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PDF Direito Civil e Comercial-1

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Direito Civil e Comercial 
 
Mestre Mariane Helena Lopes 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sumário 
 
Aula 1: Introdução ao Direito 
 
Aula 2: Aplicação do Direito 
 
Aula 3: Direito Civil – Das pessoas 
 
Aula 4: Direito Civil – Dos contratos 
 
Aula 5: Responsabilidade Civil 
 
Aula 6: Direito de Família I 
 
Aula 7: Direito de Família II 
 
Aula 8: Direito de Família III 
 
Aula 9: Temas Atuais sobre o Direito Civil, especificamente Direito de Família 
 
Aula 10: Direito Comercial I 
 
Aula 11: Direito Comercial II 
 
Aula 12: Direito Comercial III 
 
Aula 13: Títulos de Créditos I 
 
Aula 14: Títulos de Créditos II 
 
Aula 15: Direito Falimentar 
 
Aula 16: Tópicos Especiais em Direito Comercial 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Olá, caro(a) estudante. 
Sou a professora Mariane Helena Lopes e irei trabalhar com você a 
disciplina de Direito Civil e Comercial. Essa disciplina tem como objetivo lhe 
proporcionar conhecimentos basilares sobre duas grandes áreas do Direito e 
que são fundamentais para o nosso dia a dia. 
O Direito está presente em todos os eventos do nosso cotidiano e, para 
ilustrar tal afirmação, basta percebermos a simples ação ao apagarmos a luz. 
Apesar de passar despercebido, o que existe nessa relação é um contrato de 
prestação de serviços fornecido pela companhia de energia elétrica. 
Por isso, conhecer o Direito é essencial para a tomada de decisões, 
tanto na vida pessoal quanto na vida profissional. 
Durante nosso estudo, analisaremos como funciona o Direito Civil que 
regulamenta situações cotidianas da nossa vida, tais como o início da 
personalidade do sujeito, como é definida se a pessoa é capaz ou não, dentre 
outros. 
Além desses pontos, os assuntos abordados dentro dessa área do 
Direito são: direito possessório, responsabilidade civil, contratos e, por fim, 
direito das famílias, que vêm sendo amplamente discutido na atualidade. 
 
Desejo a você bons estudos! 
AULA 1: INTRODUÇÃO AO DIREITO 
 
 
 
Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/justi%C3%A7a-est%C3%A1tua-senhora-justi%C3%A7a-
2060093/ 
 
1.1 Conceito de Direito 
Ao iniciarmos nossos estudos sobre o Direito, precisamos entender o 
seu significado. Quando conceituamos algo estamos limitando o significado e o 
sentido de cada palavra (MARTINS, 2018). Warat nos diz que uma boa 
definição do Direito é aquela que depende dos seguintes requisitos: a) não 
deve ser circular; b) não deve ser elaborada em uma linguagem ambígua, 
obscura ou figurada; c) não deve ser ampla nem restrita; d) não pode ser 
negativa quando puder ser positiva (WARAT, 1977). 
Contudo, ao querermos definir o que vem a ser o Direito é preciso 
analisar o pensamento de Aristóteles. Para ele o homem era um animal 
político, destinado a viver em sociedade. Por esse motivo que haveria 
necessidade de regras para que pudesse viver em harmonia numa sociedade, 
objetivando, assim, a desordem na mesma (MARTINS, 2018). 
O jurista Paulo Dourado de Gusmão (1998, p. 3), de maneira geral, 
define a ciência do direito como: “conhecimentos, metodicamente coordenados, 
resultante do estudo ordenado das normas jurídicas com o propósito de 
apreender o significado objetivo das mesmas e de construir o sistema jurídico, 
bem como de descobrir suas raízes sociais e históricas”. 
O autor ainda afirma que objeto desta ciência são as normas jurídicas, 
tratando de realidades (históricas, sociais e culturais). 
De modo muito amplo, encontramos que a palavra Direito pode ser 
utilizada em três sentidos: 
 
• regra de conduta obrigatória (lei em sentido amplo) – 
direito objetivo; 
• sistema de conhecimentos jurídicos – ciência do direito; 
• poder facultado a alguém para que possa exigir de outro – 
direito subjetivo. 
 
O Direito tem por finalidade harmonizar as relações em sociedade e o 
convívio social, promovendo o bem comum. É o instrumento imprescindível na 
busca da sistematização jurisdicional mais adequada para a pacificação de 
conflitos sociais é o modo eficaz na perseguição de uma justiça cada vez mais 
efetiva, igualitária e concreta. 
Tem sido a ferramenta utilizada para chegar ao entendimento das 
relações entre os indivíduos enquanto sociedade, sistematizando normas e 
concretizando expectativas de direito na tentativa de adequar o sistema 
jurisdicional para alcançar a justiça na sua plenitude. 
O objetivo do Direito é a manutenção da ordem e a disciplina o 
comportamento do homem na sociedade, sempre se adequando à evolução e 
ao progresso do povo, pois, sendo produto histórico cultural, econômico e 
social, espelhando a realidade deste, deve acompanhar as modificações 
ocorridas no decorrer do tempo, não podendo ficar engessado, parado no 
tempo (GUSMÃO, 1998, p. 369). 
A partir dessa ideia podemos conceituar o Direito como um conjunto de 
princípios, regras e instituições que buscam regulamentar a vida humana em 
sociedade. 
Com o intuito de facilitar a compreensão sobre o tema a ciência jurídica 
é dividida em ramos e estes merecem uma análise individual para que se 
possa compreender o que cada um deles quer defender. 
 
1.2 Direito objetivo e Direito subjetivo 
O Direito objetivo é aquele em que as regras criadas pelo Estado (país) 
são impostas às pessoas, ou seja, não há opção em cumpri-las ou não. Elas 
devem ser cumpridas pelas relações que ocorrem na sociedade (MARTINS, 
2018). Ele é criado pelo Estado e aplicado a todos, independente da vontade 
do indivíduo. Podemos citar como exemplo o Direito Constitucional, que, como 
é trazido na própria Constituição Federal de 1988, deve ser aplicado e 
cumprido por todos. 
Já o Direito subjetivo é uma escolha, uma opção, uma faculdade do 
indivíduo em postular seu direito (MARTINS, 2018), ou seja, em entrar com 
uma ação judicial, procurando assim ter seus direitos atendidos. Podemos citar 
aqui, no caso do Direito Civil, quando nos referimos a indenização por danos 
morais. Se um sujeito se sente prejudicado, lesionado, apenas ele que pode 
entrar com uma ação para ter o seu direito atendido. 
 
1.3 Distinção entre Direito e Moral 
Quando falamos em Direito e Moral, muitas vezes esses conceitos se 
misturam, havendo uma confusão ou até mesmo um entendimento de que 
seriam a mesma coisa. 
A Moral varia com o tempo, em razão de questões políticas, sociais e 
econômicas que vão sendo alteradas no decorrer da história e de acordo com a 
sociedade em que é inserida. Essa Moral é unilateral, ou seja, cada indivíduo 
tem a sua. Além disso, ela não tem punição quando for descumprida, já que 
dependerá do próprio indivíduo. 
O Direito tem bilateralidade, visto que se impõe um comportamento do 
indivíduo na sociedade e, ao ser descumprido, existe uma punição por parte do 
Estado, que pode ser por uma prisão, um pagamento de multa, uma 
indenização, devendo ser levado em consideração o que não foi cumprido e o 
que é previsto na legislação. 
Pra ficar mais fácil a compreensão visualize a diferença entre eles: 
 
Tabela: Diferença entre Moral e Direito 
MORAL DIREITO 
Unilateral Bilateral 
Visa à intenção, partindo da 
exteriorização do ato. 
Visa à exteriorização do ato, partindo 
da intenção. 
Autônoma, sendo proveniente da 
vontade das partes; não há coação. 
Heterônoma, pode vir de fora da 
vontade das partes; há coação. 
Visa ao bem individual ou aos valores 
da pessoa. 
Visa ao bem social ou aos valores de 
convivência. 
Fonte: Adaptado de (REALE, 1976) 
 
#ISTO ESTÁ NA REDE# 
Para que o homem viva em sociedade ele deve passar por um processo 
de adaptação, que deve se dar tanto na esfera interna quanto na externa. Elas 
repercutem tanto no funcionamento do corpo do indivíduo quanto na relação do 
homem com o espaço exterior. O homem tem inúmeras necessidades, que são 
satisfeitas pela natureza. Sabe-se que o homem se adapta e transforma o 
mundo à sua volta, e na carência de recursos, constrói, criae transforma a 
natureza para a satisfação de determinada necessidade. 
Assim, as adaptações acabam repercutindo na formação da cultura de 
um determinado local e influenciam a vida em sociedade. A partir disso, o 
homem conseguirá conviver e participar da vida em sociedade, possibilitando 
assim uma convivência mais harmônica. 
Fonte: Texto adaptado de < 
https://www.jurisway.org.br/v2/pergunta.asp?idmodelo=6470 > 
 
# ANOTE ISSO # 
Veja que aqui falamos em punição, que pode ser chamada também de 
sanção. Mas cuidado! Não pode ser confundido com Sansão da história de 
Dalila. Veja sempre a forma correta de se escrever! Uma letra pode mudar 
totalmente o significado de uma palavra. 
AULA 2: APLICAÇÃO DO DIREITO 
 
 
Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/estudo-advogado-direito-legal-2746004/ 
 
2.1 Fontes do Direito 
Quando falamos em fontes é preciso compreender que são elas que 
criam o Direito. Ou seja, se o Direito é uma criação do Estado para 
regulamentação da vida humana em sociedade, considerando as necessidades 
da mesma, deve-se identificar que sua criação também é baseada na evolução 
da própria sociedade. 
As fontes precisam acompanhar a sociedade, possibilitando assim sua 
aplicação na mesma. Caso contrário, perdem sua finalidade, que é a ordem e a 
paz social. 
Ao se falar em fontes deve-se ter em mente as diversas formas pelas 
quais nasce o Direito. Como visto, o direito é uma criação do Estado, de acordo 
com as necessidades da sociedade. Por essa razão, a própria sociedade 
determinará de onde provêm ou emanam as regras que a disciplinará. As 
fontes primárias do Direito são: lei, costumes, doutrina e jurisprudência. 
Passaremos a estudar cada uma delas. 
 
