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LOGÍSTICA REVERSA Prof. Me. PAULO PARDO Reitor Márcio Mesquita Serva Vice-reitora Profª. Regina Lúcia Ottaiano Losasso Serva Pró-Reitor Acadêmico Prof. José Roberto Marques de Castro Pró-reitora de Pesquisa, Pós-graduação e Ação Comunitária Profª. Drª. Fernanda Mesquita Serva Pró-reitor Administrativo Marco Antonio Teixeira Direção do Núcleo de Educação a Distância Paulo Pardo Coordenadora Pedagógica do Curso Ana Lívia Cazane Designer Educacional Juliana Spadoto Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico B42 Design *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Universidade de Marília Avenida Hygino Muzzy Filho, 1001 CEP 17.525–902- Marília-SP Imagens, ícones e capa: ©envato, ©pexels, ©pixabay, ©Twenty20 e ©wikimedia G915b Sobrenome, Nome autor Titulo Disciplina [livro eletrônico] / Nome completo autor. - Marília: Unimar, 2020. PDF (XXX p.) : il. color. ISBN XXX-XX-XXXXX-XX-X 1. palavra 2. palavra 3. palavra 4. palavra 5. palavra 6. palavra 7. palavra 8. palavra I. Título. CDD – 610.6952017 Introdução O tema Sustentabilidade tem pautado a agenda da sociedade nas últimas décadas, embora muitos não se deem conta de que estão pessoalmente envolvidos na questão. As pessoas, de modo geral, ainda não têm plena consciência de qual papel podem desempenhar no intrincado tecido ecológico que pertencemos e quanto mais distante do mundo natural estivermos, maior a dificuldade para enxergar isso. Muitos nasceram, cresceram e vivem em grandes metrópoles a vida toda, sem ter ideia de como suas ações impactam o meio ambiente, comprometendo o abastecimento de água, o saneamento, as encostas, o clima, pois a noção de que o homem é o centro do universo – visão antropocentrista – domina a consciência de muitos. Felizmente, setores organizados da sociedade têm se mobilizado para mudar essa realidade. Até mesmo os empresários, quer para manter seus clientes – mais exigentes, ambientalmente falando – quer para não serem autuados pelos governantes, têm trabalhado para estabelecer e manter ações para mitigar os efeitos ambientais danosos da atividade empresarial sobre a sociedade. Esse movimento deu origem ao que conhecemos como Logística Reversa, tema da nossa disciplina, para a qual te convido a mergulhar a partir de agora. Bons estudos! Prof. Me. Paulo Pardo 3 005 Aula 01: 017 Aula 02: 023 Aula 03: 033 Aula 04: 049 Aula 05: 059 Aula 06: 067 Aula 07: 073 Aula 08: 084 Aula 09: 096 Aula 10: 108 Aula 11: 116 Aula 12: 123 Aula 13: 136 Aula 14: 145 Aula 15: 179 Aula 16: O Desafio da Sustentabilidade: O que Você tem a Ver com Isso? As Questões Logísticas e a Competitividade Empresarial Entendendo o Conceito de Logística Reversa Custos em Logística Reversa – O que Avaliar A Classificação dos Bens de Pós-Consumo e os Canais de Distribuição Reversos de Pós-Consumo – CDR PC A Descartabilidade na Logística Reversa e a Disposição de Bens de Pós-Consumo Objetivos Econômicos da Logística de Pós-Consumo Canais de Distribuição Reversos de Pós-Venda – CDR PV Objetivos Estratégicos da Logística Reversa de Pós-venda Seleção e Destinação dos Produtos em Devolução O Fator Legal como Motivador da Logística Reversa Tendências Regulatórias nas Questões Ambientais A Legislação Ambiental e o Impacto na Logística Reversa As Bases para a Economia Circular - Uma Nova Fronteira para o Consumo A Logística Reversa: da Construção Civil, dos Pneus e das Embalagens Aspectos Sociais da Logística Reversa no Brasil 01 O Desafio da Sustentabilidade: O que Você tem a Ver com Isso? Quando você ouve a palavra “sustentabilidade”, o que lhe vem à mente? Essa palavra, originária do verbo “sustentar”, tem vários significados nos dicionários, e alguns que nos interessam podem ser: "Manter; Alimentar.” Ademais, o próprio termo “sustentável” pode significar “Que pode se sustentar; que se defende” (KLEIN, 2015, p. 515). Perceba que, nos vários significados oferecidos, alguns relacionam sustentar com manter a vida. É esse foco que vamos dar a partir de agora. Olhe à sua volta! Consegue notar quantos seres, além dos humanos, habitam esta esfera azul chamada planeta Terra? Insetos, cães, gatos, pássaros, uma variedade de outras criaturas e, se você morar em uma pequena cidade ou tem facilidade de se deslocar até uma área aberta, desabitada, perceberá que esse número só aumenta. Quando os seres humanos abandonaram sua vocação extrativista e passaram a cultivar o solo e a fabricar utensílios e, com o advento muito mais recente da revolução industrial, passaram a produzir em massa produtos para consumo e a lógica da relação homem-natureza foi totalmente alterada. Ao utilizar aquilo que a natureza oferece – minerais, animais, vegetais – em uma velocidade cada vez maior para atender a demanda por produtos, a capacidade de regeneração do planeta foi vencida. É só você observar a quantidade de espécies animais que conseguimos extinguir por caça predatória e as plantas que fizemos desaparecer antes mesmo de ter a oportunidade de conhecê-las! Isso mostra que a maneira como nos relacionamos com o ambiente hoje não é saudável. 6 Em um modelo econômico em que tudo se torna recurso – o que extraímos do planeta torna-se recurso natural, as pessoas são recursos humanos, os equipamentos são recursos tecnológicos, entre tantos outros exemplos – nivelamos o nosso ambiente à simples função de fornecer aquilo que precisamos, sem nos preocupar com a velocidade de reposição natural. Assim, desrespeitamos os ciclos da vida. Agora, vamos focar mais na nossa vida moderna. Olhe à sua volta! O modo de viver das pessoas requer o constante suprimento de itens de consumo dos mais variados, desde comida industrialmente processada, transporte com veículos de propulsão à explosão (tecnologia que já tem mais de 100 anos), cuidado com saúde, lazer e hobbies, que muitas vezes envolvem produtos químicos e outros. As empresas, exemplos de organizações com fins lucrativos, suprem as necessidades – e desejos – das pessoas, e com tanta variedade, as pessoas não dão conta de comprar tudo aquilo que consideram que merecem. Para as empresas, o consumo é a forma de se manter economicamente. Para as pessoas, o consumo atende necessidades legítimas e básicas, como se alimentar, mas também desejos criados pelo seu próprio modo de vida, como o de status e reconhecimento social. 7 A população do planeta, por outro lado, cresceu vertiginosamente nos últimos séculos e especialmente no século XX. Estatísticas da Organização das Nações Unidas (ONU) dão conta de que a população mais que triplicou no último século: somos agora quase 8 bilhões de pessoas utilizando os “recursos” naturais. A produção de alimentos no mundo seria suficiente para todas as pessoas se alimentarem com dignidade, porém, devido à má distribuição de renda, um contingente importante da população – 1 em cada 8 pessoas – passa fome. Para acompanhar, acesse: Disponível aqui O aumento populacional do planeta pode ser acompanhado em tempo real. É impressionante como os números se movem, não é mesmo? 8 https://www.worldometers.info/br/ Figura 1 - O economista britânico Thomas Malthus (1766 - 1834), considerado o pai da demografia, e uma das primeiras versões do seu ensaio sobre os princípios populacionais (1798). Fonte: Wikipédia Você ainda pode estar se perguntando: e o que eu tenho a ver com isso? Aquilo que vimos até agora tem outras implicações: se consumimos os recursos do planeta em uma velocidade maior do que a de seus ciclos de recuperação, o que acontece com nosso modo de vida e de consumo? Evidentemente, é uma conta que não fecha. Não há como manter uma estrutura de exploração-consumocomo a que temos, indefinidamente. E faz bastante tempo que isso é discutido. No século XVIII, o reverendo britânico Thomas Malthus emitiu um prognóstico sombrio: segundo ele, enquanto a produção de alimentos aumentasse de forma aritmética ou linear, a população cresceria de forma geométrica ou exponencial. Em algum momento, a fome se instauraria no mundo e, por via de consequência, o caos. 9 As teorias malthusianas não se confirmaram com o tempo, porém, há uma corrente de pensamento que faz o alerta de que o consumo de recursos de fato aumentou de forma acentuada – não só de alimentos, mas de tantos outros insumos naturais. O responsável por isso seria o modo de consumo alimentado pelo sistema capitalista e consumista pregado principalmente na sociedade ocidental. No século XX, a preocupação com o aumento populacional e o consumo com os consequentes impactos no meio ambiente ganhou força devido a vários acontecimentos e eventos marcantes: chuvas ácidas na Europa, o mercúrio da baía de Minamata no Japão, que originou até uma nova doença (doença de Chisso Minamata), o lançamento em 1962 do livro Primavera Silenciosa de autoria de Rachel Carson, que é considerado o marco do nascimento do movimento ambientalista, além de um estudo que partiu de uma origem improvável: grandes capitalistas, aliados a cientistas e políticos, compuseram o chamado Clube de Roma. Esse grupo encomendou uma pesquisa ao renomado MIT (Massachusetts Institute of Technology) sobre os possíveis impactos ambientais causados pelas atividades econômicas. O MIT produziu um documento que ficou conhecido como Relatório Meadows ou Os Limites do Crescimento. Nesse relatório, é nítida a inspiração de Malthus sobre o risco do aumento populacional. Por essa razão, os adeptos das conclusões desse relatório ficaram conhecidos como neomalthusianos e passaram a pregar um freio ao crescimento populacional na tese da chamada Teoria do Crescimento Zero. Na visão desses estudiosos, a única saída seria uma paralisação do desenvolvimento para que se preservassem os recursos naturais. Nas conclusões, constava o seguinte: É preciso mudar essas tendências de crescimento e formar uma condição de estabilidade ecológica e econômica que possa ser mantida até um futuro remoto. O estado de equilíbrio global poderá ser planejado de modo que as necessidades materiais básicas de cada pessoa na Terra sejam satisfeitas, oferecendo-se oportunidades iguais para que todos realizem seu potencial humano individual. O resultado será um declínio súbito e incontrolável, tanto da população quanto da capacidade de produção industrial. É preciso mudar essas tendências de crescimento e formar uma condição de estabilidade ecológica e econômica que possa ser mantida até um futuro remoto. O estado de equilíbrio global poderá ser planejado de modo que as necessidades materiais básicas de cada pessoa na Terra sejam satisfeitas, oferecendo-se oportunidades iguais para que todos realizem seu potencial humano individual (CURI, 2011, p. 24). A discussão sobre a complexa relação entre economia e ecologia continuou ao longo dos anos. Em 1972, realiza-se a Conferência de Estocolmo que discute novamente a preservação ambiental e a industrialização. Essa discussão é considerada um marco, 10 Figura 1 - O Parlamento sueco, onde foram realizadas as reuniões da Conferência Fonte: Wikipédia pois o elemento político foi incluído, afinal, é a política que dirige o mundo. Diplomatas de diversos países estiveram presentes e, junto com cientistas, aprovaram uma Declaração sobre o Meio Ambiente Humano, com 110 recomendações e 26 princípios (CURI, 2011). Começa em Estocolmo também um embate entre países desenvolvidos e os países em desenvolvimento. Enquanto os primeiros defendem a preservação total do meio ambiente, o bloco dos países em desenvolvimento se opõe, pois, segundo sua visão, não é justo privá-los dos benefícios que o crescimento econômico poderia trazer às suas populações. Aliás, o crescimento econômico permeia as discussões ambientais até hoje. Afinal, é possível ter crescimento econômico e ao mesmo tempo preservar a natureza? Essa dicotomia alimenta outra discussão: uma corrente muito forte defende que os maiores impactos sobre o meio ambiente advêm da pobreza das nações, enquanto outra linha assevera que os impactos são provocados pelos países industrializados. 11 Dicotomia: termo que se refere a dois conceitos opostos Mas é em 1987, sob a batuta da ONU, mais especificamente da Comissão Mundial para o desenvolvimento e Meio Ambiente (CMDMA), após discussões iniciadas quando da constituição desta Comissão em 1983, que se produziu um documento que se tornou um divisor de águas quando se toca no tema sustentabilidade. Esse documento, conhecido como relatório Nosso Futuro Comum ou Relatório Brundtland (em razão dessa comissão ter sido liderada por Gro Brundtland, então primeira-ministra da Noruega), propôs uma conceituação para o que se convenciona chamar de desenvolvimento sustentável: “Desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras de atenderem as suas próprias necessidades” (BARBIERI, 2007, p. 93). 12 Seguindo tal raciocínio, seria perfeitamente possível atender às necessidades das gerações atuais em termos de consumo e ao mesmo tempo preservar os recursos, de modo que futuras gerações também possam ter o mesmo acesso a esses mesmos recursos. Esse pensamento permeia a forma como políticos, ambientalistas de uma linha mais positivista, empresários e uma corrente importante da academia enxergam a realidade econômica e social atual. Proposições vindas posteriormente de conferências internacionais, como as originadas no Rio de Janeiro na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Rio 92), de eventos posteriores, como o que originou o Protocolo de 13 Kyoto em 1997, o Pacto Global em 1999, a Declaração do Milênio, a Rio+20 e o Acordo de Paris em 2015, entre outros encontros, têm em comum: a preocupação mundial com a preservação ambiental; o desenvolvimento dos países pobres, a distribuição de renda; o combate às desigualdades sociais e ações de responsabilidade social empresarial (RSE). São propostas e metas louváveis em si, não acha? Mas também é óbvio que se acredita que o desenvolvimento sustentável é realmente uma realidade possível, assim como a união dos povos, a solidariedade e tantos outros valores. Isso mesmo, o desenvolvimento sustentável já considerado quase como um valor humano. 14 Conheça mais sobre esses objetivos no link: Disponível aqui Você sabe o que são objetivos do milênio? São esforços conjuntos de diversas nações com o objetivo de promover a melhoria de condições de vida da população mundial, especialmente nas mais vulneráveis. No entanto, não devemos ter uma visão tão simplista do mundo. A grande verdade é que o próprio conceito de sustentabilidade e sua definição sinônima de desenvolvimento sustentável são controversos. Críticos afirmam que os termos “desenvolvimento” e “sustentável” já são um paradoxo, ou seja, são mutuamente 15 https://nacoesunidas.org/pos2015/ excludentes. Como se desenvolver e crescer indefinidamente – já que não se estabeleceu nenhum limite para isso – em um espaço limitado, que é o planeta? Faz sentido essa crítica, não acha? De fato, temos que aprofundar nossa visão e saber que o discurso preservacionista não é tão inocente como se pensa. Muitas das propostas do desenvolvimento sustentável parecem mais uma maquiagem para que a exploração dos recursos continue, mas com a bênção de uma população alienada por uma propaganda consumista. Fique atento a esses discursos! Gosto muito de uma frase citada por Barbieri (2007, p. 95), atribuída ao príncipe de Salina na obra O Leopardo, de Giuseppe Tomasi di Lampedusa: “é preciso mudar se quisermos que tudo fique como está”. Você está envolvido nisso, pois afeta sua vida, sua forma de fazer gestão, seu consumo, seu futuro. Podemos nos fechar para adiscussão e continuar a fazer tudo como antes, fazer mudanças cosméticas para preservar o modelo de exploração ou, ao invés disso, pensar e agir de uma forma mais crítica em relação ao planeta. 16 02 As Questões Logísticas e a Competitividade Empresarial Prezado aluno, Depois de uma visita à discussão sobre sustentabilidade, é importante ter uma visão das questões empresariais, que são a mola-mestre de grande parte do desafio da preservação ambiental. No tópico anterior, vimos que nossa vida é dependente de produtos originados das atividades de organizações empresariais. Alimento, vestuário, moradia, saúde, transporte, tudo é produzido por empresas para o consumo das pessoas, e são muitas empresas, de todos os portes, de todos os segmentos econômicos, agindo em busca de mais consumidores para seus produtos. O ambiente empresarial muitas vezes é comparado a um campo de batalha, um espaço onde somente os mais habilidosos e capazes conseguem sobreviver. Essa competitividade empresarial é encarada com naturalidade pelos próprios empreendedores. “Quem não tem competência não se estabelece”, diz o bordão. Assim, buscam-se mecanismos que tornem a organização cada vez mais preparada, mais competitiva, para enfrentar a concorrência. Nesse cenário, as empresas investem intensamente em tecnologia da informação, treinamento, sistemas de auditoria, enfim, várias ferramentas gerenciais que possibilitem um acompanhamento efetivo dos custos e ganhos de eficiência. Porém, mesmo com esse esforço, é possível que o ganho de competitividade não seja tão expressivo quanto gostariam os gestores. Isso porque as ferramentas gerenciais são utilizadas por praticamente todas as empresas cujos administradores tenham competência para guiar os negócios. No entanto, há uma variável que está, de fato, fazendo a diferença em relação à concorrência: os processos logísticos. Peter Drucker (1995 apud BATALHA, 2001, p. 163), um dos grandes gurus de administração, afirma que, a logística é última fronteira gerencial que resta ser explorada para reduzir tempos e custos, melhorar o nível e a qualidade de serviços, agregar valores que diferenciem e fortaleçam a posição competitiva da empresa.. 18 Pode parecer uma expectativa exagerada, mas há fundamentos bem sólidos para essa afirmação. Pense no seguinte: os produtos fornecidos e disponibilizados para consumo ao redor do mundo são cada vez mais parecidos. Alguns pequenos atributos não são suficientes para classificarmos uma quantidade muito grande de produtos como “exclusivos” – pelo menos não no que se refere a produtos de massa. Assim, um aparelho de TV é um aparelho de TV independente da marca, embora, como afirmamos, possa ter um ou outro atributo diferente. Assim, os produtos tornam-se verdadeiras commodities, ou seja, são praticamente idênticos. Os preços também são muito alinhados, isso porque os componentes são disponibilizados a fábricas do mundo todo e uma parte importante desses componentes é produzida em países asiáticos. Se não é possível competir em produtos (muito parecidos) e em preço (muito alinhados), o que diferencia as empresas? A eficiência logística. Essa eficiência logística é expressa na capacidade de prestar um nível de serviço considerado superior com custos que sejam reconhecidos como justos pelos consumidores. Além disso, tendo por base que a logística envolve fluxos de materiais, valores e informações, o fluxo de informações logísticas é um item que pode diferenciar a empresa, por ela agir proativamente às necessidades e expectativas de seus stakeholders. Para obter esse desempenho superior, a logística evoluiu naturalmente para um conceito de administração em rede ou cadeia, conceito esse amplamente conhecido como Gestão da Cadeia de Suprimentos ou, na sigla em inglês, Supply Chain Management (SCM). Sobre SCM, interessa-nos a definição de Razzolini Filho e Berté (2013, p. 42), onde afirmam que por SCM, entende-se a Administração sinérgica dos canais de abastecimento de todos os participantes da cadeia de valor, através da integração de seus processos de negócios, visando sempre agregar valor ao produto final, em cada elo da cadeia, gerando vantagens competitivas ao longo do tempo. 19 Essa moderna visão dos processos logísticos em redes ou cadeias vem ao encontro da administração estratégica, em que os objetivos organizacionais são traçados levando em conta o potencial de cada componente organizacional, todos convergindo para que o resultado seja atingido. Ou seja, as funções logísticas não são “soltas”, dispersas, e sim, fazem parte do planejamento estratégico empresarial. Acesse o link: Disponível aqui Grandes empresas por vezes têm dificuldade de alterar seus processos consolidados e, por conta disso, podem, aos poucos, perder mercado pela atuação mais ágil das startups. Veja um exemplo disso, na reportagem a seguir. 20 https://www.uol.com.br/tilt/noticias/bloomberg/2019/09/09/startup-lanca-drone-para-competir-com-gigantes-em-entregas.htm Essa é uma mudança de paradigma, pois até o momento, em grande parte das organizações, o que se percebe é uma atitude reativa em relação às funções logísticas, com planejamento no curto prazo. O que se pretende com a vinculação das funções logísticas com o planejamento estratégico é ampliar a visão para o longo prazo. Por meio do Quadro 1, é possível entender mais claramente essa mudança da visão das estratégias logísticas (de curto prazo) para a logística estratégica (de longo prazo). Quadro 1 – Enfoque da Logística Estratégica Fonte: Razzolini Filho e Berté (2013, p. 45) Enfoque Estratégia logística Logística Estratégica Dominação de custos Redução dos custos logísticos Redução de todos os custos através da logística Diferenciação Qualidade dos serviços logísticos A logística como fator de diferenciação Inovação A logística é o suporte para a inovação A logística é a fonte/motor para a inovação Alianças Logística como um meio para alianças A logística como a fonte/motor para as alianças Profissão Logística como um suporte para integração Logística como um novo produto Missão Logística como um suporte para extensão Logística ordenada para conquistar novos clientes Diversificação Uso das sinergias logísticas Diversificar por meio da logística Para ilustrar essa evolução, Razzolini Filho e Berté (2013) descrevem a situação em que uma empresa pretende terceirizar uma etapa do processo logístico. Na visão tradicional da estratégia logística, de curto prazo, um PSL (Prestador de Serviço 21 Logístico) poderia ser contratado para realizar a atividade por meio de um contrato de curto prazo para uma única ou poucas atividades. Na visão da Logística Estratégica de longo prazo, a opção seria o Operador Logístico, com contratos de longo prazo e com a prestação de múltiplas atividades, de forma integrada (RAZZOLINI FILHO; BERTÉ, 2013). Sem dúvida, diante desse quadro, tanto na estratégia logística como na logística estratégica, a empresa pode obter vantagem competitiva, porém, na opção pela logística estratégica, essa vantagem seria sustentável em longo prazo. 22 03 Entendendo o Conceito de Logística Reversa Olá, alunos! Vimos que a preocupação com as questões ambientais toma um espaço cada vez maior na pauta das discussões governamentais, empresariais e sociais, de forma geral. Evidentemente que os reflexos dessas discussões acabariam por chegar ao nível de ações, o que aconteceu de forma global. A legislação e normativas tornaram- se abundantes tanto em países desenvolvidos quanto em países em desenvolvimento, incluindo Brasil. De qualquer modo, é bom que você tenha em mente que alguns fatores motivaram o movimento dos empresários em direção ao tratamento de seus produtos após cumprirem seu ciclo de vida. Na década de 1970, precisamente em 1973, houve um evento catastrófico para a economia que ficou conhecido como Crise do Petróleo, quando os países membros da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), em um movimento de sucessivas altas, reajustaramos preços do precioso óleo em 400%. Isso desencadeou crises econômicas avassaladoras em países desenvolvidos, dependentes do petróleo para suas atividades produtivas. O custo de transporte e produção foi seriamente afetado. As matérias-primas tiveram aumentos de preço muito acentuados. Esse fenômeno forçou a busca por alternativas para obtenção de matérias-primas para as indústrias. De acordo com Razzolini Filho e Berté (2013), ao contrário do que afirmam os ambientalistas, foi o fator econômico que fez com que os empresários voltassem sua atenção para o reaproveitamento de matéria-prima. Além desse fator econômico, a conscientização por parte dos consumidores – pelo menos os de visão mais crítica – de que as empresas são responsáveis pelos produtos que fabricam, em todo ciclo de vida desses produtos e, por conseguinte, passarem a exigir que essas empresas cuidassem também da fase em que o produto estaria inservível para consumo, foi também um fator determinante para o movimento de tratamento desses produtos por parte dessas organizações. O poder público entrou também em cena, após comprovado dano ao meio ambiente por descartes inadequados e a necessidade de intervenção sobre os espaços degradados – com o consequente dispêndio de recursos públicos –, o que fez com que os países desenvolvessem leis que cobram ações e penalizam as empresas não atendem os ditames legais. O que as empresas deveriam fazer, considerando todas essas variáveis? 