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SAÚDE
INDÍGENA
INSTITUTO UNICLESS EDUCACIONAL
ANO 2022
SAÚDE INDÍGENA Página 2
INSTITUTO UNICLESS EDUCACIONAL
www.unicless.com.br
www.etuni.com.br
DIRETOR GERAL Prof. Fabrício Martins Rodrigues
COORDENADORA GERAL Profa. Priscila Alves Rodrigues
CONTEÚDO, REVISÃO E EQUIPE MULTIDISCIPLINAR
EDIÇÃO
DIAGRAMAÇÃO E CAPA INSTITUTO UNICLESS EDUCACIONAL.
Revisado
Fevereiro/2022
SAÚDE INDÍGENA Página 3
ROTEIRO DE APRENDIZAGEM
1. APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA
DISCIPLINA SAÚDE INDÍGENA
CURSO
Disciplina do núcleo comum dos cursos
técnicos em Saúde
PROFESSORA
TEMA DA AULA: Conceito e Modelo de Gestão da Saúde Indígena
FONTE BIBLIOGRÁFICA
BRASIL. Portaria nº 70, de 20 de janeiro de 2004. Aprova as
Diretrizes da Gestão da Política Nacional de Atenção à Saúde Indígena.
Ministério da Saúde. Brasília, DF, Saúde Legis - Sistema de Legislação da
Saúde. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2004/prt0070_20_01_
2004.html. Acesso em: 02 abr. 2020.
BRASIL. ARMANDO RAGGIO.Modelo de Gestão da Saúde Indígena.
São Paulo: Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP),
2009. 161 p. Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/modelo_gestao_saude_indi
gena.pdf. Acesso em: 02 abr. 2020.
EMÍLIA ALTINI (Brasil). Conselho Indigenista Missionário – Cimi (org.).
A Política de Atenção à Saúde Indígena no Brasil: Brasília: CIMI - CNBB,
2013. 28 p. Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB.
Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4253168/mod_resource/co
ntent/1/Brasil%20Cartilha%20Sa%C3%BAde%20Ind%C3%ADgena.p
df. Acesso em: 02 abr. 2020.
GARNELO, Luiza(Org.). Pontes, Ana Lúcia. Saúde Indígena: uma
introdução ao tema. Brasília: MEC-SECADI, 2012. Recurso online ISBN
978-85-7994-063-7. Disponível
em:http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_indigena_uma_i
ntroducao_tema.pdf>. Acesso em: 16 out. 2019.
SBMFC - SOCIEDADE BRASILEIRA DE MEDICINA DA FAMÍLIA E
COMUNIDADE (Brasil). Como funciona a organização dos serviços de
saúde indígena no Brasil. 2018. Disponível em:
https://www.sbmfc.org.br/noticias/como-funciona-a-organizacao-dos-
servicos-de-saude-indigena-no-brasil/. Acesso em: 02 abr. 2020.
SAÚDE INDÍGENA Página 4
Tópico 01: Direitos constitucionais dos índios
POLÍTICA INDIGENISTA
A expressão "política indigenista" foi utilizada por muito tempo como
sinônimo de toda e qualquer ação política governamental que tivesse as
populações indígenas como objeto. As diversas mudanças assistidas no campo do
indigenismo no últimos anos, no entanto, exigem que estabeleçamos uma definição
mais precisa e menos ambígua do que seja a política indigenista (ISA, 2018).
A história da política indigenista no Brasil república iniciou no princípio do
século XX, momento em que se questionava o extermínio dos povos indígenas no
Brasil, destacando-se o sertanista Cândido Rondon. Esse debate culminou na
criação, em 1910, do Serviço de Proteção aos Índios e Localização de
Trabalhadores Nacionais (SPI) (MS; FIOCRUZ, 2020).
Nesse contexto, a proteção ao "índio" significava transformá-los em
pequenos produtores rurais, no qual a educação era o caminho para sua
incorporação social. Em 1967, a Fundação Nacional do Índio (Funai) substituiu o
SPI como responsável pelos povos indígenas (MS; FIOCRUZ, 2020).
No início dos anos 1970, no contexto internacional surgiram uma
preocupação e críticas contra o extermínio dos povos indígenas, que resultaram
em cobranças aos Estados nacionais acerca da proteção dessas populações. Como
resposta a esse cenário, em 1973, aprovou-se o Estatuto do Índio (MS; FIOCRUZ,
2020).
Durante os anos de 1970, foram criadas entidades de defesa dos direitos
dos povos indígenas, como o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), em 1972; a
Comissão pela Criação do Parque Yanomami (CCPY), em 1978; a Associação
Nacional de Ação Indigenista (ANAI), em 1978; e a Comissão Pró-Índio (CPI) (MS;
FIOCRUZ, 2020).
No início dos anos 1980, diversas assembleias indígenas e a recém criada
União das Nações Indígenas (UNI) fizeram denúncias e propuseram uma nova
relação com o Estado nacional. O movimento indígena e seus aliados se juntaram
na Assembleia Constituinte, que repercutiu na aprovação do capítulo referente ao
"direito dos Índios" (MS; FIOCRUZ, 2020).
SAÚDE INDÍGENA Página 5
Os direitos constitucionais dos índios estão expressos num capítulo
específico da Constituição de 1988 (título VIII, "Da Ordem Social", capítulo VIII,
"Dos Índios"), além de outros dispositivos dispersos ao longo de seu texto e de um
artigo do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ISA, 2018).
Pela primeira vez no Brasil se reconhece aos indígenas o direito à diferença,
isto é, de serem povos originários e de permanecerem como tal indefinidamente.
Esses marcos são resultado de um processo de luta e resistência dos povos
indígenas e que levaram à nova relação entre eles e o Estado brasileiro (MS;
FIOCRUZ, 2020).
DIREITO À DIFERENÇA
Com os novos preceitos constitucionais, assegurou-se aos povos indígenas o
respeito à sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições. Pela
primeira vez, reconhece-se aos índios no Brasil o direito à diferença; isto é: de
serem índios e de permanecerem como tal indefinidamente (ISA, 2018).
Note-se que o direito à diferença não implica menos direito nem privilégios.
Daí porque a Constituição de 1988 tenha assegurado aos povos indígenas a
utilização das suas línguas e processos próprios de aprendizagem no ensino básico
(artigo 210, § 2º), inaugurando, assim, um novo tempo para as ações relativas à
educação escolar indígena (ISA, 2018).
Além disso, a Constituição permitiu que os índios, suas comunidades e
organizações, como qualquer pessoa física ou jurídica no Brasil, tenham
legitimidade para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses (ISA,
2018).
DIREITO À TERRA
A Constituição de 1988 estabeleceu, sobretudo, que os direitos dos índios
sobre as terras que tradicionalmente ocupam são de natureza originária. Isso
significa que são anteriores à formação do próprio Estado, existindo
independentemente de qualquer reconhecimento oficial (ISA, 2018).
O texto em vigor eleva também à categoria constitucional o próprio conceito
de Terras Indígenas, que assim se define, no parágrafo 1º. de seu artigo 231:
São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas
em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as
imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu
bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo
seus usos, costumes e tradições. (ISA, 2018)
SAÚDE INDÍGENA Página 6
Tópico 02: Conceito de Saúde Indígena
Segundo Martins (2017, p. 18) a saúde indígena tem se caracterizado como
um campo de atuação específico dentro da saúde coletiva tendo como
característica mais expressiva a interculturalidade. O locus da prática dos
profissionais da saúde voltada a população indígena é o contexto intercultural, um
espaço onde dois sistemas de cura com concepções e práticas diferentes são postos
a dialogar.
De um lado o sistema médico ocidental com seus saberes e práticas
ancorados no paradigma da racionalidade científica. Do outro, os sistemas
indígenas de saúde com suas práticas de cuidado e cura representantes de um
saber não validado e inscritas num universo cultural distinto (MARTINS, 2017, p.
18).
Os povos indígenas desde os tempos anteriores à colonização europeia
possuem seus sistemas tradicionais de saúde indígena, que articulam os diversos
aspectos da sua organização social e da sua cultura, a partir do uso das plantas
medicinais, rituais de cura, e práticas diversas de promoção da saúde, sob a
responsabilidade de pajés, curadores e parteiras tradicionais (EMÍLIA ALTINI,
2013, p. 4).
As medicinas tradicionais indígenas obedecem a níveis de causalidade e
itinerários terapêuticos distintos do modelo biomédico ocidental, e procuram
restabelecer o equilíbrio entre o indivíduo e o mundo. As medicinas tradicionais
são diferentes, mas não menosimportantes do que a medicina ocidental, e devem
estar sempre presentes em qualquer trabalho de saúde com povos de culturas
diferenciadas (EMÍLIA ALTINI, 2013, p.4).
Há décadas os povos indígenas do Brasil, com o apoio de seus aliados e
parceiros, vêm discutindo as políticas a serem implementadas para assegurar-lhes
vida e saúde. Muitas foram neste tempo as mobilizações do movimento indígena e
das organizações que atuam no campo da saúde, com o objetivo de exigir que o
Estado brasileiro estruture políticas que possibilitem a atenção diferenciada aos
povos indígenas (EMÍLIA ALTINI, 2013, p.5).
A 8ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986, foi um evento
fundamental para a reformulação da Política Nacional de Saúde, pois aprovou as
diretrizes básicas da Reforma Sanitária, implementando o SUS. Essa Conferência
foi uma etapa importante do processo denominado Movimento pela Reforma
Sanitária Brasileira, iniciado nos anos 1970, e que formulou os princípios e
diretrizes da reforma setorial da saúde no Brasil (MS; FIOCRUZ, 2020).
SAÚDE INDÍGENA Página 7
Como parte da 8ª CNS, foi realizada em 1986 a 1ª Conferência Nacional de
Proteção à Saúde do Índio (CNPSI). Nessa oportunidade, recomendou-se que a
saúde indígena fosse coordenada pelo Ministério da Saúde, tendo suas ações
operacionalizadas por meio de um subsistema de serviços de saúde vinculado ao
SUS (MS; FIOCRUZ, 2020).
Em 1992, durante a 9ª Conferência Nacional de Saúde, foi aprovado que a
organização da atenção à saúde indígena seguiria um modelo diferenciado, a partir
de Distritos Sanitários Especiais Indígenas, articulado ao SUS. Nessa época, havia
uma preocupação significativa com o discurso municipalista da reforma sanitária e
por isso lideranças indígenas e seus apoiadores fizeram uma grande articulação
para reforçar que a saúde indígena deveria ter uma estrutura organizada a partir
da lógica dos seus territórios, sob a coordenação da gestão federal.