LEI 
Essa é a fonte do direito de maior importância em nosso país e em 
nosso ordenamento jurídico. Assim, deve-se buscar na lei a forma correta de 
proceder em nossas relações sociais. O Art. 5º, inciso II da Constituição 
Federal estabelece que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer 
alguma coisa senão em virtude de lei”. Tal fonte é uma regra de conduta 
editada pelo Poder Legislativo, na qual estão presentes os representantes do 
povo, ou seja, são os vereadores (nível municipal), os deputados estaduais 
(nível estadual) e os deputados federais (nível federal). A característica da lei é 
a generalidade. Ela se aplica de uma maneira geral a todos, não fazendo 
qualquer tipo de distinção. 
 
COSTUME 
O costume é o comportamento praticado reiteradamente pela sociedade, 
que acaba se tornando uma lei, sendo então incorporado ao ordenamento 
jurídico brasileiro. Ou seja, antes mesmo de se tornar uma lei, já é considerado 
uma fonte do direito. Como dito anteriormente, a principal fonte do direito é a 
lei. Todavia, em alguns casos, ainda não há regulamentação, sendo necessário 
buscar a solução para estes casos nas regras que a sociedade vem praticando 
de forma reiterada. 
É importante citarmos que o costume, quando for contrário a uma 
determinação expressa em lei, não pode ser aplicado na sociedade. Além 
disso, ele pode variar de acordo com a área que está sendo aplicada. Por 
exemplo, no Direito Comercial, o costume tem importância, como acontece 
com o cheque pré-datado ou também chamado de pós-datado. Já no Direito 
Penal, o costume é totalmente proibido, pois, conforme prevê o Código Penal e 
como será estudado em nossa última unidade, não há crime sem lei que o 
defina. 
 
DOUTRINA 
A doutrina consiste na opinião dos juristas, que são os estudiosos do 
Direito sobre determinado assunto. Seria o conjunto sistemático de teorias 
sobre o Direito elaborado pelos juristas. Pode-se dizer que é um produto da 
reflexão e do estudo que os grandes juristas desenvolvem sobre o Direito 
(COTRIM, 2015). 
 
JURISPRUDÊNCIA 
Ao lado da doutrina, a jurisprudência realiza a interpretação do direito. 
Enquanto a doutrina é a interpretação do direito feita pelos juristas, a 
jurisprudência é a interpretação do Direito feita pelos Tribunais do nosso país. 
A principal fonte é a lei, porém, ela deve ser interpretada, e esta interpretação é 
feita tanto pelos juristas quanto pelos Tribunais, no momento em que eles 
julgam os casos concretos. 
Esta pode ser utilizada como base para direcionamento de novas ações 
judiciais. Além disso, serve também como parâmetro para definição de valores 
em algumas situações, como acontece em ações de indenização por danos 
morais. 
 
 
#SAIBA MAIS# 
Você pode acompanhar as jurisprudências por meio dos sites dos 
Tribunais Estaduais e também nos sites do STJ e STF. Lá você conseguirá ver 
o que vêm sendo entendido pelos desembargadores e ministros. 
 
 
2.2 Aplicação das normas de Direito 
Quando falamos na aplicação de uma lei, o magistrado (juiz) busca 
atender aos fins sociais a que ela se dirige, proporcionando assim que o bem 
comum seja atingido. Na sequência, analisaremos a interpretação e a 
integração das normas, possibilitando a compreensão de sua aplicação ao 
caso concreto. 
 
INTERPRETAÇÃO 
Interpretar uma norma significa compreender a finalidade que o 
legislador quis atender com a sua criação. Quanto às fontes que interpretam a 
norma, elas podem ser: autêntica, doutrinária e jurisprudencial. Com relação 
aos meios: gramatical, lógica, histórica e sistemática. 
E, por fim, quanto aos resultados: declarativa, extensiva, restritiva e 
finalística. Vamos analisar as várias formas de interpretação da norma jurídica 
(MARTINS, 2019, p. 24-25): 
 
a. Gramatical, literal ou filológica: é a verificação do sentido 
gramatical da norma criada. Analisa-se o alcance das palavras no 
texto da lei. 
b. Lógica: estabelece-se uma conexão entre vários textos legais a 
serem interpretados e aplicados ao caso concreto. 
c. Teleológica ou finalística: a interpretação da norma é dada de 
acordo com o fim esperado pelo legislador. 
d. Sistemática: é feita a interpretação de acordo com o sistema que a 
norma está inserida, não interpretando isoladamente a lei. 
e. Extensiva ou ampliativa: dá-se um sentido mais amplo à norma do 
que ela normalmente teria. 
f. Restritiva ou limitativa: dá-se um sentido mais restrito, limitando- -se 
à interpretação da norma jurídica. 
g. Histórica: deve-se analisar a evolução histórica dos fatos, o 
pensamento do legislador não só à época da edição da lei, mas 
também de acordo com sua exposição de motivos. 
h. Autêntica: é realizada pelo próprio órgão que criou a lei, no 
momento em que ela declara o sentido, alcance e conteúdo por meio 
de norma. 
i. Sociológica: constata-se a realidade e a necessidade social na 
elaboração da lei e em sua aplicação. 
 
No Direito não há uma única interpretação fora do que foi mencionado 
acima. Devem ser seguidos os métodos de interpretação supracitados. 
 
INTEGRAÇÃO 
A integração é quando o intérprete da lei fica autorizado a suprir as 
lacunas existentes na norma jurídica por meio da utilização de técnicas 
jurídicas, que são: analogia, equidade e princípios gerais do direito. 
A analogia é um meio de preenchimento das lacunas deixadas pelo 
legislador no momento de criação de uma lei. É quando o juiz, ao analisar o 
caso concreto, aplica uma lei semelhante ao caso. A equidade é justiça, o bom 
senso. Nesse caso, o juiz irá aplicar ao caso concreto a solução que considerar 
como adequada de acordo com o seu entendimento, com o que ele considerar 
como correto. Ela tem como significado completar a lacuna da lei, porém é 
vedado julgar contra a lei. 
Tanto a analogia quanto a equidade serão utilizadas exclusivamente 
pelo juiz para fundamentar sua decisão quando a lei apresentar alguma lacuna. 
Já os princípios gerais do direito serão analisados separadamente no 
decorrer desta unidade devido a sua complexidade. 
 
2.3 Eficácia 
A eficácia pode ser conceituada como “a produção de efeitos jurídicos 
concretos ao regular as relações” (MARTINS, 2013, p. 28). Podemos dizer 
assimque a eficácia é a aplicabilidade da legislação ao caso concreto, bem 
como saber também em quais situações a legislação poderá ser aplicada. Para 
tanto a eficácia pode ser dividida em duas: no tempo e no espaço. 
 
EFICÁCIA NO TEMPO 
Significa a entrada da lei em vigor, ou seja, quando a lei passará a existir 
na sociedade. Geralmente, a lei entra em vigor na data de sua publicação no 
Diário Oficial da União (DOU). 
Caso a lei não apresente nenhum prazo, esta começará a vigorar 45 
dias depois de oficialmente publicada (MARTINS, 2019). Com a publicação da 
lei no Diário Oficial da União objetiva-se torná-la pública para toda a sociedade, 
não podendo ser alegado o desconhecimento da mesma. 
Caso a lei não tenha uma vigência temporária, ou seja, não apresente 
um prazo máximo em que ela existirá na sociedade, ela só poderá deixar de 
existir até que outra lei a modifique ou a revogue. 
A lei posterior pode revogar a anterior nas seguintes situações 
(MARTINS, 2019, p. 30): 
 
a. Expressamente o declare: revogam-se as disposições em 
contrário, ou quando revoga especificamente outra lei ou Artigo de lei; 
b. For incompatível como, por exemplo, quando prescrever conduta 
totalmente contrária à especificada na lei anterior; 
c. Regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. Caso a 
lei nova estabeleça disposições gerais ou especiais iguais às já 
existentes, não revoga nem modifica a lei anterior. 
 
Uma vez que a lei passou a ter vigor, terá efeito imediato e geral, 
respeitando sempre o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. 
O ato jurídico perfeito é aquele já consumado segundo a lei vigente ao tempo 
em que ela se efetuou. O direito adquirido é o que integra o patrimônio jurídico 
da pessoa, por já ter implementado todas as condições para adquirir o direito, 
podendo exercê-lo a qualquer momento. E, por fim, a coisa julgada, que é a 
decisão judicial que já não cabe mais recurso, não podendo ser modificada 
(MARTINS, 2019). 
 
 
#ANOTE ISSO# 
Por conta da pandemia COVID-19 temos muitas leis que vêm sendo 
editadas especificamente pra isso. Sendo assim precisamos ficar atentos, pois 
algumas delas terão validade para esse evento específico. 
 
EFICÁCIA NO ESPAÇO 
 
Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/globo-terra-am%C3%A9rica-do-sul-oceano-609225/ 
 
Já a eficácia no espaço diz respeito ao território em que será aplicada a 
norma. Ela se aplica ao Brasil, tanto para os natos como para os estrangeiros 
que aqui residam (MARTINS, 2019). 
A eficácia no espaço também resolverá os casos em que acontecer 
alguma atitude contrária à lei, analisando se naquele território será aplicada a 
lei brasileira ou uma lei estrangeira. Para ilustrar, imagine a seguinte situação: 
o indivíduo A entrou na embaixada brasileira na Holanda e acabou matando o 
sujeito B. Nesse caso, ainda que a embaixada esteja localizada na Holanda, 
será aplicada a lei brasileira, pois o órgão oficial é brasileiro, sendo 
considerada uma extensão do nosso território. 
Também devemos considerar como extensão do nosso território e que 
será aplicada a legislação brasileira, às embarcações e às aeronaves que 
tenham nacionalidade brasileira. 
AULA 3: DIREITO CIVIL I – Das 
Pessoas 
 
 
 
Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/direito-estudo-legal-aprender-2746187/ 
 
O Direito Civil é comum a todas as pessoas por disciplinar o modo de 
ser e agir, sem quaisquer referências às condições sociais e culturais. Toda a 
vida social é regida pelo Código Civil, que regula as ocorrências do dia. Sendo 
assim, esse ramo do direito pode ser conceituado como um conjunto de 
princípios, regras e instituições que regulam as relações entre pessoas e entre 
estas e os bens de que se utilizam. 
 
