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Departamento de Enfermagem 16º Curso de Licenciatura de Enfermagem 1º Ano – 1º Semestre Docente: Prof. António Marques Discente: Laura Sophia da Silva, Nº150528023 Ano Letivo 2015/2016 2 3 Especificidade e diversidade do conhecimento das Ciências Sociais A perspectiva das Ciência Sociais O que consideramos natural, inevitável, bom ou verdadeiro pode não o ser; O que tomamos como um “dado” nas nossas vidas é fortemente influenciado por forças históricas e sociais. É, então, importante identificar e compreender como as nossas vidas reflectem os contextos da nossa experiência social. -Ciências Sociais (e Humanas): Geografia Humana Psicologia Social Antropologia Cultural Ciência Política Psicologia Individual História Demografia Sociologia Economia Ética Objecto de estudo: doenças oncológicas: - Demografia: efeitos nas dinâmicas das populações. - Linguística: análise das expressões relativas ao cancro. - Geografia: distribuição espacial das taxas de cancro. - Psicologia Individual: impacto do cancro no indivíduo; mecanismos adaptativos. - Sociologia: como a organização social determina e é influenciada pela doença. - Economia: interdependência entre mecanismos económicos e a doença. - Antropologia: manifestações culturais de ideias, técnicas e normas. - Ciência Política: forças sociais com interesses diferentes. 4 SORRISO : NATUREZA E CULTURA Sorrir parece ser uma resposta inata, não aprendida, não desencadeada por observar outra face a sorrir. Todos os bebés normais sorriem, sensivelmente entre o primeiro mês e as seis semanas. Uma criança sorrirá perante um objecto semelhante a um rosto humano, mesmo que contenha dois botões no lugar dos olhos, e a uma face humana que tenha a boca escondida. As crianças que nascem invisuais começam a sorrir na mesma idade daquelas que vêm, apesar de não terem tido a possibilidade de copiar esse comportamento pelos outros. No entanto, há situações em que o sorriso é encarado como apropriado variam em função das culturas, o que está relacionado com a aprendizagem precoce que realizamos com as reacções dos adultos aos nossos sorrisos. As crianças não têm de aprender a sorrir, mas têm de aprender como, quando e onde é apropriado fazê-lo. O SOCIAL: O que é? É um processo ou uma soma complexa de processos que se desenvolve nos seres humanos entre si, entre estes e o meio circundante e, ainda, entre estes e os artefactos que produzem. Engloba diferentes tipos de relacionamento: tecnológico, espacial, discursivo, ético, estético... PROCESSO DE SOCIALIZAÇÃO Os seres humanos “nascem nus”, em todos os sentidos; Trazem consigo a estrutura biológica, similar aos outros seres humanos. O processo de socialização (maneira de andar, rir, comer, gestos, discursos...) transformará o indivíduo em pessoa. 5 É o processo através do qual as crianças ou os novos membros da sociedade, aprendem o modo de vida da sociedade onde vivem; (e.g., autossuficiência nos animais menores na escala de evolução vs. Animais superiores) É um processo vitalício. O comportamento é configurado de modo contínuo. Agências de socialização: Primária- família Secundária-amigos É através deste processo, (e da sua enorme capacidade de aprender) que, em contacto com os ourtos seres humanos, a criança torna gradualmente num ser auto-consciente e com domínio sobre os modos próprios de determinada cultura. Define-se pelos padrões comportamentais total e socialmente transmitidos, arte, crenças, valores, costumes, formas de vida e outros produtos da ação e o pensamento humano, característicos de um conjunto de pessoas e que orientam a sua visão do mundo e as suas decisões. Cultura Sociedade Sistemas de inter-relações que envolve os indivíduos coletivamente. O que une as sociedades é o facto de os seus membros se organizarem em relações sociais estruturadas segundo uma única cultura. Patricia Realce 6 Conceitos Básicos Valores São ideias que definem o que é importante, útil ou desejável. Estas ideias abstratas, ou valores, atribuem significado e orientam os seres humanos na sua interação com o mundo social. Maneira de ser ou de agir que uma pessoa ou uma colectividade reconhecem como ideal e que faz com que os seres ou as condutas aos quais é atribuído sejam desejáveis ou estimáveis. (E.g., monogamia nas sociedades ocidentais) Situa-se na ordem do ideal e não na dos objetos concretos ou dos acontecimentos. Características do valor: • Implica a ideia de uma qualidade de ser ou de