24 Figura 1 - Fluxos da Cadeia de Suprimentos Fonte: adaptado de Ballou (2006) A concepção do fornecimento de produtos teve que ser repensada. Até então, como frisado, o consumidor se constituía como o elo final da cadeia de suprimentos. Uma representação dessa ideia você pode perceber na Figura 1. Lembre-se que a representação usual de uma cadeia de abastecimento tradicional sempre é no sentido da produção ao consumo, enquanto que a representação de uma cadeia logística reversa é no sentido contrário, mesmo que não estejam presentes todos os elementos da cadeia de suprimentos original. Razzolini Filho e Berté (2013, p. 68), confirmando esse entendimento, o ampliam por afirmar que os produtos podem seguir três caminhos distintos dentro de um fluxo logístico: 25 Figura 2 - Representação Esquemática dos Processos Logísticos Direto e Reverso Fonte: Lacerda (2002, p. 3) 1. Da fábrica até o armazém ou centro de distribuição; 2. Do centro de distribuição até o autosserviço ou varejo e 3. Do autosserviço ou varejo até o consumidor. Com as exigências e variáveis que vimos acima, em que a empresa precisa ter ações consistentes para o tratamento dos produtos além de seu uso pelo consumidor, surge um quarto fluxo: o fluxo inverso ou da logística reversa. Para a nossa conceituação de Logística Reversa, precisamos visualizar um ciclo contrário ao fluxo tradicional de fornecimento. Estamos considerando o retorno dos produtos (ou partes dele) em direção à fonte de produção. No processo logístico convencional – pelo menos na abordagem história –, não há uma indicação clara sobre o fluxo cliente-empresa. Essa abordagem só ganha destaque com o desenvolvimento do conceito de Logística Reversa. Isso fica mais claro quando observamos a figura 2: Considerando essa ideia, desde a concepção do conceito de Logística Reversa, faz-se referência a este fluxo inverso. O CLM (Council of Logistics Management, que mais tarde foi rebatizado de Council of Supply Chain Management Professionals - CSCMP) definiu em 2001 o conceito de Logística Reversa, ao afirmar que se trata da: 26 parte do processo da cadeia de suprimentos que planeja, implementa e controla de forma eficiente e eficaz o fluxo direto e reverso e o estoque de bens, serviços e informação entre o ponto de origem e o ponto de consumo com o propósito de atender os requisitos dos clientes (CLM, 2001 apud SANTOS et al. 2013, p. 233). Veja nessa definição que se introduz o conceito do retorno (fluxo reverso) até o ponto de origem. Rogers e Tibben-Lembke (1999, p. 2 apud LEITE, 2009, p. 16) reforçam esse conceito do CLM ao definirem Logística Reversa como: O processo de planejamento, implementação e controle da eficiência e custo efetivo do fluxo de matérias-primas, estoques em processo, produtos acabados e informações correspondentes do ponto de consumo ao ponto de origem com o propósito de recapturar o valor ou destinar à apropriada disposição. Nesse conceito, já se trata da valoração dos materiais retornados, importante destaque no planejamento da Logística Reversa, que veremos oportunamente. O mesmo CSCMP, em 2006, retomou o conceito da Logística, agora inserindo a dinâmica da Logística Reversa, por afirmar que: Supply Chain Management compreende o planejamento e gerenciamento de todas as atividades envolvidas com a aquisição, conversão e o gerenciamento logístico. Inclui principalmente a coordenação e colaboração com os parceiros dos canais, que podem ser fornecedores, intermediários, provedores de serviços terceirizados e clientes. Em essência, o Supply Chain Management integra o gerenciamento do suprimento e da demanda, internamente e ao longo da cadeia de suprimentos. Logística empresarial é a parte do Supply Chain Management que planeja, implementa e controla o eficiente e efetivo fluxo direto e reverso, a estocagem de bens, serviços e as informações relacionadas entre o ponto de origem e o ponto de consumo, no sentido de satisfazer as necessidades do cliente (CSCMP, 2006 apud LEITE, 2009, p. 17). 27 Figura 3 - Atividades Relacionadas ao Processo de Logística Reversa Fonte: Chaves et al. (2008, p. 4) Observe que nesse conceito, coloca-se claramente no fluxo reverso (assim como já consolidado no fluxo direto) a questão da informação relacionada com o processo, como insumo para a gestão da logística reversa. Em 2005, o REVLOG (Grupo de Trabalho Europeu de Logística Reversa) expressou que: logística reversa é uma área/função bastante ampla que envolve todas as operações relacionadas com a reutilização de produtos e materiais como as atividades logísticas de coletar, desmonte e processo de produtos e/ou materiais e peças usadas a fim de assegurar uma recuperação sustentável dos mesmos e que não prejudiquem o meio ambiente (REVLOG, 2005 apud CHAVES et al. 2008, p. 4). O conceito do REVLOG (2005) é interessante, pois pressupõe atividades específicas da Logística Reversa, como coleta, desmonte e a recuperação de materiais e peças usadas. Essas atividades que buscam recuperar valor são visualizadas na Figura 3: A própria legislação ambiental brasileira também define Logística Reversa, como destacado por Robles e La Fuente (2019), ao destacar o trecho da Lei 12305/2010, art. 3º, inciso XII, que explana que a logística reversa é 28 Um instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada (ROBLES; LA FUENTE, 2019, p, 42). Assim, a própria legislação, conforme veremos em outro momento da nossa disciplina, já estabelece que a Logística Reversa precisa ser um instrumento adequado do ponto de vista social, econômico e ambiental. Rogers e Tibben-Lembke (1998 apud CHAVES et al., 2008, p. 5) elencam atividades consideradas o núcleo do processo logístico reverso, conforme demonstrado no Quadro 2: Quadro 2 - Atividades Comuns na Logística Reversa Fonte: Rogers e Tibben-Lembke (1998 apud CHAVES et al. 2008, p. 5) Material Atividades da Logística Reversa Produtos Retornados ao fornecedor Revendidos Vendidos via Outlet Salvados Recondicionados Renovados Remanufaturados Recuperação de materiais Reciclados Aterro sanitário Embalagem Reutilização Renovação Recuperação de materiais Reciclagem 29 Sem detalhar, neste momento, as atividades listadas no Quadro acima, é importante pontuar que, assim como os processos logísticostradicionais que formam canal de distribuição, no caso da Logística Reversa, há também a constituição de um canal de distribuição reverso. Para resgatar a ideia de canal de distribuição, esses são constituídos pelas diversas etapas pelas quais os bens produzidos são comercializados até chegar ao consumidor final, seja uma empresa, seja uma pessoa física. A distribuição física dos bens é a atividade que realiza a movimentação e disponibiliza esses produtos ao consumidor final (KOTLER, 1996 apud LEITE, 2009, p. 6). Pois bem, considerando o sentido contrário, Leite (2009, p. 6) salienta que os canais de distribuição reversos consideram: as formas e os meios em que uma parcela dos produtos com pouco uso após a venda, com ciclo de vida útil ampliado ou após a extinção de sua vida útil, retorna ao ciclo produtivo ou de negócios, readquirindo valor de diversas naturezas, no mesmo mercado original, em mercados secundários, por meio de seu reaproveitamento, de seus componentes ou de seus materiais constituintes. Esses Canais de Distribuição Reversos (CDRs) são geralmente classificados considerando certos aspectos característicos dos bens comercializados. Na classificação clássica dos bens em função de sua durabilidade, Razzolini Filho e Berté (2013) listam dois tipos de produtos, conforme Quadro 3: 30 Quadro 3 - Classificação de Produtos em Função de sua Durabilidade Fonte: Razzolini Filho e Berté (2013, p. 93) Classificação Características Produtos duráveis Aqueles que têm sua duração avaliada pela sua vida útil, como automóveis, fogões, refrigeradores, entre outros, geralmente medida em anos. Produtos não duráveis Aqueles que são consumidos imediatamente ou em prazos muito curtos, tais como alimentos. Após diversos estudos e o desenvolvimento do conceito de logística reversa, classificaram-se os canais de distribuição reversos em dois tipos: canais de distribuição reversos de pós-venda e canais de distribuição reversos de pós-consumo. Esses diferentes tipos de canais serão tratados posteriormente em nossa disciplina. 31 Você talvez tenha se perguntado: por que não se dá o destaque merecido aos canais de distribuição reverso da mesma forma como os canais de distribuição tradicionais? A resposta não poderia ser mais simples: por razões econômicas, ou seja, a representação monetária dos dois processos. Os canais de distribuição reversos movimentam valores muito inferiores aos movimentados em canais tradicionais. Acesse o link: Disponível aqui Artigos científicos nos ajudam a entender com mais profundidade a aplicação de conceitos teóricos, como aqueles que estamos considerando nessa disciplina. Veja no link a seguir um interessante artigo contendo um estudo de caso sobre redução de custos com aplicação da logística reversa. 32 https://revistas.unicentro.br/index.php/capitalcientifico/article/view/5213/html 04 Custos em Logística Reversa – O que Avaliar Prezado aluno, Ao considerar os processos logísticos de forma geral, é evidente que custos estão envolvidos. Um dos temas logísticos mais difíceis de tratar é justamente o de custos logísticos. Para lembrá-los da importância da gestão dos custos logísticos, há uma estimativa de que o custo total da logística nos EUA chegue a impressionantes 10% do PIB americano (CHRISTOPHER, 2007). Um estudo desenvolvido pelo CEL-COPPEAD apurou que, em 2004, o custo logístico total no Brasil era da ordem de 12,6% do PIB (LIMA, 2006). É muito complexo ter esse custo atualizado, uma vez que os processos logísticos podem ser mais ou menos custosos dependendo da própria demanda por produtos, condições de infraestrutura, aumento ou redução de importação e exportação, entre outros motivos. O fato é que, sim, são custos significativos nos processos organizacionais. Devido à sua importância, várias fórmulas têm sido oferecidas, buscando proporcionar métricas para apuração desses custos. Uma das fórmulas é a oferecida por Faria e Costa (2007), que considera o Custo Logístico total o resultado da seguinte expressão: CLT = CAM + CTRA + CE + CMI + CTI + CTRI + CDL + CDNS + CAD Nesta fórmula, CAM = Custos de Armazenagem e Movimentação de Materiais CTRA = Custos de Transporte (incluindo todos os modais ou operações intermodais) CE = Custos de Embalagens (utilizadas no sistema logístico) CMI = Custos de Manutenção de Inventários (MO, PP e PA) CTI = Custos de Tecnologia de Informação CDL = Custos Decorrentes de Lotes 34 CTRI = Custos Tributários (tributos não recuperáveis) CDNS = Custos Decorrentes do Nível de Serviço CAD = Custos da Administração Logística Pode-se ainda buscar apurar o Custo logístico Total por meio de seus processos, cuja fórmula de cálculo é: CLT = CLOGAba + CLOGPla + CLOGDis Na qual: CLOGAba = Custos Logísticos do Abastecimento CLOGPla = Custos Logísticos da Planta CLOGDis = Custos Logísticos de Distribuição Ainda há um modelo mais simplificado adotado por muitos autores: CLT = CA + CPP + CE + CT Em que: CA = Custos de Armazenagem CPP = Custos de Processamento de Pedidos CE = Custos de Estocagem CT = Custos de Transporte Os estudos que contemplam os custos da logística reversa no Custo Logístico Total ainda são incipientes. Paulo Roberto Leite, um dos pioneiros na pesquisa da Logística Reversa no Brasil, oferece a possibilidade de se associar três tipos de custos às atividades de Logística Reversa: 1. Custos apropriados pela contabilidade: custos diretos, indiretos, fixos e variáveis. 2. Custos relacionados à gestão de operações de diversas naturezas: normalmente apropriados pelos administradores ou pela controladoria das empresas, tais como “custos de oportunidade”, custos “ocultos”, entre outros. 3. Custos de imagem corporativa ou de marca (LEITE, 2009, p. 27). 35 Vamos detalhar um pouco mais cada um desses custos. No caso dos custos apropriados pela contabilidade, somaríamos custos de transporte, armazenagem, consolidações e de sistemas de informação dos canais reversos, da mesma forma que fazemos para os canais tradicionais. Leite (2009) traz a atenção que, devido às operações adicionais que os canais de distribuição reversos agregam, os custos relacionados tendem a ser maiores. Essas atividades incluem seleção, separação e redistribuição dos produtos da logística reversa. O autor destaca que o número de transações logísticas no retorno dos produtos é de 5 a 10 vezes maior, o que resulta em custos de 3 a 5 vezes mais em relação ao de envio dos produtos originais ao mercado. Os custos relacionados à gestão, de forma semelhante aos custos de gestão logística tradicional, são relacionados aos custos de oportunidade, custos irrecuperáveis, programas de melhoria, entre outros. Finalmente, os custos de imagem corporativa ou de marca relacionam-se à preocupação das empresas em se manterem com sua imagem intocável perante a comunidade e aos seus consumidores. Especialmente no caso da Logística Reversa a imagem está relacionada a boas práticas de sustentabilidade empresarial. 36 Figura 1 - Pontos de Recuperação de Valor na Logística Reversa Fonte: Garcia (2006) A questão dos custos na Logística Reversa precisa ser avaliada também em outra perspectiva: a da recuperação de valor, ou seja, o quanto a empresa pode ganhar com os materiais retornados. A lógica é razoavelmente simples: dependendo do ponto em que o produto for recapturado, é possível obter maior ganho – ou recuperação de perdas no caso de garantia – com o item. Na figura 1, você poderá visualizar como isso ocorre. Fica bastante claro, na figura 4, como ocorre o ciclo de vida de um produto, desde a aquisição de matérias-primas, a fase de manufatura, a distribuição, a comercialização e o retorno (originário do pós-venda ou pós-consumo). Assim, pode-se dizer que o ciclo de vida do produto tem fim apenas quando do seu descarte final de forma segura, podendo dentro do ciclo de vida ter sido recuperado, remanufaturado e ter retornado ao mercado, inteiro ou em partes, ou ainda ter tido suas partes reaproveitadas ou recicladas (GARCIA,2006). Considerado dessa forma, uma conclusão lógica que podemos chegar é a de que, quanto maior for o percentual de retorno e o valor envolvidos do produto, mais importante será a gestão do ciclo de retorno do produto de modo a capturar o valor (GARCIA, 2006). No Quadro 1, temos uma comprovação numérica dos impactos do retorno de materiais para a indústria. 37 Quadro 1 - Impacto Econômico do Retorno dos Materiais para Indústria Fonte: Roger e Tibben (1999 apud GARCIA, 2006) Indústria Percentagem Revistas 50% Editoras de livros 20-30% Distribuidores de livros 10-12% Catálogos 18-36% CD-ROMs 18-25% Impressoras 4-8% Eletrônicos de consumo 4-5% Indústrias de revistas e jornais têm um retorno muito grande de produtos, devido à sua elevada obsolescência e, por conta disso, essas indústrias precisam ter um processo de Logística Reversa muito bem estruturado. Atualmente há uma tendência ao desaparecimento de periódicos (revistas e jornais) em papel. Títulos importantes do mundo editorial agora só existem de forma digital. Até onde essa tendência irá levar, o tempo dirá. Para atribuirmos o valor de um produto retornado, precisamos analisar seu processo de retorno do ponto de vista do tempo e do próprio processo de remanufatura (caso este produto seja destinado a voltar ao mercado). No esquema do Gráfico 1, mais adiante, temos uma representação gráfica sobre o impacto no valor do produto das fases de remanufatura e da variável tempo. Podemos observar que o valor se deprecia com o tempo. Você deve ter uma noção clara disso, principalmente se considerarmos produtos de tecnologia, como computadores, tablets, celulares, entre outros. Se existir uma demora no reprocessamento desses produtos, quando eles retornarem ao mercado, já não terão o apelo de produtos de ponta, que é um fator importante de atração de compradores. 38 A cultura do descarte está cada vez mais internalizada na sociedade, enquanto a cultura de consertar um aparelho quebrado se perdeu muito com o passar do tempo. Como você se comporta em relação a isso? Dessa forma, para produtos com essas características (alto valor e rápida depreciação), o tempo de retorno é fundamental para a recuperação de valor. Dessa forma, os custos de retorno envolvem os custos de processo da Logística Reversa e a perda de valor devido ao tempo entre a sua introdução na cadeia reversa e o seu retorno ao mercado (GARCIA, 2006). Matematicamente, ficaria assim representado: Custo de Retorno para produtos pós-venda = Valor de Retorno + Custo LR – Valor Recuperado Em que: Valor de retorno: valor do produto no mercado considerando o efeito de depreciação no tempo. Custo LR: custo da Logística Reversa. Envolve todo o processo para torná-lo disponível ao mercado novamente. Valor Recuperado: valor que o mercado aceita pagar pelo produto retornado considerando a depreciação no momento de seu retorno. Num estudo do Reverse Logistics Executive Concil, foi constatado que o custo de um OEM (Original Equipment Manufacturer) pode ser reduzido em 35%, considerando que de 10% a 20% dos computadores ou produtos eletrônicos retornam, e que esses produtos se depreciam a uma taxa de 3% por semana. 39 Gráfico 1 - Valor de Retorno em Função do Tempo Fonte: Blackburn et al. (2004) Outro ponto a considerar é que os atrasos no retorno dos produtos deixam os clientes insatisfeitos e podem resultar em impactos na participação de mercado das empresas (GARCIA, 2006). O gráfico 1 demonstra a questão do impacto do fator tempo na possibilidade de retorno de valor no processo de Logística Reversa. Perceba no gráfico 1 que há uma relação direta entre a variável tempo e o valor do produto retornado para o mercado. Evidentemente, este valor fica muito menor quanto maior o tempo decorrido da entrada do material no processo logístico, sua adequação e disponibilização novamente ao mercado. 40 Outro fator importante a ser considerado na composição dos custos da Logística Reversa é o reaproveitamento do material, ou de parte dele, na forma de reciclagem. A reciclagem possibilita o ingresso de numerário para as empresas e pode ser contabilizado como Receita Ambiental, nas Contas de Resultados, Receitas (Vendas de Resíduos) e na Redução de Custos e Despesas Ambientais (Recuperação de Resíduos). Na atuação da Logística Reversa, desde o início do processo de fabricação, já se estabelecem algumas medidas que visam evitar ou diminuir a quantidade de material descartável, com ações como: reduzir os resíduos na origem; reutilizar os materiais, maximizando o nível de rotação e implementar sistemas de recuperação. Os números podem ser impactantes: Reciclar uma tonelada de plástico economiza 130 quilos de petróleo; para uma tonelada de vidro, se gasta 70% menos energia do que fabricar, e para cada tonelada de papel reciclado, poupa-se 22 árvores, e consome-se 71% menos energia, além de poluir 74% menos que fabricar o produto (IARIA, 2002 apud GARCIA, 2006, p. 5). Impressionante, não é? Há ainda outros fatores a serem considerados. Na questão de custos, o gestor deve decidir entre a modelagem de logística mais adequada para lidar com diferentes tipos de material. Isso mesmo! Dependendo do tipo de material, conforme já vimos, o tempo é um fator mais importante que outros fatores. Para produtos de menor valor, o custo do retorno deve ser considerado. Nesse ponto, podemos citar um trecho do trabalho de Leite 1999 e Felizardo et al. (1999 apud GARCIA, 2006). Esses autores citam os principais fatores para a realização de projetos de Cadeia de Distribuição Reversa (Reverse Supply Chain), bem como fatores que podem modificar a estrutura e organização desses Canais Reversos: Custos: ainda não bem definidos e de difícil avaliação. Oferta: de materiais reciclados, permitindo a continuidade industrial necessária. Qualidade: adequada ao processo industrial e constante para garantir rendimentos operacionais economicamente competitivos. Tecnologia: a tecnologia e o teor de determinada matéria-prima podem variar em função do produto de pós-consumo utilizado, redundando em custos 41 diferentes e orientando o mercado de pós-consumo para aquele que se apresente mais conveniente. Logística: a característica logística das matérias de pós-consumo, em particular a transportabilidade, revela-se de enorme importância na estruturação e eficiência dos canais reversos. Mercado: é necessário que haja quantitativa e qualitativamente mercado para os produtos fabricados com materiais reciclados. Ecologia: novos comportamentos passam a exigir novas posições estratégicas das empresas sobre o impacto de seus produtos e processos industriais. Governo: legislação, subsídios que afetam o interesse da área dos materiais reciclados. Responsabilidade Social: valorização social e possibilidade de produção e consumo de produtos ecologicamente corretos. Na questão do valor dos produtos que têm origem na Logística Reversa, um conceito com o qual você vai se deparar é o de – MVT (Marginal Value of Time for Returns, ou, traduzido em português: Valor Marginal do Tempo de Retorno). Esse conceito é trazido por Blackburn (2004), que destaca que, como grande parte da perda recuperável de ativos no fluxo de retorno é devido a atrasos no processamento, os administradores devem ser sensíveis ao valor do tempo de retorno de produtos e usá-lo como uma ferramenta para (re)desenho da cadeia de suprimentos reversa para recuperação de ativos. Então, uma simples, mas eficaz métrica para medir o custo da demora é o valor marginal do produto no tempo, ou seja, a perda de valor por unidade de tempo de espera para a conclusão do processo de recuperação. Voltando à questão da modelagem logística, basicamente há duas alternativas apresentadas, conforme Garcia (2005): 1. Cadeia Eficiente – cadeia desenhada para entregar o produto a baixo custo. 2. Cadeia responsiva (Ágil) – cadeia desenhada para dar velocidade de resposta. Blackburn (2004) sugere a seguinte matriz de decisão para a modelagem logística: 42 Figura 2 - Matriz de DecisãoFonte: Blackburn et al. (2004) Também devemos considerar que um produto não pode entrar no processo de logística reversa sem uma prévia inspeção. Agora, imagine que existem muitos produtos a serem inspecionados. Forma-se, naturalmente, uma fila para inspeção, para teste até a destinação final que se dará ao material, conforme a figura 3 demonstra: 43 Figura 3 - Destinação Final aos Materiais da Logística Reversa Fonte: Blackburn (2004) Percebeu, na figura, o tempo decorrido da chegada do material até a entrada na inspeção? Inacreditáveis 100 dias. Dependendo do tipo de material, esse tempo pode determinar o grau de retorno que a empresa terá na volta do material ao mercado ou partes dele ao processo produtivo. Podemos colocar o que aconteceu na figura em forma de equação matemática: TDD = (TPL + TINSP) Em que: TDD: Tempo de tomada decisão da destinação. TPL: Tempo dos produtos no funil de retorno (pipeline) até a chegada da inspeção. TINSP: Tempo na fila de inspeção + Tempo dos testes. 44 Assim, no exemplo, temos: TPL = 2 meses (ou 60 dias). TINSP = 40 dias. Então, pela fórmula: TDD = (60 + 40). TDD = 100 dias. Não é tão complicado, não é mesmo? Na figura 4, em um exemplo hipotético proposto por Blackburn (2004), podemos perceber as perdas no processo de logística reversa, considerando um fluxo de 1000 unidades monetárias. Você pode notar que alguns materiais e produtos podem voltar como novos ao mercado (algo em torno de 20%). Existe uma perda aceita de aproximadamente 45%. Note também que sempre há alguma forma de retorno, seja qual destino for dado ao produto/material retornado. O funil serve para representar o fator tempo, que é muito importante no processo, como você já viu. Quanto maior o tempo (ou seja, mais próximo do final do funil), o valor é menor, podendo ser igual a zero, quando o produto/material for transformado em sucata sem destinação determinada. O impacto disso no canal reverso pode ser visualizado na figura 4, que demonstra o fluxo reverso com as possíveis recuperações de valor. Veja um detalhe interessante na figura, que está em seu formato, dando a noção clara de afunilamento, ou seja, quando mais próximo do final do fluxo, menos é possível recuperar. 45 Figura 4 - Funil de Retorno dos Materiais no Fluxo Reverso Fonte: Blackburn (2004) Essa figura ilustra bem que, se compararmos um produto retornado em relação ao valor produto novo, há uma perda no valor do ativo de mais de 45% e somente 20% pode retornar como produtos novos. Porém, considerando que se não houver nenhuma ação gerencial sobre o retorno dos itens na cadeia reversa o prejuízo é total, há que se considerar que a empresa recupera valor, ou seja, tem entrada de recursos em seu caixa pelo tratamento correto de produtos retornados. Acesse o link: Disponível aqui No Brasil, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) é o principal responsável pelas políticas ambientais no país. No portal do MMA encontramos algumas informações muito úteis sobre Logística Reversa. Por fim, é interessante observar alguns apontamentos quanto aos custos da Logística Reversa que são destacados por Leite (2014, p.66) quando afirma que: 46 https://www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/residuos-perigosos/logistica-reversa Embora os custos de reaproveitamento, realizados com escala, qualidade e com processos adequados sejam compensadores de uma forma geral, os custos de Logística Reversa propriamente dita, ou seja, os custos operacionais de coleta, transporte, manuseio etc. são por natureza altos, quando comparados com a logística direta. Neste sentido, embora se saiba que alguns dos desafios acima mencionados sejam de longo prazo, algumas oportunidades existem, como por exemplo: • Adequação dos projetos dos produtos às necessidades de reaproveitamento reduzindo os custos envolvidos. Isto envolve uniformização de materiais, redução de soldas e ligações permanentes, identificação das partes, uso dos conceitos de rastreabilidade etc. • Organização eficiente da rede de atividades da Logística Reversa: formas de coleta, transportes, localização destas atividades, processamentos intermediários etc. • Aumento das escalas de atividades em todas as áreas das cadeias reversas de pós-consumo propiciando melhores tecnologias, consistência e qualidade nas atividades. • Implantação tecnologias de tratamento de resíduos sólidos com alto desempenho para escalas maiores. • Destinação de recursos adequados para capacitação de mão de obra qualificada e recursos em equipamentos. • Adequação de soluções e incentivos governamentais para áreas industriais e comerciais que estejam envolvidas com a execução de programas de Logística Reversa. Este aspecto é de vital importância na medida em que, além das conhecidas tributações redundantes que oneram muito os produtos reaproveitados e o seu uso posterior, seriam necessários incentivos em forma de financiamentos para melhorias tecnológicas, condições especiais de transporte, entre outras providencias e inovações necessárias a esta área, que poderá gerar um PIB de economia reversa considerável, além de apreciável quantidade de empregos. Então, prezado aluno, fica muito claro, dessa forma, que o gerenciamento dos custos da logística reversa está implícito no planejamento das ações dos gestores organizacionais. 