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Resumo Técnica II - 2 prova - Cópia

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MEDICAMENTOS TÓPICOS
Estrutura da pele:
A pele é o maior órgão do organismo humano, e apresenta como principal função a proteção do organismo tanto contra a invasão de substâncias tóxicas e de microorganismos, quanto contra a saída de substâncias, principalmente água, sendo a pele a principal barreira contra a perda excessiva de água (desidratação).
A pele é dividida, basicamente, em derme e epiderme. A epiderme é um tecido epitelial pavimentoso (de revestimento) estratificado (possui várias camadas, ou seja, não é um tecido homogêneo). A derme, por sua vez, é um tecido conjuntivo denso, rico em anexos (glândulas), vasos e nervos.
Os principais anexos da pele, que se alojam na derme, são: folículo piloso, glândula sebácea (associada ao folículo piloso) e glândulas sudoríparas. A glândula sebácea é responsável pela produção de sebo, que apresenta natureza lipídica, cuja função é lubrificar o pelo, hidratando-o, além de lubrificar e hidratar (ou manter certo nível de hidratação) a pele, mais especificamente a camada mais externa da epiderme, ao ser difundido para a superfície cutânea, criando uma camada que obstrui a saída de água dessa superfície. A parte da derme que faz contato mais íntimo com a epiderme é altamente vascularizada. Essa rede de vasos é importante para o aporte de nutrientes para a epiderme, já que essa camada é avascular. As células da camada basal da epiderme estão em intensa atividade mitótica, e, por isso, essa rede de vasos é extremamente importante para transportar os nutrientes necessários a essas células para que elas possam exercer sua atividade normalmente. A glândula sudorípara é responsável pela produção do suor, sendo sua finalidade relacionada ao controle da temperatura corporal.
Epiderme:
A epiderme é um tecido pavimentoso estratificado, sendo dividida, da camada mais interna para a mais externa, em: camada basal, espinhosa, granulosa e córnea. A camada basal é a camada onde as células estão em intensa atividade mitótica. É nessa camada que se encontram os melanócitos, responsáveis pela produção de melanina, que promove a coloração da pele. As células em atividade mitótica, presentes na camada basal, se diferenciam, formando as células das camadas superiores, culminando com a formação da camada mais externa, que é a camada córnea. Em algumas patologias, a atividade mitótica das células da camada basal da epiderme é acelerada, como, por exemplo, na psoríase. Isso faz com que o processo de diferenciação celular e de queratinização ocorra de forma desordenada, não havendo tempo hábil para que essas células se transformem nas células que constituirão a camada córnea (principal camada responsável pelo efeito barreira contra a entrada de substâncias tóxicas na pele e contra a saída de água). Dessa forma, a barreira não é completamente formada e, assim, a perda de água nos locais onde existem lesões provocadas pela doença nesses indivíduos, é cerca de 5-6 vezes maior que em um indivíduo normal. Consequentemente, ocorre uma reação inflamatória cíclica, já que, além de a origem dela ser a alteração na atividade mitótica das células basais, todas as substâncias aplicadas no local das lesões penetram mais facilmente, já que a barreira está prejudicada, aumentando ainda mais o processo inflamatório.
A camada espinhosa apresenta células cuboides, com núcleo arredondado. Recebe esse nome pelo fato de as células que a constitui apresentar filamentos semelhantes a espinhos, responsáveis pelo contato entre as células, o que confere grande resistência da pele ao atrito.
A camada granulosa apresenta células achatadas e fusiformes, que contém grânulos de queratina e de lípides, que iniciam o processo de transformação córnea, ou seja, são precursores da camada seguinte: a camada córnea. Os grânulos de queratina constituirão, posteriormente, a queratina, que preenche o citoplasma das células da camada córnea, enquanto os grânulos de lípides constituirão, posteriormente, o material intercelular da camada córnea.
A camada córnea é a camada mais superficial da epiderme, composta por células anucleadas, superpostas, completamente queratinizadas, ou seja, células que apresentam citoplasma rico em queratina, que é uma proteína altamente resistente. Essas células não possuem, portanto, organelas como as outras células. As células da camada córnea são unidas entre si através do cimento lipídico. Dentro da epiderme, a camada córnea é a mais importante com relação ao efeito barreira, sendo a principal camada responsável pela “impermeabilidade” da pele, devido à presença de células muito resistentes e de um “cimento” intercelular formado pelos lípides. Isso significa que numa eventual remoção da camada córnea, tem-se uma maior exposição do tecido, ou seja, a entrada de substâncias na pele aumenta consideravelmente à medida que se remove a camada córnea. A camada córnea não é uniforme em todo o corpo, mas apresenta espessuras diferentes e, de acordo com essa espessura, o grau de proteção será maior ou menor. Essa camada é mais espessa na palma das mãos e na planta dos pés, e é menos espessa na pálpebra, devido ao movimento de abrir e fechar da mesma. Esse aspecto, associado ao efeito barreira produzido pela camada córnea, explica o fato de que, em certas regiões do corpo, onde a camada córnea é menos espessa, tem-se maior susceptibilidade a ocorrência de irritação, devido à maior sensibilidade dessas áreas.
A renovação celular da pele, ou seja, a migração de células da camada basal para as camadas mais superficiais, até atingir a camada córnea, ocorre em um período de 14 a 28 dias para um indivíduo adulto normal. Durante essa transição ocorre, basicamente: achatamento das células; ancoragem às células vizinhas; secreção de substâncias lipídicas, que constituirão o cimento lipídico da camada córnea, responsável pelo efeito barreira; síntese da queratina; e formação de placas celulares superficiais, anucleadas, que, posteriormente, se descamam. A principal consequência desse processo, portanto, é a formação de uma multicamada de células queratinizadas, que constitui a camada córnea, principal responsável pelo efeito barreira.
· Melanócitos:
Os melanócitos são células presentes na camada basal da epiderme, responsáveis pela síntese de melanina, que ocorre em unidades dessas células, denominadas melanossomos. A melanina produzida é transportada para as células da camada vizinha (camada espinhosa) através de prolongamentos dos melanócitos, como mostrado na figura ao lado. Essas células se diferenciam e transportam a melanina para as células das camadas mais superficiais, o que promove a coloração da superfície da pele.
A melanina é um pigmento de cor marrom escura, responsável pela coloração da pele e cabelos, porém, sua principal função é proteger os tecidos contra os raios UV, uma vez que é capaz de absorvê-los e dissipar radicais livres, protegendo a pele contra os efeitos nocivos da radiação.
Derme:
A derme é um tecido conjuntivo resistente e elástico, constituído por células (fibroblastos), fibras, proteínas (principalmente colágeno e elastina) e substância amorfa extracelular (polissacarídeos, sendo o mais importante o ácido hialurônico), além de nervos, vasos sanguíneos e linfáticos e apêndices da pele. O ácido hialurônico é uma molécula de alto peso molecular (macromolécula), que apresenta grande polaridade, e, consequentemente, grande capacidade de absorver água, promovendo um meio no qual estão incluídas as estruturas de colágeno e elastina. O conjunto de ácido hialurônico, água, colágeno e elastina constitui a principal sustentação da epiderme, formando um “colchão” que sustenta esta camada, e, portanto, essa é uma das principais funções da derme. O colágeno é responsável pela manutenção, resistência e integridade estrutural da derme. A elastina restabelece a disposição fibrosa normal deformada por ação mecânica externa.
A derme é um tecido rico em água. Cerca de 70% do peso da derme corresponde à água, enquanto apenas cerca de 10-15% do peso da epiderme corresponde à água, ou seja, há umamaior quantidade de água na derme do que na epiderme, logo, a derme é um tecido mais fluido, comparado à epiderme. Dessa forma, considerando-se o efeito barreira produzido pela camada córnea da epiderme, se uma substância consegue ultrapassá-la, e penetra as camadas mais profundas, atingindo a derme, esta de difunde com grande facilidade nesta camada, já que é mais fluida, logo, menos sólida e menos resistente à difusão.
Absorção percutânea:
Por definição, a absorção percutânea é a difusão/permeação através das camadas epidérmicas, seguida da absorção pela rede vascular presente na camada da derme íntima com a epiderme, e consequente distribuição sistêmica. A absorção percutânea é um aspecto interessante em diversas áreas, principalmente: cosmetologia, dermatologia e terapêutica sistêmica.
Para a cosmetologia, somente a fase de penetração no tecido é desejada, visto que preparações cosméticas apresentam ação limitada às camadas superficiais. Para a dermatologia, além da fase de penetração, para atuação de substâncias em camadas mais externas, como é o caso de antifúngicos, por exemplo, a passagem de substâncias até camadas mais profundas também é desejada, como é o caso de anti-inflamatórios, porém, a absorção sistêmica deve ser evitada, com o objetivo de reduzir possíveis efeitos sistêmicos (toxicidade sistêmica), focando-se apenas em efeitos locais. Em contrapartida, na terapêutica sistêmica, a qual é baseada no uso de adesivos transdérmicos, a absorção é indispensável, já que o objetivo é a administração de fármacos pela pele visando a obtenção de um efeito sistêmico, o que difere da cosmetologia e dermatologia.
Alguns exemplos de adesivos transdérmicos disponíveis comercialmente são: adesivos contendo fármacos anticoncepcionais, nicotina, fentanil, escopolamina, nitroglicerina, entre outros. O objetivo de se administrar fármacos através da pele ao invés das vias convencionais é a obtenção de um perfil de concentração plasmática menos oscilante, ou seja, um perfil no qual a concentração plasmática aumenta até certo ponto, a partir do qual se mantém constante em função do tempo, o que diferencia de um perfil obtido a partir da administração de fármacos por uma via convencional, no qual se observa picos e vales de concentração. Esse aspecto é interessante, visto que a concentração plasmática do fármaco permanece por um tempo maior dentro da faixa terapêutica, evitando-se que se atinjam concentrações tóxicas e regiões de subdose.
