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N3 – PSICOLOGIA COMUNITÁRIA – PROFESSORA POLIANA FREITAS Alunos: Camila Rodrigues, Ivanete Alves, Julia Mayara, Samara Mendes E Vanessa Thais De Moura. ATUAÇÃO DO PSICOLOGO COMUNITÁRIO NO CREAS 1. INTRODUÇÃO Segundo Góis (1988), a Psicologia Comunitária vem estudar todo o processo de uma vida em comunidade, visando o desenvolvimento da consciência dos indivíduos como sujeitos participantes da sociedade. Uma ciência comprometida com a realidade de um povo. O trabalho do psicólogo dentro de uma comunidade ou instituição, como CREAS, CRAS, CAPS, etc., devem levar em consideração toda a história de vida daquela população que está de fato inserido naquela realidade sócio-histórica-cultural, tratando com respeito as suas vivências e conhecimentos, devendo agir como um integrante daquela população, orientando e ajudando-os na tomada de consciência e como produto e produtor de sua própria história. O Centro de Referencia Especializado em Assistência Social é uma instituição pública que possui como objetivo oferecer o trabalho especializado no Sistema Único de Assistência Social (SUAS) para famílias que estão em situações consideradas de risco pessoal ou social através da violação de direitos, que são caracterizados por violência física, psicológica e sexual, negligência abandono, etc. A instituição possui amparo para crianças, adolescentes, mulheres, idosos, portadores de necessidades especiais, moradores de rua e adolescentes sobre medida protetiva, que se enquadram nas violações de direitos citadas acima. A instituição conta com uma equipe multidisciplinar para auxiliar nas resoluções das questões apresentadas pelos indivíduos excluídos da sociedade. 2. OBJETIVO Conhecer o trabalho desempenhado pelo psicólogo dentro da Instituição CREAS - Centro de Referencia Especializado em Assistência Social. Através da entrevista buscamos uma melhor compreensão a respeito das ações e da assistência oferecida pelo psicólogo dentro daquela instituição. Buscando alcançar informações práticas e teóricas sobre a função do psicólogo na Assistência Social através de observação e entrevista, e assim, procuramos relacionar as informações coletadas na instituição com o conteúdo. 4. TRANSCRICÃO DA ENTREVISTA Roteiro de Entrevista e Observação CARACTERIZAÇÃO DO PARTICIPANTE Nome: M.G.M. Idade: 63 anos. Formação profissional: Psicóloga, psicoterapeuta. Entrevista via online, Whatsapp, via gravação de áudio. Experiência profissional: Tempo de trabalho na assistência social, eu estou indo para 12 anos, e dentro destes 12 anos eu fiz especialização em violência doméstica pela USP e fiz também uma formação de mediadores do Sinase que é o Serviço Nacional de Atendimento Socioeducativas, para o comprimento de medidas socioeducativas, pela UnB. São duas especializações que tem que ter dentro de um CREAS, que é um centro especializado. Estou há 12 anos no CREAS, desde que foi implantado o serviço no município, eu fui uma das implantadoras. O CREAS anteriormente veio de um projeto social que se chamava... Que só trabalhava com exploração sexual, que ai se formatou de outra forma para todo o Brasil, era Sentinela, Projeto Sentinela, ai eu implantei esse serviço fazendo pesquisas depois a gente conseguiu implantar o CREAS. 1) Descreva o (seu) trabalho (do psicólogo) na instituição: Então, atualmente estou como coordenadora da equipe tem um educador social, um assistente social, dois educadores na verdade, mas ela também tem formação de psicóloga, e a gente faz atendimento individualizado, escuta qualificada por causa de abusos, relatórios judiciários para delegacia, conselho tutelar. A gente faz pesquisa mês a mês que chama relatório mensal de atividades, pro MDS (Ministério de Desenvolvimento Social e Combate a Fome), esse relatório consta todo serviço quantitativo, e qualitativo de casos novos e casos que damos