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LOGÍSTICA REVERSA Prof. Me. PAULO PARDO Reitor Márcio Mesquita Serva Vice-reitora Profª. Regina Lúcia Ottaiano Losasso Serva Pró-Reitor Acadêmico Prof. José Roberto Marques de Castro Pró-reitora de Pesquisa, Pós-graduação e Ação Comunitária Profª. Drª. Fernanda Mesquita Serva Pró-reitor Administrativo Marco Antonio Teixeira Direção do Núcleo de Educação a Distância Paulo Pardo Coordenadora Pedagógica do Curso Ana Lívia Cazane Designer Educacional Juliana Spadoto Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico B42 Design *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Universidade de Marília Avenida Hygino Muzzy Filho, 1001 CEP 17.525–902- Marília-SP Imagens, ícones e capa: ©envato, ©pexels, ©pixabay, ©Twenty20 e ©wikimedia G915b Sobrenome, Nome autor Titulo Disciplina [livro eletrônico] / Nome completo autor. - Marília: Unimar, 2020. PDF (XXX p.) : il. color. ISBN XXX-XX-XXXXX-XX-X 1. palavra 2. palavra 3. palavra 4. palavra 5. palavra 6. palavra 7. palavra 8. palavra I. Título. CDD – 610.6952017 Introdução O tema Sustentabilidade tem pautado a agenda da sociedade nas últimas décadas, embora muitos não se deem conta de que estão pessoalmente envolvidos na questão. As pessoas, de modo geral, ainda não têm plena consciência de qual papel podem desempenhar no intrincado tecido ecológico que pertencemos e quanto mais distante do mundo natural estivermos, maior a dificuldade para enxergar isso. Muitos nasceram, cresceram e vivem em grandes metrópoles a vida toda, sem ter ideia de como suas ações impactam o meio ambiente, comprometendo o abastecimento de água, o saneamento, as encostas, o clima, pois a noção de que o homem é o centro do universo – visão antropocentrista – domina a consciência de muitos. Felizmente, setores organizados da sociedade têm se mobilizado para mudar essa realidade. Até mesmo os empresários, quer para manter seus clientes – mais exigentes, ambientalmente falando – quer para não serem autuados pelos governantes, têm trabalhado para estabelecer e manter ações para mitigar os efeitos ambientais danosos da atividade empresarial sobre a sociedade. Esse movimento deu origem ao que conhecemos como Logística Reversa, tema da nossa disciplina, para a qual te convido a mergulhar a partir de agora. Bons estudos! Prof. Me. Paulo Pardo 3 005 Aula 01: 017 Aula 02: 023 Aula 03: 033 Aula 04: 049 Aula 05: 059 Aula 06: 067 Aula 07: 073 Aula 08: 084 Aula 09: 096 Aula 10: 108 Aula 11: 116 Aula 12: 123 Aula 13: 136 Aula 14: 145 Aula 15: 179 Aula 16: O Desafio da Sustentabilidade: O que Você tem a Ver com Isso? As Questões Logísticas e a Competitividade Empresarial Entendendo o Conceito de Logística Reversa Custos em Logística Reversa – O que Avaliar A Classificação dos Bens de Pós-Consumo e os Canais de Distribuição Reversos de Pós-Consumo – CDR PC A Descartabilidade na Logística Reversa e a Disposição de Bens de Pós-Consumo Objetivos Econômicos da Logística de Pós-Consumo Canais de Distribuição Reversos de Pós-Venda – CDR PV Objetivos Estratégicos da Logística Reversa de Pós-venda Seleção e Destinação dos Produtos em Devolução O Fator Legal como Motivador da Logística Reversa Tendências Regulatórias nas Questões Ambientais A Legislação Ambiental e o Impacto na Logística Reversa As Bases para a Economia Circular - Uma Nova Fronteira para o Consumo A Logística Reversa: da Construção Civil, dos Pneus e das Embalagens Aspectos Sociais da Logística Reversa no Brasil 01 O Desafio da Sustentabilidade: O que Você tem a Ver com Isso? Quando você ouve a palavra “sustentabilidade”, o que lhe vem à mente? Essa palavra, originária do verbo “sustentar”, tem vários significados nos dicionários, e alguns que nos interessam podem ser: "Manter; Alimentar.” Ademais, o próprio termo “sustentável” pode significar “Que pode se sustentar; que se defende” (KLEIN, 2015, p. 515). Perceba que, nos vários significados oferecidos, alguns relacionam sustentar com manter a vida. É esse foco que vamos dar a partir de agora. Olhe à sua volta! Consegue notar quantos seres, além dos humanos, habitam esta esfera azul chamada planeta Terra? Insetos, cães, gatos, pássaros, uma variedade de outras criaturas e, se você morar em uma pequena cidade ou tem facilidade de se deslocar até uma área aberta, desabitada, perceberá que esse número só aumenta. Quando os seres humanos abandonaram sua vocação extrativista e passaram a cultivar o solo e a fabricar utensílios e, com o advento muito mais recente da revolução industrial, passaram a produzir em massa produtos para consumo e a lógica da relação homem-natureza foi totalmente alterada. Ao utilizar aquilo que a natureza oferece – minerais, animais, vegetais – em uma velocidade cada vez maior para atender a demanda por produtos, a capacidade de regeneração do planeta foi vencida. É só você observar a quantidade de espécies animais que conseguimos extinguir por caça predatória e as plantas que fizemos desaparecer antes mesmo de ter a oportunidade de conhecê-las! Isso mostra que a maneira como nos relacionamos com o ambiente hoje não é saudável. 6 Em um modelo econômico em que tudo se torna recurso – o que extraímos do planeta torna-se recurso natural, as pessoas são recursos humanos, os equipamentos são recursos tecnológicos, entre tantos outros exemplos – nivelamos o nosso ambiente à simples função de fornecer aquilo que precisamos, sem nos preocupar com a velocidade de reposição natural. Assim, desrespeitamos os ciclos da vida. Agora, vamos focar mais na nossa vida moderna. Olhe à sua volta! O modo de viver das pessoas requer o constante suprimento de itens de consumo dos mais variados, desde comida industrialmente processada, transporte com veículos de propulsão à explosão (tecnologia que já tem mais de 100 anos), cuidado com saúde, lazer e hobbies, que muitas vezes envolvem produtos químicos e outros. As empresas, exemplos de organizações com fins lucrativos, suprem as necessidades – e desejos – das pessoas, e com tanta variedade, as pessoas não dão conta de comprar tudo aquilo que consideram que merecem. Para as empresas, o consumo é a forma de se manter economicamente. Para as pessoas, o consumo atende necessidades legítimas e básicas, como se alimentar, mas também desejos criados pelo seu próprio modo de vida, como o de status e reconhecimento social. 7 A população do planeta, por outro lado, cresceu vertiginosamente nos últimos séculos e especialmente no século XX. Estatísticas da Organização das Nações Unidas (ONU) dão conta de que a população mais que triplicou no último século: somos agora quase 8 bilhões de pessoas utilizando os “recursos” naturais. A produção de alimentos no mundo seria suficiente para todas as pessoas se alimentarem com dignidade, porém, devido à má distribuição de renda, um contingente importante da população – 1 em cada 8 pessoas – passa fome. Para acompanhar, acesse: Disponível aqui O aumento populacional do planeta pode ser acompanhado em tempo real. É impressionante como os números se movem, não é mesmo? 8 https://www.worldometers.info/br/ Figura 1 - O economista britânico Thomas Malthus (1766 - 1834), considerado o pai da demografia, e uma das primeiras versões do seu ensaio sobre os princípios populacionais (1798). Fonte: Wikipédia Você ainda pode estar se perguntando: e o que eu tenho a ver com isso? Aquilo que vimos até agora tem outras implicações: se consumimos os recursos do planeta em uma velocidade maior do que a de seus ciclos de recuperação, o que acontece com nosso modo de vida e de consumo? Evidentemente, é uma conta que não fecha. Não há como manter uma estrutura de exploração-consumocomo a que temos, indefinidamente. E faz bastante tempo que isso é discutido. No século XVIII, o reverendo britânico Thomas Malthus emitiu um prognóstico sombrio: segundo ele, enquanto a produção de alimentos aumentasse de forma aritmética ou linear, a população cresceria de forma geométrica ou exponencial. Em algum momento, a fome se instauraria no mundo e, por via de consequência, o caos. 9 As teorias malthusianas não se confirmaram com o tempo, porém, há uma corrente de pensamento que faz o alerta de que o consumo de recursos de fato aumentou de forma acentuada – não só de alimentos, mas de tantos outros insumos naturais. O responsável por isso seria o modo de consumo alimentado pelo sistema capitalista e consumista pregado principalmente na sociedade ocidental. No século XX, a preocupação com o aumento populacional e o consumo com os consequentes impactos no meio ambiente ganhou força devido a vários acontecimentos e eventos marcantes: chuvas ácidas na Europa, o mercúrio da baía de Minamata no Japão, que originou até uma nova doença (doença de Chisso Minamata), o lançamento em 1962 do livro Primavera Silenciosa de autoria de Rachel Carson, que é considerado o marco do nascimento do movimento ambientalista, além de um estudo que partiu de uma origem improvável: grandes capitalistas, aliados a cientistas e políticos, compuseram o chamado Clube de Roma. Esse grupo encomendou uma pesquisa ao renomado MIT (Massachusetts Institute of Technology) sobre os possíveis impactos ambientais causados pelas atividades econômicas. O MIT produziu um documento que ficou conhecido como Relatório Meadows ou Os Limites do Crescimento. Nesse relatório, é nítida a inspiração de Malthus sobre o risco do aumento populacional. Por essa razão, os adeptos das conclusões desse relatório ficaram conhecidos como neomalthusianos e passaram a pregar um freio ao crescimento populacional na tese da chamada Teoria do Crescimento Zero. Na visão desses estudiosos, a única saída seria uma paralisação do desenvolvimento para que se preservassem os recursos naturais. Nas conclusões, constava o seguinte: É preciso mudar essas tendências de crescimento e formar uma condição de estabilidade ecológica e econômica que possa ser mantida até um futuro