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Os agentes mecânicos responsáveis por danos vão desde as armas propriamente ditas (punhais, revólveres, etc.), armas eventuais (faca, navalha, foice, facão, machado, etc.), armas naturais (punhos, pés, dentes), até os mais diversos meios imagináveis (máquinas, animais, veículos, quedas, explosões, precipitações) As feridas produzidas por ação mecânica no ser humano podem ter suas repercussões externa ou internamente. OBS: Segundo o Genival Veloso de França, esses meios atuam por pressão, percussão, tração, torção, compressão, descompressão, explosão, deslizamento e contrachoque. De conformidade com as características que imprimem às lesões, os meios mecânicos classificam- se em: ✓perfurantes ✓cortantes ✓contundentes ✓perfurocortantes ✓perfurocontundentes ✓cortocontundentes 1.1 - Lesões por instrumentos perfurantes As lesões oriundas desse tipo de ação denominam-se feridas punctiformes ou punctórias, pela sua exteriorização em forma de ponto. *características a abertura estreita; são de raro sangramento, de pouca nocividade na superfície e, às vezes, de certa gravidade na profundidade, em face desse ou daquele órgão atingido; e, por fim, quase sempre de menor r diâmetro que o do instrumento causador, graças à elasticidade e à retratilidade dos tecidos cutâneos. O trajeto dessas feridas é representado por um túnel estreito que se continua pelo tecido lesado, representado no cadáver por uma linha escura OBS: Quando o instrumento perfurante é de médio calibre, a forma das lesões assume aspecto diferente, obedecendo às leis de Filhos e Langer: ✓ primeira lei de Filhos: as soluções de continuidade dessas feridas assemelham-se às produzidas por instrumento de dois gumes ou tomam a aparência de “casa de botão”; ✓ segunda lei de Filhos: quando essas feridas se mostram em uma mesma região onde as linhas de força tenham um só sentido, seu maior eixo tem sempre a mesma direção; ✓ lei de Langer: na confluência de regiões de linhas de forças diferentes, a extremidade da lesão toma o aspecto de ponta de seta, de triângulo, ou mesmo de quadrilátero. OBS: Pode acontecer de a profundidade de penetração ser maior que o próprio comprimento da arma quando esta, por exemplo, atinge uma região onde haja depressibilidade dos tecidos superficiais, como no ventre. Lacassagne chamou essas lesões de “feridas em acordeão”. Em geral de origem homicida. 1.2 - Lesões produzidas por ação cortante - As feridas produzidas por essa forma de ação, preferimos denominá-las, embora não convenientemente, feridas cortantes, em vez de “feridas incisas”, deixando esta última expressão para o resultado da incisão verificada em cirurgia, cujas características são bem diversas daquelas das feridas produzidas pelos mais distintos meios cortantes. - As feridas cortantes têm suas extremidades mais superficiais e a parte mediana mais profunda, nem sempre se apresentando de forma regular. Tem como característica principal a chamada “cauda de escoriação”. São também conhecidas como feridas fusiformes (em forma de fuso). Segundo o França, essas feridas diferenciam-se das demais lesões pelas seguintes características: ✓ “forma linear ✓ regularidade das bordas ✓ regularidade do fundo da lesão ✓ ausência de vestígios traumáticos em torno da ferida ✓ hemorragia quase sempre abundante ✓ predominância do comprimento sobre a profundidade ✓ afastamento das bordas da ferida ✓ presença de cauda de escoriação voltada para o lado onde terminou a ação do instrumento ✓ vertentes cortadas obliquamente ✓ centro da ferida mais profundo que as extremidades ✓ paredes da ferida lisas e regulares ✓ perfil de corte de aspecto angular, quando o instrumento atua de forma perpendicular, ou em forma de bisel, quando o instrumento atua em sentido oblíquo ao plano atingido.” OBS: ordem das lesões que se cruzam. Como a segunda lesão foi produzida sobre a primeira, de bordas já afastadas, coaptando-se às margens de uma das feridas, sendo ela a primeira a ser produzida, a outra não segue um trajeto em linha reta (sinal de Chavigny). OBS: lesões de defesa – nas mãos, nos braços e até mesmo nos pés. Dentro do conjunto das lesões produzidas