continuidade no trabalho, como por exemplo, esse CREAS que é pequeno porte, a gente tem que ter até 50 atendimentos no mês, às vezes ultrapassa e às vezes também tem menos, mas porque sempre os casos antigos a gente da continuidade até as pessoas se desvincularem do serviço ou estar em outra situação mais agradável. Nós fazemos visita domiciliar, realizamos palestra, trabalhamos com grupos de criança, adolescentes e mães e grupos, porque aqui o atendimento não é individual ele é um atendimento psicossocial, então a gente atende, eu e a assistente social, ela chega às 10 horas, às vezes eu atendo sozinha também, mas nesse atendimento a gente tem que fazer uma orientação, as vezes é só orientação ou emitir uma guia de referencia contra referencia para outro serviço, para outro profissional, como CRAS, como setor social, como saúde, como CBO, todas as unidades ou até mesmo para o fórum, quando é guarda compartilhada que não deu certo, que tem muito aqui no município. Quando é o trabalho com o idoso, que os filhos não atende as exigências, a gente vai umas duas vezes e permanecem na mesma situação, a gente faz relatório para o fórum e encaminha né, então a gente não é bem visto porque incomoda todo mundo. Então, fazer um enfrentamento, ofertar serviços de proteção e atendimento especializado a família e indivíduos, então a gente também faz abordagem social que é do serviço social, busca ativa que eu também acompanho medidas socioeducativas com os menores infratores que é tudo direcionado ao fórum. 2) Quem e como se financia a instituição? Aqui em SP é uma parceria entre o município e o governo federal. 3) Qual a Função do psicólogo nesta instituição? Mediação, acolhimento, olhar critico, orientação para ter melhor qualidade de vida, para sair de situações que causa danos, inclusive, também trabalhamos como orientação contra álcool e drogas, porque todo cidadão que chega aqui que a gente sabe que tem um contexto com álcool e drogas, vitimiza toda a família né, vitimiza porque some objetos, é o que está acontecendo muito aqui com pessoas idosas, mesmo que não são idosas. Famílias perdem todo seu vinculo pelo álcool e drogas, então também fazemos essa orientação e um acompanhamento para familia né, que a gente orienta o cidadão, aconselha uma internação ou solicita ao fórum, orienta para família requisitar esse serviço ao fórum, então são os direitos, a garantia dos direitos, a gente tem que garantir isso ao cidadão. Álcool e drogas é uma política que nós estamos implantando no município que não existe um protocolo, vamos dizer assim, então tem que fazer primeiro um conselho, nós estamos formatando esse conselho esse ano ainda, desde que estou aqui o serviço sempre atendeu essa necessidade, então, por exemplo, o cidadão veio para cá, anteriormente a gente encaminhava para o AMI que era o procedimento, agora não tem mais esse convenio com o AMI então é direto com a coordenação de saúde do município. Existe o cartão Recomeço então a família tem que se deslocar a fazer esse trabalho com a saúde, levar a documentação necessária e saindo uma vaga ele com esse cartão, o próprio sistema de saúde, SUS, autoriza a internação para onde tiver vagas aqui na região, então se a pessoa é fumante e na instituição que não permite fumar, ele não vai para lá, ele vai para uma instituição que permite o uso de tabaco. Tem instituição que não permite, já corta tudo né. E basicamente é isso, antes a gente até fazia internação. Tem a instituição Só Por Hoje, eu trabalhei nove meses lá, tenho experiência também com álcool e drogas, e eu fiz também um curso do SENAD, que é o Serviço Nacional de Álcool e Drogas, de combate ao álcool e drogas, que é ofertado para todos os profissionais que trabalham na área da assistência para dar esse suporte, porque não chega o serviço da assistência, of trabalho da assistência é com os familiares. Com o drogadito, que a gente nem usa mais esse termo, com a pessoa consumidora de álcool e drogas seria a internaçãoou a ambulatorial, se a pessoa não consegue ficar em uma convivência saudável, porque se ela não tiver disposta ao tratamento não adianta tomar medicação, e se ela não consegue parar por si mesma, ai é necessário a internação, que isso é avaliado na saúde, embora nós tenhamos recursos parar fazer uma avaliação, esse não é o serviço do CREAS. 