47 48 05 A Classificação dos Bens de Pós-Consumo e os Canais de Distribuição Reversos de Pós- Consumo – CDR PC Olá a todos! Ao iniciar a consideração dos CDR PC (Canais de Distribuição Reverso de Pós- Consumo), gostaria de trazer novamente à sua atenção que as empresas formatam seus canais de distribuição por razões objetivas, que são elencadas por ordem de importância em: Aumentar a competitividade; “Limpar” o canal através da redução de estoques parados; Respeitar legislações existentes; Revalorização econômica; e Recuperar valor de ativos (ROGERS; TIBBEN-LEMBCKE, 1998 apud RAZZOLINI FILHO; BERTÉ, 2013, p. 80). Note que, dos motivos listados acima, a maior parte se relaciona aos aspectos econômicos – ou pelo aumento da receita ou pela recuperação de valor. No caso da revalorização econômica, isto se dá quando o bem retornado no processo de logística reversa pode ser destinado a canais reversos alternativos, dessa forma, gerando valores chamados de “residuais” que podem ser importantes para a companhia. Isso acontece em virtude de que, apesar de sempre imaginarmos a logística reversa como um movimento a montante na cadeia de suprimentos, ou seja, como um movimento contrário ao fornecimento, nem sempre é assim que ocorre na prática. Por vezes, o bem retornado pode, de fato, ser inserido novamente de alguma forma no processo produtivo, por exemplo, tornando-se novamente uma matéria-prima no processo na própria empresa. Nem sempre isso é possível, porém, ainda pode gerar receitas pela venda a outras empresas que poderiam absorver o material como matéria-prima ou componente de seus processos. Outra pontuação importante é que, quando se fala de logística de pós-consumo, evidentemente trataremos de materiais que são, na maioria das vezes, descartados como lixo. Para nós, o que é considerado lixo, pode ter potencial econômico. Então, elevaremos esses materiais do nível de lixo para o nível de resíduos. Não é apenas uma mudança semântica. Trata-se de uma alteração da visão gerencial. Só chamaremos de lixo o que de fato não puder ser aproveitado de alguma maneira em processos produtivos. 50 Vimos anteriormente que uma classificação possível para produtos é quanto à sua durabilidade. Vimos também a questão do ciclo de vida para os produtos. Ou seja, um produto, mesmo durável, em certo momento, cumpre o seu propósito, ou por tornar- se inútil para o seu usuário (lembra-se do 3 em 1?), ou por, após o período de garantia, apresentar um defeito cujo conserto não compense o gasto. Somando-se a esse tipo de produto, temos ainda as embalagens, nas quais os produtos foram acondicionados, e os resíduos industriais provenientes dos processos produtivos. Temos, então, o cenário paraa atuação de um canal de distribuição reverso de pós- consumo. Para fins de conceituação, usaremos a definição de Leite (2017, p. 100), que assim classifica os canais de distribuição reversos de bens de pós-consumo: Constituem-se nas diversas etapas de comercialização e industrialização pelas quais fluem os resíduos industriais e os diferentes tipos de utilidade ou seus materiais constituintes, até sua reintegração ao processo produtivo, por meio de subsistemas de reuso, remanufatura ou reciclagem. Há uma similaridade global com respeito à estrutura básica dos canais reversos, apesar de algumas especificidades em alguns países devido às legislações distintas e diferentes fontes de resíduos de pós consumo (LEITE, 2017). Para que você tenha noção da constituição dos bens de pós-consumo, te recomendo visitar a área destinada ao lixo urbano de sua cidade. Será uma experiência muito rica, pois você terá um verdadeiro laboratório diante de você. Trataremos do assunto legal relacionado ao lixo urbano e ao descarte na Unidade IV. Algumas constatações, no entanto, podemos fazer desde já. A ABRELPE - Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais traz alguns dados preocupantes no seu relatório sobre os RSU (Resíduos Sólidos Urbanos), do período de 2018/2019: 51 Os dados revelam que, em 2018, foram geradas no Brasil 79 milhões de toneladas, um aumento de pouco menos de 1% em relação ao ano anterior. Desse montante, 92% (72,7 milhões) foi coletado. Por um lado, isso significa uma alta de 1,66% em comparação a 2017: ou seja, a coleta aumentou num ritmo um pouco maior que a geração. Por outro, evidencia que 6,3 milhões de toneladas de resíduos não foram recolhidas junto aos locais de geração. A destinação adequada em aterros sanitários recebeu 59,5% dos resíduos sólidos urbanos coletados: 43,3 milhões de toneladas, um pequeno avanço em relação ao cenário do ano anterior. O restante (40,5%) foi despejado em locais inadequados por 3.001 municípios. Ou seja, 29,5 milhões de toneladas de RSU acabaram indo para lixões ou aterros controlados, que não contam com um conjunto de sistemas e medidas necessários para proteger a saúde das pessoas e o meio ambiente contra danos e degradações. A situação da coleta dos resíduos sólidos urbanos também é bastante irregular no Brasil, se considerarmos suas regiões. Veja, na Figura 1, como se apresenta a realidade desse serviço público: 52 Figura 1 - Panorama da Coleta de Rsu no Brasil por Regiões Fonte: ABRELPE (2019, p. 13) Há, sem dúvida, um longo caminho a percorrer. Trataremos disso mais adiante na nossa disciplina. O fato é que todos os materiais que são classificados como bens de pós-consumo (duráveis, semiduráveis, descartáveis e resíduos industriais) podem ser descartados ou disponibilizados pelos consumidores e, dessa forma, dar início aos processos no canal de distribuição reverso de bens de pós-consumo. Alguns fluxos possíveis, após esse ingresso do item na cadeia reversa, estão ilustrados na Figura 2: 53 Figura 1 - Canais de Distribuição de Pós-Consumo Direto e Reverso Fonte: Leite (2017, p. 102) Leite (2017) classifica os canais de distribuição reversos em dois tipos: 1. Canais de distribuição reversos de ciclo aberto; 2. Canais de distribuição reversos de ciclo fechado. Veja no Quadro 1 as principais características de cada tipo de canal reverso. 54 Figura 3 - Exemplos de Ciclo Reverso Aberto Fonte: Leite (2017, p. 89) Quadro 1 - Características dos Canais Reversos de Ciclo Aberto e Fechado Fonte: baseado em Leite (2017) Tipo Características Exemplos de materiais Ciclo aberto Foco na matéria-prima. Substituem matérias-primas novas na fabricação de diferentes produtos. Metais (ferro, alumínio, cobre etc.), plásticos (polímeros como polietilenos, polipropilenos, etc.), vidros, papéis. Ciclo fechado Foco no produto. Os materiais constituintes são extraídos para fabricação de um produto similar ao de origem. Latas de alumínio, baterias de automóveis, óleos lubrificantes. Na Figura 3, temos exemplificado o ciclo reverso aberto: No caso dos canais reversos de ciclo fechado, o Quadro 2 demonstra a lógica deste processo. 55 Quadro 2 - Canais Reversos de Ciclo Fechado Fonte: Leite (2017, p. 90) Produto de origem de pós- consumo Principais materiais extraídos Novo produto Óleos lubrificantes usados Eliminação de impurezas e acréscimo de aditivos Óleos lubrificantes novos Baterias de veículos descartadas Plástico e extração do chumbo Baterias de veículos novos Latas de alumínio de embalagens descartáveis Extração da liga de alumínio Latas de alumínio novas Uma pontuação relevante que Leite (2017) faz é em relação ao equilíbrio entre o fluxo direto e o fluxo reverso. Entendemos que o fluxo direto é aquele em direção ao mercado, enquanto o fluxo reverso é o retorno do bem após seu ciclo de vida. Nessa lógica, o autor destaca que há um equilíbrio quando o fluxo direto é igual ao fluxo reverso. Podemos visualizar essa relação na Figura 4, a seguir: 56 Figura 4 - Relação entre o Fluxo Direto e o Fluxo Reverso Fonte: Leite (2017, p. 85) Conforme demonstrado na Figura, a balança mostraria um equilíbrio se o fluxo reverso fosse igual ao fluxo reverso. Esse seria o melhor dos mundos, significando que os materiais de pós-consumo estariam integralmente sendo reaproveitados em novos processos produtivos. Outra situação possível é o fluxo direto ser maior que o ciclo reverso. Neste caso de desequilíbrio, há a formação de depósitos (nem sempre adequados) de sucatas e resíduos, ocasionando muitas vezes poluição. Conheça mais clicando no link: Disponível aqui A cadeia de recuperação de embalagens PET tornou-se robusta no Brasil nos últimos anos. O retorno das embalagens possibilitou a alimentação de processos produtivos importantes, como a indústria têxtil. Cerca de 1/3 do faturamento da indústria de PET no Brasil advém do retorno de materiais. 57 http://goo.gl/WPI1yT Como os países desenvolvidos têm uma taxa de substituição de produtos maior, em decorrência do maior poder aquisitivo, sua produção de produtos em descarte tende também a ser maior. A recuperação econômica dos produtos para os canais de logística reversa de pós-consumo não dá conta de todo o material produzido, gerando um movimento de troca internacional de materiais secundários entre países (LEITE, 2017). A forma como esse movimento é feito é duramente criticada pelos movimentos ambientalistas. O argumento desses movimentos é o de que os países mais ricos “livram-se” de seus entulhos, transferindo esses materiais para países periféricos (países pobres) que não conseguem fazer o aproveitamento adequado desses materiais, acumulando-os em montanhas e montanhas de sucata e lixo eletrônico. De qualquer forma, precisamos encarar a situação pelo que de fato é: um desafio aos gestores logísticos que precisa de alguma maneira ser enfrentado. Por conta disso, a partir de agora, analisaremos com atenção a questão da descartabilidade na Logística Reversa. 58 06 A Descartabilidade na Logística Reversa e a Disposição de Bens de Pós-Consumo Como dito no tópico anterior, vários itens, os quais podemos classificar como bens de pós-consumo, são simplesmente descartados, nem sempre de forma correta. Preste atenção aos itens que são descartados. Com a evolução tecnológica cada vez mais rápida e a filosofia da obsolescência programada – estratégia de lançamento de produtos com obsolescência conhecida antecipadamente, porque outro produto já está programado para ser lançado e substituirá o anterior - adotada por um número cada vez maior de empresas, os produtos deixam de ser úteis aos clientes com velocidade espantosa. Um bem durável, como um aparelho de TV, por exemplo, que na época de nossos pais era quase para vida toda, é rapidamente substituído por modelos mais modernos e com mais funcionalidades. A cultura do conserto de aparelhos eletroeletrônicos está se desfazendo. Como resultado, é muito comum encontrarmos esse tipo de aparelhos abandonadosem caçambas de lixo ou em lixões a céu aberto. A ONU – Organização das Nações Unidas – tem sede em Nova York (EUA), e é composta de 193 países-membros. Em sua composição, diversos programas são patrocinados e gerenciados pela ONU. Entre eles o PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio-Ambiente. Traçando um panorama do chamado lixo eletrônico no Brasil e no mundo, os números são assustadores. Estudos de Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), mostram que a China e os Estados Unidos são os 2 maiores produtores de lixo eletrônico no mundo. O mundo todo produziu 53,6 milhões de toneladas de lixo eletrônico em 2019 e esses 2 países foram responsáveis, respectivamente, por 10,1 milhões de toneladas e 6,9 milhões de toneladas. Ainda de acordo com esse relatório, 60 [...] o mundo gerou 53,6 mega toneladas de lixo eletrônico, uma média de 7,3 kg por pessoa. O total do lixo eletrônico gerado aumentou 9,2 milhões de toneladas desde 2014 e deve crescer para 74,7 milhões de toneladas em 2030. Esse crescimento corresponde a quase o dobro em 16 anos (Fonte: <https://news.un.org/pt/story/2020/07/1719142> - Acesso em 05.08.2020). Esse crescimento é preocupante. A grande incógnita é justamente o retorno desses itens aos processos reversos, se há algum tipo de aproveitamento a ser aplicado a esses materiais. Veremos algumas possibilidades nesse sentido mais adiante em nossa disciplina. Para as empresas, esse retorno não deve ser tratado com amadorismo. Tanto é assim que no desenvolvimento dos processos de Logística Reversa instaurou-se um mecanismo de gestão em relação aos produtos retornados. Trata-se do Product Recovery Management (PRM) ou, traduzido, Administração da Recuperação de Produtos. Mas o que é PRM? De acordo com Daher et al. (2006, p. 59), PRM pode ser definido como “o gerenciamento de todos os produtos, componentes e materiais usados e descartados pelos quais uma empresa fabricante é responsável legalmente, contratualmente ou por qualquer outra maneira”. É importante frisar que o PRM lida com diversos problemas administrativos, entre os quais está a Logística Reversa. Na Tabela 1, você vai conhecer as 6 (seis) áreas principais da PRM: 61 https://news.un.org/pt/story/2020/07/1719142 Tabela 1 - Abrangência das Áreas do PRM Fonte: baseada em Daher et al. (2006) ÁREA ABRANGÊNCIA Tecnologia Desenho do produto, tecnologia de recuperação, adaptação de processos primários. Marketing Criação de boas condições de mercado para quem está descartando o produto e para os mercados secundários. Informação Previsão de oferta e demanda e adaptação dos sistemas de informação nas empresas. Organização Distribuição de tarefas aos vários membros da organização de acordo com sua posição na cadeia de suprimentos e estratégia de negócios. Finanças Financiamento das atividades da cadeia e avaliação dos fluxos de retorno. Logística Reversa e Administração de Operações Definição de fluxos independentes para a Logística Reversa. Integração ao SCM (Supply Chain Management). Qual seria o foco principal da PRM? Parece claro, mas convém destacar que o foco principal está na recuperação de valor econômico e ecológico dos produtos, componentes e materiais, o máximo possível. 62 Acesse o link: Disponível aqui Um dos maiores motivadores para qualquer negócio é a possibilidade de gerar receita (ganhar dinheiro!) com a atividade. É possível ganhar dinheiro com Logística Reversa? Leia o artigo do prof. Paulo Roberto Leite. Esta é a proposta de Krikke (1998, p. 33-35 apud DAHER et al., 2006) que ainda estabelece quatro níveis em que os materiais e produtos retornados podem ser recuperados: nível de produto, módulo, partes e material. Considerando esses níveis, a reciclagem é a recuperação ao nível de material, sendo este considerado o nível mais baixo. Seguindo esta linha de raciocínio, Krikke (1998 apud DAHER et al., 2006) descreve o seguinte esquema para recuperação de materiais, conforme Quadro 3: 63 https://www.clrb-log-reversa.com/single-post/2019/05/16/COMO-GANHAR-DINHEIRO-COM-A-LOG%C3%8DSTICA-REVERSA-1%C2%AA-parte Quadro 3 - Opções de PRM Aplicadas aos Materiais Recuperados Fonte: Krikke (1998, p. 35 apud DAHER et al., 2006, p. 3). Opções de PRM Nível de desmontagem Exigências de qualidade Produto resultante Reparo Produto Restaurar o produto para pleno funcionamento. Algumas partes reparadas ou substituídas. Renovação Módulo Inspecionar e atualizar módulos críticos. Alguns módulos reparados ou substituídos. Remanufatura Parte Inspecionar todos os módulos/partes e atualizar. Módulos/partes usadas e novos em novo produto. Canibalização Recuperação seletiva de partes Dependência do uso em outras opções de PRM. Algumas partes reutilizadas, outras descartadas ou para reciclagem. Reciclagem Material Dependo do uso em remanufatura. Materiais utilizados em novos produtos. Conforme destacam Razzolini Filho e Berté (2013), há ganhos significativos no gerenciamento da Cadeia de Suprimentos com a adoção das estratégias do PRM, entre as quais citam: Práticas de comércio colaborativo, possibilitando aumento de vendas; Melhor gerenciamento dos canais diretos e reversos; 64 Figura 5 - Sistema de Gerenciamento de Recuperação de Produtos Fonte: BERNARDO; SOUZA; DEMAJOROVIC (2020, p. 250) Relacionamentos de confiança entre os membros do canal, pela melhoria dos processos de comunicação; Aumento da rentabilidade pela recuperação de valor econômico; Ganhos de imagem pela recuperação de valor ecológico. (RAZZOLINI FILHO; BERTÉ, 2013, p. 99) Perceba que são estratégias bastante claras e distintas, a depender do tipo de material a receber o tratamento na logística reversa, visando recuperar valor econômico no processo. Você talvez tenha se dado conta, ao analisar a Tabela 1 que, por abranger várias áreas que impactam no resultado econômico final do processo de retorno de materiais, não é possível que essa gestão seja feita sem um sistema gerenciamento informatizado. É o que chamamos de PRMS (sigla em inglês para Sistema de Gerenciamento de Recuperação de Produtos). Na figura 5 você pode visualizar como esse sistema é constituído: Perceba que o PRMS integra informações provenientes de diversas fontes, em uma infraestrutura de informações que baliza a tomada de decisões, de acordo com o ciclo de vida do produto retornado. Sugere-se, inclusive, o uso de tags (etiquetas) 65 eletrônicas para leitura por equipamento de RFID (Radio Frequency Identification, ou, traduzido, Identificação por Rádio Frequência). Conforme Bernardo, Souza e Demajorovic (2020, p. 251) destacam: O uso de tecnologia RFID, para fazer o acompanhamento, começa definindo em qual estágio do ciclo de vida se encontra o produto, se está em Beginning of Life (BOL) – Começo da vida do produto, Middle of Life (MOL) – Meia-vida do ciclo, ou End of Life (EOL) – Fim de vida do produto. Essa definição sobre o ciclo de vida do produto possibilita selecionar sua destinação entre as alternativas de reúso, remanufatura ou reciclagem. Se um produto está no BOL, provavelmente pode ser encaminhado ao reúso, bastando que seja consertado. Se está no MOL, a destinação provável é a remanufatura, e, em EOL, seria destinado a reciclagem. Veja que a decisão sobre destinação tem a ver com o estado do produto, o seu ciclo de vida, porém, de toda forma, algum valor econômico é recuperado, cumprindo assim a função principal da Logística Reversa. 66 07 Objetivos Econômicos da Logística de Pós-Consumo Quando abordamos a questão dos objetivos econômicos da logística de pós- consumo, é sempre bom retomarmos também a abordagem das condições para que um canal reverso possa ser viável. Muitas vezes a questão econômica deverá ser tratada unicamente pelo seu aspecto legal, de possibilidades de sanções se não implementado o canal reverso. Neste caso, não há nenhuma recuperação de valor no processo, porém, o simples fato de não ser imputadas multas à organização já se consideraria um ganho financeiro. A produção de materiaisque serão descartados parece natural nos atuais processos de produção. E se fosse possível pensar no reaproveitamento dos materiais desde o momento da concepção/projeto do produto? Porém, ampliando o nosso campo de visão, o desejável seria que, além de evitar aplicações de sanções legais, também houvesse ganhos financeiros oriundos dos próprios itens de pós-consumo. Leite (2017) desenvolveu um modelo relacional em que apresenta as condições para que um fluxo reverso de materiais de pós-consumo se estabeleça. Vela isso na figura 6: 68 Figura 6 - Condições para o Fluxo Reverso de Pós-Consumo Fonte: Leite (2017, p. 132) Observe que diversos fatores afetam o estabelecimento dos fluxos reversos, inclusive aspectos ecológicos e legais que abordaremos mais à frente em nossa disciplina. Mas algo que chama à atenção na Figura 6 é a questão da remuneração dos participantes do fluxo reverso. Esse talvez seja um dos maiores desafios, pois garantir que esses atores sejam pagos por sua atividade não é um processo simples, especialmente se considerarmos os diversos tipos de materiais que podem ser inseridos em um fluxo reverso. No caso de matérias-primas, a indústria tem a possibilidade de utilizar-se de duas origens: 1. Matérias-primas primárias: aquelas extraídas diretamente da fonte (muitas vezes a própria natureza). 2. Matérias-primas secundárias: aquelas obtidas por meio de processos de logística reversa. A opção mais lógica do ponto de vista econômico, sem dúvida, é utilizar-se daquela que apresenta menor custo de aquisição. A matéria-prima secundária será uma opção interessante caso haja escala de fornecimento, ou seja, garantia de que o 69 fornecimento não será interrompido e que os custos compensem sua adoção em substituição à matéria-prima nova. A questão da escassez da matéria-prima nova também é um fator relevante em muitos processos. No caso específico da remuneração dos participantes da cadeia reversa, Leite (2017, p. 150) destaca que: Tratando-se de uma cadeia de distribuição no sentido reverso, constituída pela coleta de pós-consumo, pelos processamentos diversos de consolidação e separação, pela reciclagem ou remanufatura industrial, pela reintegração ao ciclo produtivo ou de negócios por meio de um produto aceito pelo mercado, torna-se necessário que esses objetivos econômicos sejam obtidos em todas as etapas reversas para a existência do fluxo reverso. A falta de ganho em um ou em alguns dos elos da cadeia reversa provocará interrupção ou simplesmente não haverá fluxo reverso, resultando em desequilíbrios entre os fluxos diretos e reversos e suas consequências, já examinadas. Perceba a importância da remuneração dos participantes do canal reverso, sob pena de inviabilizar o processo. Considerando o fator remuneração, é uma conclusão lógica que os materiais que proporcionem maior retorno financeiro aos membros do canal reverso sejam os preferidos e que, dependendo dos participantes do canal (cooperativas de catadores, catadores individuais, empresas de reciclagem etc.), se estabelecerá uma concorrência pela obtenção desses materiais. Também contribuirá para esse interesse maior a facilidade de obtenção e extração dos materiais a serem retornados ao canal. 70 Veja a destinação correta dos medicamentos descartados em: Disponível aqui Um drama em muitas famílias é sobre o que fazer com os medicamentos que sobram nas cartelas. É muito comum descartar no lixo doméstico ou jogar no vaso sanitário. Será que esses são os melhores destinos? Sobre isso, Leite (2017) destaca que as condições de mercado favoreceram o desenvolvimento expressivo de canais de certos materiais cuja demanda e remuneração são relevantes no mundo todo. É o caso dos metais ferrosos e não ferrosos, papéis, sobras de gorduras de restaurantes, entre outros. Nesses casos citados, foi quase exclusivamente a possibilidade de ganhos financeiros aos participantes do canal que incentivou o estabelecimento do fluxo reverso e não necessariamente uma exigência legal ou ambiental. Sobre isso, Henion (1995 apud LEITE, 2017, p. 170) afirma que mantendo constantes os demais fatores, a demanda por reciclados é função dos preços de mercado [...] Historicamente, o desempenho dos sistemas de canais reversos para pós-consumo recicláveis tem sido impedido pelos altos custos, pobres lucros projetados. A precificação de um material de pós-consumo até chegar à etapa final de inserção no ciclo produtivo segue uma lógica bem clara e aplicável a quase todos os itens, com exceção de algum material que possua alguma especificidade. Essa lógica pode ser visualizada na Figura 7 a seguir: 71 http://www.descarteconsciente.com.br/ Figura 7 - Formação de Preços de Materiais Recuperados de Pós-Consumo Fonte: o autor, baseado em Leite (2017) Quanto maior o nível de aproveitamento do material coletado, maiores serão os benefícios, tanto em relação à remuneração dos agentes participantes do canal reverso, como para a indústria que aproveitará os itens para constituição de outras matérias-primas ou para transformação em outros produtos. Acesse o link: Disponível aqui Logística Verde Versus Logística Reversa Uma expressão que você talvez se depare nos seus estudos sobre logística e sustentabilidade é a de Logística Verde. Há um questionamento sobre o quão perto esse conceito se aproxima da Logística Reversa. Para entender melhor sobre Logística Verde, recomendo a leitura de um interessante artigo sobre o tema: Reflexões sobre a logística verde na redução dos impactos ambientais. 