3. 1 Pessoa Natural 
No direito moderno, todo o ser humano é pessoa no sentido jurídico. 
Duas são as espécies de pessoas reconhecidas pela ordem jurídica: a pessoa 
natural e a pessoa jurídica, que estudaremos no decorrer desta unidade. O Art. 
1º do Código Civil dispõe que: “todo homem é capaz de direitos e deveres na 
ordem civil”. 
Os animais são excluídos de seu raio de ação. Existem leis específicas 
de proteção aos seres irracionais. Eles são tomados em consideração apenas 
para fins sociais, pela necessidade de se elevar o sentimento humano, 
evitando-se o espetáculo degradante de perversa brutalidade (REIS; REIS, 
2006). 
Assim, a pessoa natural é o ser humano provindo da mulher e o início da 
personalidade civil pode começar de duas formas: 1º) do nascimento com vida; 
2º) da concepção do feto, ou seja, da divisão celular. Dependerá do autor para 
saber como ele considera o início da personalidade. Independente de qual 
forma se entende o início da personalidade, o nascituro é um sujeito de direito, 
podendo, pelo Art. 2º do Código Civil, receber doações e legados, bem como 
ser adotado e legitimado. 
 
3.2 Capacidade 
 
A partir do momento em que o indivíduo adquire personalidade, é sujeito 
de direitos e obrigações. “A capacidade pode ser definida como a aptidão 
determinada pela ordem jurídica para gozo e exercício de um direito por seu 
titular” (MARTINS, 2013, p. 224). O Art. 1º do Código Civil prevê que “toda 
pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil”, implicando a capacidade 
de ser parte. Duas são as espécies de capacidade: a de gozo ou de direito e a 
de exercício ou de fato. A capacidade de gozo, de direito, ou jurídica, é a 
aptidão da pessoa gozar seus direitos. Ela é inerente ao ente humano e toda 
pessoa a possui. 
Já a capacidade de exercício, de fato ou processual, é a aptidão de 
exercitar direitos. A capacidade no Direito Civil é dividida em: 1) absolutamente 
incapazes; 2) relativamente capazes e; 3) plenamente capazes ou capacidade 
absoluta. Os absolutamente incapazes devem ser representados por seus pais 
ou guardiões e não podem exprimir sua vontade. 
De acordo com o Art. 3º do Código Civil, são eles: 
 
“Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos 
da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos”. 
 
Os relativamente incapazes são aqueles que devem ser assistidos por 
seus pais ou representantes. Eles são incapazes relativamente a certos atos, 
ou à maneira de exercê-los. De acordo com o Art. 4º do Código Civil, são eles: 
 
Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os 
exercer: 
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; 
II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; 
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem 
exprimir sua vontade; 
IV - os pródigos. 
 
Por fim, os plenamente capazes ou que possuem capacidade absoluta 
são os maiores de 18 anos, que ficam habilitados para a prática de todos os 
atos da vida civil. 
 
3.3 Emancipação 
 
O Art. 1.634, inciso VII do Código Civil dispõe que, até os 16 anos, os 
filhos menores devem ser representados por seus pais. A partir dos 16 anos 
até os 18 anos ele é assistido. É nessa possibilidade de assistência que se 
pode falar na emancipação. 
A emancipação é a cessação, para os maiores de 16 e menores de 18 
anos, de sua incapacidade, antes da idade prevista em lei – diga-se 18 anos – 
nos seguintes casos, de acordo com o art. 5º do Código Civil: 
 
Art. 5º A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a 
pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil. 
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: 
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, 
mediante instrumento público, independentemente de homologação 
judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver 
dezesseis anos completos; 
II - pelo casamento; 
III - pelo exercício de emprego público efetivo; 
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior; 
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de 
relação de emprego, desde que, em função deles,o menor com 
dezesseis anos completos tenha economia própria. 
 
Nota-se assim que nesses casos é possibilitado que o sujeito possa 
realizar os atos da vida civil de forma antecipada, desde que encaixada em 
uma das hipóteses elencadas no artigo citado. 
 
3.4 Término Da Existência da Pessoa Natural 
 
A existência da pessoa natural termina com a morte. Tal situação está 
prevista no Art. 6º do Código Civil que dispõe: “a existência da pessoa natural 
termina com a morte”. Nesse momento os bens do falecido se transmitem aos 
herdeiros. A certidão de óbito é o documento que comprova a morte real. 
Todavia, além desse tipo de morte, o Direito brasileiro prevê também a morte 
presumida, com relação aos ausentes. Nesses casos, a lei autoriza a abertura 
de sucessão definitiva. Deve-se entender por ausente a pessoa desaparecida 
do seu domicílio, que deixa de dar notícias por um longo período de tempo 
(COTRIM, 2009). 
Ainda, o Art. 7º do Código Civil também autoriza a declaração de morte 
presumida, independentemente da declaração de ausência: I. Se for 
extremamente provável a morte daquele que estava em perigo de vida; II. Se a 
pessoa desaparecida em campanha ou feita prisioneira não for encontrada até 
dois anos após o término da guerra. 
Essa declaração de morte presumida somente poderá ser requerida 
depois de cessadas as buscas e averiguações, e a sentença de declaração 
deve fixar a data provável do falecimento. 
3.5 Pessoa Jurídica 
 
A pessoa jurídica é uma ficção estabelecida pelo Estado diante de certas 
situações. Não conseguimos ver ou tocar a pessoa jurídica, pois ela é uma 
entidade constituída por pessoas ou bens com vida, direitos, obrigações e 
patrimônios próprios. Sendo assim, as pessoas jurídicas podem ser 
classificadas em pessoas de Direito Público interno ou externo e de Direito 
Privado. 
Faz parte do Direito Público externo ou internacional os Estados 
estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo Direito Internacional 
Público. São pessoas jurídicas de Direito Público interno: a União; os estados e 
Distrito Federal; os Municípios; as autarquias e as demais entidades de caráter 
público criadas por lei (MARTINS, 2012). São consideradas pessoas jurídicas 
de direito privado: as associações; as sociedades; as fundações privadas; as 
organizações religiosas; os partidos políticos e as empresas individuais de 
responsabilidade limitada. 
 
3.6 Domicílio 
 
O domicílio da pessoa física é o lugar em que ela estabelece sua 
residência com ânimo definitivo de ali permanecer. Já a residência é o local em 
que a pessoa mora, onde faz suas refeições, toma banho etc. Na residência, a 
pessoa não tem o ânimo definitivo de permanecer ali e na maioria das vezes o 
domicílio e a residência física são os mesmos. Todavia, pode ser que o 
domicílio e a residência sejam diferentes, por exemplo, na seguinte situação: 
moro em Maringá com minha família, mas trabalho em Curitiba, ficando lá de 
segunda a sexta. Maringá é o meu domicílio, mas Curitiba é a minha 
residência. O domicílio, na maioria das vezes, é voluntário, ficando a critério do 
indivíduo escolhê-lo, que também pode ser um domicílio legal, que é aquele 
determinado por lei, por exemplo, no caso do filho menor, em que seu domicílio 
será o mesmo de seu representante. 
Caso a pessoa física tenha várias residências em que vive 
alternadamente, o domicílio será qualquer uma delas. Quanto às pessoas 
jurídicas, de acordo com o Art. 75 do Código Civil, o domicílio é: 
 
I. Da União, o Distrito Federal; 
II. Dos Estados, as respectivas capitais; 
III. Do Município, o lugar onde funcione a administração municipal; 
IV. Das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as 
respectivas diretorias e administrações, ou onde elegerem domicílio 
especial em seus estatutos ou atos constitutivos. 
 
Os funcionários públicos têm como domicílio o local onde exercem 
permanentemente suas funções. O preso tem como domicílio o lugar em que 
cumpre sentença. Nos contratos escritos, as partes poderão especificar o 
domicílio onde se exercitem e cumpram os direitos e obrigações resultantes 
dele. É o chamado domicílio de eleição. Já a pessoa jurídica tem sede e não 
domicílio. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AULA 4: DIREITO CIVIL II – Bens e 
Fatos jurídicos 
 
 
4.1 Bens 
 
 
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2185510/ 
 
 
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Os bens são tudo o que compõem a sociedade. Podem ser objetos ou 
até mesmo situações onde não há nada físico que os represente, como no 
caso de um direito autoral. Segundo Martins, (2012), eles podem ser 
classificados de várias formas, que passaremos a estudar a seguir: 
 
1º. Bens corpóreos e bens incorpóreos: 
➢ Corpóreos: são os bens físicos, como, por exemplo, uma cadeira. 
➢ Incorpóreos: também chamados de imateriais. São os bens abstratos, 
como um direito. 
 
2º. Bens móveis e bens imóveis: 
➢ Móveis: são os bens suscetíveis de movimento, podendo ser 
transportados de um local para outro, como os veículos, por exemplo. 
➢ Imóveis: eles podem ser imóveis por: a. por natureza: solo, mar; b. por 
acessão: como as construções; c. por destinação: como os utensílios 
agrícolas; d. por disposição legal. 
 
3º. Bens fungíveis e bens infungíveis: 
➢ Fungíveis: são aqueles que podem ser substituídos por outro da mesma 
espécie, por exemplo, uma borracha que você comprou e acabou 
perdendo. 
➢ Infungíveis: são aqueles que não podem ser substituídos por outro da 
mesma espécie, por exemplo, o seu caderno de faculdade. Se você 
empresta para um colega anotar o conteúdo que ele perdeu e ele acaba 
extraviando seu material, não adiantará ele lhe comprar outro caderno, 
pois aquele que você emprestou é único, já que continha suas 
anotações pessoais a respeito do conteúdo. 
 
4º. Bens consumíveis e bens inconsumíveis: 
➢ Consumíveis: deixam de existir à medida que vão sendo usados, como 
os alimentos. 
➢ Inconsumíveis: são os bens duráveis, como um veículo. 
 
5º. Bens divisíveis e bens indivisíveis: 
➢ Divisíveis: são os que podem ser repartidos. 
➢ Indivisíveis: não podem ser divididos sem prejudicar a sua integralidade. 
 