4) Na sua opinião, qual a importância do psicólogo na instituição? A importância do psicólogo eu acho assim, fantástica, o olhar do psicólogo, ele é político, critico, acolhedor, ele é estratégico, ele consegue fazer uma linha do tempo do ser humano como está aqui agora, como veio, porque está aqui agora, pois atrás teve um repertorio de comportamentos que deixou assim. E ai a gente faz um olhar critico, que é uma terapia breve praticamente, de um espaço que ele pode dar de um projeto de vida mais satisfatório, mais adaptado ao familiar, a sociedade em geral e a si mesmo, porque a pessoa que não está de bem com ela, não está bem com ninguém. Então ele é imprescindível na assistência e nas demais coordenadorias que precisam do serviço, porque a gente vê muito o psicólogo só como um senso de ajuda, mas essa ajuda, eu na minha pratica, na minha experiência profissional, ela é provocativa também. É uma ajuda sim, mas uma ajuda com alfinete, você tem que por alfinete para pessoa dar um passo a mais, não é ficar acolhendo, acolhendo e não exigir nada da pessoa, porque eu não transformo ninguém, é uma pretensão achar que a gente transforma alguém. Então a gente tem que fazer essa provocação, que é bem dialética né, de acordo com a vivência de cada um, porque tem uma pessoa que não tem muita cultura, como você vai provocar? Então de acordo com os sentimentos dela, de acordo com o que ela deseja para vida dela, se a gente conseguir dialogar sobre isso, é um dialético mesmo, você tem que fazer a provocação. Meu sonho era ter feito psicologia social, quando eu estava na universidade, que eu fiz na UEL lá no Paraná, e eu me encantei com a área social, é uma provocação mesmo, e a professora minha fazia na época mestrado na USP falou para eu ir pra lá, mas no ultimo ano eu fiquei grávida ai meus planos mudaram, mas eu sou apaixonada, eu consegui me realizar no CREAS, vamos dizer assim. 5) Como é, especificamente, seu trabalho? Qual a principal atividade? Então, a principal atividade são todas essas, porque a gente é o atendimento, acolhimento, elaboração de relatório, porque é um serviço complexo, de alta complexidade, ele não é só de ficar aqui, guardar o prontuário do sujeito lá. Eu tenho que articular toda demanda que cada cidadão necessita, então é articulação, primeiro é um bom atendimento de contato, de dialogo, eu acho que são as duas coisas tanto a recepção quanto a elaboração, quanto a articulação né? Com o sistema e a vida pessoal, porque não tem uma, cada família é de uma forma, cada questão, cada contexto de violência requer uma leitura, não tem como você falar, é assim!! É uma coisa que você tem que articular mesmo, se é uma coisa, por exemplo, um serviço que um deficiente está sendo mal cuidado, que a família só quer o cartão dele da aposentadoria, mas não cuida dele, então a gente tem que fazer reunião familiar. É outro esquema que a gente sempre faz reunião familiar, contato telefônico, solicitação de relatório para outro atendimento de rio preto, porque às vezes chega de rio preto pra cá, às vezes está em outros municípios aqui perto, Mirassolândia.. Enfim, então tem que solicitar fazer essa articulação junto com outros profissionais porque você não realiza nenhum trabalho sozinho. No caso do deficiente, que eu estava falando, fazer essa reunião familiar muito seriamente, dizer qual que é a função protetiva deles, e dar um prazo, porque você sabe que aquela pessoa se incomoda se você passa algo para