por ação cortante, existe o que se chama de esquartejamento, traduzido pelo ato de dividir o corpo em partes (quartos), por amputação ou desarticulação, quase sempre como modalidade de o autor livrar-se criminosamente do cadáver ou impedir sua identificação. A castração, segundo o França, é também uma lesão produzida por ação cortante e tem na maioria das vezes a finalidade e o instinto de vingança. A decapitação é também de ocorrência rara e se traduz pela separação da cabeça do corpo e pode ser oriunda de outras formas de ação além da cortante. Sua etiologia pode ser acidental ou homicida e, mais raramente, suicida. As feridas profundas da parede abdominal, conhecidas sob o rótulo de haraquiri, ainda que fortuitas, não se pode dizer que elas não ocorram, principalmente levando-se em conta as colônias japonesas entre nós. As lesões mais comuns nesses episódios, segundo especialistas, são o amplo ferimento, as grandes hemorragias, as eventrações e as eviscerações. Há ainda um tipo de lesão conhecida por esgorjamento e que se caracteriza por uma longa ferida transversal do pescoço, de significativa profundidade, lesando além dos planos cutâneos, vasculonervosos e musculares, órgãos mais internos como esôfago, laringe e traqueia. As lesões cortantes ou incisas no pescoço profundas e localizadas no pescoço são chamadas de esgorjamento quando nas faces laterais ou anterior. Se forem localizadas na face posterior, recebem o nome de degolamento. A secção dos vasos calibrosos da região carotídea pode levar o indivíduo à morte tanto por anemia aguda quanto por asfixia provocada pela aspiração do sangue extravasado através da laringe ou da traqueia seccionados. 1.3 - Lesões produzidas por ação contundente Entre os agentes mecânicos, os instrumentos contundentes são os maiores causadores de dano. Apresentam elas as seguintes características, segundo o França: ✓ “forma estrelada, sinuosa ou retilínea ✓ bordas irregulares, escoriadas e equimosadas ✓ fundo irregular ✓ vertentes irregulares ✓ pontes de tecido íntegro ligando as vertentes ✓ retração das bordas da ferida ✓ pouco sangrantes ✓ integridade de vasos, nervos e tendões no fundo da lesão ✓ ângulo tendendo à obtusidade.” As lesões produzidas por essa forma de energia mecânica sofrem uma incrível variação. Vejamos: ✓ Rubefação - não chega a ser uma lesão, sob o ponto de vista anatomopatológico, por não apresentar significativas e permanentes modificações de ordem estrutural; ✓ Escoriação - Define-se, de forma mais simples, como o arrancamento da epiderme e o desnudamento da derme, de onde fluem serosidade e sangue. Simonin chamou-a de erosão epidérmica e Dalla Volta de abrasão; OBS: Nas escoriações produzidas post mortem, não há formação de crosta; a derme é branca e não sugila serosidade nem sangue de suas papilas. O leito da escoriação produzida depois da morte é seco, descorado e apergaminhado. OBS2: Quando a derme é atingida, não é mais escoriação, e sim uma ferida. ✓ Equimose - trata-se de lesões que se traduzem por infiltração hemorrágica nas malhas dos tecidos. Para que ela se verifique, é necessária a presença de um plano mais resistente abaixo da região traumatizada e de ruptura capilar, permitindo, assim, o extravasamento sanguíneo. A forma das equimoses significa muito para os legistas. Às vezes, imprime a marca dos objetos que lhe deram origem (equimoses figuradas) com mais fidelidade do queas escoriações. Dedos de uma mão, anéis, pneus de automóveis (estrias pneumáticas de Simonin) e tranças de corda podem deixar suas impressões em regiões atingidas. O França cita, a equimose de sucção, provocada pelo beijo, imprime, vez por outra, em locais como o pescoço e o colo, a forma dos lábios, explicada pela diferença das pressões infra e extravasal, dando um aspecto de “violetas róseo-equimóticas” OBS: De início, é sempre avermelhada. Depois, com o correr do tempo, ela se apresenta vermelho escura, violácea, azulada, esverdeada e, finalmente, amarelada, desaparecendo, em média, entre 15 e 20 dias. OBS 2: O França menciona, em seu livro, essa mudança de tonalidades que se processa em uma equimose tem o nome de “espectro equimótico de Legrand du