agir superior. • Inspira as condutas. • É específico de uma sociedade e varia de uma para outra. • Possui uma carga afectiva, daí a sua permanência no tempo. Crenças São ideias aceites como verdadeiras por uma dada sociedade ou conjunto de indivíduos sem terem sido verificadas pelos seus membros. As crenças podem ir de uma opinião comum considerada por todos os indivíduos (ou alguns) como uma evidência até às crenças religiosas. (As crenças não podem ser provadas, pois se fossem passavam a ser conhecimento). Atitudes (face a...) Tendência psicológica que se expressa pela avaliação favorável ou desfavorável relativamente a uma entidade em particular. É uma predisposição para responder de forma favorável ou desfavorável a um objeto, pessoa, instituição ou acontecimento. 7 Atitudes: Modelo Tripartido A expressão avaliação refere-se a todas as classes de respostas, sejam cognitivas, afetivas ou comportamentais. 3 Componentes: Cognitivo – crenças e pensamentos Afetivo – sentimentos e emoções Comportamental – ações Atitude face a um grupo social Para alterarmos o comportamento (ex. Obesidade) temos de dar conhecimento, informar as consequências que podem advir do seu comportamento - alteramos a componente cognitiva. Se a pessoa já tem o conhecimento temos de alterar a componente afetiva. Alteramos a atitude, mudando os seus comportamentos. Esteriótipos Sociais São “fotografias dentro das nossas cabeças” (representações simplificadas da realidade). São estruturas cognitivas que englobam conhecimentos e expectativas e que, por sua vez, determinam julgamentos e avaliações acerca de grupos humanos e dos seus elementos. •São essenciais para a vida social. 8 •São transmitidos pela socialização. •São independentes dos conhecimentos acerca dos membros dos grupos que são objecto da estereotipia. •São dependentes dos contextos históricos e culturais. •Permitem generalizar (abusivamente), justificar e racionalizar posições dos grupos na dinâmica social. Esteriótipos são individuais e controlam o nosso comportamento. Rito/Ritual Rito = conjunto de regras estabelecidas de um culto; atitudes, gestos e acções que promovem o contacto com as forças da natureza e/ou seres invisíveis; reafirmam uma cultura. (ritos de iniciação, de passagem, de purificação, consagração, luto, cura, negativos…) Ritual = sucessão de ritos 9 Princípio do relativismo cultural e conceito de etnocentrismo aplicados ao domínio da saúde Etnocentrismo (sobre grupos e etnias) Consiste no julgamento das outras culturas tomando como comparação a sua própria cultura. Formulação de juízos valorativos a respeito de uma cultura. Implica que o modo de vida de alguém é considerado como preferível e / ou superior a todos os outros. Relativismo cultural Princípio filosófico que defende que os valores sociais só podem ser entendidos num tempo e num espaço próprios. Este princípio defende: • os sistemas de valores das sociedades • a dignidade própria desses sistemas • a sua tolerância e aceitação, mesmo que diferentes dos nossos.(Mas não podemos aceitar ou tolerar tudo). Acentua a necessidade e dever de respeito pela diferença, pois são várias as formas de pensar e de viver. Essas diferentes formas podem ser harmonizadas, em vez de liminarmente julgadas ou destruídas. Competência Cultural Os profissionais de saúde prestam cuidados a pessoas de diferentes culturas, com os quais se envolvem em formas de comunicação verbal e não verbal; por isso, precisam de ser capazes de ter práticas eficazes e apropriadas face a cada uma delas. As deficiências no conhecimento das competências linguísticas, crenças e valores dos utentes podem tornar-se uma séria ameaça à vida e à qualidade dos cuidados de todos os indivíduos. Os profissionais culturalmente competentes (com saberes etno-culturais específicos) terão menos tendência para: 10 • Demonstrar atitudes negativas • Etnocentrismo • Estereotipia • Racismo • Discriminação negativa A capacidade para se compreender a si mesmo é uma base para integrar novo conhecimento acerca das diferenças culturais na base do conhecimento profissional e na percepção acerca das intervenções de saúde. 