remoto. O estado de equilíbrio global poderá ser planejado de modo que as necessidades materiais básicas de cada pessoa na Terra sejam satisfeitas, oferecendo-se oportunidades iguais para que todos realizem seu potencial humano individual. O resultado será um declínio súbito e incontrolável, tanto da população quanto da capacidade de produção industrial. É preciso mudar essas tendências de crescimento e formar uma condição de estabilidade ecológica e econômica que possa ser mantida até um futuro remoto. O estado de equilíbrio global poderá ser planejado de modo que as necessidades materiais básicas de cada pessoa na Terra sejam satisfeitas, oferecendo-se oportunidades iguais para que todos realizem seu potencial humano individual (CURI, 2011, p. 24). A discussão sobre a complexa relação entre economia e ecologia continuou ao longo dos anos. Em 1972, realiza-se a Conferência de Estocolmo que discute novamente a preservação ambiental e a industrialização. Essa discussão é considerada um marco, 10 Figura 1 - O Parlamento sueco, onde foram realizadas as reuniões da Conferência Fonte: Wikipédia pois o elemento político foi incluído, afinal, é a política que dirige o mundo. Diplomatas de diversos países estiveram presentes e, junto com cientistas, aprovaram uma Declaração sobre o Meio Ambiente Humano, com 110 recomendações e 26 princípios (CURI, 2011). Começa em Estocolmo também um embate entre países desenvolvidos e os países em desenvolvimento. Enquanto os primeiros defendem a preservação total do meio ambiente, o bloco dos países em desenvolvimento se opõe, pois, segundo sua visão, não é justo privá-los dos benefícios que o crescimento econômico poderia trazer às suas populações. Aliás, o crescimento econômico permeia as discussões ambientais até hoje. Afinal, é possível ter crescimento econômico e ao mesmo tempo preservar a natureza? Essa dicotomia alimenta outra discussão: uma corrente muito forte defende que os maiores impactos sobre o meio ambiente advêm da pobreza das nações, enquanto outra linha assevera que os impactos são provocados pelos países industrializados. 11 Dicotomia: termo que se refere a dois conceitos opostos Mas é em 1987, sob a batuta da ONU, mais especificamente da Comissão Mundial para o desenvolvimento e Meio Ambiente (CMDMA), após discussões iniciadas quando da constituição desta Comissão em 1983, que se produziu um documento que se tornou um divisor de águas quando se toca no tema sustentabilidade. Esse documento, conhecido como relatório Nosso Futuro Comum ou Relatório Brundtland (em razão dessa comissão ter sido liderada por Gro Brundtland, então primeira-ministra da Noruega), propôs uma conceituação para o que se convenciona chamar de desenvolvimento sustentável: “Desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras de atenderem as suas próprias necessidades” (BARBIERI, 2007, p. 93). 12 Seguindo tal raciocínio, seria perfeitamente possível atender às necessidades das gerações atuais em termos de consumo e ao mesmo tempo preservar os recursos, de modo que futuras gerações também possam ter o mesmo acesso a esses mesmos recursos. Esse pensamento permeia a forma como políticos, ambientalistas de uma linha mais positivista, empresários e uma corrente importante da academia enxergam a realidade econômica e social atual. Proposições vindas posteriormente de conferências internacionais, como as originadas no Rio de Janeiro na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Rio 92), de eventos posteriores, como o que originou o Protocolo de 13 Kyoto em 1997, o Pacto Global em 1999, a Declaração do Milênio, a Rio+20 e o Acordo de Paris em 2015, entre outros encontros, têm em comum: a preocupação mundial com a preservação ambiental; o desenvolvimento dos países pobres, a distribuição de renda; o combate às desigualdades sociais e ações de responsabilidade social empresarial (RSE). São propostas e metas louváveis em si, não acha? Mas também é óbvio que se acredita que o desenvolvimento sustentável é realmente uma realidade possível, assim como a união dos povos, a solidariedade e tantos outros valores. Isso mesmo, o desenvolvimento sustentável já considerado quase como um valor humano. 14 Conheça mais sobre esses objetivos no link: Disponível aqui Você sabe o que são objetivos do milênio? São esforços conjuntos de diversas nações com o objetivo de promover a melhoria de condições de vida da população mundial, especialmente nas mais vulneráveis. No entanto, não devemos ter uma visão tão simplista do mundo. A grande verdade é que o próprio conceito de sustentabilidade e sua definição sinônima de desenvolvimento sustentável são controversos. Críticos afirmam que os termos “desenvolvimento” e “sustentável” já são um paradoxo, ou seja, são mutuamente 15 https://nacoesunidas.org/pos2015/ excludentes. Como se desenvolver e crescer indefinidamente – já que não se estabeleceu nenhum limite para isso – em um espaço limitado, que é o planeta? Faz sentido essa crítica, não acha? De fato, temos que aprofundar nossa visão e saber que o discurso preservacionista não é tão inocente como se pensa. Muitas das propostas do desenvolvimento sustentável parecem mais uma maquiagem para que a exploração dos recursos continue, mas com a bênção de uma população alienada por uma propaganda consumista. Fique atento a esses discursos! Gosto muito de uma frase citada por Barbieri (2007, p. 95), atribuída ao príncipe de Salina na obra O Leopardo, de Giuseppe Tomasi di Lampedusa: “é preciso mudar se quisermos que tudo fique como está”. Você está envolvido nisso, pois afeta sua vida, sua forma de fazer gestão, seu consumo, seu futuro. Podemos nos fechar para adiscussão e continuar a fazer tudo como antes, fazer mudanças cosméticas para preservar o modelo de exploração ou, ao invés disso, pensar e agir de uma forma mais crítica em relação ao planeta. 16 02 As Questões Logísticas e a Competitividade Empresarial Prezado aluno, Depois de uma visita à discussão sobre sustentabilidade, é importante ter uma visão das questões empresariais, que são a mola-mestre de grande parte do desafio da preservação ambiental. No tópico anterior, vimos que nossa vida é dependente de produtos originados das atividades de organizações empresariais. Alimento, vestuário, moradia, saúde, transporte, tudo é produzido por empresas para o consumo das pessoas, e são muitas empresas, de todos os portes, de todos os segmentos econômicos, agindo em busca de mais consumidores para seus produtos. O ambiente empresarial muitas vezes é comparado a um campo de batalha, um espaço onde somente os mais habilidosos e capazes conseguem sobreviver. Essa competitividade empresarial é encarada com naturalidade pelos próprios empreendedores. “Quem não tem competência não se estabelece”, diz o bordão. Assim, buscam-se mecanismos que tornem a organização cada vez mais preparada, mais competitiva, para enfrentar a concorrência. Nesse cenário, as empresas investem intensamente em tecnologia da informação, treinamento, sistemas de auditoria, enfim, várias ferramentas gerenciais que possibilitem um acompanhamento efetivo dos custos e ganhos de eficiência. Porém, mesmo com esse esforço, é possível que o ganho de competitividade não seja tão expressivo quanto gostariam os gestores. Isso porque as ferramentas gerenciais são utilizadas por praticamente todas as empresas cujos administradores tenham competência para guiar os negócios. No entanto, há uma variável que está, de fato, fazendo a diferença em relação à concorrência: os processos logísticos. Peter Drucker (1995 apud BATALHA, 2001, p. 163), um dos grandes gurus de administração, afirma que, a logística é última fronteira gerencial que resta ser explorada para reduzir tempos e custos, melhorar o nível e a qualidade de serviços, agregar valores que diferenciem e fortaleçam a posição competitiva da empresa.. 18 Pode parecer uma expectativa exagerada, mas há fundamentos bem sólidos para essa afirmação. Pense no seguinte: os produtos fornecidos e disponibilizados para consumo ao redor do mundo são cada vez mais parecidos. Alguns pequenos atributos não são suficientes para classificarmos uma quantidade muito grande de produtos como “exclusivos” – pelo menos não no que se refere a produtos de massa. Assim, um aparelho de TV é um aparelho de TV independente da marca, embora, como afirmamos, possa ter um ou outro atributo diferente. Assim, os produtos tornam-se verdadeiras commodities, ou seja, são praticamente idênticos. Os preços também são muito alinhados, isso porque os componentes são disponibilizados a fábricas do mundo todo e uma parte importante desses componentes é produzida em países asiáticos. Se não é possível competir em produtos (muito parecidos) e em preço (muito alinhados), o que diferencia as empresas? A eficiência logística. Essa eficiência logística é expressa na capacidade de prestar um nível de serviço considerado superior com custos que sejam reconhecidos como justos pelos consumidores. Além disso, tendo por base que a logística envolve fluxos de materiais, valores e informações, o fluxo de informações logísticas é um item que pode diferenciar a empresa, por ela agir proativamente às necessidades e expectativas de seus stakeholders. Para obter esse desempenho superior, a logística evoluiu naturalmente para um conceito de administração em rede ou cadeia, conceito esse amplamente conhecido como Gestão da Cadeia de Suprimentos ou, na sigla em inglês, Supply Chain Management (SCM). Sobre SCM, interessa-nos a definição de Razzolini Filho e Berté (2013, p. 42), onde afirmam que por SCM, entende-se a Administração sinérgica dos canais de abastecimento de todos os participantes da cadeia de valor, através da integração de seus processos de negócios, visando sempre agregar valor ao produto final, em cada elo da cadeia, gerando vantagens competitivas ao longo do tempo. 