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B i a n c a N a c i f f – M E D T 1 | 1 MEDICINA LEGAL – M2 Traumatologia Forense Estuda as lesões e estados patológicos, imediatos ou tardios, produzidos por violência sobre o corpo humano, nos seus aspectos do diagnóstico, do prognóstico e das suas implicações legais e socioeconômicas. Trata também do estudo das diversas modalidades de energias causadoras desses danos. Estuda os aspectos médico-jurídicos das lesões caracterizadas como traumas (ação dos agentes lesivos). A convivência no meio ambiental pode causar ao homem as mais variadas formas de lesões produzidas por diversos tipos de energias. Essas energias dividem-se em: • energias de ordem mecânica: armas naturais, armas ocasionais, armas propriamente ditas... • energias de ordem física: temperaturas ou pressões • energias de ordem química energias de ordem química: venenos, caústicas • energias de ordem bioquímica • energias de ordem biodinâmica: choque, falência de órgãos • energias de ordem mista. É o resultado de uma energia atuando sobre um corpo sendo capaz de produzir uma lesão. OBS: Lesão = a alteração morfológica ou funcional do corpo no local em que ocorre uma transferência de energia é o que se denomina lesão. Daí que se denominem energias lesivas quaisquer formas de energia capazes de provocar lesões. Energias de ordem mecânicas Modifica o estado inercial de um corpo (repouso ou movimento), o tornando agente agressor produzindo assim lesões. Os meios mecânicos causadores do dano vão desde as armas propriamente ditas (punhais, revólveres, soqueiras), armas eventuais (faca, navalha, foice, facão, machado), armas naturais (punhos, pés, dentes), até os mais diversos meios imagináveis (máquinas, animais, veículos, quedas, explosões, precipitações). As lesões produzidas por ação mecânica no ser humano podem ter suas repercussões externa ou internamente. De conformidade com as características que imprimem às lesões, os meios mecânicos classificam- se em: perfurantes, cortantes, contundentes perfurocortantes, perfurocontundentes e cortocontundentes. E, por sua vez, produzem, respectivamente, feridas puntiformes, cortantes, contusas, perfurocortantes, perfurocontusas e cortocontusas. Instrumentos que causam lesões mistas: • Perfuro-cortante: (faca, canivete, espada) • Corto-contundente: (machado, enxada, dentes) • Perfuro-contundente: (projétil arma de fogo, ponteira de guarda chuva) O que é o trauma? FERIMENTO X FERIDA Ferimento: é o ato de ferir Ferida: é a lesão resultante do ato de ferir B i a n c a N a c i f f – M E D T 1 | 2 MEDICINA LEGAL – M2 1. LESÕES POR PERFURANTES: As lesões causadas por meios ou instrumentos perfurantes, de aspecto pontiagudo, alongado e fino, e de diâmetro transverso reduzido, têm características bem próprias. Ação: atuam por percussão ou pressão, afastando as fibras do tecido e, muito raramente, seccionando-as. Atuam por pressão sobre um determinado ponto e penetram a superfície. Exemplos: estilete, prego, espinho, agulha, o florete e o furador de gelo. As lesões oriundas desse tipo de ação denominam-se feridas punctiformes ou punctórias, pela sua exteriorização em forma de ponto. Orifício de entrada: Tem como característica a abertura estreita, de raro sangramento, quase sempre de menor diâmetro que o do instrumento causador. Características: circular, fusiforme, de pouco sangramento externo, repercussão interna (perfuração de órgãos), profundidade maior que a largura. Lei de Filhós e Langer: Quando o instrumento perfurante é de médio calibre, a forma das lesões assume aspecto diferente, obedecendo às leis de Filhos (Edouard Filhos) e Langer (Karl Ritter Von Langer): a) 1ª lei de Filhos: as soluções de continuidade dessas feridas assemelham-se às produzidas por instrumento de dois gumes ou tomam a aparência de “casa de botão” b) 2ª lei de Filhos: quando essas feridas se mostram em uma mesma região onde as linhas de força tenham um só sentido, seu maior eixo acompanha a direção delas c) Lei de Langer: na confluência de regiões de linhas de forças diferentes, a extremidade da lesão toma o aspecto de ponta de seta, de triângulo, de estrela ou mesmo de quadrilátero. B i a n c a N a c i f f – M E D T 1 | 3 MEDICINA LEGAL – M2 Trajetória: Retilínea, predomínio da profundidade, fundo de saco, pode ser transfixante. Em seu trajeto, os instrumentos perfurantes podem produzir ferimentos que terminam em fundo de saco, em uma cavidade, ou podem transfixar um segmento, redundando assim em dois orifícios: um de entrada e outro de saída, além de um trajeto. O ferimento de saída, quando isso ocorre, é em geral mais irregular e de menor diâmetro que o de entrada, em face do instrumento atuar nessa fase através de sua parte mais afilada. 