Saulle”, que tem valor relativo em sua cronologia. OBS: as equimoses da conjuntiva ocular não sofrem a sucessão de tonalidades em virtude de ser a conjuntiva muito porosa e de oxigenação fácil, Esta se mantém de colorido vermelho até sua total reabsorção. OBS 2: Quando a equimose se apresenta em forma de pequenos grãos, recebe o nome de sugilação e, quando em forma de estrias, toma a denominação de víbice. E petéquias, pequenas equimoses, quase sempre agrupadas e caracterizadas por um pontilhado hemorrágico. ✓ Edema - é o acúmulo de líquido no espaço intersticial e é constituído por uma solução aquosa de sais e proteínas do plasma. OBS: Quando aparece em determinado local e circunscrito a pequenos volumes chama-se de edema localizado. ✓ Hematoma - o maior extravasamento de sangue de um vaso bastante calibroso e a sua não difusão nas malhas dos tecidos moles dão, em consequência, um hematoma. Formam-se, no interior dos tecidos, verdadeiras cavidades, onde surge uma coleção sanguínea. Pela palpação da região afetada, percebe- se a sensação de flutuação. ✓ Bossa sanguínea(“Galo”) - diferencia-se do hematoma por apresentar-se sempre sobre um plano ósseo e pela sua saliência bem pronunciada na superfície cutânea. ✓ Fraturas - decorrem dos mecanismos de compressão, flexão ou torção e caracterizam-se pela solução de continuidade dos ossos. São chamadas de diretas, quando se verificam no próprio local do traumatismo, e indiretas, quando provêm de violência em uma região mais ou menos distante do local fraturado. ✓ Luxações - são caracterizadas pelo deslocamento de dois ossos cujas superfícies de articulação deixam de manter suas relações de contato que lhes são comuns. ✓ Entorses - são lesões articulares provocadas por movimentos exagerados dos ossos que compõem uma articulação, incidindo apenas sobre os ligamentos. ✓ Rupturas de vísceras internas - um impacto violento sobre o corpo humano pode resultar em lesões mais profundas, determinando rupturas de órgãos internos. ✓ Prolapso de vísceras internas - sob o efeito de uma violenta pressão sobre o abdome ou tórax pode ocorrer um prolapso retal, inclusive com a exposição dos intestinos ou um prolapso genital com a saída do útero e da bexiga. 1.3.1 - Lesões por martelo De causa quase sempre dolosa, essas lesões, quando produzidas com certa violência, podem apresentar danos graves, como, por exemplo, afundamentos ósseos do segmento golpeado. OBS: Quando a ação é em sentido perpendicular, estas lesões são conhecidas como “fratura perfurante” ou “fratura em vazador” ou “fratura em saca-bocados” de Strassmann. OBS2: Pode ocorrer também um afundamento parcial e uniforme com inúmeras fissuras, em forma de arcos e meridianos, e, por isso, denominado sinal do mapa- múndi de Carrara. OBS 3: Quando o traumatismo se verifica tangencialmente, produz uma fratura de forma triangular com a base aderida à porção óssea vizinha e com o vértice solto e dirigido para dentro da cavidade craniana. Esse é o sinal em “terraza” de Hoffmann. 1.3.2 – Encravamento É uma modalidade de ferimento produzida pela penetração de um objeto afiado e consistente, em qualquer parte do corpo. 1.3.3 – Empalamento Essa forma especial de encravamento caracteriza-se pela penetração de um objeto de grande eixo longitudinal, na maioria das vezes consistente e delgado, no ânus ou na região perineal. 1.4 - Lesões produzidas por ação perfurocortante As lesões perfurocortantes são provocadas por instrumentos de ponta e gume, atuando por um mecanismo misto: penetram perfurando com a ponta e cortam com a borda afiada os planos superficiais e profundos do corpo da vítima. Agem, portanto, por pressão e por secção. Há os de um só gume (facapeixeira, canivete, espada), os de dois gumes (punhal, faca “vazada”) e os de três gumes ou triangulares (lima). Segundo o França, a mais comum das causas jurídicas dessas lesões é o homicídio. 1.5 - Balística forense e lesões produzidas por ação perfurocontundente As feridas perfurocontusas são produzidas por um mecanismo de ação que perfura e contunde ao mesmo tempo. Esses ferimentos são produzidos quase sempre por projéteis de arma de fogo; no entanto, podem estar representados por meios semelhantes, como, por exemplo, a ponta de um guarda-chuva. 