19 Essa moderna visão dos processos logísticos em redes ou cadeias vem ao encontro da administração estratégica, em que os objetivos organizacionais são traçados levando em conta o potencial de cada componente organizacional, todos convergindo para que o resultado seja atingido. Ou seja, as funções logísticas não são “soltas”, dispersas, e sim, fazem parte do planejamento estratégico empresarial. Acesse o link: Disponível aqui Grandes empresas por vezes têm dificuldade de alterar seus processos consolidados e, por conta disso, podem, aos poucos, perder mercado pela atuação mais ágil das startups. Veja um exemplo disso, na reportagem a seguir. 20 https://www.uol.com.br/tilt/noticias/bloomberg/2019/09/09/startup-lanca-drone-para-competir-com-gigantes-em-entregas.htm Essa é uma mudança de paradigma, pois até o momento, em grande parte das organizações, o que se percebe é uma atitude reativa em relação às funções logísticas, com planejamento no curto prazo. O que se pretende com a vinculação das funções logísticas com o planejamento estratégico é ampliar a visão para o longo prazo. Por meio do Quadro 1, é possível entender mais claramente essa mudança da visão das estratégias logísticas (de curto prazo) para a logística estratégica (de longo prazo). Quadro 1 – Enfoque da Logística Estratégica Fonte: Razzolini Filho e Berté (2013, p. 45) Enfoque Estratégia logística Logística Estratégica Dominação de custos Redução dos custos logísticos Redução de todos os custos através da logística Diferenciação Qualidade dos serviços logísticos A logística como fator de diferenciação Inovação A logística é o suporte para a inovação A logística é a fonte/motor para a inovação Alianças Logística como um meio para alianças A logística como a fonte/motor para as alianças Profissão Logística como um suporte para integração Logística como um novo produto Missão Logística como um suporte para extensão Logística ordenada para conquistar novos clientes Diversificação Uso das sinergias logísticas Diversificar por meio da logística Para ilustrar essa evolução, Razzolini Filho e Berté (2013) descrevem a situação em que uma empresa pretende terceirizar uma etapa do processo logístico. Na visão tradicional da estratégia logística, de curto prazo, um PSL (Prestador de Serviço 21 Logístico) poderia ser contratado para realizar a atividade por meio de um contrato de curto prazo para uma única ou poucas atividades. Na visão da Logística Estratégica de longo prazo, a opção seria o Operador Logístico, com contratos de longo prazo e com a prestação de múltiplas atividades, de forma integrada (RAZZOLINI FILHO; BERTÉ, 2013). Sem dúvida, diante desse quadro, tanto na estratégia logística como na logística estratégica, a empresa pode obter vantagem competitiva, porém, na opção pela logística estratégica, essa vantagem seria sustentável em longo prazo. 22 03 Entendendo o Conceito de Logística Reversa Olá, alunos! Vimos que a preocupação com as questões ambientais toma um espaço cada vez maior na pauta das discussões governamentais, empresariais e sociais, de forma geral. Evidentemente que os reflexos dessas discussões acabariam por chegar ao nível de ações, o que aconteceu de forma global. A legislação e normativas tornaram- se abundantes tanto em países desenvolvidos quanto em países em desenvolvimento, incluindo Brasil. De qualquer modo, é bom que você tenha em mente que alguns fatores motivaram o movimento dos empresários em direção ao tratamento de seus produtos após cumprirem seu ciclo de vida. Na década de 1970, precisamente em 1973, houve um evento catastrófico para a economia que ficou conhecido como Crise do Petróleo, quando os países membros da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), em um movimento de sucessivas altas, reajustaramos preços do precioso óleo em 400%. Isso desencadeou crises econômicas avassaladoras em países desenvolvidos, dependentes do petróleo para suas atividades produtivas. O custo de transporte e produção foi seriamente afetado. As matérias-primas tiveram aumentos de preço muito acentuados. Esse fenômeno forçou a busca por alternativas para obtenção de matérias-primas para as indústrias. De acordo com Razzolini Filho e Berté (2013), ao contrário do que afirmam os ambientalistas, foi o fator econômico que fez com que os empresários voltassem sua atenção para o reaproveitamento de matéria-prima. Além desse fator econômico, a conscientização por parte dos consumidores – pelo menos os de visão mais crítica – de que as empresas são responsáveis pelos produtos que fabricam, em todo ciclo de vida desses produtos e, por conseguinte, passarem a exigir que essas empresas cuidassem também da fase em que o produto estaria inservível para consumo, foi também um fator determinante para o movimento de tratamento desses produtos por parte dessas organizações. O poder público entrou também em cena, após comprovado dano ao meio ambiente por descartes inadequados e a necessidade de intervenção sobre os espaços degradados – com o consequente dispêndio de recursos públicos –, o que fez com que os países desenvolvessem leis que cobram ações e penalizam as empresas não atendem os ditames legais. O que as empresas deveriam fazer, considerando todas essas variáveis? 24 Figura 1 - Fluxos da Cadeia de Suprimentos Fonte: adaptado de Ballou (2006) A concepção do fornecimento de produtos teve que ser repensada. Até então, como frisado, o consumidor se constituía como o elo final da cadeia de suprimentos. Uma representação dessa ideia você pode perceber na Figura 1. Lembre-se que a representação usual de uma cadeia de abastecimento tradicional sempre é no sentido da produção ao consumo, enquanto que a representação de uma cadeia logística reversa é no sentido contrário, mesmo que não estejam presentes todos os elementos da cadeia de suprimentos original. Razzolini Filho e Berté (2013, p. 68), confirmando esse entendimento, o ampliam por afirmar que os produtos podem seguir três caminhos distintos dentro de um fluxo logístico: 25 Figura 2 - Representação Esquemática dos Processos Logísticos Direto e Reverso Fonte: Lacerda (2002, p. 3) 1. Da fábrica até o armazém ou centro de distribuição; 2. Do centro de distribuição até o autosserviço ou varejo e 3. Do autosserviço ou varejo até o consumidor. Com as exigências e variáveis que vimos acima, em que a empresa precisa ter ações consistentes para o tratamento dos produtos além de seu uso pelo consumidor, surge um quarto fluxo: o fluxo inverso ou da logística reversa. Para a nossa conceituação de Logística Reversa, precisamos visualizar um ciclo contrário ao fluxo tradicional de fornecimento. Estamos considerando o retorno dos produtos (ou partes dele) em direção à fonte de produção. No processo logístico convencional – pelo menos na abordagem história –, não há uma indicação clara sobre o fluxo cliente-empresa. Essa abordagem só ganha destaque com o desenvolvimento do conceito de Logística Reversa. Isso fica mais claro quando observamos a figura 2: Considerando essa ideia, desde a concepção do conceito de Logística Reversa, faz-se referência a este fluxo inverso. O CLM (Council of Logistics Management, que mais tarde foi rebatizado de Council of Supply Chain Management Professionals - CSCMP) definiu em 2001 o conceito de Logística Reversa, ao afirmar que se trata da: 26 parte do processo da cadeia de suprimentos que planeja, implementa e controla de forma eficiente e eficaz o fluxo direto e reverso e o estoque de bens, serviços e informação entre o ponto de origem e o ponto de consumo com o propósito de atender os requisitos dos clientes (CLM, 2001 apud SANTOS et al. 2013, p. 233). Veja nessa definição que se introduz o conceito do retorno (fluxo reverso) até o ponto de origem. Rogers e Tibben-Lembke (1999, p. 2 apud LEITE, 2009, p. 16) reforçam esse conceito do CLM ao definirem Logística Reversa como: O processo de planejamento, implementação e controle da eficiência e custo efetivo do fluxo de matérias-primas, estoques em processo, produtos acabados e informações correspondentes do ponto de consumo ao ponto de origem com o propósito de recapturar o valor ou destinar à apropriada disposição. Nesse conceito, já se trata da valoração dos materiais retornados, importante destaque no planejamento da Logística Reversa, que veremos oportunamente. O mesmo CSCMP, em 2006, retomou o conceito da Logística, agora inserindo a dinâmica da Logística Reversa, por afirmar que: Supply Chain Management compreende o planejamento e gerenciamento de todas as atividades envolvidas com a aquisição, conversão e o gerenciamento logístico. Inclui principalmente a coordenação e colaboração com os parceiros dos canais, que podem ser fornecedores, intermediários, provedores de serviços terceirizados e clientes. Em essência, o Supply Chain Management integra o gerenciamento do suprimento e da demanda, internamente e ao longo da cadeia de suprimentos. Logística empresarial é a parte do Supply Chain Management que planeja, implementa e controla o eficiente e efetivo fluxo direto e reverso, a estocagem de bens, serviços e as informações relacionadas entre o ponto de origem e o ponto de consumo, no sentido de satisfazer as necessidades do cliente (CSCMP, 2006 apud LEITE, 2009, p. 17). 