eles fazerem e permaneceu a mesma situação, vamos modificar isso ai, com quem o deficiente poderia ficar reunir a família, quem gostaria de ficar com ele, quem poderia dar uma dignidade como ele merece, porque o deficiente não pode fazer a barba sozinha. Ai então você faz a visita está cheio de presto barba no banheiro, ninguém lavou o banheiro, então quer dizer, deixou a cena do crime lá para a gente ver que ele é mal cuidado. Deficiente está fora da casa, então a família mora na casa, fizeram um quartinho pra ele no fundo com banheiro, ele está excluído, então não é esse papel de proteção da família, então a gente tem esse papel de proteção com muito jogo de cintura para não pegar ar em ninguém porque você tem que falar: então quem que dorme fora de casa? Nem cachorro, tem cachorro que dorme dentro de casa né, ai você vê os maus tratos com as pessoas, chegam nesse ponto das pessoas que deveriam cuidar do deficiente excluírem ele, de repente põem até em cárcere privado. Eu já atendi um caso assim aqui no município que me chocou, porque nunca tinha visto né, ai acionei a policia na hora, mas o coordenador não deixou porque a mente não está pronta ainda para demanda desse serviço, ele nãos querem que venham a tona, querem abafar. Violência contra a mulher? A delegacia não atendia, precisava pegar o sujeito e levar lá na delegacia, e falar: eu vim aqui fazer um B.O., ela está correndo risco de vida. Já pedi a medida preventiva, tem que pedir a medida protetiva no fórum, para promotoria, agora eu quero realizar um boletim de ocorrência, porque a policia não tem medida protetiva aqui nesse município, é muito difícil, então as mulheres perdem tudo que compraram porque eles vendem, ameaçam ela acaba tendo que sair da casa, então é complexo né. Você vê, o deficiente é uma coisa, a mulher é outra. Nós já atendemos aqui casos tão fortes que envolviam cinco crianças e um adolescente, não, quatro crianças na verdade a mulher estava grávida, e ela pediu proteção, ai eu falei: "olha precisa ter separação para poder proteger você porque você quatro filhos está grávida, se permanecer na casa a policia não vai tirar ele da casa porque ele tem controle de droga, ele é violento, ele vai acabar te matando, você quer ir para um abrigo, tem um abrigo em rio preto, vou acionar esse abrigo, mas você tem que querer, é uma mudança de vida da água pro vinho, você vai ser assistida por vários profissionais", ela disse que queria e daqui a pouco não quis mais porque estava para dar a luz, deu à luz ele fez violência novamente, aí falei: agora você quer? Conseguimos articular esse abrigamento para ele, permaneceu seis meses nesse abrigamento, ela e os filhos estudando, com uma casa.. Então foi muito bacana esse trabalho. Depois nós conseguimos com a prefeitura, nós solicitamos, não é uma coisa que a prefeitura teria que fazer, mas nós solicitamos o conselho de proteção para ela por mais seis meses de aluguel ai a prefeita da época concedeu pra gente, então ela permaneceu um ano abrigada em São José do Rio Preto e hoje ela está em uma família, ela trabalha, as crianças estão estudando, entendeu? Resgatamos mesmo essa dignidade, e ele está preso graças a Deus, mas a prisão que a gente pediu.. Quer quer o cartão dele do BPC, mas não cuida dele, então a gente tem que fazer reunião familiar. É outro esquema que a gente sempre faz reunião familiar, contato telefônico, solicitação de relatório para outro atendimento de rio preto, porque às vezes chega de rio preto pra cá, às vezes está em outros municípios aqui perto, Mirassolândia.. Enfim, então tem que solicitar fazer essa articulação junto com outros profissionais porque você não realiza nenhum trabalho sozinho. No caso do deficiente, que eu estava falando, fazer essa reunião familiar muito seriamente, dizer qual que é a função protetiva deles, e dar um prazo, porque você sabe que aquela pessoa se incomoda