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A memória e suas alterações

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A memória e suas alterações
Introdução
A memória é a capacidade de registrar, manter e evocar as experiências e os fatos já ocorridos.
A memória é a capacidade de registrar, manter e evocar as experiências e os fatos já ocorridos. A capacidade de memorizar relaciona-se intimamente com o nível de consciência, com a atenção e com o interesse afetivo. Tudo o que uma pessoa aprende em sua vida depende intimamente da capacidade de memorização.
· Tipos de memória
No campo de estudo da memória biológica e humana, podem-se distinguir, de modo genérico, os seguintes tipos de memória:
 1. Memória cognitiva (psicológica). É uma atividade altamente diferenciada do sistema nervoso, que permite ao indivíduo registrar, conservar e evocar, a qualquer momento, os dados aprendidos da experiência.
 2. Memória genética (genótipo). Conteúdos de informações biológicas adquiridos ao longo da história filogenética da espécie, contidas no material genético (DNA, RNA, cromossomos, mitocôndrias) dos seres vivos. 
3. Memória imunológica. Informações registradas e potencialmente recuperáveis pelo sistema imunológico de um ser vivo. 
4. Memória coletiva ou cultural. Conhecimentos e práticas culturais (costumes, valores, habilidades artísticas e estéticas, preconceitos, ideologias, estilo de vida, etc.) produzidos, acumulados e mantidos por um grupo social minimamente estável.
A memória cognitiva é composta de três fases ou elementos básicos:
 – Fase de registro (percepção, gerenciamento e início da fixação);
 – Fase de conservação (retenção); 
– Fase de evocação (também denominada de lembranças, recordações ou recuperação).
Fisiologia
O substrato neural da memória de longo prazo (registros antigos bem-consolidados) repousa basicamente no córtex cerebral, ou seja, nas áreas de associação neocorticais, principalmente frontais e temporoparietoccipitais. 
Há certas evidências de que mecanismos bioquímicos estariam envolvidos nas memorizações rápida e de curto prazo, enquanto mecanismos propriamente neurais do tipo brotamento (sprouting) e remodelagens neuronais estariam envolvidos nas memorizações lenta e de longo prazo (Gordon, 1997). 
A interrupção bilateral do circuito hipocampo-mamilo-tálamo-cíngulo pode determinar a incapacidade de fixação de novos elementos mnêmicos, produzindo, assim, a síndrome amnéstica, de maior ou menor intensidade.
· Do ponto de vista psicológico, o processo de fixação (engramação) depende de: 
– Nível de consciência e estado geral do organismo (o indivíduo deve estar desperto, não muito cansado, bem-nutrido, calmo, etc.);
– Atenção global e capacidade de manutenção de atenção concentrada sobre o conteúdo a ser fixado (capacidade do indivíduo concentrar-se);
 – Sensopercepção preservada – Interesse e colorido emocional relacionado ao conteúdo mnêmico a ser fixado, assim como do empenho do indivíduo em aprender (vontade e afetividade);
 – Conhecimento anterior (elementos já conhecidos ajudam a adquirir elementos novos);
 – Capacidade de compreensão do conteúdo a ser fixado.;
– Organização temporal das repetições (distribuição harmônica e ritmada no tempo auxilia na fixação de novos elementos);
 – Canais sensoperceptivos envolvidos na percepção, já que, quanto maior o número de canais sensoriais, mais eficaz a fixação (p. ex., o método audiovisual de ensino de línguas).
· A conservação (retenção) dos elementos
mnêmicos depende de:
 – Repetição (pois, de modo geral, quanto mais se repete um conteúdo, mais facilmente este se conserva) 
– Associação com outros elementos (cadeia de elementos mnêmicos)
Fases da memória
· Em relação ao processo temporal de aquisição e evocação de elementos mnêmicos, a neuropsicologia moderna divide a memória em quatro fases ou tipos (Izquierdo, 2002): 
1. Memória imediata ou de curtíssimo prazo (de poucos segundos até 1 a 3 minutos). Este tipo de memória confunde-se com a atenção e com a memória de trabalho (que será vista adiante), pois é a capacidade de reter o material (palavras, números, imagens, etc.) imediatamente após ser percebido. A memória imediata tem capacidade limitada e depende da concentração, da fatigabilidade e de certo treino. As memórias imediata e de trabalho dependem sobretudo da integridade das áreas pré-frontais. 