11 Saberes Tradicionais, Leigos e Bio-Médicos Um “problema de saúde” não é, necessariamente, um dado objectivo; (Exemplo: as pessoas albinas são rejeitas em África). Obedece a processos de construção individuais e colectivos. Profissionais e utentes nem sempre partilham perspetivas iguais sobre o problema. Modelo biomédico • Inspirado na visão mecanicista do ser humano. • O corpo é concebido como uma espécie de “máquina bioquímica”. • A doença significa / é reflexo de um desregulamento orgânico (corporal). • Saúde é (a mera) ausência de doença. • O indivíduo tem um papel passivo. As disfunções reveladas através do corpo são, em geral, observadas e é possível estabelecer nexos de causalidade. “a doença é definida em função da alteração de parâmetros biológicos, enquanto os aspectos psicossociais são irrelevantes” Mesmo com origem “psíquica” ou mental, é possível encontrar explicações bioquímicas que determinam a disfunção. O saber bio-médico é, genericamente, dominante e encarado como superior, ainda que não responda a todos os determinantes da saúde. • “a atenção desvia-se do doente para a doença” • “a experiência subjectiva da doença é menosprezada, assim como os contextos de vida” Patologias vs Perturbações Patologia (disease): define-se por um quadro determinado pelo diagnóstico padronizado e fundamentado técnica e cientificamente. Perturbação ou mal-estar (illness): resulta da vivência subjectiva do utente e de como este sente e interpreta o problema. 12 Disease e illness nem sempre se sobrepõem ou coincidem: a) Disease sem illness – menosprezo pelos sintomas ou disfunção que correspondem a uma patologia por parte do utente, família ou comunidade (dificuldades de aprendizagem, colesterol elevado, cancro…); b) Illness sem disease – subvalorização de sintomas por parte dos profissionais, para os quais não existem causas bem determinadas (palpitações, formigueiros, sensações difusas, hiperventilação…). Saber leigo As concepções de saúde e de doença reflectem-se e fazem parte da cultura das comunidades / indivíduos. Os conhecimentos, representações sociais, crenças, práticas de auto- cuidado e de procura de cura fazem parte de um legado colectivo, sempre disponível e enquadrando um discurso com uma lógica própria; As construções e práticas leigas podem incorporar elementos de diferentes origens: • tradição • experiência pessoal / grupal • saber bio-médico • senso comum • comunicação social Assim: Os saberes sobre a saúde não são exclusivos dos serviços e profissionais de saúde; Todos os indivíduos têm a sua ‘cultura médica’. Representações Sociais do Corpo A socialização e a sociabilidade exercem um controle eficaz sobre vários aspectos do corpo individual, nomeadamente: • nas formas e dimensões • nos cuidados (higiene, nutrição…) • na representação 13 • na (des)valorização dos seus componentes / partes • nos adornos e vestuário • nos tabus e interditos • no seu uso quotidiano (trabalho, lazer...) Identificam-se 4 grandes áreas relativas às Representações Sociais do corpo: 1. Crenças acerca da forma e dimensões ideais do corpo (incluindo vestuário, adornos…) 2. Crenças acerca das fronteiras / limites do corpo 3. Crenças acerca da estrutura interna do corpo 4. Crenças sobre o funcionamento do corpo - Corpo como estrutura de tubagens (canos) a) Cavidades ocas ou câmaras conectadas entre si e com os orifícios do corpo, através de ‘canalizações ou tubos’; b) A saúde é mantida através do bom funcionamento dos fluxos de fluidos orgânicos (sangue, alimentos, líquidos, urina, fluxo menstrual…); c) A doença ocorre por bloqueios e má comunicação entre subsistemas de tubos. Exemplo: ‘paragem de digestão; ‘pulmões entupidos’; ‘descargas de vesícula’; ‘período retido’; ‘sangue parado’; ‘líquidos acumulados’. - Corpo como máquina a) Associação com o universo da tecnologia; b) Metáfora do corpo movido por uma bateria/motor; c) Associação com ideia de necessidade de combustível ou força motriz (alimentos, bebidas, vitaminas, tónicos…); d) A doença ocorre por deficiências de circulação entre subsistemas ou desgaste dos componentes do corpo; e) Promove a separação corpo/mente (peças são individualizadas e substituíveis). Exemplo: ‘máquina enferrujada; ‘juntas gastas’; ‘articulações secas’; ‘peças velhas’; ‘máquina cansada’;‘recarregar baterias’. Patricia Nota Exemplo no slide 7 do PPT da aula 5 Patricia Nota Exemplo no slide 9 do PPT da aula 5 14 - Metáfora militar a) Muito difundida pela medicina moderna e saúde pública (cancro, doenças infecciosas…); b) Os agentes desencadeadores da doença são ‘antropomorfimizados’ (agressores, inteligentes, mutantes, diabolizados); c) É reforçada por expressões como: luta, defesas, generais, resistências; d) A doença ocorre pela debilidade do corpo face à organização ‘pensada’ pelos micro-organismos; e) A doença é evitada pelo fortalecimento