72 http://editora.universidadedevassouras.edu.br/index.php/TECCEN/article/view/1262 08 Canais de Distribuição Reversos de Pós-Venda – CDR PV Ao tratarmos do tópico de canais de distribuição reversos de pós-venda, faz-se necessário que entendamos ou relembremos alguns fundamentos da importância da logística para a competitividade empresarial na atualidade. Você talvez já tenha ouvido ou lido muitas vezes sobre a necessidade de diferenciar-se por oferecer um nível superior de serviços aos clientes. Entre os fatores que compõem esse nível de serviço superior, sem dúvida, estão fatores como a rapidez e confiabilidade na entrega, políticas de flexibilidade, oferta de assistência técnica, entre outros. Quando se pensa em flexibilidade, entende-se que as necessidades e preferências do cliente podem mudar e essas mudanças devem ser acompanhadas pelos fornecedores, adaptando-se a essas novas circunstâncias. Pode ser preciso alterar o prazo de entrega, local onde os produtos deverão ser disponibilizados, fracionamentos exclusivos de cargas, e outras tantas demandas que podem surgir. Pense, por exemplo, em uma rede de lojas de varejo que compra grandes quantidades de um produto eletrônico de um determinado fabricante. Para ambos, é importante que essa parceria seja sólida e ao mesmo tempo flexível, ou melhor, é preciso que a indústria tenha esse canal de distribuição de seus produtos funcionando de forma saudável, oferecendo seus produtos aos clientes finais e alimentando a indústria de informações quanto à demanda, preferências de clientes, anunciando os produtos em mídias diversas, demonstrando os atributos dos seus produtos de forma correta. Para a rede de varejo, é importante ter o produto para venda na sua rede de lojas, a um preço competitivo, parcerias em investimentos em mídia, treinamento de sua força de vendas pela indústria, e uma flexibilidade de entregas para atender demandas não previstas. Completa-se a expectativa da rede quando a indústria oferece uma rede de assistência técnica aos clientes, um SAC (Serviço de Atendimento ao Cliente), para sanar dúvidas sobre operação dos produtos, recebe produtos devolvidos pelos clientes que se arrependem da compra dentro do prazo legal ou mesmo por grande interesse comercial. Embora cada vez mais raros, há casos em que os despachos da indústria para os distribuidores são efetuados de forma incorreta, quanto às especificações do pedido em termos de quantidade, modelos, cores e outros atributos que podemnão ser aceitos pelo revendedor. Neste caso, espera-se que não haja dificuldade em retornar 74 esses produtos novamente à indústria. Estabelece-se, assim, um fluxo reverso de produtos de pouco ou nenhum uso, em bom estado ou com defeitos de fabricação, que forma o que se entende por logística reversa de pós-venda. Para Leite (2017, p. 276), podemos entender logística reversa de pós-venda como A área específica de atuação da logística reversa que se ocupa do planejamento, da operação e do controle do fluxo físico e das informações logísticas correspondentes de bens de pós-venda, sem uso ou com pouco uso, que por diferentes motivos retornam pelos elos da cadeia de distribuição direta. [...] os produtos denominados de pós-venda em seu retorno entrarão nos canais reversos pelos canais diretos, mas poderão ser dirigidos para canais de pós- consumo após selecionados os seus destinos. Seu objetivo estratégico é agregar valor a um produto logístico devolvido por razões comerciais, erros no processamento de pedidos, garantia dada pelo fabricante, defeitos ou falhas de funcionamento do produto, avarias no transporte, entre outros. Esse fluxo de retorno se estabelecerá entre os diversos elos da cadeia de distribuição direta, dependendo do objetivo estratégico ou do motivo do retorno. Por essa explicação, fica claro para nós que o objetivo é proporcionar condições de fidelização aos clientes, abrindo a possibilidade de retorno dos produtos à cadeia logística, em quaisquer dos pontos disponíveis de contato. Pode ser que os produtos retornados não cheguem até o ponto de voltarem fisicamente ao ponto de origem. Muitas situações preveem um tratamento por outras vias, como até direcionar esses produtos para outros aproveitamentos, que podem ser inclusive em canais de pós- consumo, diretamente pelos membros diretos da cadeia ou por terceirizados, não importa. O importante é que o tratamento seja eficiente e eficaz, proporcionando satisfação aos clientes, sejam pessoas físicas ou corporativas. Complementando o conceito de logística reversa de pós-venda, Robles e La Fuente (2019, p. 105-106), informam que, 75 A logística reversa de pós-venda busca agregar valor a produtos devolvidos pelos consumidores. Por agregar valor entendemos o processo de valorização do produto descartado, que passa a ter valor comercial, mesmo que não na forma original de comercialização. São exemplos: devolução de produtos com defeitos, devolução de produtos após comunicações de venda irreais ou em razão de redação pouco clara dos manuais de funcionamento. Além desses casos, há os bens comercializados em consignação, o retorno de pontas de estoque (sobras de estação, introdução de novos modelos) para comercialização de produtos novos. Veja que, tanto no caso da logística reversa de pós-consumo quanto na logística reversa de pós-venda, tem-se como objetivo retornar valor à cadeia de suprimentos. O tratamento que é dado aos bens, no entanto, são diferentes e a forma de agregar valor também segue outra lógica. A figura 1 demonstra como a logística reversa de pós-venda pode agregar valor a esses clientes. 76 Figura 1 - Agregando Valor pela Logística Reversa Fonte: Leite (2009, p. 188). Perceba, na Figura 1, que os objetivos são semelhantes, tanto da logística reversa de pós-consumo quanto da logística reversa de pós-venda, que se traduzirão em melhoria da imagem corporativa, competitividade e redução de custos, porém, como se percebe na coluna da direta, os ganhos para os clientes da cadeia de suprimentos, no caso da logística reversa de pós-venda, são outros, diferentes dos ganhos da logística reversa de pós consumo. Algo que marca a diferença entre um canal de distribuição reverso de pós-venda de um canal de distribuição reverso de pós-consumo é que, nesse último, temos a presença de diversos agentes especificamente dedicados aos canais reversos, como empresas de reciclagem, cooperativas de catadores, revendedores de sucatas, entre outros. Já para o canal reverso de pós-venda, na grande maioria dos casos, são os próprios participantes do canal direto (ou alguém contratado por eles) que fazem o tratamento ou manuseio dos materiais de pós-venda. Como dito acima, podemos apresentar várias possibilidades de destinação aos produtos retornados de pós-venda. Na Figura 2, demonstram-se essas possibilidades. 77 Figura 2 - Fluxos Reversos de Pós-Venda Fonte: Leite (2017, p. 279). Ficou muito marcante na figura acima que os produtos de pós-venda podem ter destinos bem distintos, dependendo de sua constituição, estado ou interesse econômico. Leite (2017) amplia esse entendimento, categorizando os retornos de pós- venda, conforme demonstrado na Figura 3: 78 Figura 3 - Categorias de Retorno de Pós-Venda Fonte: Leite (2017, p. 283). A figura acima nos informa que pode haver motivos diferentes para a devolução dos produtos classificados como de pós-venda, e esses motivos foram agrupados nas categorias “comerciais”, ou seja, foram devolvidos por interesse comercial, por conta do interesse de manter/estreitar os laços entre parceiros como indústria e varejo, por exemplo; categoria “garantia/qualidade” que agrupa os produtos que apresentaram alguma disfunção de funcionamento e categoria “substituição de componentes”, quando há substituição de um ou mais componentes dos produtos e, dessa forma, concedem uma extensão da vida útil do produto, sendo vendidos em canais reversos de remanufaturados. Em outra visão muito próxima ao esquema apresentado por Leite (2017), está a que vincula as categorias de retorno aos motivos de retorno, apresentada no Quadro 1: 79 Quadro 1 - Principais Motivos de Retorno de Produtos de Pós-Venda Categoria comercial Motivo de retorno Retornos não contratuais Erros de expedição do pedido, erros na recepção Retornos comerciais contratuais Retorno de produtos em consignação Retorno de ajuste de estoques de canal Excesso de estoque no canal, baixa rotação do estoque, introdução de novos produtos, efeitos sazonais de produtos Categoria garantia /qualidade Motivo de retorno Qualidade intrínseca Produto na garantia, defeituosos ou danificados Validade de produto Expiração da validade Fim de vida do produto Expiração da utilidade Recall de produtos Manutenção e recolhimento de produto no mercado Fonte: Leite e Brito (2005, p.5). Perceba, pelo Quadro 1, que, quando falamos de devolução das categorias “comercial” e “garantia/qualidade”, os motivos do retorno dos bens de pós-venda ficam muito claros. Porém, a destinação dos bens retornados depende da etapa em que esse bem está na cadeia de suprimentos. Isso fica claro no Quadro 2, a seguir: 80 Quadro 2 - Destinação dos Produtos de Pós-Venda de Acordo com sua Etapa na Cadeia de Suprimentos. Retorno de produtos Origem Causas Destinação Etapa de fabricação do produto >> Matérias-primas fora de especificação >> Devolução ao fornecedor >> Produtos fora de especificação >> Sobras do processo produtivo >> Reprocessamento ou reciclagem Etapa da distribuição >> Recalls (garantia de venda) >> Danos no transporte >> Reparos e retorno para comercialização primária ou secundária >> Reciclagem >> Retornos por acordos comerciais (B2B): produtos não comercializados; sobras/ajustes de estoque; liberação dos canais de venda >> Venda no mercado secundário >> Devolução de embalagens e contentores retornáveis >> Limpeza e reuso >> Reciclagem dos materiais das embalagens >> Preenchimento errado do destino >> Inspeção e retorno aos canais de venda Consumidores >> Produtos para teste de clientes >> Competitividade e 81 Fonte: Robles e La Fuente (2019, pp. 109-110). política de vendas >> Reembolsos e garantias (B2C) >> Retornos por garantias legais >> Retornos por assistência técnica >> Reparos e retorno para comercialização primária ou secundária >> Reciclagem Retornos pelo fim da validade >> Legislação >> Reciclagem Note que, pelo Quadro 2, demonstra-se até mesmo uma matéria-prima pode ser considerado um item de pós-venda (pense, porexemplo, em uma indústria metalúrgica que é cliente do fornecedor de metais para processamento). Repare que, até chegar ao consumidor final, vários são os destinos possíveis, mas todos eles, igualmente, devem ser tratados com os cuidados necessários para que se cumpra o objetivo de revalorização, atendimento à legislação e satisfação dos clientes do canal de distribuição. Leite e Brito (2005, p. 6) reconhecem que Embora não possa cobrir os custos decorrentes de produtos não vendidos, o gerenciamento do processo de logística reversa pode ter resultados significativos. A importância econômica da logística reversa deve-se à oportunidade de recuperação de parte do valor empregado no processo de produção, proporcionando economias de custo. A cobertura parcial dos custos dos processos de produção já seria um grande incentivador para a adoção de mecanismos de logística reversa, pois cada centavo economizado representa um aumento da competitividade da empresa no mercado. Para os eventuais agentes que participam exclusivamente dos canais reversos, os produtos retornados representam 100% das possibilidades de faturamento e mantêm uma cadeia de apoio relevante em relação à oferta de emprego e renda, conforme veremos mais adiante neste livro. 82 Figura 4 - Fluxo do Produto e da Informação nas Cadeias Reversas de Pós-Venda. Fonte: Robles e La Fuente (2019, p. 111). Podemos também verificar, na Figura 4, a seguir, de uma forma bastante simplificada, como se dá o fluxo do produto e da informação nas cadeias reversas de pós-venda: É perceptível, pela Figura 4, que a informação deve acompanhar o fluxo reverso, para que os gestores possam ter mecanismos de atuação em caso de desvios e estabelecer indicadores de desempenho, que os auxiliarão na tomada de decisão, de forma a tornar o fluxo mais efetivo. 83 09 Objetivos Estratégicos da Logística Reversa de Pós-venda Prezado aluno, Conforme ficou bem estabelecido até agora, as empresas que instituem canais reversos os fazem por diversas exigências, sejam comerciais, legais ou ecológicas. Evidentemente, que isso traz algumas vantagens diretas e indiretas. Como vantagem direta, podemos citar a recuperação econômica no processo logístico reverso. Como vantagem indireta, podemos citar os ganhos de imagem às organizações. Vamos detalhar mais, a partir de agora, o que incentiva as ações da logística reversa, especialmente de pós-venda. Qualquer empresa precisa se posicionar estrategicamente para ganhar competitividade. A adoção da logística reversa deve fazer parte dessa estratégia. Leite (2009) oferece uma forma de entendermos como essa estratégia se aplica na prática, classificando-a por objetivos. O primeiro objetivo seria o econômico, o segundo seria o objetivo da competitividade, o terceiro seria o objetivo de competitividade pela prestação de serviços pós-venda, e o quarto, o objetivo legal do retorno de produtos de pós-venda. Objetivo Econômico no Fluxo Reverso de Pós-venda Já compreendemos que os canais reversos visam à recuperação econômica de valor nos materiais de pós-venda. Agora, precisamos focar em como isso acontece. Primeiramente, devemos ter em mente que o fator tempo é fundamental no processo. Conforme vimos nas Unidades anteriores, no canal de retorno, quanto mais tempo se passa, menos valor é possível recuperar. No Quadro 1, podemos visualizar três possíveis destinações aos produtos de pós- venda. 85 Quadro 1: Possibilidades de destinação nos produtos de pós-venda Fonte: o autor, baseado em Leite (2017). DESTINO DETALHAMENTO Revenda no mercado primário Possibilidade de colocação dos produtos retornados em outros mercados nas mesmas condições da oferta original. Pode-se tentar no mercado interno e até em mercados estrangeiros. Aplicável especialmente para bens duráveis ou com vendas em consignação. Venda no mercado secundário Vendas em outros canais fora dos canais originais. Exemplo: outlets, lojas de preços populares (do tipo Tudo por XX Reais), pontas de estoque, etc. Desmanche, manufatura, reciclagem, destinação final Semelhante aos bens de pós-consumo, buscam mercados de segunda mão, recuperação de valor dos componentes do bem, destinação à reciclagem industrial ou destinação final para produção de energia. Ainda, sobre essas destinações possíveis, a figura 1 apresenta visualmente as possibilidades de destino tanto de produtos de pós-venda como de pós-consumo. 86 Figura 1: Origens e destinos de produtos da logística reversa Fonte: Oliveira e Sousa (2014, p. 69). Perceba, pela Figura 1, que as origens dos produtos têm a ver com a posição com que o produto se encontra no ciclo de vida. As destinações podem ser equivalentes, independentemente das origens. Quando se fala em objetivos econômicos, a relação entre parceiros é um destaque importante. Diversos formatos de parceria são possíveis, como os destacados abaixo: 1. Contrato de parceria que prevê a compra pelo fornecedor de produtos remanescentes: ocorre quando o fornecedor garante a recompra de produtos remanescentes no estoque do distribuidor a um preço maior que o custo residual das mercadorias. 2. Contrato de flexibilidade nas quantidades: possibilita que o comprador altere as quantidades de produtos a serem adquiridos, por conta de oscilações de demanda, porém, não garante a recompra ou devolução. 3. Contrato de gerenciamento do estoque do cliente (VMI – Vendor Managed Inventories): o gerenciamento de estoques no cliente é feito pelo fornecedor, 87 https://uploads-ssl.webflow.com/5f7bb63f311b47a93c8f6497/5f8f24b9f15d3655843ea3a4_a09-fig01.svg evitando faltas ou excessos (LEITE, 2017, p. 304). Normalmente, as empresas – especialmente os grandes fornecedores que focam o varejo e as próprias grandes cadeias de varejo – preveem esses contratos que permitem devolução, flexibilização de quantidades e de gerenciamento de estoques, visto que a parceria entre essas empresas não é momentânea, pontual, mas sim, duradoura e de ganhos mútuos. Objetivo Estratégico da Competiti�dade Conforme você já constatou, a busca pela preferência do cliente em ambientes de extrema competição faz com que as empresas tentem encontrar maneiras de marcar seu posicionamento como diferenciado. Isso não é fácil em relação aos produtos, que podem ser muito parecidos, nem apenas com uma eficaz logística direta, que pode ser alcançada por muitos competidores ao mesmo tempo. 88 Resta então a busca pela competitividade pelos canais reversos, em que serviços agregados são ofertados, tanto para clientes corporativos como para consumidores finais. Quando se oferece a possibilidade de retorno de excedentes de estoque nos parceiros do canal, isso tende a aumentar o estreitamento das parcerias de longo prazo e reduzir custos de inventário nos distribuidores. Além disso, o parceiro distribuidor terá mais espaço nos seus depósitos para produtos de alto giro. Para os clientes pessoa física, políticas como “satisfação garantida ou seu dinheiro de volta” são estratégias adotadas por algumas empresas. Algumas empresas americanas chegam ao ponto de estabelecer a política de devolução sem perguntas, ou seja, o consumidor pode simplesmente devolver o produto que este será aceito sem qualquer questionamento (LEITE, 2009). Duas pesquisas entre empresas que adotam a logística reversa como prática comprovaram que a competitividade é o fator mais importante no estabelecimento dos canais reversos. Por exemplo, na pesquisa entre empresas norte-americanas promovida por Rogers e Tibben-Lembke (1999 apud LEITE, 2009), apresentada na Tabela 1, é destacado esse fato. Tabela 1: Objetivos estratégicos de empresas que operam canais reversos Fonte: LEITE, 2017, p. 305. Motivo Estratégico Porcentagem de empresas que a adotaram Aumento da competitividade 36,8% Cumprir a lei 21,1% Ecologia 19,3% Limpeza do canal 17,5% Recuperação de valor 17,5% 89 Figura 02: Retorno de produtos ao sistema de pós-venda – garantia ou assistência técnica Fonte: Leite (2017, p. 307). Competiti�dadepor Meio de Prestação de Ser�ços de Pós- venda Especificamente, quando falamos em serviços de pós-venda, nos referimos àqueles que são oferecidos pelas empresas para dar assistência aos seus clientes em caso de defeitos ou mau funcionamento, que acionem o sistema de garantia da companhia, dentro ou fora do prazo contratual. Na Figura 2, apresenta-se esquematicamente como isso acontece. 90 É importante reconhecer que nenhuma empresa está isenta de que seus produtos apresentem algum tipo de mau funcionamento ou defeitos. O consumidor também sabe disso. É na resposta rápida da empresa em solucionar possíveis disfunções que residirá o diferencial de satisfação (ou insatisfação) do cliente. Na prática, o cliente não pode encontrar nenhum tipo de dificuldade para acionar os mecanismos de garantia ou assistência técnica. Deve ser facilmente encontrada a rede de prestadores de serviço em manuais ou portais da internet. Os relatos de mau atendimento, descaso ou serviços deficientes na rede de assistência técnica têm se acumulado no Brasil. Alguns portais tentam demonstrar aos consumidores aquelas empresas que são consideradas ruins em termos de oferta de serviços de pós-venda e isso tem um impacto extremamente negativo na imagem da empresa e na comercialização de seus produtos. 91 Os Serviços de Atendimento ao Cliente (ou Consumidor), conhecidos como SAC, têm sido adotados por empresas de diversos segmentos. A ideia é que o cliente tenha um mecanismo de acionar os canais responsáveis por dar informações ou soluções de problemas que os consumidores possam ter. Em sua opinião, esses serviços estão cumprindo esse propósito? Objetivos Legais de Produtos de Pós-venda A facilidade em adquirir produtos de qualquer lugar do mundo possibilitada pela tecnologia, a velocidade das comunicações, a popularização das redes sociais, tudo isso trouxe uma espécie de “supervisão” às atividades empresariais, pois qualquer desvio no atendimento aos clientes pode ser imediatamente socializado para milhares de pessoas e arranhar de forma muito intensa a imagem da organização. Essa já seria uma grande arma nas mãos dos clientes, mas, felizmente, essa não é a única arma. As demandas da sociedade por qualidade de serviços e de produtos acionam também mecanismos legais na forma de regulamentações que buscam dar segurança jurídica na relação empresa-cliente. No Brasil, desde 1990, temos em vigor a Lei 8078/1990, promulgada em 11 de setembro do mesmo ano, que procura regulamentar as relações de consumo no país. Um grande avanço que a legislação estabeleceu foi a composição do Procon. O Procon é um órgão de proteção e defesa do consumidor, público e estadual, que visa garantir os direitos do consumidor contra abusos e prejuízos por práticas comerciais lesivas. 92 Se você buscar no portal do Procon do seu Estado, provavelmente encontrará algumas estatísticas muito interessantes, como as que dão conta do número de atendimentos e os tipos de reclamações mais comuns. Você constatará que reclamações relacionadas a produtos e serviços quase sempre encabeçam essas listas. Voltando um pouco mais a atenção para a Lei 8078/1990, no seu capítulo III, Art. 6º, teremos a seguinte redação: Art. 6º - São direitos básicos do consumidor: I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos; II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas à liberdade de escolha e à igualdade nas contratações; III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem; IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e 93 cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços; V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos; VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados; VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências; IX - (Vetado); X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral. Outro artigo que merece destaque é o Art. 8º que declara: Art. 8° - Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito. Parágrafo único - Em se tratando de produto industrial, ao fabricante cabe prestar as informações a que se refere este artigo, através de impressos apropriados que devam acompanhar o produto. Veja que o cerne da lei no Brasil é a informação como direito básico e o adequado tratamento de produtos colocados à disposição dos consumidores. Não há como as empresas não darem atenção a essas demandas comerciais e legais que se apresentam. 94 Acesse o link: Disponível aqui A prática do recall (ou chamamento) no Brasil foi instituída legalmente no CDC (Código de Defesa do Consumidor). É muito comum nos depararmos com recalls na indústria automobilística, mas não é exclusivo deste segmento. Recentemente, até indústrias farmacêuticas, de cadeirinhas para bebês, entre outras, o publicaram. Conheça mais sobre o assunto fazendo o download de um interessante manual publicado pelo Ministério da Justiça. 95 https://www.justica.gov.br/seus-direitos/consumidor/saude-e-seguranca/anexos/recall-guia-pratico-do-fornecedor.pdf 10 Seleção e Destinação dos Produtos em Devolução Prezado aluno, Vimos que um grande desafio aos gestores é justamente tomar decisões assertivas em relação aos produtos retornados. Mesmo com as imposições legais, econômicas e ecológicas sendo consideradas, que deixam pouca margem para a empresa esquivar- se de absorver este produto na cadeia de suprimentos, há de se considerar opções que tornem viável esse processo e, se possível, ainda produzam resultados positivos. Dessa forma, implementar processos de seleção e destinação dos produtos em devolução torna-se um requisito para determinar o sucesso dos fluxos reversos. Estudaremos, oportunamente, com mais detalhes, o caso de alguns produtos específicos, mas já podemos, neste momento, resumir os possíveis destinos dos materiais de pós-venda retornados aos canais logísticos. Para isso, vamos nos valer de uma classificação proposta por Leite (2009) e condensadas no Quadro 1: 97 Quadro 1: Possíveis tratamentos nos produtos de pós-venda DESTINAÇÃO DETALHAMENTO Venda no mercado primário Os produtos de retorno, devido a ajustes nos canais de distribuição diretos, normalmente, possuem condições gerais de reenvio ao mercado primário, ou seja, o mercado original, com a marca do fabricante, e por meio de redistribuição. Reparações e consertos Os produtos de retorno serão destinados às reparações necessárias e poderão ser comercializados no mercado primário ou, mais frequentemente, no secundário. Doação É a opção quando existe interesse em fixação da imagem por parte do fabricante e, em geral, é associada a produtos com certo grau de obsolescência. É muito comum com produtos de informática, que por natureza possuem ciclo de vida curto, mas que podem ser úteis a alguns públicosno país ou em países periféricos. Desmanche (canibalização) Quando o produto não mais se apresenta em funcionamento para o propósito original, mas contém componentes de valor. Neste caso, empresas especializadas podem comprar diretamente ou em leilões produtos individuais ou lotes desses produtos, e, na sequência, podem destiná-los ao mercado secundário de peças de reposição ou de módulos (subconjuntos) ou enviá-los para processos de remanufatura. Um exemplo muito marcante no Brasil e em muitos países são os veículos salvados de seguradoras. Remanufatura Peças ou subconjuntos de bens recuperados são refeitos e destinados ao mercado secundário. Exemplo: transformadores elétricos para sistemas de distribuição de energia, peças de reposição de automóveis. Reciclagem industrial Partes dos produtos ou o produto inteiro são destinados a processos de reciclagem industrial visando à retirada de 98 Fonte: o autor, baseado em Leite (2009). materiais que se tornarão matérias-primas ou insumos em processos industriais. Disposição final Não havendo outra solução para agregar valor de qualquer natureza ao produto retornado ou a suas partes ou materiais constituintes, eles são destinados a aterros sanitários ou ao processo de incineração, dependendo das peculiaridades de cada país ou região. Quaisquer que sejam os destinos possíveis, é importantíssimo que os gestores encarregados pelos canais reversos verifiquem o atendimento de legislações aplicáveis, sob o risco de sofrer sanções que coloquem todo o planejamento a perder. Mercados Secundários para Produtos de Pós-venda Conforme estudamos em aulas anteriores, uma destinação possível para produtos retornados (tanto de pós-venda como de pós-consumo) é o mercado secundário. Como é constituído e como opera esse mercado? Leite (2009) destaca que é possível identificar a presença de diversas atividades no mercado secundário como atacadistas especializados, exportadores, intermediários, liquidadores e varejistas. Os produtos negociados podem ser novos, mas que, por alguma razão, não podem mais ser comercializados no mercado primário, produtos com pouco uso, produtos que tenham muito uso, mas que ainda são funcionais, produtos não funcionais, mas que tenham valor por seus componentes ou materiais constituintes. 99 Os negociadores do mercado secundário adquirem seus materiais e itens de diversas maneiras: uma possibilidade é adquirir junto às indústrias restos de processos de produção. Também o varejo pode ser fonte de materiais, quando disponibiliza excessos de estoque ou produtos fora de estação ou obsoletos. As seguradoras também são fonte para os negociadores, que adquirem delas produtos salvados de acidentes. As empresas interessadas em formar um canal reverso podem valer-se desses negociantes para destinar seus materiais recuperados. Grandes empresas preparam lotes com características bem definidas, que são, então, comercializados por venda direta, leilões virtuais ou presenciais ou por intermediadores. 