2. Memória recente ou de curto prazo (de poucos minutos até 3 a 6 horas). Refere-se à capacidade de reter a informação por curto período. Também é um tipo de memória de capacidade limitada. A memória recente depende de estruturas cerebrais das partes mediais dos lobos temporais, como a região CA1 do hipocampo, do córtex entorrinal, assim como do córtex parietal posterior (Izquierdo, 2002). 
3. Memória remota ou de longo prazo (de meses até muitos anos). É a capacidade de evocação de informações e acontecimentos ocorridos no passado, geralmente após muito tempo do evento (pode durar por toda a vida). É um tipo de memória de capacidade bem mais ampla que a imediata e a recente. Acredita-se que a memória remota relaciona-se tanto ao hipocampo (no processo de transferência de memórias recentes para remotas) como a amplas e difusas áreas corticais, principalmente frontais, incluindo todos os outros lobos cerebrais, sobretudo em suas áreas corticais de associação (Kroll et al., 1997).
OBS: O termo priming diz respeito a um fenômeno normal e importante do processo de recordação ou evocação.
· O esquecimento (o oposto da evocação) se dá por três vias: 
1. Esquecimento normal, fisiológico: por desinteresse do indivíduo ou por desuso. 
2. Esquecimento por repressão (Freud [1915], 1974): quando se trata de conteúdo desagradável ou pouco importante para o indivíduo, podendo, no entanto, o sujeito, por esforço próprio, voltar a recordar certos conteúdos reprimidos (que ficam estocados no préconsciente). 
3. Esquecimento por recalque (Freud [1915], 1974): certos conteúdos mnêmicos, devido ao fato de serem emocionalmente insuportáveis, são banidos da consciência, podendo ser recuperados apenas em circunstâncias especiais (ficam estocados no inconsciente).
Segundo a lei de Ribot, o indivíduo que sofre uma lesão ou doença cerebral, sempre que esse processo patológico atinge seus mecanismos mnêmicos de registro e recordação, tende a perder os conteúdos da memória (esquecimento) seguindo algumas regularidades:
 1. O sujeito perde as lembranças e seus conteúdos na ordem e no sentido inverso que os adquiriu.
 2. Conseqüência do item anterior, ele perde primeiro elementos recentemente adquiridos e, depois, os elementos mais antigos. 
3. Perde primeiro elementos mais complexos e, depois, os mais simples. 
4. Perde primeiro os elementos mais estranhos, menos habituais e, só posteriormente, os mais familiares. 
5. Primeiramente, perde os conteúdos mais neutros; depois, perde os elementos afetivos e, apenas no fim, os hábitos e os comportamentos costumeiros mais profundamente enraizados no repertório comportamental e mental.
Tipos específicos de memória
Segundo o caráter consciente ou não-consciente do processo mnêmico, têm-se as memórias explícita e implícita. 
A memória explícita é adquirida de forma plenamente consciente, sendo também a mais relevante do ponto de vista clínico (aqui estão incluídas as lembranças de fatos autobiográficos). 
A memória implícita é adquirida de forma mais ou menos automática, o indivíduo não se dá conta de que está aprendendo esta ou aquela habilidade (aqui estão incluídos os aprendizados de habilidades motoras, p. ex., andar de bicicleta, e aquisições lingüísticas, como aprender a língua materna). 
Muito próximo a essa separação entre explícita e implícita, faz-se também a divisão da memória em declarativa e não-declarativa.
 Memória declarativa diz respeito a fatos, eventos e conhecimentos que são memorizados, sendo possível, inclusive, declarar verbalmente de que forma foram memorizados. 
A memória declarativa é sempre explícita (plenamente consciente) e diz respeito, com mais freqüência, a eventos autobiográficos e conhecimentos gerais. 
A memória não-declarativa refere-se a hábitos e capacidades, em geral motores, sensoriais,sensório-motores ou eventualmente lingüísticos (como nadar, andar de bicicleta, tocar violão, soletrar), sobre os quais é difícil declarar como são lembrados; deve-se agir, nadar um pouco, pegar o violão e tocar uma música para demonstrar (inclusive para si mesmo) que tais coisas são lembradas. Quase sempre a memória explícita é também declarativa, e a implícita, não-declarativa.