6º. Bens singulares e bens coletivos: 
➢ Singulares: são aqueles que podem ser individualizados. 
➢ Coletivos: são aqueles considerados em sua totalidade. 
 
7º. Bens principais e bens acessórios: 
➢ Principal: é a coisa que existe sobre si. 
➢ Acessório: é aquele que depende da existência do principal, estando a 
ele vinculado. Ele pode ser dividido benfeitoria e frutos. 
As benfeitorias são: a. Necessárias: são aquelas necessárias para a 
conservação de um imóvel, por exemplo. b. Úteis: são aquelas que 
servem para melhoramento do bem. c. Voluptuárias: servem para 
embelezamento do bem. 
Os frutos são: a. Naturais: provenientes de uma árvore, por exemplo. b. 
Industriais. c. Civis: como os rendimentos provenientes de um bem 
alugado, por exemplo. 
8º. Bens públicos, bens dominicais e bens particulares: 
➢ Públicos: são aqueles que pertencem a toda a coletividade. 
➢ Dominicais: são aqueles que constituem o patrimônio da União, dos 
Estados e dos Municípios. 
➢ Particulares: são os bens das pessoas físicas ou jurídicas. 
 
 
4.2 Fatos Jurídicos 
 
O fato jurídico independe da vontade do homem. É um acontecimento 
em que a relação jurídica nasce, modifica e extingue (MARTINS, 2013). Já o 
ato jurídico é um fato proveniente da ação humana, de forma voluntária e lícita, 
com o objetivo de adquirir, resguardar, transferir, modificar ou extinguir direitos. 
Ele é uma espécie de fato jurídico (MARTINS, 2013). 
Assim, o fato jurídico independe da vontade do homem, enquanto o ato 
jurídico depende da vontadedo homem. 
Os atos jurídicos podem ser classificados em: 
a. Inter vivos: são aqueles realizados entre pessoas vivas. 
b. Causa mortis: são decorrentes da morte de uma pessoa, como o caso do 
testamento. 
c. Unilaterais: dependem da vontade de uma única pessoa. 
d. Bilaterais: dependem da vontade de duas pessoas, como o caso de um 
contrato. e. Onerosos: em que há uma reciprocidade de direitos e obrigações. 
f. Gratuitos: é o caso da doação. 
g. Patrimoniais: envolvem um bem, como o caso da compra e venda. 
h. Pessoais: diz respeito à pessoa, como o registro civil. 
i. Formais ou solenes: quando a lei determina uma forma especial para sua 
configuração. 
j. Informais: não existe uma formalidade para serem considerados válidos. 
k. Constitutivos: têm por objetivo criar, modificar ou extinguir um direito. 
l. Declaratórios: é aquele que se declara a existência ou inexistência de uma 
relação jurídica ou a falsidade ou autenticidade de um documento. 
m. Lícitos: são praticados de acordo com a previsão legal. n. Ilícitos: são 
praticados em desconformidade com a determinação da lei (MARTINS, 2013, 
p. 233). 
O negócio jurídico é a declaração de vontade que a pessoa tem em 
adquirir, modificar, alterar ou extinguir uma relação jurídica (MARTINS, 2013). 
Sendo assim, o negócio jurídico é uma espécie de ato jurídico lícito. 
Entretanto, para se realizar um negócio jurídico, alguns elementos essenciais 
são necessários e sem eles não há como realizar um negócio jurídico. 
Passaremos a estudar os elementos essenciais para a realização desse 
negócio. 
 
 
4.3 Elementos Dos Negócios Jurídicos 
 
Para que o negócio jurídico tenha validade, de acordo com Martins 
(2012), é preciso que alguns elementos estejam presentes. São eles: 
1. Agente capaz: o indivíduo deve ter capacidade plena, que é adquirida 
aos 18 anos. 
2. Objeto lícito, possível, determinado ou determinável: 
➢ Lícito: é aquele objeto permitido por lei. Não irão dar validade ao negócio 
jurídico se o objeto for ilícito, por exemplo, contrabando, tráfico de 
drogas, jogo de bicho etc. 
➢ Possível: é aquele possível de ser realizado. 
➢ Determinado: é o objeto especificado. 
➢ Determinável: é o objeto que não foi especificado no momento de 
realização do negócio e no momento do cumprimento será conhecido. 
3. Forma prescrita ou não proibida por lei: é a previsão legal. Observa-se 
o conteúdo legal para a realização do negócio. 
 
4.4 Defeitos Dos Negócios Jurídicos 
 
Entretanto, ao realizar o negócio jurídico, alguns defeitos podem ser 
identificados, fazendo com que o mesmo não tenha validade. Analisaremos 
cada um desses defeitos a seguir e ao final teremos um quadro com um 
exemplo de cada um dos defeitos estudados. 
 
ERRO 
É a falsa noção a respeito de alguma coisa. O erro é anulável quando a 
pessoa pensa que fez uma coisa e, na verdade, ocorreu outra. Ou seja, quando 
há algo errado com relação ao objeto principal da declaração, ou alguma das 
qualidades a ele essenciais. 
Igualmente, o que for pertinente às qualidades essenciais da pessoa a 
quem se refira a declaração de vontade. Esse conhecimento tem tanta 
importância que se a pessoa soubesse, o negócio não seria realizado. 
 
DOLO 
Para exemplificar, imaginemos a seguinte situação: Uma pessoa induz 
outra a praticar o ato que prejudica a segunda e beneficia a primeira 
(MARTINS, 2013). Podemos chamar tal ação de dolo que ocorre quando uma 
pessoa induz ao erro outra, por malícia ou astúcia. A própria pessoa avalia 
incorretamente os elementos do negócio jurídico (MARTINS, 2013). 
 
COAÇÃO 
É a violência física ou moral que impede a pessoa de manifestar 
livremente sua vontade. Ela deve causar um temor de dano iminente e 
considerável a sua pessoa, a sua família ou a seus bens. Não se considera 
coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor 
reverencial. Ou seja, não pode ser considerada como coação uma ameaça que 
não cause um dano iminente, irreversível à pessoa ameaçada, caso esta não 
realize o negócio jurídico. 
 
ESTADO DE PERIGO 
É quando alguém, com a premissa da necessidade de salvar-se ou de 
salvar a pessoa de sua família de um grave dano conhecido pela outra parte, 
assume uma obrigação excessivamente onerosa. 
 
LESÃO 
“Ocorre quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por 
inexperiência, se obriga a uma prestação manifestamente desproporcional ao 
valor da prestação oposta” (Art. 157 do Código Civil). A desproporção é 
apreciada segundo os valores vigentes ao tempo em que o negócio jurídico foi 
celebrado. 
 
FRAUDE CONTRA CREDORES 
É o desfalque do patrimônio devedor, que aliena bens com o objetivo de 
não pagar suas dívidas. Serve para prejudicar a outra pessoa. 
 
DEFEITO EXEMPLO 
Erro Comprar uma obra de arte de um artista pensando que é de 
outro. 
Dolo Entrega de veículo que foi objeto de busca e apreensão, como 
parte de pagamento de compra e venda. 
Coação Mulher ameaça divulgar fatos prejudiciais ao homem, caso 
não se declare pai do filho dela perante o registro civil. 
Estado de 
perigo 
Ao dar entrada na emergência do hospital, o sujeito oferece 
um cheque de valor que sabe que não poderá cumprir. 
Lesão Pessoa de pouca instrução se envolve em contrato cujas 
cláusulas não consegue entender, acreditando em 
informações incompletas que lhe são passadas. 
Fraude 
contra 
credores 
Para não ser alvo de penhora, o indivíduo faz doação ou 
venda de seus bens, com a intenção de revogar esse ato 
posteriormente. 
Fonte: (MARTINS, 2013) 
 
 
 
 
 
AULA 5: DIREITO CIVIL III – 
Responsabilidade Civil 
 
 
 
Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/acidente-de-carro-pedra-bater-2292651/ 
 
A responsabilidade civil tem relação com o indivíduo se responsabilizar 
pelo dano causado, garantindo ou assumindo o pagamento do que se obrigou 
ou do ato que praticou. 
De acordo com Martins (2018), essa responsabilidade civil pode ser 
classificada de duas formas, que estudaremos a seguir: 
1. Responsabilidade civil objetiva: nessa forma, a indenização deve ser 
paga sem que se discuta a existência de dolo ou culpa. Haverá necessidade 
apenas de se verificar a existência de um nexo causal. 
2. Responsabilidade civil subjetiva: essa forma decorre da negligência, 
imprudência ou imperícia. A primeira é uma falta de cuidado, descuido, 
desatenção, displicência; a segunda é o comportamento de precipitação, falta 
de cuidados, e, por fim, a última é a incapacidade, a falta de habilidade 
específica para a realização de uma atividade técnica ou científica. É preciso 
verificar, na responsabilidade subjetiva, três fatores: 
A) o elemento formal, que é o ato de violação de um dever jurídico; 
B) o elemento subjetivo: dolo ou culpa (negligência, imprudência ou imperícia); 
C) o elemento causa-material, que é o dano. 
 
O Art. 927 do Código Civil brasileiro prevê que aquele que, por ato ilícito, 
causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. 
Essa regra refere-se à responsabilidade objetiva, pois como já foi dito 
anteriormente, na responsabilidade subjetiva há necessidade de se comprovar 
a culpa mesmo que ela não exista de fato; o causador do dano será obrigado a 
repará-lo nos seguintes casos: a. Naqueles previstos em lei; b. Quando a 
atividade, normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua 
natureza, risco para os direitos de outrem. É a chamada teoria do risco, que 
também foi adotada pelo Art. 927 do Código Civil. 
O parágrafo único do Art. 927 do Código Civil trata da responsabilidade 
civil objetiva, tendo por fundamento a teoria do risco criado. Aplica-se essa 
teoria quando alguém cria ou acentua riscos em decorrência do exercício de 
suas atividades. 
Na responsabilidade, tudo o que a pessoa perdeu recebe o nome de 
dano emergente e tudo o que a pessoa deixou de ganhar em decorrência do 
dano que lhe foi causado chama-se lucro cessante.Caso o responsável pela 
ofensa ou pela violação do direito de outro tenha bens em seu nome, estes 
ficarão sujeitos à reparação do dano causado. 
Se a ofensa tiver mais de um autor haverá uma responsabilidade 
solidária entre todos os responsáveis (Art. 942 do Código Civil). 
Nesse sentido, serão responsáveis pela reparação civil (MARTINS, 
2013, p. 280): 
 Os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em 
sua companhia; 
 O tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas 
mesmas condições; 
 O empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e 
prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele; 
 Os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos, onde se 
albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, por seus 
hóspedes, moradores e educandos; 
 Os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até 
a concorrente quantia. 
 
