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Natureza Jurídica do Direito de Família OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de entender alguns conceitos de direito de família, bem como sua natureza jurídica. Também irá compreender um pouco sobre os novos arranjos familiares e como o nosso sistema jurídico oferece proteção aos entes de uma família. Isso será fundamental para o exercício de sua profissão. As pessoas que tentaram ingressar nestes estudos sem a devida instrução tiveram problemas para entender toda a matéria que está codificada atualmente. E então, motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante!. Construção Histórica do Conceito e da Natureza do Direito de Família Para estudarmos o tema ao qual nos propomos nesta disciplina, é imperativo a nós primeiro conceituar o que vem a ser uma família. Por muitos e muitos séculos, a religião e o estado caminharam lado a lado. Nas mais variadas culturas, era comum um sentimento voltado ao patrimonialismo. Ou seja, mais do que a união de uma entidade familiar, as sociedades entendiam que havia uma fusão patrimonial. Nesse sentido, uma família era uma composição de um homem e uma mulher, com a finalidade de constituição de um patrimônio e de uma descendência familiar. O ato constitutivo de um matrimônio era algo em que havia tanta solidez, que, na Antiguidade Clássica, essa reunião de pessoas para constituição de uma família recebia o nome de epístion, ou seja, “aquilo que está junto ao fogo” (COULANGES, 2004 p. 26). Os atos jurídicos passavam pelo crivo da religião, e, através dela, havia a autenticidade de que a família precisava para lograr a união. Não havia, em princípio, um controle de natalidade familiar. Os filhos eram entendidos como bênçãos e frutos sagrados da união, e a linhagem era formada pelos parentes do sexo masculino por linha. Com o crescimento populacional e a ampliação das relações interpessoais, aliadas ao distanciamento do laço religioso formador, as entidades familiares foram estatuindo regras pautadas nos laços cognáticos, ou seja, aqueles que vislumbram nome (descendência) e consanguinidade (laços biológicos). Imaginemos a seguinte hipótese: em uma família, na qual o casal apenas gerou mulheres, toda descendência e aquisição patrimonial que foram obtidas teriam sido a fundo perdido, sem sua destinação originária. Dessa forma, as mulheres passaram a ser herdeiras do patrimônio familiar. Mais tarde, o termo família iria sair do radical latino famel, que significa servo ou conjunto de escravos pertencentes ao mesmo patrão (FARIAS; ROSENVALD, 2010 p. 09). Consolida-se, aqui, portanto, a figura do paterfamilias — ou patriarca, pois é do pai a responsabilidade e a chefia de toda a família. 30/04/2024, 22:41 digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoi… https://digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoid=56443&se… 1/28 IMPORTANTE: “No patriarca estava imbuído o entendimento daquele que adquiria e geria os bens que constituíam o patrimônio familiar, centralizando a autoridade familiar e patrimonial” (PESSOA, 1997 p. 09). Já na Idade Média, a família contraiu um pensamento de natureza econômica, constituindo-se além dos ditos acima, uma unidade de produção. “Cada lar era uma pequena oficina, da qual todos os membros da família retiravam sua subsistência” (VENOSA, 2013 p. 05). Isso foi se modificando cada vez mais rápido com a ascensão dos estados democráticos de direitos pós- Revolução Industrial. O espaço familiar começa a perder a característica de unidade de produção e passa a ser considerado paulatinamente um espaço para o desenvolvimento moral, afetivo, espiritual e de assistência recíproca entre seus membros. (ALMEIDA JUNIOR, 2004 p. 12) Este é o momento em que iniciamos a concentrar esforços nestes estudos, pois é nesse arcabouço histórico que ocorre a proclamação de nossa república. O Decreto nº 180 foi um marco, instituía que o casamento civil ou o religioso eram as únicas formas válidas de instituição de uma família, tornando qualquer outro padrão familiar marginalizado pelo Estado. Ruzyl (2005) esclarece que: A família patriarcal, extensa e transpessoal emerge como discurso legitimador de uma dada condição social, que se avalia pela estirpe. (...) Trata-se de