São quatro os principais tipos de memória que correspondem a estruturas cerebrais diversas. Esses tipos são, atualmente, as principais formas de memória de interesse à semiologia neurológica, psiquiátrica e neuropsicológica. São eles: 
1. Memória de trabalho 
2. Memória episódica
 3. Memória semântica 
4. Memória de procedimentos
· Memória de trabalho
 A memória de trabalho (working memory) é, na verdade, a combinação de habilidades de atenção (capacidade de prestar atenção e de concentração) e da memória imediata.
 São exemplos de memória de trabalho o ouvir um número telefônico, retê-lo na mente, para, em seguida, discar, assim como, quando ao dirigir em uma cidade desconhecida, perguntar sobre um endereço, receber a informação e a sugestão do trajeto e, mentalmente, executar o itinerário de forma progressiva. A memória de trabalho é, de modo geral, explícita e declarativa.
As regiões corticais pré-frontais são importantes para a integridade da memória de trabalho. Nas tarefas verbais, há maior envolvimento das áreas pré-frontais esquerdas, assim como das áreas de Broca (frontal esquerda inferior) e de Wernicke (temporal esquerda superior). 
Nas tarefas visuoespaciais (seguir mapas mentalmente, sair de labirintos gráficos e montar quebra-cabeças), há maior implicação das áreas pré-frontais direitas, assim como de zonas visuais de associação do carrefour temporoparietoccipital direito.
Todas as condições que afetam as regiões pré-frontais causam alteração da memória de trabalho. As alterações da memória de trabalho ocorrem em distintas condições clínicas; em ordem de freqüência: nas demências vasculares e na subforma ou variante frontal da demência frontotemporal. 
Podem ocorrer também na demência de Alzheimer, na DCL, na esclerose múltipla e no traumatismo craniano. Nos quadros psiquiátricos primários, como esquizofrenia, transtorno de déficit de atenção/hiperatividade e transtorno obsessivo-compulsivo, também se verificam alterações da memória de trabalho. No envelhecimento normal, é possível notar dificuldades leves (até, eventualmente, moderadas) na memória de trabalho.
· Memória episódica 
Esta é possivelmente a forma mais relevante de memória para a clínica neurológica, psiquiátrica e neuropsicológica. Trata-se de uma forma de memória explícita e declarativa relacionada a eventos específicos da experiência pessoal do indivíduo, ocorridos em determinado contexto. Relatar o que foi feito na noite anterior é um típico exemplo de memória episódica. 
Esta corresponde a eventos concretos, comumente autobiográficos, bem-circunscritos em determinado momento e local. Refere-se, assim, à recordação consciente de fatos reais. Esse tipo de memória depende, em essência, de mecanismos relacionados às regiões da face medial dos lobos temporais, particularmente o hipocampo e os córtices entorrinal e perirrinal. 
Quando tais áreas são lesadas ou se deterioram (como na síndrome de Wernicke-Korsakoff ou com o avançar da demência de Alzheimer), o paciente perde totalmente a capacidade de fixar e lembrar eventos ocorridos há poucos minutos, incluindo situações marcantes e significativas para ele. Respeitando a lei de Ribot, a memória remota de eventos antigos permanece por muito tempo sem alterações.
As perdas da memória episódica ocorrem principalmente nas demências degenerativas, como a demência de Alzheimer, a DCL e a demência frontotemporal. Nesses casos, os déficits de memória instalam-se de forma lenta e progressiva. 
Também se perde a memória episódica nas demências vasculares e em algumas formas de esclerose múltipla, mas, nessas condições, a perda geralmente se dá em forma de degraus (perdas mais ou menos abruptas seguidas de períodos de estagnação que, posteriormente, são seguidos por novas perdas abruptas).
· Memória semântica
Esse tipo de memória se refere a aprendizado, conservação e utilização de algo que pode ser designado como o arquivo geral de conceitos e conhecimentos factuais do indivíduo. 
Assim, conhecimentos como a cor de um leão (marrom) ou de um papagaio (verde), ou quem foi o maior jogador de futebol do Brasil (Pelé) são de caráter geral e se cristalizam por meio da linguagem, ou seja, também são de caráter semântico. Assim como a memória episódica, a memória semântica é sempre explícita e declarativa.