Há outra classificação de responsabilidade civil, que é a 
responsabilidade pelo fato da coisa, que se divide em duas: 
1. responsabilidade por dano causado por animais (Art. 936 do Código 
Civil). Nessa forma de responsabilidade o proprietário do animal é responsável 
pelos danos causados pelo mesmo. Para se evitar problemas futuros, caso 
você tenha um animal em casa, principalmente cachorros, deve-se colocar uma 
placa visível informando que naquela residência há um animal. Assim, lhe 
isentará de responsabilidade. 
2. responsabilidade pelo fato de coisa inanimada (Art. 937 e 938 do 
Código Civil). Nessa forma, se a pessoa tiver algum objeto e este causar um 
dano a terceiro, será responsabilizada. Por exemplo, o muro da minha casa cai 
e acaba atingindo um veículo que estava estacionado em frente. Serei 
responsabilizada pelos danos causados. 
 
A responsabilidade civil é independente da criminal. Não se poderá 
questionar mais sobre a existência do fato, ou quem seria seu autor, quando 
estas questões já foram decididas pelo juízo criminal (MARTINS, 2013). 
Apenas poderá ser discutido o valor que será estipulado de pagamento da 
indenização. 
Quando se fala em responsabilidade civil, o indivíduo lesado poderá 
receber uma das três formas de dano: 
1. Dano moral: é aquele dano causado por constrangimento, por abalo 
psíquico ao outro indivíduo. 
2. Dano material: é o dano causado aos objetos que essa pessoa possui, como 
no caso de um acidente de veículo, por exemplo. 
3. Dano estético: aquele causado à aparência do indivíduo, como no caso de 
uma cicatriz no rosto de uma pessoa que trabalha como modelo, ou de um erro 
por cirurgia plástica. 
 
O direito de se exigir a reparação e a obrigação de prestá-la transmitem-
se com a herança, esta será apenas no limite da herança deixada pelo falecido 
causador do dano. 
O construtor responde, de acordo com o Art. 618 do Código Civil, pela 
solidez e segurança da obra durante cinco anos. Este seria o prazo de garantia 
da obra. A indenização é quantificada pela extensão do dano causado ao 
prejudicado (Art. 944 do Código Civil). Caso assim entenda, o juiz pode reduzir 
a indenização, caso verifique a excessiva desproporção entre a gravidade da 
culpa e o dano (parágrafo único do Art. 944 do Código Civil). 
 
#SAIBA MAIS# 
Com uma sociedade em que houve grandes mudanças de valores e 
também com relacionamentos que já não são tão duradouros iguais antes, 
muito vêm sendo discutido ao se terminar uma relação amorosa. Não importa 
se é um namoro ou um noivado, ou até mesmo um casamento. Alguns autores 
entendem que pelo término do relacionamento, a parte que não queria aquele 
término, ou seja, que saiu prejudicada tem direito a uma indenização somente 
quando caracterizada uma ofensa anormal, que extrapole a franqueza e a 
sinceridade que devem permear uma relação jurídica. 
 
Para saber mais sobre o assunto, leia o artigo “A responsabilidade civil 
pelo rompimento de noivado avaliada sob a ótica da boa-fé objetiva”, de 
Mariana Pretel e Pretel. 
Disponível em: <http://jus.com.br/Artigos/13182/a-responsabilidade-civil-
pelo-rompimento-de-noivado-avaliada-sob-a-otica-da-boa-fe-
objetiva#ixzz2gUpNakwD>. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AULA 6: DIREITO DE FAMÍLIA I 
 
 
6.1 Desenvolvimento Histórico do Conceito de Família 
 
A vida familiar e o comportamento social evoluíram muito ao longo do 
tempo, não podendo ser assumida como uma simples instituição histórica que 
perdura no tempo. As relações familiares não são mais como na Antiguidade, 
quando a família era construída na desigualdade e sustentada pelo sistema 
patriarcal, com a concentração do poder na figura do pater familias. 
Na Antiguidade, a mulher era considerada um ser inferior ao homem, 
tendo por quase única função a procriação, não existindo qualquer 
planejamento familiar. Uma prova disso é que nos direitos grego, romano e 
hindu a mulher é analisada como inferior, sendo considerada uma parte 
integrante do próprio esposo a partir do casamento, ou seja, essa mulher 
nunca seria a dona de um lar, não possuía qualquer autoridade dentro dele. Na 
infância, depende do pai; durante a mocidade, de seu marido; com a morte 
deste, dependerá de seus filhos; e se não os tiver, dependerá de parentes mais 
próximos do marido (COULANGES, 2002). 
É certo que a palavra família só passou a ter um sentido jurídico a partir 
do direito romano; no entanto, suas primeiras acepções nada condiziam com o 
significado atual de família, ligado a ideia de pais e filhos. Nesse sentido, Paulo 
Lôbo bem esclarece que a expressão famulus queria dizer escravo, e família 
era o conjunto de escravos, propriedade de um determinado homem; portanto, 
a expressão foi utilizada pelos romanos no intuito de nomear um determinado 
número de escravos que eram submetidos ao pater familias que detinha o 
poder de morte ou vida sobre eles. 
Estava caracterizado que a primeira forma de família nada tem a ver 
com uma formação espontânea, natural e primitiva, mas sim com questões 
econômicas e com o triunfo da busca pela propriedade individual, em que o 
domínio era do homem com a expressa finalidade de procriar filhos (LÔBO, 
2009, p. 8). 
Portanto, em Roma, somente depois de algum tempo é que a família 
passou a ser definida como uma “unidade econômica, política, militar e 
religiosa, que era comandada sempre por uma figura do sexo masculino, o 
pater familias”. Este era o ascendente mais velho de um núcleo que reunia 
todos os descendentes sobre a sua autoridade (GAGLIANO; PAMPLONA 
FILHO, 2012, p. 50). A família romana evoluiu na medida em que restringiu 
progressivamente a autoridade do pater, dando uma autonomia à mulher e aos 
filhos e substituindo o parentesco agnatício pelo cognatício (WALD, 2002, p. 
10). 
O Cristianismo trouxe a atividade legislativa que era realizada por meio 
de cânones, diferente do direito romano até então vigente. Uma das principais 
alterações foi o casamento, com o objetivo de procriação e a diminuição da 
inferioridade da mulher em relação ao homem no matrimônio (GAMA, 2008, p. 
16). Durante a Idade Média, as relações familiares foram disciplinadas pelo 
direito canônico, que também tratava o casamento como um sacramento, 
apesar de muitas vezes ser considerado um negócio pelas famílias, em que a 
mulher tinha a função de procriar, não devendo demonstrar prazer durante o 
ato sexual (WALD, 2002, p. 13). 
Ressalte-se que a família informal não era bem vista pela sociedade, em 
decorrência da sacralização do casamento. Somente eram consideradas como 
legítimas as relações advindas do casamento, e apenas elas teriam o condão 
de gerar filhos legítimos (DONIZETTI, 2007, p. 9). No tocante à Idade Média, a 
família ainda era patriarcal e respeitava valores morais e religiosos 
considerados relevantes na época, tendo seus alicerces construídos nesses 
valores. Não se considerava qualquermanifestação de sentimento na formação 
familiar, tendo um modelo, instituído pela religião, a ser seguido. 
Já para se chegar a um conceito contemporâneo de família, alguns 
acontecimentos históricos, como a Revolução Industrial, a inserção da mulher 
no mercado de trabalho, as duas grandes guerras, a necessidade de formação 
de grandes centros urbanos, a revolução sexual, o movimento feminista, o 
aumento e reconhecimento do divórcio, a admissão da criança como um sujeito 
de direito passível de tutela, a mudança de papéis de homens e mulheres 
dentro de seus lares, entre outros, deram margem ao surgimento desses vários 
modelos de família. Somente a partir da década de 60 que passaram a surgir 
leis que visavam à proteção da família. 
Até então, o Código Civil de 1916 (BRASIL, 1916, on-Line) possuía 
caráter extremamente patrimonialista, pois tinha por objetivo final a tutela de 
cunho patrimonial, o que aumentava as discriminações dentro das relações 
familiares. No século XIX, inconformadas com a superioridade de seus pais e 
esposos, as mulheres buscaram o reconhecimento de seus direitos e, 
consequentemente, surgiram os movimentos feministas, que viriam a criar mais 
força em sua luta durante o século subsequente (SAPKO, 2005, p. 39). 
Somente com a Constituição Federal de 1988 é que passou a ser 
possível expandir a proteção da família. A partir da ampliação do conceito de 
família, remodelou-se o paradigma de família quando foram reconhecidos 
outros arranjos familiares, como a união estável entre um homem e uma 
mulher e a família monoparental, além daquela oriunda do matrimônio. 
Reconheceu-se o direito ao planejamento familiar no § 7º do seu art. 226, o 
qual foi calcado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da 
paternidade responsável. 
Para Pereira (2003), essa Constituição realizou uma revolução no Direito 
de Família, que se fundamentou em três eixos principais: no art. 226, 
consignou que a família do terceiro milênio é plural e não mais singular; no § 6º 
do art. 227, alterou o sistema de filiação, não fazendo qualquer diferenciação 
acerca dos filhos; no terceiro eixo, nos arts. 5º, inciso I e § 6º do art. 226, 
estabeleceu a igualdade entre homens e mulheres (PEREIRA, 2003, p. 233-
234). A constitucionalização do direito de família intensificou os laços de afeto, 
trouxe a família como o lugar para refugiar-se do mundo moderno, tornando-se 
uma irmandade em que os seus membros buscaram o afeto e, principalmente, 
o apoio, a ajuda e o suporte emocional uns dos outros. 
Essa família da pós-modernidade se identifica por meio da 
solidariedade, que acaba sendo o próprio fundamento da afetividade. Dessa 
forma, a “família instituição” transformou-se em “família-instrumento”, que 
objetiva o desenvolvimento da personalidade de cada um dos seus membros, 
destacando a importância da preservação das estruturas psíquicas deles e a 
garantia de convívio com aqueles que lhe tragam afeto (FRAGA, 2005, p. 45). 
Por essa ótica, a falta do afeto traz como consequência direta, nessa nova 
forma familiar, a falência desse projeto de vida, portanto, a traição e 
infidelidade passam a perder espaço (FRAGA, 2005, p. 44). 
Já a possibilidade de dissolução do vínculo matrimonial trouxe uma 
consequência lógica para a formação familiar, pois a permanência ou 
existência de uma família surge mais por um ato de vontade do que por mera 
imposição social. Pode-se afirmar, desta forma, que a família pós-moderna 
poderá abranger diversos formatos por meio de uma interpretação extensiva da 
própria Constituição Federal, desde que seja constituída com base no afeto e 
com o intuito de preservação e promoção da dignidade de seus membros. 
 