1.5.1 - Ferimento de entrada Pode ser resultante de tiro encostado, a curta distância ou a distância. Ferimentos de entrada nos tiros encostados - estes ferimentos, com plano ósseo logo abaixo, têm forma irregular, denteada ou com entalhes, devido à ação resultante dos gases que descolam e dilaceram os tecidos. Isso ocorre porque os gases da explosão penetram no ferimento e refluem ao encontrar a resistência do plano ósseo. É muito comum nos tiros encostados na fronte e chama-se câmara de mina de Hoffmann. Em geral, não há zona de tatuagem nem de esfumaçamento, pois todos os elementos da carga penetram pelo orifício da bala e, por isso, suas vertentes mostram-se enegrecidas e desgarradas, com aspecto de cratera de mina. Nos tiros dados no crânio, costelas e escápulas, principalmente quando a arma está sobre a pele, pode-se encontrar um halo fuliginoso na lâmina externa do osso referente ao orifício de entrada (sinal de Benassi ou de Benassi- Cueli). Como este sinal é constituído por um halo de fuligem de contorno suave sobre a superfície externa do crânio, precisamente sobre o periósteo. Os tiros encostados ainda permitem deixar impresso na pele o chamado sinal de Werkgaertner, representado pelo desenho da boca e da massa de mira do cano, produzido por sua ação contundente ou pelo seu aquecimento. Estes tiros ainda podem ser caracterizados pelo sinal do “schusskanol”, representado pelo esfumaçamento das paredes do conduto produzido pelo projétil entre as lâminas interna e externa de um osso chato, a exemplo dos ossos do crânio. OBS: Para um diagnóstico seguro de tiro encostado, é importante encontrar carboxi-hemoglobina no sangue do ferimento, assim como nitratos da pólvora, nitritos de sua degradação e enxofre decorrente da combustão da pólvora. 1.5.2 - Ferimentos de entrada nos tiros a curta distância Estes ferimentos podem mostrar: forma arredondada ou elíptica, orla de escoriação, bordas invertidas, halo de enxugo (orla de Chavigny – limpa as impurezas do projétil), halo ou zona de tatuagem, orla ou zona de esfumaçamento (zona de falsa tatuagem), zona de queimadura (zona de chama ou zona de chamuscamento, tem como responsável a ação superaquecida dos gases), aréola equimótica (presentada por uma zona superficial e relativamente difusa, decorrente da sufusão hemorrágica oriunda da ruptura de pequenos vasos localizados nas vizinhanças do ferimento) e zona de compressão de gases. Diz-se que um tiro é a curta distância quando, desferido contra um alvo, além da lesão de entrada produzida pelo impacto do projétil (efeito primário) são encontradas manifestaçõesprovocadas pela ação dos resíduos de combustão ou semicombustão da pólvora e das partículas sólidas do próprio projétil expelido pelo cano da arma (efeitos secundários). Efeitos primários: ● A orla de enxugo ou orla de Chavigny é explicado pela passagem do projétil através dos tecidos, atritando e contundindo, limpando neles suas impurezas. ● Aréola equimótica é representada por uma zona superficial e relativamente difusa, decorrente da sufusão hemorrágica oriunda da ruptura de pequenos vasos localizados nas vizinhanças do ferimento. ● A orla de escoriação, ou anel de Fisch, também é conhecida como zona de contusão de Thoinot, zona inflamatória de Hoffmann, halo marginal equimótico- escoriativo de Leoncini, orla erosiva de Piedelièvre e Desoille ou orla desepitelizada de França. Essa orla tem aspecto concêntrico nos orifícios arredondados, e em crescente ou meia-lua, nos ferimentos ovalares. Efeitos secundários: ● A zona de tatuagem é mais ou menos arredondado nos tiros perpendiculares, ou em forma de crescente, nos oblíquos. ● A zona esfumaçamento é decorrente do depósito deixado pela fuligem que circunscreve a ferida de entrada, formado pelos resíduos finos e impalpáveis da pólvora combusta. É também chamada de zona de falsa tatuagem. ● A zona de chama ou zona de chamuscamento, tem como responsável a ação superaquecida dos gases que atingem e queimam o alvo. OBS: Quando além das zonas de tatuagens e de esfumaçamento há alterações produzidas pela elevada temperatura dos gases considera-se essa forma de tiro a curta distância como à queima-roupa. 