27 Figura 3 - Atividades Relacionadas ao Processo de Logística Reversa Fonte: Chaves et al. (2008, p. 4) Observe que nesse conceito, coloca-se claramente no fluxo reverso (assim como já consolidado no fluxo direto) a questão da informação relacionada com o processo, como insumo para a gestão da logística reversa. Em 2005, o REVLOG (Grupo de Trabalho Europeu de Logística Reversa) expressou que: logística reversa é uma área/função bastante ampla que envolve todas as operações relacionadas com a reutilização de produtos e materiais como as atividades logísticas de coletar, desmonte e processo de produtos e/ou materiais e peças usadas a fim de assegurar uma recuperação sustentável dos mesmos e que não prejudiquem o meio ambiente (REVLOG, 2005 apud CHAVES et al. 2008, p. 4). O conceito do REVLOG (2005) é interessante, pois pressupõe atividades específicas da Logística Reversa, como coleta, desmonte e a recuperação de materiais e peças usadas. Essas atividades que buscam recuperar valor são visualizadas na Figura 3: A própria legislação ambiental brasileira também define Logística Reversa, como destacado por Robles e La Fuente (2019), ao destacar o trecho da Lei 12305/2010, art. 3º, inciso XII, que explana que a logística reversa é 28 Um instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada (ROBLES; LA FUENTE, 2019, p, 42). Assim, a própria legislação, conforme veremos em outro momento da nossa disciplina, já estabelece que a Logística Reversa precisa ser um instrumento adequado do ponto de vista social, econômico e ambiental. Rogers e Tibben-Lembke (1998 apud CHAVES et al., 2008, p. 5) elencam atividades consideradas o núcleo do processo logístico reverso, conforme demonstrado no Quadro 2: Quadro 2 - Atividades Comuns na Logística Reversa Fonte: Rogers e Tibben-Lembke (1998 apud CHAVES et al. 2008, p. 5) Material Atividades da Logística Reversa Produtos Retornados ao fornecedor Revendidos Vendidos via Outlet Salvados Recondicionados Renovados Remanufaturados Recuperação de materiais Reciclados Aterro sanitário Embalagem Reutilização Renovação Recuperação de materiais Reciclagem 29 Sem detalhar, neste momento, as atividades listadas no Quadro acima, é importante pontuar que, assim como os processos logísticostradicionais que formam canal de distribuição, no caso da Logística Reversa, há também a constituição de um canal de distribuição reverso. Para resgatar a ideia de canal de distribuição, esses são constituídos pelas diversas etapas pelas quais os bens produzidos são comercializados até chegar ao consumidor final, seja uma empresa, seja uma pessoa física. A distribuição física dos bens é a atividade que realiza a movimentação e disponibiliza esses produtos ao consumidor final (KOTLER, 1996 apud LEITE, 2009, p. 6). Pois bem, considerando o sentido contrário, Leite (2009, p. 6) salienta que os canais de distribuição reversos consideram: as formas e os meios em que uma parcela dos produtos com pouco uso após a venda, com ciclo de vida útil ampliado ou após a extinção de sua vida útil, retorna ao ciclo produtivo ou de negócios, readquirindo valor de diversas naturezas, no mesmo mercado original, em mercados secundários, por meio de seu reaproveitamento, de seus componentes ou de seus materiais constituintes. Esses Canais de Distribuição Reversos (CDRs) são geralmente classificados considerando certos aspectos característicos dos bens comercializados. Na classificação clássica dos bens em função de sua durabilidade, Razzolini Filho e Berté (2013) listam dois tipos de produtos, conforme Quadro 3: 30 Quadro 3 - Classificação de Produtos em Função de sua Durabilidade Fonte: Razzolini Filho e Berté (2013, p. 93) Classificação Características Produtos duráveis Aqueles que têm sua duração avaliada pela sua vida útil, como automóveis, fogões, refrigeradores, entre outros, geralmente medida em anos. Produtos não duráveis Aqueles que são consumidos imediatamente ou em prazos muito curtos, tais como alimentos. Após diversos estudos e o desenvolvimento do conceito de logística reversa, classificaram-se os canais de distribuição reversos em dois tipos: canais de distribuição reversos de pós-venda e canais de distribuição reversos de pós-consumo. Esses diferentes tipos de canais serão tratados posteriormente em nossa disciplina. 31 Você talvez tenha se perguntado: por que não se dá o destaque merecido aos canais de distribuição reverso da mesma forma como os canais de distribuição tradicionais? A resposta não poderia ser mais simples: por razões econômicas, ou seja, a representação monetária dos dois processos. Os canais de distribuição reversos movimentam valores muito inferiores aos movimentados em canais tradicionais. Acesse o link: Disponível aqui Artigos científicos nos ajudam a entender com mais profundidade a aplicação de conceitos teóricos, como aqueles que estamos considerando nessa disciplina. Veja no link a seguir um interessante artigo contendo um estudo de caso sobre redução de custos com aplicação da logística reversa. 32 https://revistas.unicentro.br/index.php/capitalcientifico/article/view/5213/html 04 Custos em Logística Reversa – O que Avaliar Prezado aluno, Ao considerar os processos logísticos de forma geral, é evidente que custos estão envolvidos. Um dos temas logísticos mais difíceis de tratar é justamente o de custos logísticos. Para lembrá-los da importância da gestão dos custos logísticos, há uma estimativa de que o custo total da logística nos EUA chegue a impressionantes 10% do PIB americano (CHRISTOPHER, 2007). Um estudo desenvolvido pelo CEL-COPPEAD apurou que, em 2004, o custo logístico total no Brasil era da ordem de 12,6% do PIB (LIMA, 2006). É muito complexo ter esse custo atualizado, uma vez que os processos logísticos podem ser mais ou menos custosos dependendo da própria demanda por produtos, condições de infraestrutura, aumento ou redução de importação e exportação, entre outros motivos. O fato é que, sim, são custos significativos nos processos organizacionais. Devido à sua importância, várias fórmulas têm sido oferecidas, buscando proporcionar métricas para apuração desses custos. Uma das fórmulas é a oferecida por Faria e Costa (2007), que considera o Custo Logístico total o resultado da seguinte expressão: CLT = CAM + CTRA + CE + CMI + CTI + CTRI + CDL + CDNS + CAD Nesta fórmula, CAM = Custos de Armazenagem e Movimentação de Materiais CTRA = Custos de Transporte (incluindo todos os modais ou operações intermodais) CE = Custos de Embalagens (utilizadas no sistema logístico) CMI = Custos de Manutenção de Inventários (MO, PP e PA) CTI = Custos de Tecnologia de Informação CDL = Custos Decorrentes de Lotes 34 CTRI = Custos Tributários (tributos não recuperáveis) CDNS = Custos Decorrentes do Nível de Serviço CAD = Custos da Administração Logística Pode-se ainda buscar apurar o Custo logístico Total por meio de seus processos, cuja fórmula de cálculo é: CLT = CLOGAba + CLOGPla + CLOGDis Na qual: CLOGAba = Custos Logísticos do Abastecimento CLOGPla = Custos Logísticos da Planta CLOGDis = Custos Logísticos de Distribuição Ainda há um modelo mais simplificado adotado por muitos autores: CLT = CA + CPP + CE + CT Em que: CA = Custos de Armazenagem CPP = Custos de Processamento de Pedidos CE = Custos de Estocagem CT = Custos de Transporte Os estudos que contemplam os custos da logística reversa no Custo Logístico Total ainda são incipientes. Paulo Roberto Leite, um dos pioneiros na pesquisa da Logística Reversa no Brasil, oferece a possibilidade de se associar três tipos de custos às atividades de Logística Reversa: 1. Custos apropriados pela contabilidade: custos diretos, indiretos, fixos e variáveis. 2. Custos relacionados à gestão de operações de diversas naturezas: normalmente apropriados pelos administradores ou pela controladoria das empresas, tais como “custos de oportunidade”, custos “ocultos”, entre outros. 3. Custos de imagem corporativa ou de marca (LEITE, 2009, p. 27). 35 Vamos detalhar um pouco mais cada um desses custos. No caso dos custos apropriados pela contabilidade, somaríamos custos de transporte, armazenagem, consolidações e de sistemas de informação dos canais reversos, da mesma forma que fazemos para os canais tradicionais. Leite (2009) traz a atenção que, devido às operações adicionais que os canais de distribuição reversos agregam, os custos relacionados tendem a ser maiores. Essas atividades incluem seleção, separação e redistribuição dos produtos da logística reversa. O autor destaca que o número de transações logísticas no retorno dos produtos é de 5 a 10 vezes maior, o que resulta em custos de 3 a 5 vezes mais em relação ao de envio dos produtos originais ao mercado. Os custos relacionados à gestão, de forma semelhante aos custos de gestão logística tradicional, são relacionados aos custos de oportunidade, custos irrecuperáveis, programas de melhoria, entre outros. Finalmente, os custos de imagem corporativa ou de marca relacionam-se à preocupação das empresas em se manterem com sua imagem intocável perante a comunidade e aos seus consumidores. Especialmente no caso da Logística Reversa a imagem está relacionada a boas práticas de sustentabilidade empresarial. 36 Figura 1 - Pontos de Recuperação de Valor na Logística Reversa Fonte: Garcia (2006) A questão dos custos na Logística Reversa precisa ser avaliada também em outra perspectiva: a da recuperação de valor, ou seja, o quanto a empresa pode ganhar com os materiais retornados. A lógica é razoavelmente simples: dependendo do ponto em que o produto for recapturado, é possível obter maior ganho – ou recuperação de perdas no caso de garantia – com o item. Na figura 1, você poderá visualizar como isso ocorre. Fica bastante claro, na figura 4, como ocorre o ciclo de vida de um produto, desde a aquisição de matérias-primas, a fase de manufatura, a distribuição, a comercialização e o retorno (originário do pós-venda ou pós-consumo). Assim, pode-se dizer que o ciclo de vida do produto tem fim apenas quando do seu descarte final de forma segura, podendo dentro do ciclo de vida ter sido recuperado, remanufaturado e ter retornado ao mercado, inteiro ou em partes, ou ainda ter tido suas partes reaproveitadas ou recicladas (GARCIA,2006). Considerado dessa forma, uma conclusão lógica que podemos chegar é a de que, quanto maior for o percentual de retorno e o valor envolvidos do produto, mais importante será a gestão do ciclo de retorno do produto de modo a capturar o valor (GARCIA, 2006). No Quadro 1, temos uma comprovação numérica dos impactos do retorno de materiais para a indústria. 