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AMANDA RODRIGUES PRINCIPAIS TIPOS DE CORRIMENTO VAGINAL A região da vulva e da vagina apresenta fisiologicamente quantidade variável de secreção, que se origina das glândulas regionais, do muco cervical e endometrial, bem como do transudato vaginal. O corrimento genital fisiológico é a secreção que, em geral, não causa desconforto e não é causado por agentes patológicos. O corrimento genital patológico é manifestação usual das vulvovaginites, e é caracterizado pela quantidade excessiva, com alterações das suas características fisiológicas, causando desconforto e sendo determinado por diferentes agentes etiológicos. Vaginite é o termo geral para distúrbios da vagina causados por infecção, inflamação ou alterações na flora vaginal normal. Os sintomas englobam corrimento vaginal, odor, prurido e/ou desconforto. Os agentes etiológicos mais frequentes são os fungos (Candida), as bactérias anaeróbicas em número significativamente aumentado (vaginose bacteriana) e protozoários (Trichomonas vaginalis). As etiologias não infecciosas incluem atrofia vaginal/vaginite atrófica em mulheres na pós-menopausa, corpo estranho (por exemplo, absorvente ou preservativo), irritantes e alérgenos e várias entidades mais raras, incluindo desordens médicas sistêmicas, como artrite reumatóide e lupus sistêmico. CORRIMENTO VAGINAL FISIOLÓGICO Em mulheres em idade reprodutiva, o corrimento vaginal normal consiste em 1 a 4 mL de fluido (por 24 horas), branco ou transparente, grosso ou fino, na maioria das vezes inodoro e com pH entre 3,5 a 4,5. Esta descarga fisiológica é formada por secreções endocervicais mucoides em combinação com células epiteliais descamativas, flora vaginal normal e transudato vaginal. A secreção pode tornar-se mais perceptível às vezes ("leucorreia fisiológica"), como no meio do ciclo menstrual próximo ao momento da ovulação, durante a gravidez ou com uso de anticoncepcionais estrogênicos e progestínicos. Dieta, atividade sexual, medicação e estresse também podem afetar o volume e o caráter do corrimento vaginal normal. Embora a secreção normal possa ser amarelada, levemente mal-cheirosa e acompanhada de sintomas irritativos leves, não é acompanhada de prurido, dor, ardência ou irritação significativa, eritema, erosões locais ou friabilidade cervical ou vaginal. VAGINOSE BACTERIANA É uma infeção endógena e é a causa mais comum de corrimento vaginal e mau cheiro. É uma síndrome polimicrobiana caracterizada pelo desequilíbrio da microbiota vaginal normal, com intensa redução dos lactobacilos acidófilos (normais na microbiota vaginal) e aumento expressivo de bactérias anaeróbias como Prevotella sp., Mobiluncus sp., G. vaginalis (mais frequente), Ureaplasma, Micoplasma e outros. Emprega-se o termo vaginose (em vez de vaginite) devido à discreta resposta inflamatória com ausência marcante de leucócitos (número pequeno ou inexistente). A maior parte das mulheres pode ser assintomática, mas a sintomatologia pode ser bastante incômoda, devido ao odor desagradável. São fatores de risco para a vaginose: multiplicidade de parceiros, novo parceiro, ducha vaginal, coito sem uso de preservativo, escassez de lactobacilos, sexo oral, raça negra, tabagismo, sexo durante a menstruação, dispositivo intrauterino e relação sexual em idade precoce. Métodos de barreira e anticoncepcionais orais são fatores protetores. SINTOMATOLOGIA Corrimento branco-acinzentado cremoso ou bolhoso, com odor fétido (“cheiro de pescado”), principalmente após o coito e pós menstrual, aderente às paredes vaginais. Menos frequentemente, há dispareunia. AMANDA RODRIGUES Não se observam alterações no colo uterino, nas paredes vaginais ou na genitália externa. DIAGNÓSTICO O diagnóstico é realizado pelos “critérios de Amsel” ou pela microscopia com a coloração de Gram, considerada o padrão ouro. A VB é diagnosticada quando há 3 dos 4 critérios de Amsel (acurácia > 90%) ou apenas os 2 últimos. Os critérios são: 1 – Corrimento: Abundante, homogêneo, branco- acinzentado, cremoso, pouco bolhoso, aderente à vagina. 2 – Microscopia (Bacterioscopia): Células-chave (células indicadoras ou “clue cells”) é o Sinal de Gardner. Positivo quando houver “clue-cells” em mais de 20% das células epiteliais, e ausência de lactobacilos à microscopia. 3 – pH vaginal: Maior que 4,5. Determinando com papel de pH no fluido vaginal. 