100 Alguns cuidados nesse mercado devem ser tomados. Por exemplo, o mercado de peças usadas para automóveis no Brasil é muito aquecido, conforme pode ser observado em qualquer cidade de porte médio para grande, nas lojas especializadas nesses materiais. Porém, vale destacar que alguns estados brasileiros, visando coibir o mercado ilegal de peças, estabeleceram algumas exigências para essas lojas, como é o caso do estado de São Paulo com a lei n.º 15.276, de 02 de janeiro de 2014. Essa lei, em seu Artigo 1º, inciso III § 1, reza que: Os veículos em fim de vida útil definidos nos incisos I a III deste artigo somente poderão ser destinados aos estabelecimentos credenciados pelo DETRAN-SP, nos termos do artigo 2º desta lei. Essa mesma legislação do estado de São Paulo disciplina mais detalhadamente a questão do credenciamento obrigatório das empresas que comprarão os veículos para fins de obtenção de partes ou peças. Outros estados possuem legislação semelhante. Tanto o consumidor quanto o lojista têm a obrigação de zelar pela transparência do processo de compra e venda desses produtos. 101 Já no mercado de veículos usados, historicamente, o Brasil sempre teve números muito expressivos. Isto talvez decorra do fato de que os veículos novos terem sido inacessíveis para uma parcela importante da população durante um bom tempo. Se analisarmos os dias atuais, os veículos nacionais são muito caros em relação a similares vendidos em outros países, mesmo os ditos “carros populares”. Mesmo tendo um aumento nas vendas por facilitação do crédito, o mercado de usados, apesar de oscilações pontuais, ainda é muito forte. De acordo com as associações de classe do setor automotivo e revistas especializadas do setor, o mercado de usados é cerca de 4 vezes maior do que o de carros novos. Ou seja, para cada carro novo vendido, 4 veículos usados trocam de proprietário. Aliás, a facilidade de revenda é um dos fatores de atração dos consumidores até para comprar um carro novo. Outro mercado existente no Brasil e, muitas vezes, não reconhecido em toda a sua importância é o chamado “ferro velho”. A presença dessas empresas nas cidades é uma realidade bem marcante. As pessoas, em geral, viram as costas a essa atividade, mas, para se ter ideia de sua pujança, saiba que no Brasil são produzidas mais de 35 milhões de toneladas de aço todos os anos. Estima-se que 9 milhões de toneladas, ou cerca de 26% de toda a produção, vêm de sucatas. Claro que essa atividade tem 102 problemas, sendo o mais grave deles o ambiental. Sucatas a céu aberto são um criadouro natural para o mosquito da dengue, proliferação de insetos e roedores. Mas, se bem cuidados, são uma importante fonte de renda. É interessante observar também a representatividade dos mercados secundários brasileiros se comparados aos países onde a prática é mais consolidada. Para fins ilustrativos, veja uma comparação entre o mercado no Brasil e dos EUA, na figura 01, a seguir: 103 Figura 1: Potencial de mercados da logística reversa Brasil x EUA Fonte: Oliveira e Sousa (2014, p. 72). A figura comprova o grande potencial de aumento dos mercados para os produtos da logística reversa no Brasil. 104 Fonte: Freepik. Mercado de pulgas (flea market): derivado de uma prática francesa de bazar a céu aberto de roupas usadas (que muitas vezes vinham com um “mimo” de infestação de pulgas, daí o nome), esse tipo de venda de usados em feiras e estabelecimentos se popularizou nos Estados Unidos e especialmente no Sul do Brasil. Trocam-se roupas, brinquedos, gibis, materiais escolares, figurinhas, etc. Muitas crianças gostam de fazer isso nos Estados Unidos, nas famosas “vendas de garagem” (garage sale), que estimula o desapego e a não acumulação de bens. Outro mercado muito forte em países europeus e nos Estados Unidos é o de produtos refurbished. Já ouviu falar desses produtos? 105 Um amigo foi ao Paraguai, há algum tempo, interessado em comprar um notebook para uso doméstico e, em uma loja bem-conceituada, foi apresentado a diversos produtos novos com garantia e a um preço razoável (acredito que não tão vantajoso em relação a um produto comprado no Brasil). Mas o que causou surpresa a este meu amigo foi quando o vendedor disse que teria um modelo idêntico por um preço bem menor: tratava-se de um equipamento refurbished. Meu amigo nunca tinha ouvido essa palavra na vida e talvez você também não. Por isso, como estamos tratando de logística reversa de pós-venda, achei interessante resgatar este caso e trazer para você este conceito. Veja esse pequeno trecho de um artigo publicado por Azevedo Filho e Costa (2007): A tradução para um equipamento considerado refurbished aproxima-se da ideia de recondicionado ou renovado. Há interpretações de que pejorativamente poderia ser traduzido como “maquiado” ou “lustrado”. Trata-se de um procedimento de readequação e reaproveitamento de itens eletrônicos, praticado por várias empresas que fabricam ou montam eletrônicos. Existem dois tipos de procedimento refurbished,denominados incompany e return to company. O primeiro tipo ocorre ainda no processo de montagem, quando são detectados problemas de colocação de hardware que desqualificam as máquinas segundo os padrões de qualidade ISO, estabelecidos pela indústria da informática. Diante da desqualificação, tais equipamentos são retirados da linha de montagem e passam por uma minuciosa revisão com técnicos altamente capacitados, sendo ajustados ao mesmo padrão que os demais inicialmente aprovados pelo controle de qualidade. Porém, as normas ISO não permitem que um aparelho retirado no meio da linha de montagem receba a mesma certificação que os demais, tendo estabelecido a denominação refurbished (sigla RB) para diferenciar produtos submetidos a essa espécie de “revisão extra” e respectivos reajustes de montagem. Já o tipo RB return to company refere-se a equipamentos que concluíram o processo normal de montagem e chegaram a ser expedidos como produtos aprovados, mas que por algum motivo tiveram que retornar à empresa para um novo processo de revisão. As razões podem ser muitas: devolução após permanência em 106 estoque durante período de consignação; insatisfação do consumidor com o produto gerando devolução no varejista que o comercializou; entre outras. Qualquer aparelho que volta para o fabricante depois de ser expedido uma primeira vez também deve receber a sigla RB quando expedido novamente (AZEVEDO FILHO; COSTA, 2007, p. 5, 6). Sobre a conveniência ou não de adquirir produtos refurbished, é importante que você saiba que o maior atrativo são os preços. Nos EUA, a oferta desse tipo de produto é bastante comum. Os próprios fabricantes costumam oferecer em seus portais produtos de suas linhas como refurbisheds. No Brasil, existe pouca oferta pelas indústrias e poucos sites especializados. A maior parte das compras feitas por brasileiros acontece em sites estrangeiros. Você deve ter o cuidado de ver a confiabilidade do fornecedor (como em qualquer compra pela internet) e se haverá assistência (mesmo reduzida) no Brasil. Também convém averiguar a existência de alguma lei que restringe ou proíbe a importação desse tipo de produto. 107 11 O Fator Legal como Motivador da Logística Reversa Prezado aluno, Em um sistema capitalista como o que vivemos, é natural os empresários desejarem liberdade total para suas atividades, na filosofia de que o mercado se autorregula, ou seja, se deixado livre, o mercado encontra soluções para seus próprios desequilíbrios. Essa premissa, infelizmente, tem se mostrado falha quando o assunto é o impacto das atividades empresariais sobre o meio ambiente. É só observarmos à nossa volta que comprovaremos os imensos desequilíbrios entre o fluxo direto de produtos e o retorno destes às cadeias logísticas, ocasionando o acúmulo indesejado e inapropriado de sobras e descartes. Muito tempo já se passou desde que a atividade industrial se tornou o motor da economia mundial e o que assistimos é a busca por cada vez mais lucros sem uma contrapartida em relação aos cuidados com o meio ambiente. Acesse o link: Disponível aqui O princípio do poluidor-pagador mudou as relações de produção e suas responsabilidades. Vários estudos têm sido feitos para compreender o real impacto desse princípio na vida das empresas. Leia esse interessante artigo científico sobre o tema. Em razão desses desequilíbrios, a sociedade – representada por setores como os ambientalistas, a academia, entre outros – se mobilizou para que o poder público, que detém a legitimidade como representante do povo, interviesse nas relações dos agentes de mercado produtores e consumidores visando ao bem maior que é a sustentabilidade ambiental. 109 https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/rdc/article/view/25492/19150 Na maioria dos países democráticos, a legislação ambiental passou a regulamentar as relações dos agentes de mercado, estimulando ações de tratamento de descarte e destinação de produtos, ao mesmo tempo, tomando ação coercitiva contra aqueles que não se adequarem ao que são consideradas boas práticas socioambientais. Um dos grandes avanços da legislação em âmbito mundial – e não é diferente no Brasil – é a imposição de pagamento do ônus dos impactos ambientais para seus causadores, o que ficou conhecido como princípio do poluidor-pagador. Esta ação parece mais justa do que impor à inteira sociedade desses ônus, quando o benefício pela atividade produtiva na forma de lucros fica restrito a poucos. Assim, quem tem o bônus do lucro e do usufruto do bem ou serviço – inclusive o consumidor – deve também arcar com o ônus ambiental provocado por estes. Quando o governo intervém nas atividades produtivas, algumas consequências lógicas podem ser percebidas, entre elas estão as ações das empresas para evitar punições. Assim, projetos de tratamento são colocados em prática para tratar os materiais ou grupos de produtos de pós-consumo. Geralmente, nesses casos, criam- se oportunidades de negócio para agentes prestadores de serviço que, em parceria com indústrias e distribuidores, passam a fazer parte da cadeia reversa e assumem tarefas que não são econômica ou administrativamente viáveis para os outros participantes. 110 O procedimento mais indicado para as empresas é anteciparem-se a eventuais legislações que, porventura, estejam em estudo pelos órgãos governamentais. Frisando o impacto da legislação sobre as atividades empresariais, Leite (2009, p. 138) comenta que: A revalorização legal dos bens de pós-consumo, operacionalizada pela logística reversa, é entendida como o equacionamento das condições dos canais reversos, de modo que se garanta o retorno ao ciclo produtivo ou de negócios dos bens em fim de vida e obedecendo às leis vigentes. Empresas fabricantes de produtos que, de alguma maneira, impactem negativamente o meio ambiente serão certamente afetadas por legislações que de algum modo restrinjam suas operações, contabilizando novos custos de origem ecológica aos seus produtos, em cumprimento às novas legislações. Considerando o ambiente altamente mutável em que as organizações estão inseridas e as crescentes exigências de correto tratamento das questões ambientais, por parte das empresas feitas pela sociedade e pelo mercado em particular, é muito conveniente que as empresas se engajem em ações em cumprimento de legislações em vigor ou que estejam em processo de aprovação. 111 A atual legislação ambiental brasileira é considerada uma das mais modernas do mundo. Essa afirmação não é exagero, principalmente, se compararmos nossa legislação com a de países como a China, por exemplo, que apesar de ser o motor do mundo em relação à produção, é também uma das principais responsáveis pela emissão de gases de efeito estufa na atmosfera e de poluição do ar e da água naquela região do mundo. A (boa) história do Brasil em relação à legislação ambiental começa nas últimas décadas com a promulgação da Constituição Federal em 1988, que já prevê um tratamento abrangente às questões ambientais. Por exemplo, no Capítulo I, que trata dos direitos e deveres individuais e coletivos, o Art. 5 Inciso LXXIII reza que: Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus de sucumbência. 112 No Art. 23, determina-se que é competência comum da União, Estados, Municípios e Distrito Federal, entre outras obrigações, o que está contido nos incisos VI e VII que rezam: VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas; VII - preservar as florestas, a fauna e a flora; Complementando, no Art. 24, temos que: Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: [...] VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambientee controle da poluição; [...] VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. Quando se trata dos Princípios Gerais da Atividade Econômica, o Artigo 170 expressa que A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação. Veja que o legislador não deixou simplesmente ao mercado a autonomia de defender o meio ambiente, até mesmo porque se essa prerrogativa fosse estabelecida, deveríamos contar com a boa vontade pura e simples do empresariado em promover 113 ações de conservação ambiental. Considerando que nem todos têm essa elevada índole, já se previu que a atividade econômica deve defender o meio ambiente e tratar dos impactos ambientais. Principalmente no Capítulo VI da CF, no Título “Do meio ambiente”, temos no Artigo 225, o princípio norteador de toda a legislação ambiental brasileira, quando expressa que: Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Perceba que conseguimos extrair deste artigo a filosofia expressa no próprio conceito de sustentabilidade contida no Relatório Brundtland, que estudamos anteriormente. Incentivo fortemente a você, que leia ao menos o inteiro teor deste Capítulo VI da Constituição Federal. Acesse o link: Disponível aqui Em um interessante e conciso artigo sobre a Constituição Federal e o Meio Ambiente, você entenderá um pouco mais sobre a intenção dos legisladores ao formular a Carta Magna do Brasil. Após a promulgação da Constituição Federal, houve a aprovação de várias outras leis, com objetivos específicos, mas todas dentro do escopo da preservação e sustentabilidade ambiental. 114 https://jus.com.br/artigos/73694/a-constituicao-federal-de-1988-e-o-meio-ambiente Por exemplo, a Lei 9605, de 12 de fevereiro de 1998, que tipifica os crimes ambientais, lei que ficou conhecida como Lei de Crimes Ambientais ou Lei da Natureza. Esta lei é um marco, pois a partir de então pode-se imputar penas aos infratores, que vão desde multas até prisão. De qualquer forma, é importante que você saiba que a legislação visa regulamentar uma relação complexa do ser humano com o meio ambiente, especialmente no que concerne ao modo de exploração de recursos naturais e da destinação dos resíduos produzidos pelas próprias pessoas. 115 12 Tendências Regulatórias nas Questões Ambientais Prezado aluno, Avaliando o teor da legislação em vigor e das sempre presentes discussões sobre o tema regulamentação, pode-se concluir que o acompanhamento do estado e da sociedade tenderá a se intensificar ainda mais, à medida que o modo de consumo e de produção se consolida com o do descartável. Como vimos nas aulas anteriores, o modo de vida “fast” (tudo rápido) e a evolução tecnológica com ciclos de vida cada vez menores dos produtos, leva à produção crescente de materiais que em um curto período de tempo (às vezes poucos minutos) são jogados fora. Leite (2009) salienta que a tendência – e já pontuamos isso – é que a responsabilidade seja atribuída aos fabricantes, direta ou indiretamente. A legislação volta-se a regulamentar a reciclagem e reaproveitamento dos materiais, proibições de destinação indevidas dos inservíveis, cuidados com embalagens e estruturação de canais reversos. Essa regulamentação vem ao encontro do princípio de Extensão da Responsabilidade do Produtor ou EPR (Extended Producer Responsability). Inservível = aquilo que não serve mais, imprestável, inútil. Trata-se também daquilo que é descartado pelo usuário, por não vislumbrar serventia para o item. 117 Sobre o EPR, Lopes (2011 apud LUZ e BOOSTEL, 2019, p. 127) explana: Princípio da Extensão da Responsabilidade do Produtor estabelece que os atores envolvidos na cadeia produtiva devam compartilhar responsabilidade pelos impactos ambientais decorrentes de todo o ciclo de vida do produto, incluindo nesse sentido, os impactos compreendidos pela seleção dos materiais de tais produtos, os impactos provocados pelo processo de produção em si e os impactos gerados pela destinação dos produtos após o consumo. Com fulcro em tal princípio, poder-se-ia não apenas determinar que o produtor receba o seu produto fabricado após o consumo, mas, também, metas de reciclagem. Sendo este o caso, vejamos algumas tendências de legislações aplicadas aos resíduos sólidos que são encontradas na literatura internacional sobre o assunto, conforme Quadro 1: 118 Quadro 1: Legislações aplicáveis aos resíduos sólidos Tipo de Legislação: Coleta e disposição final Tipo Detalhamento Proibições de aterros sanitários e incineradores Visa impedir a instalação de novos aterros sanitários e incineradores de lixo, partindo do pressuposto de que a sociedade não deseja ter nas vizinhanças esse tipo de instalações, por conta de risco de proliferação de doenças, mau cheiro, roedores e outros inconvenientes. Implantação de coleta seletiva Vista como forma de reduzir quantidades de materiais destinados aos aterros e incineradores, tornando obrigatória a coleta seletiva domiciliar e empresarial. Cria condições para o estabelecimento de novas atividades empresariais nas comunidades e grande quantidade de parcerias entre empresas. Responsabilização do fabricante sobre o canal reverso dos produtos (product take back) Normalmente, dirigida a produtos duráveis e embalagens. Tem como objetivo fomentar ações na cadeia produtiva desses bens, de modo a permitir o retorno após sua vida útil. Permite progressos importantes no reverse supply chain (cadeia de suprimentos reversa). Proibição de disposição em aterros sanitários de certos produtos Visa coibir a destinação para aterros sanitários de produtos que podem ser danosos, por exemplo, pilhas e baterias, óleos lubrificantes, eletrodomésticos, entre outros. Depósito de valor antecipado por embalagem Regulamenta o pagamento por disposição de embalagem ou depósito antecipado (uma espécie de caução) por embalagem até sua devolução. Índices mínimos de reciclagem Exigência para certos produtos de quantidade determinada de constituintes reciclados. 119 Fonte: baseado em Leite (2017). Tipo de Legislação: Marketing Tipo Detalhamento Incentivo ao conteúdo de reciclados nos produtos Geralmente, utilizadas pelo governo em suas compras junto aos fornecedores, como forma de incentivo ao uso de reciclados e para dar exemplo à sociedade. Proibição de venda ou uso de produtos Quando há impossibilidade de controle e melhoria no equilíbrio dos fluxos reverso e direto de certos produtos, o governo promulga lei que impede sua comercialização ou seu uso. Proibição de embalagens descartáveis Governo pode exigir o uso de embalagens retornáveis para evitar excessos de pós-consumo. Rótulos ambientais Normatiza os diversos tipos de rótulos de produtos, como “biodegradáveis”, “amigável”, “reciclável”, entre outros. Incentivos fiscais Trata de isenções com relação à utilização de produtos de pós-consumo, incentivo à produção por meio de tributação diferenciada para produtos com conteúdo de reciclados, eliminação de incentivos tributários a certas matérias-primas, eliminação de subsídios para produção de determinadas matérias-primas, entre outros. Redução na fonte Incentivos de diversas naturezas para empresas que reduzem o consumo de recursos não renováveis ou que modificam produtos para condições menos impactantes ao meio ambiente. 120 Sobre legislação especificamente aplicada à logística reversa, há no mundo todo – e no Brasil em particular – uma discussão muitointensa sobre a legislação tributária aplicada aos materiais da logística reversa. Uma das queixas dos empresários é que, ao reinserir materiais no canal reverso – mesmo que a origem tenha sido o canal direto da empresa – novamente há incidência de impostos, constituindo, na visão deles, uma bitributação. Esses tributos desincentivam muitos empresários a reaproveitar esses materiais, pois em vários casos, os materiais reabsorvidos no processo precisam passar por beneficiamentos prévios antes de adquirir condições para se equiparar com a matéria-prima original, onerando o processo. Desde 2014, tramita no Congresso Nacional, uma proposta da Confederação Nacional da Indústria (CNI) em que se apresentam alternativas a esse modelo de tributação sobre o material oriundo da logística reversa. Basicamente, as propostas são: Harmonização e ampliação do diferimento na cobrança do ICMS; Ampliação da suspensão da incidência de PIS/COFINS; Crédito presumido sobre uso de resíduos sólidos como matéria- prima: é mais fácil conceder um crédito presumido, com base nas aquisições de material reciclado pela indústria, do que identificar a porcentagem efetivamente utilizada de material proveniente da reciclagem na fabricação de cada produto da indústria. Serviços de terceiros: Desonerar de ICMS, ISS e PIS/COFINS os serviços de gestão da logística reversa, transporte e processamento de resíduos, prestados por terceiros. Incentivo direto ao investimento e financiamento da logística reversa: parte dos gastos das empresas com logística reversa poderia ser abatida do imposto de renda devido, a exemplo de incentivos já existentes para a cultura e o esporte. Desoneração da folha de pagamento das cooperativas de catadores (ROBLES e LA FUENTE, 2019, pp. 326-327). É preciso acompanhar com muita atenção essa discussão, pois um avanço nesta legislação, que desonere os produtos retornados de impostos, pode ser um ponto de alavancagem para aumentar grandemente os empreendimentos relacionados à logística reversa. 121 Acesse o link: Disponível aqui O setor empresarial discute e reivindica soluções para os entraves tributários da logística reversa. Veja como a FIEP (Federação das Indústrias do Estado do Paraná) colocou isso em pauta, lendo a matéria a seguir. 122 https://agenciafiep.com.br/2018/11/13/tributacao-elevada-e-gargalos-financeiros-sao-desafios-para-ampliar-logistica-reversa/ 13 A Legislação Ambiental e o Impacto na Logística Reversa Nesta aula, gostaria de discutir com você um dos principais avanços quando se fala em legislação aplicada à logística reversa. O ano de 2010 marcou a introdução de uma nova legislação que considera especificamente o papel da Logística Reversa no Brasil. Essa legislação era bastante aguardada, pois vários especialistas apontavam um “vazio” de legislação quando se falava sobre esse assunto. Essa legislação ficou conhecida dentro do Plano Nacional de Resíduos Sólidos. Comemorada por alguns, criticada por outros, o fato é que a legislação está vigente e deve direcionar as ações dos agentes econômicos no território brasileiro. Vamos conhecer os principais pontos dessa Legislação? A Lei é a 12305, de 02 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Esta Lei foi regulamentada pelo Decreto 7404, de 23 de dezembro de 2010. Este decreto foi importantíssimo, pois não adianta ter-se uma Lei, mesmo completa, se não há um Decreto regulamentador. E isto foi providenciado pelo Decreto 7404. Já nos primeiros artigos da Lei 12305, se observa: Art. 1º - Esta Lei institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, dispondo sobre seus princípios, objetivos e instrumentos, bem como sobre as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos os perigosos, às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos aplicáveis. § 1º Estão sujeitas à observância desta Lei as pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, responsáveis, direta ou indiretamente, pela geração de resíduos sólidos e as que desenvolvam ações relacionadas à gestão integrada ou ao gerenciamento de resíduos sólidos. § 2º Esta Lei não se aplica aos rejeitos radioativos, que são regulados por legislação específica. Art. 2º - Aplicam-se aos resíduos sólidos, além do disposto nesta Lei, nas Leis n.º 11.445, de 5 de janeiro de 2007, n.º 9.974, de 6 de junho de 2000 e 9.966, de 28 de abril de 2000, as normas estabelecidas pelos órgãos do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS), do Sistema Unificado 124 de Atenção à Sanidade Agropecuária (Suasa) e do Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Sinmetro). A Política Nacional de Resíduos Sólidos demorou quase 20 anos desde sua proposta por projeto de Lei até sua aprovação na forma da Lei 12305, em 2010. Que razões podem ter contribuído para um tempo tão longo para a aprovação de uma lei com essa importância? Notamos, então, a abrangência da Lei. A ideia do legislador foi trazer à responsabilidade todos os setores da sociedade e vincular todos os órgãos normatizadores e fiscalizados ao processo. No artigo 3º, inciso XII, encontramos o que, para o legislador, é o conceito de Logística Reversa: XII - Logística reversa: instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada. 125 Você percebeu como o legislador integra a noção de Logística Reversa com “destinação final ambientalmente adequada”? Temos um grande avanço na Legislação com esta definição. No mesmo artigo, no inciso XIII, vemos um resgate na noção de Desenvolvimento Sustentável, conforme definida pela ONU e avalizada pela maioria das nações: XIII - padrões sustentáveis de produção e consumo: produção e consumo de bens e serviços de forma a atender às necessidades das atuais gerações e permitir melhores condições de vida, sem comprometer a qualidade ambiental e o atendimento das necessidades das gerações futuras. Este é um conceito que não devemos ignorar, o do atendimento às necessidades atuais e das gerações futuras. Pode parecer um conceito muito abstrato, afinal, as gerações futuras ainda não existem, portanto, seria muito fácil esquecê-las, não é verdade? Note, ainda, nos próximos incisos do Artigo 3º, definições muito importantes, tanto do ponto de vista ambiental como da Logística Reversa: XIV - reciclagem: processo de transformação dos resíduos sólidos que envolve a alteração de suas propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas, com vistas à transformação em insumos ou novos produtos, observadas as condições e os padrões estabelecidos pelos órgãos competentes do Sisnama e, se couber, do SNVS e do Suasa; XV - rejeitos: resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada; XVI - resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos 126 d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível. Bastante interessante, não acha? Vem ao encontro de tudo o que vimos até agora e isso mostra a conjunção dos esforços governamentais com as iniciativas das empresas. No decreto 7404, que, conforme visto, regulamenta a Lei 12305, existe a instituição de um importante ator no processo. Vejao texto do decreto: DO COMITÊ INTERMINISTERIAL DA POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS Art. 3º Fica instituído o Comitê Interministerial da Política Nacional de Resíduos Sólidos, com a finalidade de apoiar a estruturação e implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, por meio da articulação dos órgãos e entidades governamentais, de modo a possibilitar o cumprimento das determinações e das metas previstas na Lei n.