do número de vagas deve ser a última das alternativas, somente sendo adotada quando realmente já não houver outra saída para a Administração Pública. STJ. 1ª Turma. RMS 66316-SP, Rel. Min. Manoel Erhardt (Desembargador convocado do TRF da 5ª Região), julgado em 19/10/2021 (Info 715). O candidato aprovado em concurso público pode assumir cargo que, segundo o edital, exige título de Ensino Médio profissionalizante ou completo com curso técnico em área específica, caso não seja portador desse título mas detenha diploma de nível superior na mesma área profissional. Caso concreto: candidato foi aprovado no concurso para o cargo de Técnico de Laboratório – Área Química. O edital exigia, como qualificação para o exercício do cargo, “ensino médio profissionalizante na área, ou ensino médio completo com curso técnico na área (Área Química)”. O candidato não possui ensino médio profissionalizante nem curso técnico na área química. No entanto, ele possui uma qualificação superior e relacionada com a área: ele é formado em Química (possui bacharelado em Química), além de ter concluído Mestrado em Química. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 41 STJ. 1ª Seção. REsp 1888049-CE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 22/09/2021 (Recurso Repetitivo – Tema 1094) (Info 710). A exclusão da previsão de adaptação das provas físicas para candidatos com deficiência viola o bloco de constitucionalidade composto pela Constituição Federal e pela Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência – CDPD (Decreto Legislativo 186/2008), incorporada à ordem jurídica brasileira com o “status” de Emenda Constitucional, na forma do art. 5º, § 3º, da CF/88. Duas teses fixadas pelo STF para o tema: 1) É inconstitucional a interpretação que exclui o direito de candidatos com deficiência à adaptação razoável em provas físicas de concursos públicos. 2) É inconstitucional a submissão genérica de candidatos com e sem deficiência aos mesmos critérios em provas físicas, sem a demonstração da sua necessidade para o exercício da função pública. mSTF. Plenário. ADI 6476/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 3/9/2021 (Info 1028). Impedir que candidato em concurso público que já é integrante dos quadros da Administração prossiga no certame para ingresso nas fileiras da Polícia Militar na fase de sindicância de vida pregressa, fundada em relato do próprio candidato no formulário de ingresso na corporação de que foi usuário de drogas há sete anos, acaba por aplicá-lo uma sanção de caráter perpétuo, dado o grande lastro temporal entre o fato tido como desabonador e o momento da investigação social. STJ. 2ª Turma. AREsp 1806617-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 01/06/2021 (Info 699). Os candidatos aprovados fora do número de vagas previstas no edital não possuem direito líquido e certo à nomeação, salvo nas hipóteses de preterição arbitrária e imotivada por parte da Administração. É também pacífico o entendimento que a expectativa de direito se transforma em direito subjetivo à nomeação nas situações em que o candidato, aprovado fora do número de vagas, passe a figurar, devido à desistência de aprovados classificados em colocação superior, dentro do quantitativo ofertado no edital do concurso. No entanto, não existe direito líquido e certo à nomeação no caso a desistência do candidato mais bem classificado – e que deu origem à vaga para o impetrante – ocorreu após o prazo de validade do concurso. Assim, se a desistência dos candidatos aprovados em melhores posições se deu após o prazo de validade do certame, isso não garante o direito à nomeação para o candidato que estava aguardando. STJ. 2ª Turma. AgInt no RMS 63676/RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 22/03/2021. É inconstitucional a fixação de critério de desempate em concursos públicos que favoreça candidatos que pertencem ao serviço público de um determinado ente federativo. Caso concreto: lei do Estado do Pará previa que, em caso de empate de candidatos no concurso público, teria preferência para a ordem de classificação o candidato que já pertencesse ao serviço público do Estado do Pará e, persistindo a igualdade, aquele que contasse com maior tempo de serviço público ao Estado do Pará. Essa previsão viola o art. 19, III, da CF/88, NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 42 que veda a criação de distinções entre brasileiros ou preferências entre si. STF. Plenário. ADI 5358/PA, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 27/11/2020 (Info 1000). RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO Evolução histórica: IRRESPONSABILIDADE: Em um primeiro momento, tinha-se a teoria da irresponsabilidade, a qual era um reflexo dos Estados Absolutistas, tendo raízes na ideia de soberania do administrador máximo, isto é, esta teoria consiste no fato de que não era possível o Estado, personificado na figura do monarca, lesar seus súditos, tendo em vista a impossibilidade do rei cometer erros (“the king can do no wrong”, de acordo com os ingleses). A irresponsabilidade estatal que dominou os estados absolutistas perdurou e só veio a ser extinta no século passado, desaparecendo em 1946, nos Estados Unidos e em 1947 na Inglaterra, ainda que estes países sejam ambos Estados de Direito, aliás, pilares da democracia moderna. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA: Em meados do século XIX começou-se a admitir a possibilidade da responsabilidade subjetiva do Estado, ou seja, passou a depender da prova da culpa do agente, sem a qual, mesmo que houvesse um ato ilícito e o dano, não se falava em responsabilidade. Entretanto, a responsabilização subjetiva do Estado mostrou-se inócua na tentativa de garantir direitos dos cidadãos, tendo em vista a grande dificuldade que um simples cidadão tem em produzir provas frente ao grande aparelhamento estatal que protegia a administração pública e seus agentes. FALTA DO SERVIÇO/CULPA ANÔNIMA: Com o surgimento da teoria da “falta do serviço”, começou-se a caminhar em direção à responsabilidade objetiva do Estado. Assim, há culpa do serviço ou “falta do serviço” quando este não funciona, devendo funcionar, funciona mal ou funciona atrasado e continua a ausência do serviço devido ao seu defeituoso funcionamento, inclusive por demora, basta para configurar a responsabilidade do Estado. Muito embora a teoria da “falta do serviço” representasse um avanço, ela ainda não configurava a responsabilidade objetiva do Estado, uma vez que o Poder Público provando ter operado com diligência, prudência e perícia, ficaria isento de responsabilidade. RESPONSABILIDADE OBJETIVA: não é necessária a comprovação da culpa, bastando o ato ilícito, o dano e obviamente o nexo causal entre estes para a configuração da responsabilidade. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 43 Sendo assim, pode-se dizer que tal teoria veio equilibrar a relação entre o Estado, com todos os seus privilégios e poderes, e seus cidadãos que evidentemente encontram-se em estado de hipossuficiência nesta relação jurídica. Exclusão da responsabilidade: A responsabilidade civil do Estado será elidida quando presentes determinadas hipóteses, aptas a excluir o nexo causal entre a conduta do Estado e o dano causado à vítima, quais sejam: a força maior, o caso fortuito, o estado de necessidade e a culpa exclusiva da vítima. Exceção: A teoria do risco integral consiste em uma visão exagerada da responsabilidade civil do Estado, tendo em vista que, para essa teoria, é suficiente a existência do evento danoso e do nexo causal para que apareça a obrigação de reparar o dano por parte da Administração, ainda que o dano seja oriundo de culpaexclusiva do particular. Segundo a doutrina majoritária, aplica-se no caso de dano ambiental e dano nuclear. Responsabilidade por omissão: Quando se fala em danos da Administração Pública por omissão é imperioso se distinguir a omissão específica da omissão genérica. A omissão é específica quando o Estado tem a obrigação de evitar o dano. Isso ocorre nos caos de bueiros destampados que ensejam a queda de uma pessoa, causando-lhe danos. No entanto, há situações que não há possibilidade de o Estado impedir, através de seus agentes, danos eventuais aos seus administrados. O exemplo típico é o de lesões sofridas por atos de vandalismo de terceiros, em estádios de futebol. Assim sendo, quando há responsabilidade civil por omissão específica, o Estado responde objetivamente, conforme o art. 37, § 6º, da CF. Entretanto, em se tratando de omissões genéricas, a responsabilidade do Poder Público é subjetiva, com necessidade de se aferir a culpa. #DEOLHONAJURIS: Nos termos do artigo 37, § 6º, da Constituição Federal, não se caracteriza a responsabilidade civil objetiva do Estado por danos decorrentes de crime praticado por pessoa foragida do sistema prisional, quando não demonstrado o nexo causal direto entre o momento da fuga e a conduta praticada. STF. Plenário. RE 608880, Rel. Min. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Alexandre de Moraes, julgado em 08/09/2020 (Repercussão Geral – Tema 362) (Info 993). Caso concreto: o hospital não possuía nenhum serviço de vigilância e o evento morte decorreu de um disparo com arma de fogo contra a vítima dentro do hospital. A conduta do hospital que deixa de fornecer o mínimo serviço de segurança e, por conseguinte, despreza o dever de zelar pela incolumidade física dos seus pacientes contribuiu de forma determinante e específica para o homicídio praticado em suas dependências, afastando- NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 44 se a alegação da excludente de ilicitude, qual seja, fato de terceiro. STJ. 2ª Turma. REsp 1708325-RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 24/05/2022 (Info 740). Caso concreto: ação de indenização ajuizada contra o Departamento de Estradas e Rodagens de Sergipe (DER/SE), em face da morte do pai e companheiro dos autores, decorrente de acidente de veículo em rodovia estadual, ocasionado por buraco não sinalizado. Segundo o entendimento do STJ, a responsabilidade civil do Estado por condutas omissivas é subjetiva, sendo necessário, dessa forma, a comprovação da conduta omissiva e culposa (negligência na atuação estatal - má prestação do serviço), o dano e o nexo causal entre ambos. No caso, restou incontroverso que o acidente com evento morte ocorreu em rodovia estadual, mediante a queda de caminhão em buraco de 15 metros de profundidade, decorrente da ausência de manutenção e fiscalização estatal da via pública, não havendo quaisquer indícios de culpa exclusiva da vítima. Desse modo, é possível concluir pela existência de omissão culposa por parte do ente público, consubstanciada na inobservância ao dever de fiscalização e sinalização da via pública, bem como pelo nexo causal entre a referida conduta estatal e o evento danoso, que resultou na morte do pai e marido dos recorrentes, causando-lhes, evidentemente, prejuízos materiais e morais, os quais devem ser indenizados. Presentes os elementos necessários para responsabilização do Estado pelo evento morte, deve-se reconhecer devida a indenização por danos materiais, visto que a dependência econômica dos cônjuges e filhos menores do de cujus é presumida, dispensando a demonstração por qualquer outro meio de prova. STJ. 1ª Turma.REsp 1709727-SE, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 05/04/2022 (Info 733). O STF decidiu que a responsabilização objetiva do Estado em caso de morte de detento somente ocorre quando houver inobservância do dever específico de proteção previsto no art. 5º, inciso XLIX, da Constituição Federal (RE 841526/RS). Não haverá responsabilidade civil do Estado se o Tribunal de origem, com base nas provas apresentadas, decide que não se comprovou que a morte do detento foi decorrente da omissão do Poder Público e que o Estado não tinha como montar vigilância a fim de impedir que o preso ceifasse sua própria vida. Tendo o acórdão do Tribunal de origem consignado expressamente que ficou comprovada causa impeditiva da atuação estatal protetiva do detento, rompeu-se o nexo de causalidade entre a suposta omissão do Poder Público e o resultado danoso. STJ. 2ª Turma. REsp 1305259/SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 08/02/2018. Teoria da dupla garantia: O STF, em regime de Repercussão Geral, definiu a seguinte tese: “A teor do disposto no art. 37, § 6º, da Constituição Federal, a ação por danos causados por agente público deve ser ajuizada contra o Estado ou a pessoa jurídica de direito privado prestadora de serviço público, sendo parte ilegítima para a ação o autor do ato, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa”. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 45 Responsabilidade civil do Estado por danos causados em obras públicas: As obras públicas podem ser executadas diretamente ou indiretamente por empresa contratada. No primeiro caso, o Estado responde objetivamente pelos danos causados a terceiros, na forma do art. 37,§ 6°, da CF. Na segunda hipótese, por sua vez, a doutrina diverge sobre a responsabilidade civil do Estado: 1° entendimento: o Estado responde diretamente pelos danos causados por empresas por ele contratadas, uma vez que a obra pública, em última análise, é de sua responsabilidade. Nesse sentido: Cavalieri Filho; 2° entendimento: é importante se fazer uma distinção entre dano causado pelo simples fato da obra e dano oriundo da má execução da obra. No primeiro caso, o Estado responde diretamente e de maneira objetiva, inexistindo responsabilidade da empreiteira (por ex: obra que acarreta o fechamento da via pública por longo período, prejudicando comerciantes). No segundo caso, entretanto, a empreiteira responde primariamente e de maneira subjetiva, havendo, no entanto, a responsabilidade subsidiária do Estado (por ex: ausência de sinalização no canteiro de obra que gera queda de pedestre). Nesse sentido: Carvalho Filho e Rafael Rezende. #DEOLHONAJURIS: Caso concreto: ação de indenização ajuizada contra o Departamento de Estradas e Rodagens de Sergipe (DER/SE), em face da morte do pai e companheiro dos autores, decorrente de acidente de veículo em rodovia estadual, ocasionado por buraco não sinalizado. Segundo o entendimento do STJ, a responsabilidade civil do Estado por condutas omissivas é subjetiva, sendo necessário, dessa forma, a comprovação da conduta omissiva e culposa (negligência na atuação estatal - má prestação do serviço), o dano e o nexo causal entre ambos. No caso, restou incontroverso que o acidente com evento morte ocorreu em rodovia estadual, mediante a queda de caminhão em buraco de 15 metros de profundidade, decorrente da ausência de manutenção e fiscalização estatal da via pública, não havendo quaisquer indícios de culpa exclusiva da vítima. Desse modo, é possível concluir pela existência de omissão culposa por parte do ente público, consubstanciada na inobservância ao dever de fiscalização e sinalização da via pública, bem como pelo nexo causal entre a referida conduta estatal e o evento danoso, que resultou na morte do pai e marido dos recorrentes, causando-lhes, evidentemente, prejuízos materiais e morais, os quais devem ser indenizados. Presentes os elementos necessários para responsabilização do Estado pelo evento morte, deve-se reconhecer devida a indenização por danos materiais, visto que a dependência econômica dos cônjuges e filhos menores do de cujus é presumida, dispensando a demonstração por qualquer outro meio de prova. STJ. 1ª Turma.REsp 1709727-SE, Rel. Min. Benedito Gonçalves,julgado em 05/04/2022 (Info 733). O Estado responde de forma objetiva pelos danos causados a profissional de imprensa ferido, por policiais, durante cobertura jornalística de manifestação pública em que ocorra tumulto ou conflito, desde que o jornalista não haja descumprido ostensiva e clara advertência quanto ao acesso a áreas definidas como de NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 46 grave risco à sua integridade física, caso em que poderá ser aplicada a excludente da responsabilidade por culpa exclusiva da vítima. Tese fixada pelo STF: “É objetiva a Responsabilidade Civil do Estado em relação a profissional da imprensa ferido por agentes policiais durante cobertura jornalística, em manifestações em que haja tumulto ou conflitos entre policiais e manifestantes. Cabe a excludente da responsabilidade da culpa exclusiva da vítima, nas hipóteses em que o profissional de imprensa descumprir ostensiva e clara advertência sobre acesso a áreas delimitadas, em que haja grave risco à sua integridade física”. STF. Plenário. RE 1209429/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 10/6/2021 (Repercussão Geral – Tema 1055) (Info 1021). Súmula 647-STJ: São imprescritíveis as ações indenizatórias por danos morais e materiais decorrentes de atos de perseguição política com violação de direitos fundamentais ocorridos durante o regime militar. Nos termos do artigo 37, § 6º, da Constituição Federal, não se caracteriza a responsabilidade civil objetiva do Estado por danos decorrentes de crime praticado por pessoa foragida do sistema prisional, quando não demonstrado o nexo causal direto entre o momento da fuga e a conduta praticada. STF. Plenário. RE 608880, Rel. Min. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Alexandre de Moraes, julgado em 08/09/2020 (Repercussão Geral – Tema 362) (Info 993). Aplica-se igualmente ao estado o que previsto no art. 927, parágrafo único, do Código Civil, relativo à responsabilidade civil objetiva por atividade naturalmente perigosa, irrelevante o fato de a conduta ser comissiva ou omissiva. STJ. 2ª Turma. REsp 1869046-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 09/06/2020 (Info 674). INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE O Estado (abrangendo, aqui, todos os entes integrantes da Federação) dispõe de uma grande quantidade de instrumentos jurídicos - todos eles lastreados em seu poder de império - passíveis de utilização para o cumprimento do seu dever constitucional de assegurar que a propriedade cumpra a sua função social. Em geral, esses instrumentos implicam limitações ou condicionamentos ao exercício dos poderes inerentes ao domínio (uso, fruição, disposição e reivindicação), hipóteses a que a doutrina se refere como “intervenção restritiva”. Especificamente no caso da desapropriação, entretanto, não se tem apenas uma limitação, e sim a perda da propriedade, que é transferida, de regra, para o domínio público. A desapropriação, por esse motivo, é classificada como “intervenção supressiva” (José dos Santos Carvalho Filho). São os seguintes os meios de intervenção do Estado na propriedade privada, tradicionalmente enumerados pela doutrina: servidão administrativa; requisição; ocupação temporária; limitação administrativa; tombamento; desapropriação NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 47 #SELIGANATABELA Limitação Administrativa Limitações administrativas são determinações de caráter geral, por meio das quais o poder público impõe a proprietários indeterminados obrigações de fazer (obrigações positivas), ou obrigações de deixar de fazer alguma coisa (obrigações negativas, ou de não fazer ou de permitir), com a finalidade de assegurar que a propriedade atenda a sua função social. Na lição de Hely Lopes, “limitação administrativa é toda imposição geral, gratuita, unilateral e de ordem pública condicionadora do exercício de direitos ou de atividades particulares às exigências do bem-estar social” Ocupação Temporária Ocupação temporária é a forma de intervenção pela qual o Poder Público usa transitoriamente imóveis privados, como meio de apoio à execução de obras e serviços públicos. Requisição Requisição é o instrumento de intervenção estatal mediante o qual, em situação de perigo público iminente, o Estado utiliza bens móveis, imóveis ou serviços particulares com indenização ulterior, se houver dano. Servidão Servidão administrativa é o direito real público que autoriza o Poder Público a usar da propriedade imóvel para permitir a execução de obras e serviços de interesse coletivo. São três, portanto, as características fundamentais do instituto servidão administrativa: ônus real, incidente sobre um bem particular (imóvel alheio), com a finalidade de permitir uma utilização NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 48 pública. Tombamento Tombamento é a modalidade de intervenção na propriedade por meio da qual o Poder Público procura proteger o patrimônio cultural brasileiro. As principais características da propriedade são: A)Caráter Exclusivo: Somente o proprietário (ou alguém em seu nome e com sua autorização) poderá exercer de forma plena as faculdades inerentes a propriedade. B)Caráter Absoluto: O proprietário terá ampla liberdade sob o bem, desde que respeite sua função social. c)Caráter de Perpetuidade: A qualidade de proprietário só termina quando há transferência da propriedade por mortis causa ou inter vivos. Desapropriação: É forma originária de aquisição da propriedade. O ente público determina a retirada do bem privado do particular para que venha fazer parte do patrimônio público, mediante o pagamento de indenização. Pode recair sobre bem móveis, imóveis, corpóreos ou incorpóreos, e até sobre bens públicos. Veja: Art. 2º §2º do Dec. 3365/41. Os bens do domínio dos Estados, Municípios, Distrito Federal e Territórios poderão ser desapropriados pela União, e os dos Municípios pelos Estados, mas, em qualquer caso, ao ato deverá preceder autorização legislativa. É vedado a desapropriação de: Direitos personalíssimos Moeda corrente no pais De pessoas, físicas ou jurídicas. São pressupostos da desapropriação: a) a utilidade pública ou a necessidade pública; b) o interesse social. A utilidade pública é caracterizada em hipóteses nas quais a desapropriação do bem atende a mera conveniência do Poder Público, sem ser imprescindível. Exemplo de utilidade pública seria a desapropriação de um imóvel para a construção de uma escola. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 49 A necessidade pública decorre de situações de urgência ou de emergência, cuja solução exija a desapropriação do bem. Nas hipóteses de necessidade pública, faz- -se necessária a transferência urgente de bens de terceiros para o Poder Público, ou para entidades por ele indicadas, a fim de que a situação emergencial seja resolvida satisfatoriamente. A expropriação imediata de imóvel para salvaguardar a segurança nacional, ou para fazer face a uma situação de calamidade pública, são hipóteses de desapropriação por necessidade pública #OLHAOGANCHO DIREITO DE EXTENSÃO Caso de desapropriação parcial, no qual a parte não expropriada do bem se torna inútil ou sem valor econômico. Assim, pode-se pedir que a desapropriação seja estendida a todo o bem. TREDESTINAÇÃO É dar ao bem expropriado uma destinação diferente da prevista no ato expropriatório. -Lícita: não deixa de observar o interesse público. -Ilícita: desvio de finalidade. RETROCESSÃO É o direito que tem o expropriado de exigir de volta o seu imóvel caso o Poder Público não dê a ele o destino que motivou a sua desapropriação, nem outro destino que atenda o interesse público. Desapropriação indireta: A desapropriação indireta é uma desapropriação irregular, que decorre de ato abusivo do poder público. Neste caso, o governo se apropriado bem particular sem observar o procedimento legal. Ou seja, ele não obedece os requisitos da declaração de utilidade pública e da indenização prévia. Como o bem se incorpora ao patrimônio público, o proprietário só tem a saída de pleitear na Justiça uma indenização por perdas e danos decorrentes do ato ilícito. Na ação de desapropriação indireta, deverá demonstrar que era, de fato, o proprietário do bem, e o apossamento do Poder Público de seu imóvel. #DEOLHONAJURIS: Qual é o prazo da ação de desapropriação indireta? Regra: 10 anos (art. 1.238, parágrafo único, do CC/2002). Exceção: o prazo será de 15 anos se ficar comprovada a inexistência de obras ou serviços públicos no local. Em regra, portanto, o prazo prescricional das ações indenizatórias por desapropriação indireta é de 10 anos porque existe uma presunção relativa de que o Poder Público realizou obras ou serviços públicos no local. Admite-se, excepcionalmente, o prazo prescricional de 15 anos, caso a parte interessada comprove, concreta e NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 50 devidamente, que não foram feitas obras ou serviços no local, afastando a presunção legal. STJ. 1ª Seção. EREsp 1575846-SC, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 26/06/2019 (Info 658). O prazo prescricional aplicável à desapropriação indireta, na hipótese em que o Poder Público tenha realizado obras no local ou atribuído natureza de utilidade pública ou de interesse social ao imóvel, é de 10 anos, conforme parágrafo único do art. 1.238 do CC. STJ. 1ª Seção. REsp 1757352-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 12/02/2020 (Recurso Repetitivo – Tema 1109) (Info 671). Desapropriação comum: situação de utilidade ou necessidade pública, ou, ainda, de interesse social. Será precedida de pagamento de indenização prévia, justa e em dinheiro. Desapropriação especial: Não haverá o pagamento de indenização prévia, justa e em dinheiro. - Desapropriação urbana (art. 182, CF) = pagamento mediante títulos da dívida pública. - Desapropriação rural (Art. 184 a 186, CF) = pagamento mediante títulos da dívida agrária. - Desapropriação confisco (art. 243, CF) = não é indenizável! Desapropriação direta A desapropriação direta é a desapropriação clássica. Ela ocorre quando há: Necessidade pública: situações emergenciais que demandam a incorporação pelo poder público de bens de terceiros ao seu domínio e uso para resolver o problema. Utilidade Pública: a desapropriação é conveniente ao interesse coletivo (casos de alargamento de avenidas, por exemplo); Interesse Social: destina-se a resolver problemas sociais, para melhorar condições de vida e atenuar desigualdades sociais. O poder público impõe ao proprietário do imóvel a perda do bem. Em contrapartida, ele recebe indenização deverá prévia, justa e em dinheiro. Essa desapropriação pode ser feita de forma amigável (com acordo entre as partes), ou por via judicial (não há acordo sobre o valor da indenização). Desapropriação confiscatória: A desapropriação confiscatória é também chamada de desapropriação de propriedade nociva. Ela tem caráter compulsório. Quando existe uma terra utilizada para o cultivo de plantas psicotrópicas e não autorizadas, a Constituição Federal, no artigo 243, autoriza o poder público a tomar o imóvel para si. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 51 Esse é um dos tipos de desapropriação que não prevê qualquer tipo de indenização ao particular. E não só isso: o proprietário pode sofrer outras sanções previstas em lei. Isso ocorre, porque ele está utilizando a terra para o plantio ilegal. De acordo com a Constituição, as glebas com culturas ilegais de plantas psicotrópicas devem ser expropriadas e destinadas ao cultivo de produtos alimentícios e medicamentosos. E se o poder público apreender bens de valor econômico em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins? Os bens se revertem em benefício de instituições especializadas em tratar e recuperar viciados, e em atividades relacionadas a fiscalização, prevenção, controle e repressão do crime de tráfico de drogas. Desapropriação sancionatória: A desapropriação sancionatória decorre do mau uso da propriedade urbana ou rural. Qualquer propriedade deve cumprir sua função social (artigos 5º e 8º da Lei nº 10.257/2001, para propriedade urbana, e para propriedade rural). Mas pode ocorrer de o proprietário não dar a ela uma finalidade útil. Nestes casos, o poder público pode tomar para si a propriedade urbana ou rural (para fins de reforma agrária). #DEOLHONAJURIS: Ao admitir a discussão e determinar o pagamento de indenização relacionada com área diferente da que é objeto de desapropriação, ainda que vizinha, o magistrado violou o art. 20 do Decreto nº 3.365/1941, a qual reserva às ações próprias as discussões que vão além do imóvel expropriado. No caso, mostrava-se ainda mais necessário submeter à sede autônoma a discussão sobre a área contígua à expropriada, pois o valor da indenização foi muito superior ao do próprio imóvel objeto da desapropriação (cerca de três vezes), e apresentava complexa discussão própria sobre o cálculo que deveria ser adotado para determinação dos lucros cessantes de exploração de seringueiras. Registre-se que não tratou a decisão recorrida de indenizar a depreciação de área remanescente (art. 27 do Decreto nº 3.365/1941), mas de produzir efeitos semelhantes ao de verdadeira desapropriação indireta, ampliação objetiva não admitida no caso, porque ultrapassa os limites da lide. STJ. 1ª Turma. REsp 1577047-MG, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 10/05/2022 (Info 738). Na hipótese de desistência da ação de desapropriação por utilidade pública, face a inexistência de condenação e de proveito econômico, os honorários advocatícios sucumbenciais observam o valor atualizado da causa, assim como os limites da Lei das Desapropriações. Ao considerar que não houve condenação e que a parte ré não obteve proveito econômico nenhum, porque permaneceu com a mesma situação de antes da demanda, isto é, proprietária do imóvel antes sujeito à pretensão desapropriatória, o parâmetro há de ser o valor atualizado da causa. STJ. 2ª Turma. REsp 1834024-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 10/05/2022 (Info 736). NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 52 I - O trânsito em julgado de sentença condenatória proferida em sede de ação desapropriatória não obsta a propositura de Ação Civil Pública em defesa do patrimônio público para discutir a dominialidade do bem expropriado, ainda que já se tenha expirado o prazo para a Ação Rescisória; II - Em sede de Ação de Desapropriação, os honorários sucumbenciais só serão devidos caso haja devido pagamento da indenização aos expropriados. STF. Plenário. RE 1010819/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 26/5/2021 (Repercussão Geral – Tema 858) (Info 1019). Em regra, quem adquire bem anteriormente atingido por restrição administrativa não é parte legítima, por carência de efetivo prejuízo, para, com fundamento em desapropriação direta ou indireta, ingressar com ação indenizatória contra o Estado. Nessas condições, querer agir em nome do credor primitivo, postulando lesão que não sofreu, afronta os princípios da boa-fé objetiva, da proibição de enriquecimento sem causa e da moralidade, representando, não o exercício de um direito, mas a invocação abusiva do direito. Observam-se duas exceções, em numerus clausus, para a regra geral: • quando a transferência da propriedade for realizada por negócio jurídico gratuito; • quando o adquirente for sujeito vulnerável, na acepção de indivíduo incontestavelmente pobre ou humilde. mEm ambos os casos há presunção relativa de boa-fé objetiva, de moralidade e de inexistência de enriquecimento sem causa. STJ. 1ª Seção. REsp 1750660/SC, Rel. Min. Gurgel De Faria, Rel. p/ Acórdão Min. HermanBenjamin, julgado em 10/03/2021 (Tema Repetitivo 1004). IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA Sujeito ativo do ato de improbidade Atenção que a nova lei introduziu expressamente no rol dos sujeitos ativos que podem praticar improbidade os agentes políticos. Antes da lei nova, era tema de debate doutrinário, já que os agentes políticos praticam crime de responsabilidade, e parcela minoritária da doutrina defendia que no caso de agentes políticos, estes, não deveriam ser responsabilizados por atos de improbidade, e sim apenas por crime de responsabilidade. Art. 2°. Para os efeitos desta Lei, consideram-se agente público o agente político, o servidor público e todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades referidas no art. 1º desta Lei. Agentes públicos: Inicialmente, são sujeitos ativos do ato de improbidade os agentes públicos. O conceito de agente público abrange: o servidor público; o empregado público (servidor governamental de direito privado) e o particular em colaboração (mesário e jurado, por exemplo). Considera-se agente público todo aquele que exerce, ainda que temporariamente ou sem remuneração, mandato, cargo, emprego ou função pública. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 53 Presidente da República e ministros do STF: Os agentes políticos, com exceção do Presidente da República (e os ministros do STF) encontram-se sujeitos a duplo regime sancionatório, de modo que se submetem tanto à responsabilização civil pelos atos de improbidade administrativa quanto à responsabilização político- administrativa por crimes de responsabilidade. O foro especial por prerrogativa de função previsto na Constituição Federal em relação às infrações penais comuns não é extensível às ações de improbidade administrativa. STF. Plenário. Pet 3240 AgR/DF, rel. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 10/5/2018 (Info 891). Estagiários: O estagiário que atua no serviço público, ainda que transitoriamente, remunerado ou não, está sujeito a responsabilização por ato de improbidade administrativa. STJ. 2ª Turma. REsp 1.352.035-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 18/8/2015 (Info 568). Comissionários e permissionários: Empregados e dirigente de concessionárias e permissionárias de serviços públicos não estão sujeitos à Lei de Improbidade Administrativa, pois prestam serviço público por delegação e o Estado, como regra, não lhes destina benefícios, auxílios e subvenções, já que recebem pelo uso/do serviço tarifa do usuário. Agentes públicos com atribuição consultiva: Alguns agentes são responsáveis pela elaboração de pareceres, que são atos enunciativos, em cujo conteúdo se consigna apenas a opinião pessoal e técnica do parecerista. Em razão disso, José dos Santos diz que, como o parecer não contém densidade para a produção de efeitos externos; ao contrário, depende sempre do ato administrativo decisório final, em regra, o parecerista não responde por ato de improbidade. Contudo, ressalta José dos Santos que se a sua atuação for calcada em DOLO, ERRO GRAVE OU INESCUSÁVEL (em consonância com o artigo 28 da LINDB), servindo como suporte para o ato final, será ela caracterizada como ato de improbidade. Neste caso, pode também a autoridade que aprova o parecer ser enquadrada, se agir em conluio. O agente pode se valer do corpo jurídico do órgão para se defender (expensas do erário), ou deve contratar advogado? Segundo José dos Santos, se o ato foi praticado pelo agente como representante do órgão público, é lícito que se socorra daquelas providências, porque a defesa será a do próprio órgão estatal. É o caso, v.g., do agente que é acusado de contratação com dispensa indevida de licitação ou do Promotor de Justiça acusado de violar a legalidade ou a imparcialidade (esse entendimento restou consolidado expressamente na lei 14.230/2021). Se a improbidade decorrer de ato do agente em benefício próprio, não poderá provocar gastos ao erário, devendo então arcar com as despesas com sua defesa. Particulares: A partir das alterações inseridas pela Lei 14.230/21, não é possível que o terceiro seja enquadrado como sujeito ativo do ato apenas por ter sido beneficiado. É imprescindível que ele atue de forma a induzir ou concorrer para o ato de improbidade administrativa. Não é possível que particular, alheio à administração pública, pratique sozinho ato de improbidade administrativa. Para o ato do terceiro se caracterizar como improbidade, é imprescindível que haja um agente público também como autor do ato de improbidade. Neste sentido, é inviável a propositura de ação de improbidade administrativa apenas em face de particular, sem a presença do agente público. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 54 Art. 3°. As disposições desta Lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra dolosamente para a prática do ato de improbidade. § 1º. Os sócios, os cotistas, os diretores e os colaboradores de pessoa jurídica de direito privado não respondem pelo ato de improbidade que venha a ser imputado à pessoa jurídica, salvo se, comprovadamente, houver participação e benefícios diretos, caso em que responderão nos limites da sua participação. § 2º. As sanções desta Lei não se aplicarão à pessoa jurídica, caso o ato de improbidade administrativa seja também sancionado como ato lesivo à administração pública de que trata a Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013. Herdeiro: Art. 8º O sucessor ou o herdeiro daquele que causar dano ao erário ou que se enriquecer ilicitamente estão sujeitos apenas à obrigação de repará-lo até o limite do valor da herança ou do patrimônio transferido. Sociedade sucessória: Art. 8º-A A responsabilidade sucessória de que trata o art. 8º desta Lei aplica-se também na hipótese de alteração contratual, de transformação, de incorporação, de fusão ou de cisão societária. Parágrafo único. Nas hipóteses de fusão e de incorporação, a responsabilidade da sucessora será restrita à obrigação de reparação integral do dano causado, até o limite do patrimônio transferido, não lhe sendo aplicáveis as demais sanções previstas nesta Lei decorrentes de atos e de fatos ocorridos antes da data da fusão ou da incorporação, exceto no caso de simulação ou de evidente intuito de fraude, devidamente comprovados. Sujeito passivo do ato de improbidade: Art. 1º O sistema de responsabilização por atos de improbidade administrativa tutelará a probidade na organização do Estado e no exercício de suas funções, como forma de assegurar a integridade do patrimônio público e social, nos termos desta Lei. O bem jurídico tutelado será justamente a probidade administrativa e a integridade do patrimônio público e social da Administração Pública, nos termos do “caput” do art. 1º. Quem pode ser SUJEITO PASSIVO Exemplos 1) órgãos da Administração direta. União, Estados, DF, Municípios. 2) entidades da Administração indireta. Autarquias, fundações, associações públicas, empresas públicas, NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 55 sociedades de economia mista. 3) entidade privada que receba subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de entes públicos ou governamentais. Entidades do terceiro setor (organizações sociais, OSCIP etc.), entidades sindicais, entre outros. 4) entidade privada para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra no seu patrimônio ou receita atual, limitado o ressarcimento de prejuízos, nesse caso, à repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos. Sociedades de propósito específico, criadas para gerir parcerias público- privadas (art. 9º da Lei nº 11.079/2004). Antes da Lei 14.230/21, havia previsão diversaa respeito dos entes privados como sujeitos passivos dos atos de improbidade administrativa. Caso o erário houvesse concorrido com mais de 50% na criação ou custeio da entidade privada, haveria a sanção decorrente da improbidade de forma integral. Já se o erário houvesse concorrido com menos de 50%, as sanções de improbidade apenas seriam aplicadas até o montante das verbas públicas recebidas. Tal previsão não mais se sustenta com a Lei 14.230/21, não havendo mais distinção entre as entidades privadas para as quais o erário tenha concorrido mais ou menos de 50%. Art. 1º. § 5º Os atos de improbidade violam a probidade na organização do Estado e no exercício de suas funções e a integridade do patrimônio público e social dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, bem como da administração direta e indireta, no âmbito da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) § 6º Estão sujeitos às sanções desta Lei os atos de improbidade praticados contra o patrimônio de entidade privada que receba subvenção, benefício ou incentivo, fiscal ou creditício, de entes públicos ou governamentais, previstos no § 5º deste artigo. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) § 7º Independentemente de integrar a administração indireta, estão sujeitos às sanções desta Lei os atos de improbidade praticados contra o patrimônio de entidade privada para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra no seu patrimônio ou receita atual, limitado o ressarcimento de prejuízos, nesse caso, à repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) Elemento subjetivo: A partir de agora os atos considerados de improbidade administrativa dependem apenas de condutas dolosas. Isso quer dizer que se retirou a parte do texto que versava sobre a modalidade culposa. Outro ponto a ser observado é a exclusão da necessidade de dolo específico dos atos de improbidade administrativa, que decorrem do descumprimento da lei de acesso à informação. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 56 Antes da Lei 14.230/21 Após a Lei 14.230/21 Artigos 9º, 10-A e 11 = Apenas DOLO Todos os atos de improbidade = Apenas DOLO Art. 10 (Dano ao Erário) = DOLO ou CULPA A justificativa de tal alteração seria a finalidade da Lei, de punir o agente público desonesto, e não o inábil. O art. 17-C, §1º, também estabeleceu a possibilidade de prática de ato de improbidade apenas mediante o dolo. Assim, será sempre necessária a demonstração do dolo por parte do agente público ou de terceiro. Art. 17-C. § 1º A ilegalidade sem a presença de dolo que a qualifique não configura ato de improbidade. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) #SELIGA: Caso o agente público venha a praticar um ato mediante culpa, apesar de não ser possível a sua punição a título de improbidade administrativa, será cabível a responsabilização no âmbito administrativo. A Lei ainda conceituou o dolo como a vontade LIVRE e CONSCIENTE de alcançar o resultado ilícito. Art. 1º § 2º Considera-se dolo a vontade livre e consciente de alcançar o resultado ilícito tipificado nos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei, não bastando a voluntariedade do agente. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) § 3º O mero exercício da função ou desempenho de competências públicas, sem comprovação de ato doloso com fim ilícito, afasta a responsabilidade por ato de improbidade administrativa. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) Atos de improbidade: Os atos de improbidade administrativa estão previstos nos artigos 9º, 10 e 11 da Lei 8.429/92. Alerta-se que a previsão do rol de atos de improbidade administrativa é meramente exemplificativo. Atos que importem em enriquecimento ilícito (art. 9º) Atos que causem prejuízo (art. 10) Atos que atentem contra os princípios da Administração Pública (art. 11) Auferir qualquer tipo de vantagem indevida em razão do exercício de Qualquer conduta que enseja perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento Qualquer conduta que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 57 função pública. ou dilapidação dos bens ou haveres dos sujeitos passivos. lealdade às instituições. Atos que importam em enriquecimento ilícito: Art. 9º Constitui ato de improbidade administrativa importando em enriquecimento ilícito auferir, mediante a prática de ato doloso, qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo, de mandato, de função, de emprego ou de atividade nas entidades referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente: IV - utilizar, em obra ou serviço particular, qualquer bem móvel, de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades referidas no art. 1º desta Lei, bem como o trabalho de servidores, de empregados ou de terceiros contratados por essas entidades; Antes da Lei 14.230/21, este inciso IV especificava os bens que poderiam ser utilizados: veículos, máquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza. A partir da alteração legal, passou a estar prevista a utilização de “qualquer bem móvel”, ou seja, uma redação mais ampla. VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para fazer declaração falsa sobre qualquer dado técnico que envolva obras públicas ou qualquer outro serviço ou sobre quantidade, peso, medida, qualidade ou característica de mercadorias ou bens fornecidos a qualquer das entidades referidas no art. 1º desta Lei. Antes da Lei 14.230/21, a declaração seria sobre mediação ou avaliação em obras públicas ou qualquer outro serviço. A partir da alteração legal, a declaração falsa poderá ser sobre “qualquer dado técnico”, também sendo uma redação mais ampliativa. VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato, de cargo, de emprego ou de função pública, e em razão deles, bens de qualquer natureza, decorrentes dos atos descritos no caput deste artigo, cujo valor seja desproporcional à evolução do patrimônio ou à renda do agente público, assegurada a demonstração pelo agente da licitude da origem dessa evolução. A grande inovação deste inciso foi a inserção da parte final, prevendo estar “assegurada a demonstração pelo agente da ilicitude da origem dessa evolução”. Atos que causam danos ao erário: Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão dolosa, que enseje, efetiva e comprovadamente, perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente: NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 58 I - facilitar ou concorrer, por qualquer forma, para a indevida incorporação ao patrimônio particular, de pessoa física ou jurídica, de bens, de rendas, de verbas ou de valores integrantes do acervo patrimonial das entidades referidas no art. 1º desta Lei; VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou de processo seletivo para celebração de parcerias com entidades sem fins lucrativos, ou dispensá-los indevidamente, acarretando perda patrimonial efetiva; X - agir ilicitamente na arrecadação de tributo ou de renda, bem como no que diz respeito à conservação do patrimônio público; Antes da lei 14.230/21, a conduta seria “agir negligentemente”. A partir da nova lei, a conduta passou a ser “agir ilicitamente”, inclusive porque a negligência constitui uma forma de culpa, não sendo mais possível a prática de ato de improbidade culposo. XIX - agir para a configuração de ilícito na celebração, na fiscalização e na análise das prestações de contas de parcerias firmadas pela administração pública com entidades privadas; XXI - (revogado); O inciso XXI que foi revogado previa o ato de liberar recursos de parcerias firmadas pelaadministração pública com entidades privadas sem a estrita observância das normas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irregular. XXII - conceder, aplicar ou manter benefício financeiro ou tributário contrário ao que dispõem o caput e o § 1º do art. 8º-A da Lei Complementar nº 116, de 31 de julho de 2003. O inciso XXII foi inserido pela Lei 14.230/21, prevendo a conduta que antes estava enquadrada no art. 10-A da Lei 8.429/92, referente à concessão indevida de benefício financeiro ou tributário. Os atos de prejuízo ao erário podem acarreta ou não a perda patrimonial, tendo em vista que o dano poderá ser de outra natureza. No caso de existência de perda patrimonial efetiva, será obrigatório o ressarcimento ao erário. Caso não haja a perda patrimonial efetiva, não deverá ser imposta a sanção de ressarcimento ao erário, pois acarretaria um enriquecimento indevido do ente. Ademais, a perda patrimonial, por si só, não será suficiente para a caracterização do ato de improbidade administrativa, já que se faz necessária a demonstração do dolo, juntamente com a finalidade específica de causar este dano. § 1º Nos casos em que a inobservância de formalidades legais ou regulamentares não implicar perda patrimonial efetiva, não ocorrerá imposição de ressarcimento, vedado o enriquecimento sem causa das entidades referidas no art. 1º desta Lei. § 2º A mera perda patrimonial decorrente da atividade econômica não acarretará improbidade administrativa, salvo se comprovado ato doloso praticado com essa finalidade. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 59 Atos que atentam contra os princípios: Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública a ação ou omissão dolosa que viole os deveres de honestidade, de imparcialidade e de legalidade, caracterizada por uma das seguintes condutas: A alteração do “caput”, promovida pela Lei 14.230/21, alterou a própria interpretação a respeito da taxatividade do rol previsto neste artigo. Isto porque, antes da modificação, o artigo indicava como ato de improbidade “qualquer ação ou omissão” que viole os deveres. A partir da nova lei, será ato de improbidade a ação ou omissão dolosa que viole os deveres, “caracterizada por uma das seguintes condutas”. Portanto, o rol passa a ser visto como taxativo, e não meramente exemplificativo como nos artigos 9º e 10. I - (revogado); II - (revogado); III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições e que deva permanecer em segredo, propiciando beneficiamento por informação privilegiada ou colocando em risco a segurança da sociedade e do Estado; IV - negar publicidade aos atos oficiais, exceto em razão de sua imprescindibilidade para a segurança da sociedade e do Estado ou de outras hipóteses instituídas em lei; V - frustrar, em ofensa à imparcialidade, o caráter concorrencial de concurso público, de chamamento ou de procedimento licitatório, com vistas à obtenção de benefício próprio, direto ou indireto, ou de terceiros. Antes da Lei 14.230/21, o inciso V previa como ato de improbidade apenas a conduta de frustrar a licitude de concurso público. A partir da nova lei, incluiu a frustação ao caráter competitivo, e não apenas à licitude do procedimento. Ademais, além do concurso público, passou a prever também o chamamento ou procedimento licitatório. Inseriu-se, ainda, uma finalidade específica: “obtenção de benefício próprio, direto ou indireto, ou de terceiros”. VI - deixar de prestar contas quando esteja obrigado a fazê-lo, desde que disponha das condições para isso, com vistas a ocultar irregularidades; IX - (revogado); X - (revogado); XI - nomear cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 60 chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas. Inciso novo, incluído a partir da Lei 14.230/21. Trata-se da conduta denominada de “nepotismo”. A Lei 14.230/21 inseriu no texto da Lei de Improbidade Administrativa a redação da Súmula Vinculante 13: #DEOLHONASÚMULA Súmula Vinculante 13: A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal. Todavia, o §5º do art. 11 prevê uma exceção ao ato de nepotismo: § 5º Não se configurará improbidade a mera nomeação ou indicação política por parte dos detentores de mandatos eletivos, sendo necessária a aferição de dolo com finalidade ilícita por parte do agente. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) XII - praticar, no âmbito da administração pública e com recursos do erário, ato de publicidade que contrarie o disposto no § 1º do art. 37 da Constituição Federal, de forma a promover inequívoco enaltecimento do agente público e personalização de atos, de programas, de obras, de serviços ou de campanhas dos órgãos públicos. § 1º Nos termos da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, promulgada pelo Decreto nº 5.687, de 31 de janeiro de 2006, somente haverá improbidade administrativa, na aplicação deste artigo, QUANDO FOR COMPROVADO NA CONDUTA FUNCIONAL DO AGENTE PÚBLICO O FIM DE OBTER PROVEITO OU BENEFÍCIO INDEVIDO PARA SI OU PARA OUTRA PESSOA OU ENTIDADE. O §1º trata da Convenção da ONU contra a Corrupção, chamada de Convenção de Mérida. Este dispositivo previu um fim especial de agir na aplicação do art. 11, qual seja, o fim de obter proveito ou benefício indevido para si ou para outra pessoa ou entidade. O especial fim de agir deverá ser aplicado a todos os atos de improbidade previstos na Lei 8.429/92, ou em outras leis. § 2º Aplica-se o disposto no § 1º deste artigo A QUAISQUER ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA TIPIFICADOS NESTA LEI E EM LEIS ESPECIAIS E A QUAISQUER OUTROS TIPOS ESPECIAIS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA INSTITUÍDOS POR LEI. § 3º O enquadramento de conduta funcional na categoria de que trata este artigo pressupõe a demonstração objetiva da prática de ilegalidade no exercício da função pública, com a indicação das normas constitucionais, legais ou infralegais violadas. § 4º Os atos de improbidade de que trata este artigo exigem lesividade relevante ao bem jurídico tutelado para serem passíveis de sancionamento e independem do reconhecimento da produção de danos ao erário e de enriquecimento ilícito dos agentes públicos. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 61 Os §§3º e 4º passaram a exigir requisitos mais rígidos para a configuração do ato de improbidade administrativa. Deverá haver a demonstração da prática de ilegalidade, além de exigir a demonstração de lesividade relevante. Todavia, na hipótese dos atos do art. 11, não será imprescindível a ocorrência de prejuízo ao erário ou de enriquecimento ilícito, que constituem hipóteses de improbidade previstas nos artigos 9º e 10. Sanções: As sanções pelos atos de improbidade administrativa estão previstas no art. 12 da Lei 8.429/92. Elas são cominadas a depender se o ato de improbidade administrativa está previsto no art. 9º, 10 ou 11. Há uma gradação correspondente aotipo de ato praticado, ou seja, os atos do art. 9º são mais graves, havendo sanções mais severas, enquanto que os atos do art. 11 são menos graves, com sanções mais brandas. #FOCANATABELA: ART. 9º: Enriquecimento ilícito ART. 10: Dano ao erário ART. 11: Violação a princípios Perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio; Perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância; Não se aplica Perda da função pública; Perda da função pública; Não se aplica Suspensão dos direitos políticos até 14 (catorze) anos; Suspensão dos direitos políticos até 12 (doze) anos; Não se aplica Pagamento de multa civil equivalente ao valor do acréscimo patrimonial; Pagamento de multa civil equivalente ao valor do dano; Pagamento de multa civil de até 24 (vinte e quatro) vezes o valor da remuneração percebida pelo agente Proibição de contratar com o poder público ou de receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo não superior a 14 (catorze) anos. Proibição de contratar com o poder público ou de receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo não superior a 12 (doze) anos. Proibição de contratar com o poder público ou de receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo não superior a 4 (quatro) anos. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 62 Indisponibilidade de bens: A indisponibilidade de bens não é uma sanção pela prática de atos de improbidade, na verdade, é uma medida de natureza cautelar cuja finalidade não é punir alguém, e sim evitar que a pessoa se desfaça de seus bens a fim de frustrar uma eventual execução judicial. A Lei 14.230/21 inseriu diversas inovações sobre a indisponibilidade de bens, inclusive superando alguns posicionamentos jurisprudenciais dos Tribunais Superiores. Art. 16. Na ação por improbidade administrativa poderá ser formulado, em caráter antecedente ou incidente, pedido de indisponibilidade de bens dos réus, a fim de garantir a integral recomposição do erário ou do acréscimo patrimonial resultante de enriquecimento ilícito. (Redação dada pela Lei nº 14.230, de 2021) A indisponibilidade de bens será decretada pelo próprio juiz competente pela ação de improbidade administrativa. Todavia, ressalta-se que essa indisponibilidade não poderá ser determinada de ofício pelo juiz. O Ministério Público, como o legitimado ativo da ação de improbidade administrativa, terá também a legitimidade para formular o pedido de indisponibilidade de bens perante a autoridade judicial. O Ministério Público poderá formular o pedido por iniciativa própria ou mediante a representação da autoridade que teve conhecimento dos atos de improbidade administrativa. Art. 16. § 1º-A O pedido de indisponibilidade de bens a que se refere o caput deste artigo poderá ser formulado independentemente da representação de que trata o art. 7º desta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) Após o requerimento formulado pelo Ministério Público, a indisponibilidade dos bens poderá ser decretada pelo juiz com ou sem a oitiva do réu. A regra será a oitiva do réu, no prazo de 5 dias, com o intuito de resguardar o contraditório e a ampla defesa. Todavia, caso o contraditório possa frustrar a medida, a indisponibilidade poderá ser decretada de forma liminar, sem a oitiva do réu. Os pressupostos para a indisponibilidade dos bens serão os mesmos das medidas de urgência: a) Fumus boni iuris (“fumaça do bom direito”): probabilidade da ocorrência dos atos descritos na petição inicial com fundamento nos respectivos elementos de instrução. b) Periculum in mora (“perigo na demora”): perigo de dano irreparável ou de risco ao resultado útil do processo. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 63 O entendimento do STJ, antes da Lei 14.230/21, era de que, para a decretação da indisponibilidade de bens, não seria necessária a demonstração do periculum in mora, já que ele seria presumido. A nova lei alterou esse cenário, posto que agora há previsão expressa acerca da necessidade da demonstração do periculum in mora. Assim, o Ministério Público deverá demonstrar que o réu está se desfazendo do seu patrimônio e que seria necessária a decretação da indisponibilidade. A indisponibilidade poderá recair, além dos bens do réu, sobre os bens de terceiro ou da pessoa jurídica. Art. 16. § 7º A indisponibilidade de bens de terceiro dependerá da demonstração da sua efetiva concorrência para os atos ilícitos apurados ou, quando se tratar de pessoa jurídica, da instauração de incidente de desconsideração da personalidade jurídica, a ser processado na forma da lei processual. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) O valor que poderá vir a ser decretado na indisponibilidade estará limitado à quantia apontada pelo Ministério Público como o dano ao erário ou o enriquecimento ilícito. Art. 16. § 5º Se houver mais de um réu na ação, a somatória dos valores declarados indisponíveis não poderá superar o montante indicado na petição inicial como dano ao erário ou como enriquecimento ilícito. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) § 6º O valor da indisponibilidade considerará a estimativa de dano indicada na petição inicial, permitida a sua substituição por caução idônea, por fiança bancária ou por seguro-garantia judicial, a requerimento do réu, bem como a sua readequação durante a instrução do processo. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) § 10. A indisponibilidade recairá sobre bens que assegurem exclusivamente o integral ressarcimento do dano ao erário, sem incidir sobre os valores a serem eventualmente aplicados a título de multa civil ou sobre acréscimo patrimonial decorrente de atividade lícita. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) Antes da Lei 14.230/21, o STJ aceitava a decretação da indisponibilidade de bens em valor superior ao indicado na petição inicial. Este entendimento está superado pela nova redação do dispositivo legal. A medida de indisponibilidade poderá recair sobre diversas espécies de bens do réu. Frise-se, inicialmente, que será possível a execução de atos no exterior, nos termos da lei e dos tratados internacionais. Previsão semelhante já existia na lei antes mesmo das alterações de 2021. A lei 14.230/21 elencou uma ordem preferencial de bens sujeitos à decretação da indisponibilidade: Art. 16. § 11. A ordem de indisponibilidade de bens deverá priorizar veículos de via terrestre, bens imóveis, bens móveis em geral, semoventes, navios e aeronaves, ações e quotas de sociedades simples e empresárias, pedras e metais preciosos e, apenas na inexistência desses, o bloqueio de contas bancárias, de forma a NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 64 garantir a subsistência do acusado e a manutenção da atividade empresária ao longo do processo. (Incluído pela Lei nº 14.230, de 2021) Estará vedada a decretação da indisponibilidade de quantias referentes à própria subsistência do réu: - Até 40 salários mínimos depositados na caderneta de poupança, em outras aplicações financeiras ou em conta-corrente; - Bem de família. Antes da Lei 14.230/21, o STJ admitia que a indisponibilidade de bens recaísse sobre bem de família. Esse entendimento está superado diante da nova redação do dispositivo legal. Ademais, também estará proibida a decretação de indisponibilidade que acarrete prejuízo à prestação de serviços públicos. Por fim, a decisão judicial que decreta ou não decreta a indisponibilidadede bens poderá ser enquadrada como uma decisão interlocutória, recorrível por agravo de instrumento. #DEOLHONAJURIS: A contratação de servidores públicos temporários sem concurso público, mas baseada em legislação local, não configura a improbidade administrativa prevista no art. 11 da Lei nº 8.429/92, por estar ausente o elemento subjetivo (dolo), necessário para a configuração do ato de improbidade violador dos princípios da administração pública. STJ. 1ª Seção. REsp 1913638-MA, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 11/05/2022 (Recurso Repetitivo – Tema 1108) (Info 736). É possível a homologação judicial de acordo de não persecução cível no âmbito da ação de improbidade administrativa em fase recursal. STJ. 1ª Seção. EAREsp 102585-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 09/03/2022 (Info 728). Nas ações de ressarcimento ao erário e improbidade administrativa ajuizadas em face de eventuais irregularidades praticadas na utilização ou prestação de contas de valores decorrentes de convênio federal, o simples fato de as verbas estarem sujeitas à prestação de contas perante o Tribunal de Contas da União, por si só, não justifica a competência da Justiça Federal. Igualmente, a mera transferência e incorporação ao patrimônio municipal de verba desviada, no âmbito civil, não pode impor de maneira absoluta a competência da Justiça Estadual. Se houver manifestação de interesse jurídico por ente federal que justifique a presença no NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 65 processo, (v.g. União ou Ministério Público Federal) regularmente reconhecido pelo Juízo Federal nos termos da Súmula 150/STJ, a competência para processar e julgar a ação civil de improbidade administrativa será da Justiça Federal. As Súmulas 208 e 209 do STJ provêm da 3ª Seção do STJ e versam hipóteses de fixação da competência em matéria penal, em que basta o interesse da União ou de suas autarquias para deslocar a competência para a Justiça Federal, nos termos do inciso IV do art. 109 da CF. Logo, não podem ser utilizadas como critério para as demandas cíveis. Diante disso, é possível afirmar que a competência cível da Justiça Federal deve ser definida em razão da presença das pessoas jurídicas de direito público previstas no art. 109, I, da CF/88 na relação processual, seja como autora, ré, assistente ou oponente e não em razão da natureza da verba federal sujeita à fiscalização do TCU. Assim, em regra, compete à Justiça Estadual processar e julgar agente público acusado de desvio de verba recebida em razão de convênio firmado com o ente federal, salvo se houver a presença das pessoas jurídicas de direito público previstas no art. 109, I, da CF/88 na relação processual. STJ. 1ª Seção. CC 174764-MA, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 09/02/2022 (Info 724). Na ação civil pública por ato de improbidade administrativa é possível o prosseguimento da demanda para pleitear o ressarcimento do dano ao erário, ainda que sejam declaradas prescritas as demais sanções previstas no art. 12 da Lei nº 8.429/92. STJ. 1ª Seção. REsp 1899455-AC, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 22/09/2021 (Recurso Repetitivo – Tema 1089) (Info 710). É cabível a apreensão de passaporte e a suspensão da CNH no bojo do cumprimento de sentença proferida em ação de improbidade administrativa. Em regra, a jurisprudência do STJ entende ser possível a aplicação de medidas executivas atípicas na execução e no cumprimento de sentença comum, desde que, verificando-se a existência de indícios de que o devedor possua patrimônio expropriável, tais medidas sejam adotadas de modo subsidiário, por meio de decisão que contenha fundamentação adequada às especificidades da hipótese concreta, com observância do contraditório substancial e do postulado da proporcionalidade. Na ação de improbidade administrativa, com ainda mais razão, há a possibilidade de aplicação das medidas executivas atípicas, pois se tutela a moralidade e o patrimônio público. No que diz respeito à proporcionalidade, o fato de se tratar de uma ação de improbidade administrativa deve ser levado em consideração na análise do cabimento da medida aflitiva não pessoal no caso concreto, já que envolve maior interesse público. STJ. 2ª Turma, REsp 1929230-MT, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 04/05/2021 (Info 695). NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 66 DIREITO CONSTITUCIONAL3 E aí, pessoal, como andam os estudos? Firmes? Vamos dar um gás total agora, beleza? O nosso queridinho NFPSS de Constitucional vai te ajudar a revisar os principais pontos para sua prova. Vamos lá! CONSTITUCIONALISMO CONSTITUCIONALISMO ANTIGUIDADE CLÁSSICA Identifica-se nos hebreus o surgimento tímido do constitucionalismo ao estabelecer no Estado teocrático limitações ao poder político, assegurando aos profetas a legitimidade para fiscalizar os atos governamentais que extrapolassem os limites bíblicos. Da mesma forma, as Cidades-Estados gregas como importante exemplo de democracia constitucional, na medida em que a democracia direta consagrava um sistema político com plena identidade entre governantes e governados, no qual o poder político está igualmente distribuído entre todos os cidadãos. IDADE MÉDIA A Magna Carta de 1215 representa o grande marco do constitucionalismo medieval, estabelecendo, mesmo que formalmente, a proteção a importantes direitos individuais. Também chamada de artigo de barões, não é formalmente uma Constituição e sim um contrato de domínio firmado entre o Rei João Sem Terra e os barões ingleses, no qual, pela primeira vez, um rei reconheceu limites aos seus poderes IDADE MODERNA Durante a Idade Moderna, destacam-se: o Petition of Rights, de 1628; o Habeas Corpus Act, de 1679; o Bill of Rights, de 1689; e o Act of Settlement, de 1701. Além desses pactos, destacam-se o que a doutrina chamou de forais ou cartas de franquia, também voltados para a proteção dos direitos individuais, diferenciando-se dos primeiros por admitir a participação dos súditos no governo local (elemento político). Tanto os pactos e forais ou cartas de franquia buscavam resguardar direitos individuais. Entretanto tratavam de direitos direcionados a determinados 3 Maria Eduarda Carvalho NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 67 homens, e não de forma universal. CONSTITUCIONALISMO MODERNO São dois os marcos históricos e formais: a Constituição norte-americana de 1787 e a francesa de 1791 (que teve como preâmbulo a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789); Nesse primeiro momento, com a valorização de constituições escritas como instrumentos para conter qualquer arbítrio decorrente do poder, surge um constitucionalismo liberal clássico, com os seguintes valores: individualismo, absenteísmo estatal, valorização da propriedade privada e proteção do indivíduo. É nesse contexto que surge os direitos de primeira geração ou dimensão, referindo-se às liberdades negativas clássicas, que enfatizam o princípio da liberdade, configurando os direitos civis e políticos. Esses direitos são frutos das revoluções liberais francesas e norte-americanas, nas quais a burguesia reivindicava o respeito às liberdades individuais, com a consequente limitação dos poderes absolutos do Estado. Oponíveis, sobretudo, ao Estado, são direitos de resistência que destacam a nítida separação entre o Estado e a sociedade. Exigem do ente estatal, precipuamente, uma abstenção e não uma prestação, possuindo assim um caráter negativo, tendo como titular o indivíduo. Mas essa concepção liberal gerará concentração de renda e exclusão social, fazendo com que o Estado passe a ser chamado para evitar abusos e limitar o poder econômico. Evidencia-se, então, a chamada segunda geração ou dimensãode direitos e que teve como documentos marcantes a Constituição do México de 1917 e a de Weimar de 1919, influenciando, profundamente, a Constituição brasileira de 1934. Os direitos de segunda geração ou dimensão relacionam-se com as liberdades positivas, reais ou concretas, assegurando o princípio da igualdade material entre o ser humano. Ao invés de se negar ao Estado uma atuação, exige-se dele que preste políticas públicas, tratando-se, portanto de direitos positivos. Impõe-se ao Estado uma obrigação de fazer, para sua implementação concreta, destinados a trazer consideráveis melhorias nas condições materiais de vida da população em geral. Fala-se em direito à saúde, à moradia, à alimentação, à educação, à previdência etc. O neoconstitucionalismo é uma visão contemporânea, pós 2ª Guerra Mundial, com nova perspectiva em relação ao constitucionalismo, também chamado de constitucionalismo pós-moderno, ou, ainda, pós- positivismo. Busca não apenas atrelar o constitucionalismo à ideia de limitação do poder político, mas dar eficácia à Constituição, deixando de ser percebida como um texto de caráter meramente retórico e passando a ser mais efetivo. Tem como uma de suas marcas a concretização das prestações materiais prometidas pela sociedade, servindo como ferramenta para a implantação de um Estado Democrático Social de Direito. Em resumo, suas principais ideias são: NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 68 Formação do Estado Constitucional de Direito; Reconhecimento da força normativa da Constituição; Constituição no centro do ordenamento jurídico; #SELIGA: a) O marco histórico dessas mudanças é a formação do Estado Constitucional de Direito, cuja consolidação se deu ao longo das últimas décadas do século XX. O Estado constitucional de Direito começa ase formar no pós- Segunda Guerra Mundial, em face do reconhecimento da força normativa da Constituição. A legalidade, a partir daí, subordina-se à Constituição, sendo a validade das normas jurídicas dependente de sua compatibilidade com as normas constitucionais. Há uma mudança de paradigma: o Estado Legislativo de Direito dá lugar ao Estado Constitucional de Direito. b) O marco filosófico, por sua vez, é o pós-positivismo, que reconhece centralidade dos direitos fundamentais e reaproxima o Direito e a Ética. O princípio da dignidade da pessoa humana ganha relevância; busca-se a concretização dos direitos fundamentais e a garantia de condições mínimas de existência aos indivíduos (“mínimo existencial”). Há um processo de constitucionalização de direitos. No pós-positivismo, os princípios passam ser encarados como verdadeiras normas jurídicas (e não mais apenas como meios de integração do ordenamento!). #OLHAOGANCHO: A ideia de constitucionalização do Direito está associada a um efeito expansivo das normas constitucionais, cujo conteúdo material e axiológico se irradia, com força normativa, por todo o sistema jurídico. Os valores e fins públicos contemplados nos princípios e regras da Constituição passam a condicionar a validade e o sentido de todas as normas do direito infraconstitucional. A constituição-releitura: Neste caso, os institutos, conceitos, princípios e teorias de cada ramo do Direito sofrem uma releitura, para, à luz da Constituição, assumir um novo significado. Portanto, a Constituição, que era mera coadjuvante, se torna protagonista na interpretação do direito infraconstitucional. MARCOS FUNDAMENTAIS DO NEOCONSTITUCIONALISMO HISTÓRICO - Estado Constitucional de Direito - Documentos a partir da Segunda Guerra Mundial - Redemocratização FILOSÓFICO - Pós Positivismo - Direitos Fundamentais - Direito - Ética NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 69 TEÓRICO - Força normativa (Konrad Hesse) - Supremacia da Constituição (constitucionalização dos direitos fundamentais) - Nova dogmática da interpretação constitucional. TRANSCONSTITUCIONALISMO Conceito: É o fenômeno pelo qual diversas ordens jurídicas de um mesmo Estado, ou de Estados diferentes, entrelaçam-se para a resolução de problemas constitucionais. Vale observar que as relações de interpenetração entre ordenamentos diferenciados não são, propriamente, uma novidade. Isto porque já existiam pactos, a exemplo daquele firmado no Tratado de Westfália de 1648, em que o direito internacional clássico e o direito estatal já se conectavam. A novidade está no modo como são travadas as formas de conversações entre os atores do cenário estatal. Decerto, em vez de hierarquia, o que existe, é uma "fertilização constitucional cruzada''. Isto porque um determinado órgão de cada Estado, a exemplo do Poder Judiciário, toma como base os trabalhos, os