37 Quadro 1 - Impacto Econômico do Retorno dos Materiais para Indústria Fonte: Roger e Tibben (1999 apud GARCIA, 2006) Indústria Percentagem Revistas 50% Editoras de livros 20-30% Distribuidores de livros 10-12% Catálogos 18-36% CD-ROMs 18-25% Impressoras 4-8% Eletrônicos de consumo 4-5% Indústrias de revistas e jornais têm um retorno muito grande de produtos, devido à sua elevada obsolescência e, por conta disso, essas indústrias precisam ter um processo de Logística Reversa muito bem estruturado. Atualmente há uma tendência ao desaparecimento de periódicos (revistas e jornais) em papel. Títulos importantes do mundo editorial agora só existem de forma digital. Até onde essa tendência irá levar, o tempo dirá. Para atribuirmos o valor de um produto retornado, precisamos analisar seu processo de retorno do ponto de vista do tempo e do próprio processo de remanufatura (caso este produto seja destinado a voltar ao mercado). No esquema do Gráfico 1, mais adiante, temos uma representação gráfica sobre o impacto no valor do produto das fases de remanufatura e da variável tempo. Podemos observar que o valor se deprecia com o tempo. Você deve ter uma noção clara disso, principalmente se considerarmos produtos de tecnologia, como computadores, tablets, celulares, entre outros. Se existir uma demora no reprocessamento desses produtos, quando eles retornarem ao mercado, já não terão o apelo de produtos de ponta, que é um fator importante de atração de compradores. 38 A cultura do descarte está cada vez mais internalizada na sociedade, enquanto a cultura de consertar um aparelho quebrado se perdeu muito com o passar do tempo. Como você se comporta em relação a isso? Dessa forma, para produtos com essas características (alto valor e rápida depreciação), o tempo de retorno é fundamental para a recuperação de valor. Dessa forma, os custos de retorno envolvem os custos de processo da Logística Reversa e a perda de valor devido ao tempo entre a sua introdução na cadeia reversa e o seu retorno ao mercado (GARCIA, 2006). Matematicamente, ficaria assim representado: Custo de Retorno para produtos pós-venda = Valor de Retorno + Custo LR – Valor Recuperado Em que: Valor de retorno: valor do produto no mercado considerando o efeito de depreciação no tempo. Custo LR: custo da Logística Reversa. Envolve todo o processo para torná-lo disponível ao mercado novamente. Valor Recuperado: valor que o mercado aceita pagar pelo produto retornado considerando a depreciação no momento de seu retorno. Num estudo do Reverse Logistics Executive Concil, foi constatado que o custo de um OEM (Original Equipment Manufacturer) pode ser reduzido em 35%, considerando que de 10% a 20% dos computadores ou produtos eletrônicos retornam, e que esses produtos se depreciam a uma taxa de 3% por semana. 39 Gráfico 1 - Valor de Retorno em Função do Tempo Fonte: Blackburn et al. (2004) Outro ponto a considerar é que os atrasos no retorno dos produtos deixam os clientes insatisfeitos e podem resultar em impactos na participação de mercado das empresas (GARCIA, 2006). O gráfico 1 demonstra a questão do impacto do fator tempo na possibilidade de retorno de valor no processo de Logística Reversa. Perceba no gráfico 1 que há uma relação direta entre a variável tempo e o valor do produto retornado para o mercado. Evidentemente, este valor fica muito menor quanto maior o tempo decorrido da entrada do material no processo logístico, sua adequação e disponibilização novamente ao mercado. 40 Outro fator importante a ser considerado na composição dos custos da Logística Reversa é o reaproveitamento do material, ou de parte dele, na forma de reciclagem. A reciclagem possibilita o ingresso de numerário para as empresas e pode ser contabilizado como Receita Ambiental, nas Contas de Resultados, Receitas (Vendas de Resíduos) e na Redução de Custos e Despesas Ambientais (Recuperação de Resíduos). Na atuação da Logística Reversa, desde o início do processo de fabricação, já se estabelecem algumas medidas que visam evitar ou diminuir a quantidade de material descartável, com ações como: reduzir os resíduos na origem; reutilizar os materiais, maximizando o nível de rotação e implementar sistemas de recuperação. Os números podem ser impactantes: Reciclar uma tonelada de plástico economiza 130 quilos de petróleo; para uma tonelada de vidro, se gasta 70% menos energia do que fabricar, e para cada tonelada de papel reciclado, poupa-se 22 árvores, e consome-se 71% menos energia, além de poluir 74% menos que fabricar o produto (IARIA, 2002 apud GARCIA, 2006, p. 5). Impressionante, não é? Há ainda outros fatores a serem considerados. Na questão de custos, o gestor deve decidir entre a modelagem de logística mais adequada para lidar com diferentes tipos de material. Isso mesmo! Dependendo do tipo de material, conforme já vimos, o tempo é um fator mais importante que outros fatores. Para produtos de menor valor, o custo do retorno deve ser considerado. Nesse ponto, podemos citar um trecho do trabalho de Leite 1999 e Felizardo et al. (1999 apud GARCIA, 2006). Esses autores citam os principais fatores para a realização de projetos de Cadeia de Distribuição Reversa (Reverse Supply Chain), bem como fatores que podem modificar a estrutura e organização desses Canais Reversos: Custos: ainda não bem definidos e de difícil avaliação. Oferta: de materiais reciclados, permitindo a continuidade industrial necessária. Qualidade: adequada ao processo industrial e constante para garantir rendimentos operacionais economicamente competitivos. Tecnologia: a tecnologia e o teor de determinada matéria-prima podem variar em função do produto de pós-consumo utilizado, redundando em custos 41 diferentes e orientando o mercado de pós-consumo para aquele que se apresente mais conveniente. Logística: a característica logística das matérias de pós-consumo, em particular a transportabilidade, revela-se de enorme importância na estruturação e eficiência dos canais reversos. Mercado: é necessário que haja quantitativa e qualitativamente mercado para os produtos fabricados com materiais reciclados. Ecologia: novos comportamentos passam a exigir novas posições estratégicas das empresas sobre o impacto de seus produtos e processos industriais. Governo: legislação, subsídios que afetam o interesse da área dos materiais reciclados. Responsabilidade Social: valorização social e possibilidade de produção e consumo de produtos ecologicamente corretos. Na questão do valor dos produtos que têm origem na Logística Reversa, um conceito com o qual você vai se deparar é o de – MVT (Marginal Value of Time for Returns, ou, traduzido em português: Valor Marginal do Tempo de Retorno). Esse conceito é trazido por Blackburn (2004), que destaca que, como grande parte da perda recuperável de ativos no fluxo de retorno é devido a atrasos no processamento, os administradores devem ser sensíveis ao valor do tempo de retorno de produtos e usá-lo como uma ferramenta para (re)desenho da cadeia de suprimentos reversa para recuperação de ativos. Então, uma simples, mas eficaz métrica para medir o custo da demora é o valor marginal do produto no tempo, ou seja, a perda de valor por unidade de tempo de espera para a conclusão do processo de recuperação. Voltando à questão da modelagem logística, basicamente há duas alternativas apresentadas, conforme Garcia (2005): 1. Cadeia Eficiente – cadeia desenhada para entregar o produto a baixo custo. 2. Cadeia responsiva (Ágil) – cadeia desenhada para dar velocidade de resposta. Blackburn (2004) sugere a seguinte matriz de decisão para a modelagem logística: 42 Figura 2 - Matriz de DecisãoFonte: Blackburn et al. (2004) Também devemos considerar que um produto não pode entrar no processo de logística reversa sem uma prévia inspeção. Agora, imagine que existem muitos produtos a serem inspecionados. Forma-se, naturalmente, uma fila para inspeção, para teste até a destinação final que se dará ao material, conforme a figura 3 demonstra: 43 Figura 3 - Destinação Final aos Materiais da Logística Reversa Fonte: Blackburn (2004) Percebeu, na figura, o tempo decorrido da chegada do material até a entrada na inspeção? Inacreditáveis 100 dias. Dependendo do tipo de material, esse tempo pode determinar o grau de retorno que a empresa terá na volta do material ao mercado ou partes dele ao processo produtivo. Podemos colocar o que aconteceu na figura em forma de equação matemática: TDD = (TPL + TINSP) Em que: TDD: Tempo de tomada decisão da destinação. TPL: Tempo dos produtos no funil de retorno (pipeline) até a chegada da inspeção. TINSP: Tempo na fila de inspeção + Tempo dos testes. 44 Assim, no exemplo, temos: TPL = 2 meses (ou 60 dias). TINSP = 40 dias. Então, pela fórmula: TDD = (60 + 40). TDD = 100 dias. Não é tão complicado, não é mesmo? Na figura 4, em um exemplo hipotético proposto por Blackburn (2004), podemos perceber as perdas no processo de logística reversa, considerando um fluxo de 1000 unidades monetárias. Você pode notar que alguns materiais e produtos podem voltar como novos ao mercado (algo em torno de 20%). Existe uma perda aceita de aproximadamente 45%. Note também que sempre há alguma forma de retorno, seja qual destino for dado ao produto/material retornado. O funil serve para representar o fator tempo, que é muito importante no processo, como você já viu. Quanto maior o tempo (ou seja, mais próximo do final do funil), o valor é menor, podendo ser igual a zero, quando o produto/material for transformado em sucata sem destinação determinada. O impacto disso no canal reverso pode ser visualizado na figura 4, que demonstra o fluxo reverso com as possíveis recuperações de valor. Veja um detalhe interessante na figura, que está em seu formato, dando a noção clara de afunilamento, ou seja, quando mais próximo do final do fluxo, menos é possível recuperar. 