º 12.305, de 2010, e neste Decreto, com um representante, titular e suplente, de cada órgão a seguir indicado: I - Ministério do Meio Ambiente, que o coordenará; II - Casa Civil da Presidência da República; 127 III - Ministério das Cidades; IV - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; V - Ministério da Saúde; VI - Ministério de Minas e Energia; VII - Ministério da Fazenda; VIII - Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão; IX - Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; X - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; XI - Ministério da Ciência e Tecnologia; e XII - Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República. Este Comitê, estabelecido no Decreto, frisa ainda mais para nós a intenção das inter- relações e interdependências quando o assunto é a gestão ambiental, da qual a Logística Reversa é parte fundamental. A partir desta Legislação, todos são envolvidos no processo, desde os fabricantes até os consumidores. Isso mesmo! Os consumidores têm obrigações claras, que são definidas em lei. Veja estes aspectos no Decreto, nos artigos 5º ao 7º: Art. 5º - Os fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, consumidores e titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos são responsáveis pelo ciclo de vida dos produtos. Parágrafo único. A responsabilidade compartilhada será implementada de forma individualizada e encadeada. Art. 6º - Os consumidores são obrigados, sempre que estabelecido sistema de coleta seletiva pelo plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos ou quando instituídos sistemas de logística reversa na forma do art. 15, a acondicionar adequadamente e de forma diferenciada os resíduos sólidos gerados e a disponibilizar adequadamente os resíduos sólidos reutilizáveis e recicláveis para coleta ou devolução. Parágrafo único - A obrigação referida no caput não isenta os consumidores de observar as regras de acondicionamento, segregação e destinação final dos resíduos previstas na legislação do titular do serviço público de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos. 128 Art. 7º - O Poder Público, o setor empresarial e a coletividade são responsáveis pela efetividade das ações voltadas para assegurar a observância da Política Nacional de Resíduos Sólidos e das diretrizes e determinações estabelecidas na Lei n.º 12.305, de 2010, e neste Decreto. Um dos trechos mais importantes deste Decreto é a seção II, que reza: Dos Instrumentos e da Forma de Implantação da Logística Reversa Art. 15º - Os sistemas de logística reversa serão implementados e operacionalizados por meio dos seguintes instrumentos: I - acordos setoriais; II - regulamentos expedidos pelo Poder Público; ou III - termos de compromisso. § 1º Os acordos setoriais firmados com menor abrangência geográfica podem ampliar, mas não abrandar, as medidas de proteção ambiental constantes dos acordos setoriais e termos de compromisso firmados com maior abrangência geográfica. § 2º Com o objetivo de verificar a necessidade de sua revisão, os acordos setoriais, os regulamentos e os termos de compromisso que disciplinam a logística reversa no âmbito federal deverão ser avaliados pelo Comitê Orientador referido na Seção III em até cinco anos contados da sua entrada em vigor. Art. 16º - Os sistemas de logística reversa dos produtos e embalagens previstos no art. 33, incisos I a IV, da Lei n.º 12.305, de 2010, cujas medidas de proteção ambiental podem ser ampliadas mas não abrandadas, deverão observar as exigências específicas previstas em: I - lei ou regulamento; II - normas estabelecidas pelos órgãos do Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária - SNVS, do Sistema Único de Atenção à Sanidade Agropecuária - SUASA e em outras normas aplicáveis; ou III - acordos setoriais e termos de compromisso. Art. 17º - Os sistemas de logística reversa serão estendidos, por meio da utilização dos instrumentos previstos no art. 15, a produtos comercializados em embalagens plásticas, metálicas ou de vidro, e aos demais produtos e embalagens, considerando prioritariamente o grau e a extensão do impacto à saúde pública e ao meio ambiente dos resíduos gerados. 129 Parágrafo único. A definição dos produtos e embalagens a que se refere o caput deverá considerar a viabilidade técnica e econômica da logística reversa, a ser aferida pelo Comitê Orientador. Art. 18º - Os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes dos produtos referidos nos incisos II, III, V e VI do art. 33 da Lei n.º 12.305, de 2010, bem como dos produtos e embalagens referidos nos incisos I e IV e no § 1o do art. 33 daquela Lei, deverão estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante o retorno dos produtos e embalagens após o uso pelo consumidor. § 1º Na implementação e operacionalização do sistema de logística reversa poderão ser adotados procedimentos de compra de produtos ou embalagens usadas e instituídos postos de entrega de resíduos reutilizáveis e recicláveis, devendo ser priorizada, especialmente no caso de embalagens pós-consumo, a participação de cooperativas ou outras formas de associações de catadores de materiais recicláveis ou reutilizáveis. § 2º Para o cumprimento do disposto no caput, os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes ficam responsáveis pela realização da logística reversa no limite da proporção dos produtos que colocarem no mercado interno, conforme metas progressivas, intermediárias e finais, estabelecidas no instrumento que determinar a implementação da logística reversa. O legislador também previu e incluiu no texto da Lei a necessidade de estabelecerem- se diretrizes para a Educação Ambiental no país, talvez o grande segredo para mudanças significativas da nossa realidade. 130 Veja como a Lei (Decreto 7404) prevê isto: TÍTULO IX DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS Art. 77º - A educação ambiental na gestão dos resíduos sólidos é parte integrante da Política Nacional de Resíduos Sólidos e tem como objetivo o aprimoramento do conhecimento, dos valores, dos comportamentos e do estilo de vida relacionados com a gestão e o gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos. §1º A educação ambiental na gestão dos resíduos sólidos obedecerá às diretrizes gerais fixadas na Lei n.º 9795, de 1999, e no Decreto n.o 4.281, de 25 de junho de 2002, bem como às regras específicas estabelecidas na Lei n.o 12.305, de 2010, e neste Decreto. §2º O Poder Público deverá adotar as seguintes medidas, entre outras, visando o cumprimento do objetivo previsto no caput: I - incentivar atividades de caráter educativo e pedagógico, em colaboração com entidades do setor empresarial e da sociedade civil organizada; II - promover a articulação da educação ambiental na gestão dos resíduos sólidos com a Política Nacional de Educação Ambiental; III - realizar ações educativas voltadas aos fabricantes, importadores, comerciantes e distribuidores, com enfoque diferenciado para os agentes envolvidos direta e indiretamente com os sistemas de coleta seletiva e logística reversa; 131 IV - desenvolver ações educativas voltadas à conscientização dos consumidores com relação ao consumo sustentável e às suas responsabilidades no âmbito da responsabilidade compartilhada de que trata a Lei n.º 12.305, de 2010; V - apoiar as pesquisas realizadas por órgãos oficiais, pelas universidades, por organizações não governamentais e por setores empresariais, bem como aelaboração de estudos, a coleta de dados e de informações sobre o comportamento do consumidor brasileiro; VI - elaborar e implementar planos de produção e consumo sustentável; VII - promover a capacitação dos gestores públicos para que atuem como multiplicadores nos diversos aspectos da gestão integrada dos resíduos sólidos; e VIII - divulgar os conceitos relacionados com a coleta seletiva, com a logística reversa, com o consumo consciente e com a minimização da geração de resíduos sólidos. §3º As ações de educação ambiental previstas neste artigo não excluem as responsabilidades dos fornecedores referentes ao dever de informar o consumidor para o cumprimento dos sistemas de logística reversa e coleta seletiva instituídos. Como implementar a logística reversa Um dos principais desafios da logística reversa é implementá-la em setores específicos da economia. Os interesses não são coincidentes. Na verdade, na maior parte são muito conflitantes. Mesmo com uma legislação abrangente, como a Política Nacional de Resíduos Sólidos, é preciso orquestrar as discussões para que possam ser feitos acordos setoriais com os integrantes das diversas cadeias. Por isso, como resultado da Lei 12305/10 (PNRS), diversos grupos de trabalho foram constituídos visando discutir e implementar acordos dos setores envolvidos. São grupos de trabalho relacionados a descarte de medicamentos, embalagens em geral, embalagens de óleos e lubrificantes e seus resíduos, eletroeletrônicos, e lâmpadas fluorescentes, de mercúrio e de luz mista. Fonte: o autor. 132 Você pode ter achado os princípios da ISO muito interessantes e talvez até esteja pensando em implantar sistemas de gestão em sua empresa (seja um sistema de garantia da qualidade, da série ISO 9000, ou um sistema de gestão ambiental, como os da série ISO 14000, ou algum outro relevante para sua organização). Mas como funciona o pedido de certificação? A adesão a uma certificação da série ISO é voluntária, ou seja, deve ser uma decisão da empresa, após uma análise dos possíveis benefícios (inclusive financeiros) que essa certificação poderá proporcionar. Saiba que há custos envolvidos e, dependendo do porte da organização, esses custos podem ser bastante significativos. Por isso, a decisão de adotar ou não uma certificação deve ser uma decisão estratégica, visando um resultado maior em termos de retorno de investimento e ganhos de mercado, além, é claro, de um intangível, mas valioso ganho em termos de imagem corporativa. Depois de tomada a decisão, o passo seguinte é buscar uma empresa especializada em consultorias de certificação. Essa consultoria auxiliará a organização a adequar seus processos às normas, promovendo os treinamentos necessários e, uma parte importante, orientando a “colocar no papel” o que a empresa de fato faz. Isto porque as certificações respeitam as estruturas e os processos da organização, desde que estes estejam alinhados aos princípios da norma para a qual se buscará a certificação, ou seja, as normas dizem o que fazer, mas não a maneira como se deve fazer. Então, um princípio básico nesse assunto é: “escrever o que se faz e fazer o que está escrito”. Simples, não? Ao examinar o teor da lei – proponho que você leia a Lei 12305, de 02/08/2010, e o decreto regulamentador 7404, de 23/12/2010, na íntegra –, verificamos que o avanço regulamentar foi gigantesco. Porém, uma lei pode tornar-se inócua, sem efeito, com muita facilidade. Cabe também à sociedade inteirar-se sobre esse tema e cobrar a efetiva aplicação da legislação no dia a dia. Somente assim teremos, de fato, ganhos em relação à preservação ambiental. 133 Fonte: Freepik. Caso a empresa que busca a certificação for de pequeno porte, pode-se dispensar a contratação de uma consultoria (que envolve custos), neste caso, todas as adequações ficarão ao encargo de seus gestores. Uma vez que a empresa tenha adequado seus processos ao que preconiza a norma certificadora, é preciso contratar um organismo certificador (conhecido como organismo de terceira parte, por não ter qualquer vínculo com a organização a ser certificada). Esse organismo certificador deve estar acreditado por um órgão oficial que lhe dê poderes para emitir a certificação. No Brasil, o órgão acreditador dos organismos certificadores é o INMETRO (mais especificamente sua Coordenação Geral de Acreditação – CGCRE), cujos poderes executivos foram estabelecidos por lei (Decreto 6.275, de 28/11/2007). Uma vez realizada a auditoria pelo organismo certificador e estando os processos em conformidade com os princípios da norma, a organização passa a ser certificada, podendo exibir o selo de certificação perante o mercado. 134 Um alerta importante! Se a intenção da empresa é somente comprovar suas boas práticas no mercado local, um organismo certificador nacional dará conta de sua demanda, com custos acessíveis até para pequenas empresas. Porém, se o objetivo for o mercado internacional, uma recomendação é que a entidade certificadora tenha representação nos países para os quais se pretenda exportar ou que seja de tal modo reconhecido internacionalmente, para que não seja questionada a legitimidade da certificação obtida. Acesse o link: Disponível aqui Temos uma lista bastante extensa de leis ambientais no Brasil, o que é bom por um lado, pois contempla praticamente todas as atividades que possam impactar de alguma forma o meio ambiente, porém, por outro, esse arcabouço jurídico é criticado justamente pela sua extensão, que, segundo os críticos, dificulta o pleno entendimento e pode criar interpretações enviesadas. De toda forma, é importante conhecer as principais leis que se aplicam ao tema. Por isso, recomendo que você acesse o link abaixo para conhecer as principais leis ambientais. 135 http://planetaorganico.com.br/site/index.php/meio-ambiente-as-17-leis-ambientais-do-brasil/ 14 As Bases para a Economia Circular - Uma Nova Fronteira para o Consumo Conforme vimos nas aulas anteriores, a forma como foi estabelecido nosso modelo econômico, fortemente baseado no consumo, determinou a maneira como os sistemas produtivos foram planejados. Com o pensamento de transformação de matéria-prima em produto, que é utilizado pelo consumidor até seu ponto de descarte, estabelece-se uma forma linear de consumo. Essa ideia está intimamente ligada ao conceito do que chamamos de “ciclo de vida” dos produtos. Nós temos esse conceito tão internalizado que, na maior parte do tempo, nem lembramos dele. É o caso quando nos livramos de um monitor de computador, aquele do tipo “tubo”, lembra? De quantos aparelhos você já se desfez assim, não é verdade? O que aconteceu com esse produto é que ele cumpriu seu Ciclo de Vida. Para onde foi esse produto que deixa de ter utilidade para o consumidor? Ele provavelmente será descartado. Essa questão do ciclo de vida gerou uma preocupação das empresas produtoras, pois, de acordo com a legislação ambiental de seus países, inclusive no Brasil, e também as exigências de consumidores conscientes, ambientalmente falando, não se pode simplesmente depositar esse produto inservível em qualquer lugar. Origina-se, então, o que ficou conhecido como Análise do Ciclo de Vida – ACV, originado da expressão em inglês Life Cycle Assesment (LCA). O objetivo da ACV é minimizar os impactos ao meio ambiente gerados pelos produtos das organizações. Sob essa perspectiva, é necessário que tudo seja considerado para que os impactos ambientais sejam mínimos, ou de preferência, nulos (RAZZOLINI FILHO; BERTÉ, 2013, p. 80). Todo produto provoca impactos no meio ambiente, em maior ou menor grau. Pode ser que o produto em si mesmo não seja poluente (por exemplo, o gelo que é vendido para diversos fins, basicamente é feito de água limpa, e água não é poluente), mas o processo de produção pode ser, consumindo, por exemplo, energia que vem de usinas que causam o impacto. Não há como fugir dessa realidade. Essa noção de Ciclo de Vida dos produtos é, defato, muito semelhante ao ciclo de vida dos organismos. Um produto nasce, tem um período de demanda e depois morre. Para os produtos, houve um refinamento desse conceito, que ficou conhecido como “do berço ao túmulo”, em que não se expira a responsabilidade da empresa no 137 Figura 2: Conceito “do berço ao túmulo” dos produtos Fonte: baseada em Razzolini Filho e Berté (2013). momento da venda ao cliente final, mas sim, essa responsabilidade vai literalmente até o túmulo, ou seja, até depois que o produto não tenha mais utilidade para o consumidor e precisa ter uma destinação final. Na Figura 2, essa ideia é mais facilmente visualizada. Perceba que, após o consumo ou utilização, o produto pode ir diretamente à destinação final (túmulo) ou voltar ao processo econômico por meio de reciclagem ou recuperação, tornando-se novamente parte de um ciclo, por “n” vezes, até que, 138 finalmente, não terá mais utilização, sendo, portanto, direcionado para destinação final. No entanto, apesar de ser uma evolução no tratamento do produto e seus componentes, ainda permanece o fato de que estamos consumindo os recursos naturais em uma velocidade que não é possível sua reposição pelos próprios ciclos da natureza. Com essa preocupação, muitos governos e empresas iniciaram, no final do século XX, e início do século XXI, um movimento para mudar a lógica linear da economia e estabelecer uma economia com lógica circular, a economia circular. Berardi e Dias (2018, p. 35) destacam que, “em 2015, a União Europeia adotou a economia circular (EC) como modelo a suportar e viabilizar o alcance das metas estabelecidas até 2050. Também na China, desde o início dos anos 2000, a EC vem sendo incorporada nos planos governamentais”. Mas o que vem a ser isso? A Economia Circular (EC) é uma nova forma de pensar a economia e os modos de produção. Lembre-se de que a humanidade foi profundamente impactada com o advento da Revolução Industrial, que alterou a lógica de produção artesanal para uma de produção massificada, que temos até hoje. No entanto, esse modo de produção é insustentável, visto que muitos recursos naturais não são renováveis, e os que são, os ciclos de reposição não estão dando conta de atender às nossas necessidades. E a Economia Circular pretende propor uma mudança nessa relação de consumo de matérias-primas e até na forma como os produtos são desenhados. É uma mudança cultural e tanto, não concorda? Mas repare bem, que muitas pessoas já não sonham mais em “ter”, como se a posse de um produto se tornasse uma realização. Especialmente as gerações mais jovens pensam no valor de utilização do bem, e não no bem em si. Por exemplo, em uma grande cidade, abarrotada de carros e de trânsito caótico, se o transporte público fosse eficiente e confiável, muitos estariam dispostos a deixar de possuir um carro para usar essa modalidade. A “posse” do carro, para essas pessoas, não é importante, e sim, a mobilidade que ele proporciona. Isso ajuda a explicar o aumento vertiginoso nos serviços de transporte por aplicativo e os aluguéis de bicicleta como um serviço. Essa tendência é chamada de “servitização”. A servitização acontece quando o serviço tem um valor maior que o bem em si, para aquele que o desfruta ou consome. As empresas mais focadas no consumidor já entenderam isso, que não podem mais vender somente o produto, mas sim, a gama de serviços a ele atrelado, até o ponto em que o produto passa a ser um serviço. 139 Figura 3: os princípios da Economia Circular Fonte: Berardi e Dias (2018, p. 35-36). Dentro dessa lógica de uso consciente, a Economia Circular propõe a mudança da linearidade da economia (extração – transformação – descarte) para uma em que todo o processo é pensado para maximizar o uso dos produtos, aumentar sua vida útil e preparar esse produto – todo, ou seus componentes – para uma nova finalidade. Berardi e Dias (2018) explicam assim os 3 pilares da Economia Circular: 140 Na Figura 3, é possível visualizarmos que se parte da ideia de que os recursos naturais são finitos, passando pela otimização dos recursos de produção e fomentando a eficácia do sistema e a eliminação dos efeitos negativos das externalidades dos processos. Externalidades: são eventos ou decisões que têm origem em terceiros, ou seja, atores não participantes diretos do processo, mas que o afetam quer positiva quer negativamente. É verdade que os processos organizacionais tradicionais, e que dão origem à cadeia convencional de suprimentos já prevê o princípio dos 3R’s, explicados assim por Viet (2012 apud Abdalla e Sampaio, 2018, p. 87): REDUZIR: Utilizar técnicas de gerenciamento para diminuir a quantidade de material consumido para determinado fim (ex. água, energia, minerais, etc.); REUTILIZAR: Utilizar novamente um material, no mesmo uso para o qual foi projetado, ou em outro uso compatível, aumentando assim a vida útil do material, antes de ser descartado ou enviado para a Reciclagem; RECICLAR: Reciclagem é um conjunto de técnicas que tem por finalidade aproveitar os resíduos e colocá-los novamente no ciclo de produção de que saíram. É o resultado de uma série de atividades, pelas quais materiais que se tornariam lixo, ou estão no lixo, são desviados, coletados, separados e processados para serem usados como matéria-prima na manufatura de novos produtos. Porém, a pretensão da Economia Circular é bem mais ambiciosa. É uma mudança social, alterando o cerne da cultura do consumo, impactando toda a cadeia produtiva. Não é uma proposta de simples implantação. Na verdade, é bem complexa e as 141 Figura 4: modelo do sistema circular de produção para o ciclo técnico: reúso, reciclagem - upcycle Fonte: Abdalla e Sampaio (2018, p. 89). iniciativas para sua adoção têm partido de países que possuem uma cultura ambiental mais apurada, como certos países europeus e, por incrível que pareça, em algumas partes da China. A expectativa é que mais e mais setores da sociedade se sensibilizem com seus preceitos e venham a adotá-la. O ideal da Economia Circular, segundo Bonciu (2014, apud Abdalla e Sampaio, 2018), é apresentar: [...] três princípios fundamentais, na defensa da melhoria dos processos produtivos e da permanência mais duradoura dos materiais, como estímulo à geração de ativos numa cadeia de valor. Portanto, propõe: “o fim da sociedade do descarte” por meio da “renúncia do padrão fazer, usar, descartar” como forma alternativa de organizar a produção e a transição para uma abordagem “reúso e reciclagem”. A Figura 4, a seguir, apresenta um modelo esquemático do que se pretende alcançar com a Economia Circular: Acima, temos um ciclo de produção desde os recursos naturais até o uso ou consumo dos produtos resultantes desse ciclo, porém, aponta os princípios da economia circular inseridos em todas as fases, de modo a propiciar o reparo ou reúso, a remanufatura e o upcycle (superciclagem). 142 Acesse o link: Disponível aqui O tema da Economia Circular é debatido constantemente em vários setores da sociedade. Assista ao vídeo acessando o link e saiba mais sobre esse assunto. Com a Economia Circular, pretende-se avançar do conceito “do berço ao túmulo”, chegando-se ao conceito “do berço ao berço” (Cradle to Cradle, ou C2C), em que 3 princípios se destacam, quais sejam: os resíduos são considerados nutrientes, alimentando outros processos, usam-se fontes de energia ilimitadas, como a energia solar, e a celebração da diversidade, diversidade na biodiversidade, em que os espaços se harmonizam com o meio ambiente, tornando-os espaços mais saudáveis, menos poluídos e mais divertidos, além da diversidade de culturas e soluções, onde se parte da premissa de que não há um único jeito certo de fazer as coisas, ou uma solução única para os problemas, respeitando-se, dessa forma, contextos e culturas locais (GEJER e TENNENBAUM, 2017 apud ABDALLA e SAMPAIO, 2018). Lembre-se, estamos falando de dois ciclos, quando abordamos a Economia Circular: o ciclo técnico e o ciclo biológico. Em ambos, procura-se não ficar restritoao ganho de eficiência propalado pelos processos de Gestão da Qualidade, como as certificações ISO, que são encarados como “atrasar o inevitável” pela ótica da Economia Circular. Na verdade, esses ciclos buscam soluções efetivas, com ganhos para as gerações atuais e futuras, princípio basilar do desenvolvimento sustentável. Na figura 5, vemos essa proposta: 143 https://www.youtube.com/watch?v=eVKpgLlAsmo Figura 5: os ciclos técnico e biológico da Economia Circular Fonte: Abdalla e Sampaio (2018, p. 91). A figura mostra os ciclos biológico e técnico da Economia Circular. No ciclo biológico, os produtos de consumo são decompostos, tornam-se nutrientes para o solo, que alimentam plantas e animais que, por sua vez, dão origem à manufatura e novos produtos de consumo. No ciclo técnico, os produtos de serviço são decompostos em materiais para reúso, dando origem a outros produtos em novos processos de manufatura. Até onde conseguiremos chegar com a implementação gradativa da filosofia da Economia Circular, o tempo dirá. Algumas propostas envolvem setores que requerem maior uso de tecnologia, impactando no design dos produtos, visando seu reaproveitamento mais rápido, ou sua adaptação ou atualização tecnológica por meio da troca de módulos. Enfim, é um mundo novo e cheio de possibilidades. 