estudos, as técnicas de outros órgãos, para, desse modo, demonstrar o acerto de suas teses. • Transconstitucionalismo propriamente dito ou stricto sensu: ordenamentos distintos interagem entre si e somam esforços conjuntos para resolverem casos complexos e difíceis. Cada Estado continua com a sua soberania e vida própria. Ocorre, apenas, uma integração harmoniosa entre ordens constitucionais de Estados completamente diferentes. Para solucionar conflitos envolvendo direitos humanos, duas ou mais Cones de Justiça, de Estados diferentes, rompem suas barreiras territoriais e abandonam o regionalismo em nome da conversação e do diálogo constitucional. • Transconstitucionalismo lato sensu (ou transcontitucionalismo jurídico): Em sentido amplo, o transconstitucionalismo ocorre entre duas ordens jurídicas de um mesmo ordenamento. Trata-se do transconstitucionalismo jurídico, a exemplo daquele verificado nas federações. É o caso da Federação brasileira, formada pela união indissolúvel dos Estados, Municípios e Distrito Federal (CF, art. 1º). Os entes federativos da República pátria podem dialogar entre si, a fim de trocarem ideias, experiências, conhecimentos. CONCEPÇÕES DA CONSTITUIÇÃO CONCEPÇÕES DA CONSTITUIÇÃO SOCIOLÓGICA Distingue Constituição real (=efetiva) de Constituição escrita. Lassale entende que, ao lado da Constituição escrita, existe a Constituição real (=efetiva), que é a soma dos fatores reais de poder que regem uma determinada nação, o simples reflexo das forças dominantes em determinada sociedade. Para ele, a Constituição real sempre irá NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 70 prevalecer sobre a Constituição escrita. “Se a Constituição escrita não corresponder à Constituição real, ela não passará de uma folha de papel”. Por consequência, a eficácia, a prestabilidade e a durabilidade da Carta Constitucional eram condicionadas pela sintonia desta com aqueles fatores de poder, de modo que, a partir do momento em que a Constituição não mais refletisse o resultado dos vetores de força presentes na sociedade, impunha-se e era inevitável um movimento de ruptura constitucional, com a instauração de uma nova ordem. POLÍTICA Formulada por Carl Schmitt, Constituição seria uma decisão política fundamental, a qual não se apoia na justiça de suas normas, mas sim no que nela foi politicamente incluído. Para ele, existe a Constituição em si e normas ou leis constitucionais, as quais, apesar de integrarem o texto escrito, não seriam materialmente constitucionais. Para ele, faria parte da Constituição, efetivamente, a disciplina da forma de Estado, do sistema de governo, do regime de governo, da organização e divisão dos poderes e o rol de direitos individuais. As leis constitucionais são todas aquelas normas inscritas na Constituição que poderiam vir tratadas em legislação ordinária. JURÍDICA Formulada por Hans Kelsen (Teoria Pura do Direito), Constituição é o paradigma de validade de todo o ordenamento jurídico de um Estado e instituidor de sua estrutura. Sua concepção é estritamente formal. Para ele, Constituição é norma pura, é um dever ser, não há fundamentosociológico ou político, apenas caráter normativo. Kelsen dá dois sentidos à palavra Constituição: Jurídico-positivo: direito positivo é norma escrita ou posta pelo homem. Logo, Constituição seria norma escrita. Lógico-jurídico: a norma inferior encontra seu fundamento de validade na norma que lhe for superior. A Constituição encontra o seu fundamento de validade não no direito posto, mas no plano pressuposto lógico, ou seja, em valores metajurídicos, já que seu fundamento não seria de cunho constitucional. Teoria da FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO Formulada por Konrad Hesse, trata-se de uma resposta a Lassalle. A Constituição escrita não necessariamente será resultado da vontade da parte mais forte no embate, pode ser que a Constituição escrita seja capaz de redesenhar a soma dos fatores reais de poder. Logo, ela não seria somente um resultado sociológico da sociedade, mas também, e principalmente, TERIA O PODER DE MODIFICAR O CONJUNTO DE FORÇAS, MOLDAR A SOCIEDADE COMO ELA É. A norma constitucional não tem existência autônoma em face da realidade. A Constituição deve ser conexa à realidade jurídica, social e política, não sendo apenas determinada pela realidade social, mas determinante em relação a ela. CONSTITUIÇÃO SIMBÓLICA Marcelo Neves define a legislação simbólica como aquela em que há o predomínio ou hipertrofia da função simbólica (essencialmente político-ideológica) em detrimento da função jurídico-instrumental (de caráter normativo-jurídico). Nesse sentido, a marca distintiva da legislação simbólica consistiria na produção de textos cuja referência manifesta à realidade é normativo-jurídica, mas que serve, primária e hipertroficamente, a finalidades políticas de caráter não especificamente normativo- jurídico. Definida, portanto, a legislação simbólica como aquela em que, em razão da NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 71 prevalência da dimensão político-ideológica, há um déficit de concreção normativa. CONSTITUIÇÃO ABERTA Formulada por Paulo Bonavides, para ele o objeto da constituição é sempre dinâmico. A constituição deve ser o documento dinâmico que não enclausure em sim mesmo, mas que acompanhe as modificações e necessidades da sociedade, sob pena de ficar ultrapassada e condenada à morte. CONSTITUIÇÃO CULTURALISTA OU TOTAL Uma concepção culturalista de Direito, como destaca J. H. Meireles Teixeira, conduz à ideia de Constituição Total, em uma visão suprema e sintética, numa perspectiva unitária, ou seja, as Constituições positivas são um conjunto de normas fundamentais, condicionadas pela Cultura total, e ao mesmo tempo condicionantes desta, emanadas da vontade existencial da unidade política, e reguladoras da existência, estrutura e fins do Estado e do modo de exercício e limites do poder político. CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO ORIGEM Outorgada = imposta. Promulgada = via processo democrático. Cesarista = outorgada com posterior referendo popular. FORMA Escrita = elaborada por órgão constituinte. Costumeira = há vários centros de produção de norma. MODO DE ELABORAÇÃO Dogmática/sistemática = escritas sob os dogmas atuais. Histórica = criada lentamente com as tradições. ESTABILIDADE Imutável = o texto não pode ser modificado. Super rígida = modificada por procedimento mais dificultoso do que as demais leis. Semi rígida = para algumas normas o procedimento de alteração é mais dificultoso, para outras não. Flexível = modificada pelo procedimento legislativo ordinário. CONTEÚDO Normas materialmente constitucionais = o conteúdo é típico de Constituições (ex. direitos fundamentais, organização do Estado). Normas formalmente constitucionais = estão contidas em NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 72 documento escrito elaborado pelo poder constituinte, independente do conteúdo. EXTENSÃO Analíticas = trata de assuntos além da organização do Estado. Sintéticas = restringem-se a elementos substancialmente constitucionais. CORRESPONDÊNCIA COM A REALIDADE Normativa = corresponde à realidade política e social. Nominativa = é prospectiva, juridicamente válida, sem ser real e efetiva. Semântica = formaliza a situação de poder em benefício de seus detentores (autoritária). FINALIDADE Constituição Garantia = protege contra arbitrariedades estatais. Constituição Balanço = rege o Estado por um tempo. PODER CONSTITUINTE Poder Constituinte Originário Conceito de PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO: é o poder de criar o Estado e de reformar as suas instituições; no Estado Federal, é também o poder de organizar os Estados Federados. Histórico (de primeiro grau, fundante) seria o verdadeiro poder constituinte originário, estruturando, pela primeira vez, o Estado. Revolucionário seriam todos os posteriores ao histórico, rompendo por completo com a antiga ordem e instaurando uma nova. Natureza jurídica: - 1ª Corrente: Político (positivista) – Hans Kelsen: um poder de fato ou poder político, retirando a sua força da sociedade, e não de uma norma jurídica. Se embasa e se legitima no seu próprio processo de elaboração, não sendo necessário, dessa forma, observar os valores supranacionais do direito natural. (Corrente que prevalece). - 2ª Corrente: Jurídico (jusnaturalista) - Abade Sieyes: o Poder Constituinte Originário está subordinado a normas de direito natural (direito suprapositivo) e, portanto, deve ser considerado um poder jurídico ou de direito. Segundo esta concepção, o PCO encontraria como limitações matérias extrajudiciais, relacionadas aos valores éticos e morais, aos imperativos do direito natural, aos direitos fundamentais conquistados por uma sociedade (Princípio da Proibição do Retrocesso ou Efeito Cliquet) e às normas de Direito Internacional, especialmente às ligadas aos Direitos Humanos. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 73 - 3ª Corrente: natureza híbrida, surgindo como um poder de fato, mas, a cada desconstituição de parte do antigo ordenamento, torna-se um poder de direito. Características do Poder Constituinte Originário: À luz da corrente juspositivista, ele seria: - Inicial: não existe nem poder de fato e nem de direito acima dele; ele inicia toda a normatividade jurídica; é esse o motivo pelo qual se diz que o Poder Constituinte Originário é de primeiro grau, já que origina a ordem jurídica. - Autônomo: não convive com nenhum outro poder que tenha a mesma hierarquia; só o seu titular pode dizer o seu conteúdo. - Incondicionado: não se sujeita a nenhuma outra norma jurídica. Trata-se principalmente de não subordinação a fórmulas pré-estabelecidas. - Ilimitado juridicamente: nenhum limite de espécie alguma, muito menos imposto pela ordem jurídica anterior, existe. - Poder de fato e poder político: A nova ordem jurídica começa com a sua manifestação, e não antes dela. Mas, por ser um poder de fato, o poder constituinte originário permanece latente mesmo após finda a ANC, podendo ser exercido a qualquer tempo. O poder constituinte originário não se esgota quando edita uma Constituição. Ele subsiste fora da Constituição e está apto para se manifestar a qualquer momento. Características (na corrente jusnaturalista - Abade Sieyes): permanente: não se esgota com o seu exercício. Só que ele fica em estado latente/repouso; inalienável: Ela sempre pertencerá ao povo a nação; incondicionado juridicamente: embora possua algumas limitações materiais extrajurídicas. Ele estaria limitado pelos imperativos do direito natural. Poder Constituinte Derivado: Conceito do PODER CONSTITUINTE DERIVADO (secundário, de segundo grau): Para garantia de maior durabilidade de uma CF, é importante que existam possibilidades de sua atualização, para se afastar de uma ruptura. Isso ocorre por meio das mudanças na Constituição. É um poder derivado,pois decorre de uma norma constitucional que lhe confere autenticidade, legitimidade para agir. Por isso que se lhe chama de secundário, já que está embasado em outro poder constituinte, o originário. Natureza Jurídica do Poder Constituinte Derivado: Ao contrário do Poder Constituinte Originário, que é um poder de fato/político, o Poder Constituinte Derivado é um poder de direito, já que encontra seu fundamento jurídico exatamente na nova Ordem Jurídica. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 74 Características do Poder Constituinte Derivado: Derivado: decorre do poder constituinte originário e da própria Constituição; Subordinado: deve observância ao poder constituinte originário; Condicionado ou limitado: seu exercício deve seguir as regras previamente estabelecidas no texto constitucional. Poder Constituinte Derivado Decorrente: Aquele que altera ou estabelece uma Constituição ou Lei Orgânica nos Estados e DF. É um poder secundário (criado pela CF) e limitado, condicionado juridicamente pela própria CF. #SELIGANATABELA: PRINCÍPIOS SENSÍVEIS/APONTADOS/ENUMERA DOS PRINCÍPIOS EXTENSÍVEIS PRINCÍPIOS ESTABELECIDOS/ ORGANIZATÓRIOS A expressão “sensível” remete àquilo que é facilmente percebido pelos sentidos, claro, manifesto, sendo, portanto, princípios sensíveis aqueles indubitavelmente apontados na Constituição, expressos em seu texto. Encontram-se enumerados no art. 34, VII, da CF, podendo sua infringência acarretar a intervenção federal no Estado. São eles: a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático; b) direitos da pessoa humana; c) autonomia municipal; d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta; e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do Consubstanciam regras de organização da União, cuja aplicação se estende aos Estados, por força de regra expressa ou do princípio da simetria. Ex.: normas relativas à organização do Tribunal de Contas da União; regras básicas atinentes ao processo legislativo federal. Aqueles que limitam, vedam, ou proíbem a ação indiscriminada do Poder Constituinte Decorrente. São determinados diretamente aos Estados, ainda que não de forma expressa. Podem gerar limitações expressas, implícitas ou decorrentes. Ex.: os Estados não podem dispor sobre as matérias que constituem competência privativa da União. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 75 ensino e nas ações e serviços públicos de saúde. #DEOLHONAJURIS: É inconstitucional dispositivo da Constituição Estadual que confere foro por prerrogativa de função, no Tribunal de Justiça, para Procuradores do Estado, Procuradores da ALE, Defensores Públicos e Delegados de Polícia. A CF/88, apenas excepcionalmente, conferiu prerrogativa de foro para as autoridades federais, estaduais e municipais. Assim, não se pode permitir que os Estados possam, livremente, criar novas hipóteses de foro por prerrogativa de função. STF. Plenário. ADI 2553/MA, Rel. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 15/5/2019 (Info 940). A Constituição Estadual não pode trazer hipóteses de intervenção estadual diferentes daquelas que são elencadas no art. 35 da Constituição Federal. As hipóteses de intervenção estadual previstas no art. 35 da CF/88 são taxativas. Caso concreto: STF julgou inconstitucionais os incisos IV e V do art. 25 da Constituição do Estado do Acre, que previa que o Estado-membro poderia intervir nos Municípios quando: IV – se verificasse, sem justo motivo, impontualidade no pagamento de empréstimo garantido pelo Estado; V – fossem praticados, na administração municipal, atos de corrupção devidamente comprovados. STF. Plenário. ADI 6616/AC, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 26/4/2021 (Info 1014). Poder constituinte derivado revisor: Segundo entendimento do STF, NÃO é possível a realização de nova revisão constitucional. O art. 3º do ADCT previu a possibilidade de alteração da Constituição Federal de 1988 por meio da denominada “revisão constitucional”, realizada pelo voto da MAIORIA ABSOLUTA dos membros do Congresso Nacional, em SESSÃO UNICAMERAL. Segundo referido dispositivo, a revisão deveria ocorrer "após 5 anos, contados da promulgação da Constituição". Em 1993, foi realizada a dita revisão constitucional, a qual resultou na elaboração de 6 Emendas Constitucionais de Revisão. Por ocasião do julgamento da ADI 981, o STF consolidou entendimento no sentido de que, após a realização da revisão constitucional, a norma do art. 3º do ADCT teve sua APLICABILIDADE ESGOTADA e EFICÁCIA EXAURIDA, de forma a NÃO ser mais possível nova manifestação do poder constituinte derivado revisor. De fato, considerando o procedimento mais simplificado que caracteriza a revisão (em comparação com o procedimento de reforma previsto no art. 60 da CF), a rigidez do texto constitucional restaria fragilizada. Ressalte-se ainda que, neste mesmo julgado, o STF também assentou o entendimento de que a realização da revisão constitucional, à época, NÃO estava vinculada ao resultado do plebiscito previsto no art. 2º do ADCT. Poder constituinte derivado reformador: Limites do Poder Constituinte Derivado Reformador: • Limitações Formais, procedimentais ou processuais: impõem a observância de determinadas formalidades durante o processo de elaboração das emendas. Elas podem ser formais subjetivas, referindo-se às NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 76 autoridades que podem deflagrar o processo de EC - iniciativa da PEC (art. 60, I a III): I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal; II - do Presidente da República; III - de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros. Formais objetivas – processo de discussão e aprovação (quórum de 3/5, dois turnos de votação, não existe sanção ou veto do Presidente, promulgação e publicação pelas mesas da CD e do SF. A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa. • Limitações Temporais: A Constituição não pode ser modificada em certo lapso temporal. Não há essa limitação no ordenamento jurídico pátrio. • Limitações circunstanciais: a Constituição não poderá ser emendada na vigência de Intervenção Federal, Estado de Sítio ou Estado de Defesa. • Limites Materiais ou substanciais: alguns conteúdos não podem ser modificados na Constituição, como o disposto no art. 60, § 4º, que prevê as cláusulas pétreas: § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado; II - o voto direto, secreto, universal e periódico; III - a separação dos Poderes; IV - os direitos e garantias individuais. #IMPORTANTE: Teoria da dupla revisão: Teoria concebida para contornar as limitações constitucionais ao poder de reforma, mediante duas operações subsequentes de alteração formal da Constituição. Numa primeira operação, revogam-se ou excepcionam-se as limitações criadas pelo poder constituinte originário; numa segunda operação, altera-se a Constituição, sem nenhum desrespeito ao texto já em vigor, após a modificação anterior. A maioria da doutrina não admite a dupla revisão, pois o artigo 60 é considerado cláusula pétrea, de forma que a primeira revisão proposta não seria possível. Jorge Mirada defende a possibilidade quando a cláusula pétrea não trata de um conteúdo essencial. No caso do Brasil todas as cláusulas estão relacionadas com a essência da CF. Teoria do pré-comprometimento: Aduz que as Constituições democráticas sãomecanismos de autovinculação adotados pela soberania popular para se proteger de suas paixões e fraquezas. Desse modo, não seria levado por elas para que se fizessem alterações nesses temas mais sensíveis que precisavam ser petrificados. Relação com a mitologia grega, na Odisseia, Ulisses, durante seu regresso a Ítaca, saberia que ia passar por todo tipo de provação e tentação. Ulisses saberia que não resistiria e por isso criou uma autorestrição para não sucumbir depois. Mutação Constitucional: São processos informais de alteração do conteúdo da CF sem que haja modificação em seu texto. Limites para a legitimidade da mutação constitucional: programa normativo (texto e princípios estruturantes da CF) – não é qualquer interpretação nova. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 77 Contrapõem-se à Reforma Constitucional, em que há um processo formal de alteração da constituição. Não existe uma formalidade a ser observada, pois o conteúdo da Constituição é alterado sem que seu texto sofra qualquer modificação, valendo-se dos costumes e da interpretação para tanto. Para que se permita assim concluir, a norma deve ser entendida como sendo o resultado/produto da interpretação do texto/dispositivo, como exemplo, tem-se o princípio da individualização da pena, em que o Tribunal passou a dar uma nova interpretação para o tema da progressão de regime (art. 5º, XLVI, da CF), em que anteriormente se permitiria sua limitação (HC 82959). #DEOLHONAJURIS: Se uma lei ou ato normativo é declarado inconstitucional pelo STF, incidentalmente, ou seja, em sede de controle difuso, essa decisão, assim como acontece no controle abstrato, também produz eficácia erga omnes e efeitos vinculantes. O STF passou a acolher a teoria da abstrativização do controle difuso. Assim, se o Plenário do STF decidir a constitucionalidade ou inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo, ainda que em controle difuso, essa decisão terá os mesmos efeitos do controle concentrado, ou seja, eficácia erga omnes e vinculante. Houve mutação constitucional do art. 52, X, da CF/88. A nova interpretação deve ser a seguinte: quando o STF declara uma lei inconstitucional, mesmo em sede de controle difuso, a decisão já tem efeito vinculante e erga omnes e o STF apenas comunica ao Senado com o objetivo de que a referida Casa Legislativa dê publicidade daquilo que foi decidido. STF. Plenário. ADI 3406/RJ e ADI 3470/RJ, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 29/11/2017 (Info 886). Recepção Constitucional: Quando uma nova Constituição entra em vigor, as normas infraconstitucionais materialmente compatíveis com a nova ordem constitucional são recepcionadas. Repristinação: A regra é que a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência. No entanto, toda regra cabe exceções. Se o STF julga liminarmente uma ADI, incide o efeito repristinatório automático. Ou seja, a norma revogada volta a produzir efeitos. O mesmo ocorre em caso de julgamento definitivo de ADI, pois a lógica é, se a norma nasceu nula, não tinha como revogar a lei pretérita. Para Marcelo Novelino, nos casos em que a decisão proferida pelo STF declarar a inconstitucionalidade de uma lei com efeitos retroativos (ex tunc), a legislação anteriormente revogada voltará a produzir efeitos, desde que compatível com a Constituição. Ocorre, portanto, o fenômeno conhecido como efeito repristinatório tácito. Isso ocorre porque a lei inconstitucional é considerada um ato nulo, ou seja, com um vício de origem insanável. Sendo este vício reconhecido e declarado desde o surgimento da lei, não se pode admitir que ela tenha revogado uma lei válida. APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS NORMAS CONSTITUCIONAIS DE EFICÁCIA PLENA São aquelas que, desde a entrada em vigor da Constituição, produzem, ou têm possibilidade NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 78 de produzir, todos os efeitos que o legislador constituinte quis regular. São autoaplicáveis, é dizer, elas independem de lei posterior regulamentadora que lhes complete o alcance e o sentido; não-restringíveis, pois não poderá uma lei limitar sua aplicação; possuem aplicabilidade direta; imediata; integral. Ex.: o art. 12 da CF define quem são os brasileiros natos e naturalizados. NORMAS CONSTITUCIONAIS DE EFICÁCIA CONTIDA OU RESTRINGÍVEL São normas que estão aptas a produzir todos os seus efeitos desde o momento da promulgação da Constituição, mas que podem ser restringidas por parte do Poder Público. São autoaplicáveis; restringíveis, estão sujeitas a uma limitação imposta por lei. Aplicabilidade direta; imediata; possivelmente não integral. (emenda constitucional, tratado, leis). Ex. XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal; XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer; NORMAS CONSTITUCIONAIS DE EFICÁCIA LIMITADA São aquelas que dependem de regulamentação futura para produzirem todos os seus efeitos. Não-autoaplicáveis, ou seja, dependem de complementação legislativa; aplicabilidade indireta; mediata; reduzida. Ex.: art. 37, inciso VII, da CF/88, que trata do direito de greve dos servidores públicos. Subdividem-se em: Normas definidoras de princípio institutivo, orgânico ou organizativo: são normas pelas quais o legislador constituinte traça regras gerais de estruturação e atribuições de órgãos, entidades ou institutos para que o legislador ordinário, de forma detalhada, conceda densidade jurídica, estruturando, em definitivo, a norma em questão. Ex. art. 88, da CF/88, segundo o qual “a lei disporá sobre a criação e extinção de Ministérios e órgãos da NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 79 administração pública. ” Normas definidoras de princípio programático: são normas que traçam as metas e princípios para serem cumpridos pelos órgãos integrantes dos poderes públicos. Tais normas são voltadas para os órgãos estatais, exigindo destes a consecução de determinados programas tais como: realização da justiça social, valorização do trabalho ,amparo a família, combate ao analfabetismo. Ex. o art. 196 da CF (trata da saúde). NORMA DE EFICÁCIA EXAURIDA São normas que já cumpriram a sua função no ordenamento, mas não foram revogadas, como no caso do ADCT. HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL UNIDADE DA CONSTITUIÇÃO A interpretação deve evitar a contradição entre normas constitucionais, que devem ser vistas em sua totalidade e não como normas isoladas. Não há hierarquia formal entre normas constitucionais, podendo haver hierarquia material (ex.: direito à vida). Isso explica a impossibilidade de haver norma constitucional originária declarada inconstitucional. MÁXIMA EFETIVIDADE Deve-se optar pela interpretação que dê maior efetividade e concretude à norma, evitando a sua não aplicabilidade. Visa, portanto, maximizar a norma, a fim de extrair dela todas as suas potencialidades. FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO A Constituição, assim como as demais normais do ordenamento, possui eficácia e aplicabilidade, devendo ser interpretada da forma que melhor assegure a sua aplicação concreta. É uma autêntica norma jurídica e não uma mera proclamação política. CORREÇÃO FUNCIONAL, JUSTEZA OU CONFORMIDADE É corolário do princípio a separação de poderes. Traduz a ideia de que a intepretação das normais constitucionais não pode subverter o esquema de organização funcional estabelecido na Constituição. Deve-se verificar qual o espaço institucional próprio de cada Poder. É preferível sempreo “diálogo entre as instituições”. PRINCÍPIO DO EFEITO INTEGRADOR Busca que seja dada preferência às determinações que favoreçam a integração política e social e o reforço da unidade política. É, muitas vezes, associado ao princípio da unidade da constituição, justamente por ter como objetivo reforçar a unidade política. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 80 HARMONIZAÇÃO OU CONCORDÂNCIA PRÁTICA Deve-se evitar o sacrifício total de uma das normais diante de um conflito, buscando-se a coexistência delas, através de uma ponderação de interesses no caso concreto. É consequência do princípio da unidade da constituição. INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO Esse princípio, criado pela jurisprudência alemã, se aplica à interpretação das normas infraconstitucionais (e não da Constituição propriamente dita!). Trata- se de técnica interpretativa cujo objetivo é preservar a validade das normas, evitando que sejam declaradas inconstitucionais. Ao invés de se declarar a norma inconstitucional, o Tribunal busca dar-lhe uma interpretação que a conduza à constitucionalidade. A interpretação conforme pode ser de dois tipos: com ou sem redução do texto. a) Interpretação conforme com redução do texto: Nesse caso, a parte viciada é considerada inconstitucional, tendo sua eficácia suspensa. Como exemplo, tem-se que na ADI 1.127-8, o STF suspendeu liminarmente a expressão “ou desacato”, presente no art. 7º,§ 7º, do Estatuto da OAB. b) Interpretação conforme sem redução do texto: Nesse caso, exclui-se ou se atribui à norma um sentido, de modo a torná-la compatível com a Constituição. Pode ser concessiva (quando se concede à norma uma interpretação que lhe preserve a constitucionalidade) ou excludente (quando se exclua uma interpretação que poderia torná-la inconstitucional). MÉTODOS TRADICIONAIS DE INTERPRETAÇÃO GRAMATICAL: Também conhecido como literal ou filológico, busca extrair a norma jurídica do texto que a consagra. Nos casos mais fáceis, o elemento gramatical já fornece a resposta à questão jurídica, dando ensejo à subsunção. Já noutros casos, não será suficiente, embora o texto permaneça relevante. HISTÓRICO: Busca subsídios para interpretação jurídica na vontade do legislador. Examina-se a “occasio legis”, as razões que motivaram a decisão de um ato normativo, a exposição de motivos e os debates parlamentares. LÓGICO: esse elemento se refere à estruturação do pensamento, ou seja, a relação lógica na que se acham suas diversas partes. SISTEMÁTICO: preconiza que cada norma jurídica deve ser interpretada com considerações de todas as demais, e não de forma isolada. A partir dele, formulam-se postulados específicos: a unidade da Constituição e a concordância prática. TELEOLÓGICO: busca a finalidade subjacente ao preceito a ser interpretado. MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO DA NOVA HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 81 MÉTODO JURÍDICO (hermenêutico clássico) – considera que a Constituição é uma lei como qualquer outra, devendo ser interpretada usando as regras da Hermenêutica Constitucional, ou seja, elementos literal (textual), lógico (sistemático), histórico, teleológico e genético. MÉTODO TÓPICO PROBLEMÁTICO (Theodor Viehweg) – Há prevalência do problema sobre a norma, ou seja, busca-se solucionar determinado problema por meio da interpretação de norma constitucional. Esse método parte das premissas que (i) a interpretação tem caráter prático, pois busca resolver problemas concretos; (ii) a norma constitucional é aberta, de significado indeterminado. MÉTODO HERMENÊUTICO CONCRETIZADOR (Konrad Hesse) – a leitura da constituição inicia pela pré- compreensão do seu sentido pelo intérprete, a quem cabe aplicar a norma para resolução de uma situação concreta. Valoriza a atividade interpretativa e as circunstâncias nas quais esta se desenvolve, promovendo uma relação entre o texto e contexto, transformando a interpretação em um movimento de “ir e vir” denominado círculo hermenêutico. Esse método se diferencia do método tópico problemático porque enquanto este pressupõe a primazia do problema sobre a norma, aquele se baseia na prevalência do texto constitucional sobre o problema. MÉTODO INTEGRATIVO OU CIENTÍFICO ESPIRITUAL (Rudolf Smend) – A interpretação da constituição deve considerar a ordem ou o sistema de valores subjacentes ao texto constitucional. Deve ser interpretada como um todo, dentro da realidade do Estado. MÉTODO NORMATIVO ESTRUTURANTE (Friederich Muller) – considera que a norma jurídica é diferente do texto normativo: esta é mais ampla que aquele, pois resulta não só da atividade legislativa, mas igualmente da jurisdicional e da administrativa. Assim, para se interpretar a norma, deve-se utilizar tanto seu texto quanto a verificação de como se dá sua aplicação à realidade social (contexto). A norma seria o resultado da interpretação do texto aliado ao contexto. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE O controle de constitucionalidade consiste na verificação da compatibilidade dos atos infraconstitucionais com a Constituição. Em razão da supremacia da Constituição, todo o ordenamento jurídico infraconstitucional deve ser compatível com os preceitos constitucionais, sob pena de invalidade. A doutrina costuma citar como pressupostos para o controle de constitucionalidade a rigidez constitucional, a supremacia e a existência de órgão incumbido do exercício do controle. A rigidez manifestando-se por meio de seu quórum especial de modificação e do processo legislativo mais prolongado. Supremacia da Constituição: a constituição possui nível hierárquico superior a todas as demais normas sem caráter constitucional. Evolução do controle de constitucionalidade no Brasil: NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 82 Constituição do Império de 1824: não estabeleceu qualquer sistema de controle, consagrando o dogma da soberania do Parlamento. Somente o Órgão Legislativo poderia saber o verdadeiro sentido da norma. Outro problema da Constituição de 1824 era o modelo semi-rígido adotado, no qual nem todas as matérias previstas na Carta eram materialmente constitucionais. Constituição da República de 1891: Apesar de se propagar isso, não foi com essa Constituição que surgiu o controle difuso de constitucionalidade. Nasceu, pois, com a Constituição Provisória, Decreto nº 510 de 1890. Na Constituição provisória foi previsto o surgimento do atual STF, AFIRMANDO SER COMPETÊNCIA DO CONGRESSO A GUARDA DA CONSTITUIÇÃO E DAS LEIS, MAS NÃO MAIS A COMPETÊNCIA DE INTERPRETAR. A CR/1891, porém, consagrou definitivamente o controle difuso. Constituição da República de 1934: Previu também a necessidade da maioria absoluta de voto dos juízes para que os Tribunais pudessem declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato do Poder Público. Surgiu a participação do Senado para dar efeitos erga omnes das leis declaradas inconstitucionais pelo Poder Judiciário no controle difuso. A Constituição de 34 traz o primeiro mecanismo de controle concentrado do Supremo Tribunal Federal, que é a ação de inconstitucionalidade interventiva, a representação de inconstitucionalidade interventiva. Criação da reserva de plenário. Constituição da República de 1937: Representou um retrocesso. Continuou prevendo a declaração judicial de inconstitucionalidade da lei ou do ato do Presidente. Entretanto, se declarada a inconstitucionalidade, poderia o Presidente submeter a lei novamente ao parlamento, o qual poderia confirmá-la por 2/3 dos votos, ficando sem efeito a decisão judicial. Constituição da República de 1946: Introduziu-se a ADIN genérica (controle abstrato concentrado) com a EC nº 16/1965. Porém, a única autoridade que poderia originalmente propor a ADIN era o PGR. Introduziu também a Representação de Inconstitucionalidade Interventiva com ela é hoje. Constituiçõesde 1967 e 1969: Não trouxeram inovações significativas em sede de controle de constitucionalidade. Constituição da República de 1988: Ampliou os legitimados para propor ADI. Criou a ADO. Previu a participação do PGR nas ações de inconstitucionalidade perante o STF e estabeleceu que o AGU deveria fazer a defesa, salvo na ADC. Criou a ADPF. A EC nº 03/1993 criou a ADC para ato normativo federal, dando-lhe força vinculante, com legitimidade inicial menor do que a ADI. A EC nº 45/2004 estendeu expressamente o efeito vinculante da ADC para a ADIN e igualou a legitimidade de ambas. A EC nº 45/2004 introduziu a exigência da repercussão geral e a Súmula Vinculante. Parâmetro e bloco de constitucionalidade: Parâmetro: são as normas que servirão como referência para que o Tribunal analise se determinada lei é ou não inconstitucional. Não confundir com objeto, que é a norma que está sendo questionada. Bloco de constitucionalidade: Em sentido amplo abrange não apenas as normas constitucionais (inclusive preâmbulo), mas também normas infraconstitucionais. Em sentido estrito, adotado pelo STF, CF, os princípios implícitos e os Tratados de DH aprovados a forma do art. 5 §3º. #LEMBRA: Preâmbulo não integra o bloco de constitucionalidade e nem normas de eficácia exaurida do ADCT. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 83 Preâmbulo: Força normativa. a) tese da irrelevância jurídica: o preâmbulo está no âmbito da política, portanto, não possui relevância jurídica; não é de repetição obrigatória nas constituições estaduais e nem é parâmetro para controle de constitucionalidade. Adotado pelo STF. b) tese da plena eficácia: o preâmbulo tem a mesma eficácia jurídica das normas constitucionais; é de repetição obrigatória e é parâmetro de controle de constitucionalidade. c) tese da relevância jurídica indireta: o preâmbulo faz parte das características jurídicas da Constituição Federal, entretanto, não deve ser confundido com as demais normas jurídicas desta. Modelos de controle de constitucionalidade: Modelo Norte-Americano: O modelo norte-americano de controle de constitucionalidade caracteriza-se por permitir que qualquer juiz ou tribunal, ante um caso concreto, possa analisar a compatibilidade das leis e dos atos do poder público em face da Constituição. É um controle puramente judicial (reservado apenas aos órgãos do Poder Judiciário) difuso (todos os órgãos do poder judiciário podem exercê-lo), incidental ou indireto (só se realiza dentro de um processo judicial em curso, como uma questão prejudicial ao mérito) e subjetivo (desenvolvido em razão de um conflito de interesses subjetivos postos em juízo). Não obstante qualquer juízo ou tribunal ter a faculdade jurídica de declarar a inconstitucionalidade no caso concreto, é importante ressaltar que os pronunciamentos de Suprema Corte tomam repercussão especial, sobretudo diante do princípio do stare decisis. Por este princípio, as decisões e precedentes da Suprema Corte Norte-Americana têm eficácia vinculante, transformando-se na última e definitiva palavra sobre as questões constitucionais naquele país. A CF de 1891 trouxe pela primeira vez o controle difuso. #DEOLHONAJURIS: Abstrativização do controle difuso. Se uma lei ou ato normativo é declarado inconstitucional pelo STF, incidentalmente, ou seja, em sede de controle difuso, essa decisão, assim como acontece no controle abstrato, também produz eficácia erga omnes e efeitos vinculantes. O STF passou a acolher a teoria da abstrativização do controle difuso. Assim, se o Plenário do STF decidir a constitucionalidade ou inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo, ainda que em controle difuso, essa decisão terá os mesmos efeitos do controle concentrado, ou seja, eficácia erga omnes e vinculante. Houve mutação constitucional do art. 52, X, da CF/88. A nova interpretação deve ser a seguinte: quando o STF declara uma lei inconstitucional, mesmo em sede de controle difuso, a decisão já tem efeito vinculante e erga omnes e o STF apenas comunica ao Senado com o objetivo de que a referida Casa Legislativa dê publicidade daquilo que foi decidido. STF. Plenário. ADI 3406/RJ e ADI 3470/RJ, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 29/11/2017 (Info 886). Modelo Austríaco-alemão: Hans Kelsen foi o grande idealizador do modelo de controle de constitucionalidade instituído na Áustria pela Constituição de 1920 e aprimorado na reforma de 1929. Em tal sistema, conferiu-se a um único órgão central o poder de pronunciar a inconstitucionalidade das normas. Este órgão chamado de Tribunal Constitucional, detém, com exclusividade, o dever de analisar “concentradamente” a compatibilidade de qualquer lei ou ato normativo em face do texto constitucional. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 84 O Tribunal constitucional, no modelo proposto por Kelsen, é apartado e independente da estrutura ordinária do Poder Judiciário. Ele não julga qualquer demanda concreta, não julga conflito de interesses subjetivos. A atividade da Corte Constitucional é plenamente objetiva, ou seja, analisa apenas a compatibilidade da norma em face da constituição, abstratamente. O Tribunal age como um verdadeiro legislador negativo. No modelo austríaco, as questões constitucionais podem ser remetidas para decisão do Tribunal Constitucional por via principal (através de órgãos políticos legitimados) e por via incidental (em sede de um litígio em trâmite perante o poder judiciário), mas a decisão sempre é objetiva. Esse sistema surge no Brasil em 1934, através da previsão da Representação Interventiva, que hoje é a ADI interventiva. E a primeira vez que foi criado o controle concentrado abstrato foi com a EC 16/65, que trouxe a representação de inconstitucionalidade, tendo como único legitimado o PGR. Controle preventivo x Controle repressivo: CONTROLE PREVENTIVO CONTROLE REPRESSIVO Impede a inserção no sistema normativo de normas que padeçam de vícios. É realizado durante o processo legislativo de formação do ato normativo, pelo Legislativo, pelo Executivo e pelo Judiciário. Sobre a lei geradora de efeitos potenciais ou efetivos. O controle posterior ou repressivo será realizado sobre a lei, e não mais sobre o projeto de lei, como ocorre no controle preventivo. Os órgãos de controle verificarão se a lei, ou ato normativo, ou qualquer ato com indiscutível caráter normativo, possuem um vício formal (produzido durante o processo de sua formação), ou se possuem um vício em seu conteúdo, qual seja, um vício material. Legislativo: O legislativo verificará, através de suas comissões de constituição e justiça, se o projeto de lei, que poderá virar lei, contém algum vício a ensejar a inconstitucionalidade. O plenário das referidas Casas também poderá verificar a inconstitucionalidade do projeto de lei, o mesmo podendo ser feito durante as votações. Controle político: Verifica-se em Estados onde o controle é exercido por um órgão distinto dos três Poderes, órgão esse garantidor da supremacia da Constituição. Controle jurisdicional: O sistema de controle jurisdicional dos atos normativos é realizado pelo Poder Judiciário, tanto por um único órgão (controle concentrado) — no caso do direito brasileiro, pelo STF e pelo TJ — como por qualquer juiz ou tribunal (controle difuso), admitindo, naturalmente, o seu exercício por juízes em estágio probatório, ou seja, sem terem sido vitaliciados, bem como por juízes dos juizados especiais. O Brasil adotou o sistema jurisdicional misto, porque realizado pelo Poder Judiciário — daí ser jurisdicional —, tanto de forma concentrada (controle concentrado) como por qualquer juiz NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 85 ou tribunal (controle difuso). Controle híbrido: No controle que chamamos de híbrido, temos uma mistura dos outros dois sistemas acima noticiados. Assim, algumas normassão levadas a controle perante um órgão distinto dos três Poderes (controle político), enquanto outras são apreciadas pelo poder judiciário (controle jurisdicional). Executivo: o Chefe do Executivo, aprovado o projeto de lei, poderá sancioná-lo (caso concorde) ou vetá-lo. O veto dar-se-á quando o Chefe do Executivo considerar o projeto de lei inconstitucional (veto jurídico) ou contrário ao interesse público (veto político). Órgãos administrativos autônomos de controle (TCU, CNJ e CNMP) exercem controle de constitucionalidade? Não! Poderão, no caso concreto, reconhecer a desconformidade formal ou material de normas jurídicas, incompatíveis com a manifestação constituinte originária. Sendo assim, os Tribunais de Contas podem deixar de aplicar ato por considerá-lo inconstitucional, bem como sustar outros atos praticados com base em leis vulneradoras da Constituição. Judiciário: O controle prévio ou preventivo de constitucionalidade a ser realizado pelo Poder Judiciário sobre PEC ou projeto de lei em trâmite na Casa Legislativa busca garantir ao parlamentar o respeito ao devido processo legislativo, vedando a sua participação em procedimento desconforme com as regras da Constituição. A legitimação para a impetração do MS é exclusiva do parlamentar. A perda superveniente de titularidade do mandato legislativo desqualifica a legitimação ativa do congressista, causando a extinção do processo de mandado de segurança. Partindo de um critério subjetivo ou orgânico, o controle judicial de constitucionalidade poderá ser difuso (qualquer juiz ou tribunal podem) ou concentrado (competência originária do órgão). Espécies de inconstitucionalidade: Quanto ao objeto: Inconstitucionalidade por AÇÃO: Ocorre quando um ato estatal viola preceitos constitucionais. Inconstitucionalidade por OMISSÃO: Ocorre quando um poder do Estado deixa de fazer algo que a Constituição determina. É necessário o DEVER CONSTITUCINAL de legislar + MORA legislativa. Quanto à natureza do vício: NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 86 Inconstitucionalidade MATERIAL (nomoestática): Incompatibilidade substantiva, ou seja, de conteúdo. Inconstitucionalidade FORMAL (nomodinâmica): ato normativo que não seguiu o processo legislativo constitucionalmente previsto ou não foi iniciado por um dos legitimados. Subjetiva (vício de iniciativa). Ex: presidente tem iniciativa exclusiva nas matérias constantes do art. 61, § 1º, CF. Impende ressaltar que o vício de iniciativa formal não pode ser convalidado pela sanção presidencial. Objetiva: guarda pertinência com o processo legislativo em si, nas demais fases posteriores à iniciativa legislativa. Ex: quórum de aprovação de LC ou EC. Orgânica: vício de competência. Por violação aos pressupostos objetivos do ato: violação de pressupostos definidos na constituição como elementos determinantes de competência para órgãos legislativos no exercício da função legiferante. Ex. A relevância e urgência no caso da Medida Provisória. Quanto à extensão do vício: Total: todo o ato normativo ou administrativo é inconstitucional. A inconstitucionalidade formal sempre leva à inconstitucionalidade total, ao passo em que a inconstitucionalidade material possibilita a manutenção da lei ou ato normativo na parte em que compatível com a Constituição Federal. Parcial: apenas partes dele o é. A inconstitucionalidade parcial poderá ser declarada inconstitucional apenas parte ou palavra do texto, desde que o Poder Judiciário não subverta o sentido da lei. Isso é chamado de PRINCÍPIO DA PARCELARIDADE. Quanto ao momento do vício: Inconstitucionalidade ORIGINÁRIA: Congênita à norma, que já nasce inconstitucional. Inconstitucionalidade SUPERVENIENTE (PROGRESSIVA) ou Declaração de Inconstitucionalidade Restrita ou Norma Ainda Constitucional ou norma em transito para inconstitucionalidade: A norma nasce constitucional, mas vai se tornando inconstitucional em momento posterior, isso ocorre em razão das mudanças fáticas ou da mutação constitucional. Ex. o artigo 68, CPP prevê a legitimidade do MP para a propositura de ação civil ex delicto quando a vítima é hipossuficiente. #NÃOCONFUNDA: Constitucionalidade superveniente Inconstitucionalidade superveniente Fenômeno pelo qual uma lei ou ato normativo que tenha “nascido” com algum vício de inconstitucionalidade, seja formal ou material, e se Fenômeno pelo qual uma lei ou ato normativo que “nasceu perfeita”, sem nenhum tipo de vício de inconstitucionalidade, vem a se NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 87 constitucionaliza. Esse fenômeno é inadmitido na medida em que o vício congênito não se convalida. tornar inconstitucional. Em regra, esse fenômeno não é observado. Se a lei foi editada antes do advento de uma nova Constituição, duas situações surgem: - A lei é compatível e será recepcionada; ou - A lei é incompatível e, então, nesse caso, será revogada por não recepção. Para se falar em controle de constitucionalidade, a lei tem que ter sido editada na vigência do texto de 1988 e ser confrontada (parâmetro de controle) perante a CF/88 ou toda normatividade que tenha status de Constituição, dentro de uma perspectiva de “bloco de constitucionalidade”. #SELIGA: A regra da impossibilidade de inconstitucionalidade superveniente, contudo, apresenta duas exceções: a) mutação constitucional; b) mudança no substrato fático da norma. No primeiro caso (mutação constitucional), a redação do dispositivo da Constituição não é alterada, mas o seu sentido interpretativo muda, surgindo, então, uma nova norma jurídica. A lei, então, que nasceu constitucional, tornar-se-ia inconstitucional em razão da mudança no sentido interpretativo do parâmetro de constitucionalidade. Ex. casamento homoafetivo. No segundo caso (mudança no substrato fático da norma), não se tem uma alteração no parâmetro da Constituição, mas nos novos aspectos de fato que surgem e que não eram claros no momento da primeira interpretação. Ex. Em um primeiro momento, o STF pronunciou-se no sentido de se declarar a constitucionalidade da lei federal que admitia o uso controlado de uma das modalidades do amianto (asbesto branco). Em momento seguinte, em razão da mudança no substrato fático da norma, referida disposição se tornou inconstitucional, passando a norma por um processo de inconstitucionalização. Percebam, seja na primeira interpretação, seja 22 anos depois quando houve a mudança de entendimento, a Constituição sempre proibiu substâncias que fizessem mal à saúde ou ao meio ambiente. O que se observou foi um novo diagnóstico do potencial de violação à saúde, inclusive em razão dos avanços tecnológicos e de pesquisa. #OLHAOGANCHO: Mutação constitucional ou vicissitude constitucional tácita/ mudança constitucional silenciosa/ processo informação de mudança da constituição: Conceito: é a mudança informal da Constituição, permitindo a releitura do seu texto à luz dos novos fatos sociais, econômicos, políticos e culturais. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 88 Permite que a Constituição esteja sempre conectada com a realidade do país. São processos informais de alteração do conteúdo da CF sem que haja modificação em seu texto, não se trata de alteração formal realizada pelo poder constituinte reformador. Inconstitucionalidade DIRETA: Desconformidade entre leis ou outros atos normativos primários e a Constituição. Inconstitucionalidade INDIRETA (reflexa): O vício não decorre da violação direta da Constituição, mas sim de outro ato normativo no qual encontra fundamento. STF entende que é o caso de ilegalidade. Inconstitucionalidade DERIVADA (consequente) ou por reverberação normativa, por atração, consequencial: a declaração de inconstitucionalidade da norma regulamentada (primária)acaba por ensejar automaticamente o reconhecimento da invalidade das normas regulamentadoras (secundárias). Vertical: quando uma norma inferior é também declarada inconstitucional em decorrência da declaração de inconstitucionalidade da norma superior, como ocorre com os decretos regulamentares. Horizontal: quando uma norma do mesmo nível hierárquico também é declarada inconstitucional, por ser regulamentadora da norma que foi reconhecida como inconstitucional. Geralmente ocorre dentro de uma mesma lei, quando, por exemplo, o art. 5º vem dispondo sobre o art. 4º, que foi objeto de ADIN. Inconstitucionalidade circunstancial: A aplicação de uma lei pode ser inconstitucional em determinado caso concreto, embora seja ela formalmente constitucional. Inconstitucionalidade chapada, enlouquecida, desvairada: flagrante e evidente inconstitucionalidade. Cláusula de reserva de plenário: A chamada “cláusula de reserva de plenário” significa que, se um Tribunal for declarar a inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo, é obrigatório que essa declaração de inconstitucionalidade seja feita pelo voto da maioria absoluta do Plenário ou do órgão especial deste Tribunal. Esta exigência da cláusula de reserva de plenário tem como objetivo conferir maior segurança jurídica para as decisões dos Tribunais, evitando que, dentro de um mesmo Tribunal, haja posições divergentes acerca da constitucionalidade de um dispositivo, gerando instabilidade e incerteza. Art. 97. CF. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público. Súmula Vinculante 10: Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público, afasta sua incidência, no todo ou em parte. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 89 Não há de se falar em ofensa à cláusula de reserva de plenário (art. 97 da Constituição da República) e ao enunciado 10 da Súmula vinculante do Supremo Tribunal Federal quando não haja declaração de inconstitucionalidade dos dispositivos legais tidos por violados, tampouco afastamento desses, mas tão somente a interpretação do direito infraconstitucional aplicável ao caso, com base na jurisprudência do STJ. STJ. 1ª Turma. AgInt nos EDcl no RMS 64.859/ES, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 21/03/2022. #FOCANATABELA: EXCEÇÕES À CLAUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO - Art. 949, p. u., do CPC: * quando o Plenário (ou órgão especial) do Tribunal que estiver decidindo já tiver se manifestado pela inconstitucionalidade da norma; * quando o Plenário do STF já tiver decidido que a norma em análise é inconstitucional; - Se o órgão fracionário declarar a constitucionalidade da norma; - Se a lei ou ato normativo for anterior ao texto da Constituição Federal; - Se o órgão fracionário faz apenas uma interpretação conforme; - Para juízos singulares; - Para Turmas Recursais (Colégios Recursais); - Para o STF no caso de controle difuso; O afastamento de norma legal por órgão fracionário, de modo a revelar o esvaziamento da eficácia do preceito, implica contrariedade à cláusula de reserva de plenário e ao Enunciado 10 da Súmula Vinculante. Caso concreto: a 4ª Turma do TRF da 1ª Região, ou seja, um órgão fracionário do TRF1, ao julgar apelação, permitiu que uma empresa comercializasse determinada espécie de cigarro mesmo isso sendo contrário às regras do Decreto nº 7.212/2010. Embora não tenha declarado expressamente a inconstitucionalidade do Decreto, a 4ª Turma afirmou que ele seria contrário ao princípio da livre concorrência, que é previsto no art. 170, IV, da CF/88. Ao desobrigar a empresa de cumprir as regras do decreto afirmando que ele violaria o princípio da livre iniciativa, o que a 4ª Turma fez foi julgar o decreto inconstitucional. Ocorre que isso deveria ter sido feito respeitando-se a cláusula de reserva de plenário, conforme explicitado na SV 10: Súmula vinculante 10-STF: Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, art. 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público, afasta a sua incidência no todo ou em parte. STF. 1ª Turma. RE 635088 AgR-segundo/DF, rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 4/2/2020 (Info 965). Sociedade de economia mista realizou concurso público para advogado da empresa. Mesmo havendo aprovados no certame, que ainda estava dentro do prazo de vigência, a empresa decidiu contratar um escritório de advocacia para realizar os serviços jurídicos. Diante disso, uma das Turmas do TRT reconheceu que houve preterição dos aprovados e determinou a NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 90 nomeação. Ao assim decidir, a Turma do TRT disse que não se aplicava, ao caso, o art. 25, § 1º, da Lei nº 8.987/95. Essa decisão da Turma do TRT (órgão fracionário do Tribunal) não viola a SV 10. Isso porque o enfoque do acórdão do TRT não era a terceirização dos serviços, mas sim a preterição arbitrária praticada pela Administração Pública. STF. 1ª Turma. Rcl 29307 AgR/PB, Rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Rosa Weber, julgado em 4/12/2018 (Info 926) #ATENÇÃO: Conquanto analisada no controle difuso, a cláusula de reserva de plenário aplica-se também no controle concentrado, seja por disposição legal, seja em razão de decisões do Supremo. #OLHAAJURIS:(...) - A estrita observância, pelos Tribunais em geral, do postulado da reserva de plenário, inscrito no art. 97 da Constituição, atua como pressuposto de validade e de eficácia jurídicas da própria declaração jurisdicional de inconstitucionalidade dos atos do Poder Público. Doutrina. Jurisprudência. – A inconstitucionalidade de leis ou de outros atos estatais somente pode ser declarada, quer em sede de fiscalização abstrata (método concentrado), quer em sede de controle incidental (método difuso), pelo voto da maioria absoluta dos membros integrantes do Tribunal, reunidos em sessão plenária ou, onde houver, no respectivo órgão especial... (AI 472897 AgR, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 18/09/2007) #SELIGA: Controle Difuso em Ação Civil Pública: Para que uma ACP possa ser admitida como instrumento de controle de constitucionalidade, a alegação de inconstitucionalidade deve ser apenas fundamento do pedido, questão incidental ou causa de pedir, mas não o pedido propriamente dito. Do contrário, poderia a ACP ser utilizada como uma espécie de ADI, usurpando a competência do STF. Controle abstrato de constitucionalidade: Legitimados: I – o Presidente da República; (U) II – a Mesa do Senado Federal; (U) III - a Mesa da Câmara dos Deputados; (Mesa do CN NÃÃÃO); IV - a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; (E) V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; (E) VI – o Procurador-Geral da República; (U) VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; (U) VIII - partido político com representação no Congresso Nacional; (U) IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional. (E) #FOCANATABELA: LEGITIMADOS ATIVOS UNIVERSAIS (NEUTROS) ESPECIAIS (NÃO UNIVERSAIS) São aqueles que podem propor ADI e ADC contra leis ou atos normativos que versem sobre qualquer matéria, sem a necessidade de comprovar interesse específico no julgamento da ação. São aqueles que somente podem propor ADI e ADC contra leis ou atos normativos que tratem sobre matérias que digam respeito às funções ou objetivos do órgão ou entidade. O autor especial terá que provar o seu interesse específico no julgamento daquela ação. Terá que ser provada a pertinência temáticaentre a NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 91 norma impugnada e os objetivos do autor da ação. • Presidente da República; • Mesa do Senado e Mesa da Câmara; • Procurador-Geral da República; • Conselho Federal da OAB; • Partido político com representação no CN. • Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do DF; • Governador de Estado/DF; • Confederação sindical; • Entidade de classe de âmbito nacional. Os legitimados universais não precisam, segundo o STF, demonstrar a pertinência temática. E o que seria pertinência temática? É um nexo de afinidade entre os objetivos institucionais da entidade que ajuíza a ADIN e o conteúdo material da norma por ela impugnada nessa sede processual. Legitimados ESPECIAIS devem demonstrar pertinência temática. Legitimidade passiva: quaisquer autoridades de que emanem atos normativos ou administrativos. Litisconsórcio Ativo e Passivo: É possível o litisconsórcio ativo facultativo. O litisconsórcio passivo será necessário quando mais de um órgão tiver participado da edição da norma objeto da ADI. Exemplo: uma lei que tenha sido aprovado pelo CN e sancionado pelo PR, terá como polo passivo, como requeridos, o CN e o PR. #SELIGA: O efeito vinculante em ADI e ADC, na linha de interpretação dada pelo STF, não atinge o Poder Legislativo no exercício de sua função típica de legislar, produzindo eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal. Se atingisse o legislativo ocorreria a fossilização da Constituição. O Legislativo, assim, poderá, inclusive, legislar em sentido diverso da decisão dada pelo STF, ou mesmo contrário a ela, sob pena, em sendo vedada essa atividade, de significar inegável petrificação da evolução social. #DEOLHONAJURIS: É irrecorrível a decisão que indefere o pedido de ingresso na condição de amicus curiae. A diretriz vigora também relativamente a processos de índole subjetiva (RE 1017365 AgR, Relator(a): EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, DJe de 24/9/2020). STF. Plenário. Inq 4888 AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 22/08/2022. Os Estados-membros da Federação, no exercício da competência outorgada pela Constituição Federal (art. 25, caput, c/c art. 125, § 2º, CF), não podem afastar a legitimidade ativa do Chefe do Ministério Público estadual para propositura de ação direta de inconstitucionalidade perante o Tribunal de Justiça local. STF. Plenário. ADI 5.693/CE, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 18/11/2021. Governador de Estado afastado cautelarmente de suas funções — por força do recebimento de denúncia por crime comum — não tem legitimidade ativa para a propositura de ação direta de inconstitucionalidade. STF. Plenário. ADI 6728 AgR/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 30/4/2021 (Info 1015). NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 92 CONTROLE CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE Processo objetivo: não há partes; Causa de pedir aberta: o STF pode reconhecer a inconstitucionalidade em face de artigo diverso do apontado pelo autor da ação. Apesar da causa de pedir ser aberta, o pedido deve ser fechado. Competência: STF ou TJ (no caso de controle estadual). Legitimados: art. 103, CF. Decisão de mérito: - Eficácia erga omnes e efeito vinculante; - Eficácia temporal: Ex tunc (regra); - Modulação temporal: quórum de dois terços; razões de segurança jurídica ou excepcional interesse social; - Efeito repristinatório tácito (ADI). ADI COMPETÊNCIA STF OBJETO Lei/ato normativo; Federal/estadual; Posterior ao parâmetro constitucional violado. PARÂMETRO Norma formalmente constitucional; Tratados e Convenções Internacionais de Direitos Humanos (aprovados por 3/5 dos membros e em dois turnos). LIMINAR Eficácia erga omnes e efeito vinculante; Suspende a eficácia da norma impugnada e o julgamento dos processos que a envolvam; Eficácia temporal: ex nunc (regra). ADC COMPETÊNCIA STF NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 93 OBJETO Lei/ato normativo; Federal; Posterior ao parâmetro - constitucional violado. PARÂMETRO Norma formalmente constitucional; Tratados e Convenções Internacionais de Direitos Humanos (aprovados por 3/5 dos membros e em dois turnos). LIMINAR Eficácia erga omnes e efeito vinculante; Suspende julgamento dos processos; ADPF COMPETÊNCIA STF OBJETO Ato do poder público; Federal/estadual/municipal; Anterior/posterior ao preceito fundamental violado. PARÂMETRO "Preceito fundamental". LIMINAR Eficácia erga omnes e efeito vinculante; Suspende processos, efeitos de decisões judiciais ou qualquer outra medida relacionada à matéria (salvo se decorrentes da coisa julgada); Eficácia temporal: ex nunc (regra). ADO COMPETÊNCIA STF LEGITIMIDADE PASSIVA Autoridades ou órgãos responsáveis pela medida. PARÂMETRO Norma constitucional dependente de medida intermediadora para ter plena efetividade. LIMINAR Suspensão da aplicação de lei ou ato normativo (omissão parcial) ou de processos judiciais e administrativos Fixação de outras providências NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 94 DECISÃO DE MÉRITO Ciência ao poder competente para suprir a omissão; Órgão administrativo: 30 dias ou prazo razoável; Poder Legislativo: não há prazo. #DEOLHONAJURIS: Caso concreto: partido político ajuizou ADPF alegando que determinados discursos, pronunciamentos e comportamentos do Presidente da República, de Ministros de Estado e de outros integrantes do alto escalão do Poder Executivo federal representariam violação de preceitos fundamentais do Estado Democrático de Direito e do direito à saúde. O autor pediu “que o Presidente da República, bem como todos os seus Ministros e auxiliares imediatos pautem doravante seus atos, práticas, discursos e pronunciamentos em conformidade com os princípios constitucionais suprarreferidos.” O STF não conheceu da ADPF. Na ação, o partido pede, em síntese, que o STF profira comando judicial para que o Presidente da República e seus auxiliares cumpram a Constituição. Ocorre que isso já é óbvio. À luz do constitucionalismo contemporâneo, não há qualquer dúvida de que a supremacia constitucional é o postulado sobre o qual se assenta a validade de todos os atos estatais. Mostra-se inócua e desprovida de qualquer utilidade provocar o Poder Judiciário objetivando, única e exclusivamente, declarar que as autoridades públicas estão sujeitas à ordem constitucional. Em um Estado Democrático de Direito, como o Brasil, nenhum ato jurídico pode ser praticado validamente à margem da Constituição. Transgressões aos princípios e regras constitucionais praticadas por autoridades públicas ou particulares, quando ocorrem, exigem a intervenção judicial, em caráter preventivo ou repressivo, diante de situações concretas e específicas, e não por meio de uma ação de controle concentrado de constitucionalidade. STF. Plenário. ADPF 686/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 18/10/2021 (Info 1034). #NÃOCONFUNDA: MANDADO DE INJUNÇÃO ADI POR OMISSÃO Natureza e finalidade Trata-se de processo no qual é discutido um direito subjetivo. A finalidade é viabilizar o exercício de um direito. Há, portanto, controle concreto de constitucionalidade. Natureza e finalidade A finalidade é declarar que há uma omissão, já que não existe determinada medida necessária para tornar efetiva uma norma constitucional. Estamos diante, portanto, de processo objetivo, em que há controle abstrato de constitucionalidade. Cabimento Cabível quando faltar norma regulamentadora de direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania. Cabimento Cabível quando faltar norma regulamentadora relacionada com qualquer norma constitucional de eficácia limitada.NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 95 Legitimados ativos MI individual: pessoas naturais ou jurídicas que se afirmam titulares dos direitos, das liberdades ou das prerrogativas. MI coletivo: estão previstos no art. 12 da Lei nº 13.300/2016. Legitimados ativos Os legitimados da ADI por omissão estão descritos no art. 103 da CF/88. Competência A competência para julgar a ação dependerá da autoridade que figura no polo passivo e que possui atribuição para editar a norma. Competência Se relacionada com norma da CF/88: STF. Se relacionada com norma da CE: TJ. Efeitos da decisão Reconhecido o estado de mora legislativa, será deferida a injunção para: I - determinar prazo razoável para que o impetrado promova a edição da norma regulamentadora; II - estabelecer as condições em que se dará o exercício dos direitos, das liberdades ou das prerrogativas reclamados ou, se for o caso, as condições em que poderá o interessado promover ação própria visando a exercê-los, caso não seja suprida a mora legislativa no prazo determinado. OBS: será dispensada a determinação a que se refere o inciso I quando comprovado que o impetrado deixou de atender, em mandado de injunção anterior, ao prazo estabelecido para a edição da norma. Efeitos da decisão Declarada a inconstitucionalidade por omissão, o Judiciário dará ciência ao Poder competente para que este adote as providências necessárias. Se for órgão administrativo, este terá um prazo de 30 dias para adotar a medida necessária. Se for o Poder Legislativo, não há prazo. #IMPORTANTE! EFEITOS DA DECISÃO DO MANDADO DE INJUNÇÃO POSIÇÃO CONCRETISTA DIRETA A concessão da ordem no MI concretiza o direito diretamente, independentemente de atuação do órgão omisso, até que a norma constitucional venha a ser regulamentada. A decisão vale ou para todos (geral) e, nesse caso, terá efeitos erga omnes, ou para um grupo, classe ou categoria de pessoas (coletivo), ou apenas para o impetrante, pessoa natural ou jurídica (individual). NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 96 POSIÇÃO CONCRETISTA INTERMEDIÁRIA Julgando procedente o mandado de injunção, o Judiciário fixa ao órgão omisso prazo para elaborar a norma regulamentadora. Findo o prazo e permanecendo a inércia, o direito passa a ser assegurado para todos (geral), para grupo, classe ou categoria de pessoas (coletivo) ou apenas para o impetrante, pessoa natural ou jurídica (individual). POSIÇÃO NÃO CONCRETISTA a decisão apenas decreta a mora do Poder, órgão ou autoridade com atribuição para editar a norma regulamentadora, reconhecendo-se formalmente a sua inércia. #DEOLHONAJURIS: Se é proposta ADI contra uma medida provisória e, antes de a ação ser julgada, a MP é convertida em lei com o mesmo texto que foi atacado, esta ADI NÃO perde o objeto e poderá ser conhecida e julgada. Como o texto da MP foi mantido, não cabe falar em prejudicialidade do pedido. Isso porque não há a convalidação ("correção") de eventuais vícios existentes na norma, razão pela qual permanece a possibilidade de o STF realizar o juízo de constitucionalidade. Neste caso, ocorre a continuidade normativa entre o ato legislativo provisório (MP) e a lei que resulta de sua conversão. Vale ressaltar, no entanto, que o autor da ADI deverá peticionar informando esta situação ao STF e pedindo o aditamento da ação. STF. Plenário. ADI 1055/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 15/12/2016 (Info 851) Em regra, não é cabível ADI sob o argumento de que uma lei ou ato normativo violou um tratado internacional. Em regra, os tratados internacionais não podem ser utilizados como parâmetro em sede de controle concentrado de constitucionalidade. Exceção: será cabível ADI contra lei ou ato normativo que violou tratado ou convenção internacional que trate sobre direitos humanos e que tenha sido aprovado segundo a regra do § 3º do art. 5º, da CF/88. Isso porque neste caso esse tratado será incorporado ao ordenamento brasileiro como se fosse uma emenda constitucional. STF. Plenário. ADI 2030/SC, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 9/8/2017 (Info 872) A Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) é meio processual inadequado para o controle de decreto regulamentar de lei estadual. Poderia caber ADI se fosse um decreto autônomo. Mas sendo um decreto que apenas regulamenta a lei, não cabe a ADI. STF. Plenário. ADI 4409/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 6/6/2018 (Info 905). Não cabe contra decreto regulamentar, por ser esse um ato secundário, cabendo ADI apenas contra atos primários. Neste caso seria possível o controle da legalidade. Assim, é cabível a propositura de ADI contra lei orçamentária, lei de diretrizes orçamentárias e lei de abertura de crédito extraordinário. STF. Plenário. ADI 5449 MC-Referendo/RR, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 10/3/2016 (Info 817). O STF entendia que esses atos caracterizavam atos administrativos, possuindo efeitos concretos, contudo, houver uma mudança de entendimento. Cabe ADI contra Resolução do CNMP. A Resolução do CNMP consiste em ato normativo de caráter geral e abstrato, editado pelo Conselho no exercício de sua competência constitucional, razão pela qual constitui ato NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 97 normativo primário, sujeito a controle de constitucionalidade, por ação direta, no Supremo Tribunal Federal. STF. Plenário. ADI 4263/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 25/4/2018 (Info 899). O que acontece caso o ato normativo que estava sendo impugnado na ADI seja revogado antes do julgamento da ação? Regra: haverá perda superveniente do objeto e a ADI não deverá ser conhecida (STF ADI 1203). Exceções: fraude processual, a norma foi revogada para evitar que o STF a declarasse inconstitucional e anulasse os efeitos por ela produzidos; quando o conteúdo da norma foi repetido em outro diploma normativo, não houve desatualização significativa; quando o STF não foi comunicado previamente e já julgou o mérito; em caso de lei temporária, a ação foi incluída em pauta e seu julgamento foi iniciado antes do exaurimento da eficácia. O que acontece se a lei impugnada por meio de ADI é alterada antes do julgamento da ação? Neste caso, o autor da ADI deverá aditar a petição inicial demonstrando que a nova redação do dispositivo impugnado apresenta o mesmo vício de inconstitucionalidade que existia na redação original. A revogação, ou substancial alteração, do complexo normativo impõe ao autor o ônus de apresentar eventual pedido de aditamento, caso considere subsistir a inconstitucionalidade na norma que promoveu a alteração ou revogação. Se o autor não fizer isso, o STF não irá conhecer da ADI, julgando prejudicado o pedido em razão da perda superveniente do objeto. STF. Plenário. ADI 1931/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 7/2/2018 (Info 890). Na ADIN, aplica-se o princípio da adstrição ao pedido, devendo o STF se ater ao pedido feito pelo legitimado ativo. Exceção: No entanto, se houver dependência, poderá haver inconstitucionalidade por arrastamento. O STF, ao julgar as ações de controle abstrato de constitucionalidade, não está vinculado aos fundamentos jurídicos invocados pelo autor. Assim, pode-se dizer que na ADI, ADC e ADPF, a causa de pedir (causa petendi) é aberta. Isso significa que todo e qualquer dispositivo da Constituição Federal ou do restante do bloco de constitucionalidade poderá ser utilizado pelo STF como fundamento jurídico para declarar uma lei ou ato normativo inconstitucional. STF. Plenário. ADI 3796/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 8/3/2017 (Info 856). Não é admitido o aditamento à inicial da ação direta de inconstitucionalidade após o recebimento das informações dos requeridos e das manifestações do Advogado-Geral da União e do Procurador-Geral da República. STF. Plenário. ADI 4541/BA, Rel. Min. Cármen Lúcia,julgado em 16/4/2021 (Info 1013). O aditamento à petição inicial da ação direta de inconstitucionalidade para que sejam incluídos novos dispositivos legais somente é possível nas hipóteses em que a inclusão da nova impugnação: a) dispense a requisição de novas informações e manifestações; e b) não prejudique o cerne da ação. A produção de efeitos repristinatórios e a impugnação de toda cadeia normativa após a CF/88 na declaração de inconstitucionalidade em abstrato de normas legais. A declaração de inconstitucionalidade em abstrato de normas legais, diante do efeito repristinatório que lhe é inerente, importa a restauração dos preceitos normativos revogados pela Lei declarada inconstitucional, de modo que o autor deve impugnar toda a cadeia normativa pertinente. Em outras palavras, o STF exige a impugnação da íntegra da cadeia normativa incompatível com a Constituição, para que a decisão atinja as leis que “exteriorizem os mesmos vícios de inconstitucionalidade que inquinam a legislação revogadora”. Por outro lado, o STF exige apenas a NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 98 impugnação da cadeia de normas revogadoras e revogadas até o advento da Constituição de 1988, porquanto o controle abstrato de constitucionalidade abrange tão somente o direito pós-constitucional. Nada obstante, admitiu-se o cabimento de ação direta de inconstitucionalidade nos casos em que o autor, por precaução, incluiu, em seu pedido, também a declaração de revogação de normas anteriores à vigência do novo parâmetro constitucional. STF. Plenário. ADI 4711/RS, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 28/09/2021. É possível que seja celebrado um acordo no bojo de uma arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF)? SIM. É possível a celebração de acordo num processo de índole objetiva, como a ADPF, desde que fique demonstrado que há no feito um conflito intersubjetivo subjacente (implícito), que comporta solução por meio de autocomposição. Vale ressaltar que, na homologação deste acordo, o STF não irá chancelar ou legitimar nenhuma das teses jurídicas defendidas pelas partes no processo. O STF irá apenas homologar as disposições patrimoniais que forem combinadas e que estiverem dentro do âmbito da disponibilidade das partes. A homologação estará apenas resolvendo um incidente processual, com vistas a conferir maior efetividade à prestação jurisdicional. STF. Plenário. ADPF 165/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 1º/3/2018 (Info 892). #GOLDENTIP4: A arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) é instrumento eficaz de controle da inconstitucionalidade por omissão. A ADPF pode ter por objeto as omissões do poder público, quer totais ou parciais, normativas ou não normativas, nas mesmas circunstâncias em que ela é cabível contra os atos em geral do poder público, desde que essas omissões se afigurem lesivas a preceito fundamental, a ponto de obstar a efetividade de norma constitucional que o consagra. STF. Plenário. ADPF 272/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 25/3/2021 (Info 1011). Controle de constitucionalidade estadual: É um processo no controle concentrado no TJ com finalidade objetiva e no qual se discute de maneira abstrata ou em tese a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo estadual ou municipal utilizando como paradigma a constituição do Estado. O objeto na ADI Estadual é lei ou ato normativo estadual ou municipal. E o parâmetro é a Constituição Estadual. #FOCANATABELA: CONTROLE NORMATIVO ABSTRATO NOS ESTADOS COMPETÊNCIA Tribunal de Justiça. LEGITIMIDADE ATIVA Estabelecida pelas constituições estaduais, sendo vedada a atribuição a um único órgão. 