4 – Teste das aminas (“Teste do cheiro”): Positivo quando houver odor fétido antes ou após a adição de KOH (“Whiff-test” positivo). Pela importância, a presença de odor fétido e “clue-cells” fecha o diagnóstico. TRATAMENTO CANDIDÍASE É uma infecção endógena do trato reprodutivo e é a 2ª causa mais frequente de vulvovaginite no menacme. É causada principalmente pela Candida albicans (80 a 90% dos casos) e ocasionalmente por outras espécies “não albicans”, como a C. glabrata e a C. tropicalis. A incidência aumenta após a menarca, com pico entre 30 e 40 anos. Não é considerada doença sexualmente transmissível, mas também pode ser transmitida por esta via. Dentre os fatores de risco, estão estados hiperestrogênicos, diabetes mellitus, imunossupressão por medicamentos ou doenças de base, gravidez, uso de tamoxifeno, uso de antibióticos, assim como hábitos alimentares e de vestimentas propícios ao crescimento contínuo dos fungos, e várias automedicações prévias inapropriadas. A CVV pode ser classificada como não complicada e complicada. SINTOMATOLOGIA As pacientes podem apresentar sinais e sintomas leves a intensos, como Prurido Ardência Corrimento (geralmente grumoso, sem odor) Dispareunia Disúria externa Edema Eritema Fissuras Maceração Escoriações Placas aderidas à parede vaginal colo uterino de cor branca Entretanto, nenhum desses achados é específico. Deve-se sempre tentar confirmação microbiológica (exame a fresco e/ou citologia), no entanto o simples achado microbiológico positivo na paciente assintomática (candidose) não deve ser tratado. TRATAMENTO AMANDA RODRIGUES TRICOMONÍASE É uma infecção transmitida sexualmente, causada pelo protozoário flagelado Trichomonas vaginalis que coloniza a vagina, as mucosas glandulares e a uretra. É o agente etiológico não viral mais prevalente em ISTs no mundo. A maioria das infecções (70%-85%) é oligo ou assintomática e pode durar por meses ou anos. Em geral, esse parasita é um marcador do comportamento sexual de alto risco, e a coinfecção com patógenos sexualmente transmissíveis é comum, em especial N. gonorrhoeae. SINTOMATOLOGIA Os sintomas e sinais característicos consistem em intenso corrimento vaginal amarelo esverdeado, bolhosa, espumosa, por vezes acinzentada, acompanhada de odor fétido lembrando peixe na maioria dos casos e prurido eventual. Quando ocorre inflamação intensa, o corrimento aumenta e pode haver sinusiorragia e dispareunia. Ao exame clínico, o colo tem aspecto de morango ou framboesa, devido à acentuada distensão dos capilares e micro-hemorragias, pelo intenso processo inflamatório. A colposcopia ajuda na avaliação clínica dessas alterações, assim como o teste de Schiller iodo- negativo ou “onçoide”. DIAGNÓSTICO O diagnóstico laboratorial microbiológico mais comum é o exame a fresco em um preparado salino da secreção, observando-se ao microscópio o parasita móvel e flagelado e grande número de leucócitos. O pH quase sempre é maior que 5,0 e geralmente maior que 6,6. Na maioria dos casos, o teste das aminas é positivo. A bacterioscopia com coloração por Gram observa o parasita Gram negativo, de morfologia característica. A cultura é o método mais sensível e pode ser requisitada nos casos de difícil diagnóstico. Além disso, os testes de amplificaçãode ácidos nucleicos (NAATs) são sensíveis e específicos, mas não estão amplamente disponíveis. Como alternativa, o teste rápido para tricomonas (OSOM Genzyme, Cambridge, MA) tem 88% de sensibilidade e 99% de especificidade, está disponível para uso em consultório, e os resultados ficam prontos em 10 minutos. Os tricomonas também podem ser observados no Papanicolau, e a sensibilidade é de quase 60%. TRATAMENTO AVALIAÇÃO Na anamnese, deve-se estudar o início e a evolução do quadro, a relação ou não com a atividade sexual, particularmente as mais recentes; e averiguar os hábitos sexuais e de higiene, os antecedentes mórbidos pessoais e também dos parceiros, o estilo de vida, o uso de drogas e os métodos contraceptivos. Outras informações também importantes são grupo etário e manifestações clínicas associadas tanto nos órgãos genitais como nos extragenitais. Deve ser realizado também o exame físico geral, do genitais externos e dos internos. Os exames mais utilizados para o diagnóstico das infecções vaginais são: pH vaginal Baseia-se na modificação da cor do papel colorimétrico. AMANDA RODRIGUES O teste é feito apenas colocando uma fita na mucosa vaginal, comparando a cor resultante do contato do fluido vaginal com o padrão da fita. pH vaginal: 3,5 a 4,5, sendo os Lactobacillus spp. predominantes na flora vaginal. Seguem os valores e as infecções correspondentes: o pH > 4,5: vaginose bacteriana ou tricomoníase o pH < 4,5: candidíase vulvovaginal Teste de Whiff (teste das aminas ou “do cheiro”) Coloca-se 1 ou 2 gotas de hidróxido de potássio (KOH) a 10% em superfície (lâmina) com secreção vaginal. Se houver “odor de peixe podre”, é considerado positivo e sugestivo de vaginose bacteriana. Exame a fresco Em lâmina de vidro, faz-se um esfregaço com amostra de material vaginal e uma gota de salina, cobrindo-se a preparação com lamínula. O preparado é examinado sob objetiva com aumento de 400x, observando-se a presença de leucócitos (presentes na candidíase e na tricomoníase), células parabasais, Trichomonas sp. móveis, leveduras e/ou pseudo-hifas. Bacterioscopia por coloração de Gram A presença de clue cells, células epiteliais escamosas de aspecto granular pontilhado e bordas indefinidas cobertas por pequenos e numerosos cocobacilos, é típica de vaginose bacteriana. Corrimento vaginal fisiológico vaginose bacteriana Sintomatologia Diagnóstico Tratamento Candidíase Sintomatologia tratamento tricomoníase Sintomatologia Diagnóstico Tratamento avaliação
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