 A memória semântica diz respeito ao registro e à retenção de conteúdos em função do significado que têm. Ela é um componente da memória de longo prazo que inclui os conhecimentos de objetos, fatos, operações matemáticas, assim como das palavras e seu uso.
Depende de forma estreita das regiões inferiores e laterais dos lobos temporais, sobretudo no hemisfério esquerdo (diferentemente da memória episódica que depende das regiões mediais desses lobos).
A demência de Alzheimer é a condição clínica que mais freqüentemente altera a memória semântica (devido à deterioração das regiões ínfero-laterais dos lobos temporais ou de patologia no córtex frontal).
Qualquer processo patológico que atinja áreas temporais ínfero-laterais (traumatismo craniano, acidentes vasculares, encefalites ou lesões cirúrgicas) pode produzir alteração da memória semântica.
· Memória de procedimentos
Trata-se de um tipo de memória automática, geralmente não-consciente. Exemplos desse tipo de memória são habilidades motoras e perceptuais mais ou menos complexas (andar de bicicleta, digitar no computador, tocar um instrumento musical, bordar, etc.), habilidades visuoespaciais (como a capacidade de aprender soluções de labirintos e quebra-cabeças) e habilidades automáticas relacionadas ao aprendizado de línguas (regras gramaticais incorporadas na fala automaticamente, decorar a conjugação de verbos de uma língua estrangeira, etc.). 
A memória de procedimentos, de modo geral, é implícita e não-declarativa, mas, durante a aquisição da habilidade, pode ser explícita (como quando se aprende a dirigir um carro seguindo orientações verbais) ou implícita (como quando se aprende sem dificuldades a seqüência de números em um teclado telefônico, sem que se perceba o que está fazendo).
Aqui a memorização ocorre de forma lenta, por meio de repetições e múltiplas tentativas. A localização da memória de procedimentos está relacionada com o sistema motor e/ou sensorial específico envolvido na tarefa. 
As principais áreas envolvidas são a área motora suplementar (lobos frontais), os gânglios da base e o cerebelo.
Alterações patológicas da memória 
· Alterações quantitativas 
· Hipermnésias 
A hipermnésia traduz mais a aceleração geral do ritmo psíquico que uma alteração propriamente da memória. 
· Amnésias (ou hipomnésias) 
Denomina-se amnésia, de forma genérica, a perda da memória, seja a da capacidade de fixar ou a da capacidade de manter e evocar antigos conteúdos mnêmicos. 
Diferenciam-se os seguintes tipos de amnésias:
 1. Amnésia psicogênica. Na amnésia psicogênica, há perda de elementos mnêmicos focais, os quais têm valor psicológico específico (simbólico, afetivo). O indivíduo esquece, por exemplo, um evento de sua vida (que teve um significado especial para ele), mas consegue lembrar de tudo que ocorreu ao seu “redor”. Tal amnésia pode ser superada por um estado hipnótico (na hipnose, o indivíduo consegue lembrar do que, em estado de consciência, não recorda). 
2. Amnésia orgânica. Trata-se de amnésia menos seletiva (em relação ao conteúdo do material esquecido) que a psicogênica. Em geral, perde-se primeiramente a capacidade de fixação (memórias imediatas e recentes); em estados avançados da doença, o indivíduo começa a perder conteúdos antigos. A amnésia orgânica segue, de modo geral, a lei de Ribot. 
· Amnésia anterógrada e retrógrada
 Na amnésiaanterógrada, o indivíduo não consegue mais fixar elementos mnêmicos a partir do evento que lhe causou o dano cerebral. Por exemplo, o indivíduo não lembra do que ocorreu nas semanas (ou meses) depois de um trauma cranioencefálico. A amnésia anterógrada é um distúrbio-chave e bastante freqüente na maior parte dos distúrbios neurocognitivos. Já na amnésia retrógrada, o indivíduo perde a memória para fatos ocorridos antes do início da doença (ou trauma). 
Sua ocorrência sem amnésia anterógrada pode ser observada em quadros dissociativos (psicogênicos), como a amnésia dissociativa e a fuga dissociativa (Othmer; Othmer, 1994). 