Em 1994, a Funai retomou o controle das ações de saúde indígena (Decreto
n. 1.141/1994), foi estabelecido um impasse entre as duas instituições que só iria
ser resolvido em 1999.
Para concretizar o direito à saúde, em 31 de agosto de 1999, o Senado
Federal aprovou, sem emendas, o projeto de lei originário da Câmara dos
Deputados que criou o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena, a Lei Arouca nº
9.836/99 sancionada em setembro do mesmo ano, de autoria do então deputado
federal Sérgio Arouca, lei esta que pode ser considerada o marco na atenção à
saúde dos povos indígenas (BRASIL, 2009).
O Decreto n° 3.156 de 1999, regulamentou a Política Nacional de Atenção à
Saúde Indígena (PNASPI), delegando à Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) a
responsabilidade por geri-la e executá-la. Em 2010, por sua vez, o Decreto
Presidencial n° 7.336, de 19 de outubro de 2010, transferiu a responsabilidade
pela gestão do Subsistema para a Secretaria Especial de Atenção à Saúde Indígena
(SESAI), criada nesse mesmo ano no âmbito do Ministério da Saúde.
A Política Nacional de Atenção à Saúde Indígena (PNASPI), aprovada então
pela Portaria n° 254, de 31 de janeiro 2002, foi criada para compatibilizar a Lei
Orgânica da Saúde (Lei no 8.080/1990) com a Constituição Federal de 1988. O
objetivo da PNASPI é “garantir aos povos indígenas o acesso integral à saúde, de
acordo com os princípios e diretrizes do SUS, contemplando a diversidade social,
cultural, geográfica e política [...] reconhecendo a eficácia de sua medicina e o
direito desses povos à sua cultura” (BRASIL, 2002).
O propósito desta política é garantir aos povos indígenas o acesso à atenção
integral à saúde, de acordo com os princípios e diretrizes do Sistema Único de
Saúde, contemplando a diversidade social, cultural, geográfica, histórica e política
SAÚDE INDÍGENA Página 8
de modo a favorecer a superação dos fatores que tornam essa população mais
vulnerável aos agravos à saúde de maior magnitude e transcendência entre os
brasileiros, reconhecendo a eficácia de sua medicina e o direito desses povos à sua
cultura (BRASIL, 2002).
Tópico 03: Modelo de gestão da saúde indígena
O governo federal é responsável pela saúde dos povos indígenas, os quais
habitam o território nacional em unidades federadas estaduais e municipais,
autônomas e independentes entre si. Estes entes federados são solidários, na
gestão, no financiamento, na administração e na execução de ações de proteção,
promoção, prevenção, assistência, recuperação e reabilitação da saúde, conforme
dispõem os artigos 196 a 200 da Constituição Federal e as leis complementares
8080 e 8142 (BRASIL, 2009).
O modelo que se vislumbra mais adequado ao atendimento das
especificidades de saúde dos povos indígenas brasileiros é aquele baseado na
consolidação e aperfeiçoamento do que estabelece a lei 9638 de 1999 (BRASIL,
1999), qual seja o Modelo de Gestão com Autonomia dos Distritos Sanitários
Especiais Indígenas e Responsabilidade Sanitária (BRASIL, 2009).
Isto significa que, embora os indígenas - como os demais brasileiros -
tenham pleno direito de ir e vir e, portanto, de acesso ao Sistema Único de Saúde
onde quer que necessitem dele, a eles ainda deve ser prestado um serviço especial
de saúde, culturalmente adequado, com base nos territórios que habitam,
constituindo-se no seu domicílio sanitário propriamente dito sob direção de uma
autoridade designada com responsabilidade sanitária (BRASIL, 2009).
No caso do Brasil, a atenção primária à saúde indígena deve ser integrada
com a rede de serviços de saúde dos municípios e estados. É imprescindível, porém,
o fortalecimento das autoridades responsáveis pelos distritos sanitários especiais
indígenas de modo que possam bem representar os interesses da atenção à saúde
dos povos indígenas nas instâncias de negociação e pactuação do Sistema Único de
Saúde (BRASIL, 2009, p. 10).
Segundo o Art. 1º da Portaria 70, de 20 de Janeiro de 2004, o Modelo de
gestão de saúde indígena segue as seguintes diretrizes:
I - A Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas,
integrante da Política Nacional de Saúde, deve ser compatibilizada com
as determinações da Lei Orgânica da Saúde e com a Constituição Federal,
que reconhecem as especificidades étnicas e culturais e os direitos
sociais e territoriais dos povos indígenas;
SAÚDE INDÍGENA Página 9
II – O objetivo da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos
Indígenas é assegurar aos povos indígenas o acesso à atenção integral à
saúde, de modo a favorecer a superação dos fatores que tornam essa
população mais vulnerável aos agravos à saúde;
III - A implantação da Política Nacional de Atenção à Saúde Indígena
adotará modelo de organização dos serviços voltados para a proteção,
promoção e recuperação da saúde, que garanta aos povos indígenas o
exercício da cidadania;
IV – O Subsistema de Saúde Indígena fica organizado na forma de
Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI), delimitação geográfica
que contempla aspectos demográficos e etno-culturais, sob
responsabilidade do gestor federal;
V – Os Distritos Sanitários Especiais Indígenas devem contar com uma
rede interiorizada de serviços de atenção básica organizada de forma
hierarquizada e articulada com a rede de serviços do Sistema Único de
Saúde para garantir a assistência de média e alta complexidade;
VI - A estrutura do Distrito Sanitário Especial Indígena fica composta
pelos Postos de Saúde situados dentro das aldeias indígenas, que contam
com o trabalho do agente indígena de saúde (AIS) e do agente indígena
de saneamento (Aisan); pelos Pólos - Base com equipes
multidisciplinares de saúde indígena e pela Casa do Índio (CASAI) que
apoia as atividades de referência para o atendimento de média e alta
complexidade;
VII - O processo de estruturação da atenção à saúde dos povos indígenas
deve contar com a participação dos próprios índios, representados por
suas lideranças e organizações nos Conselhos de Saúde locais e distritais;
VIII – Na execução das ações de saúde dos povos indígenas deverão ser
estabelecidos indicadores de desempenho esistemas de informações
que permitam o controle e a avaliação das referidas ações; e
IX - A implantação da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos
Indígenas deve respeitar as culturas e valores de cada etnia, bem como
integrar as ações da medicina tradicional com as práticas de saúde
adotadas pelas comunidades indígenas. (BRASIL, 2004)
Tópico 04: Como funciona a organização dos serviços de saúde indígena no
Brasil
Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI)
É a área do Ministério da Saúde, responsável por coordenar a Política
Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas e todo o processo de gestão do
Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SASISUS), no âmbito do Sistema Único de
Saúde (SUS) em todo o território nacional. Seu surgimento originou-se da
necessidade de reformulação da gestão da saúde indígena no país, demanda essa
reivindicada pelos próprios indígenas durante as Conferências Nacionais de Saúde
Indígena (SBMFC, 2018).
SAÚDE INDÍGENA Página 10
Sua principal missão está relacionada ao exercício da gestão da saúde
indígena, no sentido de proteger, promover e recuperar a saúde dos povos
indígenas, bem como orientar o desenvolvimento das ações de atenção integral à
saúde indígena e de educação em saúde segundo as peculiaridades, o perfil
epidemiológico e a condição sanitária de cada Distrito Sanitário Especial Indígena
(DSEI) (SBMFC, 2018).
Distrito Sanitário Especial Indígena
A primeira diretriz da PNASPI (Política Nacional de Atenção à Saúde dos
Povos Indígenas) estabelece como um dos principais critérios a organização dos
serviços de atenção à saúde na forma de Distritos Sanitários Especiais Indígenas
localizados em diversas regiões do território nacional.
Os distritos sanitários especiais indígenas são considerados pontos de
referência para as atividades de planejamento, organização e operacionalização,
baseadas nas necessidades locais de saúde e com diretrizes de desenvolvimento
provenientes do nível central. A sua atual definição territorial leva em conta a
população, a área geográfica e o perfil epidemiológico; vias de acesso aos serviços;
relações sociais dos diferentes povos habitantes do território e a sociedade do
entorno; a distribuição demográfica dos povos indígenas e disponibilidade de
serviços, recursos humanos e infra-estrutura nos serviços de retaguarda
(MAGALHÃES, 2005 apud BRASIL, 2009).
O DSEI se baseia em um modelo de gestão e de atenção descentralizado,
com autonomia administrativa, orçamentária, financeira e com responsabilidade
sanitária. Nesse sentido, visa a implementação de um conjunto de ações de saúde
necessárias à atenção básica de forma que essas ações estejam articuladas com os
princípios do SUS, para referência e contra-referência (BRASIL, 2009).
A estrutura de atendimento nos DSEI conta com postos de saúde, com os
Polos-base e as Casas de Saúde Indígena (Casais). A rede de serviços tem como
base de organização serviços de saúde nas aldeias que contam com a atuação do
Agente Indígena de Saúde (AIS) com atividades vinculadas a um posto de saúde.
Esses postos de saúde tem uma estrutura física simplificada de cerca de 30m². Os
médicos presentes nos DSEIS fazem trabalho itinerante em várias aldeias, e a
maioria deles é vinculado ao Programa Mais Médicos (SBMFC, 2018).
A distribuição dos distritos sanitários nas unidades federadas obedeceu às
características culturais e distribuição das terras indígenas, bem como a critérios
demográficos que contribuíram para a definição de suas localizações e áreas de
abrangência. Assim, a FUNASA optou pela implantação de 35 Distritos Sanitários,
distribuídos conforme mostra o mapa da Figura abaixo:
SAÚDE INDÍGENA Página 11
Figura 01: Distribuição dos Distritos Sanitários no Brasil
Fonte: Funasa (2010)
SAÚDE INDÍGENA Página 12
Figura 02: Rede hierarquizada de Serviços de Saúde nos DSEI
Fonte: Ministério da Saúde (2017)
Pólos-Base
Os Pólos-Base se constituem na primeira referência para os AIS que atuam
nas aldeias. Podem estar localizados numa comunidade indígena ou num
município de referência, neste último caso correspondendo a uma unidade básica
de saúde já existente na rede de serviço daquele município (SBMFC, 2018).