se você passa algo para eles fazerem e permaneceu a mesma situação, vamos modificar isso ai, com quem o deficiente poderia ficar reunir a família, quem gostariade ficar com ele, quem poderia dar uma dignidade como ele merece, porque o deficiente não pode fazer a barba sozinha. Ai então você faz a visita está cheio de presto barba no banheiro, ninguém lavou o banheiro, então quer dizer, deixou a cena do crime lá para a gente ver que ele é mal cuidado. Deficiente está fora da casa, então a família mora na casa, fizeram um quartinho pra ele no fundo com banheiro, ele está excluído, então não é esse papel de proteção da família, então a gente tem esse papel de proteção com muito jogo de cintura para não pegar ar em ninguém porque você tem que falar: então quem que dorme fora de casa? Nem cachorro, tem cachorro que dorme dentro de casa né, ai você vê os maus tratos com as pessoas, chegam nesse ponto das pessoas que deveriam cuidar do deficiente excluírem ele, de repente põem até em cárcere privado. Eu já atendi um caso assim aqui no município que me chocou, porque nunca tinha visto né, ai acionei a policia na hora, mas o coordenador não deixou porque a mente não está pronta ainda para demanda desse serviço, ele nãos querem que venham a tona, querem abafar. Violência contra a mulher? A delegacia não atendia, precisava pegar o sujeito e levar lá na delegacia, e falar: eu vim aqui fazer um B.O., ela está correndo risco de vida. Já pedi a medida preventiva, tem que pedir a medida protetiva no fórum, para promotoria, agora eu quero realizar um boletim de ocorrência, porque a policia não tem medida protetiva aqui nesse município, é muito difícil, então as mulheres perdem tudo que compraram porque eles vendem, ameaçam ela acaba tendo que sair da casa, então é complexo né. Você vê, o deficiente é uma coisa, a mulher é outra. Nós já atendemos aqui casos tão fortes que envolviam cinco crianças e um adolescente, não, quatro crianças na verdade a mulher estava grávida, e ela pediu proteção, ai eu falei: "olha precisa ter separação para poder proteger você porque você quatro filhos está grávida, se permanecer na casa a policia não vai tirar ele da casa porque ele tem controle de droga, ele é violento, ele vai acabar te matando, você quer ir para um abrigo, tem um abrigo em rio preto, vou acionar esse abrigo, mas você tem que querer, é uma mudança de vida da água pro vinho, você vai ser assistida por vários profissionais", ela disse que queria e daqui a pouco não quis mais porque estava para dar a luz, deu à luz ele fez violência novamente, aí falei: agora você quer? Conseguimos articular esse abrigamento para ele, permaneceu seis meses nesse abrigamento, ela e os filhos estudando, com uma casa.. Então foi muito bacana esse trabalho. Depois nós conseguimos com a prefeitura, nós solicitamos, não é uma coisa que a prefeitura teria que fazer, mas nós solicitamos o conselho de proteção para ela por mais seis meses de aluguel ai a prefeita da época concedeu pra gente, então ela permaneceu um ano abrigada em São José do Rio Preto e hoje ela está em uma família, ela trabalha, as crianças estão estudando, entendeu? Resgatamos mesmo essa dignidade, e ele está preso graças a Deus, mas a prisão que a gente pediu.. Quer dizer quem somos nós para pedir prisão né, mas eu peço, ah eu sou violenta nesse ponto, a violência que me fizer eu devolvo com todas as grafias do sistema judiciário, você tem que se impor sabe? Se não eles pensam que você está brincando, mas eu estou saindo esse ano também, se Deus quiser, chega né de brigar com o sistema, desculpa, falei muito. 