45 Figura 4 - Funil de Retorno dos Materiais no Fluxo Reverso Fonte: Blackburn (2004) Essa figura ilustra bem que, se compararmos um produto retornado em relação ao valor produto novo, há uma perda no valor do ativo de mais de 45% e somente 20% pode retornar como produtos novos. Porém, considerando que se não houver nenhuma ação gerencial sobre o retorno dos itens na cadeia reversa o prejuízo é total, há que se considerar que a empresa recupera valor, ou seja, tem entrada de recursos em seu caixa pelo tratamento correto de produtos retornados. Acesse o link: Disponível aqui No Brasil, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) é o principal responsável pelas políticas ambientais no país. No portal do MMA encontramos algumas informações muito úteis sobre Logística Reversa. Por fim, é interessante observar alguns apontamentos quanto aos custos da Logística Reversa que são destacados por Leite (2014, p.66) quando afirma que: 46 https://www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/residuos-perigosos/logistica-reversa Embora os custos de reaproveitamento, realizados com escala, qualidade e com processos adequados sejam compensadores de uma forma geral, os custos de Logística Reversa propriamente dita, ou seja, os custos operacionais de coleta, transporte, manuseio etc. são por natureza altos, quando comparados com a logística direta. Neste sentido, embora se saiba que alguns dos desafios acima mencionados sejam de longo prazo, algumas oportunidades existem, como por exemplo: • Adequação dos projetos dos produtos às necessidades de reaproveitamento reduzindo os custos envolvidos. Isto envolve uniformização de materiais, redução de soldas e ligações permanentes, identificação das partes, uso dos conceitos de rastreabilidade etc. • Organização eficiente da rede de atividades da Logística Reversa: formas de coleta, transportes, localização destas atividades, processamentos intermediários etc. • Aumento das escalas de atividades em todas as áreas das cadeias reversas de pós-consumo propiciando melhores tecnologias, consistência e qualidade nas atividades. • Implantação tecnologias de tratamento de resíduos sólidos com alto desempenho para escalas maiores. • Destinação de recursos adequados para capacitação de mão de obra qualificada e recursos em equipamentos. • Adequação de soluções e incentivos governamentais para áreas industriais e comerciais que estejam envolvidas com a execução de programas de Logística Reversa. Este aspecto é de vital importância na medida em que, além das conhecidas tributações redundantes que oneram muito os produtos reaproveitados e o seu uso posterior, seriam necessários incentivos em forma de financiamentos para melhorias tecnológicas, condições especiais de transporte, entre outras providencias e inovações necessárias a esta área, que poderá gerar um PIB de economia reversa considerável, além de apreciável quantidade de empregos. Então, prezado aluno, fica muito claro, dessa forma, que o gerenciamento dos custos da logística reversa está implícito no planejamento das ações dos gestores organizacionais. 47 48 05 A Classificação dos Bens de Pós-Consumo e os Canais de Distribuição Reversos de Pós- Consumo – CDR PC Olá a todos! Ao iniciar a consideração dos CDR PC (Canais de Distribuição Reverso de Pós- Consumo), gostaria de trazer novamente à sua atenção que as empresas formatam seus canais de distribuição por razões objetivas, que são elencadas por ordem de importância em: Aumentar a competitividade; “Limpar” o canal através da redução de estoques parados; Respeitar legislações existentes; Revalorização econômica; e Recuperar valor de ativos (ROGERS; TIBBEN-LEMBCKE, 1998 apud RAZZOLINI FILHO; BERTÉ, 2013, p. 80). Note que, dos motivos listados acima, a maior parte se relaciona aos aspectos econômicos – ou pelo aumento da receita ou pela recuperação de valor. No caso da revalorização econômica, isto se dá quando o bem retornado no processo de logística reversa pode ser destinado a canais reversos alternativos, dessa forma, gerando valores chamados de “residuais” que podem ser importantes para a companhia. Isso acontece em virtude de que, apesar de sempre imaginarmos a logística reversa como um movimento a montante na cadeia de suprimentos, ou seja, como um movimento contrário ao fornecimento, nem sempre é assim que ocorre na prática. Por vezes, o bem retornado pode, de fato, ser inserido novamente de alguma forma no processo produtivo, por exemplo, tornando-se novamente uma matéria-prima no processo na própria empresa. Nem sempre isso é possível, porém, ainda pode gerar receitas pela venda a outras empresas que poderiam absorver o material como matéria-prima ou componente de seus processos. Outra pontuação importante é que, quando se fala de logística de pós-consumo, evidentemente trataremos de materiais que são, na maioria das vezes, descartados como lixo. Para nós, o que é considerado lixo, pode ter potencial econômico. Então, elevaremos esses materiais do nível de lixo para o nível de resíduos. Não é apenas uma mudança semântica. Trata-se de uma alteração da visão gerencial. Só chamaremos de lixo o que de fato não puder ser aproveitado de alguma maneira em processos produtivos. 50 Vimos anteriormente que uma classificação possível para produtos é quanto à sua durabilidade. Vimos também a questão do ciclo de vida para os produtos. Ou seja, um produto, mesmo durável, em certo momento, cumpre o seu propósito, ou por tornar- se inútil para o seu usuário (lembra-se do 3 em 1?), ou por, após o período de garantia, apresentar um defeito cujo conserto não compense o gasto. Somando-se a esse tipo de produto, temos ainda as embalagens, nas quais os produtos foram acondicionados, e os resíduos industriais provenientes dos processos produtivos. Temos, então, o cenário paraa atuação de um canal de distribuição reverso de pós- consumo. Para fins de conceituação, usaremos a definição de Leite (2017, p. 100), que assim classifica os canais de distribuição reversos de bens de pós-consumo: Constituem-se nas diversas etapas de comercialização e industrialização pelas quais fluem os resíduos industriais e os diferentes tipos de utilidade ou seus materiais constituintes, até sua reintegração ao processo produtivo, por meio de subsistemas de reuso, remanufatura ou reciclagem. Há uma similaridade global com respeito à estrutura básica dos canais reversos, apesar de algumas especificidades em alguns países devido às legislações distintas e diferentes fontes de resíduos de pós consumo (LEITE, 2017). Para que você tenha noção da constituição dos bens de pós-consumo, te recomendo visitar a área destinada ao lixo urbano de sua cidade. Será uma experiência muito rica, pois você terá um verdadeiro laboratório diante de você. Trataremos do assunto legal relacionado ao lixo urbano e ao descarte na Unidade IV. Algumas constatações, no entanto, podemos fazer desde já. A ABRELPE - Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais traz alguns dados preocupantes no seu relatório sobre os RSU (Resíduos Sólidos Urbanos), do período de 2018/2019: 51 Os dados revelam que, em 2018, foram geradas no Brasil 79 milhões de toneladas, um aumento de pouco menos de 1% em relação ao ano anterior. Desse montante, 92% (72,7 milhões) foi coletado. Por um lado, isso significa uma alta de 1,66% em comparação a 2017: ou seja, a coleta aumentou num ritmo um pouco maior que a geração. Por outro, evidencia que 6,3 milhões de toneladas de resíduos não foram recolhidas junto aos locais de geração. A destinação adequada em aterros sanitários recebeu 59,5% dos resíduos sólidos urbanos coletados: 43,3 milhões de toneladas, um pequeno avanço em relação ao cenário do ano anterior. O restante (40,5%) foi despejado em locais inadequados por 3.001 municípios. Ou seja, 29,5 milhões de toneladas de RSU acabaram indo para lixões ou aterros controlados, que não contam com um conjunto de sistemas e medidas necessários para proteger a saúde das pessoas e o meio ambiente contra danos e degradações. A situação da coleta dos resíduos sólidos urbanos também é bastante irregular no Brasil, se considerarmos suas regiões. Veja, na Figura 1, como se apresenta a realidade desse serviço público: 52 Figura 1 - Panorama da Coleta de Rsu no Brasil por Regiões Fonte: ABRELPE (2019, p. 13) Há, sem dúvida, um longo caminho a percorrer. Trataremos disso mais adiante na nossa disciplina. O fato é que todos os materiais que são classificados como bens de pós-consumo (duráveis, semiduráveis, descartáveis e resíduos industriais) podem ser descartados ou disponibilizados pelos consumidores e, dessa forma, dar início aos processos no canal de distribuição reverso de bens de pós-consumo. Alguns fluxos possíveis, após esse ingresso do item na cadeia reversa, estão ilustrados na Figura 2: 53 Figura 1 - Canais de Distribuição de Pós-Consumo Direto e Reverso Fonte: Leite (2017, p. 102) Leite (2017) classifica os canais de distribuição reversos em dois tipos: 1. Canais de distribuição reversos de ciclo aberto; 2. Canais de distribuição reversos de ciclo fechado. Veja no Quadro 1 as principais características de cada tipo de canal reverso. 54 Figura 3 - Exemplos de Ciclo Reverso Aberto Fonte: Leite (2017, p. 89) Quadro 1 - Características dos Canais Reversos de Ciclo Aberto e Fechado Fonte: baseado em Leite (2017) Tipo Características Exemplos de materiais Ciclo aberto Foco na matéria-prima. Substituem matérias-primas novas na fabricação de diferentes produtos. Metais (ferro, alumínio, cobre etc.), plásticos (polímeros como polietilenos, polipropilenos, etc.), vidros, papéis. Ciclo fechado Foco no produto. Os materiais constituintes são extraídos para fabricação de um produto similar ao de origem. Latas de alumínio, baterias de automóveis, óleos lubrificantes. Na Figura 3, temos exemplificado o ciclo reverso aberto: No caso dos canais reversos de ciclo fechado, o Quadro 2 demonstra a lógica deste processo. 