São o equivalente às Unidades Básicas de Saúde na Estratégia de Saúde da
Família e contam com atuação de Equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena
(EMSI), composta principalmente por Médico, Enfermeiro, Dentista e Auxiliar de
Enfermagem (SBMFC, 2018). Existem dois tipos, que são classificados de acordo
com a complexidade de ações que fornece:
Polo Base I: localização em terras indígenas; capacitação, reciclagem e
supervisão dos Agentes Indígenas de Saúde (AIS) e auxiliares de
enfermagem; coleta de material para exame; esterilização; imunizações
(quando se tratar de atividades de rotina); coleta e análise sistêmica de
dados; investigação epidemiológica; prevenção de câncer ginecológico
(exame/coleta/consulta).
Polo Base II: localiza-se no município de referência; estrutura física é de
apoio técnico e administrativo à Equipe Multidisciplinar;
armazenamento de medicamentos; armazenamento de material de
SAÚDE INDÍGENA Página 13
deslocamento para outras áreas indígenas; comunicação via rádio;
investigação epidemiológica; elaboração de relatórios de campo e
sistema de informação; coleta, análise e sistematização de dados;
planejamento das ações das equipes multidisciplinares na área de
abrangência; organização do processo de vacinação na área de
abrangência; administração. (SBMFC, 2018)
Casas de Saúde do Índio (Casais)
As Casas de Saúde do Índio (Casais) são locais de recepção e apoio ao índio,
que vem referenciado da aldeia/Pólo-Base. Localizadas em municípios de
referência tem como função facilitarem o acesso da população indígena ao
atendimento secundário e/ou terciário, servindo de apoio entre a aldeia e a rede
de serviços do SUS, através de:
- mecanismos de referência e contra-referência com a rede do SUS;
- serviço de tradução para os que não falam português
- realização de contra-referência com os Distritos Sanitários e
articulando o retorno dos pacientes e acompanhantes aos seus
domicílios, por ocasião da alta;
- recebimento de pacientes e seus acompanhantes encaminhados pelos
DSEI;
- fornecimento de alojamento e alimentação dos pacientes e seus
acompanhantes, durante o período de tratamento;
- prestação da assistência de enfermagem aos pacientes pós-
hospitalização e em fase de recuperação;
- acompanhamento dos pacientes para consultas, exames subsidiários e
internações hospitalares. (SBMFC, 2018)
Figura 03: Modelo de gestão do Subsistema de Saúde Indígena
Fonte: Garnelo (2012, p. 26)
SAÚDE INDÍGENA Página 14
TEMA DA AULA: O profissional de saúde indígena
FONTE
BIBLIOGRÁFICA
EMÍLIA ALTINI (Brasil). Conselho Indigenista Missionário – Cimi (org.). A
Política de Atenção à Saúde Indígena no Brasil: Brasília: CIMI - CNBB, 2013.
28 p. Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB. Disponível em:
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4253168/mod_resource/content/
1/Brasil%20Cartilha%20Sa%C3%BAde%20Ind%C3%ADgena.pdf. Acesso
em: 02 abr. 2020.
GARNELO, Luiza(Org.). Pontes, Ana Lúcia. Saúde Indígena: uma introdução ao
tema. Brasília: MEC-SECADI, 2012. Recurso online ISBN 978-85-7994-063-7.
Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_indigena_uma_introduca
o_tema.pdf. Acesso em: 16 out. 2019.
MARTINS, Juliana Cláudia Leal. O trabalho do enfermeiro na Saúde Indígena:
desenvolvendo competências para a atuação no contexto intercultural. 2017.
178 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Ciências, Faculdade de Saúde
Pública, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017. Disponível em:
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/6/6135/tde-29082017-
152141/publico/JulianaClaudiaLealMartinsORIGINAL.pdf. Acesso em: 02 abr.
2020.
SBMFC - SOCIEDADE BRASILEIRA DE MEDICINA DA FAMÍLIA E
COMUNIDADE (Brasil). Como funciona a organização dos serviços de saúde
indígena no Brasil. 2018. Disponível em:
https://www.sbmfc.org.br/noticias/como-funciona-a-organizacao-dos-servicos-de-saude-indigena-no-brasil/. Acesso em: 02 abr. 2020.
SILVA, Nair Chase da; GONÇALVES, Maria Jacirema Ferreira; LOPES NETO,
David. Enfermagem em saúde indígena: aplicando as diretrizes curriculares.
Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 56, n. 4, p.388-391, ago.
2003. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s0034-
71672003000400016. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/reben/v56n4/a16v56n4.pdf. Acesso em: 02 abr.
2020.
Tópico 01: A singularidade do trabalho na saúde indígena
Conforme Martins (2017) a presença sistemática dos profissionais de
enfermagem na saúde indígena se inicia juntamente com a primeira tentativa de
assistência estruturada dentro das áreas indígenas, na década de 1970, no
contexto da criação do serviço de Equipes Volantes de Saúde (EVS).
Com a implantação do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SASI-SUS)
em 1999, o enfermeiro passa a estar mais presente nas áreas indígenas integrando
as Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena (EMSI). Essa mudança na fixação
de profissionais e na orientação do modelo assistencial vem acompanhada de uma
nova proposta para atuação do enfermeiro (MARTINS, 2017).
SAÚDE INDÍGENA Página 15
Na saúde indígena, a finalidade do trabalho – produção de saúde – adquire
novos contornos, sob a ótica das concepções e práticas tradicionais indígenas,
perspectivas muito diferentes daquelas do modelo biomédico. As demandas de
saúde são determinadas social, temporal e historicamente nas formas de contato
com a sociedade nacional (BRASIL, 1986). Nesse sentido, não é aconselhável ao
profissional ignorar a história de contato, bem como, o contexto social, político e
econômico, que trazem implicações diretas sobre as condições de vida e de saúde
desses povos (BRASIL, 2009).
Segundo Martins (2017) dentro das áreas indígenas os profissionais
também sentem o impacto do espaço físico para o trabalho. De forma geral, a
infraestrutura para o trabalho é insuficiente, marcada pela falta de equipamentos e
de materiais necessários. Nas aldeias, nem sempre é possível garantir espaço físico
específico e adequado para a realização de procedimentos. Outro fator a ser
considerado é a fragilidade dos limites legais da atuação profissional no trabalho
dentro de área indígena, como apontada na III Conferência Nacional de Saúde
Indígena (CNSI).
[...] as condições de trabalho na atenção à saúde nas aldeias levam, com
certa frequência, à ruptura dos limites de atuação legalmente
estabelecidos para cada categoria, tornando os profissionais vulneráveis
a sanções dos conselhos que regulamentam as profissões (FUNASA, 2001,
p.16 apud MARTINS, 2017).
A formação profissional para atuação voltada à saúde indígena constitui
ainda um desafio e a prática profissional tem sido reveladora das lacunas do
processo formativo. Muitos profissionais de saúde são enviados para as terras
indígenas sem orientações sobre o cotidiano em uma aldeia e sobre a prática no
atendimento em saúde. São muito frequentes os relatos de vivências relacionadas
aos estranhamentos e conflitos ocorridos neste espaço de trabalho tão específico
(MARTINS, 2017).
No caso da saúde indígena, a formação de profissionais sempre ocorreu
de modo espontâneo e autodidata. A maioria dos universitários buscava
apoio teórico no campo da saúde coletiva e antropologia. A oferta de
cursos formais de especialização e pós- graduação na área ainda é
escassa, mas algumas universidades estão começando a incluir a
temática em seus currículos de saúde coletiva. (OLIVEIRA, 2014, p.5
apud MARTINS, 2017)
Para a atuação dos profissionais em saúde indígena é essencial a
compreensão do processo saúde-doença de forma ampliada, incluindo o aspecto
etnico-cultural, e que o profissional busque se atualizar e adquirir novos
conhecimentos (SILVA; LOPES; NETO, 2003, p. 391).
SAÚDE INDÍGENA Página 16
O profissional precisa estar preparado para atuar na atenção básica à saúde
indígena, identificar fatores de risco e atuar preventivamente, planejar e
implementar, em conjunto com a equipe as ações e programas, realizar
acompanhamento, supervisão e avaliação do agente indígena de saúde e do
auxiliar de enfermagem (SILVA; LOPES; NETO, 2003, p. 391).
Segundo Silva, Lopes e Neto (2003, p. 391) considerando a dificuldade de
compreensão das lideranças indígenas sobre a competência de cada profissional de
saúde que desempenha as atividades no pólo-base, é necessário que numa
primeira aproximação, os profissionais definam seus objetivos de ação e os
comunique à clientela.
A execução das ações de atenção primária e coordenação no acesso a outros
serviços, será feita pelas Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígena (EMSI) nos
Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI) garantindo a integralidade da
atenção. Na EMSI, o técnico e o auxiliar de enfermagem, depois do AIS, são os
profissionais mais próximos da população. O papel de facilitador e interlocutor dos
técnicos e auxiliares permitia o estabelecimento de vínculos com a população
atendida, o que é um fator positivo quando se trata da atenção primária.
Os profissionais também precisam aprender a dialogar e a atuar com outros
atores e práticas reconhecendo a sua legitimidade. É preciso haver um profissional
com funções análogas às dos Agentes Comunitários de Saúde e que, como ele, more
no seu local de atuação, mas que tenha algumas especificidades: ele deve também
traduzir idiomas para que as equipes e as comunidades se entendam, ser uma
ponte entre suas diferentes concepções de saúde e de mundo e ter
responsabilidades como o único profissional de saúde do local quando o resto da
equipe não puder estar por perto (TORRES, 2010).
Esse é o agente indígena de saúde (AIS) e seu trabalho é essencial para o
Subsistema de Atenção à Saúde Indígena. Dentro das equipes, o Agente Indígena de
Saúde (AIS) é o principal representante desse grupo. Definido, com frequência,
como o interlocutor entre a equipe de saúde (da qual é integrante) e a comunidade,
o AIS ocupa uma posição muito singular nesse processo de trabalho (MARTINS,
2017).