144 15 A Logística Reversa: da Construção Civil, dos Pneus e das Embalagens Como você talvez saiba, a construção civil é um setor que recebe uma atenção toda especial do governo e da própria sociedade. De fato, esse segmento econômico tem uma cadeia muito extensa, sendo responsável pelo giro econômico de bilhões de reais todos os anos, não só com a comercialização de materiais de construção, mas pela própria absorção de mão de obra, oferecendo oportunidades até mesmo para quem não tem grande qualificação. O planejamento urbano da maioria das cidades prevê novos loteamentos que, por consequência, incentivarão mais construções residenciais, comerciais e, em locais específicos, também barracões industriais. A verticalização das cidades também é um fato: mesmo cidades pequenas já têm seus “arranha-céus”. Essa pujança toda esconde um fato preocupante: a construção civil é um dos segmentos que mais produz resíduos em toda a cadeia produtiva. O Ministério do Meio Ambiente publicou em seu portal a seguinte informação que nos faz pensar: O Conselho Internacional da Construção – CIB aponta a indústria da construção como o setor de atividades humanas que mais consome recursos naturais e utiliza energia de forma intensiva, gerando consideráveis impactos ambientais. Além dos impactos relacionados ao consumo de matéria e energia, há aqueles associados à geração de resíduos sólidos, líquidos e gasosos. Estima-se que mais de 50% dos resíduos sólidos gerados pelo conjunto das atividades humanas sejam provenientes da construção. Tais aspectos ambientais, somados à qualidade de vida que o ambiente construído proporciona, sintetizam as relações entre construção e meio ambiente. (BRASIL, s/d, on-line, grifo nosso) Outro dado interessante vem de uma estimativa que dá conta de que, do total de recursos naturais consumidos pela sociedade, o setor da construção civil seja responsável entre 14% e 50%. De acordo com Santos e Marchesini (2018, p. 70), “no Brasil, a quantidade estimada de geração de RCD por ano é de 100 milhões de toneladas, sendo que apenas 20% são reciclados”. Estatísticas do setor e dos órgãos oficiais do governo dão conta de que 75% de toda a população do Brasil é urbana e, destes, 35% se concentram nas cinco maiores regiões metropolitanas. Essas constatações nos levam a reflexões importantes: se por um lado precisamos de moradias e em número cada vez maior, por outro, a cada vez que 146 construímos, tornamos a vida na terra mais insustentável. Mas talvez você se pergunte o motivo de tanto impacto por parte da construção civil e o que a logística reversa tem a ver com isso. Vamos estudar mais a fundo essas questões. Em um primeiro momento, verificaremos o motivo da construção civil produzir um impacto ambiental tão acentuado. Em uma construção típica, temos a presença de materiais que empregam em essência matérias-primas retiradas do meio ambiente de várias origens: Fonte: Disponível aqui (Adaptado) Temos a argila que é usada em grande quantidade na produção de tijolos, por um processo de queima. Esse tipo de tijolo pode ter a forma de um paralelepípedo ou ser furado (4, 6 ou 8 furos). Temos também o cimento, que basicamente é uma mistura de argila e calcário aquecida a uma temperatura de 1450º e depois acrescida de gipsita - matéria-prima do gesso - e moída. Para uso, acrescenta-se água para formar uma pasta. Esta pasta costuma quebrar-se com facilidade e, por conta disso, acrescenta-se areia que evita essa quebra na maioria dos casos. Desse processo, resulta a argamassa. Quando o volume é grande, utiliza-se também pedra brita na mistura, formando o concreto. O ferro passou a ser utilizado com intensidade na construção civil, especialmente na Europa e nos Estados Unidos, já no século XVIII, e com mais intensidade no final do século XIX e século XX. Grandes estruturas foram construídas à base desse material. Com a adição de carvão e cal, temos o aço que forma os vergalhões – uma barra de ferro com nervuras – que são amplamente utilizados para formar as estruturas de concreto. 147 http://mundoestranho.abril.com.br/materia/de-que-e-feito-o-cimento-por-que-e-misturado-com-areia-nas-construcoes Foto 1: Vergalhão de aço Fonte: Freepik. A areia é um componente importante da construção civil e é composta de grânulos de quartzo. O impacto ambiental da extração da areia é intenso e as áreas para retirada estão muitas vezes distantes dos centros consumidores, o que faz com que a maior parte do custo deste produto para o consumidor seja constituído por transporte (alguns calculam que 2/3 do custo seja em decorrência desse custo logístico). No Brasil, segundo dados do setor, a área com maior extração de areia natural é o Sudeste, conforme indica a Figura 1, a seguir: 148 Figura 1: Produção estimada de areia para a construção civil no Brasil Fonte: Luis Fernando Ramadon / Revista Mineração & Sustentabilidade. Disponível aqui Os especialistas mencionam que é praticamente impossível a extração de areia natural sem impacto ambiental e, por isso, e também devido ao custo de extração e do frete, a indústria de construção civil tem se movimentado para substituir essa área natural por outra industrializada, a chamada “areia de brita”, resultado de um processo de aproveitamento de sobras da brita de pedras para o próprio setor. Essa “areia de brita” tem algumas vantagens apontadas como granulometria uniforme (ou seja, os grãos são do mesmo tamanho, visto ser resultado de processo industrial), ausência de elementos contaminantes, homogeneidade, não necessidade de peneiramento trazendo ganhos de mão de obra, além da redução do frete. Ao tempo em que esse material está sendo produzido, a viabilidade econômica da produção da “areia de brita” ainda não estava totalmente consolidada, mas os especialistas apontam o uso desse material como um caminho sem volta. Temos inúmeros outros materiais que são utilizados, como plástico (em tubos e conexões), metais (em fios e cabos), misturas químicas como tintas e solventes, entre tantos. Com essa rápida análise, fica muito fácil concluir que a retirada desses materiais do meio ambiente muda paisagens, produz resíduos de queima, em processos não renováveis. 149 https://revistamineracao.com.br/2016/12/22/extracao-ilegal-de-areia-no-brasil/ Outro lado da construção civil que traz grandes problemas ambientais é a produção de resíduos na forma de entulhos. Mas, afinal, o que são entulhos? De acordo com Razzolini Filho e Berté (2013, p. 129), O entulho é o conjunto de fragmentos ou restos da construção civil, provenientes de reformas ou da demolição de estruturas (prédios, residências). Na formação do entulho entram os restos de grande variedade de materiais deconstrução, possivelmente todos aqueles utilizados pela indústria da construção civil. Entre eles: tintas, tijolos, pedras, pedras brita, plásticos, papéis, metais, madeiras, materiais cerâmicos, argamassas e areias. A produção deste entulho todo chama à atenção, não é mesmo? Mas uma conclusão é óbvia: se os materiais fossem racionalmente utilizados na fase da construção, uma parte importante dos entulhos não seria produzida. Restariam os entulhos das demolições e reformas. Será que desperdiçamos muitos materiais na fase da construção? Os dados sobre isso não são precisos. Alguns trabalhos mais antigos davam conta de que o Brasil já chegou ao absurdo de, a cada 3 prédios construídos, o equivalente aos materiais de um edifício inteiro ser desperdiçado, ou seja, literalmente ia para o lixo. Além disso, Segundo levantamento do Sindicato da Construção Civil do Paraná (SINDUSCON-PR), o setor da Construção Civil é responsável pela geração de uma média de 200 quilos de resíduos para cada m² de área construída, destes, 25% são produzidos pela construção formal, outros 25% pela informal e 50% oriundos pelas reformas (SILVA; PIMENTEL, 2019, p. 22). Atualmente, esse cenário não é aceito nem reconhecido pelo segmento, pelo menos não quando se fala em construções conduzidas pelas grandes construtoras do Brasil. Também os programas de moradias populares do governo federal, que exigem o cumprimento de orçamentos rígidos, forçaram as empresas a ganharem em produtividade e reduzirem perdas de materiais. Também, especialmente a partir dos anos 1990, começou a ser aplicado à construção civil uma filosofia já bastante consolidada na indústria de automóveis e alguns outros segmentos: o modelo japonês de gestão, com princípio do TQM (Gerenciamento pela 150 Qualidade Total), Just-in-Time (que você conhece muito bem nos seus estudos de logística), que formavam a base da Lean Production ou Produção Enxuta, em português. Na construção civil, o termo cunhado para esta prática é Lean Construction (ou Construção Enxuta), que busca reduzir e, de preferência, eliminar desperdícios. Um grande avanço, não acha? Apesar desses avanços todos – principalmente na construção civil de grande porte – o desperdício e a produção de entulhos permanecem. Para comprovar isso, Razzolini Filho e Berté (2013, p. 135) apresentam os seguintes dados: Quadro 1: Estimativa da quantidade de entulhos gerados pela Construção Civil Fonte: Razzolini Filho e Berté (2013, p. 135). Região Quantidade produzida (estimativa) São Paulo 372.000 toneladas/mês Belo Horizonte 102.000 toneladas/mês Brasília 85.000 toneladas/mês Curitiba 74.000 toneladas/mês Em razão disso, um grande esforço, tanto do próprio setor como dos órgãos ambientais do poder público, foi empreendido para formular uma política de gestão dos resíduos da construção civil. Algumas políticas promovidas por vários estados da federação são muito abrangentes e instituem indicadores de acompanhamento de gestão de resíduos (caso do Estado de São Paulo com a adoção do IGR – Índice de Gestão de Resíduos Sólidos). Em nível normativo, é considerado o marco legal de gestão de resíduos da construção civil a Resolução Conama 307, de 05.07.2002. Já no preâmbulo desta Resolução, entendemos o que moveu a formulação desta normativa: 151 Considerando a necessidade de implementação de diretrizes para a efetiva redução dos impactos ambientais gerados pelos resíduos oriundos da construção civil; Considerando que a disposição de resíduos da construção civil em locais inadequados contribui para a degradação da qualidade ambiental; Considerando que os resíduos da construção civil representam um significativo percentual dos resíduos sólidos produzidos nas áreas urbanas; Considerando que os geradores de resíduos da construção civil devem ser responsáveis pelos resíduos das atividades de construção, reforma, reparos e demolições de estruturas e estradas, bem como por aqueles resultantes da remoção de vegetação e escavação de solos; Considerando a viabilidade técnica e econômica de produção e uso de materiais provenientes da reciclagem de resíduos da construção civil; e Considerando que a gestão integrada de resíduos da construção civil deverá proporcionar benefícios de ordem social, econômica e ambiental (Resolução CONAMA 307/2002). 152 A constatação da importância do tema levou à formulação de diretrizes específicas para o setor, conforme podemos deduzir logo no início do texto da Resolução. Um importante Artigo incluído nesta Resolução é o que especifica os tipos de resíduos da construção civil, agrupando-os por classes: No Art. 3º da Resolução, lemos: I - Classe A - são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como: a) de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras de infraestrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem; b) de construção, demolição, reformas e reparos de edificações: componentes cerâmicos (tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento etc.), argamassa e concreto; c) de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto (blocos, tubos, meios-fios etc.) produzidas nos canteiros de obras; II - Classe B - são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como plásticos, papel, papelão, metais, vidros, madeiras, embalagens vazias de tintas imobiliárias e gesso; (Redação dada pela Resolução n.º 469/2015). III - Classe C - são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem ou recuperação; (Redação dada pela Resolução n.º 431/11). IV - Classe D - são resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como tintas, solventes, óleos e outros ou aqueles contaminados ou prejudiciais à saúde oriundos de demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e outros, bem como telhas e demais objetos e materiais que contenham amianto ou outros produtos nocivos à saúde. (Redação dada pela Resolução n.º 348/04). § 1º - No âmbito dessa resolução consideram-se embalagens vazias de tintas imobiliárias, aquelas cujo recipiente apresenta apenas filme seco de tinta em seu revestimento interno, sem acúmulo de resíduo de tinta líquida. (Redação dada pela Resolução n.º 469/2015) § 2º - As embalagens de tintas usadas na construção civil serão submetidas a sistema de logística reversa, conforme requisitos da Lei n.º 12.305/2010, que contemple a destinação ambientalmente adequados dos resíduos de tintas presentes nas embalagens. (Redação dada pela Resolução n.º 469/2015). 153 Essa classificação possibilita uma ação gerencial mais efetiva, que leva a logística reversa a vincular-se definitivamente à busca de soluções inovadoras para toda a cadeia da construção civil. Complementando essa ideia, a própria resolução preconiza as destinações aos resíduos, conforme a classificação dos materiais que a norma definiu no Artigo 3º. Essa destinação encontra-se no Artigo 10º, que reza: Art. 10 - Os resíduos da construção civil, após triagem, deverão ser destinados das seguintes formas: (nova redação dada pela Resolução 448/12) I - Classe A: deverão ser reutilizados ou reciclados na forma de agregados ou encaminhados a aterro de resíduos classe A de reservação de material para usos futuros; (nova redação dada pela Resolução 448/12) II - Classe B: deverão ser reutilizados, reciclados ou encaminhados a áreas de armazenamento temporário, sendo dispostos de modo a permitir a sua utilização ou reciclagem futura; III - Classe C: deverão ser armazenados, transportados e destinados em conformidade com as normas técnicas específicas. IV - Classe D: deverão ser armazenados, transportados e destinados em conformidade com as normas técnicas específicas. (nova redação dada pela Resolução 448/12) Perceba, pelas ações elencadas pela Resolução, que a Logística Reversa está fortemente ligada às soluções apresentadas, em atividades como triagem, armazenamento, transporte, reciclagem, entre outras, paraos Resíduos da Construção Civil (RCC). A inovação e a tecnologia auxiliam nessas soluções apresentadas. Na Figura 2, temos a demonstração do papel da logística reversa no segmento da construção civil: 154 Figura 2: Papel da logística reversa na construção civil sob o aspecto da sustentabilidade Fonte: Marcondes e Cardoso (2005, p. 7). As soluções, geralmente, estão ligadas ao reaproveitamento dos materiais, sendo a reciclagem a parte importante deste processo. Os objetivos da reciclagem são relevantes tanto no sentido econômico como nos aspectos ecológicos. Pinto (1994 apud RAZZOLINI FILHO; BERTÉ, 2013, p. 137) elenca esses objetivos: Melhorar o meio ambiente por meio da redução do número de áreas de depósitos clandestinos, o que resultará em uma diminuição dos gastos da administração pública com gerenciamento de entulho; Aumento de vida útil de aterros por uma disposição dos resíduos, que podem ser utilizados futuramente; Aumento da vida útil das jazidas de matéria-prima, na medida em que são trocadas por materiais reciclados; Materiais de construção reciclados de baixo custo e excelente desempenho sendo produzidos. 155 https://uploads-ssl.webflow.com/5f7bb63f311b47a93c8f6497/5fa01b8c9bbb4c6b8e5d5bad_a15-fig01.svg Se você pesquisar em sites especializados, verá algumas propostas muito interessantes, como as casas ecológicas, ecovilas, edifícios verdes, entre outras. Há uma tendência de várias construtoras – principalmente em empreendimentos maiores – de buscar a certificação ambiental por um sistema de origem norte- americana: o LEED (Leadership in Energy and Environmental Design). A ideia dessas certificações é reconhecer boas práticas desde a fase do projeto, utilização racional de energia, água e materiais, uso da luz natural, ventilação, emprego de materiais reciclados e não impactantes, entre outros critérios. Casa ecológica Trata-se de uma casa ecologicamente saudável, economicamente viável e que responda às necessidades básicas de seus habitantes, integrando tecnologias modernas a velhos conhecimentos, com o máximo possível de conexão com o ambiente e menor impacto possível. A casa deverá possuir alguns detalhes básicos, tais como: Dispor as janelas de forma que se aproveite a luz ambiente; Reduzir e gerenciar os resíduos gerados; Aproveitar a água das chuvas e também reutilizar as águas da pia com a utilização de filtros. Qual o diferencial das casas? Por que “casas ecológicas”? 156 Fonte: Freepik. Nas ecovilas, temos: a. Edificações (casas) autônomas de baixo consumo energético. São casas solares, voltadas para o norte, com paredes duplas, vidros duplos, dutos de ventilação e de convecção do ar da lareira para um maior conforto térmico; sistema de energia solar somado ao aquecimento a gás e serpentinas ligadas à lareira para aquecimento de água; b. Infraestrutura ecológica: poço artesiano, reúso das águas e cinzas, baixo índice de ocupação com maximização de jardins, preservação de áreas verdes e minimização de ruas; c. Paisagismo produtivo: espirais de ervas e temperos, hortas mandalas e outros, que, além da ornamentação, produzem alimentos saudáveis para o consumo das famílias, compensando o custo das equipes de manutenção e segurança, o que chamamos de jardineiros produtivos protetores. Fonte: Razzolini Filho e Berté (2013, p. 138-139). 157 Você talvez tenha visto outras iniciativas, como casas à base de garrafas PET, tijolos ecológicos, uso de embalagens tipo Tetra Pak para isolamento térmico, entre outras. Talvez um dos maiores impeditivos para a popularização deste tipo de construção seja o preconceito em relação aos materiais alternativos e a própria questão econômica, pois muitos temem não conseguir vender os imóveis fabricados com esses materiais. Porém, novas tecnologias construtivas estão sendo desenvolvidas, mesmo para prédios de alto padrão, como as das lajes protendidas, que reduzem a utilização de pilares e mão de obra. Também equipamentos de tecnologia como projetores de argamassa que substituem o método tradicional de reboco com as famosas “colheres” de pedreiro, reduzem o desperdício no canteiro de obras. A própria escassez de mão de obra faz as construtoras buscarem as soluções para aumento da produtividade e redução de desperdícios. Vamos acompanhar o desenvolvimento dessas iniciativas. Acesse o link: Disponível aqui Várias pesquisas e iniciativas acontecem tanto no meio empresarial como na academia, visando o reaproveitamento de materiais de construção. Conheça uma dessas iniciativas no link abaixo. Trata-se de um tipo de tijolo ecológico que se propõe a reaproveitar até 80% dos entulhos da construção civil. 158 https://www.sienge.com.br/blog/tijolo-ecologico/ Charles Goodyear Fonte: Wikipedia. A Logística Reversa dos Pneus O mundo se move sobre rodas. E as rodas movem-se sobre pneus. Você pode até achar esta afirmação exagerada, mas não é tanto assim. De fato, uma parte importante do transporte de pessoas no mundo é feita sobre rodas e os automóveis e ônibus são meios largamente utilizados. A história dos pneus com a humanidade é relativamente nova, tem cerca de dois séculos. Foi Charles Goodyear, um americano que no século XIX, aprimorou a borracha de tal forma que pudesse ser utilizada para construção de um objeto, que revolucionou o transporte: o pneu (abreviatura de pneumático, mas ninguém usa essa palavra no dia a dia, não é mesmo)? Se o pneu foi e é tão importante para a humanidade, principalmente no transporte de pessoas e cargas, por que foi alçado à condição de vilão do meio ambiente? A culpa, é claro, cabe mais uma vez ao próprio homem. Quando o pneu se torna inservível, ou seja, deixa de ser útil para rodar em veículos, geralmente começa sua saga de prejuízo à natureza. Alguns números são surpreendentes! Por exemplo, 159 Christófani et al. (2017) destacam que, no Brasil, estima-se que 100 milhões de pneus velhos estão espalhados em aterros, terrenos baldios, rios e lagos. E quais são os malefícios dessa prática? Veja algumas: • os pneus, por apresentarem baixa compressibilidade, associados à sua degradação muito lenta, ao serem aterrados inteiros, podem provocar o escorregamento das células de lixo, bem como reduzir a vida útil dos aterros sanitários; • devido à sua forma, se for aterrado inteiro, poderá reter ar e outros gases no seu interior, tornando-se volumoso, e podendo vir a flutuar para superfície, quebrando a cobertura do aterro. Quando isso ocorre, ocasiona a exposição do aterro a micro e macro vetores, a fauna, além de possibilitar que os gases escapem para a atmosfera, bem como haja o vazamento de líquidos; • os pneus ficam sujeitos à queima acidental ou provocada, ocasionando prejuízos na qualidade do ar, face à liberação de fumaça contendo alto teor de substâncias tóxicas; • do ponto de vista da saúde pública, o descarte de pneus em terrenos baldios são igualmente danosos, pois devido ao seu formato, tende a reter a água de chuva criando um ambiente propício à proliferação de vetores, como, por exemplo, o mosquito “Aedes aegypti” que é transmissor da dengue (CHRISTÓFANI et al., 2017, p. 3-4). Dentro dessa mesma linha de pensamento, Razzolini Filho e Berté (2013, p. 155) destacam as dificuldades para o reúso dos pneus: Os resíduos dos pneus ocupam grandes espaços para armazenamento temporário, o que dificulta o seu manuseio, além disso, é grande a quantidade gerada; Existem os problemas sanitários e de saúde pública, pois, quando não armazenados adequadamente, os pneus se tornam dissipadores de patologias e, principalmente, “berços de reprodução” para agentes epidemiológicos, como é o caso do mosquito da dengue, o aedes aegypti. Como destacado, os problemas com os pneus ainda incluem a possibilidade de contaminação da água quando queimados de forma imprópria, pois liberam um material oleoso que, em contato com a água, torna-a inapropriada para uso. 160 O poder público, como no caso da construção civil, também se preocupou com a destinação correta dos pneus inservíveis e elaborouuma normativa específica para este material. A proposta concreta foi dada pela Resolução CONAMA 258, de 26.08.1999, que já no seu preâmbulo expunha seus objetivos: Considerando que os pneumáticos inservíveis abandonados ou dispostos inadequadamente constituem passivo ambiental, que resulta em sério risco ao meio ambiente e à saúde pública; Considerando que não há possibilidade de reaproveitamento desses pneumáticos inservíveis para uso veicular e nem para processos de reforma, tais como recapagem, recauchutagem e remoldagem; Considerando que os pneumáticos novos, depois de usados, podem ser utilizados em processos de reciclagem; (nova redação dada pela Resolução n.º 301/02) Considerando a necessidade de dar destinação final, de forma ambientalmente adequada e segura, aos pneumáticos inservíveis [...] (Resolução CONAMA 258, preâmbulo). A Resolução previa ações conjuntas da iniciativa privada (em especial) e do poder público (em particular) para dar a destinação correta aos pneus inservíveis. Porém, ações também eram previstas antes de os pneus se tornarem inservíveis, ou seja, não poder mais rodar em nenhuma circunstância. Na Resolução CONAMA 258, previa-se 161 desde o início, a responsabilização dos fabricantes e importadores sobre a destinação correta dos pneus inservíveis. Nesta normativa, publicada em 1999, e alterada posteriormente pela Resolução n.º 301/02, as empresas envolvidas na fabricação/importação receberam gradualmente maior carga de responsabilidade, em anos específicos. O Art. 1º dessa resolução, determinava que, Art.1º - As empresas fabricantes e as importadoras de pneumáticos para uso em veículos automotores e bicicletas ficam obrigadas a coletar e dar destinação final, ambientalmente adequada, aos pneus inservíveis existentes no território nacional, na proporção definida nesta Resolução relativamente às quantidades fabricadas e/ou importadas. (nova redação dada pela Resolução n.º 301/02). A determinação da Resolução é que as empresas recolhessem pneus inservíveis e dessem destinação correta em proporções pré-determinadas em relação aos pneus fabricados/importados ou montados em veículos importados. O texto da Lei, no Art. 3º, definia que: Art. 3º - Os prazos e quantidades para coleta e destinação final, de forma ambientalmente adequada, dos pneumáticos inservíveis resultantes de uso em veículos automotores e bicicletas de que trata esta Resolução, são os seguintes: (nova redação dada pela Resolução n.º 301/02) I - a partir de 1º de janeiro de 2002: para cada quatro pneus novos fabricados no País ou pneus importados, novos ou reformados, inclusive aqueles que acompanham os veículos importados, as empresas fabricantes e as importadoras deverão dar destinação final a um pneu inservível; (nova redação dada pela Resolução n.º 301/02) II - a partir de 1º de janeiro de 2003: para cada dois pneus novos fabricados no País ou pneus importados, novos ou reformados, inclusive aqueles que acompanham os veículos importados, as empresas fabricantes e as importadoras deverão dar destinação final a um pneu inservível; (nova redação dada pela Resolução n.º 301/02) III - a partir de 1º de janeiro de 2004: a) para cada um pneu novo fabricado no País ou pneu novo importado, inclusive aqueles que acompanham os veículos importados, as empresas fabricantes e as importadoras deverão dar destinação final a um pneu inservível; b) para cada quatro pneus reformados importados, de qualquer tipo, 162 as empresas importadoras deverão dar destinação final a cinco pneus inservíveis; IV - a partir de 1º de janeiro de 2005: a) para cada quatro pneus novos fabricados no País ou pneus novos importados, inclusive aqueles que acompanham os veículos importados, as empresas fabricantes e as importadoras deverão dar destinação final a cinco pneus inservíveis; b) para cada três pneus reformados importados, de qualquer tipo, as empresas importadoras deverão dar destinação final a quatro pneus inservíveis. Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica aos pneumáticos exportados ou aos que equipam veículos exportados pelo País. No ano de 2009, a Resolução 258 foi revogada pela Resolução 416, de 30 de setembro de 2009. No mais lógico, visto que o horizonte de tempo previsto na Resolução 258 já havia transcorrido, assim, a partir da Resolução 416, determina-se que, Art. 3º - A partir da entrada em vigor desta resolução, para cada pneu novo comercializado para o mercado de reposição, as empresas fabricantes ou importadoras deverão dar destinação adequada a um pneu inservível. § 1º Para efeito de controle e fiscalização, a quantidade de que trata o caput deverá ser convertida em peso de pneus inservíveis a serem destinados. § 2º Para que seja calculado o peso a ser destinado, aplicar-se-á o fator de desgaste de 30% (trinta por cento) sobre o peso do pneu novo produzido ou importado. Art. 4º - Os fabricantes, importadores, reformadores e os destinadores de pneus inservíveis deverão se inscrever no Cadastro Técnico Federal - CTF, junto ao IBAMA. Art. 5º - Os fabricantes e importadores de pneus novos deverão declarar ao IBAMA, numa periodicidade máxima de 01 (um) ano, por meio do CTF, a destinação adequada dos pneus inservíveis estabelecida no Art. 3º. Podemos resumir os direcionamentos dados por essa Resolução na Figura 2, a seguir: 163 Figura 2 – Possíveis destinações dos pneus no Brasil Fonte: Rossi et al. (2019, p. 118). O fluxograma acima apresenta os possíveis destinos dos pneus pós-consumo: os pneus inservíveis podem ir para coprocessamento, laminação, asfalto ou artefatos, enquanto os pneus em condições podem ir para remoldagem, reforma ou recapagem, voltando ao mercado consumidor. Além do que a figura 2 demonstra, a Resolução Conama 416/09 determina a obrigatoriedade de instalação de ponto de coleta de pneus, por parte de fabricantes e importadores, em municípios acima de 100 mil habitantes. A Lei está em pleno vigor, porém, pelas montanhas de pneus em locais inadequados, há ainda um grande trabalho a ser feito, principalmente com o legado de pneus depositados em locais inadequados, do período anterior à legislação regulamentadora. Gardin, Figueiró e Nascimento (2010, p. 2) mencionam que 164 De acordo com a ANIP (Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos), entidade que representa os fabricantes de pneus novos no Brasil, pneus inservíveis são aqueles que não podem mais rodar em veículos automotivos, mesma terminologia utilizada para este estudo. A ausência de dados sobre o destino de pneus inservíveis no Brasil não permite determinar com exatidão o passivo ambiental gerado. No entanto, uma estimativa baseada na frota de veículos indica que são geradas mais de 44 milhões de carcaças de pneus anualmente e que existem mais de 100 milhões de pneus abandonados em todo o país. Já nos EUA, considerado o país que mais produz pneus inservíveis, estima-se que sejam dispostos 273 milhões de pneus por ano, o que representa mais de um pneu por habitante ao ano. Alguns números da Logística Reversa dos pneus, porém, são animadores. De acordo com a ABELPRE, entre 1999 e 2017, cerca de 4,5 milhões de toneladas de pneus inservíveis foram coletadas e corretamente destinadas – o equivalente a 916 milhões de pneus de carros de passeio. Os pontos de coleta eram 85 em 2004, atingiram 1.718 em 2017. Entre 2016 e 2017, houve aumento de 0,22% na quantidade de pneus recuperados: de 457.000 toneladas em 2016 para 458.000 em 2017. Algumas propostas para esses pneus inservíveis são destacadas pela FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo: Combustível para fornos de cimenteiras, cal, papel e celulose - O pneu é um grande gerador de energia, seu poder calorífico é de 12 mil a 16 mil BTUs por quilo, superior ao do carvão. Pisos industriais, solados, tapetes de automóveis e borracha de vedação – Depois do processo de desvulcanização e adição de óleos aromáticos resulta uma pasta, a qual pode ser usada para produzir estes produtos, entre outros. Recauchutagem ou fabricaçãode novos pneus – O pó de pneu é reutilizado como parte da formulação de bandas de rodagem. Compostagem – O pneu não pode ser transformado em adubo, mas sua borracha cortada em pedaços de 5 cm pode servir para adição 165 de compostos orgânicos. Pavimentação de estradas – Pó gerado pela recauchutagem e os restos de pneus moídos podem ser misturados ao asfalto aumentando sua elasticidade e durabilidade. Contenção de erosão do solo – Pneus inteiros associados a plantas de raízes grandes podem ser utilizados para ajudar na contenção da erosão do solo. Equipamentos para playground – Balanços e protetores de brinquedos para amenizar as quedas e evitar acidentes. Reprodução de animais marinhos – No Brasil é utilizado como estruturas de recifes artificiais no mar para criar ambiente adequado para reprodução de animais marinhos (FAPESP, 2008, on-line). Na reciclagem dos pneus busca-se, através de processos físicos e químicos, a separação dos componentes que são a borracha, o nylon e o aço. A utilização da borracha granulada tem obtido bons resultados em misturas asfálticas. Note então, que um produto que na natureza provoca tantos danos pode ser utilizado como insumo em outro ciclo produtivo, como o da construção civil. Esse é um dos principais princípios da logística reversa. Como outra alternativa aos pneus, está seu reúso através de técnicas de reforma ou renovação. Razzolini Filho e Berté (2013, p. 159) descrevem duas possibilidades para este tipo de aproveitamento: 1) Remoldagem: conhecida também como pneu remold, que é a substituição da banda de rodagem e de toda a superfície do pneu. 2) Recauchutagem: o processo ocorre por meio de substituição apenas da banda. Nesse caso, o pneu pode ser reaproveitado, desde que não apresente falhas como cortes, furos, deformações, sulcos etc. A recauchutagem não pode ser feita por mais de duas vezes. O mercado de pneus remold e recauchutados no Brasil é bastante expressivo. 166 Acesse o link: Disponível aqui A economia proporcionada pelo uso de pneus reformados, especialmente no transporte de cargas no Brasil (cuja matriz de transporte é primariamente baseada no modal rodoviário), é significativa. Veja mais sobre o assunto. A Logística Reversa das Embalagens A maior parte do que consumimos chega até nossas mãos em embalagens. O cumprimento de uma das funções logísticas, de fazer chegar o produto certo, nas condições corretas ao consumidor, é também proporcionado por embalagens. O Brasil é bem servido no que se refere à indústria de embalagens: 18 das 20 maiores indústrias mundiais do segmento de embalagens atuam no país (MESTRINER, 2014). 167 https://www.cnt.org.br/agencia-cnt/conheca-vantagens-utilizar-pneus-reformados A pujança desta indústria é revelada por números expressivos: Em 2013, a receita bruta dos fabricantes de embalagens foi de R$ 52,36 bilhões, maior que os R$ 46,7 bilhões de 2012. A perspectiva de crescimento é de 1,7% em 2014 (MESTRINER, 2014). Xavier (2014, p. 74) complementa esse cenário rentável por trazer os seguintes dados: Os cinco maiores consumidores de embalagens do mundo – Estados Unidos, China, Japão, Alemanha e França – gastaram US$ 361 bilhões em acondicionamento dos produtos em 2011. Para 2016, as projeções indicam um valor de US$ 439,6 bilhões. No Brasil, esses gastos atingiram US$ 25 bilhões em 2011 no composto geral de embalagens, com uma projeção de US$ 30,8 bilhões para 2016, segundo a pesquisa Datamark/Brasil, Food Trends 2020, promovida pelo Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL). No gráfico 1, conseguimos visualizar, no caso do Brasil, a composição das matérias- primas na indústria de embalagens: 168 Gráfico 1: Segmentação por tipo de matéria-prima em embalagens Fonte: Xavier (2014, p. 74). O gráfico indica o percentual de embalagem por tipo de material. O material constituído por papel, papelão e cartão representa o percentual maior (33%), seguido de plástico com 30%, metal com 26%, vidro com 9%, e madeira com 2%. Também no setor de embalagens, escancara-se uma realidade incômoda: ao mesmo tempo em que são absolutamente necessárias aos processos logísticos e na disponibilização de produtos aos consumidores, também provocam um problema ambiental muito sério. Para se ter ideia, veja este comentário de Mestriner (2014, p. 68): Um fabricante de cereal matinal produz 45 milhões de caixas por mês, ou um milhão e meio de embalagens por dia, uma única marca de sabonete consome mais de 200 toneladas por mês de papel cartão para suas caixinhas e um fabricante de doces coloca no mercado mensalmente 4,5 milhões de quilos de balas embaladas uma a uma. A isso se somam as garrafas de vidro, PET, latas de alumínio, embalagens de produtos farmacêuticos e hospitalares, entre tantos outros. As embalagens compõem o rol dos materiais classificados como Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) cujo tratamento impacta 169 Mestriner (2014) traça um mapa da reciclagem onde destaca que: a. 275.587 brasileiros produzem 190.000 toneladas de lixo por dia, onde: 1) 87% são coletadas e 2) 13% são jogadas na rua b. Do que é coletado, a composição deste lixo é de: 1) 51,4% resíduos orgânicos 2) 16,7% outros resíduos e 3) 28,9% de embalagens. c. Das embalagens recolhidas: 1) 34,7% vão para o lixão e 2) 65,3% voltam para as fábricas. Um fato que chama a atenção – e que é, de certa forma, animador – é que a indústria de embalagem tem interesse na reciclagem desses materiais e procura, através de diversas ações, incentivar essa prática. Embalagens de vidro, papéis, alumínio, tudo pode ser reaproveitado. Por exemplo, o vidro é considerado um material que tem a possibilidade teórica de reciclagem infinita, conforme mostra a Figura 3 a seguir: diretamente no poder público municipal, por serem destinadas na maior parte ao lixo urbano. 170 Figura 3: Ciclo de reciclagem do vidro Fonte: Saiani, Dourado, Toneto Júnior (2014, p. 283). A figura acima mostra o ciclo de reciclagem do vidro, considerado em teoria como um ciclo infinito, passando da matéria-prima para as indústrias vidreiras, revendidos para os envasadores como embalagens, distribuídos em todo o país, adquiridos pelos consumidores e depois coletados, no pós-consumo, sendo limpos, triturados e tornando-se novamente matéria-prima. 171 Um dos grandes problemas para uma maior efetividade do retorno das embalagens em processos reversos tem a ver com o custo de coleta destes materiais. Os programas de coleta seletiva das prefeituras municipais custam em média 4 vezes mais que a coleta convencional. Mestriner (2014) comprova esta dificuldade por informar que, no Rio de Janeiro, apenas 1% do lixo coletado é pelo método de coleta seletiva e, em São Paulo, cerca de 2%. Números insignificantes, não acha? Alguns setores específicos, devido à própria legislação, conseguem números mais expressivos de retorno das embalagens. No Brasil, um caso de sucesso é o das embalagens de agrotóxicos. Sobre este setor, Xavier (2014, p. 75) destaca que Atualmente, o Brasil ocupa o posto de país que mais recolhe embalagens vazias de agrotóxicos. Em 2013, o mercado brasileiro bateu novo recorde na categoria, ao promover o recolhimento de 94% das embalagens devolvidas pelos agricultores. Enquanto isso, a França, por exemplo, recolheu 77% de suas embalagens vazias. Na Alemanha, o índice foi de 67% (nota do autor: pelo menos nisso ganhamos da Alemanha!). No Japão, o retorno gira em torno de 50%. Já nos EUA, a média é de 33%. A legislação estabelece a obrigação do produtor rural em devolver em até 1 ano as embalagens dos defensivos agrícolas adquiridos. O resultado de programas de recolhimento de embalagens tem sido promissor. Veja a evolução desta performance no Gráfico 2: 172 Gráfico 2: Quantidades de embalagens vazias de agroquímicos recolhidas no Brasil (em mil toneladas) Fonte: Xavier (2014, p. 75). O gráfico mostra a evolução da quantidade percentual de embalagens vazias de agroquímicos recolhidas no Brasil, passando de 24,4% em 2008 para 40,4% em 2013. Em materiaiscomo as embalagens PET (Tereftalato de Etileno), a cadeia reversa está bem estabelecida. Xavier (2014) observa que o índice de reciclagem das embalagens PET no Brasil já atingiu a casa dos 59%. Há uma preocupação com relação à falta de matéria-prima para as indústrias de reciclagem, pois nem sempre o preço pago aos participantes desta cadeia – especialmente os catadores e cooperativas – é compensador. A cadeia reversa do PET é bastante abrangente, conforme você pode perceber na Figura 4: 173 Figura 4: Cadeias das embalagens PET no Brasil Fonte: Formigoni, Santos e Medeiros (2014, p. 119). Veja as cadeias direta e reversa das embalagens PET, sendo que na cadeia reversa temos três etapas: recuperação, revalorização e transformação. A figura mostra o papel importante do consumidor em dar destinação a esse tipo de embalagem. 174 Note, na Figura 4, as várias possibilidades e caminhos para esse tipo de embalagem, tão utilizada pelas indústrias e que, de certa forma, é considerada prática pelos próprios consumidores. A Logística Reversa das Embalagens de Alumínio Um material que atrai um contingente muito grande de interessados é a embalagem de alumínio. A expressão máxima deste material são as latinhas de alumínio, tão populares em bebidas como refrigerantes, sucos e cervejas. O que atrai tanto interesse neste material é seu aspecto de facilidade de recuperação de valor e os preços pagos aos participantes da cadeia reversa. 175 De acordo com Farha (2010, p. 4), Devido às suas propriedades, o alumínio tornou-se um material versátil e é utilizado de diversas formas na indústria. Seus diferenciais ou vantagens vêm fazendo com que o alumínio seja explorado cada vez mais nas indústrias de bebidas devido ao fato de ser leve, atóxico, ter condutibilidade térmica, levando em conta que, geralmente, as bebidas são consumidas geladas acaba sendo uma conveniência ao consumidor, facilita para o consumidor, a impermeabilidade e opacidade que faz com que o material não permita a passagem de umidade, luz e oxigênio de forma que não deteriore o produto, pois é um metal nobre e limpo e permite aplicações de diferentes tipos de tintas podendo, assim, caracterizar da forma que preferir, possui também uma enorme durabilidade. A principal característica é o poder de reciclagem reaproveitando praticamente todo o alumínio, pois a perda é insignificante, ou seja, é considerado que 100% do alumínio pode ser reaproveitado. Acompanhe, na Figura 5, a dinâmica do ciclo reverso das latas de alumínio. 176 Figura 5: Ciclo completo das latas de alumínio Fonte: Farha (2010, p. 4). A figura mostra as diversas etapas do processo de reciclagem das embalagens de alumínio, partindo da etapa da compra pelo consumidor, o consumo, a coleta, a prensagem, a fundição, o lingotamento, a laminação, a produção de novas latas e encerrando no retorno ao consumo. Este processo é altamente compensador para a indústria que gasta apenas 5% da energia necessária para produzir a mesma quantidade de material em relação à matéria-prima primária. 177 Gráfico 3: Índice de reciclagem da lata de alumínio para bebidas – 1991 a 2017 Fonte: Disponível aqui No Gráfico 3, mede-se a eficiência da cadeia reversa das latas de alumínio. O gráfico indica a evolução da reciclagem de latas de alumínio para bebidas, comparando a performance do Brasil, em relação ao Japão, Argentina, EUA e Europa. O Brasil tem a linha com maior performance entre essas regiões. Estamos muito bem neste segmento, assim como no caso das embalagens de agroquímicos, não concorda? 178 http://www.abralatas.org.br/grafico/grafico-8/ 16 Aspectos Sociais da Logística Reversa no Brasil A PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos), já considerada neste livro, prevê, como vimos, a inserção e participação da sociedade nos processos de tratamento dos resíduos produzidos pelas próprias pessoas. Alguns segmentos são destacados, como a participação de catadores e suas cooperativas na Logística Reversa dos resíduos sólidos. No Art. 7º, a lei preconiza que os processos devem estimular a “XII - integração dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis nas ações que envolvam a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos” (Lei 12305 de 02.08.2010). É evidente que, assim como qualquer atividade produtiva, a viabilidade da inserção de pessoas e organizações (mesmo pequenas, como as cooperativas) acontece quando há uma justa remuneração dos participantes. O mercado costuma impor suas regras também neste caso. Dependendo da demanda pelos materiais reciclados, estes podem ter valores mais ou menos compensadores. No caso dos materiais coletados, os preços sendo, portanto, variáveis, não há como estabelecer um referencial único. É interessante observarmos o tamanho da cadeia reversa na coleta seletiva: 1. 86% da coleta vai para lixões e aterros; 2. 14% dos municípios brasileiros têm coleta seletiva; 3. Há 800.000 catadores no Brasil; 4. No país também existem 1200 cooperativas; 5. Temos 34.400 cooperados nas cooperativas de catadores no Brasil; 6. Foi de R$10 bilhões o faturamento com reciclagem em 2012. Fonte: (XAVIER, 2014, p. 76). 180 A participação de um contingente de cerca de 800.000 pessoas institui um movimento social que não pode passar despercebido pelo poder público e pela própria sociedade. Esses trabalhadores buscam organizar-se em entidades representativas, como o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Reciclados (MNCR), que já tem 12 anos de história. Algumas prefeituras aproximam-se desses movimentos e buscam, através de parcerias, proporcionar condições para que a geração de renda possa realmente ser um fator modificador das condições de vida dessas pessoas. Muitas prefeituras têm feito um excelente trabalho nesse sentido, ao ponto de viabilizar a geração de renda suficiente para sustentar um número expressivo de famílias que vivem dessa atividade. Alguns números chamam a atenção pelo trabalho realizado pelos trabalhadores que coletam materiais no Brasil. No Gráfico 4, a seguir, mostra-se o volume coletado por cooperativas e associações de catadores: 181 Gráfico 4: Volume total coletado pelas cooperativas e associações de catadores, por tipo de material (toneladas e % do total) Fonte: Abrelpe (2020, p. 56). Vejam que comparando o volume coletado por cooperativas e associações de catadores entre os anos de 2017 e 2018, por materiais coletados. O papel representa o maior volume, mas teve queda de 2017 para 2018, o que aconteceu também com os outros tipos de materiais, como plásticos, vidros, outros metais, alumínio e orgânicos. 182 Acesse o link: Disponível aqui Uma possibilidade prática de viabilizar a atividade dos catadores é o convênio com o poder público. Veja, no vídeo a seguir, como isso pode acontecer. O gráfico mostra que o trabalho realizado realmente é relevante, porém, uma ampla discussão deve ser realizada quanto a essas iniciativas que, de forma alguma, são uma unanimidade. Se, por um lado, considera-se louvável que o poder público e a própria sociedade reconheçam o papel fundamental dos catadores nos processos de logística reversa, por outro, há que se pensar em outros caminhos para essas famílias que não envolvam o contato com materiais perigosos, poluentes e contaminantes. Embora, como pesquisador da área, tenha minha posição sobre o assunto, gostaria que você pensasse seriamente na questão e formasse seu próprio juízo de valor. 183 https://www.youtube.com/watch?v=r2I1Qqyk6nc Primeiro mercado de créditos de logística reversa de embalagens do Brasil está em operação 22 de maio de 2014 Segundo a definição do Ministério do Meio Ambiente (MMA), logística reversa é um “instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação”. Com a promessa de ajudar naimplementação desse conceito, o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), em parceria com a Bolsa Verde do Rio de Janeiro (BVRio), começou a comercializar os primeiros créditos de logística reversa de embalagens do Brasil. A intenção desse novo mercado é aproximar os catadores das empresas que precisam cumprir metas na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). De acordo com a PNRS, criada em 2010, companhias devem promover a logística reversa de embalagens pós-consumo envolvendo, neste processo, os catadores brasileiros que hoje são mais de 800 mil pessoas. O mercado funciona distribuindo créditos para os catadores depois de uma análise de suas atividades, sendo que a quantidade e o valor deles variarão conforme o material dos resíduos trabalhados. Em seguida, os créditos podem ser vendidos para as empresas, facilitando, assim, a relação entre a iniciativa privada e as cooperativas. A primeira empresa interessada no mercado foi o Grupo Boticário, deve adquirir o equivalente a 1.200 toneladas em créditos. “Estamos alavancando o mercado de Créditos de Logística Reversa no país. Esta ação está conectada ao nosso plano estratégico de longo prazo em sustentabilidade. Nosso objetivo é contribuir, de forma efetiva, com o desenvolvimento da sociedade e a proteção ao meio ambiente. E acreditamos que uma das etapas importantes para a redução do impacto ambiental é a destinação correta de embalagens pós-consumo”, disse Artur Grynbaum, presidente do Grupo Boticário. 184 Fonte: Disponível aqui O valor total das transações do Boticário não foi divulgado, mas pelo portal da BVRio é possível ver a cotação dos vários tipos de créditos, que estão atualmente avaliados na faixa de R$ 100 a unidade. 185 https://carollinasalle.jusbrasil.com.br/noticias/120463157/primeiro-mercado-de-creditos-de-logistica-reversa-de-embalagens-do-brasil-esta-em-operacao?ref=feed Conclusão Prezado aluno, Ao final dessa disciplina, gostaria de agradecer por ter se engajado em obter conhecimentos tão relevantes, relacionados à sustentabilidade e aos processos organizacionais, temas da Logística Reversa. Conforme vimos ao longo de nossas aulas, há uma discussão acalorada sobre o modelo econômico hegemônico e suas implicações para a continuidade da vida humana na terra, visto que o modelo é altamente demandante de recursos naturais. Não podemos fechar os olhos quanto aos impactos ambientais das atividades humanas, ao mesmo tempo em que não podemos ter romantismos quanto às facilidades proporcionadas pelo desenvolvimento tecnológico. Todos nós nos beneficiamos com os avanços tecnológicos, em vários campos de nossas vidas, passando da educação aos cuidados médicos, da alimentação à mobilidade. Porém, fechar essa equação de desenvolvimento com preservação é desafiador. Portanto, as empresas precisam pensar alternativas para seu modelo de produção e repensar processos, design e distribuição para que os impactos sejam mitigados e se estabeleça uma nova lógica produtiva, em que não se desperdice aquilo que já foi obtido da natureza. De forma prática, temos os processos da logística reversa retornando os bens de pós- consumo e pós-venda para os canais de distribuição e, junto com isso, a arquitetura da disposição correta desses bens. O mundo ideal seria aquele em que nada – ou ao menos aquilo que não tenha uma degradação natural e rápida - precisasse ser depositado em aterros e sim, que fosse reaproveitado como insumo, como matéria- prima para outros processos de produção. Estamos caminhando nessa direção. Vamos acompanhar com muito interesse as iniciativas e pesquisas nesse sentido. No mais, quero te incentivar a ficar cada vez mais conectado com as discussões que acontecem a todo momento na temática da sustentabilidade. Todos estamos envolvidos, quer queiramos ou não. Nosso futuro e de nossos filhos depende disso. Sucesso! Prof. Me. Paulo Pardo 186 Material Complementar Livro Logística Reversa e Sustentabilidade Autor: André Luis Pereira et al. Editora: Cengage Learning Sinopse: o tema Logística Reversa e Sustentabilidade normalmente está associado às funções de pós-venda e pós- consumo. Logo, esta área do conhecimento está associada a temas já conhecidos pelo público-alvo desta obra. No entanto, o objetivo deste livro é apresentar a logística reversa, alinhando o seu conteúdo à sustentabilidade e ao controle de resíduos nas organizações. Além disso, propõe pensar e expor os conhecimentos sobre a logística reversa e sustentabilidade de forma inovadora, com a adoção de novos conceitos e instigando os leitores a gerir as organizações em geral, em busca dos melhores resultados e benefícios para a sociedade. Filme A Conspiração da Lâmpada Ano: 2010 Sinopse: a história não contada da obsolescência planejada: Era uma vez ... bens de consumo construídos para durar. Então, em 1920, um grupo de empresários percebeu que quanto mais tempo durasse seu produto, menos dinheiro ele faria, assim, nasceu a obsolescência planejada e os produtos começaram a falhar desde então. Comentário: Documentário imperdível. Vivemos neste mundo e nos inserimos na sociedade, às vezes, sem pensar em como somos manipulados pelo status quo. Para quem é mais novo então fica mais complicado. Para minha geração, ou a dos meus pais, adquirir produtos com alta durabilidade era comum, e sem 187 percebermos hoje vivemos a era do descartável. Tudo bem que há o lado da economia, do capitalismo, mas precisa ser assim tão selvagem a ponto de perdermos nossos valores mais importantes? O mundo é grande o suficiente para satisfazer a necessidade de todos, mas sempre será pequeno demais para satisfazer a ganância individual. 188 ABDALLA, Fernando A.; SAMPAIO, Antônio C. F. Os novos princípios e conceitos inovadores da Economia Circular. Revista Entorno Geográfico. Universidad del Valle. 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As Questões Logísticas e a Competitividade Empresarial Entendendo o Conceito de Logística Reversa Custos em Logística Reversa – O que Avaliar A Classificação dos Bens de Pós-Consumo e os Canais de Distribuição Reversos de Pós-Consumo – CDR PC A Descartabilidade na Logística Reversa e a Disposição de Bens de Pós-Consumo Objetivos Econômicos da Logística de Pós-Consumo Canais de Distribuição Reversos de Pós-Venda – CDR PV Objetivos Estratégicos da Logística Reversa de Pós-venda Seleção e Destinação dos Produtos em Devolução O Fator Legal como Motivador da Logística Reversa Tendências Regulatórias nas Questões Ambientais A Legislação Ambiental e o Impacto na Logística Reversa As Bases para a Economia Circular - Uma Nova Fronteira para o Consumo A Logística Reversa: da Construção Civil, dos Pneus e das Embalagens Aspectos Sociais da Logística Reversa no Brasil