do corpo. Exemplo: ‘corpo enfraquecido’; ‘meteu-se-me no corpo’; ‘minou-me o corpo’. As representações sociais acerca do corpo: • constituem uma imagética e um imaginário acerca do corpo; • estão sempre disponíveis e obedecem a uma lógica própria; • influenciam: a) a percepção do funcionamento do corpo; b) a receptividade, adesão e sucesso de muitos tratamentos e terapias. Etiologias (origem da patologia), nosologias (evolução da patologia) e recursos terapêuticos do saber leigo: Patricia Nota Exemplo no slide 11 do PPT da aula 5 Patricia Nota Exemplos dos slides 15-17 do PPT da aula 5 15 Recursos terapêuticos do Saber Leigo: Saber biomédico e saber leigo (resumo) •Os comportamentos de saúde não são vazios de sentido, ainda que possam ser lesivos para os indivíduos: diferentes factores intervêm na sua determinação; •Raízes culturais, marcadas pelo espaço, a história e a organização social fundamentam esses comportamentos e interferem na motivação para (não) mudar. •A lógica, o discurso e as práticas biomédicas não são absolutamente incompatíveis com o saber tradicional / leigo: podem influenciar-se mutuamente; •Através de processos de aculturação, o saber biomédico pode ser assimilado, reinterpretado, adaptado, modificado e coexistir com o saber tradicional / leigo numa mesma cultura, grupo ou indivíduo; •A visão bipolarizada dos saberes (tradicional / leigo vs científico) acerca do corpo e da saúde é redutora. 16 Dimensão sociocultural e psicossocial dos processos de saúde-doença A perspectiva ecológica do desenvolvimento humano de BronfenbrennerConsidera que, para estudar e entender o desenvolvimento do humano é preciso valorizar as diversas influências dos contextos em que a pessoa se inclui. Critica os modelos tradicionais que se focalizam apenas na pessoa, sem considerarem esses contextos e as suas dinâmicas. O indivíduo é visto como uma entidade dinâmica; Valoriza a reciprocidade da interação entre individuo e meio; O ambiente não é exclusivamente o imediato mas incorpora contextos mais latos e as interações entre esses contextos. Dimensões conceptuais: Tempo: caráter histórico-evolutivo; sequência de eventos que constituem a história e as rotinas de uma pessoa. Funciona como um organizador (social e emocional) que aponta para a estabilidade ou instabilidade dos eventos no ciclo vital ou diário. Pessoa: características pessoais, psicológicas, biológicas e físicas Processo: forma como a pessoa transita no seu desenvolvimento, como dá significado às suas experiências e como interpreta seu ambiente, i.e., através dos papéis, atividades diárias e inter-relações. Processo Proximal: interação da pessoa com outras pessoas, contextos, objetos e símbolos. Contexto: configuração ecológica de características e relações existentes entre os diversos sistemas. O meio ambiente ecológico é formado por sistemas, como uma organização de encaixe de estruturas concêntricas, cada uma contida na seguinte e continente da anterior. Patricia Realce 17 1. O EGO ou sujeito é encarado de forma dinâmica, em interacção com o meio, num processo de mudança constante. O modelo valoriza as características pessoais como: Personalidade Motivações Aspirações/Metas Etnia Sexo Valores (…) Estas características não exercem influência isoladamente, mas em articulação. 2. Microssistemas Actividades, papéis e relações interpessoais através dos quais se concretiza o desenvolvimento, num contexto físico e material específico, com o qual tem contacto directo (face-a-face). Exemplo: Familiares Grupos de amigos / colegas Escola, emprego, clube, vizinhança próxima… 3. Mesosistema engloba as relações entre os vários sistemas em que o sujeito está envolvido e participa activamente. Exemplos: Relação entre os universos familiar, escolar, ocupacional (trabalho, lazer, participação social…). Patricia Realce Patricia Realce Patricia Realce Patricia Nota Comunidade Patricia Nota Família, amigos,... 