4 As #GOLDENTIPs são inseridas pelo nosso setor de revisão. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 99 PARÂMETRO Normas da constituição estadual. OBJETO Leis e atos normativos estaduais e municipais. EFEITOS DA DECISÃO Erga omnes e, em regra, ex tunc. RE Se a norma da CE for se reprodução obrigatória da CF, caberá RE ao STF. Nesse caso, esse RE produzirá os mesmos efeitos de uma ADI (vinculante, ERGA OMNES...) #DEOLHONAJURIS: Não cabe ADI no TJ contra lei ou ato normativo municipal que viole a Lei Orgânica do Município. Ao analisar dispositivos da Constituição do Estado de Pernambuco, o STF chegou a duas importantes conclusões: I – Não cabe controle concentrado de constitucionalidade de leis ou ato normativos municipais contra a Lei Orgânica respectiva. Em outras palavras, a Lei Orgânica do Município não é parâmetro de controle abstrato de constitucionalidade estadual, uma vez que a Constituição Federal, no art. 125, § 2º, estabelece como parâmetro apenas a Constituição Estadual. STF. Plenário. ADI 5548/PE, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 16/8/2021 (Info 1025). #APROFUNDANDO: É possível que uma lei ou ato normativo municipal seja impugnado por meio de ADI proposta no Tribunal de Justiça? SIM. A CF/88 autorizou essa possibilidade, determinando que o tema seja tratado nas Constituições estaduais. Parâmetro (ou norma de referência) Em controle de constitucionalidade, quando falamos em “parâmetro”, queremos dizer quais serão as normas da Constituição que serão analisadas para sabermos se a lei ou o ato normativo atacado realmente as violou. Em outras palavras, “parâmetro” são as normas que servirão como referência para que o Tribunal analise se determinada lei é ou não inconstitucional. Se a lei está em confronto com o parâmetro, ela é inconstitucional. Quando é proposta uma ADI no STF contra lei federal ou estadual, qual é o parâmetro que será analisado pelo STF? A Constituição Federal. Isso inclui: normas originárias, emendas constitucionais, normas do ADCT e tratados internacionais de direitos humanos aprovados por 3/5 dos membros de cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos de votação. Assim, quando o autor propõe uma ADI no STF contra determinada lei, ele está dizendo que esta lei viola a CF/88 (parâmetro). É possível que uma lei ou ato normativo municipal seja impugnado por meio de ADI proposta no Tribunal de Justiça? SIM. O art. 125, § 2º da CF/88 autorizou essa possibilidade, determinando que o tema seja tratado nas Constituições estaduais. Quando é proposta uma ADI no Tribunal de Justiça contra lei municipal, qual é o parâmetro que será analisado pelo Tribunal? A Constituição Estadual. Isso está expressamente previsto no § 2º do art. 125 da CF/88: “§ 2º - Cabe aos Estados a instituição de representação de inconstitucionalidade de leis ou atos NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 100 normativos estaduais ou municipais em face da Constituição Estadual (...)”. Assim, em regra, quando o Tribunal de Justiça julga uma ADI proposta contra lei ou ato normativo estadual ou municipal, ele deverá analisar se esta lei ou ato normativo viola ou não algum dispositivo da Constituição Estadual. Qual foi o “problema” da previsão contida no art. 61, I, “l”, da CE/PE, objeto do presente caso? Esse dispositivo afirmou que caberia ADI no TJ contra lei/ato normativo municipal que violasse a Lei Orgânica do Município. Ocorre que o § 2º do art. 125 da CF/88 não autorizou essa possibilidade de parâmetro. O § 2º do art. 125 da CF/88 afirmou que somente cabe ADI no TJ se o parâmetro for a Constituição Estadual, ou seja, se a lei ou ato normativo violar a Constituição Estadual. • ADI alegando que a lei ou ato normativo viola a CE: é possível (o art. 125, § 2º da CF/88 autorizou). • ADI alegando que a lei ou ato normativo viola a LO: não é possível (o art. 125, § 2º da CF/88 foi silente e, portanto, entende-se que não autorizou). Assim, o STF entende que o controle concentrado de lei municipal contra a Lei Orgânica do mesmo Município não deve ser admitido por ausência de previsão constitucional: (...) 2. Controle concentradode constitucionalidade de lei municipal em face da Lei Orgânica do Município. Inexistência de previsão constitucional. (...) (RE 175.087/SP, Rel. Min. Néri da Silveira). Se uma lei ou ato normativo municipal viola a Lei Orgânica Municipal, “não estaremos diante de controle de constitucionalidade, mas de simples controle de legalidade, cujas regras deverão ser explicitamente previstas na Lei Orgânica de cada Município.” (LENZA, Pedro. Direito Constitucional esquematizado. 25ª ed., São Paulo: Saraiva, 2021, p. 525). E se fosse a Lei Orgânica do Distrito Federal? Cabe ADI no TJDFT contra lei ou ato normativo distrital que viola a Lei Orgânica do Distrito Federal? SIM. Isso porque prevalece que a Lei Orgânica do Distrito Federal possui a mesma natureza jurídica de uma Constituição Estadual. Nesse sentido, confira o que afirmou o Min. Ricardo Lewandowski no voto condutor proferido no RE 577.025: “(...) muito embora não tenha o constituinte incluído o Distrito Federal no art. 125, § 2º, que atribui competência aos Tribunais de Justiça dos Estados para instituir a representação de inconstitucionalidade em face das constituições estaduais, a Lei Orgânica do Distrito Federal apresenta, no dizer da doutrina, a natureza de verdadeira Constituição local, ante a autonomia política, administrativa e financeira que a Carta confere a tal ente federado. (...)” STF. Plenário. RE 577.025, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 11/12/2008. Em seu art. 63, § 3º, a CE/PE afirmou que, se o Tribunal de Justiça, no julgamento de uma ADI (controle concentrado de constitucionalidade), declarar a inconstitucionalidade de lei, ele deverá comunicar essa decisão à Assembleia Legislativa (se for lei estadual) ou à Câmara de Vereadores (se for lei municipal) a fim de que o respectivo órgão legislativo suspenda a eficácia da lei. O STF, contudo, afirmou que o art. 63, § 3º da CE/PE é inconstitucional justamente por violar o art. 52, X, da CF/88. O art. 52, X, da CF/88 é uma regra que somente vale para o controle difuso de constitucionalidade. Este dispositivo da Carta Magna não tem cabimento quando a decisão decorrer de julgamento de controle concentrado de constitucionalidade, como na ADI. As decisões tomadas em controle concentrado já são dotadas de eficácia erga omnes por força do art. 102, § 2º da CF/88. Desse modo, a atuação do Poder Legislativo só se justifica no âmbito do controle difuso — de modo a expandir a todos os efeitos de decisão dotada originalmente com eficácia “entre as partes”. A Constituição Estadual não NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 101 poderia ter disciplinado o tema de maneira diversa, submetendo às Casas Legislativas estaduais ou municipais a atribuição de suspender a eficácia de lei já declarada inconstitucional pelo Tribunal de Justiça local no julgamento de ADI. Não compete ao Poder Legislativo, de qualquer das esferas federativas, suspender a eficácia de lei ou ato normativo declarado inconstitucional em controle concentrado de constitucionalidade. STF. Plenário. ADI 5548/PE, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 16/8/2021 (Info 1025). #DEOLHONAJURIS: É constitucional o dispositivo de constituição estadual que confere ao tribunal de justiça local a prerrogativa de processar e julgar ação direta de inconstitucionalidade contra leis e atos normativos municipais tendo como parâmetro a Constituição Federal, desde que se trate de normas de reprodução obrigatória pelos estados. Admite-se o controle abstrato de constitucionalidade, pelo Tribunal de Justiça, de leis e atos normativos estaduais e municipais em face da Constituição da República, apenas quando o parâmetro de controle invocado for norma de reprodução obrigatória ou exista, no âmbito da Constituição estadual, regra de caráter remissivo à Carta federal. STF. Plenário. ADI5647/AP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 3/11/2021 (Info 1036). Tribunais de Justiça podem exercer controle abstrato de constitucionalidade de leis municipais utilizando como parâmetro normas da Constituição Federal, desde que se trate de normas de reprodução obrigatória pelos estados. STF. Plenário. RE 650898/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 1º/2/2017 (repercussão geral) (Info 852). Resumindo: Em regra, quando os Tribunais de Justiça exercem controle abstrato de constitucionalidade de leis municipais deverão examinar a validade dessas leis à luz da Constituição Estadual. Exceção: os Tribunais de Justiça podem exercer controle abstrato de constitucionalidade de leis municipais utilizando como parâmetro normas da Constituição Federal, desde que se trate de normas de reprodução obrigatória pelos Estados. Nesse caso, o TJ poderá de ofício reconhecer a inconstitucionalidade do parâmetro invocado, cabendo um Recurso Extraordinário para o STF. #APROFUNDANDO: Simultaneidade entre ADI federal e ADI estadual: Caso o processo perante o Tribunal de Justiça esteja em curso quando uma ADI é ajuizada no STF, o processo em âmbito estadual será suspenso até a decisão final do STF. Sabe que havendo simultaneidade e sendo o parâmetro norma de reprodução obrigatória, cabe ao TJ suspender o processo, se assim não o fizer cabe RE ao STF, por violação a CF. Coexistência de duas ADIs: Coexistindo duas ações diretas de inconstitucionalidade, uma ajuizada perante o tribunal de justiça local e outra perante o STF, o julgamento da primeira – estadual – somente prejudica o da segunda – do STF – se preenchidas duas condições cumulativas: 1) se a decisão do Tribunal de Justiça for pela procedência da ação e 2) se a inconstitucionalidade for por incompatibilidade com preceito da Constituição do NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 102 Estado sem correspondência na Constituição Federal. Caso o parâmetro do controle de constitucionalidade tenha correspondência na Constituição Federal, subsiste a jurisdição do STF para o controle abstrato de constitucionalidade. STF. Plenário. ADI 3659/AM, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 13/12/2018 (Info 927). Se ocorrer da decisão ser julgada primeiro no âmbito estadual e transitar em julgado, não perde o objeto a ação no STF, simultaneamente proposta. Na verdade, deveria ter havido a suspensão, mas não havendo, e ocorrendo as duas condições acima expostas, o STF analisará a questão, pois a última palavra sobre interpretação da CF/88 pertence ao STF. Logo, seria inadmissível negar ao STF a possibilidade de examinar o tema. Caso contrário, seria possível que um tribunal de justiça, por não suspender o trâmite de representação de inconstitucionalidade, desse interpretação à norma de repetição obrigatória que valeria apenas para o respectivo estado-membro. Isso porque o STF poderia conferir interpretação diversa à norma de repetição obrigatória para os demais entes da Federação. ORGANIZAÇÃO DO ESTADO Formas de governo: Para Aristóteles Para Maquiavel Segundo ARISTÓTELES, as formas de governo dividiam-se entre normais e anormais. A) Normais: aquelas cujo objetivo era o bem da comunidade. Subdividiam-se em: A.1) Monarquia: o governo de uma só pessoa; A.2) Aristocracia : o governo de uma classe restrita; e A.3) Democracia: o governo de todos os cidadãos. B) Anormais: aquelas que visavam somente a vantagens para os governantes, a saber: B.1) Tirania: forma corrompida de monarquia. B.2) Oligarquia : forma corrompida de aristocracia. Governo em que o poder fica concentrado em mãos de uma classe aristocrática ou de alguma família ou, ainda, de um pequeno grupo de pessoas pertencente ao mesmo partido; regime político em que o grupo do governante busca, arbitrariamente, a consecução de seus próprios interesses, agindo em seu benefício (cf. MARIA A) Governo da minoria: dividido em: A.1) Monarquia: forma de governo que se caracteriza pela presençados seguintes fatores: (i) a vitaliciedade do governante; (ii) a hereditariedade como mecanismo de sucessão governamental; (iii) a irresponsabilidade do monarca pelos atos que praticar; e (iv) para alguns autores, a ausência de representatividade popular. Subdivide-se em: A.1.1) Monarquia absoluta: em que os poderes reais são ilimitados; A.1.2) Monarquia de estamentos (ou monarquia de braços): na qual o poder é descentralizado e delegado; e A.1.3) Monarquia constitucional: aquela em que o monarca só exerce funções limitadas, geralmente restritas ao âmbito do Poder Executivo. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 103 HELENA DINIZ, 2998, p. 436). B.3) Demagogia : forma corrompida de democracia. A.2) Ditadura: governo desenvolvido por governante que reúne em si amplos poderes públicos, exercendo arbitrária e absolutamente o Executivo e o Legislativo e, excepcionalmente, também o Judiciário (MARIA HELENA DINIZ). B) Governo da maioria, com uma só espécie: B.1) República: caracterizada pela exigência de renovação do governo por meio de eleições periódicas: o governo deve ser temporário e eletivo. Um governo republicano está baseado nas seguintes premissas: (i) a temporariedade: o governo deve ser exercido por tempo determinado, ainda que admissível a renovação do prazo; (ii) a eletividade: a sucessão governamental exige eleições periódicas, afastada a sucessão por simples vínculos hereditários; (iii) a responsabilidade dos agentes públicos: devem responder por seus atos tanto os governantes quanto de todos os demais agentes públicos: legisladores, magistrados e administradores; e (iv) a representatividade popular: o exercício da função pública e os poderes a ele inerentes têm base na soberania popular. São espécies republicanas: B.i.1) República aristocrática: o governo é exercido por alguma classe privilegiada, geralmente a nobreza; e B.1.2) República democrática: considera o povo como titular do poder estatal. Sistemas de governo: 1) Presidencialista: criação da Constituição norte-americana. Principais Características: Típico de Repúblicas NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 104 Presidente da República exerce as funções de Chefe de Estado e de Governo Investidura e mandato do Presidente não dependem da vontade do Legislativo. 2) Parlamentarista: nasceu na Inglaterra. Principais Características: típico das monarquias constitucionais, embora tenha sido estendido às Repúblicas europeias; o Poder Executivo é dividido entre a chefia do Estado (exercida pelo monarca ou pelo Presidente) e a chefia do Governo (de atribuição do Primeiro-Ministro); o Chefe do Estado nomeia ou indica o Primeiro-Ministro; o Primeiro-Ministro é quem nomeia ou indica os demais Ministros; 3) Diretorial ou Convencional: Implementado na antiga União Soviética. Principais Características: Órgãos voltados para administração são todos subalternos à Assembleia. Um dos membros da Assembleia é intitulado Presidente da República, mas suas funções são meramente cerimoniais. As Funções executivas e legislativas concentram-se em uma só entidade. Formas de Estado: O critério é distribuição espacial do poder político, ou seja, o que diferencia é a maneira com a Constituição distribui o poder no Estado No Estado Unitário, temos um centro de poder, ou seja, apenas um poder para toda população, havendo apenas descentralização administrativa na divisão de atividades No Estado Regional, trata-se de um Estado com divisões de poderes entre as Regiões. Contudo, tais regiões não possuem auto-organização, e nem são capazes de influenciar na decisão do poder central, vez que são destituídas de representação no Poder Legislativo Central. O Estado federal, possui uma divisão constitucional de poder, vista como cláusula fundamental. O Estado Brasileiro é um Estado Federal, pois há divisão de competência entre os Estados, visto como cláusula pétrea, além dos Estados membros possuírem representação e poder de participação no Poder Legislativo Central, por meio do Senado, bem como tem capacidade de auto-organização através das CE, nos limites estabelecidos na CF. #OLHAOGANCHO: NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 105 Características essenciais de um Estado Federal: DESCENTRALIZAÇÃO POLÍTICO ADMINISTRATIVA ESTABELECIDA PELA CONSTITUIÇÃO - Estado unitário quando há esta descentralização é feita pelo próprio ente∕poder central. PARTICIPAÇÃO DAS VONTADES PARCIAIS NA FORMAÇÃO DA VONTADE NACIONAL (PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO): em um estado federal os entes que compõe a federação participam da formação da vontade nacional através do Senado. AUTO-ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS MEMBROS POR MEIO DE CONSTITUIÇÕES PRÓPRIAS. Estado confederado: não é forma de estado propriamente dita, melhor sendo designada como junção de estados dotados de soberania. Tipos de federalismo: Quanto ao surgimento (origem): Esta classificação baseia-se com o tipo de movimento responsável pelo surgimento da Federação. Por agregação: Surge quando estados soberanos sedem uma parcela da sua soberania para formar um ente único. Chamado de Federalismo por Associação, ou por Aglutinação ou por Estado Perfeito. Aqui o poder é deslocado da periferia para o centro (movimento centrípeto). Ex: Estados Unidos. Por segregação ou desagregação: Surge com a descentralização política de um Estado Unitário, ou seja, neste caso o movimento é inverso (movimento centrífugo), aqui existe um Estado unitário e nele o poder está concentrado no centro, este poder será dividido entre os Estados Membros. Contudo, parcela maior desse poder continua no Estado Central, que restringe a autonomia dos estados membros. Ex: Brasil Quanto à repartição de competências: O critério utilizado é a forma de distribuição de competências entre os entes federativos. Federalismo dual ou dualista: Caracteriza-se por uma repartição horizontal de competências entre a União e os Estados Membros. A relação entre a União e Estados é de coordenação, eles se encontram no mesmo plano∕ patamar. A divisão é feita de maneira rígida, não há interferência de ente com o outro. Federalismo de integração: Caracteriza-se pela repartição vertical de competências nas quais há uma relação de sujeição dos Estados em relação à União. Federalismo cooperativo: Caracteriza-se por possuir tanto uma repartição horizontal quanto uma repartição vertical de competências, sendo estas tuteladas pela União. Não há hierarquia entre as Leis federais e estaduais. Ex: CF brasileira de 1988. No Brasil, há uma descentralização especial, denominada de TRÍPLICE ou de MODELO TRICOTÔMICO: União, Estados, DF e Municípios. Quanto a homogeneidade da distribuição de competências: O critério adotado para classificar o Federalismo em Simétrico ou Assimétrico é a simetria na distribuição de competências entre Entes federativos de mesmo grau. Federalismo simétrico ou homogêneo: Caracteriza-se pelo equilíbrio na distribuição de competências entre entes federativos de mesmo grau. Ex. EUA. Federalismo assimétrico ou heterogêneo: A assimetria fática decorrente de aspectos sócios econômicos ou culturais requer uma adaptação do sistema federativo a realidade subjacente ao ordenamento jurídico. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 106 Segundo Marcelo Novelino, o Brasil adota um federalismo simétrico, na medida em que atribuiu o mesmo regime jurídico aos entes federativos de mesmo grau dentro de sua esfera de atuação. Nesse sentido, os Estados-membros foram adotados das mesmas competências, assim como ocorreu em relação aos Municípios (CF, art. 30), mas consagra também algumas regras assimétricas em dispositivos que reconhecem as diferenças e buscam o equilíbrio ou a diminuição das desigualdades regionais, como, porexemplo, o art. 3º, III, CF; art. 43, CF. Quanto as características dominantes: O critério adotado nessa classificação é a simetria entre o modelo adotado pela Constituição e o modelo Federal Clássico. (Perspectiva externa). Federalismo simétrico ou homogêneo: É o federalismo típico. Pressupõe a adoção de um modelo tradicional com as características dominantes de uma federação clássica. Características de uma federação clássica - o Poder judiciário com órgãos nacionais e estaduais; o poder constituinte originário e o poder constituinte decorrente; a organização bicameral do Poder Legislativo. Federalismo assimétrico ou heterógeno: É o federalismo atípico. É aquele em que há um rompimento com as linhas tradicionais do federalismo simétrico. Brasil, Município como ente federado. Repartição de competências: Competência legislativa concorrente ou condomínio legislativo (art. 24. CF): União, Estados e DF. Art.24 § 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. § 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados. § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. § 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário. Os municípios participam da competência concorrente? Sim, embora não conste no art. 24 da Constituição essa competência, verifica-se que os municípios têm competência suplementar, à luz do art. 30, II, da CR/88. Assim sendo, eles poderão suplementar a legislação estadual e federal. Com base uma interpretação sistemática da Constituição. #DEOLHONAJURIS: É inconstitucional norma que prevê a concentração excessiva do poder decisório nas mãos de só um dos entes públicos integrantes de região metropolitana. Nesse mesmo contexto, é inadmissível que a gestão e a percepção dos frutos da empreitada metropolitana comum, incluídos os valores referentes a eventual concessão à iniciativa privada, aproveitem a apenas um dos entes federados. Com base nesse entendimento, o STF declarou inconstitucionais normas que concentravam no Estado de Alagoas o poder decisório nas instâncias deliberativas e executivas da Região Metropolitana de Maceió, resultando na violação da autonomia dos municípios envolvidos. O STF, no entanto, modulou os efeitos da decisão para que passe a valer em 24 meses, período em que o legislativo estadual deverá reapreciar o desenho institucional da região metropolitana. STF. Plenário. ADI 6573/AL, ADI 6911/AL e ADPF 863/AL, Rel. Min. Edson Fachin, julgados em 13/5/2022 (Info 1055). NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 107 O Estado que edita lei concedendo meia-entrada para os professores das redes públicas estadual e municipais de ensino atua no exercício da competência suplementar prevista no art. 24, § 2º, da Constituição Federal. Ao não incluir no benefício da meia-entrada os professores pertencentes à rede privada e aqueles vinculados às unidades federais de ensino, a legislação atacada não atuou de forma anti-isonômica. Os professores da rede privada estão sob influência de outros mecanismos de incentivo e os professores da rede pública federal estão dedicados quase exclusivamente ao ensino superior e à educação profissional e tecnológica. STF. Plenário. ADI 3753/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 8/4/2022 (Info 1050). A União possui competência para explorar os serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional (art. 21, XII, “e”, da CF/88). Logo, compete à União privativamente legislar sobre o transporte rodoviário interestadual e internacional. O transporte coletivo intramunicipal é de competência do Município (art. 30, V, da CF/88). Logo, como consequência, compete aos Municípios legislar sobre o transporte coletivo intramunicipal. A Constituição Federal não trouxe uma regra expressa dizendo de quem seria a competência para explorar os serviços de transporte intermunicipal. Diante disso, a competência será dos Estados- membros, que possuem competência residual, na forma do art. 25, § 1º, da CF/88. O prazo de validade pode influenciar na política tarifária e, por consequência, impactar o equilíbrio econômico-financeiro do contrato celebrado em âmbito estadual. O prazo de validade do bilhete, mais elastecido ou não, corresponde a um benefício que, por sua natureza, tem um custo. Logo, incumbe aos Estados-membros, como titulares da exploração do transporte rodoviário intermunicipal, a definição da respectiva política tarifária, à luz dos elementos que possam influenciá-la, como o prazo de validade do bilhete, nos termos do art. 175 da Constituição. A União, ao dispor acerca do prazo de validade dos bilhetes de transporte coletivo rodoviário intermunicipal, imiscuiu-se na competência constitucional residual do Estado-membro. STF. Plenário. ADI 4289/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 8/4/2022 (Info 1050). Lei estadual 16.576/2015, de Santa Catarina, previa “a obrigatoriedade diária de divulgação de fotos de crianças desaparecidas nos noticiários de TV e jornais sediados” no Estado. Essa lei é inconstitucional sob os pontos de vista formal e material. A lei estadual invadiu a competência privativa da União para legislar sobre radiodifusão de sons e imagens (art. 22, IV, da CF/88). No que tange ao aspecto material, a lei estadual viola o princípio da livre iniciativa e a liberdade de informação jornalística dos veículos de comunicação social (art. 220 da CF/88). Além disso, disciplina o tema de forma diferente daquilo que prevê a Lei federal nº 12.127/2009, que criou o Cadastro Nacional de Crianças e Adolescentes Desaparecidos. STF. Plenário. ADI 5292/SC, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 25/3/2022 (Info 1048). 1) Lei estadual não pode exigir que o consumidor, antes de ser inserido no cadastro restritivo, seja comunicado por meio de AR. A adoção de sistema de comunicação prévia a consumidor inadimplente por carta registrada com aviso de recebimento configura desrespeito à Constituição Federal. 2) Lei estadual não pode exigir que seja dado ao consumidor um prazo de tolerância antes da sua inserção no cadastro restritivo. É inconstitucional a previsão, por lei estadual, de “prazo de tolerância” a impedir que o nome do consumidor inadimplente seja imediatamente inscrito em cadastro ou banco de dados. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 108 3) As empresas administradoras de bancos de dados e cadastros de consumidores não se qualificam como entidades certificadoras da certeza, liquidez e exigibilidade dos títulos de dívidas. A supressão da verificação prévia quanto à existência do crédito, exigibilidade do título e inadimplência do devedor não caracteriza violação do princípio da vedação ao retrocesso. STF. Plenário. ADI 5224/SP, ADI 5252/SP, ADI 5273/SP e ADI 5978/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 8/3/2022 (Info 1046). A concessão de porte de arma a procuradores estaduais, por lei estadual, é incompatível com a Constituição Federal. STF. Plenário. ADI 6985/AL, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 25/2/2022 (Info 1045). É inconstitucional lei estadual que vede a inscrição em cadastro de proteção ao crédito de usuário inadimplente dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário. STF. Plenário. ADI 6668/MG, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/2/2022 (Info 1043). É inconstitucional lei estadual que impõe aos prestadores privados de serviços de ensino a obrigação de estender o benefício de novas promoções aos clientes preexistentes. Lei fluminense dizia que os serviços privados de educação prestados de forma contínua no Estado do Rio de Janeiro seriam obrigados a conceder, a seus clientes preexistentes, os mesmos benefícios de promoções posteriormenterealizadas. O STF declarou a inconstitucionalidade dessa previsão. A norma estadual, ao impor aos prestadores de serviços de ensino a obrigação de estender o benefício de novas promoções aos clientes preexistentes, promove ingerência indevida em relações contratuais estabelecidas, sem que exista conduta abusiva por parte do prestador. Logo, afronta o art. 22, I, da CF/88. STF. Plenário. ADI 6614/RJ, Rel. Min. Rosa Weber, redator do acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 12/11/2021 (Info 1037) É constitucional lei estadual que autoriza a comercialização de bebidas alcoólicas em eventos esportivos. Não invade a competência da União para o estabelecimento de normas gerais sobre consumo e desporto a autorização e regulamentação, por Estado-membro, da venda e do consumo de bebidas alcoólicas em eventos esportivos. STF. Plenário. ADI 5112/BA, Rel. Min Edson Fachin, julgado em 16/8/2021 (Info 1025) Norma estadual pode proibir a caça em seu território. Não afronta a competência legislativa da União o dispositivo de constituição estadual que proíbe a caça em seu respectivo território. STF. Plenário. ADI 350/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 18/6/2021 (Info 1022) É inconstitucional lei estadual que estabeleça prazo máximo para que os planos de saúde autorizem solicitações de exames e procedimentos cirúrgicos. É inconstitucional lei estadual que estabeleça prazo máximo de 24 horas para as empresas de plano de saúde regionais autorizarem ou não solicitações de exames e procedimentos cirúrgicos em seus usuários que tenham mais de 60 anos. Essa lei é inconstitucional por usurpar competência privativa da União para legislar sobre Direito Civil e política de seguros (art. 22, I e VII, da CF/88). STF. Plenário. ADI 6452/ES, Rel. Min. Edson Fachin, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/6/2021 (Info 1021) Cuidado para não confundir: É constitucional lei estadual que obrigue os planos de saúde a fornecerem aos consumidores informações e documentos justificando as razões pelas quais houve recusa de algum NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 109 procedimento, tratamento ou internação. STF. Plenário. ADI 4512/MS, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 7/2/2018 (Info 890). É inconstitucional lei estadual que obriga planos de saúde a atenderem os clientes com Covid-19 mesmo que eles estejam no período de carência contratual. É inconstitucional legislação estadual que impeça as operadoras de planos de saúde de recusarem o atendimento ou a prestação de alguns serviços, no âmbito de seu território, aos usuários diagnosticados ou suspeitos de estarem com Covid-19, em razão de período de carência contratual vigente. Essa norma é inconstitucional por usurpar competência privativa da União para legislar sobre Direito Civil, Comercial e política de seguros (art. 22, I e VII, da CF/88). STF. Plenário. ADI 6493/PB, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/6/2021 (Info 1021). É inconstitucional norma de Constituição Estadual que veda aos municípios a possibilidade de alterarem destinação, os fins e os objetivos originários de loteamentos definidos como áreas verdes ou institucionais. Os Municípios têm competência para legislar sobre assuntos de interesse local compreendendo o ordenamento territorial, o planejamento urbano e a fiscalização de áreas de uso e ocupação do solo (art. 30, I e VII, da CF/88). STF. Plenário. ADI 6602/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 11/6/2021 (Info 1021). É incompatível com a Constituição Federal ato normativo estadual que amplie as atribuições de fiscalização do Legislativo local e o rol de autoridades submetidas à solicitação de informações. O art. 50, caput e § 2º, da CF/88 traduz norma de observância obrigatória pelos Estado membros que, por imposição do princípio da simetria (art. 25 da CF/88), não podem ampliar o rol de autoridades sujeitas à fiscalização direta pelo Poder Legislativo e à sanção por crime de responsabilidade. STF. Plenário. ADI 5289/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 7/6/2021 (Info 1020) É constitucional lei estadual que proíba a utilização de animais para testes de produtos cosméticos; a lei estadual, contudo, não pode proibir a comercialização de produtos que tenham sido desenvolvidos a partir de testes em animais. É inconstitucional norma estadual que vede a comercialização de produtos desenvolvidos a partir de teste em animais, bem como a que determina que conste no rótulo informação acerca da não realização de testes em animais. STF. Plenário. ADI 5995/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 28/5/2021 (Info 1019) É constitucional lei estadual que proibiu o corte de energia elétrica durante a pandemia da Covid-19. Atendida a razoabilidade, é constitucional legislação estadual que prevê a vedação do corte do fornecimento residencial dos serviços de energia elétrica, em razão do inadimplemento, parcelamento do débito, considerada a crise sanitária. STF. Plenário. ADI 6588/AM, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 28/5/2021 (Info 1019) É inconstitucional lei estadual que reduziu o valor das mensalidades escolares durante a pandemia da Covid- 19. É inconstitucional lei estadual que estabeleça redução das mensalidades no âmbito da rede privada de ensino, enquanto perdurarem as medidas temporárias para o enfrentamento da pandemia da Covid-19. STF. Plenário. ADI 6445/PA, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em 28/5/2021 (Info 1019) NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 110 É inconstitucional lei estadual que autoriza suspensão da cobrança de empréstimos consignados, mesmo que durante a pandemia da covid-19. É inconstitucional norma estadual que autoriza a suspensão, pelo prazo de 120 dias, do cumprimento de obrigações financeiras referentes a empréstimos realizados e empréstimos consignados. Ao interferir nas relações obrigacionais firmadas entre instituições de crédito e os tomadores de empréstimos, a lei adentrou em matéria relacionada com direito civil e com política de crédito, assuntos que são de competência legislativa privativa da União, nos termos do art. 22, I e VII, da CF/88. STF. Plenário. ADI 6495/RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 20/11/2020 (Info 1000). Estados e DF podem legislar sobre postagem de boletos de empresas públicas e privadas. Os Estados-membros e o Distrito Federal têm competência legislativa para estabelecer regras de postagem de boletos referentes a pagamento de serviços prestados por empresas públicas e privadas. STF. Plenário. ARE 649379/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 13/11/2020 (Repercussão Geral – Tema 491) (Info 999) O Município tem competência para legislar sobre meio ambiente e controle da poluição, quando se tratar de interesse local. Ex: é constitucional lei municipal, regulamentada por decreto, que preveja a aplicação de multas para os proprietários de veículos automotores que emitem fumaça acima de padrões considerados aceitáveis. STF. Plenário. RE 194704/MG, rel. orig. Min. Carlos Velloso, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 29/6/2017 (Info 870). Lei estadual que impõe a prestação de serviço de segurança em estacionamento a toda pessoa física ou jurídica que disponibilize local para estacionamento é inconstitucional, quer por violar a competência privativa da União para legislar sobre direito civil, quer por violar a livre iniciativa. Lei estadual que impõe a utilização de empregados próprios na entrada e saída de estacionamento, impedindo a terceirização, viola a competência privativa da União para legislar sobre Direito do Trabalho. STF. Plenário. ADI 451/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 1º/8/2017 (Info 871). S. 645 STF: É competente o Município para fixar o horário de funcionamento de estabelecimento comercial. SV 2: é inconstitucional a lei ou ato normativo estadual oudistrital que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias. Súmula 19 do STJ - A fixação do horário bancário, para atendimento ao público, é da competência da União. SV 49: Ofende o princípio da livre concorrência lei municipal que impede a instalação de estabelecimentos comerciais do mesmo ramo em determinada área. PODER LEGISLATIVO Estatuto dos congressistas: NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 111 Conceito: Trata-se de um conjunto de prerrogativas e vedações aos parlamentares para que o Poder Legislativo e seus membros, individualmente, tenham condições de atuar com independência e liberdade no desempenho de suas funções constitucionais. Essas prerrogativas são de ordem pública, não se admitindo renúncia, já que ligadas ao cargo, e não à pessoa que o ocupa. Os Senadores e os Deputados somente dispõem da prerrogativa processual de serem inquiridos em local, dia e hora previamente ajustados entre eles e a autoridade competente, quando arrolados como testemunhas ou quando ostentarem a condição de ofendidos. Se ele for réu, essa prerrogativa NÃO VALE (apesar de que ele não será conduzido coercitivamente). Imunidades Imunidade Material ou Objetiva ou Freeedom of speech Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos. Natureza jurídica: 1 Corrente: causa de exclusão da ilicitude. 