É possível evitar as flutuações na concentração plasmática a partir da administração de fármacos pela pele porque, como a pele representa uma barreira muito grande, por ser um epitélio estratificado e muito impermeável, a partir do momento em que se tem um depósito formado acima da pele (adesivo transdérmico), a substância é liberada lentamente para organismo, o que assegura uma liberação constante em função do tempo, sem atingir regiões de picos e vales.
Vias de penetração cutânea:
As principais vias de absorção cutânea são as vias transepidérmica (diretamente através da epiderme, representada por A e B na figura) e transfolicular (através dos anexos e unidade pilossebácea, representada por C e D na figura). A absorção percutânea a partir das glândulas sudoríparas, representada por C, é praticamente inexistente, sendo as vias mais relevantes a transepidérmica (A e B) e a transfolicular (D), sendo que, entre essas duas, a transepidérmica é a mais relevante. Teoricamente, a via transfolicular pode representar uma alternativa interessante para fármacos muito lipofílicos, uma vez que o folículo piloso é rico em sebo, logo, o fármaco se difundiria com maior facilidade por essa via. Além disso, o epitélio intrafolicular não é tão impermeável quanto o epitélio da superfície cutânea, ou seja, se um fármaco é capaz de penetrar nesse epitélio, ele se difunde mais facilmente, logo, a difusão ocorre mais rapidamente. Para a área de nanotecnologia, que trabalha com fármacos na forma de nanopartículas, a via transfolicular também apresenta relevância, principalmente com relação a patologias que afetam o folículo piloso, como acne e alopécia. Na prática, considerando-se medicamentos convencionais, a penetração pela via intrafolicular não é muito importante, uma vez que esses fármacos não se difundem com facilidade através do epitélio intrafolicular. Além disso, como o folículo apresenta uma área muito pequena, comparada à área cutânea total, essa via não é de grande relevância para a maioria dos fármacos, em situações convencionais. Assim, apesar de a absorção percutânea transfolicular apresentar menos obstáculos, é considerada irrelevante, devido ao fato de o folículo piloso apresentar uma área muito pequena. Portanto, a via de maior interesse é a via transepidérmica.
A absorção percutânea transepidérmica pode ser intracelular (diretamente através das células) ou intercelular (entre as células, através do cimento lipídico). Dentre essas duas possibilidades, a mais importante é a absorção percutânea transepidérmica intercelular, já que a intracelular é pouco provável, uma vez que representa uma barreira maior a ser ultrapassada.
Para ser capaz de sofrer absorção percutânea através da via intercelular, a substância deve apresentar certo caráter lipofílico, uma vez que deve ter afinidade pelo cimento lipídico, para que possa se difundir através dele.
· Difusão passiva: 1ª Lei de Fick:
O que explica a difusão de substâncias através da pele é o mecanismo de difusão passiva, ou seja, a difusão de substâncias do meio mais concentrado para o meio menos concentrado. Diferentemente da via oral, na qual ao se administrar um fármaco, este pode ser absorvido ativa ou passivamente, um fármaco administrado através da pele só pode ser absorvido passivamente, não existindo transporte ativo por essa via. O fenômeno de difusão passiva é explicado através da 1ª Lei de Fick, que mostra que o fluxo de absorção (J) (quantidade de substância difundida em função do tempo (dQ/dt)) é diretamente proporcional ao coeficiente de difusão (D), à concentração da substância na formulação (Cv) e ao coeficiente de partição da substância (K), e inversamente proporcional à espessura do estrato córneo (h).
O fluxo de absorção é dado em µg/cm2/h, ou seja, massa de substância difundida em função da área de absorção e do tempo. O coeficiente de difusão está relacionado à velocidade com que uma substância é difundida através do meio, e se relaciona com o tamanho, forma e carga da mesma. Quanto menor a massa molecular, maior será o coeficiente de difusão de uma substância, ou seja, mais rapidamente ela se difunde, uma vez que encontra menos obstáculos para ultrapassar. Um fármaco que apresenta massa molecular elevada será pouco absorvido, uma vez que encontra maiores barreiras durante sua difusão, e, portanto, permanece na superfície cutânea.
O cimento lipídico da camada córnea é um meio de natureza hidrofóbica. Como, normalmente, a absorção cutânea ocorre pela via transepidérmica intercelular, as substâncias veiculadas, para serem absorvidas pela pele, devem apresentar maior lopofilicidade, ou seja, o coeficiente de partição octanol/água deve ser relativamente alto, apresentando maior afinidade pelo cimento lipídico. Logo, quanto maior o coeficiente de partição de uma substância, maior a velocidade com que ela será difundida, ou seja, quanto maior o caráter apolar, maior a permeabilidade de uma substância. Porém, existe um limite com relação ao coeficiente de partição, que deve ser de, no máximo, log P = 3, sendo que a partir desse valor, a substância não segue mais essa relação de que quanto maior o log P, maior a permeabilidade, já que caracteriza uma substância excessivamente lipofílica e, portanto, não se difunde para a derme, que é um meio com característica mais hidrofílica e, consequentemente, sua absorção é prejudicada.
Quanto maior a espessura do estrato córneo, maior a barreira a ser ultrapassada pela substância, o que diminui seu fluxo de absorção.
· Fatores que influenciam a penetração cutânea:
1) Hidratação doestrato córneo:
Quanto maior a hidratação do estrato córneo, maior a fluidez do cimento lipídico intercelular e, consequentemente, menor a sua rigidez, o que torna o meio mais facilmente difusível, logo, aumenta sua permeabilidade. É importante ressaltar que o estrato córneo não é capaz de absorver uma grande quantidade de água de modo que isso altere sua característica lipofílica, o que poderia dificultar a absorção de fármacos mais lipofílicos e facilitar a absorção de fármacos mais hidrofílicos, ou seja, há um limite para a absorção de água.
2) Estado da pele:
Lesões cutâneas tornam a pele mais permeável a substâncias. Indivíduos acometidos com psoríase apresentam atividade mitótica extremamente acelerada das células da camada basal da epiderme. Isso faz com que o processo de diferenciação celular e de queratinização ocorra de forma desordenada nas regiões onde ocorreu a lesão psorítica, não havendo tempo hábil para que essas células se diferenciem nas células que constituirão a camada córnea. Consequentemente, ocorre uma reação inflamatória cíclica, já que, além de a origem dela ser a alteração na atividade mitótica das células basais, todas as substâncias aplicadas no local das lesões penetram mais facilmente, já que a barreira está prejudicada, aumentando ainda mais o processo inflamatório. Além de estar mais permeável à entrada de substâncias, também se torna mais permeável à saída de água;
3) Local de aplicação:
O local de aplicação influencia a penetração cutânea em função da espessura do estrato córneo, que é a principal barreira da pele contra a penetração de substâncias. Locais onde a camada córnea é mais espessa apresentam maior dificuldade de penetração de substâncias. Diferentemente, locais onde a camada córnea é menos espessa são menos resistentes à penetração de substâncias;
4) Concentração do fármaco:
Quanto maior a concentração do fármaco, maior sua penetração, visto que, de acordo com a Lei de Fick, a concentração é diretamente proporcional ao coeficiente de difusão da substância;
5) Excipiente/veículo:
A escolha adequada do veículo tem um papel importante na terapia tópica. O veículo influencia indiretamente a absorção do fármaco, de acordo com a tendência da substância a ser liberada do mesmo. Um fármaco que apresenta alta afinidade pelo veículo, e, portanto, apresenta grande capacidade de se solubilizar no mesmo, ou seja, se a interação soluto/solvente é forte, a tendência do fármaco em ser liberado para a pele é pequena. Em outras palavras, o fármaco tende a manter as interações com o veículo, e não interagir com a pele, já que a afinidade do mesmo pelo veículo é maior que a afinidade pela pele.
Para aumentar a tendência de liberação do fármaco para a pele, deve-se, portanto, diminuir a interação entre o veículo e o fármaco. Para isso, pode-se aumentar a concentração do fármaco no veículo, de modo a aproximar ao ponto de saturação das interações entre o fármaco e o veículo, uma vez que a absorção é aumentada quando a concentração do fármaco é igual à sua solubilidade máxima no veículo, de forma que não se tenha mais moléculas do veículo para interagir com o excesso de fármaco, tornando-o mais livre para ser liberado do veículo, e se difundir através da pele.
O veículo pode influenciar a resistência (permeabilidade) da pele. Certos veículos e substâncias que compõem as formulações tópicas são capazes de modular a permeabilidade cutânea, por conseguirem penetrar na barreira lipídica e alterá-la, ou até mesmo retirar essa barreira (no caso de alguns solventes). Essas substâncias são chamadas agentes promotores ou aceleradores da absorção. Algumas dessas substâncias são: tensoativos, pirrolidonas, ácidos graxos, propilenoglicol e ureia. Essas substâncias tornam o cimento lipídico menos organizado e, quanto mais desorganizado, mais permeável ele se torna.
O cimento lipídico é muito bem estruturado, formado por substâncias anfifílicas, constituídas por uma cauda apolar e uma cabeça polar. Dessa forma, um ácido graxo, por exemplo, que é uma substância anfifílica, como o ácido oleico, que pode estar presente em formulações de cremes, pomadas e geis, é capaz de penetrar na pele e, devido à similaridade estrutural com as substâncias que compõem o cimento lipídico, se insere no mesmo, desorganizando-o, o que aumenta a permeabilidade através do mesmo.
Alterações comuns que afetam a pele:
1) Acne:
A acne vulgar ou juvenil é uma dermatose que ocorre com muita frequência na adolescência (80% dos adolescentes), e atinge exclusivamente a unidade pilossebácea. É decorrente de uma alteração no metabolismo de andrógenos, que induz modificações na unidade pilossebácea, ocorrendo, portanto, devido a um estímulo androgênico à glândula sebácea, que é sensível à ação desses hormônios, o que leva a uma hipersecreção sebácea no interior do folículo piloso. Além do estímulo androgênico, a lesão depende de outros fatores que ocorrem simultaneamente e/ou logo após esse primeiro estímulo.