2. LESÕES POR CORTANTES: Os meios ou instrumentos de ação cortante agem através de um gume mais ou menos afiado, por um mecanismo de deslizamento sobre os tecidos e, na maioria das vezes, em sentido linear. A navalha, a lâmina de barbear e o bisturi são exemplos de agentes produtores dessas ações. As feridas cortantes têm suas extremidades mais superficiais e a parte mediana mais profunda, nem sempre se apresentando de forma regular. Tem como característica principal a chamada “cauda de escoriação”. São também conhecidas como feridas fusiformes (em forma de fuso). A regularidade das bordas das feridas cortantes deve- se ao gume mais ou menos afiado do instrumento usado. Quase sempre a hemorragia é vultosa, devido à fácil secção dos vasos, que, não sofrendo hemostasia traumática, deixam seus orifícios naturalmente permeáveis. O comprimento predomina sobre a profundidade nessas feridas, fato este devido à ação deslizante do instrumento, à extensão usual do gume, ao movimento em arco exercido pelo braço do agente e ao abaulamento das muitas regiões ou segmentos do corpo. O início do ferimento é mais brusco e mais fundo. Detalhando: margens nítidas e regulares, hemorragia quase sempre abundante, predominío do comprimento sobre a profundidade, ausência de contusão em torno da lesão (gume secciona), extremidade distal mais superficial que a extremidade proximal, afastamento das margens da ferida. - Cauda de saída (de escoriação): na epiderme, na saída do instrumento. Ao determinar-se cauda de escoriação, subentende-se que é a parte final da ação que provocou a lesão, caracterizada pelo traço escoriado superficial da epiderme. Feridas incisas especiais: Esgorjamento: Caracteriza-se por uma longa ferida transversal do pescoço, de significativa profundidade, lesando além dos planos cutâneos, vasculonervosos e musculares, órgãos mais internos como esôfago, laringe e traquéia. Na parte anterior do pescoço. Degolamento: Na parte posterior do pescoço, secção quase total do pescoço. Não pode ser suicida, pois necessita de corte na coluna vertebral. B i a n c a N a c i f f – M E D T 1 | 4 MEDICINA LEGAL – M2 Evisceração Lesões de defesa 3. LESÕES POR CONTUNDENTES: Sua ação é quase sempre produzida por um corpo de superfície, e suas lesões mais comuns se verificam externamente, embora possam repercutir na profundidade. Agem por pressão, explosão, deslizamento, percussão, compressão, descompressão, distensão, torção, fricção, por contragolpe ou de forma mista. A contusão pode ser ativa, passiva ou mista, de conformidade com o estado de repouso ou de movimento do corpo ou do meio contundente. É ativa a contusão quando apenas o meio ou o instrumento se desloca. É passiva quando só o corpo humano está em movimento. As mistas também são chamadas de biconvergentes ou biativas (quando o corpo humano e o instrumento se movimentam com certa violência). As lesões produzidas por essa forma de energia mecânica sofrem uma incrível variação.Entre elas, distinguem-se: Escoriação: tem quase sempre como origem a ação tangencial dos meios contundentes. Define- se, de forma mais simples, como o arrancamento da epiderme e o desnudamento da derme, de onde fluem serosidade e sangue. Escoriação típica é aquela em que apenas a epiderme sofre a ação da violência. A recuperação é rápida. • Crosta serosa: predomínio de linfa • Crosta hemática: predomínio de sangue Equimose: trata-se de lesões que se traduzem por infiltração hemorrágica nas malhas dos tecidos. Quando há rompimento de vasos e derrame sanguíneo infiltrando os tecidos. Hematomas: quando o derrame sanguíneo não encontra condições de se difundir e forma coleções localizadas. Formam-se, no interior dos tecidos, verdadeiras cavidades, onde surge uma coleção sanguínea. • Rompimento de um vaso descolamento da pele. • Mais evidentes em tecidos frouxo e moles Lesão por assinatura: Luxação: afastamento de uma das extremidades (tendões, ósseos). São caracterizadas pelo