2 Corrente: causa de isenção de pena. CRÍTICA: excludente de ilicitude e isenção de pena não obstam inquérito e ação penal, não se coadunando com a circunstância da imunidade material. 3 Corrente: causa de exclusão de tipicidade. Por ser atípico, impede a instauração de IP e ação penal. A imunidade material exclui a própria natureza delituosa do fato, afastando a tipicidade da conduta, na medida em que a Constituição não pode dizer ao parlamentar que exerça livremente seu mandato, expressando suas opiniões e votos, e, ao mesmo tempo, considerar tais manifestações fatos definidos como crime. (STF e posição majoritária) Essa imunidade é absoluta, permanente. Por causa delas, o deputado nunca será processado, mesmo após o término do mandato. Ofensas feitas DENTRO do Parlamento: a imunidade é absoluta. O parlamentar é imune mesmo que a manifestação não tenha relação direta com o exercício de seu mandato. Ofensas feitas FORA do Parlamento: a imunidade é relativa. Para que o parlamentar seja imune, é necessário que a manifestação feita tenha relação com o exercício do seu mandato. As opiniões ofensivas proferidas por deputados federais e veiculadas por meio da imprensa, em manifestações que não guardam nenhuma relação com o exercício do mandato, não estão abarcadas pela imunidade material prevista no art. 53 da CF/88 e são aptas a gerar dano moral. STJ. 3ª Turma. REsp 1.642.310-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/8/2017 (Info 609). Imunidade formal ou Freedom from arrest: a) Imunidade formal quanto à prisão: NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 112 Art. 53. § 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão. O STF firmou entendimento de que a imunidade formal não proíbe a prisão do Congressista quando determinada por sentença judicial transitada em julgado. Parlamentares não tem imunidade formal quanto à prisão em caso de condenação definitiva. O art. 53. Parágrafo 2, da CF, apenas veda a prisão cautelar b) Imunidade formal quanto ao processo: Art. 53. § 3º Recebida a denúncia contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação. O pedido de sustação feito por partido político deverá ser apreciado no prazo improrrogável de 45 dias, contados do recebimento pela Mesa Diretora. 5º A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto durar o mandato. Não é possível a sustação por crimes ocorridos anteriormente à diplomação, os quais não serão julgados pelo STF, ante a limitação da prerrogativa de foro. Se houver corréu não congressista, havendo a suspensão, o processo continuará correndo contra este, remetendo-se os autos à justiça comum competente. Súmula n.º 245 do STF: “A imunidade parlamentar não se estende ao corréu sem essa prerrogativa.” Foro por prerrogativa de função: Art.53. § 1º Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal. Conceito: Trata-se de uma prerrogativa prevista pela Constituição segundo a qual as pessoas ocupantes de alguns cargos ou funções, somente serão processadas e julgadas criminalmente (não engloba processos cíveis) por determinados Tribunais (TJ, TRF, STJ, STF). Razão de existência: O foro por prerrogativa de função existe porque se entende que, em virtude de determinadas pessoas ocuparem cargos ou funções importantes e de destaque, somente podem ter um julgamento imparcial e livre de pressões se forem julgadas por órgãos colegiados que componham a cúpula do Poder Judiciário. O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas. STF. Plenário. AP 937 QO/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 03/05/2018. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 113 Momento: Se o réu deixou de ocupar o cargo antes de a instrução terminar: cessa a competência do STF e o processo deve ser remetido para a 1ª instância. Se o réu deixou de ocupar o cargo depois de a instrução se encerrar: o STF permanece sendo competente para julgar a ação penal. O Superior Tribunal de Justiça é o tribunal competente para o julgamento nas hipóteses em que, não fosse a prerrogativa de foro (art. 105, I, da CF/88), o desembargador acusado houvesse de responder à ação penal perante juiz de primeiro grau vinculado ao mesmo tribunal. Assim, mesmo que o crime cometido pelo Desembargador não esteja relacionado com as suas funções, ele será julgado pelo STJ se a remessa para a 1ª instância significar que o réu seria julgado por um juiz de primeiro grau vinculado ao mesmo tribunal que o Desembargador. STJ. Corte Especial. QO na APn 878-DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 21/11/2018 (Info 639). O foro especial no âmbito penal é prerrogativa destinada a assegurar a independência e o livre exercício de determinados cargos e funções de especial importância, isto é, não se trata de privilégio pessoal. Ser julgado por juiz com duvidosa condição de se posicionar de forma imparcial, afinal, violaria a pretensão de realização de justiça criminal de forma isonômica e republicana. #DEOLHONAJURIS: A liberdade de expressão não alcança a prática de discursos dolosos(actualmalice), com intuito manifestamente difamatório, de juízos depreciativos de mero valor, de injúrias em razão da forma ou de críticas aviltantes. A garantia da imunidade parlamentar, que deve ser compreendida de forma extensiva para a garantia do adequado desempenho de mandatos parlamentares, não alcança os atos que sejam praticados sem claro nexo de vinculação recíproca do discurso com o desempenho das funções parlamentares (teoria funcional) ou nos casos em que for utilizada para a prática de flagrantes abusos, usos criminosos, fraudulentos ou ardilosos. Caso concreto: em vídeos divulgados no Twitter, Facebook, Instagram e YouTube, o Senador Jorge Kajuru afirma que determinado Senador seria um “pateta bilionário” que “entrou na política por negócio”.Também disse que um ex-Deputado Federal teria feito parte de esquema de jogos de azar e seria “chefe de quadrilha”. Prevaleceu o voto-vista do Ministro Gilmar Mendes no sentido de que as declarações de Kajuru são desvinculadas do mandato parlamentar. Para o Ministro, as manifestações do Senador têm conteúdo injurioso e foram proferidas de forma dolosa e genérica, com intenção de destruir reputações, sem qualquer indicação de prova que pudesse corroborar as acusações. STF. 2ª Turma. Pet 8242, 8259, 8262, 8263, 8267 e 8366 AgR/DF, Rel. Min. Celso de Mello, redator do acórdão Min. Gilmar Mendes, julgados em 3/5/2022 (Info 1053). Os estados-membros, no exercício de suas autonomias, podem adotar o modelo federal previsto no art. 81, § 1º, da Constituição, cuja reprodução, contudo, não é obrigatória. No caso de dupla vacância, faculta-se aos estados-membros, ao Distrito Federal e aos municípios a definição legislativa do procedimento de escolha do mandatário político. No caso de realização de eleição indireta, a previsão normativa estadual de votação nominal e aberta é compatível com a CF/88. Caso concreto: lei da Bahia afirmou que, se o Governador e o Vice-Governador deixarem os cargos nos dois últimos anos do mandato, a Assembleia Legislativa deverá NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 114 realizar uma eleição indireta, de forma nominal e aberta. Para o STF, essa lei é constitucional, sob os pontos de vista formal e material. STF. Plenário. ADI 1057/BA, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 16/8/2021 (Info 1025). A imunidade formal prevista no art. 51, I, e no art. 86, caput, da CF/88 não se estende para os codenunciados que não se encontrem investidos nos cargos de Presidente da República, Vice-Presidente da República e Ministro de Estado. A finalidade dessa imunidade é proteger o exercício regular desses cargos, razão pela qual não é extensível a codenunciados que não se encontrem ocupando tais funções. STF. Plenário. Inq 4483 AgR- segundo/DF e Inq 4327 AgR-segundo/DF, rel. Min. Edson Fachin, julgados em 14 e 19/12/2017 (Info 888). Não há necessidade de prévia autorização da Assembleia Legislativa para que o STJ receba denúncia ou queixa e instaure ação penal contra Governador de Estado, por crime comum. Em outras palavras, não há necessidade de prévia autorização da ALE para que o Governador do Estado seja processado por crime comum. Se a Constituição Estadual exigir autorização da ALE para que o Governador seja processado criminalmente, essa previsão é considerada inconstitucional. Assim, é vedado às unidades federativas instituir normas que condicionem a instauração de ação penal contra Governador por crime comum à previa autorização da Casa Legislativa. Se o STJ receber a denúncia ou queixa-crime contra o Governador, ele ficará automaticamente suspenso de suas funções no Poder Executivo estadual? NÃO. O afastamento do cargo não se dá de forma automática. O STJ, no ato de recebimento da denúncia ou queixa, irá decidir, de forma fundamentada, se há necessidade de o Governador do Estado ser ou não afastado do cargo. Vale ressaltar que, além do afastamento do cargo, o STJ poderá aplicar qualquer uma das medidas cautelares penais (exs: prisão preventiva, proibição de ausentar-se da comarca, fiança, monitoração eletrônica etc.). STF. Plenário. ADI 4777/BA, ADI 4674/RS, ADI 4362/DF, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 9/8/2017 (Info 872). STF. Plenário. ADI 5540/MG, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 3/5/2017 (Info 863). STF. Plenário. ADI 4764/AC, ADI 4797/MT e ADI 4798/PI, Rel. Min. Celso de Mello, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgados em 4/5/2017 (Info 863). Os substitutos eventuais do Presidente da República a que se refere o art. 80 da CF/88, caso ostentem a posição de réus criminais perante o STF, ficarão impossibilitados de exercer o ofício de Presidente da República. No entanto, mesmo sendo réus, podem continuar na chefia do Poder por eles titularizados. Ex: o Presidente do Senado Renan Calheiros tornou-se réu em um processo criminal; logo, ele não poderá assumir a Presidência da República na forma do art. 80 da CF/88; porém, ele pode continuar normalmente como Presidente do Senado, não precisando ser afastado deste cargo. STF. Plenário. ADPF 402 MC-REF/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 7/12/2016 (Info 850). Não é possível aplicar o art. 86, § 4º, da CF/88 para o Presidente da Câmara dos Deputados, considerando que a garantia prevista neste dispositivo é destinada expressamente ao chefe do Poder Executivo da União (Presidente da República). Desse modo, por se tratar de um dispositivo de natureza restritiva, não é possível qualquer interpretação que amplie a sua incidência a outras autoridades, notadamente do Poder Legislativo. STF. Plenário. Inq 3983/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 02 e 03/03/2016 (Info 816). Comissão parlamentar de inquérito: NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 115 São comissões temporária, que representam função típica do PL, além de ser um direito público subjetivo das minorias, para além disso, trata de um processo de investigação comandado pelo Poder Legislativo com o objetivo de averiguar determinadas denúncias de irregularidades no setor público. Elas exercem atuação típica do Poder Legislativo, que é fiscalizar atos conexos ao Poder Público. Objetivo: Ajudar na tarefa legiferante, servir de instrumento de fiscalização do Governo e da Administração Pública e informar a opinião pública. Requisitos: O requisito formal é o requerimento de 1/3 dos membros da Câmara, do Senado, ou de ambas as casas no caso de uma comissão mista. Esse requisito deve ser examinado no momento do protocolo do pedido perante a Mesa da respectiva Casa Legislativa, independentemente de posterior ratificação. O requisito material é a existência de um fato determinado, ou seja, no momento em que é feito requerimento de instauração, é necessário que esteja detalhado e especificado o fato a ser investigado. Isso não impede que fatos conexos, surgidos durante a investigação, sejam investigados, basta que seja feito um aditamento no requerimento da CPI. Esse fato determinado tem que ser obrigatoriamente de interesse público. Entende-se por interesse público, aquele referente a vida pública, a ordem constitucional, legal, econômica e social do país. O requisito temporal exige um prazo certo. A CPI é uma das comissões temporárias, de modo que será extinta com o fim dos trabalhos, do prazo estipulado ou com o término da legislatura. É possível que hajam várias prorrogações do prazo inicialmente estabelecido, porém esse prazo nunca poderá ultrapassar uma legislatura (4 anos). #DEOLHONAJURIS: A instauração de Comissão Parlamentar de Inquérito depende unicamente do preenchimento dos requisitos previstos no art. 58, § 3º, da Constituição Federal, ou seja: a) o requerimento de um terço dos membros das casas legislativa. b) a indicação de fato determinado a ser apurado; e c) a definição de prazo certo para sua duração. STF. Plenário. MS 37760 MC-Ref/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 14/4/2021 (Info 1013). Poderes da CPI: No exercício de suas atribuições, as Comissões Parlamentares de Inquérito poderão: • determinar diligências que reputarem necessárias; • requerer a convocação de Ministros de Estado, Secretários de Estado ou Secretários Municipais (de acordo com a esfera de atuação da CPI); • tomar o depoimento de quaisquer autoridades federais, estaduais ou municipais; • ouvir os investigados; • inquirir testemunhas sob compromisso; • requisitar da administração pública direta, indireta ou fundacional informações e documentos; e • transportar-se aos lugares onde se fizer mister a sua presença (“inspeção”); • efetuar prisões em flagrante em caso de crime praticado na presença dos membros da comissão. CPI podedeterminar a “quebra” de sigilos? • CPI federal, estadual ou distrital (STF ACO 730): SIM. Pode determinar a quebra de sigilos fiscal, bancário e de dados telefônicos. • CPI municipal: prevalece que CPI municipal não pode. Isso porque os Municípios não possuem Poder Judiciário. Logo, não se pode dizer que a NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 116 CPI municipal teria os poderes de investigação próprios das autoridades judiciais. CPI pode determinar interceptação telefônica? NÃO. A interceptação telefônica, ou seja, a determinação para que as conversas telefônicas sejam gravadas, somente pode ser decretada pelo Poder Judiciário (art. 5º, XII, da CF/88). Não confundir: • Quebra do sigilo telefônico: ter acesso à relação dos números para os quais o investigado ligou ou recebeu ligações, as datas das chamadas e a duração das conversas. • Interceptação telefônica: significa gravar as conversas telefônicas. CPI pode decretar a indisponibilidade dos bens do investigado ou outras medidas cautelares como essa? NÃO. Tais medidas cautelares somente podem ser decretadas pelo Poder Judiciário. Vale ressaltar, contudo, que a CPI pode pedir ao Judiciário a concessão dessas medidas. Limitações aos poderes da CPI: A CPI não pode: • decretar o arresto, sequestro ou indisponibilidade de bens dos investigados; • decretar busca domiciliar; • decretar prisões preventivas (vimos acima que é possível a prisão em flagrante); • decretar interceptação telefônica; • investigar atos de conteúdo jurisdicional. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS Teoria dos status de Jellinek: Status passivo: é aquele em que se encontra o indivíduo detentor de deveres perante o Estado. É um estado de subordinação em relação ao Estado. Aqui o indivíduo é meramente detentor de deveres. Status ativo: o indivíduo possui competências para influenciar a formação da vontade estatal. Ex. direitos políticos. Voto. Status negativo: é aquele em que o indivíduo goza de um espaço de liberdade diante das possíveis ingerências. Status positivo: é aquele em que o indivíduo tem o direito de exigir do Estado determinadas prestações positivas. Dimensão subjetiva e objetiva dos direitos fundamentais: A dimensão subjetiva é a perspectiva clássica em que há um sujeito, titular de direitos, que demanda a do Estado a tutela de seu interesse. A dimensão objetiva, por sua vez, desprende-se desse caráter pessoal/individual. A dimensão objetiva cria deveres apriorísticos de proteção dos direitos fundamentais pelo Estado. Há um caráter preventivo. O Estado passa a ter deveres independentemente de um titular que esteja demandando a proteção. Essa atuação preventiva desdobra-se, basicamente, em três vertentes (são as Eficácias da dim. objetiva): a) Eficácia Irradiante; b) Eficácia Vinculante; c) Eficácia Processual. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 117 #OLHAOGANCHO: A eficácia irradiante é o dever do Estado de criar normas para a defesa dos direitos fundamentais. A eficácia vinculante é o papel dos direitos fundamentais como regras demarcadoras e determinantes da atuação do Estado em suas diferentes funções (Executiva, Legislativa e Judicial), pautando a prestação dos serviços públicos. A eficácia processual é a utilização dos direitos fundamentais como canais de debates e decisões políticas da sociedade, ou seja, a possibilidade de os direitos sejam não apenas conteúdo, mas meio possibilitador de debates sociais relevantes. Eficácia dos direitos fundamentais: a) Eficácia vertical: Quando os direitos fundamentais surgiram eles tinham apenas a eficácia vertical, pois o indivíduo está subordinado ao Estado e por esses direitos protegerem os indivíduos contra os arbítrios do Estado, fala-se dessa eficácia vertical. Consiste na aplicação dos direitos fundamentais às relações entre particulares e o Estado. É a eficácia clássica. b) Horizontal/eficácia externa/eficácia privada/eficácia em relação a terceiros – DIRETA OU INDIRETA OU INTEGRADORA. Com o desenvolvimento dos direitos fundamentais, percebeu-se que a opressão e a violência conta o indivíduo vem também de entidades privadas. Consiste na aplicação dos direitos fundamentais às relações entre particulares c) Eficácia diagonal: Bem recente. Consiste na aplicação dos direitos fundamentais à relação entre particulares, nas quais existe um desequilíbrio fático, a exemplo da relação trabalhista. Delimitação do conteúdo essencial dos direitos fundamentais: TEORIA ABSOLUTA: De acordo com a teoria absoluta, o conteúdo essencial é uma parte do conteúdo total do direito fundamental. Seria um núcleo duro do conteúdo total que seria intransponível pelo legislador. Esse conteúdo essencial é absoluto! Não pode ser relativizado. TEORIA RELATIVA: Essa teoria defende a necessidade de justificar as restrições aos direitos fundamentais mediante o recurso ao princípio da proporcionalidade. Não existiria um limite intransponível, a priori. #OLHAOGANCHO: Teoria dos limites dos limites: Os direitos fundamentais foram consagrados com o objeto de limitar a atuação Estatal. Então os direitos fundamentais atuam como limites para a atuação dos poderes estatais, inclusive do NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 118 Legislativo. O legislador, por sua vez, pode elaborar leis que limitam os direitos fundamentais. Isso gera um certo paradoxo. São os limites dos limites. #DEOLHONAJURIS: É constitucional a requisição, sem prévia autorização judicial, de dados bancários e fiscais considerados imprescindíveis pelo Corregedor Nacional de Justiça para apurar infração de sujeito determinado, desde que em processo regularmente instaurado mediante decisão fundamentada e baseada em indícios concretos da prática do ato. O art. 8º, V, do Regimento Interno do CNJ prevê que o Corregedor Nacional de Justiça possui competência para “requisitar das autoridades fiscais, monetárias e de outras autoridades competentes informações, exames, perícias ou documentos, sigilosos ou não, imprescindíveis ao esclarecimento de processos ou procedimentos submetidos à sua apreciação, dando conhecimento ao Plenário”. Essa previsão regimental tem por fundamento a probidade patrimonial dos agentes públicos. A legitimidade para requisição pode ser por decisão singular do Corregedor por conta da função constitucional por ele exercida, de fiscalização da integridade funcional do Poder Judiciário. Contudo, é preciso assegurar a existência de garantias ao contribuinte, de modo que não há espaço para devassa ou varredura, buscas generalizadas e indiscriminadas na vida das pessoas, com o propósito de encontrar alguma irregularidade. STF. Plenário. ADI 4709/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 27/5/2022 (Info 1056). Caso concreto: a imprensa divulgou que o Ministério da Justiça estaria investigando e elaborando dossiês sigilosos contra um grupo de servidores públicos identificados como integrantes do “movimento antifascismo”. Os principais alvos da investigação seriam professores e policiais autointitulados de “antifascistas”. Determinado partido político ajuizou ADPF para que o STF declare que essa investigação viola os preceitos fundamentais da liberdade de expressão, reunião, associação, inviolabilidade de intimidade, vida privada e honra. O STF julgou o pedido procedente e declarou inconstitucionais atos do Ministério da Justiça de produção ou compartilhamento de informações sobre a vida pessoal, as escolhas pessoais e políticas, e as práticas cívicas de cidadãos, servidores públicos federais, estaduais e municipais identificados como integrantes de movimento político, professores universitários e quaisquer outros que, atuando nos limites da legalidade, exerçam seus direitos de livremente expressar-se, reunir-se e associar-se. Os órgãos do Sistema Brasileiro de Inteligência, conquanto necessáriospara a segurança pública, segurança nacional e garantia de cumprimento eficiente dos deveres do Estado, devem operar com estrita vinculação ao interesse público, observância aos valores democráticos e respeito aos direitos e garantias fundamentais. Caracterizam desvio de finalidade e abuso de poder a colheita, a produção e o compartilhamento de dados, informações e conhecimentos específicos para satisfazer interesse privado de órgão ou de agente público. Na hipótese, a utilização da máquina estatal para a colheita de informações de servidores com postura política contrária ao governo caracteriza desvio de finalidade e afronta aos direitos fundamentais da livre manifestação do pensamento, da privacidade, reunião e associação, aos quais deve ser conferida máxima efetividade, pois essenciais ao regime democrático. Ademais, os órgãos de inteligência de qualquer nível hierárquico de qualquer dos Poderes do Estado, embora sujeitos ao controle externo realizado pelo Poder Legislativo, submetem-se também ao crivo do Poder Judiciário, em respeito ao princípio da inafastabilidade da jurisdição. STF. Plenário. ADPF 722/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 13/5/2022 (Info 1054). NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 119 É vedada a utilização, ainda que em caráter excepcional, de recursos vinculados ao Fundeb para ações de combate à pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Ainda que se reconheça a gravidade da pandemia da Covid-19 e os seus impactos na economia e nas finanças públicas, nada justifica o emprego de verba constitucionalmente vinculada à manutenção e desenvolvimento do ensino básico para fins diversos da que ela se destina. STF. Plenário. ADI 6490/PI, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 18/2/2022 (Info 1044). À luz do art. 227 da Constituição Federal, que confere proteção integral da criança com absoluta prioridade e do princípio da paternidade responsável, a licença maternidade, prevista no art. 7º, XVIII, da CF/88 e regulamentada pelo art. 207 da Lei nº 8.112/90, estende-se ao pai genitor monoparental. STF. Plenário. RE 1348854/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 12/5/2022 (Repercussão Geral – Tema 1182) (Info 1054). Regina está acometida de uma doença e precisa de um medicamento, que já foi registrado na ANVISA, mas que não está incorporado aos atos normativos do SUS. Ela quer ajuizar uma ação para que seja fornecido esse medicamento. A União precisa necessariamente figurar no polo passivo da demanda? O STJ decidiu que não: Em ação que pretende o fornecimento de medicamento registrado na ANVISA, ainda que não incorporado em atos normativos do SUS, é prescindível a inclusão da União no polo passivo da demanda. STJ. 2ª Turma. RMS 68602-GO, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 26/04/2022 (Info 734). O problema foi que a 1ª Turma do STF, no mesmo dia, decidiu, aparentemente, em sentido contrário ao que foi explicado: É obrigatória a inclusão da União no polo passivo de demanda na qual se pede o fornecimento gratuito de medicamento registrado na Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas não incorporado aos Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas do Sistema Único de Saúde. Esse entendimento está em consonância com a tese fixada pelo STF nos embargos de declaração do RE 855.178 (Tema 793). STF. 1ª Turma. RE 1286407 AgR-segundo/PR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 26/4/2022 (Info 1052). É vedado ao governo federal a utilização do canal de denúncias “Disque 100” do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos (MMFDH) para recebimento de queixas relacionadas à vacinação contra a Covid-19, bem como para o recebimento de queixas relacionadas a restrições de direitos consideradas legítimas pelo STF. Resumo do caso concreto: o MMFDH produziu uma nota técnica em que se opõe ao passaporte vacinal e à obrigatoriedade de vacinação de crianças contra a Covid. O Ministério da Saúde divulgou em seu site uma nota técnica dedicada unicamente a fornecer argumentos jurídicos para sustentar que a vacinação de crianças não é obrigatória. MMFDH estava disponibilizando canal de denúncia para que a população apresentasse queixas contra a vacinação e restrições da Covid. STF considerou que essas práticas seriam ilegítimas, devendo as notas técnicas serem retificadas para que seja esclarecida a validade da compulsoriedade da vacinação. Além disso, foi proibida a utilização do disque denúncia para a finalidade com a qual estava sendo usada. STF. Plenário. ADPF 754 16ª TPI-Ref/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 18/3/2022 (Info 1047). É vedada a utilização, ainda que em caráter excepcional, de recursos vinculados ao Fundeb para ações de combate à pandemia do novo coronavírus (Covid-19). NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 120 Ainda que se reconheça a gravidade da pandemia da Covid-19 e os seus impactos na economia e nas finanças públicas, nada justifica o emprego de verba constitucionalmente vinculada à manutenção e desenvolvimento do ensino básico para fins diversos da que ela se destina. STF. Plenário. ADI 6490/PI, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 18/2/2022 (Info 1044) A fixação do piso salarial em múltiplos do salário mínimo mostra-se compatível com o texto constitucional, desde que não ocorra vinculação a reajustes futuros. STF. Plenário. ADPF 53 Ref-MC/PI, ADPF 149 Ref-MC/DF e ADPF 171 Ref-MC/MA, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 18/2/2022 (Info 1044) No mesmo sentido é a OJ 71, da SBDI-2 do TST: “A estipulação do salário profissional em múltiplos do salário mínimo não afronta o art. 7º, inciso IV, da Constituição Federal de 1988, só incorrendo em vulneração do referido preceito constitucional a fixação de correção automática do salário pelo reajuste do salário mínimo.” São inconstitucionais as interpretações judiciais que, unicamente fundamentadas na eclosão da pandemia de Covid-19 e no respectivo efeito de transposição de aulas presenciais para ambientes virtuais, determinam às instituições privadas de ensino superior a concessão de descontos lineares nas contraprestações dos contratos educacionais, sem considerar as peculiaridades dos efeitos da crise pandêmica em ambas as partes contratuais envolvidas na lide. Tese fixada pelo STF: É inconstitucional decisão judicial que, sem considerar as circunstâncias fáticas efetivamente demonstradas, deixa de sopesar os reais efeitos da pandemia em ambas as partes contratuais, e determina a concessão de descontos lineares em mensalidades de cursos prestados por instituições de ensino superior. STF. Plenário. ADPF 706/DF e ADPF 713/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 17 e 18/11/2021 (Info 1038). O estrangeiro que desejar regularizar sua situação no Brasil, pode fazê-lo por meio de um procedimento chamado de “regularização migratória”. Exige-se o pagamento de uma taxa. Ocorre que muitos estrangeiros são hipossuficientes e não conseguem pagar o valor exigido. Diante disso, indaga-se: é possível a dispensa do pagamento dessa taxa caso o estrangeiro seja hipossuficiente. SIM. O STF decidiu que o estrangeiro com residência permanente no Brasil, na condição de hipossuficiência está dispensado do pagamento de taxas cobradas para o processo de regularização migratória. Não se mostra condizente com a CF a exigência de taxas em face de sujeito passivo evidentemente hipossuficiente Fundamento: art. 5º, LXXVI e LXXVII, da CF/88 Tese fixada pelo STF: É imune ao pagamento de taxas para registro da regularização migratória o estrangeiro que demonstre sua condição de hipossuficiente, nos termos da legislação de regência. STF. Plenário. RE 1018911/RR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 10/11/2021 (Repercussão Geral – Tema 988) (Info 1037). NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 121 A União deve prestar suporte técnico e apoio financeiro para a expansão da rede de UTI’s nos estados durante o período deemergência sanitária. STF. Plenário. ACO 3473/DF, ACO 3474/SP, ACO 3475/DF, ACO 3478/PI e ACO 3483/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 10/11/2021 (Info 1037) Caso concreto: Lei do Estado de São Paulo instituiu pisos salariais para os trabalhadores e, em determinado artigo, afirmou que o piso salarial não se aplica para os contratos de aprendizagem. Essa previsão é constitucional. Do ponto de vista formal, esse artigo é compatível com a Lei Complementar federal 103/2000, que delegou para os Estados-membros e DF a competência para editarem leis fixando o piso salarial dos profissionais (art. 22, parágrafo único, da CF/88). Do ponto de vista material, esse artigo também é constitucional porque o contrato de aprendizagem é dotado de um regime jurídico peculiar, diferente do contrato de trabalho comum. Logo, esse discrímen que fundamentou a opção do legislador estadual está em consonância com os valores da ordem constitucional vigente. STF. Plenário. ADI 6223/SP, Rel. Min. Edson Fachin, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado em 22/10/2021 (Info 1035). É incompatível com a Constituição Federal ato normativo que, ao dispor sobre a comercialização de medicamentos anorexígenos, dispense o respectivo registro sanitário e as demais ações de vigilância sanitária. STF. Plenário. ADI 5779/DF, Rel. Min. Nunes Marques, redator do acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 14/10 /2021 (Info 1034). A tabela da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) deve servir de parâmetro para o pagamento dos serviços de saúde prestados por hospital particular, em cumprimento de ordem judicial, em favor de paciente do SUS. Tese fixada pelo STF: “O ressarcimento de serviços de saúde prestados por unidade privada em favor de paciente do Sistema Único de Saúde, em cumprimento de ordem judicial, deve utilizar como critério o mesmo que é adotado para o ressarcimento do Sistema Único de Saúde por serviços prestados a beneficiários de planos de saúde”. STF. Plenário. RE 666094/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 30/09/2021 (Repercussão Geral – Tema 1033) (Info 1032) A súbita modificação da sistemática de distribuição dos imunizantes contra Covid-19 pela União — com abrupta redução do número de doses — evidencia a possibilidade de frustração do planejamento sanitário estabelecido pelos entes federados. STF. Plenário. ACO 3518 MC-Ref/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 14/9/2021 (Info 1029) Não é cabível a condenação de empresa jornalística à publicação do resultado da demanda quando o ofendido não tenha pleiteado administrativamente o direito de resposta ou retificação de matéria divulgada, publicada ou transmitida por veículo de comunicação social no prazo decadencial estabelecido no art. 3º da Lei nº 13.188/2015, bem ainda, à adequação do montante indenizatório fixado STJ. 4ª Turma. REsp 1867286-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 24/08/2021 (Info 706). NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 122 Direitos de Nacionalidade: Nacionalidade x Cidadania: Nacional: é o indivíduo que faz parte do povo de um Estado através d nascimento ou da naturalização (vínculo marcantemente jurídico). Cidadão: é o indivíduo que tem direitos políticos, ou seja, pode votar e ser votado, propor ação popular além de organizar e participar de partidos políticos (vínculo marcantemente político) Polipátrida: indivíduo que possui mais de uma nacionalidade Apátrida, apólidos ou heimatlos (vem do alemão e significa “sem pátria”): é o indivíduo que não possui nenhuma nacionalidade. Espécies Nacionalidade ORIGINÁRIA (também chamada de primária, atribuída ou involuntária): É aquela que resulta de um fato natural (o nascimento). A pessoa se torna nacional nato. Critérios para atribuição da nacionalidade originária: a) Critério territorial (jus soli): se a pessoa nascer no território do país, será considerada nacional deste b) Critério sanguíneo (jus sanguinis): a pessoa irá adquirir a nacionalidade de seus ascendentes, não importando que tenha nascido no território de outro país. No Brasil, adota-se, como regra, o critério do jus soli, havendo, no entanto, situações nas quais o critério sanguíneo é