O diagrama ao lado esquematiza a formação da lesão acneica. A primeira imagem representa a unidade pilossebácea (UPS) normal, com suas estruturas. O folículo piloso é uma invaginação da epiderme em direção à derme, logo, é recoberto por tecido epidérmico. No folículo piloso normal, o tecido epidérmico que o reveste se diferencia e descama, assim como ocorre normalmente na epiderme. As células descamadas são arrastadas pela secreção sebácea, sendo carreadas para a superfície cutânea, e, consequentemente, são eliminadas. Indivíduos com alteração no metabolismo de andrógenos, o que leva à formação de acne, apresentam modificação no funcionamento da glândula sebácea, que se encontra em atividade aumentada, logo, há uma hipersecreção sebácea, o que explica o aumento da oleosidade. Concomitantemente, esses indivíduos apresentam alteração nas células do tecido epidérmico que reveste o folículo piloso, já que essas células também estão em atividade aumentada (hiperqueratose intrafolicular), logo, não há tempo hábil para que essas células se diferenciem completamente e, portanto, atingem a superfície intrafolicular unidas umas às outras, formando placas. Isso acontece porque o processo de queratinização ocorre para que haja o metabolismo de estruturas, como os desmossomos, que promovem a adesão de uma célula à outra e, como a atividade celular está muito aumentada, não há tempo hábil para que esse metabolismo ocorra adequadamente. As placas formadas se acumulam no orifício de saída do folículo para a superfície cutânea, formando o microcomedão, funcionando como uma tampa epitelial, obstruindo a saída da secreção sebácea.
Uma vez que a glândula sebácea apresenta atividade aumentada, secretando maior quantidade de sebo, o microcomedão evolui, formando as lesões acneicas subsequentes (comedões). Os comedões podem ser de dois tipos: aberto ou fechado. No comedão fechado, o acúmulo de sebo e células mortas não se projeta para a superfície cutânea, enquanto que, no comedão aberto, por sua vez, o material acumulado se projeta para a superfície cutânea. O comedão aberto apresenta coloração escura (chamado, popularmente, cravo), uma vez que apresenta melanina, enquanto o comedão fechado apresenta coloração branca (chamado, popularmente, espinha). Os comedões são lesões não inflamadas da acne, porém, caso a acne evolua, pode conduzir a um processo inflamatório, que ocorre devido à difusão do material presente no interior do folículo para seu exterior (derme). Ao mesmo tempo, o acúmulo do material na derme cria um meio anaeróbio no local, o que favorece o crescimento do Propionibacterium acnes, que é uma bactéria comum da microbiota indígena, mas que tem seu desenvolvimento favorecido em meio anaeróbio. Esse processo inflamatório pode levar à formação de pápulas e pústulas, que são as lesões inflamadas decorrentes da acne.
Observa-se, portanto, que as lesões da acne são decorrentes da obstrução dos folículos pilossebáceos, em decorrência de: aumento da produção de secreção sebácea; hiperqueratinização do epitélio folicular na unidade pilissebácea,que conduz à formação da tampa epitelial; proliferação do P. acnes; e reação inflamatória local.
· Tratamento:
O tratamento da acne envolve o uso de medicamentos de ação tópica ou sistêmica. Entre eles, tem-se: antimicrobianos, para combater a infecção pelo P. acnes; e retinoides, que são substâncias derivadas da vitamina A, como o ácido retinoico (tretinoína), extremamente importantes para modular o epitélio, já que restauram a queratinização do mesmo, impedindo-se a formação da tampa epitelial, logo, o sebo consegue ser eliminado mais facilmente. Para casos de acne menos grave, pode-se utilizar queratolíticos, como ácido salicílico. Essas substâncias lisam a molécula de queratina, tornando-a menos rígida, impedindo, portanto, a formação da tampa epitelial e, consequentemente, a obstrução do folículo piloso.
De modo geral, os retinoides tópicos contribuem para a normalização da descamação folicular, uma vez que modulam o processo de diferenciação do epitélio intrafolicular. Essas substâncias apresentam receptores específicos nas células da camada basal do tecido epidérmico que recobre o folículo piloso, nos quais se ligam e promovem uma resposta que culmina na codificação de genes que modulam o processo de diferenciação celular. Logo, se o processo de diferenciação celular ou queratinização está alterado (aumentado, no caso), os retinoides restauram esses processos para a normalidade, impedindo a hiperqueratinização e, consequentemente, a formação da tampa epitelial, permitindo a eliminação do sebo. Assim, os retinoides promovem uma redução indireta na resposta inflamatória, já que impede o acúmulo do sebo e, consequentemente, o extravasamento do material armazenado no folículo piloso para a derme, e a formação de um meio propício ao crescimento da bactéria P. acnes, que levariam à ativação de um processo inflamatório no local.
Os antibióticos atuam eliminando a bactéria P. acnes, contribuindo, portanto, indiretamente, para a redução da resposta inflamatória. O peróxido de benzoíla é uma substância que também apresenta ação antimicrobiana.
A isotretinoína é o principal retinoide utilizado para o tratamento de acne (presente no Roacutan®). Essa substância é capaz de reduzir a atividade da glândula sebácea e, consequentemente, a produção de sebo, além de atuar na normalização da descamação folicular, como os demais retinoides. Portanto, da mesma forma, reduz indiretamente o crescimento de P. acnes, bem como a resposta inflamatória. Os outros retinoides não são capazes de atuar na glândula sebácea, apenas restauram a queratinização no epitélio intrafolicular. Além disso, outro aspecto que diferencia a isotreotinoína dos demais retinoides é o fato de ser administrada por via oral, enquanto os outros retinoides são utilizados por via tópica. Logo, é indicada para o tratamento de lesões acneicas mais extensas, nas quais o processo inflamatório é exacerbado.
Os hormônios atuam na redução da produção de sebo e normalização da descamação folicular.
Para acne leve a moderada, onde não se tem lesões muito inflamadas, recomenda-se a utilização de retinoides tópicos e antibióticos tópicos, ou até mesmo o uso de queratolíticos pode contribuir para amenizar a doença. No entanto, para lesões acneicas mais extensas e mais inflamadas, recomenda-se a utilização das outras alternativas, principalmente isotretinoína por via oral.
· Fatores que influenciam a predisposição à acne:
a) Alterações hormonais: ovulação, gravidez, terapia de reposição hormonal;
b) Umidade relativa (UR) alta e sudorese aumentada: a umidade é captada pela queratina presente nas células da epiderme, o que diminui a abertura do folículo pilossebáceo, uma vez que essa proteína se intumesce, comprimindo a abertura do canal pilossebáceo e, consequentemente, restringido o fluxo de sebo, contribuindo, portanto, para a exacerbação do processo acneico;
c) Roupas oclusivas/ásperas, chapéu, ou fricção excessiva: roupas muito oclusivas impedem a evaporação da água presente no suor, contribuindo para o processo descrito acima. Roupas ásperas, chapéu e fricção excessiva induzem, através de uma ação mecânica, a atividade da glândula sebácea, contribuindo para a exacerbação da acne;
d) Acne cosmética: a acne cosmética ocorre devido à utilização de produtos cosméticos contendo substâncias comedogênicas, que induzem a formação do comedão. Dessa forma, indivíduos que apresentam propensão à acne, devem evitar a utilização desses produtos. O mecanismo pelo qual essas substâncias aumentam a propensão à acne não é bem elucidado, mas geralmente está associado à indução da atividade proliferativa das células do tecido epidérmico intrafolicular por essas substâncias. Geralmente, a substância não induz alteração na epiderme como um todo, ou seja, não é irritante e não provoca nenhuma lesão na epiderme, mas, ao penetrar no folículo, estimula as células a proliferar, o que leva ao aparecimento de uma lesão (comedão). Exemplos de substâncias comedogênicas são: lanolina e alguns ésteres de ácidos graxos, como miristato e palmitato de isopropila.
2) Hiperpigmentação da pele:
A hiperpigmentação da pele é um fenômeno benigno que pode estar associado a uma doença sistêmica e pode causar desordens psicológicas. Normalmente, é oriunda de um desequilíbrio endócrino, como em casos de hipertireoidismo, gravidez e terapia com estrógeno, relacionado ao fato de que existe uma relação entre alguns hormônios e a produção de melanina. Esses hormônios são capazes de se ligar a receptores presentes na membrana dos melanócitos, estimulando a produção de melanina, que se torna, portanto, exacerbada.
A melanina é sintetizada pelos melanócitos, que estão situados na camada basal da epiderme. A melanina se concentra nas expansões citoplasmáticas dessas células, e é transportada para as células das camadas vizinhas (queratinócitos), até atingir as camadas mais superficiais. A síntese da melanina se inicia a partir do aminoácido tirosina, que sofre uma hidroxilação, através da ação da enzima tirosinase, formando DOPA. Através de um processo de polimerização oxidativa, tem-se, então, a produção dos diferentes tipos de melanina: eumelanina e fenomelanina, como esquematizado na figura, que apresentam estruturas complexas. Uma das estratégias de preparações utilizadas para despigmentar a pele, ou seja, para evitar a produção exacerbada de melanina, é a inibição da ação da enzima tirosinase, impedindo-se, consequentemente, a produção de melanina.
Alguns exemplos mais comuns de hiperpigmentação são:
a) Sardas: manchas castanho-claras que aparecem na infância e são exacerbadas após exposição ao sol;
b) Melasma: hiperpigmentação da face que ocorre, geralmente, durante a gravidez e pelo uso de contraceptivos orais, e também é exacerbada pela exposição ao sol;
Essas manchas são produzidas devido ao aumento da atividade dos melanócitos (hiperpigmentação melanótica) e são exacerbadas com a exposição ao sol, uma vez que a radiação UV estimula o melanócito a produzir melanina.