6.2 Formatos familiares 
 
A Constituição Federal de 1988 consagrou, além da família advinda do 
casamento, outras entidades familiares, como as oriundas da união estável e 
da comunidade formada por um genitor e seus ascendentes, a família 
conhecida como monoparental. No entanto, visando ao resguardo dos 
princípios da igualdade e da dignidade da pessoa humana, não podemos 
considerar somente esses formatos familiares, visto que atualmente o Direito 
tem dado respaldo às demais formações que decorram do afeto. 
 
6.2.1 Da família matrimonial 
 
É aquela advinda do casamento, que possui como característica a 
indissolubilidade da união entre um homem e uma mulher. Por muito tempo, 
somente se reconheceu como legítima esta entidade familiar, sendo as demais 
marginalizadas. Nela, adota-se o princípio da monogamia, segundo o qual as 
pessoas devem ser fiéis e, por muito tempo, foi formada sob o sistema 
patriarcal. A Constituição Federal de 1988 igualou homens e mulheres em 
direitos e deveres, ratificou a ruptura do casamento prevista na Lei do Divórcio 
de 1977 e deu tutela às demais entidades familiares não fundamentadas no 
casamento. Contudo, o afeto sempre existiu nas relações familiares, 
independentemente do que o Estado estabelece em seu sistema normativo e 
das religiões (DIAS, 2013, p. 43). 
 
6.2.2 Da Família Informal 
 
A família informal é aquela formada por uma união estável, incluindo, 
atualmente, a união entre pessoas do mesmo sexo. Atente-se ao fato de que a 
União Estável só foi reconhecida como entidade familiar a partir da 
Constituição Federal de 1988, e a primeira lei que tratou do tema foi a de nº. 
8.971/1994 (BRASIL, 1994, on-line). Posteriormente, a Lei nº. 9.278/1996 
(BRASIL, 1996, on-line) disciplinou de forma mais abrangente esse tipo de 
união, e o atual Código Civil não inovou, apenas reproduziu a legislação que já 
existia, o que permitiu a conversão em casamento desde que configurada a 
convivência pública, contínua, duradoura e estabelecida com o objetivo de 
constituir família (DIAS, 2013, p. 46). 
 
6.2.3 Da Família Monoparental 
 
É a entidade familiar formada por um dos pais e seus descendentes que 
só teve reconhecimento com a Constituição Federal de 1988, em seu § 4.º do 
artigo 226. 
 
 
6.2.4 Da Família Homoafetiva 
 
Foi reconhecida somente a partir da decisão do Supremo Tribunal 
Federal, em 2011, por meio da ADI nº. 4277 da ADPF nº. 132, que garantiu às 
uniões homoafetivas os efeitos da união estável. Já no ano de 2012, o CNJ, 
posteriormente, editou uma Resolução com o intuito de reconhecer a 
possibilidade de casamento civil para o casal do mesmo sexo; portanto, não há 
que se discutir mais a possibilidade ou não de um casal poder se unir 
civilmente. 
 
6.2.5 Da Família Anaparental 
 
É entendida como aquela família em que estão ausentes os genitores, 
cite-se como exemplo dois irmãos ou duas primas que vivam sob o mesmo 
teto. Há a convivência dos entes familiares e a comunhão de esforços com o 
intuito de constituir um acervo patrimonial e, principalmente, o afeto (DIAS, 
2013, p. 48). 
 
6.2.6 Da Família Pluriparental ou Mosaico 
 
São também chamadas de famílias recompostas, caracterizadas por 
uma família que advém de uma ruptura de vínculos, visto que surgem em 
decorrência do divórcio, do reconhecimento das famílias informais e das novas 
uniões oriundas da anulação de relacionamentos anteriores. Para Grisard Filho 
(2003), essas famílias são definidas como uma “estrutura familiar originada do 
casamento ou da união estável de um casal, na qual um ou ambos de seus 
membros têm filho ou filhos de um vínculo anterior” (GRISARD FILHO, 2003, p. 
257). 
 
6.2.7 Da Família Paralela ou Simultânea 
 
É aquela família formada paralelamente a outra, sempre tratada com 
preconceito. Nela estão presentes os requisitos legais; no entanto, o Direito 
vem realizando o reconhecimento de ambas pelo ordenamento jurídico, sob 
pena de afrontar a ética e o enriquecimento ilícito (DIAS, 2013, p. 50). 
 
6.2.8 Da Família Eudemonista 
 
É a forma de família que visa à busca da felicidade, da solidariedade e 
do respeito mútuo. Nela há o intuito de felicidade individual etambém coletiva, 
e tem como seu elemento formador o afeto, no qual intenta-se a realização 
plena de seus membros, que estão unidos por um afeto recíproco, pela 
consideração e pelo respeito mútuo, independentemente da consanguinidade 
(DIAS, 2013, p. 54). 
 
6.2.9 Da Família Poliafetiva 
 
Recentemente a notícia de uma escritura pública declaratória de união 
poliafetiva de um homem com duas mulheres trouxe uma enorme discussão, 
delineando uma grande controvérsia acerca da moral e dos bons costumes. 
Houve a discussão na doutrina se não seria ato nulo ou inexistente; no entanto, 
não se pode negar ou ignorar esse tipo de relacionamento sob pena de violar 
os direitos de quem convive por livre manifestação de vontade. Nesse sentido, 
é ético reconhecer o pacto estabelecido entre as pessoas que convivem nesse 
formato sob pena de propiciar o locupletamento ilícito de um ou mais em 
relação ao outro (DIAS, 2013, p. 53-54). 
6.3 Princípios do Direito de Família 
 
Aqui, passaremos a analisar os princípios ligados ao direito de família, 
que são de suma importância, visto que eles inspiram a criação de normas 
diretamente ligadas a esse ramo do Direito. 
 
6.3.1 Do Princípio da Dignidade da Pessoa Humana 
 
A dignidade da pessoa humana é inerente a todo ser humano. Moraes 
(2002) assevera que a dignidade humana é um valor espiritual e moral inerente 
a qualquer pessoa. Se manifesta singularmente na autodeterminação 
consciente e responsável da própria vida, está inserida em seu sentido a 
pretensão do respeito por parte das demais pessoas, assegurando que, 
somente excepcionalmente, possam ser feitas limitações ao exercício dos 
direitos fundamentais (MORAES, 2002, p. 50). 
No âmbito familiar, esse princípio se concretiza a partir do momento em 
que os entes familiares colaboram para o desenvolvimento da personalidade 
de cada um de seus membros, não permitindo qualquer violação da integridade 
física ou psicológica deles garantindo seu normal desenvolvimento. 
 
6.3.2 Do Princípio da Solidariedade Familiar 
 
Este princípio está relacionado ao fato de a família dar ensejo a uma 
comunhão plena de vida entre os cônjuges ou os companheiros, ou seja, a 
atenção e o zelo de um para com o outro e para com a sua prole, que se traduz 
na assistência material, moral e intelectual (NERY JUNIOR; NERY, 2009, p. 
1094). 
 
6.3.3 Do Princípio da Igualdade entre os Cônjuges e 
Companheiros 
 
A Constituição Federal de 1988 estabeleceu, no § 5º, do art. 226, a 
igualdade jurídica entre os cônjuges e os companheiros. Esta decorre do fato 
de que todos são iguais perante a lei, conforme o art. 5º, inciso I e II do mesmo 
diploma. Essa igualdade também foi retratada no art. 1.511 do Código Civil, o 
qual dispõe que o casamento estabelece a comunhão de vida plena, 
fundamentado na igualdade de direitos e deveres entre os cônjuges. 
 
6.3.4 Do Princípio da Igualdade dos Filhos 
 
Após a Constituição Federal de 1988, também não se pode falar em 
distinção entre os filhos oriundos do casamento ou de qualquer outro tipo de 
entidade familiar, sejam consanguíneos, adotivos ou socioafetivos. Portanto, 
todos os filhos possuem os mesmos direitos, sem qualquer discriminação. 
 
 
6.3.5 Do Princípio do Melhor Interesse da Criança e do 
Adolescente 
 
Esse princípio adveio da doutrina da proteção integral com a atual 
Constituição Federal e tornou-se, assim, um dever jurídico imposto à família, à 
sociedade e ao Estado, sendo observado na elaboração de leis ou no 
resguardo de direitos que digam respeito às relações familiares com pessoas 
em desenvolvimento. 
Lôbo (2004) afirma que esse “princípio não é uma recomendação ética, 
mas uma diretriz determinante nas relações de crianças e adolescentes com 
seus pais, com sua família, com a sociedade e com o Estado” (LÔBO, 2004, p. 
333). 
 
6.3.6 Do Princípio da Afetividade 
 
O afeto passou a ser o elemento formador da família, mesmo não 
estando previsto na Constituição Federal de 1988. Ele decorre do princípio da 
dignidade da pessoa humana (TARTUCE, 2006). A partir desse 
reconhecimento, o afeto passou a delinear várias decisões que trazem reflexo 
direto ao direito de família, por exemplo, a possibilidade de reconhecimento da 
filiação socioafetiva, o reconhecimento da união homoafetiva, o abandono 
afetivo, dentre outros. 
 