aceito. Art. 12. São brasileiros: I - natos: - os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país; (Critério territorial ou jus soli) - os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil; (Critério sanguíneo ou jus sanguinis e serviço para a República Federativa do Brasil;) - os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente (critério jus sanguinis e registro em repartição competente) ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira (critério jus sanguinis e opção confirmativa) NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 123 Nesta última hipótese denomina-se nacionalidade potestativa, em razão de a nacionalidade estar adstrita à vontade do indivíduo. É importante frisar que o ato de opção pela nacionalidade brasileira não gera a própria nacionalidade, que é anterior, mas, sim, a definitividade da condição de brasileiro nato, confirmando-a. No caso, a opção funciona como uma condição suspensiva e sua manifestação expressa o pleno gozo da condição de nacional. Esse ato voluntário pode ser expresso ou tácito. A pessoa se torna nacional naturalizado. A nossa CF 88 não contempla nenhuma hipótese de naturalização tácita Nacionalidade SECUNDÁRIA (também chamada de derivada, adquirida ou voluntária): A nacionalidade secundária, também denominada de segundo grau, é aquela que resulta de um ato voluntário, consistente num concurso de vontades entre o pretendente, que deseja obter a nacionalidade de determinado país, e a concordância do Estado em conceder a nacionalidade e receber o estrangeiro ou o apátrida como nacional. Referida nacionalidade se efetiva com a naturalização. - Art. 12. II - Naturalizados: - os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral; (Ordinária) - os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira. (Extraordinária Português equiparado ou quase brasileiro: Aos portugueses com residência permanente no País serão atribuídos os direitos inerentes a brasileiro naturalizado se houver reciprocidade de tratamento em favor dos brasileiros em Portugal. Essa regra dirige-se ao português que não quer a naturalização, mas sim permanecer como português no Brasil. Esse nacional português terá os mesmos direitos do brasileiro naturalizado, mesmo sem ter obtido a naturalização, desde que haja reciprocidade de tratamento para os brasileiros em Portugal. A isso se chama de cláusula do ut des (cláusula de reciprocidade). Não se admite distinção entre brasileiro nato e naturalizado, apenas essas taxativas Extradição: Somente o naturalizado pode ser extraditado (o nato nunca!). O naturalizado pode ser extraditado por crime cometido antes da naturalização ou então mesmo depois da naturalização se o crime cometido foi o tráfico ilícito de entorpecentes Cargos privativos: há alguns cargos privativos de brasileiro nato. São eles: I - Presidente e Vice-Presidente da República; II - Presidente da Câmara dos Deputados; III - Presidente do Senado Federal; IV - Ministro do Supremo Tribunal Federal NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 124 V- de carreira diplomática; VI - de oficial das Forças Armadas. VII - de Ministro de Estado da Defesa Atividade nociva ao interesse nacional: Somente o brasileiro naturalizado poderá perder a nacionalidade em virtude da prática de atividade nociva ao interesse nacional (art. 12, § 4º, I, da CF/88) Conselho da República: Participam do Conselho da República, além de outros membros, seis cidadãos brasileiros natos, segundo o art. 89 da CF/88. Empresa jornalística e de radiodifusão: Para que o brasileiro naturalizado seja proprietário de empresa jornalística e de radiodifusão no Brasil, é necessário que tenha se naturalizado há mais de 10 anos. Direitos sociais: É inconstitucional concessão de descontos lineares nas mensalidades das faculdades privadas na pandemia da Covid-19. São inconstitucionais as interpretações judiciais que, unicamente fundamentadas na eclosão da pandemia de Covid-19 e no respectivo efeito de transposição de aulas presenciais para ambientes virtuais, determinam às instituições privadas de ensino superior a concessão de descontos lineares nas contraprestações dos contratos educacionais, sem considerar as peculiaridades dos efeitos da crise pandêmica em ambas as partes contratuais envolvidas na lide. Tese fixada pelo STF: É inconstitucional decisão judicial que, sem considerar as circunstâncias fáticas efetivamente demonstradas, deixa de sopesar os reais efeitos da pandemia em ambas as partes contratuais, e determina a concessão de descontos lineares em mensalidades de cursos prestados por instituições de ensino superior. STF. Plenário. ADPF 706/DF e ADPF 713/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 17 e 18/11/2021 (Info 1038). Lei estadual criou um benefício assistencial e previu que seu valor seria o do salário mínimo vigente. Tal previsão, em princípio, viola o art. 7º, IV, da CF/88, que proíbe que o salário mínimo seja utilizado como referência (parâmetro) para outras finalidades que não sejam a remuneração do trabalho. No entanto, o STF afirmou que seria possível conferir interpretação conforme a Constituição e dizer que o dispositivo previu que o valor do benefício seria igual ao salário mínimo vigente na época em que a lei foi editada (R$ 545). Após isso, mesmo o salário mínimo aumentando nos anos seguintes, o valor do benefício não pode acompanhar automaticamente os reajustes realizados sobre o salário mínimo, considerando que ele não pode servir como indexador. Em suma, o STF determinou que a referência ao salário mínimo contida na lei estadual seja considerada como um valor certo que vigorava na data da edição da lei, passando a ser corrigido nos anos seguintes por meio de índice econômico diverso. Com isso, o benefício continua existindo e será necessário ao governo do Amapá apenas reajustar esse valor por meio de índices econômicos. STF. Plenário. ADI 4726/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/11/2020 (Info 998). NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 125 A norma fundada no art. 7º, XXXIII, da Constituição Federal, na alteração que lhe deu a Emenda Constitucional 20/1998, tem plena validade constitucional. Logo, é vedado “qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos”. STF. Plenário. ADI 2096/DF, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 9/10/2020 (Info 994). Não viola a Constituição Federal a cobrança de contribuição obrigatória dos alunos matriculados nos Colégios Militares do Exército Brasileiro. Os Colégios Militares apresentam peculiaridades que fazem com que eles sejam instituições diferentes dos estabelecimentos oficiais de ensino, por razões éticas, fiscais, legais e institucionais. Podem, assim, ser qualificados como instituições educacionais sui generis. A quota mensal escolar exigida nos Colégios Militares não representa ofensa à regra constitucional de gratuidade do ensino público, uma vez que não há violação ao núcleo de intangibilidade do direito fundamental à educação. Por fim, deve-se esclarecer que esse valor cobrado dos alunos para o custeio das atividades do Sistema Colégio Militar do Brasil não possui natureza tributária (não é tributo). Logo, é válida a sua instituição por meio de atos infralegais. Portanto, são válidos os arts. 82 e 83, da Portaria 42/2008 do Comandante do Exército, que disciplinam essa cobrança. STF. Plenário. ADI 5082/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 24/10/2018 (Info 921). São constitucionais a exigência de idade mínima de quatro e seis anos para ingresso, respectivamente, na educação infantil e no ensino fundamental, bem como a fixação da data limite de 31 de março para que referidas idades estejam completas. STF. Plenário. ADPF 292/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 1º/8/2018 (Info 909). É constitucional a exigência de 6 (seis) anos de idade para o ingresso no ensino fundamental, cabendo ao Ministério da Educação a definição do momento em que o aluno deverá preencher o critério etário. STF. Plenário. ADC 17/DF, Rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, jugado em 1º/8/2018 (Info 909). As Resoluções nº 01/2010 e nº 06/2010, ambas emanadas da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (CNE/CEB), ao estabelecerem corte etário para ingresso de crianças na primeira série do ensino fundamental (6 anos completos até 31 de março do correspondente ano letivo), não incorreram em contexto de ilegalidade (não violaram a lei). Ao contrário, tais Resoluções encontram respaldo na interpretação conjunta dos arts. 29 e 32 da Lei nº 9.394/96 (LDB). O Poder Judiciário não pode substituir-se às autoridades públicas de educação para fixar ou suprimir requisitos para o ingresso de crianças no ensino fundamental, quando os atos normativos de regência não revelem traços de ilegalidade, abusividade ou ilegitimidade. STJ. 1ª Turma. REsp 1412704/PE, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 16/12/2014. A garantia constitucional da gratuidade de ensino não obsta a cobrança por universidades públicas de mensalidade em cursos de especialização. STF. Plenário. RE 597854/GO, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 26/4/2017 (repercussão geral) (Info 862). Nem todas as atividades potencialmente desempenhadas pelas universidades são relacionadas exclusivamente ao ensino. Existem também atividades de pesquisa e extensão, que podem ser custeadas por recursos privados. Assim, o princípio da gratuidade não obriga as universidades a terem os recursos públicos como única fonte de financiamento. O "ensino" tem como missão a plena inclusão social (direito constitucional à educação) e, por isso, devem obedecer ao princípio da gratuidade (art. 206, VI, da CF/88). Por outro lado, é possível que as universidades, no âmbito de sua autonomia didático- científica, regulamentem, em harmonia com a legislação, atividades destinadas preponderantemente à extensão universitária, sendo-lhes, nesse caso, possível a instituição de tarifa. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 126 É possível obrigar o Estado a fornecer medicamento off label? • Em regra, não é possível que o paciente exija do poder público o fornecimento de medicamento para uso off label. • Excepcionalmente, será possível que o paciente exija o medicamento caso esse determinado uso fora da bula (off label) tenha sido autorizado pela ANVISA. O Estado não é obrigado a fornecer medicamento para utilização off label, salvo autorização da ANVISA. STJ. 1ª Seção. PUIL 2101-MG, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 10/11/2021 (Info 717). #GOLDENTIP5: Nova hipótese foi estabelecida no art. 19-T, parágrafo único, da Lei nº 8.080/90, qual seja, o uso do medicamento fora da bula ter sido recomendado pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), e esteja padronizado em protocolo estabelecido pelo Ministério da Saúde, ou que este seja recomendado pela Conitec e adquirido por intermédiode organismos multilaterais internacionais, para uso em programas de saúde pública do Ministério da Saúde e suas entidades vinculadas. A União deve prestar suporte técnico e apoio financeiro para a expansão da rede de UTI’s nos estados durante o período de emergência sanitária. STF. Plenário. ACO 3473/DF, ACO 3474/SP, ACO 3475/DF, ACO 3478/PI e ACO 3483/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 10/11/2021 (Info 1037). STF determinou que a União enviasse ao Estado-membro as vacinas necessárias para a aplicação da segunda dose dentro do prazo estipulado nas bulas dos fabricantes e autorizado pela Anvisa. A súbita modificação da sistemática de distribuição dos imunizantes contra Covid-19 pela União — com abrupta redução do número de doses — evidencia a possibilidade de frustração do planejamento sanitário estabelecido pelos entes federados. STF. Plenário. ACO 3518 MC-Ref/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 14/9/2021 (Info 1029). Se o hospital particular atender um paciente do SUS por força de decisão judicial ele deverá ser ressarcido com base não na tabela do SUS nem com base nos valores de mercado; o ressarcimento ocorrerá com base na tabela da ANS, aplicada por analogia. A tabela da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) deve servir de parâmetro para o pagamento dos serviços de saúde prestados por hospital particular, em cumprimento de ordem judicial, em favor de paciente do SUS. Tese fixada pelo STF: “O ressarcimento de serviços de saúde prestados por unidade privada em favor de paciente do Sistema Único de Saúde, em cumprimento de ordem judicial, deve utilizar como critério o mesmo que é adotado para o ressarcimento do Sistema Único de Saúde por serviços prestados a beneficiários de planos de saúde”. STF. Plenário. RE 666094/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 30/09/2021 (Repercussão Geral – Tema 1033) (Info 1032). 5 As #GOLDENTIPs são inseridas pelo nosso setor de revisão. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 127 É inconstitucional a Lei 13.454/2017, que havia permitido a comercialização de medicamentos anorexígeneos (para emagrecer) mesmo depois de eles terem sido proibidos pela Anvisa. É incompatível com a Constituição Federal ato normativo que, ao dispor sobre a comercialização de medicamentos anorexígenos, dispense o respectivo registro sanitário e as demais ações de vigilância sanitária. STF. Plenário. ADI 5779/DF, Rel. Min. Nunes Marques, redator do acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 14/10/2021 (Info 1034). Poder Público pode determinar a vacinação compulsória contra a Covid-19 (o que é diferente de vacinação forçada). O STF julgou parcialmente procedente ADI, para conferir interpretação conforme à Constituição ao art. 3º, III, “d”, da Lei nº 13.979/2020. Ao fazer isso, o STF disse que o Poder Público pode determinar aos cidadãos que se submetam, compulsoriamente, à vacinação contra a Covid-19, prevista na Lei nº 13.979/2020. O Estado pode impor aos cidadãos que recusem a vacinação as medidas restritivas previstas em lei (multa, impedimento de frequentar determinados lugares, fazer matrícula em escola), mas não pode fazer a imunização à força. Também ficou definido que os Estados-membros, o Distrito Federal e os Municípios têm autonomia para realizar campanhas locais de vacinação. A tese fixada foi a seguinte: (A) A vacinação compulsória não significa vacinação forçada, por exigir sempre o consentimento do usuário, podendo, contudo, ser implementada por meio de medidas indiretas, as quais compreendem, dentre outras, a restrição ao exercício de certas atividades ou à frequência de determinados lugares, desde que previstas em lei, ou dela decorrentes, e (i) tenham como base evidências científicas e análises estratégicas pertinentes, (ii) venham acompanhadas de ampla informação sobre a eficácia, segurança e contraindicações dos imunizantes, (iii) respeitem a dignidade humana e os direitos fundamentais das pessoas; (iv) atendam aos critérios de razoabilidade e proporcionalidade, e (v) sejam as vacinas distribuídas universal e gratuitamente; e (B) tais medidas, com as limitações acima expostas, podem ser implementadas tanto pela União como pelos Estados, Distrito Federal e Municípios, respeitadas as respectivas esferas de competência. STF. Plenário. ADI 6586, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 17/12/2020. STF determinou que governo deveria detalhar a ordem de preferência na vacinação dentro dos grupos prioritários (quem deveria ser vacinado primeiro dentro do grupo prioritário) A pretensão de que sejam editados e publicados critérios e subcritérios de vacinação por classes e subclasses no Plano de Vacinação, assim como a ordem de preferência dentro de cada classe e subclasse, encontra arrimo: • nos princípios da publicidade e da eficiência que regem a Administração Pública (art. 37, da CF/88); • no direito à informação que assiste aos cidadãos em geral (art. 5º, XXXIII, e art. 37, § 2º, II); • na obrigação da União de “planejar e promover a defesa permanente contra as calamidades públicas” (art. 21, XVII); • no dever incontornável cometido ao Estado de assegurar a inviolabilidade do direito à vida (art. 5º, caput), traduzida por uma “existência digna” (art. 170); e • no direito à saúde (art. 6º e art. 196). STF. Plenário. ADPF 754 TPI-segunda- Ref/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 27/2/2021 (Info 1007). É ilegítima a recusa dos pais à vacinação compulsória de filho menor por motivo de convicção filosófica. É constitucional a obrigatoriedade de imunização por meio de vacina que, registrada em órgão de vigilância sanitária, (i) tenha sido incluída no Programa Nacional de Imunizações ou (ii) tenha sua aplicação obrigatória determinada em lei ou (iii) seja objeto de determinação da União, estado, Distrito Federal ou município, com base em consenso médico-científico. Em tais casos, não se caracteriza violação à liberdade de consciência e de convicção filosófica dos pais ou responsáveis, nem tampouco ao poder familiar. STF. Plenário. ARE NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 128 1267879/SP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 16 e 17/12/2020 (Repercussão Geral – Tema 1103) (Info 1003). É inconstitucional a Lei nº 13.269/2016, que autorizou o uso da fosfoetanolamina sintética ("pílula do câncer) por pacientes diagnosticados com neoplasia maligna mesmo sem que existam estudos conclusivos sobre os efeitos colaterais em seres humanos e mesmo sem que haja registro sanitário da substância perante a ANVISA. Ante o postulado da separação de Poderes, o Congresso Nacional não pode autorizar, atuando de forma abstrata e genérica, a distribuição de medicamento. Compete à ANVISA permitir a distribuição de substâncias químicas, segundo protocolos cientificamente validados. O controle dos medicamentos fornecidos à população leva em conta a imprescindibilidade de aparato técnico especializado, supervisionado pelo Poder Executivo. O direito à saúde não será plenamente concretizado se o Estado deixar de cumprir a obrigação de assegurar a qualidade de droga mediante rigoroso crivo científico, apto a afastar desengano, charlatanismo e efeito prejudicial. STF. Plenário. ADI 5501/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 23/10/2020 (Info 996) A associação “Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e seis partidos políticos ajuizaram arguição de descumprimento de preceito fundamental alegando que o Poder Público estava falhando na proteção dos povos indígenas com relação à pandemia da Covid-19. Os autores apontaram uma série de atos comissivos e omissivos do Poder Público que, segundo eles, estavam causando alto risco de contágio e de extermínio dos povos indígenas. Os requerentes apontaram que tais atos violam a dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF/88), o direito à vida (art. 5º, caput) e o direitoà saúde (arts. 6º e 196), além do direito de tais povos a viverem em seu território, de acordo com suas culturas e tradições (art. 231). Na ação, os autores pedem a realização de diversas medidas necessárias para a proteção dos povos indígenas. O Min. Roberto Barroso (relator) deferiu parcialmente a medida cautelar para que a União implemente, em resumo, as seguintes providências: Quanto aos povos indígenas em isolamento ou povos indígenas de recente contato: 1. Criação de barreiras sanitárias, que impeçam o ingresso de terceiros em seus territórios; 2. Criação de Sala de Situação, para gestão de ações de combate à pandemia quanto aos Povos Indígenas em Isolamento e de Contato Recente. Quanto aos povos indígenas em geral: 1. Inclusão de medida emergencial de contenção e isolamento dos invasores em relação às comunidades indígenas ou providência alternativa, apta a evitar o contato. 2. Imediata extensão dos serviços do Subsistema Indígena de Saúde. 3. Elaboração e monitoramento de um Plano de Enfrentamento da COVID-19 para os Povos Indígenas Brasileiros pela União. O Plenário do STF referendou a medida cautelar concedida. STF. Plenário. ADPF 709 Ref-MC/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 3 e 5/8/2020 (Info 985) O art. 1º, § 3º da Lei nº 13.301/2016 prevê, como uma das medidas para combater o Aedes aegypti, que o poder público fica autorizado a fazer a pulverização, por meio de aeronaves, de produtos químicos para matar o mosquito: § 3º São ainda medidas fundamentais para a contenção das doenças causadas pelos vírus de que trata o caput: IV - permissão da incorporação de mecanismos de controle vetorial por meio de dispersão por aeronaves mediante aprovação das autoridades sanitárias e da comprovação científica da eficácia da medida. O STF deu intepretação conforme a esse dispositivo dizendo que, além da comprovação científica e da aprovação das autoridades sanitárias (mencionadas expressamente no texto da lei), é necessário também que haja a aprovação das autoridades ambientais. A aprovação das autoridades sanitárias e ambientais competentes e a comprovação científica da eficácia da medida são condições prévias e inafastáveis à NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 129 incorporação de mecanismo de controle vetorial por meio de dispersão por aeronaves. STF. Plenário. ADI 5592/DF, rel. orig. Min. Cármen Lúcia, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 11/9/2019 (Info 951) A prudência — amparada nos princípios da prevenção e da precaução — aconselha que continuem em vigor as medidas excepcionais previstas nos arts. 3º ao 3º-J da Lei nº 13.979/2020, dada a continuidade da situação de emergência na área da saúde pública. STF. Plenário. ADI 6625 MC-Ref/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 6/3/2021 (Info 1008). É incabível a requisição administrativa, pela União, de bens insumos contratados por unidade federativa e destinados à execução do plano local de imunização, cujos pagamentos já foram empenhados. A requisição administrativa não pode se voltar contra bem ou serviço de outro ente federativo. Isso para que não haja indevida interferência na autonomia de um sobre outro. STF. Plenário. ACO 3463 MC-Ref/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 8/3/2021 (Info 1008) É inconstitucional a possibilidade de um paciente do Sistema Único de Saúde (SUS) pagar para ter acomodações superiores ou ser atendido por médico de sua preferência, a chamada "diferença de classes". Existe uma portaria do Ministério da Saúde (Portaria 113/1997) que proíbe a diferença de classe. Este ato estava sendo questionado e o STF, em recurso extraordinário submetido à repercussão geral, declarou que ele é constitucional, firmando a seguinte tese, que vale de forma ampla para todos os casos envolvendo diferença de classe: "É constitucional a regra que veda, no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS, a internação em acomodações superiores, bem como o atendimento diferenciado por médico do próprio SUS, ou por médico conveniado, mediante o pagamento da diferença dos valores correspondentes." STF. Plenário. RE 581488/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 3/12/2015 (repercussão geral) (Info 810). Mínimo existencial: que consiste no núcleo duro e intangível de direitos ligados ao princípio da dignidade da pessoa humana, isto é, o conjunto de direitos básicos que oportuniza a existência de uma vida digna, e que, portanto, não pode ser objeto de redução ou supressão pelo poder Público; ao contrário, este deve garanti- los mediante prestações estatais positivas. O mínimo existencial é o mesmo que o mínimo vital? O mínimo existencial não se confunde com o mínimo vital uma vez que este corresponde às prestações que garantem o estado de sobrevivência, de não morte, enquanto aquele pode ser conceituado como as prestações materiais mínimas que garantem uma vida digna, abrangendo alimentação, vestuário, moradia, lazer, transporte público, entre outros. Reserva do possível: surgiu na Alemanha, de modo que a efetividade dos direitos sociais estariam sob a reserva da capacidade financeira do Estado, uma vez que seriam direitos dependentes de prestações financeiras pelos cofres públicos. Esta teoria preconiza, em síntese, que o Estado não consegue atender materialmente a todas as necessidades sociais, quase sempre infinitas. - Neste interim, o Estado se vê obrigado a tomar “decisões trágicas”, como, por exemplo, deixar de fornecer uma medicação de altíssimo custo a determinado paciente para, com os mesmos recursos, fornecer diversos tratamentos menos custosos que, não obstante, sejam capazes de atender a centenas ou, até mesmo, a milhares de outras pessoas. O cerne das NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 130 “Escolhas Trágicas” consiste justamente na tomada de uma decisão que imponha, de um lado, sacrifício a determinado bem jurídico em prol de outro, geralmente com o objetivo de uma atuação estatal mais ampla. É necessário comprovação objetiva da incapacidade econômico-financeira da pessoa estatal. Dessa forma, como tese processual, pode-se alegar que cabe ao Estado demonstrar a falta de recursos públicos de maneira cabal e, caso assim não o faça, não se desincumbe do ônus probatório. O STF entende que a Administração Pública não pode criar obstáculos artificiais, com a intenção de fraudar o estabelecimento e preservação, em favor de cidadãos, de condições materiais mínimas de existência. Ou seja, não é possível a alegação da reserva do possível frente aos direitos considerados mínimo existencial, já que quanto a estes, não cabe ao administrador pública preteri-los em suas escolhas. A realização de direitos fundamentais, não é opção do governante, tais direitos estão intimamente ligados à dignidade da pessoa humana, e assim não podem ser limitado em razão da escassez quando esta é fruto das escolhas do administrador. A não priorização de direitos essenciais implica em destrato da vida humana como um fim em si mesmo, ofende, às claras, o sobreprincípio da dignidade da pessoa humana. Se um direito é qualificado pelo legislador como absoluta prioridade, ele deixa de integrar o universo de incidência da reserva do possível, já que a sua possibilidade é obrigatoriamente fixada pela Constituição ou pela lei. Nesse contexto, fica fácil compreender o conceito de “Autocontenção Judicial” – também denominado “Autorrestrição” ou “Self Restraint” – que nada mais é do que a internalização, pelo Judiciário, das teorias acima mencionadas (“Reserva do Possível” e “Escolhas Trágicas”), na medida em que busca esperar a atuação do legislador infraconstitucional para concretização de políticas públicas, sem invadir a seara de outro Poder Em contraposição à doutrina da “Autocontenção Judicial”, encontra-se a do “Ativismo Judicial”, que, como o próprio nome sugere, indica ao magistrado que adote uma postura proativa na implementação depolíticas públicas a partir da análise direta das normas constitucionais, ainda que – ou principalmente quando – haja manifesta omissão do Legislativo e do Executivo em suas funções típicas de legislar sobre e de implementar os mesmos direitos fundamentais. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 131 DIREITO PENAL6 DIREITO PENAL – PARTE GERAL CONCEITO DE DIREITO PENAL ASPECTO FORMAL/ESTÁTICO Direito Penal é o conjunto de normas que qualifica certos comportamentos humanos como infrações penais, define os seus agentes e fixa sanções a serem-lhes aplicadas. ASPECTO MATERIAL O Direito Penal refere-se a comportamentos considerados altamente reprováveis ou danosos ao organismo social, afetando bens jurídicos indispensáveis à própria conservação e progresso da sociedade. ASPECTO SOCIOLÓGICO/ DINÂMICO O Direito Penal é mais um instrumento de controle social, visando assegurar a necessária disciplina para a harmônica convivência dos membros da sociedade. Aprofundando o enfoque sociológico - A manutenção da paz social demanda a existência de normas destinadas a estabelecer diretrizes. - Quando violadas as regras de conduta, surge para o Estado o dever de aplicar sanções (civis ou penais). #ATENÇÃO: Nessa tarefa de controle social atuam vários ramos do direito, como o Direito Civil, Direito Administrativo, etc. O Direito Penal é apenas um dos ramos do controle social. 6 Por Raiane Arteman NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 132 - Quando a conduta atenta contra bens jurídicos especialmente tutelados, merece reação mais severa por parte do Estado, valendo-se do Direito Penal. #IMPORTANTE: O que diferencia a norma penal das demais é a espécie de consequência jurídica, ou seja, pena privativa de liberdade (PPL). - O Direito Penal é norteado pelo princípio da intervenção mínima, só atuando quando os outros ramos do direito falham. PRINCÍPIOS RELACIONADOS COM A MISSÃO FUNDAMENTAL DO DIREITO PENAL PRINCÍPIO DA EXCLUSIVA PROTEÇÃO DOS BENS JURÍDICOS O direito penal deve servir apenas para proteger bens jurídicos relevantes, indispensáveis ao convívio da sociedade. Decorrência do princípio da ofensividade. PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA O Direito Penal só deve ser aplicado quando estritamente necessário, de modo que sua intervenção fica condicionada ao fracasso das demais esferas de controle (caráter subsidiário), observando somente os casos de relevante lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado (caráter fragmentário). a) Princípio da fragmentariedade (ou caráter fragmentário do Direito Penal): estabelece que nem todos os ilícitos configuram infrações penais, mas apenas os que atentam contra valores fundamentais para a manutenção e o progresso do ser humano e da sociedade. Em razão de seu caráter fragmentário, o Direito Penal é a última etapa de proteção do bem jurídico. Deve ser utilizado no plano abstrato, para o fim de permitir a criação de tipos penais somente quando os demais ramos do Direito tiverem falhado na tarefa de proteção de um bem jurídico. Refere-se, assim, à atividade legislativa. #O que é FRAGMENTARIEDADE ÀS AVESSAS? Situações em que um comportamento inicialmente típico deixa de interessar ao Direito Penal, sem prejuízo da sua tutela pelos demais ramos do Direito. IMPORTANTE! O princípio da insignificância é desdobramento lógico da fragmentariedade. b) Princípio da subsidiariedade: a atuação do Direito Penal é cabível unicamente quando os outros ramos do Direito e os demais meios estatais de controle social tiverem se revelado impotentes para o controle da ordem pública. Assim, o Direito Penal funciona como um executor de reserva (ultima ratio), entrando em cena somente quando outros meios estatais de proteção mais brandos, e, portanto, menos invasivos da liberdade individual não forem suficientes para a proteção do bem jurídico tutelado. Projeta-se no plano concreto, isto é, em sua atuação prática o Direito Penal somente se legitima quando os demais meios disponíveis já tiverem sido empregados, sem sucesso, para proteção do bem jurídico. Guarda relação, portanto, com a tarefa de aplicação da lei penal. PRINCÍPIOS RELACIONADOS COM O FATO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE Art. 5º, II, C.F. – “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;” Art. 5º, XXXIX, C.F. – “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal;” NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 133 Art. 1º, C.P. - “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.” DESDOBRAMENTOS DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE: a) não há crime ou pena sem lei (MP não pode criar crime, nem cominar pena) b) não há crime ou pena sem lei anterior (princípio da anterioridade) c) não há crime ou pena sem lei escrita (proíbe costume incriminador) d) não há crime ou pena sem lei estrita (proíbe-se a utilização da analogia para criar tipo incriminador - analogia in malam partem). e) não há crime ou pena sem lei certa (Princípio da Taxatividade ou da determinação; Proibição de criação de tipos penais vagos e indeterminados) f) não há crime ou pena sem lei necessária (desdobramento lógico do princípio da intervenção mínima) PRINCÍPIO DA EXTERIORIZAÇÃO OU MATERIALIZAÇÃO DO FATO O Estado só pode incriminar condutas humanas voluntárias, isto é, fatos. ATENÇÃO! Veda-se o Direito Penal do autor: consistente na punição do indivíduo baseada em seus pensamentos, desejos e estilo de vida. Conclusão: O Direito Penal Brasileiro segue Direito Penal do Fato. Resquícios de direito penal do autor no direito brasileiro: Até 2009, mendicância era crime. Vadiagem é contravenção penal. ATENÇÃO: Identifica-se a aplicação do direito penal do autor em detrimento ao direito penal do fato: fixação da pena, regime de cumprimento da pena e espécies de sanção. Princípio da OFENSIVIDADE/ LESIVIDADE Exige que do fato praticado ocorra lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado. Somente condutas que causem lesão (efetiva/potencial) a bem jurídico, relevante e de terceiro, podem estar sujeitas ao Direito Penal. -CRIME DE DANO: ocorre efetiva lesão ao bem jurídico. Ex: homicídio. -CRIME DE PERIGO: basta risco de lesão ao bem jurídico. Ex.: embriaguez ao volante; porte de arma. a) Perigo abstrato: o risco de lesão é absolutamente presumido por lei. b) Perigo concreto: De vítima determinada: o risco deve ser demonstrado indicando pessoa certa em perigo. De vítima difusa: o risco deve ser demonstrado dispensando vítima determinada. PRINCÍPIOS RELACIONADOS COM O AGENTE PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE PESSOAL Proíbe-se o castigo pelo fato de outrem. Está vedada a responsabilidade penal coletiva. DESDOBRAMENTOS: a) Obrigatoriedade da individualização da acusação (é proibida a denúncia genérica, vaga ou evasiva). O Promotor de Justiça deve individualizar os comportamentos. OBS: Nos crimes societários, os Tribunais Superiores flexibilizam essa obrigatoriedade. b) Obrigatoriedade da individualização da pena (é mandamento constitucional, evitando responsabilidade coletiva). PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE SUBJETIVA: Não basta que o fato seja materialmente causado pelo agente, ficando a sua responsabilidade condicionada à existência da voluntariedade (dolo/culpa). Está proibida a responsabilidade penal objetiva, isto é, sem dolo ou culpa. Temos doutrina anunciando CASOS DE RESPONSABILIDADE PENAL OBJETIVA (autorizadas por lei): NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 134 1- Embriaguez voluntária Crítica: a teoria da actio libera in causa exige não somente uma análise pretérita da imputabilidade, mas também da consciência e vontade do agente. 2- Rixa Qualificada Crítica: só responde pelo resultado agravador quematuou frente a ele com dolo ou culpa, evitando-se responsabilidade penal objetiva. 