 A substância mais comumente utilizada no tratamento de hiperpigmentação da pele é a hidroquinona, que é um inibidor competitivo da tirosinase. Ao inibir a tirosinase, portanto, impede a produção de melanina. Isso acontece pelo fato de que a hidroquinona apresenta em sua estrutura um grupo idêntico ao presente na estrutura da tirosina (grupo fenol), que interage com o sítio ativo da enzima, porém não é capaz de ativá-lo, e impede a ligação da tirosina.
O uso de hidroquinona deve ser controlado, uma vez que se utilizada por um grande período de tempo, faz com que ocorra uma despigmentação exacerbada (hipopigmentação) no local de aplicação, que passa a apresentar coloração mais clara que a região vizinha, devido à inibição exacerbada da produção de melanina. Ao observar o clareamento, o paciente deve, portanto, diminuir progressivamente a utilização de hidroquinona, até a completa eliminação da aplicação, evitando-se a produção de regiões hipopigmentadas. Além disso, a hidroquinona não é completamente isenta de reações adversas, como irritaçõescutâneas, que são reações dose-dependentes, ou seja, estão relacionadas com a concentração. A concentração usual, mais tolerável, da hidroquinona é de 1,5 a 2,0%. Existem produtos com concentrações maiores, porém, apesar de serem mais eficazes, produzindo o clareamento mais rapidamente, a incidência de reações adversas aumenta com a utilização desses produtos, em relação aos produtos que apresentam concentração de hidroquinona de 1,5 a 2,0%, que apresentam menor eficácia, produzindo o clareamento mais lentamente, mas apresentam menor incidência de reações adversas.
A hidroquinona é uma molécula muito instável, que se oxida muito facilmente e, portanto, as embalagens de produtos que contém essa substância devem ser bem fechadas. Ao oxidar, promovem a alteração da coloração do produto, logo, um produto de coloração alterada é indicativo da perda de eficácia, devido à degradação da hidroquinona.
3) Psoríase:
A psoríase é uma doença de evolução crônica caracterizada por lesões bem definidas, com placas escamosas avermelhadas. As lesões podem se apresentar na forma de placas escamosas secas, caracterizando uma hiperqueratose bem definida, ou na forma de placas mais avermelhadas (lesões eritematosas), caracterizando uma inflamação mais ativa. A caracterização dessas lesões é importante, uma vez que cada uma delas apresenta uma abordagem de tratamento diferente, em função do aspecto da lesão. A psoríase acomete homens e mulheres na faixa etária entre 20 e 40 anos. Existe uma relação dessa doença com stress emocional e predisposição genética.
Três eventos patofisiológicos são bem conhecidos na psoríase:
a) Proliferação epidérmica acelerada (turnover acelerado da epiderme): este é o fator que desencadeia a lesão psorítica. Normalmente, o turnover ocorre em 20 a 28 dias. Na psoríase, esse evento ocorre em um período de tempo muito inferior (cerca de 10 vezes menor), indicando uma proliferação epidérmica fortemente acelerada, ou seja, as células da camada basal da epiderme encontra-se em intensa atividade mitótica e, consequentemente, o processo de queratinização não ocorre como devido, não havendo a diferenciação adequada das células da camada basal para as camadas subsequentes. Dessa forma, ao atingirem a camada córnea, essas células ainda apresentam estruturas características de células das camadas mais inferiores, como desmossomos, e encontram-se fortemente unidas umas às outras, formando placas. Ao mesmo tempo, como não houve o processo de diferenciação celular normal, a pele tende a perder água para o ambiente, processo evitado pela camada córnea bem estruturada, que funciona como barreira a essa perda de água transepidérmica. Portanto, se as lesões psoríticas afetam uma grande região, essa perda de água passa a ser relevante. Além de se tornar permeável à saída de água, a pele torna-se permeável à entrada de substâncias, logo, facilmente irritável, em decorrência da queratinização não adequada. Apesar da hiperqueratose, não há tempo hábil para a formação adequada da camada córnea, com o cimento lipídico e com a formação do envelope dos corneócitos, e, portanto, as lesões apresentam regiões por onde a água pode transitar, apesar de as células estarem fortemente unidas;
b) Aumento de capilares: em decorrência da proliferação epidérmica acelerada, ocorre o aumento da rede vascular da camada da derme mais íntima com a epiderme, em função da demanda metabólica decorrente da proliferação acelerada da epiderme. Esse fato é extremamente importante, uma vez que funciona como um sinal para o diagnóstico da psoríase, diferenciando-a de outra patologia que pode apresentar aspecto semelhante, uma vez que, ao interferir na placa formada, observa-se sangramento;
c) Invasão de células inflamatórias para a derme e para a epiderme, estabelecendo-se um quadro inflamatório em decorrência da lesão.
· Tratamento:
Recomenda-se o uso de queratolíticos em casos de lesões hiperqueratóticas secas. Geralmente, aconselha-se o paciente a se banhar com água morna, para que ocorra o amolecimento da queratina, e, em seguida, aplicar o queratolítico. Isso facilita a entrada do queratolítico na pele, atuando na remoção das placas secas. No entanto, se as lesões apresentam-se eritematosas, caracterizando uma reação inflamatória ativa, a primeira abordagem para o tratamento não deve ser queratolíticos, uma vez que queratolíticos são substâncias sujeitas à produção de reações adversas, sendo irritantes para a pele, já que, em sua grande maioria, são substâncias ácidas, como o ácido salicílico, logo, aplicando-se o queratolítico numa pele que já se apresenta inflamada, essa inflamação pode ser exacerbada. Para esse tipo de lesão, recomenda-se o uso de corticosteroide tópico, como a hidrocortisona, e emolientes, para suavizar a lesão. E, então, quando essas lesões eritematosas evoluem para a formação de placas secas, utilizam-se os queratolíticos.
4) Vitiligo:
O vitiligo é uma doença caracterizada por manchas acrômicas (sem pigmentação) na pele. As lesões se formam devido à diminuição ou ausência de melanócitos nos locais afetados, já que, apesar de a etiologia ser desconhecida, sabe-se que é uma doença está relacionada a processos autoimunes, que levam á destruição de melanócitos. Consequentemente, nesses locais, a produção de melanina é diminuída ou ausente, e, portanto, se apresentam sem pigmentação. Assim como a psoríase, o vitiligo não é uma doença fatal, mas desagradável para os indivíduos acometidos, principalmente para aqueles que possuem pele mais escura, já que as manchas são mais evidentes, nesses casos.
· Tratamento:
O tratamento pode ser feito com o uso de corticosteroides tópicos, que modificam a resposta imune aberrante, reduzindo-a e, consequentemente, preservando alguns melanócitos que, aos poucos, produzem melanina, repigmentando a área atingida.
 A outra opção de tratamento é a fotoquimioterapia com psoralenos (PUVA), que utiliza radiação UVA, que é capaz de penetrar até a camada basal da epiderme e apresenta maior energia que a radiação UVB, que também poderia ser utilizada como repigmentante, já que também é capaz de atingir a camada basal da epiderme, porém é uma radiação tóxica e eritematogênica, ou seja, induz o eritema. A utilização da radiação UVA está relacionada à molécula de psoraleno, que deve absorver a radiação, e esta absorve melhor a radiação UVA do que a radiação UVB. Ao absorver a radiação UVA, a molécula de psoraleno é fotodegradada, e os produtos formados estimulam os melanócitos a produzirem melanina.
Inicia-se a fotoquimioterapia utilizando-se uma dose de radiação muito baixa, aumentando-a até se detectar a dose que induz eritema no paciente, que será mantida. A repigmentação inicia-se em pontos específicos onde há folículos pilosos, uma vez que, nos folículos pilosos, os melanócitos presentes são protegidos do sistema imune. Aos poucos, a quantidade de melanina produzida aumenta e, então, a região se torna gradativamente mais pigmentada.
Medicamentos tópicos:
1) Queratolíticos:
Queratolíticos são substâncias capazes de amolecer e lisar agregados de queratina, dissolvendo o cimento que mantém as células unidas. Dessa forma, os queratolíticos diminuem a espessura da camada de queratina presente na superfície cutânea. A eficácia dessas substâncias depende de alguns fatores, tais como: composição do veículo, e concentração e tempo de contato dessas substâncias com a pele.
Os queratolíticos sempre apresentam uma toxicidade associada, que está relacionada à sua concentração na formulação. A concentração de ácido salicílico, por exemplo, em formulações destinadas à limpeza facial, é de 0,5%, geralmente. Por outro lado, várias outras preparações utilizadas para, por exemplo, diminuir a queratose nos pés, apresentam concentração de ácido salicílico de 2%, que não poderiam ser aplicadas no rosto, onde a espessura do estrato córneo é muito pequena, o que provocaria irritações.