Tópico 02: Os Agentes Indígenas de Saúde e a formação de profissionais
indígenas
A formação dos profissionais indígenas das próprias comunidades, com
destaque para a categoria dos Agentes Indígenas de Saúde (AIS), é o principal
alicerce do novo modelo assistencial proposto, e o elo fundamental entre o
SAÚDE INDÍGENA Página 17
conhecimento tradicional e o sistema oficial de saúde com vistas à comunicação
intercultural (EMÍLIA ALTINI, 2013).
Os Agentes Indígenas de Saúde (AIS) são essenciais no novo modelo de
atenção à saúde. Cada distrito deve estar organizado em uma rede de serviços de
saúde dentro de seu território, integrada e hierarquizada, com complexidade
crescente e articulada com a rede do SUS. A constituição da rede de serviços tem
como base de organização os serviços de saúde existentes nas aldeias, e deve ser
adequada e ampliada de acordo com as necessidades locais (EMÍLIA ALTINI, 2013).
Nas aldeias, a atenção básica será realizada por intermédio dos Agentes
Indígenas de Saúde, nos postos de saúde, e pelas equipes multidisciplinares
periodicamente, conforme planejamento das suas ações (FUNASA, 2002).
Para sua formação, uma série de competências devem ser desenvolvidas no
em um curso de qualificação de AIS contemplando os princípios da
interculturalidade, estimulando a apropriação de saberes indígenas e não
indígenas, que, de forma conjunta, promoverão a construção de novos
conhecimentos no cotidiano do processo de trabalho desses agentes (GARNELO et
al., 2009).
As competências delineadas para a qualificação do AIS estão apresentadas a
seguir:
 Desenvolver, em equipe, ações de promoção da saúde e cidadania,
considerando o território socioambiental, os contextos interculturais e
intersetoriais e a qualidade de vida da população indígena.
 Realizar, em equipe, ações de prevenção de doenças e agravos, e de
recuperação da saúde, fundamentadas no ciclo de vida, no perfil
epidemiológico da população indígena, nas diretrizes e protocolosda atenção
básica, articuladas aos cuidados e práticas tradicionais.
 Produzir e analisar informações, fundamentadas no modelo de vigilância em
saúde, incorporando a percepção da comunidade indígena sobre o processo
saúde-doença, para subsidiar o planejamento das ações em equipe e o controle
social.
 Organizar e desenvolver o processo de trabalho em equipe, considerando seu
espaço de atuação, a área de abrangência de seu Polo-base, a organização do
DSEI, a articulação intersetorial e a rede de referência do SUS, com base na
atenção diferenciada à saúde.
SAÚDE INDÍGENA Página 18
 Realizar ações de primeiros socorros, considerando também as práticas e
saberes tradicionais, visando à preservação da vida.
Cada comunidade deve contar com a atuação de um Agente Indígena de
Saúde, com atividades vinculadas a um posto de saúde, além de Agentes Indígenas
de Microscopia, Agentes Indígenas de Endemias, Agentes Indígenas de Saneamento,
Agentes Indígenas de Saúde Bucal, e Técnicos de Enfermagem, de Laboratório e de
Higiene Dental Indígenas, levando em conta a realidade local (EMÍLIA ALTINI,
2013).
Ao longo do período da pandemia, o Ministério da Saúde tem desenvolvido
estratégias para aprimorar o atendimento e uma das mais recentes é a criação da
Unidade de Atenção Primária Indígena (UAPI). As unidades visam fortalecer os
serviços de atenção primária à saúde indígena no atendimento desta população
proporcionando o acolhimento dos casos suspeitos de Síndrome Gripal e
identificação precoce de casos de coronavírus (BRASIL, 2020).
ATRIBUIÇÕES ESPECÍFICAS DOS AIS NO ENFRENTAMENTO A COVID-19
1. Facilitar e intermediar a comunicação da EMSI com a comunidade.
2. Realizar busca ativa de suspeitos de SG.
3. Comunicar a EMSI quando identificar os casos suspeitos o mais breve possível.
4. Auxiliar a triagem de casos suspeitos durante os atendimentos.
5. Identificar pacientes em situação de agravamento do seu quadro clínico e que
necessitem de avaliação ou remoção.
6. Monitorar a chegada de pessoas na aldeia, para identificar sintomáticos e
promover as orientações adequadas.
7. Identificar as circunstâncias em que não é possível manter o distanciamento
entre as pessoas.
8. Promover, junto com os membros da EMSI, ações educativas para evitar a
transmissão da doença, que sejam adequadas para a realidade local.
9. Apoiar, junto com a EMSI, o monitoramento dos casos suspeitos ou
confirmados leves, que se encontram em resguardo em suas moradias.
10. Manter as ações de promoção, prevenção de agravos e oferta de cuidado
dentro de sua competência.
11. Priorizar visitas às pessoas que apresentam maior vulnerabilidade clínica
social e nutricional.
12. Identificar famílias ou comunidades em situação de insegurança alimentar ou
com precariedade no acesso ao saneamento básico.
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Tópico 03: Aceitação de intervenções médicas versus culturais
Todas as sociedades humanas dispõem de seus próprios sistemas de
interpretação, prevenção e de tratamento das doenças. Esses sistemas tradicionais
de saúde são, ainda hoje, o principal recurso de atenção à saúde da população
indígena, apesar da presença de estruturas de saúde ocidentais (SBMFC, 2018).
Sendo parte integrante da cultura, esses sistemas condicionam a relação dos
indivíduos com a saúde e a doença e influem na relação com os serviços e os
profissionais de saúde (procura ou não dos serviços de saúde, aceitabilidade das
ações e projetos de saúde, compreensão das mensagens de educação para a saúde)
e na interpretação dos casos de doenças (SBMFC, 2018).
Os sistemas tradicionais indígenas de saúde são baseados em uma
abordagem holística de saúde, cujo princípio é a harmonia de indivíduos, famílias e
comunidades com o universo que os rodeia. As práticas de cura respondem a uma
lógica interna de cada comunidade indígena e são o produto de sua relação
particular com o mundo espiritual e os seres do ambiente em que vivem (SBMFC,
2018).
Geralmente, o índio doente passa primeiro com o pajé, que indica e realiza a
conduta que julga apropriada, como tratamento com ervas, banhos ou fumaça. Ele
também orienta se a doença é “de branco” ou “doença de índio”, voltada mais para
o lado espiritual, do pensamento mágico-religioso (SBMFC, 2018).
Quando a doença é “de branco”, o paciente faz o tratamento com a equipe da
UBS, mas mantém o tratamento concomitante com o pajé. Sendo parte integrante
da cultura, esses sistemas condicionam a relação dos indivíduos com a saúde e a
doença e influem na relação com os serviços e os profissionais de saúde (procura
ou não dos serviços de saúde, aceitabilidade das ações e projetos de saúde,
compreensão das mensagens de educação para a saúde) e na interpretação dos
casos de doenças (SBMFC, 2018).
O trabalho do médico ocidental deve ir no sentido de complementar e não
suplementar a medicina tradicional indígena, o entendimento de um sistema de
autonomia mais coletiva que individual, ajuda o médico ocidental a entender esse
sistema (SBMFC, 2018).
Trabalhar com o conhecimento tradicional como as plantas medicinais,
também pode contribuir para a eficácia das ações, estreita a relação com os
indígenas que devem ser valorizados na prática de atenção à saúde, fortalece a
cultura dessas populações e resgata o saber acumulado (SILVA; LOPES; NETO,
2003, p. 391).
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TEMA DA AULA: Um olhar sobre a população indígena atendida no subsistema de saúde
indígena
FONTE BIBLIOGRÁFICA
GARNELO, Luiza(Org.). Pontes, Ana Lúcia. Saúde Indígena: uma
introdução ao tema. Brasília: MEC-SECADI, 2012. Recurso online ISBN
978-85-7994-063-7. Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_indigena_uma_intr
oducao_tema.pdf. Acesso em: 16 out. 2019.
ISA (ed.). Povos Indígenas no Brasil: Quantos são?. 2019. Disponível
em: https://pib.socioambiental.org/pt/Quantos_s%C3%A3o%3F.
Acesso em: 02 abr. 2020.
Tópico 01: Quantos são?
Estima-se que existam hoje no mundo pelo menos 5 mil povos indígenas,
somando mais de 370 milhões de pessoas (IWGIA, 2015). No Brasil, até meados
dos anos 1970, acreditava-se que o desaparecimento dos povos indígenas seria
algo inevitável (ISA, 2019).
Nos anos 1980, verificou-se uma tendência de reversão da curva
demográfica e, desde então, a população indígena no país tem crescido de forma
constante, indicando uma retomada demográfica por parte da maioria desses
povos, embora povos específicos tenham diminuído demograficamente e alguns
estejam até ameaçados de extinção. Na listagem de povos indígenas no Brasil
elaborada pelo ISA, sete deles têm populações entre 5 e 40 indivíduos (ISA, 2019).
Dos 256 povos listados pelo ISA, 48 têm parte de sua população residindo
em outro(s) país(es). Quando há informações demográficas a respeito, essas
parcelas são contabilizadas e apresentadas separadamente, segundo a fonte da
informação, e não contam na estimativa global para o Brasil (ISA, 2019).
Segundo o Censo IBGE 2010, os mais de 305 povos indígenas somam
896.917 pessoas. Destes, 324.834 vivem em cidades e 572.083 em áreas rurais, o
que corresponde aproximadamente a 0,47% da população total do país (ISA, 2019).
Também foram identificadas 505 terras indígenas, cujo processo de
identificação teve a parceria da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) no
aperfeiçoamento da cartografia (CENSO, 2010).
Essas terras representam 12,5% do território brasileiro (106,7 milhões de
hectares), onde residiam 517,4 mil indígenas (57,7% do total). Apenas seis terras
tinham mais de 10 mil indígenas, 107 tinham entre mais de mil e 10 mil, 291
tinham entre mais de cem e mil e em 83 residiam até cem indígenas. A terra com
maior população indígena é Yanomami, no Amazonas e em Roraima, com 25,7 mil
indígenas (CENSO, 2010).
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Tópico 02: O que são Terras Indígenas?
No Brasil, quando se fala em Terras Indígenas, há que se ter em mente, em
primeiro lugar, a definição e alguns conceitos jurídicos materializados na
Constituição Federal de 1988 e também na legislação específica, em especial no
chamadoEstatuto do Índio (Lei 6.001/73), que está sendo revisto pelo Congresso
Nacional (ISA, 2019).