1.5.3 - Ferimentos de entrada nos tiros a distância Os ferimentos de entrada de bala, nos tiros a distância, têm as seguintes características: diâmetro menor que o do projétil, forma arredondada ou elíptica, orla de escoriação, halo de enxugo, aréola equimótica e bordas reviradas para dentro. Diz-se que uma lesão tem as características das produzidas por tiro a distância quando ela não apresenta os efeitos secundários do tiro. O diagnóstico diferencial entre o ferimento de entrada e o de saída no plano ósseo, principalmente nos ossos do crânio, é feito pelo sinal de funil de Bonnet ou do cone truncado de Pousold. Na lâmina interna, o ferimento é irregular, maior do que o da lâmina externa e com bisel interno bem definido, dando à perfuração a forma de um funil ou de um tronco de cone. O ferimento de saída é exatamente o contrário, como um amplo bisel externo, repetindo a forma de tronco de cone, mas, desta vez, com a base voltada para fora. OBS: ferimento de entrada em formato de “buraco de fechadura”, nos ossos da calvária, quando o projétil tem incidência tangencial, porém com um mínimo de inclinação suficiente para penetrar na cavidade craniana. 1.5.4 - Ferimento de saída A lesão de saída das feridas produzidas por projéteis de arma de fogo tem forma irregular, bordas reviradas para fora, maior sangramento e não apresenta orla de escoriação nem halo de enxugo e nem a presença dos elementos químicos resultantes da decomposição da pólvora. Não têm halo de enxugo, porque as impurezas do projétil ficam retidas através de sua passagem pelo corpo. Não apresentam orla de escoriação em decorrência de sua ação no complexo dermoepidérmico, atuando de dentro para fora, a não ser que o corpo atingido pelo disparo esteja encostado em um anteparo e o projétil, ao sair, encontre resistência dos tegumentos (sinal de Romanese). 1.5.5 – Trajeto É o caminho percorrido pelo projétil no interior do corpo. OBS: Alguns usam a expressão trajetória para todo o percurso do projétil, desde a sua saída da boca do cano até o local de sua parada final. Não é tão raro encontrar situações em que um único projétil é capaz de transfixar vários segmentos ou partes do corpo, com orifícios de entrada e saída, constituindo o que se poderia chamar de “trajeto em chuleio” ou “trajeto em alinhavo”. 1.5.6 - Lesões produzidas por projéteis múltiplos O disparo de projéteis múltiplos pode produzir um ou vários ferimentos, com características que dependem da distância do tiro ou dos elementos integrantes da carga. O número de projéteis dependerá do número de balins que haja dentro do estojo. A ferida aqui dependerá da distância do alvo. Nesse caso há um conjunto de feridas, cujo o nome é rosa de tiro de Cevidalli. OBS: O perito não pode se basear exclusivamente na rosa de tiro de Cevidalli, já que existem variações. Ele tem que conhecer a armar e o projétil. 1.5.7 - Elementos da Balística Forense As armas de fogo classificam quanto à alma do cano em: arma de alma lisa – canos sem raiamento, como se ver nas espingardas; arma de alma raiada – canos com sulcos paralelos e helicoidais, chamados de raias, como podemos perceber nas pistolas, revolveres e submetralhadoras; e arma de alma mista - apresentam-se com alma lisa e raiada. Segundo o modo de carregar as armas podem ser de antecarga (carregamento pela “boca do cano”, como nos primórdios) ou retrocarga – carregamento feito através de cartuchos colocados na parte posterior do cano, como é o caso das espingardas, através de carregadores, a exemplo das pistolas ou carregamento através de tambores onde são colocados os cartuchos como é o caso dos revolveres. Segundo os estudos que são submetidos à Balística Forense, esta pode ser dividida em: ● Balística interna: é a parte da balística que estuda a estrutura, mecanismos e funcionamento das armas de fogo, o tipo de metal usado na sua fabricação bem como, a sua resistência às pressões desenvolvidas na ocasião do tiro. ● Balística externa: estuda a trajetória do projétil, desde a saída da boca do cano da arma até a sua parada final (repouso). OBS: Na Balística Forense, para armas de