Exemplos:
a) Ácido salicílico: diminui o pH da pele. Sua concentração de uso varia na faixa de 2-3%;
b) Ureia: moderadamente queratolítica,sendo que essa ação está relaciona à sua capacidade de aumentar a hidratação da camada córnea e interagir com a queratina. Assim, a hidratação faz com que a queratina absorva água, intumescendo-se e, ao mesmo tempo, devido à similaridade estrutural entre a ureia e a queratina, a ureia pode interagir com essa proteína, provocando o amolecimento da mesma, o que facilita sua remoção. A ureia pode provocar irritação, como todo queratolítico, e sua concentração de uso para essa finalidade varia de 10 a 30%, sendo que a 5-6% é utilizada como hidratante da pele;
c) Alfa hidroxiácidos (ácido glicólico e ácido lático): o ácido glicólico é um ácido orgânico de baixo peso molecular, e atua como queratolítico por diminuir a coesão entre os corneócitos, facilitando a remoção da queratina. Essa atividade queratolítica depende da sua concentração e do pH. Até 4% considera-se uma concentração baixa, que produz um efeito superficial, ou seja, remove apenas camadas de queratina mais superficiais. De 4 a 10%, o efeito queratolítico aumenta, e, portanto, essa substância é capaz de remover maior número de camadas de queratina. Em concentrações acima de 10%, essas substâncias são capazes de remover completamente a epiderme, o que recebe o nome de pilling ou epidermólise, sendo utilizadas para promover a renovação celular dessa camada, e remover rugas finas e manchas. A ação queratolítica também está relacionada com o pH da formulação. Em pH baixo, o ácido glicólico encontra-se na forma não ionizada, que apresenta maior facilidade de penetração na pele, o que, apesar de aumentar a eficácia, é extremamente agressivo. Logo, o usual é que se neutralize parte do ácido, utilizando uma base para elevar um pouco o pH da formulação, gerando um ácido parcialmente ionizado. O ácido ionizado apresenta menor capacidade de penetração, perdendo um pouco de sua eficácia, mas, em compensação, é menos agressivo à pele.
2) Adstringentes:
Os adstringentes são substâncias que provocam contração dos tecidos, diminuindo secreções e exsudatos. Apresentam baixa penetração celular, tendo sua ação limitada à superfície celular. A pasta d’água é um exemplo de formulação adstringente, que apresenta óxido se zinco (responsável pela adstringência) em sua constituição. Essa preparação forma uma camada protetora sobre a pele, provoca contração, diminui a secreção e o exsudato, e, além disso, é capaz de precipitar proteínas localmente, ou seja, coagula proteínas, que formarão a camada protetora. Além do o óxido de zinco, a pasta d’água apresenta, em sua constituição, água de cal, que possui óxido de cálcio, que também é adstringente. Além das ações citadas, os adstringentes diminuem o extravasamento de proteínas plasmáticas em feridas, contribuindo para diminuir o edema e a inflamação local.
Exemplos:
a) Sais de alumínio, magnésio e zinco: acetato de alumínio, presente em algumas pomadas de uso anal; cloreto de alumínio (presente em desodorantes antitranspirantes), provocando contração, impedindo a saída do suor, e, consequentemente, diminuindo a sudorese;
b) Óxido de zinco (20%): presente na água de cal, utilizada para assaduras; calamina, utilizada para dor e queimadura solar; e Hipoglós;
c) Taninos e compostos polifenólicos: formam uma película protetora sobre feridas abertas.
Os adstringentes são muito utilizados em formulações de pomadas de uso anal, destinadas ao tratamento de fissuras e hemorroidas, com a finalidade de produzir uma camada protetora, que protege a lesão formada nesses casos.
3) Irritantes e rubefacientes:
Os irritantes e rubefacientes são substâncias capazes de provocar irritação local com subsequente hiperemia. Essa irritação local provoca uma sensação de bem estar, calor, prurido e hiperestesia. São substâncias utilizadas com o objetivo de oferecer alívio da dor em um sítio adjacente, conhecido como efeito contrairritante, no qual se tem um alívio paradoxal da dor, obtido ao produzir uma dor menos severa para contrapor uma dor mais intensa.
Geralmente, os impulsos dolorosos são transmitidos através do mesmo nervo da espinha dorsal, e as fibras não mielinizadas são responsáveis pela transmissão lenta de sinais dolorosos persistentes, ou seja, aqueles relativos a uma dor mais profunda, como no músculo e joelhos, por exemplo. Por outro lado, os sinais dolorosos relativos a uma dor imediata, tal como a sensação de picada forte ou no caso dos contrairritantes, são transmitidos mais rapidamente através de fibras mielinizadas. Dessa forma, uma dor imediata é capaz de ser percebida mais rapidamente pelo cérebro do que uma dor persistente profunda. Essa é a lógica utilizada ao fazer uso dos irritantes e rubefacientes.
Exemplos:
· Cânfora: analgésico suave em baixas concentrações (0,1 a 3%) e rubefaciente em maiores concentrações (3 a 10%). Assim, é capaz de promover hiperemia em doses mais altas;
· Mentol: promove sensação de frio/frescor. Em baixas concentrações (0,1 a 1%) é capaz de deprimir receptores cutâneos (antipruriginoso), e, em concentrações mais altas (> 1,2%) atua como contrairritante e rubefaciente;
· Salicilato de mentila: flavorizante em balas e pastas de dente em concentrações muito baixas. Em concentrações mais altas (acima de 10%) é utilizado como rubefaciente. Trata-se de uma molécula que apresenta certa lipofilicidade, sendo capaz de penetrar a pele, e até mesmo ser absorvida, provocando ação sistêmica, podendo gerar reações alérgicas em indivíduos que apresentam sensibilidade à aspirina, devido à similaridade estrutural do salicilato de mentila com o AAS.
FORMAS FARMACÊUTICAS SEMISSÓLIDAS
As formas farmacêuticas semissólidas são sistemas que podem se apresentar na forma de 4 bases distintas: base oleosa (hidrófoba), que são as pomadas propriamente ditas, compostas por componentes graxos, oleosos; base de absorção, que apresentam certa potencialidade em absorver água, seja durante o processo de preparação da formulação ou de água adicional a esse sistema; base emulsiva, que são os cremes; e base hidrofílica, que são os géis. Algumas literaturas antigas chamam os sistemas semissólidos, no geral, de pomadas.
As pomadas (formas farmacêuticas semissólidas) são sistemas que se caracterizam pela sua consistência pastosa. A USP define os sistemas semissólidos como preparações que apresentam consistência pastosa, destinadas à aplicação externa sobre a pele ou mucosas (oral, ocular, vaginal ou anal), objetivando uma ação tópica ou sistêmica. Geralmente apresentam fácil espalhabilidade, e se aderem bem à pele e mucosas. Permitem a veiculação de diversos ativos, como queratolíticos, por exemplo, que são utilizados com o objetivo de remover a camada espessa de queratina presente no estrato córneo, com ação restrita ao local de aplicação, já que a absorção para ação sistêmica, neste caso, não é desejada. Diferentemente, algumas formulações apresentam ativos veiculados com o objetivo de se alcançar ação sistêmica, como, por exemplo, alguns antibióticos e hormônios. Normalmente, preparações destinadas à ação sistêmica são mais bem projetadas para sistemas transdérmicos, que permitem um controle maior da dose administrada e da quantidade de substância absorvida. A partir desse sistema, a substância atravessa diversas camadas até alcançar a circulação sanguínea.
Bases emulsivas (cremes):
As bases emulsivas, ou cremes, consistem, basicamente, na dispersão de dois líquidos imiscíveis. Para promover essa dispersão, é necessário utilizar uma substância com ação tensoativa. Substâncias oleosas e substâncias aquosas não se misturam, mas podem ser dispersas uma na outra através de uma substância com ação detergente. Esse agente detergente é capaz de diminuir a tensão interfacial entre esses dois líquidos, e emulsionar a substância oleosa ou aquosa, permitindo que esta se disperse na substância aquosa ou oleosa. Ao preparar um creme, tem-se um sistema emulsionado, onde há uma fase oleosa dispersa em uma fase aquosa, ou vice-versa, o que é possível a partir da adição de uma substância tensoativa, que apresenta propriedades específicas quepermitem produzir emulsões com viscosidade de média a alta.
Portanto, cremes são emulsões semi-sólidas, de média a alta viscosidade, contendo substâncias medicamentosas dissolvidas ou suspensas nas suas fases aquosa ou oleosa. São semi-sólidos do tipo emulsão, tipo A/O ou O/A, de consistência macia e de fácil espalhamento sobre a pele.
Classificação:
Quanto ao tipo de emulsão, os cremes podem ser classificados em água/óleo (A/O) ou óleo/água (O/A), de acordo com o agente tensoativo utilizado, mas não necessariamente de acordo com a fase externa. Existem emulsões que apresentam 51% de fase aquosa e 49% de fase oleosa e, apesar dessa proporção, é possível preparar uma emulsão do tipo A/O. Logo, o que define uma emulsão é a proporção entre os agentes tensoativos utilizados e o tipo de tensoativo final. Para preparar uma emulsão, são necessários tensoativos capazes de emulsionar o sistema, ou seja, é preciso um agente tensoativo, ou uma mistura de agentes tensoativos, que garanta o valor de EHL adequado para emulsionar o sistema. Portanto, dependendo do tensoativo utilizado, ou da proporção entre agente tensoativo de caráter polar e agente tensoativo de caráter apolar, na mistura de tensoativos, tem-se uma emulsão do tipo A/O ou O/A.
Os cremes ainda podem ser classificados em função da natureza do agente emulsionante utilizado, podendo ser: iônicos, nos quais se utilizam agentes tensoativos iônicos, como o lauril éter sulfato de sódio (aniônico); ou não iônicos, nos quais se utiliza Tween e/ou Span, que são tensoativos não iônicos. É importante conhecer a natureza dos tensoativos, uma vez que o fármaco a ser veiculado na formulação influencia na escolha da base a ser utilizada. Fármacos ácidos apresentam grande probabilidade de apresentarem incompatibilidade com tensoativos iônicos, logo, quando se deseja veicular um fármaco de natureza ácida, deve-se optar por bases não iônicas.
Os cremes também podem ser classificados quanto às suas propriedades e finalidades, em: cremes de limpeza, evanescentes, emolientes, nutritivos, e protetores, dependendo da base. Do ponto de vista farmacotécnico, é importante conhecer o tipo de emulsão a ser produzida, para a escolha da base. A escolha da base está condicionada ao fármaco a ser veiculado e ao local de aplicação. Uma base muito oleosa não é recomendada para a veiculação de um fármaco anti-acneico, por exemplo, já que uma pele com acne é uma pele que tende a apresentar oleosidade excessiva, logo, o uso de bases oleosas pode piorar o quadro do paciente.