18 4. Exossistema Efeitos indirectos de outros contextos em que o sujeito não participa activamente, mas que afectam o seu desenvolvimento. Exemplo: Trabalho dos pais /cônjuge; Mudanças na gestão escolar; Sistemas de transportes, saúde, justiça… 5. Macrossistema Práticas e valores sócio-culturais e ideologias que caracterizam a sociedade mais ampla. Influenciam e espelham os níveis micro, meso ou exo. Exemplos: Sociedade conservadora, tolerante, igualitária? Estilos de vida… 6. Cronossistema Refere-se à ‘dimensão temporal’. Impacto de eventos, normativos e não normativos, isolados ou em sequência, no desenvolvimento da pessoa. Pode incluir mudanças na família, na comunidade, na sociedade, no país, cultura, valores… Na abordagem ecológica, investigam-se as mudanças. As mudanças são denominadas de transições ecológicas. A transição ecológica ocorre sempre que a pessoa muda de contexto, tendo como resultado uma mudança de papel, de ambiente ou de ambos. Distinguem-se dois tipos de transição: Transição normativa: relaciona-se aos eventos esperados, ocorridos no ciclo vital do indivíduo ou de uma população definida, tais como: entrada na escola, o início da adolescência, início da vida activa, casamento…. Transição não normativa: refere-se aos acontecimentos inesperados, que causam stress individual ou familiar e são descritos como eventos de risco, tais como: morte ou doença grave na família, divórcio, mudança de residência, guerra, desemprego…. Patricia Realce Patricia Realce Patricia Realce 19 20 Género como construção social:reflexo e determinante da percepção e vivência da saúde e da doença Género como construção social: do sexo ao género Cada cultura constrói sistemas ideológicos e simbólicos a partir das categorias sexuais. O determinismo biológico é utilizado como justificação das ‘diferenças de personalidade’, papéis e direitos de homens e mulheres. As diferenças de sexo - representam as diferenças entre homens e mulheres, as quais incluem o que difere dos pontos de vista genético, hormonal, reprodutivo e físico; As diferenças de género - referem-se às diferenças entre homens e mulheres que resultam de influências ambientais, como a sociedade, a cultura e a história. Estereótipos de Género Décadas de pesquisa acerca dos estereótipos de género ilustram a sua resistência à mudança, em diferentes contextos culturais e históricos, idades e sexos. Patricia Realce 21 Género enquanto sistema O processo de criação das diferenças sexuais e a forma de equacionar o poder pode ser compreendido em termos de um sistema de género com três níveis: 1. Societal 2. Interpessoal 3. Individual 22 1 - Nível Societal: Compreende as ideologias que criam e sustentam as relações de poder assimétricas entre: - as mulheres e os homens - a feminilidade e a masculinidade Estas relações materializam-se em situações de: - dominação, - discriminação, - segregação, nas esferas privada e pública. 2- Nível interpessoal: O género funciona como orientação normativa dos comportamentos interpessoais (pistas para a acção). «as diferenças observadas são relacionadas com o sexo e, assim, a crença na diferença sexual é confirmada». 3- Nível individual: Cada indivíduo procura adoptar o que, socialmente, se considera como adequado e desejável para cada sexo, moldando características, interesses e comportamentos. Reforça-se o ideal de correspondência entre: - homens e masculinidade - mulheres e feminilidade Efeitos do género na saúde •A mortalidade é sempre superior no sexo masculino, desde a infância à velhice; •As diferenças entre sexos na mortalidade por causas externas é um indicador significativo do efeito do género nos comportamentos de saúde; •Há menor adesão aos serviços de saúde por parte dos rapazes e dos homens; •Os homens tendem a sobrevalorizar o seu estado de saúde, contrariamente às mulheres; •O nível de conhecimentos sobre saúde é tendencialmente menor no sexo masculino. Patricia Nota Exemplos nos slides 11 e 12 no PPT da aula 7 Patricia Nota Observar gráficos dos slides 16-28 no PPT da aula 7 Patricia Nota Relacionado com a Sociedade Patricia Nota Relacionado com o próprio Sujeito 23 Género como determinante da saúde Genderizar o olhar sobre a saúde (olhar a saúde através da “lentes do género”) implica, em simultâneo: • distinguir os factores biológicos e sociais, • explorar a interacções entre ambos • ser sensível ao modo como as desigualdades de género afectam as experiências de saúde e de doença. 