6) Qual a sua relação com outros profissionais na instituição? Tem que ser bem amigável, bastante comunicativa, cada saber sua função, porque se chegar alguém violento aqui, eu posso estar aqui atendendo sozinha, eu e você no caso, mais o educador que é homem pode invadir a sala e nos ajudar que já houve também coisas assim. Tinha uma senhora que veio com questão de separação e o rapaz não aceitou, ela era mais velha e eles tinham alguns bens, terrenos começando a construir, um caminhão. Ela disse: "eu não quero sair dessa relação sem nada né", eu falei essa questão é judicial, você vai procurar seus direitos no fórum, você tem que fazer por você, eu não posso fazer, o que eu posso fazer é mediar essa questão de violência, tem uma criança envolvida de cinco anos de idade, e ele era o pai. Se essa criança estiver sofrendo, eu vou pedir o afastamento dele, ai ela falou: ele não vai não sei o que, parecia meio transtornada, mas se ele não for você tem que sair da casa, você tem que proteger seu filho, ai um dia, final de semana, em uma sexta-feira ela apareceu aqui com um garoto em pânico, nunca tinha visto ele se agitar tanto e estava em pânico, totalmente mal, ai eu atendi a criança, depois falei com ela, acalmamos, dei joguinhos até ele se recompor, ai eu vi que estava insustentável, não tinha tempo de informar um judiciário pra que tirasse a criança ou ele da casa, falei sabe o que você faz, você não deixa ver a criança hoje, acabou, ai o que aconteceu ele foi a casa buscar a criança, ela não deixou, ai ele veio brigar comigo ai falei: o senhor senta, por favor e se acalma, ele: não quero sentar, não vou me acalmar não sei o que, quem a senhora pensa que é? Ai falei: É ordem judicial, menti, assim mentirinha saudável, depois falei para o juiz: Doutor eu tive que fazer isso ele estava ameaçando ela de pegar a criança e levar para Pernambuco, pensou se faz isso com o menino que já estava em pânico. Então são situações que é na hora você tem que ter um filtro muito bom, consciente do seu papel, do que você pode fazer e do que você deve fazer, porque eu não vou esperar autorização e esperar acontecer o pior com a criança porque tem pais que são capazes de para se vingar da mulher matar a criança ou prejudicar a criança, igual muitos casos que a gente vê por ai. 7) Quais os Aspectos positivos e negativos (problemas) da atuação do psicólogo? Positivos, eu acho que é essa intervenção, esse olhar que tende a ser justa a situação de cada um, a gente não tem essa pretensão de "ai vou fazer isso porque vai ser melhor", você tem que deixar amadurecer a ideia no momento certo. Tem situações que requerem sim essa intervenção imediata que são garantidos os direitos e a gente pode acionar o conselho tutelar ou a policia, então essa intervenção assim eu acho que é uma coisa tão sensível que não da para.. Não é qualquer pessoa, acho que nós assim psicólogos, temos uma sensibilidade, um intuito bacana de respeito de dignidade de valorização do ser humano, acho que tudo isso é muito positivo né, e também dessa construção de projeto de vida, acho que a gente consegue colocar tijolinho por tijolinho nas relações, visualizar mesmo o que aquela família necessita e dar uma nova dignidade uma nova dimensão mais humana. Negativo, eu acredito assim nós temos pouca proteção aqui dentro, não se paga insalubridade que a gente trabalha com pessoa que tem HIV, TB, teve atendimento nosso que cansou de fazer intervenção na família e como o rapaz era presidiário, ele vivia em uma família que tinha muitas crianças, irmãos, muita gente, muitos familiares, então a gente articulou com a saúde para que ele permanecesse usando mascara e fazendo o tratamento, porque a gente sabe que eles não fazem, infelizmente pode ser novo, pode ser velho, não importa se for para o presidiário eles voltam muito sem condições de se reerguer. Foi um caso e o rapaz não acatava o que a saúde e o que a gente falava, então teve momentos de ter que atender ele sem mascara, e eu fiquei preocupada, e às vezes aqui fazendo a entrevista o sujeito está sem mascara tá com TB, com HM. O HIV eu não tenho medo, mas o TB eu tenho. Negativa essa situação de fazer visita. Teve visita que a