A Constituição de 1988 consagrou o princípio de que os índios são os
primeiros e naturais senhores da terra. Esta é a fonte primária de seu direito, que é
anterior a qualquer outro. Conseqüentemente, o direito dos índios a uma terra
determinada independe de reconhecimento formal (ISA, 2019).
A definição de terras tradicionalmente ocupadas pelos índios encontra-se
no parágrafo primeiro do artigo 231 da Constituição Federal: são aquelas "por eles
habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as
imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-
estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seu usos,
costumes e tradições" (ISA, 2019).
No artigo 20 está estabelecido que essas terras são bens da União, sendo
reconhecidos aos índios a posse permanente e o usufruto exclusivo das riquezas do
solo, dos rios e dos lagos nelas existentes (ISA, 2019).
Não obstante, também por força da Constituição, o Poder Público está
obrigado a promover tal reconhecimento. Sempre que uma comunidade indígena
ocupar determinada área nos moldes do artigo 231, o Estado terá que delimitá-la e
realizar a demarcação física dos seus limites. A própria Constituição estabeleceu
um prazo para a demarcação de todas as Terras Indígenas (TIs): 5 de outubro de
1993. Contudo, isso não ocorreu, e as TIs no Brasil encontram-se em diferentes
situações jurídicas (ISA, 2019).
Grande parte das Terras Indígenas no Brasil sofre invasões de garimpeiros,
pescadores, caçadores, madeireiras e posseiros. Outras são cortadas por estradas,
ferrovias, linhas de transmissão ou têm porções inundadas por usinas hidrelétricas.
Freqüentemente, os índios colhem resultados perversos do que acontece mesmo
fora de suas terras, nas regiões que as cercam: poluição de rios por agrotóxicos,
desmatamentos etc (ISA, 2019).
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Tópico 03: Quem são? Povos Indígenas em Roraima (RR)
Na região Norte do país, mais especificamente em Roraima (RR) são
conhecidos oito Povos Indígenas, conforme figura abaixo:
Figura 04: Povos Indígenas em Roraima (RR)
Fonte: ISA (2019).
Ingarikó
Os Ingarikó habitam na circunvizinhança do Monte Roraima, marco da
tríplice fronteira entre Brasil, Guiana e Venezuela, e, sobretudo, toco da mitológica
árvore da vida, que foi cortada no início dos tempos (ISA, 2019).
Ocupando a porção alta da Terra Indígena Raposa Serra do Sol,
permaneceram livres dos vários recrutamentos de mão-de-obra indígena que têm
afetado, há séculos, povos vizinhos ao sul. Os contatos com os seus parentes na
Guiana são hoje, assim como antigamente, bastante frequentes (ISA, 2019).
Fonte: ISA (2019).
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Waimiri Atroari
Os Waimiri Atroari, durante muito tempo, estiveram presentes no
imaginário do povo brasileiro como um povo guerreiro, que enfrentava e matava a
todos que tentavam entrar em seu território. Essa imagem contribuiu para que
autoridades governamentais transferissem a incumbência das obras da rodovia BR
174 (Manaus-Boa Vista) ao Exército Brasileiro, que utilizou de forças militares
repressivas para conter os indígenas. Esse enfrentamento culminou na quase
extinção do povo kinja (autodenominação waimiri atroari).
A interferência em suas terras ainda foi agravada devido a instalação de
uma empresa mineradora e o alagamento de parte de seu território pela
construção de uma hidrelétrica. Mas os Waimiri Atroari enfrentaram a situação,
negociaram com os brancos e hoje têm assegurados os limites de sua terra, o vigor
de sua cultura e o crescimento de sua gente (ISA, 2019).
Fonte: ISA (2019).
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Macuxi
Habitantes de uma região de fronteira, os Macuxi vêm enfrentando desde
pelo menos o século XVIII situações adversas em razão da ocupação não-indígena
na região, marcadas primeiramente por aldeamentos e migrações forçadas, depois
pelo avanço de frentes extrativistas e pecuaristas e, mais recentemente, a
incidência de garimpeiros e a proliferação de grileiros em suas terras.
Protagonizaram nas ultimas décadas, juntamente com outros povos da região, uma
luta incessante pela homologação da TI Raposa Serra do Sol, ocorrida em 2005, e
posteriormente pela desintrusão dos ocupantes não-índios, finalmente resolvida
com o julgamento pelo Supremo Tribunal Federal em 2009, que confirmou a
homologação e a retirada dos ocupantes não-índios (ISA, 2019).
Fonte: ISA (2019).
Ye'kuana
Os Ye'kuana, antigos viajantes na Amazônia, mostram como a articulação de
espaços diferentes, dentro e fora de seu território tradicional, cria uma dinâmica
que longe de descaracterizar sua identidade, pode favorecer um sistema de criação
e manutenção de redes de apoio, de trocas econômicas, de informação e de
projetos econômicos e sociais (ISA, 2019).
Fonte: ISA (2019).
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Wapichana
Além do vale do rio Uraricoera, os Wapichana ocupam tradicionalmente o
vale do rio Tacutu, ao lado dos Macuxi, os quais habitam também a região de serras
mais a leste de Roraima. Atualmente, os Wapichana são uma população total de
cerca de 13 mil indivíduos, habitando o interflúvio dos rios Branco e Rupununi, na
fronteira entre o Brasil e a Guiana, e constituem a maior população de falantes de
Aruak no norte-amazônico (ISA, 2019).
Fonte: ISA (2019).
Waiwai
Os índios que se identificam e são identificados como Waiwai encontram-se
dispersos em extensas partes da região das Guianas. São falantes, em sua maioria,
da família lingüística Karib. Constituíram-se a partir de processos seculares de
troca e de redes de relações na região. Em tal rede, são historicamente
reconhecidos como especialistas no fornecimento de sofisticados raladores de
mandioca, papagaios falantes e cães de caça. Têm fama até os dias de hoje de
grandes viajantes em suas expedições em busca de “povos não vistos” (enîhnî
komo).
Fonte: ISA (2019).
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Taurepang
É na savana venezuelana onde encontra-se a maioria dos Taurepang. Os que
habitam o lado brasileiro da fronteira com a Venezuela e a Guiana Inglesa estão em
aldeias nas Terras Indígenas São Marcos e Raposa Serra do Sol, nas quais também
habitam outras etnias. Desde as primeiras décadas do século XX, foram acossados
pela expansão da pecuária no lavrado de Roraima. A presença não-indígena em
suas terras intensificou-se com a construção da BR-174, na década de 1970,
cortando a TI São Marcos. Em 2001, uma linha de transmissão de energia foi ainda
implantada ao longo dessa rodovia. Em contrapartida, conseguiram a saída dos
fazendeiros, mas vivem o impasse de ter a sede de um município no interior da TI
(ISA, 2019).
Fonte: ISA (2019).
Patamona
Os Patamona (também conhecidos como Ingarikó ou Kapon) são um povo
indígena que vive na Guiana e no Brasil. Com uma população total de 5628 pessoas,
fazem parte da família linguística Karib.
Fonte: ISA (2019).
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Tópico 3.1: Quem são? Povos Indígenas no Amazonas (AM)
Apurinã
Arapaso
Banawá
Baniwa
Bará
Barasana
Baré
Dâw
Deni
Desana
Hupda
Jamamadi
Jarawara
Jiahui
Juma
Kaixana
Kambeba
Kanamari
Karapanã
Katuenayana
Katukina do
Rio Biá
Katxuyana
Kaxarari
Kokama
Koripako
Korubo
Kotiria
Kubeo
Kulina
Kulina Pano
Makuna
Maraguá
Marubo
Matis
Matsés
Miranha
Munduruku
Mura
Nadöb
Parintintin
Paumari
Pirahã
Pira-tapuya
Sateré Mawé
Siriano
Suruwaha
Tariana
Tenharim
Ticuna
Torá
Tsohom-
dyapa
Tukano
Tuyuka
Waiwai
Warekena
Witoto
Yanomami
Yuhupde
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Apurinã
Os Apurinã vivem dispersos em locais próximos às margens do Purus. Sua
história é fortemente marcada pela violência dos dois ciclos da borracha na região
amazônica. Hoje lutam pelos direitos a algumas de suas terras que ainda não foram
reconhecidas e que são recorrentemente invadidas por madeireiros (ISA, 2019).
Alguns afirmam que Apurinã é uma palavra da língua Jamamadi. A língua
mais próxima seria a dos Manchineri, ou Piro, que habitam a bacia do alto Purusem
território brasileiro e, no Peru, principalmente a bacia do baixo Urubamba (ISA,
2019).
Banawá
Os Banawá ocupam a terra firme localizada entre os rios Piranha e Purus. A
distribuição atual das aldeias dos Banawá restringe-se às imediações do rio Purus,
tal como as dos Jarawara e Jamamadi. Pertencem, também, à família lingüística
Arawá assim como os outros habitantes da região localizada no médio rio Purus e
afluentes (ISA, 2019).
Depois de terem seu território invadido desde as últimas décadas do séc.
XIX, durante o ciclo da borracha na Amazônia, nos anos 1990 o Estado finalmente
reconheceu seus direitos fundiários, mas até hoje enfrentam invasões de
madeireiros e seringalistas (ISA, 2019).
Baniwa
Os Baniwa vivem na fronteira do Brasil com a Colômbia e Venezuela, em
aldeias localizadas às margens do Rio Içana e seus afluentes Cuiari, Aiairi e Cubate,
além de comunidades no Alto Rio Negro/Guainía e nos centros urbanos de São
Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel e Barcelos (AM). Já os Kuripako, que falam um
dialeto da língua baniwa, vivem na Colômbia e no Alto Içana (ISA, 2019).
Ambas etnias aparentadas são exímias na confecção de cestaria de arumã,
cuja arte milenar lhes foi ensinada pelos heróis criadores e que hoje vem sendo
comercializada com o mercado brasileiro. Recentemente, têm ainda se destacado
pela participação ativa no movimento indígena da região. Esta corresponde a um
complexo cultural de 22 etnias indígenas diferentes, mas articuladas em uma rede
de trocas e em grande medida identificadas no que diz respeito à organização
social, cultura material e visão de mundo (ISA, 2019).
Etnias do Rio Uaupés
Os índios que vivem às margens do Rio Uaupés e seus afluentes – Tiquié,
Papuri, Querari e outros menores – integram atualmente 17 etnias, muitas das
quais vivem também na Colômbia, na mesma bacia fluvial e na bacia do Rio
Apapóris (tributário do Japurá), cujo principal afluente é o Rio Pira-Paraná.