55 Quadro 2 - Canais Reversos de Ciclo Fechado Fonte: Leite (2017, p. 90) Produto de origem de pós- consumo Principais materiais extraídos Novo produto Óleos lubrificantes usados Eliminação de impurezas e acréscimo de aditivos Óleos lubrificantes novos Baterias de veículos descartadas Plástico e extração do chumbo Baterias de veículos novos Latas de alumínio de embalagens descartáveis Extração da liga de alumínio Latas de alumínio novas Uma pontuação relevante que Leite (2017) faz é em relação ao equilíbrio entre o fluxo direto e o fluxo reverso. Entendemos que o fluxo direto é aquele em direção ao mercado, enquanto o fluxo reverso é o retorno do bem após seu ciclo de vida. Nessa lógica, o autor destaca que há um equilíbrio quando o fluxo direto é igual ao fluxo reverso. Podemos visualizar essa relação na Figura 4, a seguir: 56 Figura 4 - Relação entre o Fluxo Direto e o Fluxo Reverso Fonte: Leite (2017, p. 85) Conforme demonstrado na Figura, a balança mostraria um equilíbrio se o fluxo reverso fosse igual ao fluxo reverso. Esse seria o melhor dos mundos, significando que os materiais de pós-consumo estariam integralmente sendo reaproveitados em novos processos produtivos. Outra situação possível é o fluxo direto ser maior que o ciclo reverso. Neste caso de desequilíbrio, há a formação de depósitos (nem sempre adequados) de sucatas e resíduos, ocasionando muitas vezes poluição. Conheça mais clicando no link: Disponível aqui A cadeia de recuperação de embalagens PET tornou-se robusta no Brasil nos últimos anos. O retorno das embalagens possibilitou a alimentação de processos produtivos importantes, como a indústria têxtil. Cerca de 1/3 do faturamento da indústria de PET no Brasil advém do retorno de materiais. 57 http://goo.gl/WPI1yT Como os países desenvolvidos têm uma taxa de substituição de produtos maior, em decorrência do maior poder aquisitivo, sua produção de produtos em descarte tende também a ser maior. A recuperação econômica dos produtos para os canais de logística reversa de pós-consumo não dá conta de todo o material produzido, gerando um movimento de troca internacional de materiais secundários entre países (LEITE, 2017). A forma como esse movimento é feito é duramente criticada pelos movimentos ambientalistas. O argumento desses movimentos é o de que os países mais ricos “livram-se” de seus entulhos, transferindo esses materiais para países periféricos (países pobres) que não conseguem fazer o aproveitamento adequado desses materiais, acumulando-os em montanhas e montanhas de sucata e lixo eletrônico. De qualquer forma, precisamos encarar a situação pelo que de fato é: um desafio aos gestores logísticos que precisa de alguma maneira ser enfrentado. Por conta disso, a partir de agora, analisaremos com atenção a questão da descartabilidade na Logística Reversa. 58 06 A Descartabilidade na Logística Reversa e a Disposição de Bens de Pós-Consumo Como dito no tópico anterior, vários itens, os quais podemos classificar como bens de pós-consumo, são simplesmente descartados, nem sempre de forma correta. Preste atenção aos itens que são descartados. Com a evolução tecnológica cada vez mais rápida e a filosofia da obsolescência programada – estratégia de lançamento de produtos com obsolescência conhecida antecipadamente, porque outro produto já está programado para ser lançado e substituirá o anterior - adotada por um número cada vez maior de empresas, os produtos deixam de ser úteis aos clientes com velocidade espantosa. Um bem durável, como um aparelho de TV, por exemplo, que na época de nossos pais era quase para vida toda, é rapidamente substituído por modelos mais modernos e com mais funcionalidades. A cultura do conserto de aparelhos eletroeletrônicos está se desfazendo. Como resultado, é muito comum encontrarmos esse tipo de aparelhos abandonadosem caçambas de lixo ou em lixões a céu aberto. A ONU – Organização das Nações Unidas – tem sede em Nova York (EUA), e é composta de 193 países-membros. Em sua composição, diversos programas são patrocinados e gerenciados pela ONU. Entre eles o PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio-Ambiente. Traçando um panorama do chamado lixo eletrônico no Brasil e no mundo, os números são assustadores. Estudos de Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), mostram que a China e os Estados Unidos são os 2 maiores produtores de lixo eletrônico no mundo. O mundo todo produziu 53,6 milhões de toneladas de lixo eletrônico em 2019 e esses 2 países foram responsáveis, respectivamente, por 10,1 milhões de toneladas e 6,9 milhões de toneladas. Ainda de acordo com esse relatório, 60 [...] o mundo gerou 53,6 mega toneladas de lixo eletrônico, uma média de 7,3 kg por pessoa. O total do lixo eletrônico gerado aumentou 9,2 milhões de toneladas desde 2014 e deve crescer para 74,7 milhões de toneladas em 2030. Esse crescimento corresponde a quase o dobro em 16 anos (Fonte: <https://news.un.org/pt/story/2020/07/1719142> - Acesso em 05.08.2020). Esse crescimento é preocupante. A grande incógnita é justamente o retorno desses itens aos processos reversos, se há algum tipo de aproveitamento a ser aplicado a esses materiais. Veremos algumas possibilidades nesse sentido mais adiante em nossa disciplina. Para as empresas, esse retorno não deve ser tratado com amadorismo. Tanto é assim que no desenvolvimento dos processos de Logística Reversa instaurou-se um mecanismo de gestão em relação aos produtos retornados. Trata-se do Product Recovery Management (PRM) ou, traduzido, Administração da Recuperação de Produtos. Mas o que é PRM? De acordo com Daher et al. (2006, p. 59), PRM pode ser definido como “o gerenciamento de todos os produtos, componentes e materiais usados e descartados pelos quais uma empresa fabricante é responsável legalmente, contratualmente ou por qualquer outra maneira”. É importante frisar que o PRM lida com diversos problemas administrativos, entre os quais está a Logística Reversa. Na Tabela 1, você vai conhecer as 6 (seis) áreas principais da PRM: 61 https://news.un.org/pt/story/2020/07/1719142 Tabela 1 - Abrangência das Áreas do PRM Fonte: baseada em Daher et al. (2006) ÁREA ABRANGÊNCIA Tecnologia Desenho do produto, tecnologia de recuperação, adaptação de processos primários. Marketing Criação de boas condições de mercado para quem está descartando o produto e para os mercados secundários. Informação Previsão de oferta e demanda e adaptação dos sistemas de informação nas empresas. Organização Distribuição de tarefas aos vários membros da organização de acordo com sua posição na cadeia de suprimentos e estratégia de negócios. Finanças Financiamento das atividades da cadeia e avaliação dos fluxos de retorno. Logística Reversa e Administração de Operações Definição de fluxos independentes para a Logística Reversa. Integração ao SCM (Supply Chain Management). Qual seria o foco principal da PRM? Parece claro, mas convém destacar que o foco principal está na recuperação de valor econômico e ecológico dos produtos, componentes e materiais, o máximo possível. 62 Acesse o link: Disponível aqui Um dos maiores motivadores para qualquer negócio é a possibilidade de gerar receita (ganhar dinheiro!) com a atividade. É possível ganhar dinheiro com Logística Reversa? Leia o artigo do prof. Paulo Roberto Leite. Esta é a proposta de Krikke (1998, p. 33-35 apud DAHER et al., 2006) que ainda estabelece quatro níveis em que os materiais e produtos retornados podem ser recuperados: nível de produto, módulo, partes e material. Considerando esses níveis, a reciclagem é a recuperação ao nível de material, sendo este considerado o nível mais baixo. Seguindo esta linha de raciocínio, Krikke (1998 apud DAHER et al., 2006) descreve o seguinte esquema para recuperação de materiais, conforme Quadro 3: 63 https://www.clrb-log-reversa.com/single-post/2019/05/16/COMO-GANHAR-DINHEIRO-COM-A-LOG%C3%8DSTICA-REVERSA-1%C2%AA-parte Quadro 3 - Opções de PRM Aplicadas aos Materiais Recuperados Fonte: Krikke (1998, p. 35 apud DAHER et al., 2006, p. 3). Opções de PRM Nível de desmontagem Exigências de qualidade Produto resultante Reparo Produto Restaurar o produto para pleno funcionamento. Algumas partes reparadas ou substituídas. Renovação Módulo Inspecionar e atualizar módulos críticos. Alguns módulos reparados ou substituídos. Remanufatura Parte Inspecionar todos os módulos/partes e atualizar. Módulos/partes usadas e novos em novo produto. Canibalização Recuperação seletiva de partes Dependência do uso em outras opções de PRM. Algumas partes reutilizadas, outras descartadas ou para reciclagem. Reciclagem Material Dependo do uso em remanufatura. Materiais utilizados em novos produtos. Conforme destacam Razzolini Filho e Berté (2013), há ganhos significativos no gerenciamento da Cadeia de Suprimentos com a adoção das estratégias do PRM, entre as quais citam: Práticas de comércio colaborativo, possibilitando aumento de vendas; Melhor gerenciamento dos canais diretos e reversos; 64 Figura 5 - Sistema de Gerenciamento de Recuperação de Produtos Fonte: BERNARDO; SOUZA; DEMAJOROVIC (2020, p. 250) Relacionamentos de confiança entre os membros do canal, pela melhoria dos processos de comunicação; Aumento da rentabilidade pela recuperação de valor econômico; Ganhos de imagem pela recuperação de valor ecológico. (RAZZOLINI FILHO; BERTÉ, 2013, p. 99) Perceba que são estratégias bastante claras e distintas, a depender do tipo de material a receber o tratamento na logística reversa, visando recuperar valor econômico no processo. Você talvez tenha se dado conta, ao analisar a Tabela 1 que, por abranger várias áreas que impactam no resultado econômico final do processo de retorno de materiais, não é possível que essa gestão seja feita sem um sistema gerenciamento informatizado. É o que chamamos de PRMS (sigla em inglês para Sistema de Gerenciamento de Recuperação de Produtos). Na figura 5 você pode visualizar como esse sistema é constituído: Perceba que o PRMS integra informações provenientes de diversas fontes, em uma infraestrutura de informações que baliza a tomada de decisões, de acordo com o ciclo de vida do produto retornado. Sugere-se, inclusive, o uso de tags (etiquetas) 65 eletrônicas para leitura por equipamento de RFID (Radio Frequency Identification, ou, traduzido, Identificação por Rádio Frequência). Conforme Bernardo, Souza e Demajorovic (2020, p. 251) destacam: O uso de tecnologia RFID, para fazer o acompanhamento, começa definindo em qual estágio do ciclo de vida se encontra o produto, se está em Beginning of Life (BOL) – Começo da vida do produto, Middle of Life (MOL) – Meia-vida do ciclo, ou End of Life (EOL) – Fim de vida do produto. Essa definição sobre o ciclo de vida do produto possibilita selecionar sua destinação entre as alternativas de reúso, remanufatura ou reciclagem. Se um produto está no BOL, provavelmente pode ser encaminhado ao reúso, bastando que seja consertado. Se está no MOL, a destinação provável é a remanufatura, e, em EOL, seria destinado a reciclagem. Veja que a decisão sobre destinação tem a ver com o estado do produto, o seu ciclo de vida, porém, de toda forma, algum valor econômico é recuperado, cumprindo assim a função principal da Logística Reversa. 