gente já foi ameaçada, porque nosso papel é esse, fazer a intervenção para os familiares, colocar em uma casa abrigo, é uma baita de uma intervenção, então, a pessoa, o marido no caso perdeu os filhos ai ele fica com ódio mortal,ai você vai lá a casa dele porque tem que ir, porque sobrou uma pessoa ainda que a gente tenha que fazer intervenção que é álcool e droga, ai ele olhou pra mim "eu sei que foi o papel de vocês que tirou minha família de mim", ai você percebe a violência, as crianças tacam pedras ás vezes, tem coisas negativas. Você vai a casa, às vezes a pessoa é tão negativa que ela não quer te receber, fala o que você está fazendo ali, o que você pensa que tem que mexer com a vida dela, então tem muita, alguns casos assim, mas a maioria não está à negatividade também é em função da pouca administração, porque esse serviço aqui não sai do jornal, tem que manter sigilo, não pode expor as medidas. As medidas não são compreendidas na sociedade, então a gente trabalha com um público muito fragmentado, muito sofrido e o olhar das pessoas comuns não é nosso, por exemplo, morador de rua é outro serviço que aqui no município não é compreendido ainda. Existe o protocolo de atendimento do morador de rua que é de acolhimento, o CREAS do município não tem um centro de acolhimento, não tem nada nesse município que pode oferecer para esse cidadão, nosso papel é acolher, dar um café da manhã, mandar tomar banho, ter uma tolha, um sabonete, uma pasta de dente, é fazer todo esse trabalho. Então nós temos aqui uma toalha porque nós exigimos, se tiver um morador de rua de São José do Rio, eu vou entrevistar, saber o porque dele estar na rua, acolher de qualquer forma, se tem contexto de presidiário, porque não está com o família, se está muito desvinculado, se tem como retornar a família, e a gente teve casos assim que a administração não entende quando a gente solicita, ele tem que dar, fornecer a assistência, tem que fazer isso, mas a gente tem que fornecer passagem de volta se o cidadão precisar, só que tem que fazer toda uma leitura primeiro, um depoimento, isso o CREAS tem que fazer, pode ser na rua, eu mesma já atendi na rua, porque o sujeito não queria vir aqui porque está envergonhado, é uma pessoa do bem se for ver, não estava totalmente desvinculado da família, então a partir do dialogo que a gente pode identificar qual que foi o motivo que levou ele para rua, ele começa a chorar e começa a se soltar, se abrir, e a gente pode perceber que ele está vinculado, diferente daquele cidadão que escolheu morar na rua, que é direito do cidadão também. No mundo inteiro existe morador de rua, todos os projetos sociais do morador de rua, já li bastante a respeito, não é só dar casa, comida e roupa lavada e alimento, não é só isso, é o meu papel na sociedade, é a interjeição que esse sujeito fez de si mesmo, se tem algum transtorno que pode estar relacionado. Em alguns casos, álcool e drogas outros não, são contexto familiares que foram desfiando aquele vinculo, que foi até a pessoa não querer mais aquela família, ela fica totalmente desvinculada, e já ela não se importa mais. É bonito né, o trabalho do morador de rua, mas é penoso, mas ai no caso desse rapaz que eu acabei de falar é um senhor, ele tinha família, tinha emprego, foi um roupante, uma explosão emocional, então ele conseguiu ter uma reparação daquele dano que ele fez com a família e com ele mesmo e conseguiu voltar para o município dele, mas antes de voltar o senhor toma um banho, corta o cabelo, fica daquele jeito que você gostaria de ficar para mostrar para sua família o seu retorno, então pessoas que acolhem isso tem outros que não, tem outros que não querem a mudança, têm outros que arrumam emprego, você tem que levantar as possibilidades dele, construir esse projeto para ele. Você pode trabalhar na lavoura? Você tem vontade de trabalhar? Ele foi, ele está trabalhando no