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Jamamadi
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Manchineri
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Jarawara
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Jamamadi
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Esses grupos indígenas falam línguas da família Tukano Oriental (apenas
os Tariana têm origem Aruak) e participam de uma ampla rede de trocas, que
incluem casamentos, rituais e comércio, compondo um conjunto sócio-cultural
definido, comumente chamado de “sistema social do Uaupés/Pira-Paraná”. Este,
por sua vez, faz parte de uma área cultural mais ampla, abarcando populações de
língua Aruak eMaku (ISA, 2019).
As etnias que estão na região do Rio Uaupés são, além
dos Arapaso, Bará, Barasana, Desana, Karapanã, Kubeo, Makuna, Mirity-
tapuya, Pira-tapuya, Siriano, Tariana, Tukano, Tuyuca, Kotiria, Tatuyo,
Taiwano, Yuruti (as três últimas habitam só na Colômbia). Estão no noroeste da
Amazônia, às margens do Rio Uaupés e seus afluentes (ISA, 2019).
A família lingüística Tukano Oriental engloba pelo menos 16 línguas, dentre
as quais o Tukano propriamente dito é a que possui maior número de falantes. Ela
é usada não só pelos Tukano, mas também pelos outros grupos do Uaupés
brasileiro e em seus afluentes Tiquié e Papuri. Desse modo, o Tukano passou a ser
empregado como língua franca, permitindo a comunicação entre povos com
línguas paternas bem diferenciadas e, em muitos casos, não compreensíveis entre
si (ISA, 2019).
Etnias do Rio Xié
Os índios Baré e Werekena (ou Warekena) vivem principalmente ao longo
do Rio Xié e alto curso do Rio Negro, para onde grande parte deles migrou
compulsoriamente em razão do contato com os não-índios, cuja história foi
marcada pela violência e a exploração do trabalho extrativista. Oriundos da família
lingüística aruak, hoje falam uma língua franca, o nheengatu, difundida pelos
Carmelitas no período colonial. Integram a área cultural conhecida como Noroeste
Amazônico (ISA, 2019).
A área formada pelo Rio Xié e alto curso do Rio Negro, acima da foz do
Uaupés, é ocupada principalmente pelos índios Baré e Werekena, sendo que mais
de 60% dos índios do Xié se identifica como Werekena. São aproximadamente 140
sítios e povoados, onde residem cerca de 3.200 pessoas. A maioria da população
vive em “comunidades”, como são chamados esses povoados na região, que
geralmente compõe-se de um conjunto de casas de pau-a-pique construídas em
torno de um amplo espaço de areia limpa; uma capela (católica ou protestante);
uma escolinha; e, eventualmente, um posto médico (ISA, 2019).
Dâw
Os Dâw são um povo pequeno, de 142 pessoas, e habitam uma única
comunidade chamada Waruá, localizada na margem direita do rio Negro e em
frente à área urbana de São Gabriel da Cachoeira (AM), situada na outra margem.
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Tariana
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Maku
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Arapaso
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Bar%C3%A1
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Desana
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Karapan%C3%A3
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Kubeo
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Makuna
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Mirity-tapuya
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Mirity-tapuya
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Pira-tapuya
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Siriano
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Kotiria
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Warekena
SAÚDE INDÍGENA Página 30
A comunidade dâw avizinha-se a outras tantas comunidades e sítios
habitados por indígenas das etnias Tukano, Baré, Baniwa e Kuripako (entre outros
grupos étnicos), com quem compartilham as águas do rio Negro e seus afluentes, e
uma vasta área de florestas que se estende ao redor das comunidades e da cidade
(ISA, 2019).
Deni
Os Deni estão entre os grupos indígenas da região dos rios Juruá e Purus
que, na década de 1940, sofreram os impactos do segundo ciclo da borracha, que
atraiu milhares de migrantes. Com estes, vieram doenças, violentas disputas
territoriais e exploração da mão-de-obra indígena. Desde então, os Deni tiveram
que esperar décadas até terem seus direitos territoriais assegurados, sendo
preciso iniciar uma campanha de autodemarcação das terras, com apoio de
algumas ONG’s, para então conseguir a demarcação oficial, que só foi concluída em
agosto de 2003. Ainda enfrentam, contudo, os problemas advindos de invasões
recorrentes para atividades clandestinas como pesca e extração de madeira (ISA,
2019).
Etnias Maku
No lado brasileiro, recentemente foram homologadas cinco terras indígenas:
Alto Rio Negro, Médio Rio Negro I, Médio Rio Negro II, Rio Téa e Rio Apapóris, os
grupos Maku brasileiros, isto é, os Hupda, Yuhupde, Dow e Nadöb, distribuem-se
nos terrenos interfluviais de todas essas áreas, com exceção do Médio Rio Negro II.
As descrições que se seguem dizem respeito sobretudo aos Maku do Uaupés (Bara,
Hupda e Yuhupde). (ISA, 2019).
Os Maku vagam nos divisores de água, estabelecendo-se temporariamente
onde encontram condições ecológicas favoráveis à caça e adequadas ao modo
como eles costumam resolver seus conflitos internos: "quando a gente se
desentende, a gente se espalha no mato e fica lá até a raiva passar " (ISA, 2019).
Jamamadi
Os Jamamadi fazem parte dos povos indígenas pouco conhecidos da região
dos rios Juruá e Purus que sobreviveram aos dois ciclos da borracha, em meados
do século XIX. Os Jamamadi da Terra Indígena
Jarawara/Jamamadi/Kanamanti dão-se a reconhecer com esse nome em
contatos com não-indígenas ou com representantes de outras etnias. A língua
Jamamadi pertence à pequena família Arawá da Amazônia Ocidental (ISA, 2019).
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Tukano
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Bar%C3%A9
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Baniwa
https://terrasindigenas.org.br/pt-br/terras-indigenas/3946
https://terrasindigenas.org.br/pt-br/terras-indigenas/3946
SAÚDE INDÍGENA Página 31
Jiahui
Os Jiahui são um povo de filiação lingüística Tupi-Guarani, subgrupo
Kagwahiva, que vive na região do curso médio do Rio Madeira,ao sul do Estado do
Amazonas. Suas terras tradicionais foram ocupadas por fazendeiros e os Jiahui
passaram a viver junto aos Tenharim ou nas cidades próximas. Em meio a conflitos,
foi iniciado em 1998 o processo de retomada do território indígena, em que os
Jiahui vêm buscando reorganizar-se de maneira a garantir sua sobrevivência física
e cultural (ISA, 2019).
Juma
Os Juma pertencem a um conjunto de povos falantes da família lingüística
Tupi-Guarani denominado Kagwahiva. No século XVIII, é provável que os Juma
somassem de 12 a 15 mil índios. Após sucessivos massacres e a expansão das
frentes extrativistas, se viram reduzidos a poucas dezenas na década de 1960. Os
Juma pertencem a um conjunto de povos denominados Kagwahiva, o qual migrou,
de acordo com os registros históricos, da região do Alto Tapajós para as
proximidades do Rio Madeira (ISA, 2019).
Kaixana
Os Kaixana, antigos habitantes da extensa área de terra firme que vai do rio
Tonantins até o igarapé Coperçu, hoje vivem no médio curso do rio Japurá. Os
Kaixana que fugiram da terra firme passaram a viver junto com os Kokama,
sobretudo, nas comunidades de Jacapari e Bararuá, situadas em áreas de várzea. A
língua nativa dos Kaixana pertencia à família Aruák. No entanto, devido à
imposição missionária, esses mesmos índios passaram a utilizar também a língua
geral, entendida aqui como uma variação regional do Tupi-Guarani (ISA, 2019).
Kambeba
Hoje os Kambeba em território brasileiro estão localizados em cinco aldeias:
quatro na região do médio Solimões e uma no baixo rio Negro, precisamente, na
desembocadura do rio Cuieiras. Há também algumas famílias na cidade de Manaus
e várias outras no alto Solimões em terras Ticuna. Os Kambeba no Brasil ainda
dominam um importante vocabulário, pertencente à família Tupi-Guarani (ISA,
2019).
Kanamari
Os Kanamari chamam a si mesmos Tukuna, termo que significa “gente” e
que eles estendem a todos os povos da família lingüística Katukina. Os Kanamari
originalmente moravam nos tributários do alto-médio rio Juruá, no estado do
Amazonas, onde a maioria deles ainda vive.
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Tenharim
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Kokama
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Ticuna
SAÚDE INDÍGENA Página 32
Eles também se estabeleceram nas proximidades de afluentes desse rio,
como no alto Itaquaí, afluente do Javari, e ainda em regiões mais distantes, como
no médio Javari e no Japurá (ISA, 2019).
Kaxuyana
Os Kaxuyana encontram-se em três áreas distintas. Em sua terra de origem,
às margens do Rio Cachorro; na região dos rios Nhamundá e Mapuera, e na Terra
Indígena Parque do Tumucumaque, juntamente com os Tiriyó, no extremo norte
do estado do Pará. A língua kaxuyana pertence à família linguística karíb e ainda é
falada pelo grupo. Além da própria língua e do tiriyó, os Kaxuyana sempre
conviveram com outras línguas e/ou dialetos de grupos vizinhos, como Waiwai,
Hixkariyana, Tunayana e vários outros. Também falam o português que
aprenderam com os negros que avançaram pela região há longa data (ISA, 2019).
Kaxarari
Os Kaxarari habitam na fronteira entre Rondônia e Amazonas, nas
proximidades da rodovia federal BR-364. Os Kaxarari, ao longo de todo o século XX,
tiveram que se deslocar pela região em busca de melhores condições de vida, pois
suas terras foram sempre alvo de ações predatórias de não-índios que buscavam
explorar os recursos naturais ali existentes, especialmente a seringa, a castanha, as
madeiras e as pedras. Os Kaxarari falam uma língua da família Pano, semelhante ao
idioma falado
pelos Yaminawa, Kaxinawa, Yawanawa, Nukini, Katukina e Poyanawa que vivem
no Acre (ISA, 2019).