Principais constituintes:
1) Emulsionantes (tensoativos):
Os agentes tensoativos podem ser: aniônicos, catiônicos, não iônicos ou anfotéricos. Os agentes tensoativos aniônicos podem ser produzidos durante o processo de preparação, ou seja, podem ser formados in situ, como sabões. Tensoativos que apresentam uma única cadeia carbônica estabilizam melhor emulsões do tipo O/A, enquanto tensoativos que apresentam mais de uma cadeia carbônica estabilizam melhor emulsões do tipo A/O. Dependendo da carga da substância básica utilizada para a formação do tensoativo in situ, serão necessárias uma ou mais de uma cadeia carbônica (derivada do ácido graxo que reage com a base) para neutralizar essa carga. Assim, tensoativos formados a partir de bases polivalentes estabilizam melhor emulsões do tipo A/O, enquanto tensoativos formados a partir de bases monovalentes, tais como NaOH e KOH, estabilizam melhor emulsões do tipo O/A, já que a cadeia graxa será menor, o que diminui o caráter apolar do tensoativo.
Em uma formulação na qual se tem um ácido graxo, como o ácido palmítico ou ácido esteárico, e uma base, como o NaOH, essas substâncias reagem entre si, formando o agente emulsionante (palmitato de sódio ou estearato de sódio). É importante conhecer como se dá a formação do tensoativo in situ, pois, muitas vezes, não se tem um agente tensoativo já formado na formulação, mas tem-se um ácido graxo e uma base, que reagirão, formando o agente tensoativo responsável por estabilizar essa emulsão.
Um sistema no qual se tem duas fases (aquosa e oleosa) apresenta tensão interfacial máxima, na ausência de agente tensoativo. À medida que se adiciona um agente tensoativo à preparação, essa tensão interfacial diminui até atingir a concentração micelar crítica (CMC), que é a concentração do tensoativo suficiente para recobrir a interface e emulsionar a preparação. Em concentrações acima da CMC, grande parte do agente tensoativo começa a se organizar na forma de micelas, logo, não é preciso adicionar uma grande quantidade de agente tensoativo, apenas uma quantidade acima da CMC, para que ocorra a formação das micelas e, portanto, a dispersão da substância na fase externa.
A concentração do agente emulsionante em um sistema emulsionado pode variar de 0,1 a 5,0 % na formulação, dependendo da potencialidade do mesmo, do tipo de emulsão a ser preparada (A/O ou O/A) e do EHL requerido para emulsionar os componentes da fase interna.
2) Umectantes:
Os umectantes são substâncias capazes de reter água no sistema. Um dos problemas que podem ocorrer na preparação de cremes é a perda de água, que eleva a viscosidade da formulação, desestabilizando-a. Dessa forma, a adição de um agente umectante na formulação é extremamente importante. Como exemplo de agentes umectantes tem-se: propilenoglicol, butilenoglicol, glicerina, derivados da glicose, sorbitol e polietilenoglicol. São substâncias hidrofílicas e, portanto, capazes interagir com a água no sistema, através de interações de H, por exemplo, retendo-a, impedindo que essa seja perdida.
Além de manter a água na formulação, uma substância umectante, quando aplicada sobre a pele, apresenta também ação hidratante. Além disso, o agente umectante pode ser utilizado para auxiliar a aderência de alguns pós, promovendo sua solubilidade, dependendo do ativo e das propriedades do mesmo. Alguns umectantes apresentam ação conservante, como o propilenoglicol, dependendo da concentração na qual é utilizado.
A concentração do agente umectante pode variar de 2,0 a 15,0%.
3) Emolientes:
Os emolientes são substâncias que aumentam a hidratação da pele e provocam sensação de maciez. Normalmente, os agentes emolientes são ésteres, como o miristato, composto de 14 carbonos, e o palmitato, que contém 16 carbonos. São substâncias que apresentam excelente ação lubrificante e emoliente. Além disso, são substâncias capazes de promover viscosidade à formulação. Normalmente, são substâncias graxas e, portanto, componentes da fase oleosa nas preparações. São utilizados na concentração de 2,0 a 30,0%.
4) Espessantes:
Os agentes espessantes são doadores de viscosidade para a formulação, seja para a fase interna ou externa, visto que existem espessantes de fase aquosa, representados por vários polímeros, e espessantes de fase oleosa. Os óleos, de maneira geral, são doadores de viscosidade, pois possuem viscosidade característica. Muitas vezes, é necessário aumentar a viscosidade do sistema para garantir uma estabilidade adequada da preparação. Quanto maior a viscosidade do meio, mais estável o sistema tende a ser, pois dificulta a movimentação das partículas.
A escolha dos agentes espessantes, tais como polímeros derivados de celulose, polímeros derivados do ácido acrílico e algumas gomas de origem natural, depende do tipo de preparação. Algumas preparações destinadas à mucosa oral, por exemplo, muitas vezes utilizam gomas, principalmente na fase aquosa.
São utilizados na concentração de 0,5 a 5,0%.
5) Conservantes:
A utilização de conservantes é importante, uma vez que os cremes apresentam água em sua formulação, logo, os conservantes são utilizados com o objetivo de evitar o crescimento de microorganismos, geralmente na concentração de 0,1 a 0,7%.
6) Agentes oxidantes:
Os agentes oxidantes são substâncias responsáveis por manter a estabilidade da preparação, pois evitam a oxidação de alguns compostos, como compostos graxos, que são lipofílicos.
7) Corretivos de pH;
8) Substâncias graxas;
9) Água destilada ou deionizada.
Cold Cream:Os cremes Cold Cream são emulsões do tipo A/O, constituídos basicamente por óleos (40-70%), água (20-25%) e ceras de abelhas (5-15%) como elemento fundamental e, ainda, 0,5 a 5% de borato de sódio. Apresentam menor penetração que os cremes O/A, são protetores cutâneos, emolientes, não desidratam a pele (baixo teor de água), e são usados para veicular fármacos antissépticos e parasiticidas. Podem veicular, também, vitaminas lipossolúveis (A,D,E,K).
Na maior parte dos cremes Cold Cream, o agente emulsionante é formado in situ, mediante a reação entre os ácidos graxos presentes na cera de abelha e o borato de sódio. Há cremes do tipo A/O que são bases gordurosas, graxas, e, quando aplicadas na pele, formam uma camada oclusiva, em função da alta concentração de óleo, o que aumenta a ação hidratante e emoliente, uma vez que a camada oleosa oclusiva formada evita a perda de água, aumentando a emoliência. Portanto, são bases utilizadas para veiculação de fármacos destinados a ficarem retidos na epiderme, apresentando menor penetração, como queratolíticos, alguns tipos de vitaminas lipossolúveis, e outras substâncias cujo objetivo é a obtenção de uma ação mais restrita às camadas superficiais, ao que se chama ação epidérmica. Trata-se de cremes com ação emoliente e protetora.
Creme evanescente:
O Creme evanescente apresenta fase externa aquosa, ou seja, são cremes emulsão do tipo O/A. Da mesma forma que o Cold Cream, o agente emulsionante é formado in situ através da reação entre o ácido esteárico e uma base monovalente, como NaOH, KOH ou trietanolamina, mas nunca bases que são íons divalentes ou tetravalentes, já que é preciso trabalhar com ânions que apresentam valência mínima para que se tenha a formação de emulsionantes passíveis de serem utilizados em formulações do tipo O/A. Logo, os cremes evanescentes são cremes emulsão do tipo O/A, onde o agente emulsionante é um sabão monovalente do ácido esteárico, formado in situ. Por utilizar agentes tensoativos iônicos, poderia haver alguns problemas de incompatibilidade, pois se trata de bases que são mais sensíveis à variação de pH. Logo, cremes iônicos permitem veicular diferentes tipos de substâncias e ativos, mas é preciso verificar a estabilidade da preparação ao veicular essas substâncias.
Diferentemente do creme Cold Cream, que apresenta baixa penetração na pele, logo, apresenta ação restrita às camadas superficiais, o creme evanescente, e outros cremes do tipo O/A, apresenta elevado poder de penetração dos ativos na pele, o que se chama ação diadérmica, já que conseguem atingir a derme e serem absorvidos, dependendo do tipo de substância. Além disso, enquanto o Cold Cream é um creme oleoso e de difícil remoção, o creme evanescente é um creme capaz de ser removido com facilidade através de uma simples lavagem. É interessante quando se deseja veicular substâncias bacteriostáticas ou bactericidas.
Preparo:
O método de preparação de cremes é o mesmo utilizado na preparação de emulsões: método da mistura das fases, onde há fusão e incorporação de fases. Muitos dos componentes são sólidos à temperatura ambiente. Dessa forma, os componentes lipofílicos são misturados e aquecidos, assim como os componentes hidrofílicos e, posteriormente, as duas fases são incorporadas uma na outra. É importante que haja uma agitação (cisalhamento) vigorosa, para promover diminuição das partículas dispersas, aumentando a estabilidade da formulação. Essa mistura pode ser feita com o auxílio de gral e pistilo. Nessa condição, não se pode colocar a emulsão recém-formada em banho gelado, uma vez que pode quebra da emulsão, o que não ocorre em escala industrial. Para emulsões do tipo O/A, é possível diminuir o gasto de energia do processo de mistura acrescentando uma menor quantidade de água, juntamente com os outros componentes hidrofílicos. Após a mistura da fase hidrofílica e da lipofílica, e da agitação, acrescenta-se o restante de água.