24 Influência da estratificação e das inserções sociais na morbilidade e mortalidade Classe e estratificação social A classe social é um conceito compósito, englobando diversas variáveis: • nível de escolaridade, • rendimento económico, • profissão, • família de origem, • expectativas de ascensão social, • outros aspectos simbólicos… Desigualdades sociais em saúde • Os níveis de saúde e os padrões de doença evidenciam os efeitos da classe social. • Existem diferenças acentuadas entre classes sociais em quanto à mortalidade geral e ocorrência de doenças graves, em quase todos os países ocidentais. As pessoas das classes sociais mais desfavorecidasmorrem, em média, mais cedo. - A probabilidade de morrer dos adultos aumenta progressivamente para mais do dobro à medida que se passa da classe I (profissões liberais), para a V (trabalho manual não qualificado). -Bebés filhos de pais da classe social V, têm duas vezes mais probabilidades de morrer no primeiro ano de vida do que pais da classe I. -Em Portugal (1992-96) a taxa de mortalidade infantil dos filhos de mães analfabetas era oito vezes superior à dos filhos de mães com curso superior. Na organização social da maior parte dos países ocidentais, é difícil separar os efeitos da etnia dos efeitos de classe. No Reino Unido existem diferenças relativamente: • à taxa de doença coronária (entre brancos e indianos); • à mortalidade por AVC e hipertensão (entre os afroantilhanos); 25 • ao cancro (entre os asiáticos e os afro-antilhanos); • à incidência e tratamento de doença mental. As hipóteses explicativas deste fenómeno têm de ser complexificadas. Não se trata apenas do acesso aos cuidados e das desigualdades na distribuição da riqueza. Factores associados: • falta de recursos; • condições de vida menos favoráveis; • pobreza e exclusão social; • maior prevalência de estilos de vida menos saudáveis; • dificuldades de acesso a cuidados de saúde e a medicamentos; Os problemas de saúde tendem a agravar situações socioeconómicas de carência, acentuando a pobreza e a exclusão social. Os indivíduos das classes sociais mais elevadas (e, em parte, da classe média) possuem mais competências para descreverem com pormenor os sintomas da doença; O discurso desses indivíduos é mais estruturado e mais próximo ou fiel ao que é típico do saber médico. A estratificação social determina também as percepções e representações acerca do corpo, da sua organização interna e da sua funcionalidade / disfuncionalidade. Em Portugal, o fenómeno das desigualdades em saúde verifica-se na taxa de mortalidade e nas causas de morte e de morbilidade. • Em 2008, em Portugal, 18% dos cidadãos viviam com menos de 450€ por mês. • Os rendimentos de 35% dos portugueses não lhes permitem ter um sistema de aquecimento apropriado em casa. • 64% das famílias não ganham o suficiente para fazer uma semana de férias fora de casa. Patricia Nota Nível de conhecimentos superior 26 27 Modelação de atitudes e comportamentos. Conceitos de atitude, locus de controlo da saúde, auto-eficácia e expectativas de acção-resultado e de efeitos da situação Construtos Psicossociais Relevantes a) Atitude - É uma predisposição para responder de forma favorável ou desfavorável a um objecto, pessoa, instituição ou acontecimento. b) Locus de controlo da saúde O locus de controlo permite caracterizar as percepções e atribuições dos indivíduos acerca dos factores que determinarão e explicarão o seu nível da saúde e as doenças que os afetam. Através desta caracterização, é possível predizer alguns dos seus comportamentos de adaptação à doença e às medidas preventivas. Os indivíduos podem justificar os eventos referindo: 1.forças internas e individuais ( locus interno) 2.forças externas (locus externo). Patricia Realce 28 1.Locus interno: •“Reconheço que não controlo o que bebo” •“Tenho de arranjar forma de me lembrar dos medicamentos” •“Os medicamentos ajudam, mas a vontade é importante” 2.Locus externo: •“A minha mãe é que compra doces e eu como-os todos, claro” •“É muito caro fazer alimentação saudável” •“A minha família tem tendência para engordar” c) Auto-eficácia - Crença sobre as capacidades individuais para organizar e executar algo ou para agir de determinada forma, tendo em vista um objectivo. As Expectativas de auto-eficácia derivam da: 1- Performance pessoal com sucesso numa ocasião aumenta expectativa de A-E para uma futura tentativa 2- Experiência vicariante (observação de outros) é facilitadora da expectativa de A-E 3- Persuasão verbal, encorajamento e permissão para fazer algo aumenta a probabilidade de o comportamento ser exibido 4- Activação emocional, um estado fisiológico e emocional pode ser convidativo à realização de um comportamento. d) Expectativas de ação-resultado - Crença sobre os efeitos/benefícios de determinado comportamento. e) Expectativas face aos efeitos da situação - Crenças sobre a relação entre determinado comportamento existente e os efeitos negativos Patricia Realce Auto-eficácia Patricia Nota FALTA ÚLTIMA MATÉRIA - TEORIAS
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