Koripako
Os Koripako, que falam um dialeto da língua baniwa, vivem na Colômbia e
no Alto Içana (Brasil). Já os Baniwa vivem na fronteira do Brasil com a Colômbia e
Venezuela, em aldeias localizadas às margens do Rio Içana e seus afluentes Cuiari,
Aiairi e Cubate, além de comunidades no Alto Rio Negro/Guainía e nos centros
urbanos de São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel e Barcelos (ISA, 2019).
Korubo
Os Korubo, também chamados “caceteiros” devido à fabricação e ao uso de
diferentes tipos de borduna, ocupam um território ancestral na sub-bacia
hidrográfica do rio Itaquaí, um afluente do baixo rio Javari, fronteira natural entre
Brasil e Peru. A língua korubo pertence ao ramo setentrional, “grupo do Norte”, da
família linguística Pano (ISA, 2019).
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Waiwai
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Tunayana
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Yaminaw%C3%A1
http://pib.socioambiental.org/pt/povo/kaxinawa
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Yawanaw%C3%A1
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Nukini
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Katukina_Pano
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Puyanawa
SAÚDE INDÍGENA Página 33
Kulina
Vivendo nas margens dos rios Juruá e Purus, os Kulina destacam-se pelo
vigor com que mantêm suas instituições culturais, entre elas a música e o
xamanismo. Os Kulina são pertencentes à família lingüística Arawá e, até a chegada
dos brancos, foram um dos grupos mais numerosos no estado do Acre e sul do
Amazonas (ISA, 2019).
Marubo
Os Marúbo vivem no alto curso dos rios Curuçá e Ituí, da bacia do Javari,
na Terra Indígena Vale do Javari, sua língua se inclui na família Pâno.o povo Marúbo
parece resultar da reorganização de sociedades indígenas dizimadas e
fragmentadas por caucheiros e seringueiros no auge do período da borracha (ISA,
2019).
Matis
Os Matis, falantes de uma língua Pano, não passavam de 87 em 1983. Nesse
curto período, várias epidemias se espalharam pela região, afetando um enorme
número de pessoas, especialmente crianças e idosos.Atualmente, os Matis não
vivem mais em uma única aldeia e assim retomam de modo tímido o antigo padrão
de ocupação territorial. A área ocupada pelos Matis é uma faixa que se estende do
médio Ituí, passando pelo alto Coari (afluente da margem direita do Ituí) até o
médio rio Branco (afluente da margem esquerda do Itacoaí). (ISA, 2019).
Matsés
Os Matsés, também conhecidos como Mayoruna, habitam a região de
fronteira Brasil-Peru. Suas comunidades estão distribuídas ao longo da bacia do rio
Javari, no extremo oeste da Amazônia brasileira, e, no Brasil, vivem na TI Vale do
Javari junto com outros povos falantes de línguas das famílias Pano e Katukina (ISA,
2019).
Miranha
O povo Miranha aparece, na história indígena, como uma espécie de anti-
herói. Considerados como "bárbaros" e "antropófagos" pelos naturalistas, seus
chefes ficaram conhecidos por vender aos brancos prisioneiros inimigos, membros
de hordas rivais, ou mesmo seus próprios(as) filhos(as). A língua Miranha é
considerada uma variante muito próxima da língua Bora, que faz parte de um
conjunto de línguas estreitamente aparentadas entre si, o qual, por sua vez,
integra-se à família à qual pertence a língua Uitoto. A existência de territórios
indígenas Miranha foi reconhecida pelo Serviço de Proteção aos Índios (SPI) no
médio Solimões e Japurá desde as primeiras décadas do século XX (ISA, 2019).
https://terrasindigenas.org.br/pt-br/terras-indigenas/3895
https://terrasindigenas.org.br/pt-br/terras-indigenas/3895
https://terrasindigenas.org.br/pt-br/terras-indigenas/3895
SAÚDE INDÍGENA Página 34
Munduruku
Povo de tradição guerreira, os Munduruku dominavam culturalmente a
região do Vale do Tapajós, que nos primeiros tempos de contato e durante o século
XIX era conhecida como Mundurukânia. Hoje, suas guerras contemporâneas estão
voltadas para garantir a integridade de seu território, ameaçado pelas pressões das
atividades ilegais dos garimpos de ouro, pelos projetos hidrelétricos e a construção
de uma grande hidrovia no Tapajós.
Os Munduruku estão situados em regiões e territórios diferentes nos
estados do Pará (sudoeste, calha e afluentes do rio Tapajós, nos municípios de
Santarém, Itaituba, Jacareacanga), Amazonas (leste, rio Canumã, município de
Nova Olinda; e próximo à Transamazônica, município de Borba), Mato Grosso
(Norte,região do rio dos Peixes, município e Juara) (ISA, 2019).
Mura
Os Mura ocupam vastas áreas no complexo hídrico dos rios Madeira,
Amazonas e Purus. Vivem tanto em Terras Indígenas, quanto nos centros urbanos
regionais, como Manaus, Autazes e Borba. Os Mura dos rios Madeira e Solimões
falavam até o início do século XX a língua Mura, de um tronco linguístico isolado.
Desde a época da conquista, estes índios passaram a utilizar também a língua geral
(ou Nheengatu), que gradativamente foi sendo substituída pelo português (ISA,
2019).
Parintintin
Os Parintintin integram o conjunto de pequenos grupos que se
autodesignam Kagwahiva, mas que hoje são conhecidos por nomes separados,
muitos deles dados por grupos inimigos. Os Parintintin, nome possivelmente dado
pelos Munduruku, são os que habitam mais ao norte. Entre as singularidades dos
Kagwahiva em relação aos outros Tupi-Guarani, destaca-se a organização social em
metades exogâmicas com nomes de pássaros.
Quando os Parintintin foram “pacificados” pela Funai, em 1922-23, seu
território se estendia da região leste do rio Madeira até a boca do rio Machado, à
leste do rio Maici. Hoje a maioria da população habita em duas Terras Indígenas no
município de Humaitá, no estado do Amazonas (ISA, 2019).
Paumari
Os Paumari eram conhecidos como os "nômades do Purus", devido a mobilidade
impressionante de seus grupos locais e a suas habitações tradicionais, construídas
em cima de balsas, chamadas "flutuantes". A região habitada pelos Paumari é
exclusivamente a bacia do médio rio Purus com seus afluentes, como os rios Ituxi,
Sepatini e Tapauá, no estado do Amazonas (ISA, 2019).
http://pib.socioambiental.org/pt/povo/munduruku/796
http://pib.socioambiental.org/pt/c/terras-indigenas/introducao/o-que-sao-terras-indigenas
http://pib.socioambiental.org/pt/c/no-brasil-atual/linguas/linguas-gerais
http://pib.socioambiental.org/pt/c/no-brasil-atual/linguas/linguas-gerais
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Munduruku
SAÚDE INDÍGENA Página 35
Pirahã
Os Pirahã se auto-denominam hiaitsiihi, categoria de seres humanos ou
corpos (ibiisi) que se diferencia dos brancos e dos outros índios. Os Pirahã são
descendentes diretos dosMura. A língua, a cultura material, a organização social e a
semelhança física não deixam dúvidas quanto a uma vinculação que tiveram no
passado. Os Pirahã habitam um trecho das terras cortadas pelo rio Marmelos e
quase toda a extensão do rio Maici, no município de Humaitá, estado do Amazonas
(ISA, 2019).
Sateré Mawé
Inventores da cultura do guaraná, os Sateré-Mawé domesticaram a
trepadeira silvestre e criaram o processo de beneficiamento da planta,
possibilitando que hoje o guaraná seja conhecido e consumido no mundo inteiro. A
língua Sateré-Mawé integra o tronco linguístico Tupi. Os Sateré-Mawé habitam a
região do médio rio Amazonas, em duas terras indígenas, uma denominada TI
Andirá-Marau, localizada na fronteira dos estados do Amazonas e do Pará, que vem
a ser o território original deste povo, e um pequeno grupo na TI Coatá-Laranjal da
etnia Munduruku (ISA, 2019).
Suruwaha
Afastados das principais vias de navegação no médio Purus, os Zuruahã
mantiveram seu cauteloso isolamento até fins da década de 1970, quando foram
localizados por missionários da Prelazia de Lábrea, alertados de sua existência
pelas notícias de conflitos com sorveiros que invadiram o território indígena. Uma
marca incisiva desse grupo é o alto índice de suicídios, intensamente articulada a
seu sistema cosmológico e a situação de confinamento territorial nas últimas
décadas (ISA, 2019).
Os Zuruahã habitam as terras altas entre os igarapés Riozinho e Coxodoá,
afluentes da margem direita do Cuniuá — com seu curso em direção a leste, este
último é um dos formadores do rio Tapauá, importante tributário da margem
esquerda da bacia do Purus- AM (ISA, 2019).
Ticuna
Os Ticuna configuram o mais numeroso povo indígena na Amazônia
brasileira. Com uma história marcada pela entrada violenta de seringueiros,
pescadores e madeireiros na região do rio Solimões, foi somente nos anos 1990
que os Ticuna lograram o reconhecimento oficial da maioria de suas terras. Hoje
enfrentam o desafio de garantir sua sustentabilidade econômica e ambiental, bem
como qualificar as relações com a sociedade envolvente mantendo viva sua
riquíssima cultura.
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Mura
http://pib.socioambiental.org/pt/c/no-brasil-atual/linguas/troncos-e-familias
http://ti.socioambiental.org/pt-br/
http://ti.socioambiental.org/pt-br/
http://ti.socioambiental.org/pt-br/
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Munduruku
SAÚDE INDÍGENA Página 36
Os Ticuna são originários do igarapé Eware, situado nas nascentes do
igarapé São Jerônimo (Tonatü), tributário da margem esquerda do rio Solimões, no
trecho entre Tabatinga e São Paulo de Olivença (ISA, 2019).
Torá
Os Torá, povo que hoje vive nas proximidades da foz do rio Marmelos (AM),
receberam muitas denominações ao longo da história: Torá, Tora, Toré, Torerizes,
Turá. Nunca, entretanto, houve na documentação definições precisas sobre elas. Os
Torá perderam-na e falam somente o português (ISA, 2019).
Tsohom-dyapa
Os Tsohom-dyapa vivem na região entre os rios Jutaí e Jandiatuba na Terra
Indígena do Vale do Javari. Apesar de se saber muito pouco sobre eles, é certo que
falam uma língua da família Katukina, muito parecida com as línguas
dos Kanamari e dos Katukina do rio Biá. Vivem exclusivamente na Terra Indígena Vale
do Javari, área situada no extremo oeste do estado do Amazonas e habitada por
diversos povos indígenas, dentre os quais estão os Kanamari, os Marubo, os Matis,
os Matsés (também chamados de Mayoruna), os Kulina-Pano e os Korubo (ISA,
2019).