deslocamento de dois ossos cujas superfícies de articulação deixam de manter suas relações de contato que lhes são comuns. Fraturas: decorrem dos mecanismos de compressão, flexão ou torção e caracterizam pela solução de continuidade dos ossos. • ação de instrumentos contundentes em ossos • podem ser fechada (subcutânea aberta (exposta). B i a n c a N a c i f f MEDICINA LEGAL – M2 Rompimento de um vaso maior, tecidos frouxo e moles afastamento de uma das extremidades São caracterizadas pelo deslocamento de dois ossos cujas superfícies de ter suas relações de correm dos mecanismos de compressão, flexão ou torção e caracterizam-se pela solução de continuidade dos ossos. ação de instrumentos contundentes em fechada (subcutânea) ou Lesões por martelo produzidas com certa violência, podem apresentar danos graves, afundamentos ósseos do segmento golpeado, reproduzindo a perda de tecidos quase semelhante à forma e às dimensõe objeto agressor. • Quando a ação é em sentido perpendicular, estas lesões são conhecidas como “fratura perfurante” ou “fratura em saca- • Pode ocorrer também um afundamento parcial e uniforme com inúmeras fissuras, em forma de arcos e meridianos, e, por isso, denominado sinal do mapa Carrara. • Quando o traumatismo se verifica tangencialmente, produz uma forma triangular óssea vizinha e com o vértice solto e dirigido para dentro da cavidade craniana. Ess sinal em “terraza” de Hof também podem ser produzidas por outros objetos como coronhas de revólver ou pistola, caibros ou mais resistentes. Encravamento: produzid objeto afiado e consistente, em qualquer parte do corpo. São ocorrências de grande impacto, quando o corpo do indivíduo se desloca B i a n c a N a c i f f – M E D T 1 | 5 Lesões por martelo: essas lesões, quando produzidas com certa violência, podem apresentar danos graves, como, por exemplo, afundamentos ósseos do segmento golpeado, reproduzindo a perda de tecidos quase semelhante à forma e às dimensões daquele Quando a ação é em sentido perpendicular, estas lesões são conhecidas como “fratura “fratura em vazador” ou -bocados” de Strassmann. ode ocorrer também um afundamento parcial e uniforme com inúmeras fissuras, em forma de arcos e meridianos, e, por isso, sinal do mapa-múndi de Quando o traumatismo se verifica tangencialmente, produz uma fratura de com a base aderida à porção óssea vizinha e com o vértice solto e dirigido para dentro da cavidade craniana. Esse é o sinal em “terraza” de Hoffmann. Estas lesões também podem ser produzidas por outros objetos como coronhas de revólver ou pistola, caibros ou mesmo quinas de objetos produzido pela penetração de um objeto afiado e consistente, em qualquer parte do corpo. São ocorrências de grande impacto, quando o corpo do indivíduo se desloca B i a n c a N a c i f f – M E D T 1 | 6 MEDICINA LEGAL – M2 violentamente de encontro ao objeto, ou quando ambos se defrontam em grande velocidade. • Quase sempre é acidental Empalamento: forma especial de encravamento. Caracteriza-se pela penetração de um objeto de grande eixo longitudinal, na maioria das vezes consistente e delgado, no ânus ou na região perianal. As lesões são sempre múltiplas e variadas, sua profundidade varia de acordo com o impacto e as dimensões do objeto contusivo. 4. LESÕES POR PERFUROCORTANTES: As lesões perfurocortantes são provocadas por instrumentos de ponta e gume, atuando por um mecanismo misto: penetram perfurando com a ponta e cortam com a borda afiada os planos superficiais e profundos do corpo da vítima. Agem, portanto, por pressão e por secção. Há os de um só gume (faca- peixeira, canivete, espada), os de dois gumes (punhal, faca “vazada”) e os de três gumes ou triangulares (lima). • As soluções de continuidade produzidas por instrumentos perfurocortantes de um só gume resultam em ferimentos em forma de botoeira com uma fenda regular, e quase sempre linear, com um ângulo agudo e outro arredondado. • Os ferimentos causados por arma de dois gumes produzem uma fenda de bordas iguais e ângulos agudos. As armas de três gumes originam feridas de forma triangular ou estrelada. 5. LESÕES POR CORTOCONTUSOS: Instrumentos que têm gumes, porém a principal ação pela contusão devido ao peso. Lesões profundas, bordas irregulares e destruição de tecidos. Ex. foice, machado, enxada, guilhotina...
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