6.3.7 Do Princípio da Monogamia 
 
Trata-se de uma forma de organização familiar que tem origem no 
matrimônio, ou seja, uma união matrimonial deve, necessariamente, ser 
exclusiva. O art. 1.566 do Código Civil trouxe a fidelidade como um dos 
deveres do casamento, já quanto à união estável, o art. 1.727 do Código Civil 
trouxe a lealdade como um dos deveres dos companheiros. 
 
6.3.8 Do Princípio do Pluralismo Familiar 
 
A própria Constituição Federal, em seu art. 226, dispôs sobre esse 
princípio a partir do momento que estabeleceu como possibilidades de 
entidades familiares aquela oriunda da união estável, da família monoparental, 
bem como a família matrimonial. Ressalte-se que o rol apresentado pela 
Constituição Federal não é taxativo e sim exemplificativo. 
Nesse sentido, Lôbo (2004) assevera que os tipos de entidades 
familiares referidos na Constituição brasileira não encerram numerus clausus, 
ou seja, foi suprimida a cláusula de exclusão que apenas admitia a família 
oriunda do matrimônio, adotando-se um conceito aberto, abrangente e de 
inclusão. 
Logo, qualquer entidade familiar que preencha os requisitos da 
afetividade, estabilidade e ostensibilidade está constitucionalmente protegida, 
como tipos próprios, sendo os efeitos jurídicos tutelados pelo Direito de Família 
(LÔBO, 2004). 
 
6.3.9 Do Princípio da Parentalidade responsável e 
Planejamento Familiar 
 
A parentalidade responsável é tratada por um princípio disposto no § 7º 
do art. 227 da Constituição Federal, nos arts. 3º e 4º do Estatuto da Criança e 
do Adolescente, (Brasil, 1990 a, online) e no inc. IV do art. 1.566 do Código 
Civil, e deve ser observada independentemente da orientação sexual, restando 
superada a ótica preconceituosa de que isso poderia afetar o desenvolvimento 
psicológico da criança. Pode-se conceituar a paternidade responsável como a 
obrigação que os pais têm de prover a assistência moral, afetiva, intelectual e 
material aos filhos (CARDIN; ROSA, 2012). 
 
#SAIBA MAIS# 
Para saber mais sobre a importância dos princípios do Direito de Família, veja 
que estes buscam até mesmo evitar a alienação parental. 
#REFLITA# 
A alienação parental ainda é uma prática frequente por um dos 
genitores, principalmente quando acontece o rompimento daquele 
relacionamento. Você conhece algum caso de alienação parental? 
AULA 7: DIREITO DE FAMÍLIA II 
 
 
7.1 Aspectos Jurídicos da Formação e Dissolução da 
Família: Casamento, Efeitos do Casamento, Divórcio e 
União Estável 
 
Neste tópico, iremos estudar alguns aspectos ligados ao estado civil do 
sujeito, como casamento, divórcio e união estável. 
 
7.1.1 Casamentos e Efeitos do Casamento 
 
Pelo casamento ocorrem uma série de consequências que se projetam 
nas relações pessoais e patrimoniais dos cônjuges e dos membros familiares. 
Assim, por meio do casamento, existem alguns efeitos que são provocados 
com ato e atingirá as pessoas dos cônjuges e também refletirá diretamente na 
sociedade. 
A Constituição Federal de 1988 trouxe a igualdade entre os cônjuges na 
direção da sociedade conjugal. Posteriormente, o Código Civil de 2002 
(BRASIL, 2002, on-line) corroborou com esse entendimento, garantido a 
dignidade da pessoa humana dos cônjuges. Há, deste modo, por meio do 
casamento, a criação da família, bem como a possibilidade da emancipação do 
cônjuge que case e seja menor de idade, tornando-o plenamente capaz, como 
se houvesse atingido a maioridade (artigo 5º, § único, II, do Código Civil), e 
também estabelece o vínculo de afinidadeentre cada consorte e os parentes 
do outro (artigo 1.595, § 1º e 2º, do Código Civil) (GONÇALVES, 2012, p. 182). 
Com o casamento, estabelece-se o estado de casados entre os 
cônjuges e, por meio dele, há um fator de identificação na sociedade dos 
cônjuges como casados e, ainda, a presunção de paternidade inicial e final do 
marido. Ademais, o casamento estabelece a comunhão de vida plena entre os 
cônjuges, com o ato também surge uma série de deveres que os cônjuges 
deverão cumprir uns com os outros, por exemplo, a fidelidade recíproca, vida 
em comum e domicílio conjugal mútua assistência, sustento, guarda e 
educação dos filhos, respeito e consideração mútuos. 
Outro efeito que decorre do casamento é a possibilidade de um dos 
cônjuges adotar o sobrenome do outro e, em decorrência da igualdade 
estabelecida entre eles, ambos podem escolher se adotam ou não o 
sobrenome do outro. Um efeito patrimonial se consubstancia com os direitos 
que surgem por meio da sucessão, no qual tiveram regras previamente 
estabelecidas no Código Civil brasileiro, tanto para os cônjuges quanto para os 
companheiros sobreviventes. 
Existe também o efeito diretamente relacionado à administração dos 
bens dos filhos. Destaca-se, nesse sentido, que caberá aos pais, enquanto 
exercerem o poder familiar, a possibilidade de usufruir e administrar os bens 
dos filhos conjuntamente ou exclusivamente na falta do outro. Em caso de 
divergência dos pais acerca da administração desses bens, caberá ao juiz 
decidir sobre a situação. 
Da mesma forma ocorre o dever alimentar entre cônjuges e filhos, isto é, 
os cônjuges estão responsáveis por dar assistência material aos filhos por meio 
do pagamento dos alimentos A instituição do bem de família também é um dos 
efeitos do casamento, esse instituto é regulamentado pela Lei n. 8.009/1990, 
(BRASIL, 1990 b, on-line) que traz disposições das possibilidades de 
impenhorabilidade deste bem. 
 
7.1.2 Divórcio 
 
A Emenda Constitucional n. 66/2010 (BRASIL, 2010 a, on-line) alterou a 
redação do § 6º do art. 226 da C.F., dispondo que o casamento se dissolve 
pelo divórcio e extinguindo o instituto da separação judicial. Antes existiam o 
divórcio direto e o divórcio conversão, este poderia ser realizado depois de 
mais de um ano de separação judicial para só então requerer o divórcio, 
enquanto que aquele, o divórcio direto, somente ocorria após dois anos de 
separação de fato. 
Portanto, a partir da Emenda n. 66/2010 (BRASIL, 2010a, on-line), o 
divórcio passou a ser direto, não precisando do tempo de separação de um ano 
para converter a separação em divórcio e de dois anos de separação de fato 
para o pedido do divórcio direto. Ademais, com a Lei nº. 11.441/2007 (BRASIL, 
2007, on-line) o divórcio passou a ter a possibilidade de ser realizado de forma 
extrajudicial, desde que o casal não tenha filhos menores e incapazes, 
devendo ser realizado por meio de escritura pública e ser consensual com 
relação à partilha de bens, pensão alimentícia e retomada de nome de solteira 
ou mantendo o nome de casada (BRASIL, 2007). 
Assim, o casal que se encaixar nos requisitos expostos poderá 
comparecer em um Cartório de Registro Civil e realizar a escritura pública de 
divórcio. 
 
7.1.3 União Estável 
 
A união estável passou a ser reconhecida enquanto entidade familiar a 
partir da Constituição de 1988. A primeira lei que disciplinou acerca da união 
estável foi a de nº. 8.971/1994 (BRASIL, 1994, on-line) e depois a Lei nº. 
9.278/1996, que disciplinou de forma mais abrangente essa entidade familiar. 
O Código Civil de 2002 (BRASIL, 2002, on-line) apenas reproduziu o que já 
existia, permitindo a conversão em casamento desde que configurada a 
convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com, o objetivo de 
constituir família (DIAS, 2013, p. 46). 
Dessa forma, a união estável para estar caracterizada precisa da 
convivência pública, contínua e duradoura com o intuito de constituição de 
família. O art. 1.724 do Código Civil dispôs sobre os deveres inerentes aos 
companheiros, que deverão seguir a lealdade, o respeito e a assistência, a 
guarda, o sustento e a educação dos filhos (BRASIL, 2002, on-line). 
Ressalta-se que as pessoas que se encontrem impedidas de casar não 
poderão constituir uma união estável, pois os efeitos jurídicos não serão 
produzidos. Somente o §1º do art. 1.723 do Código Civil traz como única 
exceção a possibilidade da pessoa, mesmo casada, ser separada de fato ou 
judicialmente de outro cônjuge (BRASIL, 2002, on-line). 
Assim como o casamento, a união estável gera os efeitos patrimoniais 
do casamento e, sem haver estipulação em contrário, o regime adotado será o 
de comunhão parcial de bens. 
 