Waiwai
Os índios que se identificam e são identificados como Waiwai encontram-se
dispersos em extensas partes da região das Guianas. São falantes, em sua maioria,
da família lingüística Karib. Constituíram-se a partir de processos seculares de
troca e de redes de relações na região. Em tal rede, são historicamente
reconhecidos como especialistas no fornecimento de sofisticados raladores de
mandioca, papagaios falantes e cães de caça (ISA, 2019).
Yanomami
Os Yanomami formam uma sociedade de caçadores-agricultores da floresta
tropical do Norte da Amazônia cujo contato com a sociedade nacional é, na maior
parte do seu território, relativamente recente. Constituem um conjunto cultural e
linguístico composto de, pelo menos, quatro subgrupos adjacentes que falam
línguas da mesma família (Yanomae, Yanõmami, Sanima e Ninam). A população
total dos Yanomami, no Brasil e na Venezuela, era estimada em cerca de 35.000
pessoas no ano de 2011 (ISA, 2019).
http://ti.socioambiental.org/pt-br/
http://ti.socioambiental.org/pt-br/
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Kanamari
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Katukina_do_Rio_Bi%C3%A1
http://ti.socioambiental.org/
http://ti.socioambiental.org/
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Kanamari
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Marubo
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Matis
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Mats%C3%A9s
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Korubo
SAÚDE INDÍGENA Página 37
TEMA DA AULA: Um olhar sobre a população indígena atendida no subsistema de saúde
indígena
FONTE BIBLIOGRÁFICA
GARNELO, Luiza(Org.). Pontes, Ana Lúcia. Saúde Indígena: uma
introdução ao tema. Brasília: MEC-SECADI, 2012. Recurso online ISBN
978-85-7994-063-7. Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/saude_indigena_uma_intr
oducao_tema.pdf. Acesso em: 16 out. 2019.
ISA (ed.). Povos Indígenas no Brasil: Quantos são?. 2019. Disponível
em: https://pib.socioambiental.org/pt/Quantos_s%C3%A3o%3F.
Acesso em: 02 abr. 2020.
Tópico 04: Perfil Populacional Indígena no Brasil
A busca de informações sobre o perfil demográfico da população indígena
gerou a pirâmide populacional que está disposta na Figura 05:
Figura 05: Pirâmide Populacional Indígena no Brasil
Fonte: IBGE (2010)
A pirâmide populacional indígena mostra um predomínio das faixas etáriasmais jovens (menores de 15 anos), o que pode ser explicado pela elevada taxa de
natalidade da maioria dos grupos étnicos que vivem no país (GARNELO, 2012).
SAÚDE INDÍGENA Página 38
Segundo Garnelo (2012) situações de rápido crescimento demográfico
exigem uma ampliação contínua na capacidade instalada das unidades de saúde de
modo a fazer frente às novas demandas que surgem a cada ano. O reduzido
número de idosos na pirâmide fala a favor de uma baixa expectativa de vida ao
nascer, algo que costuma estar ligado a precárias condições de vida e a níveis
inadequados de acesso ao atendimento à saúde, ao lado da baixa resolutividade
destas ações.
Por outro lado, perfis sociodemográficos desse tipo costumam estar
associados a perfis epidemiológicos em que predominam as doenças infecciosas,
algo que é confirmado pelas publicações disponíveis. Ou seja, ainda que os
problemas de saúde da população indígena possam ser graves, a maioria deles
pode ser resolvida, ou amenizada, pelos cuidados de atenção primária a saúde que
os DSEI deveriam estar aparelhados para oferecer (GARNELO, 2012).
Tópico 05: Perfil epidemiológico dos povos indígenas no Brasil: notas sobre
agravos selecionados
O perfil epidemiológico dos povos indígenas no Brasil é bastante complexo.
As doenças infecciosas e parasitárias permanecem como importante causa de
morbimortalidade. Ao mesmo tempo, vem ocorrendo um variado processo de
transição, no qual novos agravos passam a exercer forte pressão sobre os perfis de
adoecimento e morte preexistentes. É o caso das doenças crônicas não
transmissíveis, dos transtornos mentais e comportamentais e das causas externas
de adoecimento e morte (BASTA; ORELLANA; ARANTES, 2019).
Quadro 11: Os padrões de adoecimento e morte, dos povos indígenas no Brasil
contemporâneo.
MORTALIDADE
INFANTIL
Para alguns povos indígenas o CMI pode assumir valores relativamente baixos
como os observados nos Waúra do Xingu, 18,3 por mil nascidos vivos (Pagliaro et
al., 2001), mas também pode alcançar valores muito elevados, chegando a 100
por mil nascidos vivos,
DOENÇAS
INFECCIOSAS E
PARASITÁRIAS
- Tuberculose
- Malária
- Hepatites virais
- Infecções respiratórias agudas, doenças diarreicas e parasitismo intestinal
- Doenças crônicas não transmissíveis e doenças e agravos relacionados ao
estado nutricional
DOENÇAS E
DESORDENS
SOCIAIS
- Alcoolismo
- Suicídio
- Saúde bucal dos grupos indígenas do Brasil
Fonte: Elaboração própria a partir de Basta, Orellana e Arantes (2019)
SAÚDE INDÍGENA Página 39
Tópico Complementar: Perfil Epidemiológico e a COVID- 19 nos povos
indígenas
No país, são elevadas as prevalências de diferentes doenças e agravos à
saúde indígena, como desnutrição e anemia em crianças, doenças infecciosas como
malária, tuberculose, hepatite B, entre outras, além da cada vez mais frequente
ocorrência de hipertensão, diabetes, obesidade e doenças renais em adultos. Essas
doenças tornam os indígenas mais vulneráveis a complicações no contexto da
pandemia (BRASIL, 2021).
Estudos internacionais destacam a vulnerabilidade dos povos indígenas às
Infecções Respiratórias Agudas, pois estão entre as principais causas de morbidade
e mortalidade em populações indígenas, afetando sobretudo o segmento infantil.
Cabe destacar, que nos últimos anos a emergência das doenças crônicas não
transmissíveis, como obesidade, hipertensão e Diabetes tipo II, gera muitas
preocupações. Transformações muitas vezes resultantes do violento impacto Inter
étnico e das persistentes violações dos direitos territoriais indígenas. No contexto
da pandemia, esses agravos são condições que podem ocasionar complicações da
COVID-19.
Exposição da pandemia em povos indígenas
Uma pesquisa mostrou a dinâmica de transmissão do SARS-CoV-2 no Brasil,
que resultou em acelerado incremento da proporção de indígenas em municípios
em alto risco imediato para pandemia. Esse processo ocorreu de maneira bastante
diversa entre as regiões do país, sendo que a disseminação inicial da COVID-19
ocorreu por via aeroviária para as capitais da região litorânea do país e para
capitais das regiões Norte e Centro-Oeste, e com sua subsequente interiorização
por vias rodoviária e hidroviária expondo as populações indígenas mais remotas e
localizadas no interior do país, ameaçando inclusive aquelas em isolamento
voluntário ou de recente contato (BRASIL,2021).
Cronologia
Em 26 de fevereiro de 2020, foi registrado o primeiro caso da COVID-19 no
país, na cidade de São Paulo. Exatamente após um mês, seis casos suspeitos são
identificados em terras indígenas nos DSEI Cuiabá, Xavante e Litoral Sul. E, em 1º
de abril foi confirmado o primeiro caso de indígena com COVID-19, ocorrido no
DSEI Alto Rio Solimões (BRASI, 2021).
A região amazônica teve uma rápida progressão de casos e óbitos de COVID-
19, inicialmente concentrados em Manaus e outros centros urbanos, mas com
elevada interiorização a partir de maio/2020.
SAÚDE INDÍGENA Página 40
Considerando que a região Norte concentra a maior parte da população
indígena brasileira, essa disseminação logo atingiu os povos indígenas. Podemos
destacar algumas localidades, como o DSEI Manaus onde o primeiro caso foi
notificado em 07 de abril, em 15 de abril eram 12 casos, e em 1º. de maio, 20 casos.
No final de maio/2020, praticamente todos os DSEI da região Norte tinham
casos confirmados de COVID-19. A região do Alto Solimões, particularmente chama
atenção pelo alto número de casos e óbitos entre maio e junho. O primeiro caso na
região foi em 01 de abril, subindo para 51 confirmações em 30 de abril e
alcançando 351 casos confirmados e 22 óbitos em 30 de maio/2020 (BRASIL,
2021).
A pandemia continuou avançando nos meses de junho e julho,
particularmente no Norte e Nordeste. Gerou grande preocupação sua chegada no
Vale do Javari, região com maior registro de povos isolados. A partir de meados de
julho, alguns DSEI apresentam mais de mil casos confirmados, e o DSEI Leste
Roraima tem um importante aumento de casos e mortes.
Os dados alertam para duas características da pandemia:
 Os grupos sociais estão sendo afetados desigualmente, observando-se cenário
mais desfavorável para indígenas que não indígenas;
 As taxas de mortalidade por grupos de idade são substancialmente maiores
para indígenas que para não indígenas a partir dos 50 anos.
Essas altas taxas de mortalidade em pessoas indígenas mais velhas, nos alertam
para os trágicos impactos socioculturais da pandemia, visto que os indivíduos de
mais idade são os guardiões dos conhecimentos tradicionais, línguas e da memória
das lutas históricas desses povos (BRASIL, 2021).
Mortes indígenas no Brasil não são apenas números, são corpos com
memórias, histórias e vozes coletivas. A cada Indígena que se vai é uma
voz que deixa de entoar o canto. É uma mão que deixa de bater o maracá.
Do luto à luta. Não é somente número, cada corpo Indígena tem uma
encantaria ancestral. A cada Indígena morto, morre parte da nossa
história coletiva.
Célia Xacriabá
SAÚDE INDÍGENA Página 41
TÓPICO ESPECIAL: Covid- 19 e a Saúde indígena no Brasil
FONTE BIBLIOGRÁFICA
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil- APIB. Carta de recomendação APIB e
Instituições Acadêmicas. Brasília. 2020. Disponível em:
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