sitio, ai de vez em quando ele vem trazer abobrinha e manga pra gente, todo feliz da vida. Então eu falo você não salva todo mundo, não é nem essa pretensão do trabalho, mas é resgatar a dignidade, tirar dessa situação de risco que ele está se impondo, ele que se põem às vezes no caso do morador de rua, do álcool e drogas também, porque a droga você tem que depender de traficante e correr da policia então qualquer usuário está em uma situação de risco, e eu tenho adolescente de 14 anos lá no crack, grávida, então pelo porte do município que você fala: "ah, são 50 atendimentos no mês", mas cada caso é um caso. Então eu já tive que fazer intervenção com uma família, nós tivemos a equipe, fomos fazer a visita, ver que o rapaz e a moça estavam com dois filhinhos, ela amamentando, um de dois anos e outro ainda no peito e eles estava vendendo tudo por causa de crack, e a criança na visita chupando um negocio assim quadradinho, fui ver o que era, era um caldo de carne, cheio de sódio, de fome. Então ficou uma situação insustentável, naquela época tínhamos o convenio com o AMI, eu liguei e falei "Olha, como eu devo proceder? No meu ponto de vista, tenho que tirar a criança do peito", ele falou tem que tinha que tirar, a criança podia estar com algum dano porque a mãe está fazendo uso, tinha que investigar isso também, ele falou pra mandar a criança também que vamos fazer a triagem, porque fica lesada gente, ela usou na gravidez, usou na amamentação. Bom, suspendeu o peito e internamos os dois. Dói né? Mas hoje eles estão bem, o pai foi resgatado, está com as crianças, e ela está presa, ela continuou na droga. Aquilo que eu te falei, colocando a vida em risco, mesmo com filho, não conseguiu ter um projeto de vida. CONCLUSÃO Atualmente no Brasil, a situação dos Direitos Humanos encontra-se ainda em fase de consolidação. As principais violações aos Direitos Humanos no nosso país devem se a miséria, a pobreza, ao racismo, desigualdade social e etc. Age-se como se fosse natural o convívio entre a riqueza e a pobreza ou que as regalias de poucos coexistam com a supressão dos direitos da maioria. Conforme foi feita a entrevista, o CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) surge para dar auxílio para famílias e indivíduos em situações de ameaças ou violações de direitos como violência física, psicológica, sexual, tráfico de pessoas, cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto, pessoas em situações de rua, abandono, trabalho na infância, discriminação em decorrência de orientação sexual e/ou raça/etnia, entre outras. E há o objetivo de conceder a estes indivíduos que já tiveram os seus direitos violados, uma busca de fornecer condições para que o mesmo tenha condições e conhecimentos para melhoria de sua situação. É muito importante ressaltar a importância do Psicólogo neste contexto em que atua. Muitas pessoas, inclusive estudantes de Psicologia desconhecem e não valorizam a relevância de um Psicólogo no meio comunitário e o que eles realmente fazem, fornecendo suporte para estes indivíduos e famílias e a busca pela compreensão de qual a decorrência provem esta retirada de direitos. Por fim, pudemos perceber que o trabalho realizado pelo psicólogo dentro deste contexto, é exercido de forma muito diferente de como ocorre no contexto clinico. Por ser uma área relativamente nova, está em constante expansão e aprimoramento dentro das necessidades de cada sociedade/individuo, exigindo então do psicólogo, uma pensar empático e a sensibilização para com a dor do outro. Concluímos que lidar com estas questões de vulnerabilidade destes grupos/indivíduos, seja uma tarefa árdua, aparenta ser a que mais nos coloca a par da verdadeira realidade que muitas vezes tapamos os olhos para não ver, assim nos inserindo na comunidade e auxiliando na nossa sensibilidade e compreensão.
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