A quebra da emulsão ocorre quando as gotículas se unem, devido à destruição do filme de tensoativos formado ao redor das gotículas (coalescência ou separação de fases), o que caracteriza um processo irreversível. Os processos de aglomeração, ou formação de creeming (união das gotículas, com manutenção do filme tensoativo) é uma instabilidade que pode ser revertida, aumentando-se a viscosidade do sistema, a concentração de tensoativo, ou diminuindo o tamanho das gotículas.
A base pode ser utilizada somente para promover emoliência ou hidratação, mas também pode ser utilizada para a incorporação de substâncias que apresentam outras funções, que estarão presentes na fase aquosa ou oleosa. Essas substâncias podem ser incorporadas durante o preparo, entretanto, substâncias termolábeis devem ser adicionadas após o preparo da base, por levigação. Para isso é preciso de um agente levigante com propriedades lipofílicas, como o óleo de semente de uva, ou hidrofílicas, como óleo mineral e glicerina, de acordo com a formulação (A/O ou O/A), que é capaz de envolver o pó e promover a dispersão adequada do mesmo. A ausência de agente levigante, nesse caso, pode levar à produção de uma formulação arenosa.
Bases de pomadas:
De um modo geral, as bases podem apresentar ação epidérmica (A/O), endodérmica (interface entre epiderme e derme – A/O composta de óleo de maior penetração) ou diadérmica (O/A). Nenhuma dessas bases é solúvel em água, uma vez que tanto as bases do tipo A/O quanto as do tipo O/A contém componentes oleosos. Nas bases emulsivas do tipo A/O que atingem a parte inferior da epiderme, não é possível garantir que a substância que está sendo veiculada não será absorvida sistemicamente. Bases emulsivas do tipo A/O não são facilmente laváveis, enquanto as bases emulsivas do tipo O/A são laváveis. Além disso, bases do tipo A/O são oclusivas, o que favorece o aumento da emoliência e provovem hidratação. 
Para identificar se uma emulsão é do tipo A/O ou O/A, deve-se adicionar água ao sistema. Na primeira ocasião, a água não se mistura, diferentemente do que ocorre em emulsões do tipo O/A. Além disso, emulsões do tipo O/A são capazes de conduzir corrente elétrica, logo, também se diferem das emulsões do tipo A/O quanto a esse aspecto. Pode-se, também, utilizar um corante (Sudam III) capaz de promover a coloração da fase oleosa (lipossolúvel), na primeira ocasião, que se propaga em toda a formulação, diferentemente da segunda ocasião.
Pomadas:
As pomadas são preparações contendo excipientes gordurosos ou graxos. Apresentam-se moles e untosas. São praticamente anidras, congestivas, não permitindo a respiração cutânea, e funcionam como películas superficiais. Os principais componentes das pomadas são as substâncias graxas, tais como óleos vegetais, óleos animais (lanolina), hidrocarbonetos (petrolato, parafina, vaselina) e silicone. Tem-se também substâncias aditivas (97% de componentes oleosos e 3% de aditivos).
As pomadas são preparações de ação epidérmica, apresentando baixo poder de penetração. Por ser uma base graxa, as pomadas são insolúveis e não laváveis com água. Além disso, são bases anidras, com percentual quase nulo de água.
Não se utiliza bases oleosas ao invés de bases emulsivas do tipo A/O, uma vez que as pomadas apresentam cheiro desagradável, além de serem muito graxas, o que dificulta sua espalhabilidade na pele, em grande extensão. Portanto, geralmente são bases utilizadas para pequenas extensões.
Pode ser necessário incorporar substâncias hidrofílicas na base graxa. Para isso, adiciona-se lanolina na formulação, que é uma substância oleosa com característica autoemulsionante, capaz de absorver água. Assim, para uma formulação que contém uma substância hidrofílica, é necessário incorporar a mesma na lanolina, antes da incorporação à base hidrofóbica. Um exemplo é a incorporação de ureia, que é uma substância hidrofílica, com ação queratolítica em concentrações maiores. Neste processo, adiciona-se um pouco de água à ureia, para solubilizá-la e, posteriormente, essa mistura é incorporada na lanolina, aos poucos, até a completa incorporação,e, finalmente a é incorporada na base graxa. Se não houver a incorporação adequada à lanolina, ocorre separação de fases. Bases que utilizam lanolina para a incorporação de substâncias hidrofílicas são chamadas bases de absorção.
A lanolina também pode ser utilizada na formulação como constituinte da base graxa, juntamente com a vaselina (65% de vaselina e 35% de lanolina). Neste tipo de formulação, a lanolina pode ser hidratada ou anidra, formando, portanto, pomadas anidras ou hidratadas. A lanolina anidra é capaz de absorver mais água, se comparado com a lanolina hidratada. Logo, adicionando-se água ou substâncias hidrofílicas a essa formulação, a pomada hidratada é capaz de incorporar menos água. Este tipo de base também é uma base de absorção.
A lanolina possui capacidade autoemulsionante, entretanto, as pomadas contendo lanolina para a incorporação de substâncias hidrofílicas não podem ser consideradas como um sistema emulsivo, ou seja, uma emulsão. Em outras situações, a lanolina pode ser utilizada para formar emulsões do tipo A/O. 
Pastas:
Pastas são bases lipofílicas ou hidrofílicas contendo grande quantidade de pó (20 a 60% da formulação). Devido à grande quantidade de pó nas bases lipofílicas, estas se tornam menos oleosas, se comparado com as pomadas, que apresentam somente 3% de pó. Logo, as pastas são pomadas contendo grande quantidade de sólidos em dispersão. Apresentam consistência macia e firme, são pouco gordurosas, e apresentam grande poder de absorção de água ou de exsudatos, sendo geralmente utilizadas para o tratamento de lesões que apresentam exsudato e edema. Não são indicadas para regiões pilosas. Algumas pastas podem ser formadas por componentes hidrofílicos, como a pasta d’agua, composta por água de cal, talco, óxido de zinco e glicerina, onde o óxido de zinco e o talco são pós insolúveis em água.
Procedimento geral de preparo:
Tanto as pastas quanto as pomadas são preparadas avaliando-se a solubilidade dos aditivos na base hidrofílica ou hidrofóbica. Se os aditivos são solúveis na base, o preparo é realizado por simples incorporação. Neste método, os pós são, primeiramente, triturados, tamisados e misturados, de acordo com a regra do mistão e da diluição geometria e, posteriormente, essa mistura de pós é incorporada aos outros componentes da formulação, também utilizando a regra do mistão e da diluição geomátrica. Entretanto, se o aditivo não é solúvel na base, é preciso levigar essa substância. O agente levigante deve ser escolhido de acordo com o tipo de base, ou seja, de acordo com sua afinidade por ela. Assim, para bases hidrofílicas, utilizam-se levigantes hidrofílicos, como propilenoglicol, sorbitol e glicerina, enquanto para bases lipofílicas, utilizam-se levigantes lipofílicos, como vaselina. As partículas do pó são revestidas pelo agente levigante, no qual devem ser solúveis, além de este também possuir afinidade pela base. Desta forma, o agente levigante é misturado ao pó e, posteriormente, incorporado à base (quando o agente levigante é uma substância diferente da base), ou a própria base pode ser utilizada como agente levigante, e, neste caso, ela é fundida, misturada ao pó para levigá-lo e, posteriormente, essa mistura é incorporada ao restante da base.
Pasta d’água:
A pasta d’agua é composta por: água de cal, que é uma mistura de hidróxido de cálcio em água, formando carbonato de cálcio, que se precipita, e óxido de cálcio solúvel; talco; óxido de zinco; e glicerina. O talco e o óxido de zinco são insolúveis em água. Logo, a glicerina é utilizada como agente levigante, revestindo os pós e permitindo a dispersão adequada dos mesmos na base, que é a água de cal. Os pós devem ser triturados e tamisados para que a formulação não apresente aspecto arenoso.
Pasta de Lassar:
A pasta de Lassar é composta por: amido; óxido de zinco; e vaselina sólida. Todos os componentes são solúveis na base (vaselina sólida). Para o preparo, os pós (óxido de zinco e talco) são triturados, tamisados, misturados seguindo-se a regra do mistão e da diluição geométrica e, posteriormente, essa mistura de pós é tamisada. Uma parte da vaselina pode ser fundida e utilizada como agente levigante e, posteriormente, a mistura é dispersa no restante da vaselina sólida. Porém, não é interessante fundir totalmente a base, uma vez que durante a solidificação da base, o pó pode decantar, não estando perfeitamente disperso na base. Diante disso, os pós podem ser misturados diretamente na vaselina sólida, porém, neste caso, a dispersão dos pós é dificultada.
Um agente levigante é um agente molhante. Os agentes molhantes podem ser substâncias com ação tensoativa, diferentemente dos agentes levigantes. Existem alguns coloides hidrofílicos que podem ser adsorvidos na interface, promovendo uma adequada dispersão de uma substância com a fase contínua (fase externa/fase dispersante), como, por exemplo, a glicerina e o propilenoglicol, que apresentam propriedade levigante e molhante, mas, que não apresentam ação tensoativa. Portanto, não se pode inferir que toda substância que tem propriedade levigante possa também atuar como um tensoativo.
Ceratos:
Ceratos são pomadas que contém cera como composição fundamental (≥ 15%), associada a óleos ou gorduras que lhes garantem consistência apropriada, ou seja, possuem, geralmente, consistência dura. Em situações nas quais a cera é utilizada para formar um agente emulsionante, como no Cold Cream, onde a cera de abelha reage com o borato de sódio e forma o agente emulsificante in situ, não se classifica como cerato, e sim como uma emulsão do tipo A/O. Já em situações em que a cera não forma um sistema emulsionado, somente compõem a fase oleosa, associada a óleos e gorduras, tem-se um cerato.