66 07 Objetivos Econômicos da Logística de Pós-Consumo Quando abordamos a questão dos objetivos econômicos da logística de pós- consumo, é sempre bom retomarmos também a abordagem das condições para que um canal reverso possa ser viável. Muitas vezes a questão econômica deverá ser tratada unicamente pelo seu aspecto legal, de possibilidades de sanções se não implementado o canal reverso. Neste caso, não há nenhuma recuperação de valor no processo, porém, o simples fato de não ser imputadas multas à organização já se consideraria um ganho financeiro. A produção de materiaisque serão descartados parece natural nos atuais processos de produção. E se fosse possível pensar no reaproveitamento dos materiais desde o momento da concepção/projeto do produto? Porém, ampliando o nosso campo de visão, o desejável seria que, além de evitar aplicações de sanções legais, também houvesse ganhos financeiros oriundos dos próprios itens de pós-consumo. Leite (2017) desenvolveu um modelo relacional em que apresenta as condições para que um fluxo reverso de materiais de pós-consumo se estabeleça. Vela isso na figura 6: 68 Figura 6 - Condições para o Fluxo Reverso de Pós-Consumo Fonte: Leite (2017, p. 132) Observe que diversos fatores afetam o estabelecimento dos fluxos reversos, inclusive aspectos ecológicos e legais que abordaremos mais à frente em nossa disciplina. Mas algo que chama à atenção na Figura 6 é a questão da remuneração dos participantes do fluxo reverso. Esse talvez seja um dos maiores desafios, pois garantir que esses atores sejam pagos por sua atividade não é um processo simples, especialmente se considerarmos os diversos tipos de materiais que podem ser inseridos em um fluxo reverso. No caso de matérias-primas, a indústria tem a possibilidade de utilizar-se de duas origens: 1. Matérias-primas primárias: aquelas extraídas diretamente da fonte (muitas vezes a própria natureza). 2. Matérias-primas secundárias: aquelas obtidas por meio de processos de logística reversa. A opção mais lógica do ponto de vista econômico, sem dúvida, é utilizar-se daquela que apresenta menor custo de aquisição. A matéria-prima secundária será uma opção interessante caso haja escala de fornecimento, ou seja, garantia de que o 69 fornecimento não será interrompido e que os custos compensem sua adoção em substituição à matéria-prima nova. A questão da escassez da matéria-prima nova também é um fator relevante em muitos processos. No caso específico da remuneração dos participantes da cadeia reversa, Leite (2017, p. 150) destaca que: Tratando-se de uma cadeia de distribuição no sentido reverso, constituída pela coleta de pós-consumo, pelos processamentos diversos de consolidação e separação, pela reciclagem ou remanufatura industrial, pela reintegração ao ciclo produtivo ou de negócios por meio de um produto aceito pelo mercado, torna-se necessário que esses objetivos econômicos sejam obtidos em todas as etapas reversas para a existência do fluxo reverso. A falta de ganho em um ou em alguns dos elos da cadeia reversa provocará interrupção ou simplesmente não haverá fluxo reverso, resultando em desequilíbrios entre os fluxos diretos e reversos e suas consequências, já examinadas. Perceba a importância da remuneração dos participantes do canal reverso, sob pena de inviabilizar o processo. Considerando o fator remuneração, é uma conclusão lógica que os materiais que proporcionem maior retorno financeiro aos membros do canal reverso sejam os preferidos e que, dependendo dos participantes do canal (cooperativas de catadores, catadores individuais, empresas de reciclagem etc.), se estabelecerá uma concorrência pela obtenção desses materiais. Também contribuirá para esse interesse maior a facilidade de obtenção e extração dos materiais a serem retornados ao canal. 70 Veja a destinação correta dos medicamentos descartados em: Disponível aqui Um drama em muitas famílias é sobre o que fazer com os medicamentos que sobram nas cartelas. É muito comum descartar no lixo doméstico ou jogar no vaso sanitário. Será que esses são os melhores destinos? Sobre isso, Leite (2017) destaca que as condições de mercado favoreceram o desenvolvimento expressivo de canais de certos materiais cuja demanda e remuneração são relevantes no mundo todo. É o caso dos metais ferrosos e não ferrosos, papéis, sobras de gorduras de restaurantes, entre outros. Nesses casos citados, foi quase exclusivamente a possibilidade de ganhos financeiros aos participantes do canal que incentivou o estabelecimento do fluxo reverso e não necessariamente uma exigência legal ou ambiental. Sobre isso, Henion (1995 apud LEITE, 2017, p. 170) afirma que mantendo constantes os demais fatores, a demanda por reciclados é função dos preços de mercado [...] Historicamente, o desempenho dos sistemas de canais reversos para pós-consumo recicláveis tem sido impedido pelos altos custos, pobres lucros projetados. A precificação de um material de pós-consumo até chegar à etapa final de inserção no ciclo produtivo segue uma lógica bem clara e aplicável a quase todos os itens, com exceção de algum material que possua alguma especificidade. Essa lógica pode ser visualizada na Figura 7 a seguir: 71 http://www.descarteconsciente.com.br/ Figura 7 - Formação de Preços de Materiais Recuperados de Pós-Consumo Fonte: o autor, baseado em Leite (2017) Quanto maior o nível de aproveitamento do material coletado, maiores serão os benefícios, tanto em relação à remuneração dos agentes participantes do canal reverso, como para a indústria que aproveitará os itens para constituição de outras matérias-primas ou para transformação em outros produtos. Acesse o link: Disponível aqui Logística Verde Versus Logística Reversa Uma expressão que você talvez se depare nos seus estudos sobre logística e sustentabilidade é a de Logística Verde. Há um questionamento sobre o quão perto esse conceito se aproxima da Logística Reversa. Para entender melhor sobre Logística Verde, recomendo a leitura de um interessante artigo sobre o tema: Reflexões sobre a logística verde na redução dos impactos ambientais. 72 http://editora.universidadedevassouras.edu.br/index.php/TECCEN/article/view/1262 08 Canais de Distribuição Reversos de Pós-Venda – CDR PV Ao tratarmos do tópico de canais de distribuição reversos de pós-venda, faz-se necessário que entendamos ou relembremos alguns fundamentos da importância da logística para a competitividade empresarial na atualidade. Você talvez já tenha ouvido ou lido muitas vezes sobre a necessidade de diferenciar-se por oferecer um nível superior de serviços aos clientes. Entre os fatores que compõem esse nível de serviço superior, sem dúvida, estão fatores como a rapidez e confiabilidade na entrega, políticas de flexibilidade, oferta de assistência técnica, entre outros. Quando se pensa em flexibilidade, entende-se que as necessidades e preferências do cliente podem mudar e essas mudanças devem ser acompanhadas pelos fornecedores, adaptando-se a essas novas circunstâncias. Pode ser preciso alterar o prazo de entrega, local onde os produtos deverão ser disponibilizados, fracionamentos exclusivos de cargas, e outras tantas demandas que podem surgir. Pense, por exemplo, em uma rede de lojas de varejo que compra grandes quantidades de um produto eletrônico de um determinado fabricante. Para ambos, é importante que essa parceria seja sólida e ao mesmo tempo flexível, ou melhor, é preciso que a indústria tenha esse canal de distribuição de seus produtos funcionando de forma saudável, oferecendo seus produtos aos clientes finais e alimentando a indústria de informações quanto à demanda, preferências de clientes, anunciando os produtos em mídias diversas, demonstrando os atributos dos seus produtos de forma correta. Para a rede de varejo, é importante ter o produto para venda na sua rede de lojas, a um preço competitivo, parcerias em investimentos em mídia, treinamento de sua força de vendas pela indústria, e uma flexibilidade de entregas para atender demandas não previstas. Completa-se a expectativa da rede quando a indústria oferece uma rede de assistência técnica aos clientes, um SAC (Serviço de Atendimento ao Cliente), para sanar dúvidas sobre operação dos produtos, recebe produtos devolvidos pelos clientes que se arrependem da compra dentro do prazo legal ou mesmo por grande interesse comercial. Embora cada vez mais raros, há casos em que os despachos da indústria para os distribuidores são efetuados de forma incorreta, quanto às especificações do pedido em termos de quantidade, modelos, cores e outros atributos que podem
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