De modo geral, é comum, após trauma cranioencefálico, a ocorrência de amnésias retroanterógradas, ou seja, déficits de fixação para o que ocorreu dias, semanas ou meses antes e depois do evento patógeno.
· Alterações qualitativas da memória (paramnésias) 
As alterações qualitativas da memória envolvem sobretudo a deformação do processo de evocação de conteúdos mnêmicos previamente fixados.
 O indivíduo apresenta lembrança deformada que não corresponde à sensopercepção original. Os principais tipos de paramnésias são:
1. Ilusões mnêmicas.
 Neste caso, há o acréscimo de elementos falsos a um núcleo verdadeiro de memória. Por isso, a lembrança adquire caráter fictício. Muitos pacientes informam sobre o seu passado indicando claramente deformação de lembranças reais: “Tive uma centena de filhos com minha mulher” (teve de fato alguns filhos com a mulher, mas não uma centena). Ocorre na esquizofrenia, na paranóia, na histeria grave, nos transtornos da personalidade (borderline, histriônica, esquizotípica, etc).
2. Alucinações mnêmicas.
 São verdadeiras criações imaginativas com a aparência de lembranças ou reminiscências que não correspondem a qualquer elemento mnêmico, a qualquer lembrança verdadeira. Podem surgir de modo repentino, sem corresponder a qualquer acontecimento. Ocorrem principalmente na esquizofrenia e em outras psicoses funcionais. As ilusões e as alucinações mnêmicas constituem, muitas vezes, o material básico para a formação e a elaboração de delírios (delírio imaginativo ou mnêmico).
Fabulações (ou confabulações) 
Neste caso, elementos da imaginação do doente ou mesmo lembranças isoladas completam artificialmente as lacunas de memória, produzidas, em geral, por déficit da memória de fixação. 
Além do déficit de fixação, o doente não é capaz de reconhecer como falsas as imagens produzidas pela fantasia. As fabulações (ou confabulações) são invenções, produtos da imaginação do paciente, que preenchem um vazio da memória. O paciente não tem intenção de mentir ou enganar o entrevistador. Portanto, as fabulações diferem das ilusões e das alucinações mnêmicas, que não podem ser produzidas, induzidas ou direcionadas pelo examinador. 
Alguns autores preferem entender as fabulações mais como um déficit de “monitoração da realidade” que como uma alteração específica da memória (Dalla Barba, 1993). As fabulações ocorrem freqüentemente na síndrome de Korsakoff, secundária ao alcoolismo crônico, associado a déficit da tiamina (vitamina B1), traumatismo craniano, encefalite herpética, intoxicação pelo monóxido de carbono, etc. 
A síndrome de Korsakoff é caracterizada por déficit intenso de memória de fixação (sobretudo do tipo episódica), que geralmente vem acompanhado de fabulações e desorientação temporoespacial. 
Por exemplo, um indivíduo com demência (como do tipo Alzheimer) conta a seus amigos uma história muito conhecida como se fosse inteiramente nova, história essa que, há poucos minutos, foi relatada por um companheiro. 
Ecmnésia 
Trata-se da recapitulação e da revivescência intensa, abreviada e panorâmica, da existência, uma recordação condensada de muitos eventos passados, que ocorre em Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais 149 breve período.
 Na ecmnésia, o indivíduo tem a vivência de uma alucinação, a visão de cenas passadas como forma de presentificação do passado. Esse tipo de ecmnésia pode ocorrer em alguns pacientes com crises epilépticas. O fenômeno denominado visão panorâmica da vida, associado às chamadas experiências de quase-morte, é, de certa forma, um tipo de ecmnésia, que ocorre relacionado à iminência da morte por acidente (afogamento principalmente, sufocamento ou intoxicação), em formas graves de histeria e no estado de hipnose. 
· Lembrança obsessiva 
A lembrança obsessiva, também denominada idéia fixa ou representação prevalente, manifesta-se como o surgimento espontâneo de imagens mnêmicas ou conteúdos ideativos do passado que, uma vez instalados na consciência, não podem ser repelidos voluntariamente pelo indivíduo. 
A imagem mnêmica, embora reconhecida como absurda e indesejável, reaparece de forma constante e permanece, como um incômodo, na consciência do paciente. Manifesta-se em indivíduos com transtornos do espectro obsessivo-compulsivo.

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