As ceras são sólidas à temperatura ambiente, e, para conseguir incorporar o óleo na cera, preparando-se uma base oleosa, é necessário realizar a fusão da cera em temperatura de 60 a 80°C, seguindo-se da homogeneização em batedeiras. Como são bases constituídas de substâncias graxas que podem se degradar facilmente, é necessário adicionar a essa base alguma substância com ação antioxidante para que se mantenha uma adequada estabilidade da formulação. Os ceratos são bases de ação epidérmica, com ação protetora sobre peles irritadas.
Glicerados:
Glicerados são preparações semi-sólidas, presentes na forma de um gel com aspecto translúcido, obtidas mediante a fusão do amido com a glicerina. Possuem fraco poder de penetração, sendo, também, bases de ação epidérmica. Por se tratar de uma formulação hidrofílica, que apresenta alto potencial para o crescimento microbiano, deve-se ter cuidado na realização da incorporação da matéria prima, a fim de se garantir a ausência de qualquer microorganismo, e, durante o processo de produção é necessário adicionar agentes conservantes adequados, para garantir a estabilidade da formulação. Os glicerados são preparações extemporâneas que devem ser utilizadas em um curto intervalo de tempo, para garantir que a estabilidade, do ponto de visto microbiológico, esteja adequada.
Géis:
Géis são sistemas semissólidos que consistem em suspensões de pequenas partículas inorgânicas ou de grandes moléculas orgânicas interpenetradas por um líquido, formando um produto transparente translúcido. São definidos como dispersões coloidais, geralmente hidrofílicas, constituídas de uma fase dispersa e uma fase dispersante. 
Do ponto de vista dermatológico, para indivíduos com pele oleosa, a utilização de um gel é mais indicada do que a utilização de um creme, pois, mesmo se tratando de um creme O/A, este já apresenta uma oleosidade própria que pode piorar o quadro de oleosidade da pele do indivíduo, sendo contraindicado no tratamento da acne, por exemplo, que é uma patologia muitas vezes decorrente de oleosidade excessiva da pele, e, ao se utilizar um creme oleoso, este pode agravar o quadro do indivíduo.
Os géis são bases hidrofílicas, de ação epidérmica, e apresentam aspecto viscoso. São aquosos ou alcoólicos, laváveis em água, hidrossolúveis, higroscópicos e atuamcomo bases de absorção. Conferem um aspecto de pureza e frescor, e não são gordurosos. Por essas razões, são mais aceitos pelos consumidores em relação a formulações mais graxas. Em algumas situações, adiciona-se à base hidrofílica uma pequena quantidade de óleo, formando-se um gel-creme. O gel-creme é constituído por substâncias com ação espessante, que são polímeros (substâncias hidrofílicas), e de uma pequena quantidade de lípides, que aumenta a capacidade hidratante da formulação, sem promover o aspecto de uma preparação graxa. Alguns géis, dependendo do polímero utilizado em sua preparação, ao serem aplicados na pele, podem formar uma película e promover a descamação da pele. Ao se associar uma pequena quantidade de óleo a essa formulação, minimiza-se a ocorrência desse fator desagradável.
O gel é um sistema onde se tem a dispersão de partículas em meio aquoso, que é constituído por uma base hidrofílica, ou seja, o gel é uma preparação capaz de ser solubilizada adequadamente em água, diferentemente dos cremes O/A ou A/O, e das pomadas. É uma base capaz de absorver água, não oclusiva, e sem a presença de componentes graxos (exceto em gel-creme), além de ser facilmente removível com água.
Composição básica: 
1) Agente gelificante;
2) Agente conservante: por ser uma base hidrofílica, é importante um agente conservante para garantir a estabilidade do sistema;
3) Agente umectante: garante a viscosidade adequada da formuação. Alguns exemplos de agentes umectantes são propilenoglicol e glicerina, que apresentam várias hidroxilas em sua estrutura, o que permite que essas substâncias interajam com a água, através de interações intermoleculares, retendo-a na preparação. Dessa forma, evita-se a ocorrência de contração de volume, provocada pela perda de água para o sistema e, consequentemente, ocasiona o aumento de viscosidade e perda de estabilidade da formulação. Além de estar relacionada ao agente umectante adicionado à preparação, a viscosidade também se relaciona a outras substâncias adicionadas à essa base;
4) Agente quelante: dependendo do polímero, podem ocorrer alterações na viscosidade do sistema em função de alguns íons presente no meio, que podem interagir com tais, evitando-se a formação adequada da rede polimérica, já que impede a interação do polímero com a água;
5) Agente neutralizante: Em alguns casos, necessita-se de substâncias neutralizantes, principalmente bases, como aminas e bases inorgânicas. Um exemplo são as formulações contendo carbopol, que é um polímero de natureza ácida, logo, é necessário que se utilize uma substância básica como neutralizante, para ajustar o pH, permitindo que este polímero esteja em sua forma adequada (ionizada), passível de interagir com a água e, portanto, exercer sua ação de aumentar a viscosidade do produto;
6) Veículo: na maior parte das vezes, o veículo utilizado é a água e, em algumas vezes, utiliza-se uma mistura de água e etanol.
Não se utiliza corantes em formulação que visam ação terapêutica. É extremamente importante que as bases de géis sejam inertes/inócuas, para que se garanta a adequada veiculação do ativo.
Podem-se preparar géis iônicos e géis não iônicos, e a escolha da base é importante para garantir a estabilidade adequada dessa formulação. Alguns géis, na presença de ácidos, se desestabilizam imediatamente, perdendo sua viscosidade. Outras vezes, a perda de viscosidade não é imediata, podendo ocorrer em longo prazo.
A água é o principal veículo em géis. A água presente na formulação pode interagir de diversas formas com o polímero, que é a molécula responsável pela promoção do espessamento. Dessa forma, em géis, a água pode estar: livre, ou seja, não realizando nenhum tipo de interação com o polímero; interagindo com o polímero através de pontes de hidrogênio ou interações íon-dipolo com o grupo polar presente na estrutura do polímero; ou pode estar aprisionada na estrutura reticular. Para a formação dos géis, primeiramente o polímero é adicionado à água, logo, ocorre a hidratação do polímero, permitindo que a água interaja com as moléculas do polímero. As moléculas de água, então, se aproximam de cada grupo polar da cadeia polimérica.
A cadeia polimérica se apresenta, inicialmente, em um formato enovelado e, à medida que a água interage com os grupos polares dessa cadeia, ela se desenovela, “esticando-se”, já que a água ocupa o espaço da interação entre esses grupos polares da molécula. Esse processo leva à formação da estrutura reticular, ou seja, da rede polimérica, responsável pela produção da consistência da formulação.
A viscosidade depende da relação entre a quantidade de água livre e a quantidade de água interagindo com o polímero na formulação. Quanto maior a quantidade de água na forma livre, menor será a viscosidade do gel. Quanto maior a quantidade de água interagindo com o polímero, seja através de pontes de hidrogênio, interações íon-dipolo ou aprisionada na estrutura reticular, maior a viscosidade do produto. Para aumentar a viscosidade do sistema, pode-se aumentar a quantidade de polímero na formulação, pois quanto maior a concentração de polímero, maior será a quantidade de água interagindo com o polímero. Algumas vezes, o ajuste da viscosidade pode ser feito a partir do ajuste do pH, pois o pH interfere na forma como o polímero interagirá com a água.
Classificação:
Os géis podem sem classificados quanto à: origem dos polímeros (naturais ou sintéticos); natureza química (orgânicos ou inorgânicos); solubilidade (hidrofílicos – 99,9%, ou hidrofóbicos – 0,01%); e carga iônica (não-iônicos ou aniônicos).
1) Espessantes hidrofílicos naturais:
Os espessantes hidrofílicos de origem natural são hidrocoloides derivados de plantas vegetais ou marinhas, ou obtidos por biotecnologia. Alguns exemplos são: goma guar (semente de plantas); goma xantana (fermentação aeróbica); alginatos e carragenas (algas marinhas); pectinas (cascas de frutas); amido (raízes de plantas); celuloses (plantas fibrosas). As gomas são coloides que, quando dispersos em meio aquoso, são capazes de formar um sistema gelificado.
Um exemplo de gel que utiliza polímeros de origem natural é o Daktarin gel oral, que veicula o miconazol, destinado ao tratamento de candidíase da mucosa bucofaríngea. Esse gel apresenta amido como principal agente gelificante, na sua forma pré-gelatinizada. Só é possível preparar um gel contendo amido como agente gelificante após aquecimento. Cada tipo de polímero apresenta sua especificidade quanto à forma de preparo adequada.
2) Derivados de celulose:
A celulose pode apresentar algumas substituições em sua molécula, em relação ao grupamento (R), formando polímeros derivados da celulosa com propriedades distintas, como mostrado na figura ao lado. Todos esses polímeros são capazes de formar substâncias espessantes, que conferem viscosidade adequada para o sistema, formando géis. Os géis formados por polímeros derivados da celulose são, em sua grande maioria, não iônicos, uma vez que os polímeros derivados da celulose não possuem grupos ionizáveis na molécula, com exceção da carboximetilcelulose, que forma um gel aniônico. A metilcelulose, que apresenta o grupo R = CH3, não é passível de sofrer ionização, bem como a hidroxipropilmetilcelulose que contém hidroxilas em sua estrutura que são dificilmente ionizáveis.
Para se incorporar uma substância ativa em um gel, é necessário conhecer a composição do mesmo, para que a incorporação ocorra de forma adequada. Ao se incorporar uma substância ácida em um gel de carboximetilcelulose, há perda de viscosidade, devido à protonação do grupo carboxilato, que confere a esse polímero a capacidade de interagir com a água, formando a rede polimérica e, consequentemente, promovendo a viscosidade do sistema, já que se diminui a quantidade de água livre. Esse tipo de polímero, portanto, forma um gel iônico, onde a presença de carga é importante para que se tenha uma rede polimérica adequada e, consequentemente, a viscosidade característica.
3) Derivados acrílicos:
Polímeros derivados do ácido acrílico

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