fogo, existem dois métodos de identificação: identificação direta e a identificação indireta. Na identificação direta ou imediata, o exame é realizado nela própria, ou seja, das suas características e peculiaridades distintivas (tipo, calibre, número de série, etc.). Já na identificação indireta ocorre o exame é feito através de estudo comparativo de características deixadas pela arma nos elementos de sua munição. A velocidade da queima da carga propelente de um cartucho para arma de fogo pode ser regulada por meio do tamanho e da forma dos grânulos da pólvora. Por isso, a pólvora para os cartuchos usados em armas curtas queima mais rapidamente, de modo a se poder aproveitar ao máximo a produção e a força expansiva dos gases. Nas armas de cano longo, deve ser menos rápida, de modo a que continue a se exercer forte pressão por trás do projétil, ao longo do cano, mantendo-se a aceleração por mais tempo, a fim de obter uma velocidade maior. Isso favorece a construção dos fuzis, já que a pressão necessária à obtenção de grandes velocidades não precisa ser desenvolvida instantaneamente. Consequentemente, o reforço da câmara de combustão pode ser menor. A redução do comprimento do cano diminui a velocidade do projétil. Cabe lembrar que nas no disparo de arma de fogo de grosso calibre, como o fuzil, a principal característica que determina a gravidade das lesões é a velocidade do projétil. Os projeteis de alta velocidade possuem grande energia justamente porque ela é uma função exponencial da velocidade. Contudo, para que esse potencial se realize, é necessário que o projétil transfira sua energia, realizando um trabalho mecânico que se constata pelas deformações produzidas no alvo. O trajeto dos projéteis de alta energia difere do deixado pelos projéteis comuns por causa da maior potencia das ondas de pressão que produzem. Os projéteis em geral rompem os tecidos e formam um túnel cujas paredes são deslocadas pelas ondas de pressão em direção radial e emsentido centrífugo. O fenômeno da cavitação, segundo o Fança, embora já observado há muitas décadas nos projéteis de baixa energia, agora, com o surgimento dos projéteis de alta resolutividade, apresenta cavidades temporárias nos sentidos transversal e longitudinal, em face da aceleração brusca dos tecidos. 1.6 - Lesões produzidas por ação cortocontundente São ferimentos produzidos por instrumentos que, mesmo sendo portadores de gume, são influenciados pela ação contundente, ex: a foice, o facão, o machado, a enxada, a guilhotina, a serra elétrica, as rodas de um trem, a tesoura, as unhas e os dentes. As lesões verificadas por essa forma de energia são chamadas cortocontusas. São lesões quase sempre graves, fundas, alcançando mais profundamente os planos interiores e determinando as mais variadas formas de ferimentos, inclusive fraturas. No plano esquelético, a ação deste instrumento pode produzir fraturas. Um exemplo bem peculiar dessas lesões cortocontundentes, que se apresentam com características próprias, é a mordedura ou dentada, produzida pelo homem ou por animais, que são sempre pesquisadas na pele humana, em alimentos e em objetos. Podem-se dividir essas lesões em quatro graus: 1º grau: equimoses e escoriações representadas por mossas superficiais, com reais possibilidades de identificar as arcadas do agressor; 2ª grau: equimoses e escoriações mais nítidas e profundas, prestando-se melhor à identificação do seu autor; 3º grau: feridas contusas comprometendo a pele e a tela subcutânea e a musculatura, porém sem avulsões de tecidos; 4º grau: lacerações com perda razoável de tecidos e possíveis alterações estéticas (orelhas, nariz e lábios), que, na sua maioria das vezes, não permitem uma identificação com os dentes do autor da dentada. A análise cuidadosa das marcas de mordidas pode revelar, além da identidade do agressor, outros aspectos, tais como: ✓ violência da agressão; ✓ sequência na produção das mordidas, quando mais de uma; ✓ reação vital das lesões, para determinar se foram produzidas intra vitam ou post-mortem; ✓ data aproximada da lesão, ou seja, o tempo transcorrido entre sua produção e o exame.
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