#SAIBA MAIS# 
As Leis nº 8.971/1994 e nº 9278/1996 estipularam como deveria ocorrer 
em caso de morte de um dos companheiros. Contudo, o Código Civil de 2002 
trouxe um tratamento diferenciado e principalmente confuso. O art. 1790 é 
muito criticado pela doutrina, visto que trouxe uma forma diferenciada ao 
tratamento dado ao cônjuge sobrevivente, realizando, assim, uma 
discriminação entre união estável e casamento. Também não se possibilita o 
usufruto a favor do companheiro, visto que acabou sendo substituído pela 
concorrência sucessória. 
Fonte: elaborado pela autora 
 
7.2 Relações de Parentesco 
 
O parentesco poderá ser conceituado como o vínculo jurídico 
estabelecido entre pessoas com a mesma origem biológica, com o mesmo 
tronco comum, entre os cônjuges e seus parentes e entre as pessoas que 
possuem entre si um vínculo civil. Nesse sentido, pode-se ter três formas de 
parentesco: consanguíneo ou natural, por afinidade e civil. 
O parentesco consanguíneo ou também conhecido como natural, é 
aquele que decorre de um vínculo biológico ou de sangue. Já o parentesco por 
afinidade passa a existir entre o cônjuge e companheiro, sendo que marido e 
mulher não são parentes, mas com o casamento e com a união estável 
passam a ser parentes dos seus respectivos parentes em linha reta e colateral. 
Por fim, o parentesco civil decorre, sobretudo, da lei, não configurando 
parentesco consanguíneo nem por afinidade (TARTUCE, 2011, p. 1108). 
Ressalte-se que o parentesco consanguíneo constitui-se em linha reta 
ascendente (avós, pais) e descendente (filhos) e em linha colateral ou 
transversal, que se caracteriza-se por meio dos irmãos, tios e primos até 4º 
grau. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AULA 8: DIREITO DE FAMÍLIA III 
 
 
8.1 Direitos e Deveres Inerentes ao Poder Familiar 
 
O Código Civil de 1916 denominava o poder familiar como pátrio poder, 
dispondo, no seu art. 379, (BRASIL, 1916, on-line) que tanto os filhos legítimos 
como os legitimados ou adotivos estavam sujeitos ao pátrio poder até atingirem 
a maioridade civil, sendo a partir daí capazes civilmente. Essa noção de pátrio 
poder adveio do direito romano e foi calcado na ideia de absoluta autoridade do 
pai sobre as pessoas dos filhos; no entanto, isto mudou atualmente. 
A expressão, Pátrio Poder, deixou de ser utilizada pelo Código Civil de 
2002 (BRASIL, 2002, on-line), pois retrata que a prevalência das relações entre 
os membros da família não está mais sob a autoridade paterna, mas sim dos 
pais (pai e mãe) em condições de igualdade. 
Logo, essa evolução ocorreu de forma gradativa, ao longo dos séculos, 
seguindo a transformação de que a noção de poder sobre os outros, na 
verdade é de uma autoridade natural dos pais com relação aos filhos, que são 
pessoas dotadas de dignidade, no melhor interesse deles e garantindo-lhes 
uma convivência familiar (LÔBO, 2006, p. 149). 
Leite (2005) destaca dois principais fatores que contribuíram para a 
alteração dessa mentalidade: fáticos, quando houve o desaparecimento da 
família patriarcal e a substituição pela família nuclear, tendo como elementos a 
igualdadee o companheirismo; e legais, quando a Constituição Federal, em 
seu art. 226, § 5º, estabeleceu a igualdade entre os cônjuges na administração 
da sociedade conjugal, trazendo, assim, alterações pertinentes na relação 
entre pais e filhos (LEITE, 2005, p. 276). 
O poder familiar está relacionado ao conjunto de direitos e deveres que 
a lei atribui aos pais ao responsabilizá-los pela educação e administração dos 
bens dos filhos menores, até atingirem a maioridade (CARDIN, 2012, p. 207). 
Nesse sentido, Arnaldo Rizzardo afirma que: 
 
Nesta ordem de colocação do instituto, pode-se ir além e dizer que se 
trata de uma conduta dos pais relativamente aos filhos, de um 
acompanhamento para conseguir a abertura dos mesmos, que se 
processará progressivamente, à medida que evoluem na idade e no 
desenvolvimento físico e mental, de modo a dirigi-los a alcançarem 
sua própria capacidade para se dirigirem e administrarem seus bens. 
Não haveria tão-somente um encargo, ou um munus, mas um 
encaminhamento, com o poder para impor uma certa conduta, em 
especial entes da capacidade relativa. Não mais há de se falar 
praticamente em poder dos pais, mas em conduta de proteção, de 
orientação e acompanhamento dos pais (RIZZARDO, 2004, p. 601-
602). 
 
 
O poder familiar deve ser entendido como uma consequência da 
parentalidade e não um efeito de determinada forma de filiação, pois os pais 
são os defensores e protetores naturais dos filhos, sendo também os titulares e 
depositários dessa autoridade que é delegada pela sociedade e pelo Estado 
(LÔBO, 2006, p. 274). 
De tal modo, o poder familiar “é instituído no interesse dos filhos e da 
família, não em proveito dos genitores, em atenção ao princípio da paternidade 
responsável insculpido no art. 226, § 7º, da Constituição Federal” 
(GONÇALVES, 2012, p. 413). 
Os pais não exercem direitos e poderes de competência privada a eles, 
pois irão exercer direitos cujos titulares são os filhos; portanto, terão o direito de 
dirigir a educação e a criação dos filhos e, ao mesmo tempo, deverão 
assegurá-las. 
Na impossibilidade de um dos pais exercerem o poder familiar, o Código 
Civil dispõe em seu art. 1.631, que o outro exercerá com exclusividade. 
Ressaltando-se que o divórcio e a dissolução da união estável não alteram as 
relações entre pais e filhos, somente quanto ao direito de os terem sem sua 
companhia. 
Em caso de filho que não tenha o reconhecimento do pai, a mãe poderá 
exercer com exclusividade o poder familiar, caso haja a impossibilidade de 
exercê-lo, nomear-se-á um tutor para isso. 
Poderão ocorrer a extinção, a suspensão e a perda do poder familiar dos 
pais sobre seus filhos. 
A extinção está disciplinada pelo art. 1.635 do Código Civil e 
fundamenta-se em razões da própria natureza, independentemente da vontade 
de qualquer dos envolvidos, pois em regra advém de alguns acontecimentos, 
por exemplo, morte dos pais ou filhos, emancipação dos filhos, maioridade dos 
filhos, adoção e por uma sentença judicial na forma do art. 1.638; ocorrerá por 
meio dela a interrupção definitiva do poder familiar. 
Já a suspensão do poder familiar ocorre quando existe quebra de 
deveres paternais para com os filhos, de acordo com o que está disposto no 
art. 1.637. Essa suspensão poderá ser por comportamento inadequado dos 
pais ou por um fato involuntário (GOMES, 1991, p. 376). 
Paulo Lôbo classifica em quatro as formas de suspensão do poder 
familiar, sendo que a primeira é o descumprimento dos deveres inerentes aos 
pais; a segunda se refere à ruína dos filhos; a terceira ao risco à segurança dos 
filhos; e a quarta à condenação por crime com pena superior a dois anos. Não 
há necessidade que essas causas sejam permanentes, basta que um só 
acontecimento possa se repetir no futuro, causando o risco à segurança do 
menor e de seus haveres (LÔBO, 2006, p. 283). 
Obviamente, “havendo abuso de poder por parte dos genitores, o 
magistrado, após a sua apuração, deverá suspender o poder familiar por 
decisão fundamentada” (CARDIN, 2012, p. 214). 
A perda do poder familiar enseja uma gravidade maior da conduta dos 
pais, portanto, deve ser arbitrada somente quando há um perigo permanente à 
segurança e à dignidade do filho (LÔBO, 2006, p. 284). 
Cardin (2012) ensina que a perda do poder familiar desencadeia efeitos 
emocionais e psicológicos aos filhos e aos pais, por isso, a lei enumera os fatos 
que poderiam prejudicar o completo desenvolvimento da criança ou do 
adolescente no art. 1.638 do Código Civil (CARDIN, 2012, p. 214). 
De acordo com Pereira (2010): 
 
A perda do poder familiar é a mais grave sanção imposta ao que falta 
aos seus deveres para com o filho, ou falhar em relação à sua 
condição paterna ou materna. O abuso da autoridade e a falta aos 
deveres inerentes à autoridade parental autorizam o Juiz a adotar 
medida que lhe pareça reclamada pela segurança do filho e seus 
haveres, podendo inclusive suspender suas prerrogativas (PEREIRA, 
2010, p. 464). 
 
Nesse sentido, ocorrerá a perda do poder familiar quando: houver o 
castigo imoderado do filho, atente-se que aqui verifica-se o limite, pois poderá 
haver castigo sem excessos; deixar o filho em situação de abandono, ou seja, 
a criança tem o direito de uma convivência familiar, não poderá ser 
abandonada ou exposta a perigos; praticar atos imorais ou contrários aos bons 
costumes; e, por último, incidir reiteradamente nas faltas do art. 1.637 do 
Código Civil. 
Obviamente, para ter a perda do poder familiar por sentença judicial, 
devidamente fundamentada, os pais têm que cometer essas faltas 
constantemente, ou seja, agir de forma reiterada. 
Faz-se necessária, assim, a propositura de uma ação por uma pessoa 
legitimada (Ministério Público) para que esse poder familiar seja suspenso ou 
perdido pelo titular desse direito, cabendo a nomeação de um curador especial 
para criança no curso da ação (CARDIN, 2012, p. 215). 
Há duas passagens que tratam do poder familiar no ECA (BRASIL, 
1990a, on-line): o capítulo referente ao direito à convivência familiar e 
comunitária, arts. 21 a 24; e o capítulo atinente aos procedimentos de perda e 
suspensão do mesmo, arts. 155 a 163. 
Assim como no Código Civil, o ECA dispõe que o exercício do poder 
familiar deverá ser realizado em conjunto pelos pais durante o casamento ou a 
união estável, e deu a possibilidade de que, havendo alguma divergência 
quanto ao exercício, poderá qualquer um deles recorrer ao juiz para solucionar 
o conflito. 
Ressalta-se que um novo casamento ou uma nova união estável de 
qualquer um dos cônjuges ou companheiros que tiveram a primeira união 
desfeita pela morte, pelo divórcio ou pela dissolução trará a extinção do poder 
familiar, pois mesmo pais solteiros quando se casam e juntam-se com outrem 
não têm qualquer consequência para o poder familiar. O novo casamento ou 
união não traz qualquer prejuízo aos filhos do leito anterior. 
Nesse sentido, é evidente que, mesmo quando os pais não vivem juntos, 
nada muda em relação ao poder familiar que pertence a eles, devendo estes 
dar continuidade no seu exercício e garantir o desenvolvimento saudável e 
adequado da criança, não sendo, portanto, a convivência dos pais entre si 
requisito para a titularidade do poder familiar. 
Existirá, nesses casos, a imposição unilateral ou conjunta da guarda da 
criança. A guarda surge como um elemento do próprio exercício do poder 
familiar e trata-se de um direito e dever dos pais, podendo ser exercido por eles 
ou por terceiros. 
A guarda consiste num instituto jurídico advindo do poder familiar, em 
que um dos pais, ou ambos, terão os encargos de cuidado, zelo, proteção e 
custódia do filho. Ressalta-se que, o conceito e o alcance desse instituto no 
ECA difere-se, pois a guarda inclui-se nas modalidades de famílias substitutas, 
juntamente com a adoção, pressupondo a perda do poder familiar pelos pais e, 
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