3- Responsabilidade penal da pessoa jurídica nos crimes ambientais PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE Postulado limitador do direito de punir. Só pode o Estado impor sanção penal ao agente imputável, isto é, penalmente capaz, com potencial consciência da ilicitude (possibilidade de conhecer o caráter ilícito do comportamento), quando dele exigível conduta diversa. PRINCÍPIO DA ISONOMIA A isonomia que se garante é a isonomia substancial. Deve-se tratar de forma igual o que é igual, e desigualmente o que é desigual. PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA Convenção Americana de Direitos Humanos - Artigo 8º .2: “Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto não for legalmente comprovada sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas:” Art. 5º, LVII C.F. – “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória;” PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA (DA BAGATELA OU INFRAÇÃO BAGATELAR PRÓPRIA) Este princípio preconiza a análise da ocorrência de lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico protegido pelo tipo penal. Expoente: Claus Roxin, em 1964. Natureza jurídica: causa supralegal de exclusão da tipicidade material. É um requisito negativo da tipicidade (STF, HC 137217). É um juízo negativo da tipicidade conglobante, pois ultrapassa o juízo subsuntivo formal e adentra na seara da análise do desvalor da conduta e do resultado em sentido amplo (STJ, RHC 59568). #SELIGA: É instrumento de interpretação restritiva do tipo penal. REQUISITOS DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA OBJETIVOS SUBJETIVOS STF: MARI Mínima ofensividade da conduta Ausência de periculosidade social da ação Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento Inexpressividade da lesão jurídica STJ: E3C Extensão do dano Circunstâncias e resultado do crime Condições pessoais da vítima; Condições pessoais do agente EXEMPLOS: Extensão do dano: bem de pequeno valor, mas de grande valor sentimental. Circunstâncias e resultado do crime: número de pessoas atingidas. Condições pessoais da vítima: situação financeira por exemplo Condições pessoais do agente: furto praticado por policial militar. O desvalor da ação é maior do que de um cidadão comum DISTINÇÃO NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 135 BAGATELA PRÓPRIA BAGATELA IMPRÓPRIA Ocorre a bagatela própria quando uma conduta é formalmente criminosa (subsuma-se ao tipo penal), mas não atingiu expressivamente o bem jurídico tutelado pela norma. Essa lesão insignificativa desde o início já afasta o crime, porque a conduta é atípica materialmente. Dessa forma, sem um dos elementos do fato típico não há crime. Ocorre nas situações em que uma conduta ofende significativamente o bem jurídico protegido pela norma, mas, a pena se torna desnecessária. Ex. perdão judicial. Atenção: jurisprudência não aplica a bagatela imprópria para os delitos de Maria da Penha. #DEOLHONASSÚMULAS: Súmula 589-STJ: É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas. Súmula 599 do STJ: dispõe que “o princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração pública” Súmula 606-STJ: Não se aplica o princípio da insignificância aos casos de transmissão clandestina de sinal de internet via radiofrequência que caracterizam o fato típico previsto no artigo 183 da lei 9.472/97. #DEOLHONAJURIS: A jurisprudência do STF e do STJ é no sentido da inaplicabilidade do princípio da insignificância na hipótese de crimes praticados contra a fé pública (ex: uso de atestado médico falso; introdução de moedas falsas), em função do bem jurídico tutelado pela norma, que, no caso, a fé pública representa caráter supraindividual. STF. 2ª Turma. HC 117638, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/03/2014 STF. 1ª Turma. HC 187269, Rel. Min Roberto Barroso, decisão monocrática em 18/06/2020. STJ. 6ª Turma. AgRg-AREsp 1.963.955, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 08/02/2022 STJ. 5ª Turma. AgRg- RHC 155.201, Rel. Min. Jesuíno Rissato, julgado em 12/12/2021. Excepcionalmente, admite-se o princípio da insignificância nos crimes contra a fé pública (uso de atestado falso) em casos que o dolo do réu revela, de plano, "a mínima ofensividade da conduta do agente, a nenhuma periculosidade social da ação, o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica provocada", a demonstrar a atipicidade material da conduta e afastar a incidência do direito penal, sendo suficientes as sanções previstas na Lei trabalhista. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1816993/B1, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 16/11/2021. #ATENÇÃO: O atual entendimento do STJ é no sentido de que a apreensão de pequena quantidade de munição, desacompanhada da arma de fogo, permite a aplicação do princípio da insignificância ou bagatela. STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 517.099/MS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 06/08/2019. A jurisprudência de ambas as turmas do STJ firmou entendimento de que o crime de posse de drogas para consumo pessoal (art. 28 da Lei nº 11.343/06) é de perigo presumido ou abstrato e a pequena quantidade de droga faz parte da própria essência do delito em questão, não lhe sendo aplicável o princípio da insignificância STJ. 6ª Turma. RHC 35920 -DF, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 20/5/2014. Info 541. STJ. 5ª Turma. HC 377.737, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 16/03/2017. STJ. 6ª Turma. AgRg-RHC 147.158, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 25/5/2021. OBS.: STF: Há um precedente da 1ª Turma, aplicando o princípio. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 136 PRETENSÃO PUNITIVA DO ESTADO VS. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS VELOCIDADES DO DIREITO PENAL 1ª (primeira) velocidade O direito penal da prisão. Engloba a minoria dos crimes (mais graves), que inevitavelmente levam à prisão. Tal velocidade constitui um direito penal lento e extremamente garantista. Isso porque o bem jurídico em disputa (liberdade) é muito valioso, o que necessita de um processo lento, com muitas fases de defesa e recursos, prazos dilatados. O melhor exemplo é o procedimento do júri. 2ª (segunda) velocidade É formada pelo direito penal sem prisão. Assim, mesmo que seja condenado, o sujeito não será preso. Engloba os crimes mais leves. Por não envolver a perda da liberdade, permite um processo mais rápido, com o suprimento de algumas fases processuais e até mesmo flexibilizar direitos e garantias fundamentais. Um exemplo é a Lei 9099/95, ao tratar dos Juizados Especiais Criminais, que traz o instituto da transação penal e as penas restritivas de direitos. 3ª (terceira) velocidade É uma fusão das velocidades supracitadas. Segundo parte considerável da doutrina, a 3ª (terceira) velocidade teria sido também desenvolvida por Silva Sánchez. Outros entendem que ela somente teria sido exposta com minúcias por Günther Jakobs, professor catedrático de Direito Penal e Filosofia do Direito na Universidade de Bonn, Alemanha, o qual traçou lineamentos de uma teoria denominada de Direito Penal do inimigo. O direito penal do inimigo seria então a 3ª velocidade do direito penal por ser um direito penal com pena de prisão e extremamente célere. Trata-se de uma mistura das duas velocidades acima mencionadas. Essa tendência pode ser vista em algumas “recentes” leis brasileiras, como a Lei dos Crimes Hediondos (Lei nº 8.072, de 1990), que, por exemplo, aumentou consideravelmente a pena de vários delitos, estabeleceu o cumprimento da pena em regime integralmente fechado e suprimiu, ou tentou suprimir, algumas prerrogativas processuais (exemplo: a liberdade provisória), e a Lei do Crime Organizado (Lei n. 9.034, de 1995), entre outras.4ª (quarta) velocidade A 4ª (quarta) velocidade do Direito Penal estaria ligada ao Direito Internacional. Para aqueles que uma vez ostentaram a posição de Chefes de Estado, e, como tais, violaram gravemente tratados internacionais de tutela de direitos humanos, serão aplicadas as normais internacionais. O TPI (Tribunal Penal Internacional) será especialmente aplicado a esses réus. Nessa velocidade, há uma nítida diminuição das garantias individuais penais e processuais penais desses réus, defendida inclusive pelas ONGs. Podem ser citados como exemplos (Sadam Russem, Muammar Kadafi, Adolf Hitler, dentre outros). #GOLDENTIPS7: VELOCIDADE CARACTERÍSTICAS SANÇÃO PENAL 7 As #GOLDENTIPS foram incluídas pelo setor de revisão. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 137 1ª Direitos e Garantias respeitados de forma ampla. Pena privativa de liberdade. 2ª Flexibilização dos Direitos e Garantias. Penas restritivas de direitos e pecuniárias. 3ª Flexibilização dos Direitos e Garantias. Pena privativa de liberdade. 4ª Flexibilização dos Direitos e Garantias. No TPI: imprescritibilidade. Aplicadas por Cortes Internacionais. No TPI: prisão perpétua. LEI PENAL NO TEMPO Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado: teoria da atividade (art. 4º, CP). O art. 5º, XL, da CF estabelece que a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu. Portanto, percebemos que a regra é a irretroatividade da lei penal e a exceção é a retroatividade da lei penal benéfica. Se a conduta anteriormente era atípica, mas com a vigência da nova lei passa a ser uma conduta criminosa, tem-se novatio legis incriminadora. A lei penal, neste caso, não retroagirá. Se a conduta já era criminalizada, mas uma lei recrudesce o tratamento estatal em relação àquela conduta, receberá o nome de novatio legis in pejus. A lei nova que, de qualquer modo, prejudique o réu, também será irretroativa. #SELIGA Sumula 711-STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência. Crime permanente é aquele cuja consumação se protrai no tempo pela vontade do agente. Exemplo: crime de sequestro. Crime continuado, que é uma ficção jurídica, consiste na prática de vários crimes da mesma espécie, sob as mesmas condições de tempo, lugar, maneira de execução, de forma que um crime será considerado continuação do outro, sendo todos tratados como crime único. É possível que a conduta criminosa seja suprimida do ordenamento jurídico por meio de uma lei penal, tornando-se um indiferente penal. Apresenta-se, consequentemente, como uma lei penal benéfica que irá retroagir, alcançado, inclusive, situações definitivamente julgadas. Neste caso, ocorrerá a denominada abolitio criminis. CONTINUIDADE NORMATIVO-TÍPICO: há a supressão formal, mas não material do crime. É possível, ainda, que uma nova lei venha a beneficiar o réu, sendo uma lex mitior. O art. 2º, parágrafo único, do CP estabelece que a lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 138 #FIQUEATENTO Súmula 611-STF: Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo das execuções a aplicação de lei mais benigna. LEIS TEMPORÁRIAS E EXCEPCIONAIS A lei temporária tem um prazo determinado. A lei excepcional é editada em função de algum acontecimento excepcional. A lei temporária e a excepcional, mesmo que encerrado o período de sua duração, serão aplicadas aos fatos praticados durante a sua vigência, razão pela qual têm o efeito da ultratividade. Tais leis possuem duas características essenciais: a) autorrevogabilidade: a lei penal temporária traz o prazo certo da sua revogação, enquanto a lei penal excepcional não traz o momento de revogação, cessando quando cessar a situação ensejadora. b) ultratividade: alcançam fatos praticados durante a sua vigência, mesmo após a sua revogação. COMBINAÇÃO DE LEIS PENAIS (lex tertia): não se admite a combinação de lei penais no tempo, devendo a benignidade entre a lei posterior e a lei anterior ser aferida considerando-as separadamente. TEMPO DO CRIME TEORIA DA ATIVIDADE Considera-se praticado o crime no momento da conduta. Adotada CP TEORIA DO RESULTADO Considera-se praticado o crime no momento do resultado. TEORIA MISTA / UBIQUIDADE Considera-se praticado o crime no momento da conduta ou do resultado. LEI PENAL NO ESPAÇO: PRINCÍPIOS Princípio da territorialidade: a lei penal do local do crime é a que será aplicada, não importando a nacionalidade do agente, da vítima ou do bem jurídico. Princípio de nacionalidade ativa (personalidade ativa): aplica-se a lei do país pertencente ao agente do crime (sujeito ativo), sem importar a nacionalidade da vítima, local do crime ou bem jurídico violado. Princípio da nacionalidade passiva (personalidade passiva): aplica-se a lei do país pertencente à vítima do crime, sem importar a nacionalidade do agente (sujeito ativo), local do crime ou bem jurídico violado. Princípio da defesa real: é a aplicação da lei penal da nacionalidade da coisa, do bem jurídico lesado. Princípio da justiça penal universal (justiça penal cosmopolita): é o princípio que exige que se faça justiça, sem se importar onde. O agente fica sujeito ao país em que for encontrado. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 139 Princípio do pavilhão (representação, substituição ou bandeira): aplica-se a lei nacional aos crimes cometidos em aeronaves ou embarcações privadas, quando praticados no estrangeiro, mas aí não sejam julgados. Adotado pelo CP. LUGAR DO CRIME Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado (TEORIA DA UBIQUIDADE). #DICA: LU/TA LU = Teoria da Ubiquidade = lugar do crime (art. 6º) TA = Teoria da Atividade = tempo do crime (art. 4º) CRIMES À DISTÂNCIA E CRIMES PLURILOCAIS (ART. 6.º DO CP X ART. 70 DO CPP) TEORIA DA UBIQUIDADE (ART. 6.º DO CP) TEORIA DO RESULTADO (ART. 70 DO CPP) O dispositivo aplica-se a crimes que envolvem o território de dois ou mais países, ou seja, conflitos internacionais de jurisdição O dispositivo aplica-se a crimes que envolvem duas ou mais comarcas dentro do Brasil, ou seja, conflitos internos de competência local. Nos CRIMES À DISTÂNCIA (ou crimes de espaço máximo), a prática do delito envolve o território de dois ou mais países. Nos CRIMES PLURILOCAIS, a prática do delito envolve duas ou mais comarcas/ seções judiciárias dentro do mesmo país. NÃO APLICAÇÃO DA TEORIA DA UBIQUIDADE Crimes Conexos: não se aplica a teoria da ubiquidade, eis que os diversos crimes não constituem unidade jurídica. Deve cada um deles, portanto, ser processado e julgado no país em que foi cometido. Crimes Plurilocais: aplica-se a regra delineada pelo art. 70, caput, do Código de Processo Penal, ou seja, a competência será determinada pelo lugar em que se consumar a infração ou, no caso de tentativa, pelo local em que for praticado o último ato de execução. Na hipótese de crimes dolosos contra a vida, aplica-se a teoria da atividade, segundo pacífica jurisprudência, em razão da conveniência para a instrução criminal em juízo, possibilitando a descoberta da verdade real Infrações penais de menor potencial ofensivo: teoria da atividade - “A competência do Juizado será determinada pelo lugar em que foi praticada a infração penal” (art. 63, L. 9099) Crimes falimentares: foro do local em que foi decretada a falência, concedida a recuperação judicial ou homologado o plano de recuperação extrajudicial (art. 183 da Lei 11.101/2005)Atos infracionais: competente a autoridade do lugar da ação ou da omissão (Lei 8.069/1990 – ECA, art. 147, § 1.º). EFICÁCIA DA SENTENÇA ESTRANGEIRA A sentença criminal proveniente de estado soberano estrangeiro, desde a EC 45/2004, deve ser homologada no Brasil pelo Superior Tribunal de Justiça. Ao fazer a homologação o STJ não aprecia o mérito, fazendo apenas um exame formal (juízo de prelibação). NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 140 A sentença pode ser homologada no Brasil para: I - Obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis; II - Sujeitá-lo a medida de segurança. #ATENÇÃO: se a homologação for pertinente à medida de segurança, será imprescindível que exista tratado de extradição com o país de cuja autoridade emanou a decisão. Se não houver este tratado, é necessário que haja uma requisição do ministro da justiça que suprirá a necessidade do tratado entre os países. CONTAGEM DE PRAZO Prazos processuais penais: o CPP estabelece que não é computado o dia do início, mas é incluído o dia do vencimento. Se cair em feriado ou dia não útil, prorrogar-se-á para o primeiro dia útil imediatamente posterior. Prazos penais: há aqui uma improrrogabilidade dos prazos, de forma que será incluído o dia do começo e excluído o dia do final. CONFLITO APARENTE DE NORMAS Para se falar em conflito aparente de normas, é necessário que haja duas ou mais leis penais em vigor ao mesmo tempo. São princípios que solucionam o aparente conflito: Princípio da especialidade estabelece que a lei especial prevalece sobre a geral (lex specialis derogat legi generali). No conflito entre lei penal geral e lei penal especial, aplica-se esta última. A lei é especial em razão de conter, além de todos os elementos da lei geral, elementos especializantes. Subsidiariedade, uma lei define o fato como criminoso e outra lei também define o fato como criminoso. Porém, a abrangência da outra lei é maior. Em verdade, o que se percebe nesta relação entre norma subsidiária e norma principal é que há um a relação de maior e de menor gravidade. Consunção, a norma definidora de um crime constitui meio necessário ou fase normal de preparação ou execução de outro crime. Em termos bem esquemáticos, há consunção quando o fato previsto em determinada norma é compreendido em outra, mais abrangente, aplicando-se somente esta. Princípio da alternatividade tem validade e aplicação prática nos chamados crimes de conteúdo múltiplo (ou variado), isto é, tipos penais que contam com vários verbos nucleares (cf. art. 33 da Lei de Drogas; art. 12 do Estatuto do Desarmamento etc.). Nessas hipóteses, se o agente realiza vários verbos, porém no mesmo contexto fático e sucessivamente (p. ex., depois de importar e preparar certa quantidade de droga, o agente traz consigo porções separadas para venda a terceiros), por força do princípio da alternatividade, responderá por crime único, devendo o juiz considerar a pluralidade de núcleos praticados na fixação da pena. #DEOLHONAJURIS – CONFLITO APARENTE DE NORMAS Embora a tipificação da lavagem de capitais dependa da existência de uma infração penal antecedente, é possível a autolavagem, isto é, a imputação simultânea, ao mesmo réu, do delito antecedente e do crime de lavagem, desde que sejam demonstrados atos diversos e autônomos daquele que compõe a realização do NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 141 primeiro crime, circunstância em que não ocorrerá o fenômeno da consunção. A autolavagem (self laundering/auto lavado) merece reprimenda estatal, na medida em que o autor da infração penal antecedente, já com a posse do proveito do crime, poderia simplesmente utilizar-se dos bens e valores à sua disposição, mas reinicia a prática de uma série de condutas típicas, a imprimir a aparência de licitude do recurso obtido com a prática da infração penal anterior. Dessa forma, se for confirmado, a partir do devido processo legal, que o indivíduo deu ares de legalidade ao dinheiro indevidamente recebido, estará configurado o crime de lavagem de capitais. STJ. Corte Especial. APn 989-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/02/2022 (Info 726). Para que se configure a lesão ao bem jurídico tutelado pelo art. 34 da Lei nº 11.343/2006, a ação de possuir maquinário e/ou objetos deve ter o especial fim de fabricar, preparar, produzir ou transformar drogas, visando ao tráfico. Assim, ainda que o crime previsto no art. 34 da Lei nº 11.343/2006 possa subsistir de forma autônoma, não é possível que o agente responda pela prática do referido delito quando a posse dos instrumentos se configura como ato preparatório destinado ao consumo pessoal de entorpecente. As condutas previstas no art. 28 da Lei de Drogas recebem tratamento legislativo mais brando, razão pela qual não há respaldo legal para punir com maior rigor as ações que antecedem o próprio consumo pessoal do entorpecente. STJ. 6ª Turma. RHC 135617-PR, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 14/09/2021 (Info 709). Absorção do delito do art. 40 pelo crime do art. 64 da Lei nº 9.605/98. O delito de causar dano em unidade de conservação (art. 40 da Lei nº 9.605/98) pode ser absorvido pelo delito de construir em solo que, por seu valor ecológico, não é edificável (art. 64 da Lei nº 9.605/98). Para analisar a possibilidade de absorção do crime do art. 40 da Lei nº 9.605/98 pelo do art. 64, não é relevante a diversidade de bens jurídicos protegidos por cada tipo incriminador; tampouco impede a consunção o fato de que o crime absorvido tenha pena maior do que a do crime continente, como se vê na própria Súmula 17/STJ. Absorção do delito do art. 48 pelo crime do art. 64 da Lei nº 9.605/98. A conduta do art. 48 da Lei nº 9.605/98 é mero pós-fato impunível do ato de construir em local não edificável. Afinal, com a própria existência da construção desejada e executada pelo agente - e à qual, portanto, se dirigia seu dolo -, é inevitável que fique impedida a regeneração da flora antes existente no mesmo lugar. Por isso, o princípio da consunção obsta a punição autônoma dos dois delitos. STJ. 5ª Turma. REsp 1925717-SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 25/05/2021 (Info 698). CONCEITO DE CRIME Formal/Legal O art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal traz o conceito formal de crime. Art. 1º. Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa... Material/Substancial crime é um fato que lesiona um bem jurídico cuja proteção em determinado momento histórico por razões culturais, éticas ou morais deve ocorrer pelo direito penal. Ex: adultério Analítico/Dogmático Concepção quadripartite: crime consiste num fato típico, ilícito, culpável e punível. (minoritário). Concepção tripartite: crime é um fato típico, ilícito e culpável, sendo a punibilidade uma consequência jurídica do crime. (majoritária). Concepção bipartite: crime é fato típico e ilícito, a culpabilidade é um pressuposto de aplicação da pena e a punibilidade uma consequência jurídica do crime. NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 142 Outra concepção bipartite: crime é um fato tipicamente ilícito e culpável. Ela deriva da teoria dos elementos negativos do tipo. O primeiro extrato corresponde ao fato típico já revestido de ilicitude (a essa união da tipicidade e da ilicitude dá-se o nome de injusto penal). O segundo extrato é a culpabilidade. Concepção de Luiz Flávio Gomes: o autor tem uma concepção tripartite muito diferente da normal. Ele criou a Teoria Constitucionalista do Delito. Ele diz que o crime é fato típico, ilícito e punível e a culpabilidade é pressuposto de aplicação da pena. CLASSIFICAÇÕES DOUTRINÁRIAS CRITÉRIO CLASSIFICAÇÕES QUANTO AO SUJEITO ATIVO I) COMUM: pode ser praticado por qualquer pessoa, sem nenhuma circunstância específica. Ex: Homicídio. II) PRÓPRIO: exigeuma condição especial para que a pessoa possa ser o sujeito ativo, a exemplo dos crimes funcionais, que somente podem ser cometidos por funcionário público. #DEOLHONAJURIS: O diretor de organização social pode ser considerado funcionário público por equiparação para fins penais (art. 327, § 1º do CP). Isso porque as organizações sociais que celebram contratos de gestão com o Poder Público devem ser consideradas “entidades paraestatais”, nos termos do art. 327, § 1º do CP. STF. 1ª Turma. HC 138484/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 11/9/2018 (Info 915). III) DE MÃO PRÓPRIA: Exige que o agente atue pessoalmente na realização do tipo. Ex: crime de falso testemunho #DEOLHONAJURIS O STF entende que esse crime admite participação, no caso concreto, do advogado (HC 81.327-SP, rel. Ministra Ellen Gracie, 11.12.2001. STF também admite coautoria RHC 81327 / SP). OBS: Crime multitudinário é aquele praticado pela multidão em tumulto. A lei não diz o que se entende por “multidão”, razão pela qual sua configuração deve ser examinada no caso concreto. Exemplo: agressões praticadas em um estádio por torcedores de um time de futebol. QUANTO AO MOMENTO DA CONSUMAÇÃO I) INSTANTÂNEO: o crime se consuma em momento determinado, não necessariamente no mesmo momento de realização da conduta. II) PERMANENTE: o momento consumativo se prolonga no tempo, de acordo com a vontade do agente para que assim seja. Destaque-se que enquanto durar a permanência poderá ser realizado o flagrante. III) INSTANTÂNEO DE EFEITOS PERMANENTES: o delito é instantâneo, consumindo-se em momento determinado, porém os efeitos do crime após a consumação é que são visíveis. Ex: Crime de bigamia, que se concretiza no ato do segundo casamento, permanecendo seus efeitos. #DEOLHONAJURIS De acordo com o entendimento do STF, o terceiro que perpetra a fraude pratica crime instantâneo de efeitos permanentes, que se consuma na ocasião do pagamento da primeira prestação do benefício indevido. Por outro lado, o agente beneficiário da fraude prática crime de natureza permanente, cuja execução se prolonga no tempo, renovando-se a cada parcela recebida. Nesse caso, a consumação ocorre apenas quando cessa o recebimento indevido das prestações (HC 104880). I) Crime de dano: é aquele que somente se consuma com a efetiva lesão ao bem NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 143 QUANTO Á RELAÇÃO DA CONSUMAÇÃO COM O DANO jurídico. II) Crime de perigo: é aquele que se consuma com a mera possibilidade do dano. III) Crime de perigo concreto: delito cujo perigo deve ser investigado e provado. IV) Crime de perigo abstrato: delito cujo perigo é presumido pelo tipo penal, não precisa ser provado. Há doutrinadores que pregam a inconstitucionalidade desses crimes, pois violariam o princípio da ofensividade. Ex: Crime do art. 310, CP: #DEOLHONASÚMULA Súmula 575-STJ: Constitui crime a conduta de permitir, confiar ou entregar a direção de veículo automotor a pessoa que não seja habilitada, ou que se encontre em qualquer das situações previstas no art. 310 do CTB, independentemente da ocorrência de lesão ou de perigo de dano concreto na condução do veículo. V) Crimes de perigo atual: o perigo está ocorrendo, como no abandono de incapaz (CP, art. 133); VI) Crimes de perigo iminente: o perigo está prestes a ocorrer; VII) Crimes de perigo futuro ou mediato: a situação de perigo decorrente da conduta se projeta para o futuro, como no porte ilegal de arma de fogo de uso permitido ou restrito (Lei 10.826/2003, arts. 14 e 16), autorizando a criação de tipos penais preventivos. #FOCANATABELA #DIRETODAFUC CRIMES DE DANO CRIMES DE PERIGO CONCRETO CRIMES DE PERIGO ABSTRATO - Homicídio culposo no trânsito (art. 302) e - Lesão corporal culposa no trânsito (art. 303) - Trafegar em velocidade incompatível com a segurança nas proximidades de determinados lugares (art. 311) - RACHA (art. 308) - DIRIGIR SEM PERMISSÃO (art. 309) - Embriaguez no volante (306) - Permitir ou entregar a direção de veículo automotor a pessoa não habilitada (310) QUANTOS AO N° DE ATOS NECESSÁRIOS À CONSUMAÇÃO I) Crime unissubsistente: é aquele que se consuma com a realização de um só ato. Não admite tentativa nem fracionamento. II) Crime plurissubsistente: é aquele cuja consumação é composta de vários atos. Admite tentativa e fracionamento. QUANTO A EXISTÊNCIA DE VESTÍGIOS I) Delito de fato permanente: é aquele que deixa vestígios ou não transeunte. II) Delito de fato transeunte: é aquele que não deixa vestígios. DIFERENCIAÇÃO DE CRIMES COMPLEXOS I) Crime complexo: crime que prevê, de forma explícita, dois ou mais tipos penais em uma única descrição legal (SENTIDO ESTRITO) ou que abrange um tipo simples acrescido de fato não típico (SENTIDO AMPLO). II) Crime complexo em sentido amplo: é formado pela conjugação de conduta penalmente tipificada acrescida de um fato atípico. Ex: estupro = violência ou ameaça (conduta típica) + conjunção carnal (figura atípica). III) Crime complexo em sentido estrito: é formado pela conjugação de duas ou mais figuras típicas. Ex: Latrocínio (roubo + morte). O que se entende por crime ultracomplexo? Segundo Rogério Sanches, ocorre o crime ultra complexo "quando um crime complexo é acrescido de outro, este servindo como qualificadora ou majorante daquele. Imaginemos um roubo (crime complexo) praticado com emprego de arma de fogo. Temos, na hipótese, uma unidade jurídica ultra complexa formada pela reunião do crime de roubo (nascido da fusão do NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 144 constrangimento ilegal + furto) e do crime de porte ilegal de arma de fogo. Em outras palavras, percebemos um crime complexo (roubo) acrescido de outro (porte ilegal de arma de fogo), que serve como causa de aumento de pena do crime patrimonial". (CUNHA Rogério Sanches, Manual de Direito Penal: Parte Geral, 4. Ed. Salvador: juspodivm, 2016, pág. 167). Nesse caso, sendo todos os crimes praticados no mesmo contexto fático, o autor deverá responder apenas pelo roubo majorado pelo emprego de arma de fogo (em razão da aplicação do princípio da consunção), que, como vimos, pode ser chamado de crime ultra complexo. QUANTO AO ESPAÇO TERRITORIAL I) Crimes à distância: também conhecidos como “crimes de espaço máximo”, são aqueles cuja conduta e resultado ocorrem em países diversos (lembrar que o Código Penal acolheu a teoria mista ou da ubiquidade quanto ao lugar do crime). II) Crimes plurilocais: são aqueles cuja conduta e resultado se desenvolvem em comarcas diversas, sediadas no mesmo país. No tocante às regras de competência, o art. 70 do Código de Processo Penal dispõe que, nesse caso, será competente para o processo e julgamento do crime o juízo do local em que se operou a consumação. Há, contudo, exceções (ex: júri, juizado especial criminal – momento da ação/omissão). III) Crimes em trânsito: são aqueles em que somente uma parte da conduta ocorre em um país, sem lesionar ou expor a situação de perigo bens jurídicos de pessoas que nele vivem. Exemplo: “A”, da Argentina, envia para os Estados Unidos uma missiva com ofensas a “B”, e essa carta passa pelo território brasileiro. QUANTO AO POTENCIAL OFENSIVO I) Crimes de mínimo potencial ofensivo: são os que não comportam a pena privativa de liberdade. No Brasil, enquadra-se nesse grupo a posse de droga para consumo pessoal, tipificada no art. 28 da Lei 11.343/2006, ao qual são cominadas as penas de advertência sobre os efeitos das drogas, prestação de serviços à comunidade e medida educativa de comparecimento à programa ou curso educativo. II) Crimes de menor potencial ofensivo: são aqueles cuja pena privativa de liberdade em abstrato não ultrapassa dois anos, cumulada ou não com multa. São assim definidos pelo art. 61 da Lei 9.099/1995, e ingressam na competência do Juizado Especial Criminal. O art. 98, I, da ConstituiçãoFederal faz menção às “infrações penais de menor potencial ofensivo”, expressão que também abrange todas as contravenções penais. III) Crimes de médio potencial ofensivo: são aqueles cuja pena mínima não ultrapassa um ano, independentemente do máximo da pena privativa de liberdade cominada. Tais delitos admitem a suspensão condicional do processo, na forma delineada pelo art. 89 da Lei 9.099/1995. IV) Crimes de elevado potencial ofensivo: possuem pena mínima superior a um ano, e, consequentemente, pena máxima acima de dois anos. Tais delitos não se compatibilizam com quaisquer dos benefícios elencados pela Lei 9.099/1995. V) Crimes de máximo potencial ofensivo: recebem tratamento diferenciado pela Constituição Federal. São os hediondos e equiparados – tráfico de drogas, tortura e o terrorismo (CF, art. 5.º, XLIII), bem como os delitos cujas penas não se submetem à prescrição, quais sejam, racismo (CF, art. 5.º, XLII) e ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático (CF, art. 5.º, XLIV). QUANTO A CLASSE SOCIAL DO AGENTE I) Crimes de rua ou crimes de colarinho azul: praticados pelas pessoas de classes sociais desfavorecidas, a exemplo dos furtos executados por miseráveis, andarilhos e mendigos. Esses delitos são cometidos aos olhos da sociedade, em locais NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 145 supervisionados pelo Estado (praças, parques, favelas etc.), e por essa razão são frequentemente objeto das instâncias de proteção (Polícia, Ministério Público e Poder Judiciário). Quando ficam alheios ao conhecimento do Poder Público, integram as cifras negras do Direito Penal. II) Crimes do colarinho branco (white collar crime): são cometidos por aqueles que gozam e abusam da elevada condição econômica e do poder daí decorrente, como é o caso dos delitos contra o sistema financeiro nacional (Lei 7.492/1986), de lavagem de capitais (Lei 9.613/1998) e contra a ordem econômica (Lei 8.176/1991), entre tantos outros. Nesses crimes socioeconômicos, surgem as “cifras douradas do Direito Penal”, indicativas da diferença apresentada entre a criminalidade real e a criminalidade conhecida enfrentada pelo Estado. Raramente existem registros envolvendo delitos dessa natureza, inviabilizando a persecução penal e acarretando a impunidade das pessoas privilegiadas no âmbito econômico. CRIME HABITUAL Crime habitual: delito que busca punir um conjunto de condutas praticadas pelo agente. Tipo penal criado para punir um estilo de vida. Ex: curandeirismo, casa de prostituição. Considerações: I) Não suporta tentativa; II) Cabe flagrante; Crime habitual impróprio: basta um único ato para a configuração do delito, porém a prática de mais de um ato constitui crime único. Ex: gestão temerária ou fraudulenta (Lei 7.492). CRIMES DE INTENÇÃO De tendência interna transcendente/intensificada: requerem um agir com ânimo, finalidade ou intenção adicional de obter um resultado ulterior ou uma ulterior atividade, distintos da realização do tipo penal. Possui as seguintes espécies: I) De resultado cortado: em que o resultado naturalístico (dispensável por se tratar de delito formal) depende, para sua configuração, de comportamento advindo de terceiros estranhos à execução do crime. Ex: art. 159, CP - extorsão mediante sequestro - a obtenção da vantagem (o resgate) depende dos familiares da vítima. II) Atrofiado ou Mutilado de dois atos: o resultado naturalístico (também dispensável) depende de um novo comportamento do agente. Ex: art. 291 - na modalidade adquirir petrecho - precisa-se de outro ato para a falsificação da moeda com prejuízo a alguém (resultado naturalístico). CRIMES DE TENDÊNCIA São aqueles em que a “tendência afetiva” do autor delimita a ação típica. Assim, a tipicidade pode ou não ocorrer em razão da atitude pessoal e interna do agente. Ex: toque do ginecologista na realização de uma consulta, que pode configurar mero agir profissional ou algum crime de natureza sexual, a depender da tendência (libidinosa ou não) do agente. No mesmo sentido é o crime de injúria, pois vai depender da real intenção do agente de ofender a honra ou de apenas criticar ou brincar. Aqui, a tendência do agente não transcende a conduta típica, como nos delitos de intenção. Este último possui como elementares intenções especiais (finalidade transcendente) expressas no próprio tipo. Ex.: no crime de extorsão mediante sequestro (art. 159), o tipo objetivo consiste em "sequestrar alguém". Por sua vez, o tipo subjetivo possui o dolo (consciência e vontade de realizar o tipo objetivo, que é sequestrar alguém) e o elemento subjetivo especial (com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate). Essa intenção especial transcende (vai além) do tipo objetivo (sequestrar alguém). OUTRAS CLASSIFICAÇÕES I) Crime progressivo: o agente, desde o início, pretende praticar o crime mais grave e para tanto, por meio de atos sucessivos, práticas gradativas e crescentes violações o bem jurídico. Há uma só infração penal. Desde o início, há a intenção de praticar o crime “maior”. DIFERE DE PROGRESSÃO CRIMINOSA, na qual o agente deseja NFPSS | RETA FINAL - MPMG Ciclos Método 146 inicialmente produzir um resultado menos grave, porém, após atingi-lo, decide prosseguir e reiniciar a sua agressão e produzir um resultado mais grave. Haverá mais de 1 infração penal. No início da conduta a intenção do agente é a prática do crime “menor”. Posteriormente sua intenção se altera para a prática do crime de maior gravidade. II) Crime de ação múltipla ou de conteúdo variado: é aquele que contém várias modalidades de condutas (núcleos no preceito primário) em sua descrição legal. Pode ser alternativo (prática de mais de uma conduta constitui crime único) ou cumulativo (prática de mais de uma conduta constitui mais de um crime). Ex: art. 22, parágrafo único, da Lei 7.492 (evasão de divisas) – proteção de bens jurídicos diversos. III) Crime vago: é aquele em que o sujeito passivo é uma coletividade de pessoas destituída de personalidade jurídica. IV) Crime gratuito é o praticado sem motivo conhecido, porque todo crime tem uma motivação. Não se confunde com o motivo fútil, definido como aquele de menor importância, desproporcional ao resultado provocado pelo crime. Com efeito, a ausência de motivo conhecido não deve ser equiparada ao motivo fútil. Destarte, o desconhecimento acerca do móvel do agente não deve ser colocado no mesmo nível do motivo de somenos importância. Há, todavia, adeptos de posição contrária, os quais alegam que, se um motivo ínfimo justifica a elevação da pena, com maior razão deve ser punida mais gravemente a infração penal imotivada. V) Crime de ímpeto: cometido sem premeditação, como decorrência de reação emocional repentina, tal como no homicídio privilegiado, cometido pelo agente sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima (CP, art. 121, § 1.º). Esses crimes são, normalmente, passionais (movidos pela paixão). VI) Crime exaurido: aquele em que o agente, depois de já alcançada a consumação, insiste na agressão ao bem jurídico. Não caracteriza novo crime, constituindo-se em desdobramento de uma conduta perfeita e acabada. Em outras palavras, é o crime que, depois de consumado, alcança suas consequências finais, as quais podem configurar um indiferente penal, como no falso testemunho (CP, art. 342), que se torna exaurido com o encerramento do julgamento relativo a este crime, ou então condição de maior punibilidade, como ocorre na resistência (CP, art. 329), em que a não execução do ato dá ensejo à forma qualificada do crime. VII) Crime de circulação é o praticado com o emprego de veículo automotor, a título de dolo ou de culpa, com a incidência do Código Penal ou do Código de Trânsito Brasileiro (Lei 9.503/1997). VIII) Crime atentado é aquele em que a lei pune de forma idêntica