uma família que tem por funções, na perspectiva aludida mais acima, a transmissão do status e do patrimônio, servindo como fonte de manutenção de poder político, com a criação de laços de dependência. Para o atendimento dessas funções, a estabilidade do corpo familiar é essencial, de modo que os laços de solidariedade se mantenham firmes. O responsável por essa função é o patriarca, que centraliza a direção da família, a esposa tem papel definido nessa estrutura familiar como de subordinação, papel este para o qual é criada desde a mais tenra infância. As filhas devem, pois, ser criadas para ocuparem seu papel de boas esposas no âmbito da família de seus futuros maridos. O desenvolvimento das virtudes das ‘boas moças’ é fator indispensável à obtenção de casamentos – e alianças – vantajosos com outros fazendeiros e homens de posse, ‘bem nascidos’, de modo a assegurar a manutenção do status e da condição econômica. (RUZYL, 2005, p. 118-119) Nesta esteira, junto com o novo Estado que surgia, deveria haver uma codificação em que se acautela as garantias em sede do direito privado que estivesse impregnada por um novo liberalismo jurídico. Nascia, assim, o Código Civil (CC) de 1916. IMPORTANTE: Embora cercado por um novo modelo jurídico estatal advindo da nova república, este novo código tão somente consolidou o amparo legal à família tradicional da época, matrimonializada, patriarcal, hierarquizada, heteroparental, biológica e institucional, vista como unidade de produção e de reprodução (MADALENO, 2011 p. 07). 30/04/2024, 22:41 digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoi… https://digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoid=56443&se… 2/28 Como observa Venosa (2013, p. 6), “o Código Civil brasileiro de 1916 foi dirigido para a minoria da Casa-Grande, esquecendo da Senzala. Esse, de qualquer forma, era o pensamento do século XIX”. Com o pós-Primeira Guerra Mundial e a intensificação do estado liberal, os grupos tidos como minorias iniciam reivindicação por mais igualdade de direitos, em uma tentativa de omissões do então CC, gerando “a formação de um polissistema com a edição de um conjunto de regras ocupando espaços que o Código Civil já não conseguia preencher” (PEDRO, 2012, p. 79). Se os clamores sociais apontavam questionamentos para serem levantados, foi na jurisprudência em que se percebia oficialmente quantas lacunas o código deixava no decorrer dos anos, levando o Judiciário a julgar com base em princípios gerais do Direito. IMPORTANTE: Nesse contexto, Rolf Madaleno preleciona: A Constituição Federal de 1988 realizou a primeira e verdadeira grande revolução no Direito de Família brasileiro, a partir de três eixos: a) o da família plural, com várias formas de constituição (casamento, união estável e a monoparentalidade familiar); b) a igualdade no enfoque jurídico da filiação, antes eivada de preconceitos; e c) a consagração do princípio da igualdade entre homens e mulheres. (MADALENO 2011, p. 4) Nesse sentido, dentre outras garantias, a Constituição Federal de 1988, por meio dos parágrafos do artigo 226, bem como dos artigos 227 a 230, trouxe indicadores legais e abriu uma janela para a revisão de toda uma codificação civil, uma vez que essa carta legal elevou o direito de família ao âmbito constitucional, abrindo para nós as portas para novas conceituações de família. DEFINIÇÃO: Hoje, no âmbito de direito de família, considera-se entidade familiar qualquer agrupamento humano fundado no afeto e/ou por laços consanguíneos, consolidados a partir de um casamento (ato formal), devendo todos os membrosserem respeitados e protegidos com a finalidade de ter seus potenciais desenvolvidos de forma sã no espaço em que convivem.. Só poderíamos chegar a esse conceito graças a toda uma evolução social pela qual passamos. Vejamos um exemplo de como podemos visualizar esse conceito nos tribunais. Exemplo: Como você deve saber, o bem de família é a unidade habitacional em que uma família se abriga, se reúne e se socializa. Desse modo, penhorá-lo iria ferir severamente garantias constitucionais, como o direito à dignidade da pessoa humana, direito à moradia, direito à saúde, entre outros. E foi sobre esses pressupostos que o legislador pátrio, por meio da Lei nº 8.009/1990, assim estatuiu, in verbis: Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, 30/04/2024, 22:41 digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoi… https://digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoid=56443&se… 3/28 fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei. Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o qual se assentam a construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natureza e todos os equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou móveis que guarnecem a casa, desde que quitados. (BRASIL, 1990) Outrora, como se pode depreender do que já fora dito aqui, as famílias perdiam seus bens em razão de dívidas através de execuções judiciais, ficando à míngua, e, através dessa lei, a família ganhou uma proteção sobre seus direitos fundamentais. Porém, como dissemos, o conceito jurídico de família ainda era restrito, uma vez que, em 1988, mesmo com uma nova conceituação nascente devido a uma a constituição, o CC vigente era o de 1916. Além disso, embora a lei já mencionada seja um grande avanço, ela não tratou de conceituar família, deixando a jurisprudência avançar neste debate. Isso é visto na jurisprudência a seguir: PROCESSUAL. EXECUÇÃO – IMPENHORABILIDADE. IMÓVEL – RESIDÊNCIA, DEVEDOR SOLTEIRO E SOLITÁRIO. LEI 8.009/90. – A interpretação teleológica do Art. 1o, da Lei 8.009/90, revela que a norma não se limita ao resguardo da família. Seu escopo definitivo é a proteção de um direito fundamental da pessoa humana: o direito à moradia. Se assim ocorre, não faz sentido proteger quem vive em grupo e abandonar o indivíduo que sofre o mais doloroso dos sentimentos: a solidão. – É impenhorável, por efeito do preceito contido no Art. 1o da Lei 8.009/90, o imóvel em que reside, sozinho, o devedor celibatário. (BRASIL, 2003) IMPORTANTE: Percebe-se por este julgado que famílias com uma situação jurídica temerária perdiam seus bens, e isso trouxe à baila o advento da súmula 364 do Superior Tribunal de Justiça (STJ), publicada em 2008, que consignou que o conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas. Com isso, abriu-se um leque maior de possibilidades. Contudo, a maioria das novas questões levantadas em sede de direito de família só puderam ser prontamente mais bem concentradas no plano legal com o advento do novo CC de 2002. No que tange ao direito familiar, o CC de 2002 avança no reconhecimento de outras entidades familiares formadas a partir de relações baseadas no afeto, mas não estão formalmente inseridas nos moldes matrimoniais legais, como união estável, famílias monoparentais, anaparentais, homoafetivas, entre outras tantas. Dessa forma, a socioafetividade passou a ser o elemento motor que comprova um vínculo parental sem causar prejuízo aos vínculos consanguíneos, permitindo o reconhecimento de filhos, por exemplo, e mais além, abrindo possibilidades de famílias pluriparentais. Tais termos serão mais bem esmiuçados na oportunidade em que tratarmos dos novos arranjos familiares, ainda nesta unidade. Exemplo: Essa ampliação do conceito de família fez com que os poderes públicos tivessem que se adequar. Vejamos, por exemplo, essas questões através do artigo 16 da Lei nº 30/04/2024, 22:41 digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoi… https://digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoid=56443&se… 4/28 8.213/1991, que dispõe sobre questões inerentes à Previdência Social, in verbis: Art. 16. São beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, na condição de dependentes do segurado: I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave; II - os pais; III - o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave. (BRASIL, 1991) Note que o dispositivo acima trata dos dependentes do segurado. Nele, é explícito que não somente o cônjuge tem a qualidade de dependente, e sim, o companheiro, o filho menor de 21 anos não emancipado ou que seja inválido, assim como os pais, o irmão não emancipado, menor de 21 anos não emancipado ou que seja inválido, o enteado e o menor tutelado. Ficando visível um conceito de família buscando maior alcance social. A Lei nº 10.836/2004, que institui o Bolsa Família, conceitua família como uma unidade nuclear, eventualmente ampliada por outros indivíduos que com ela possuam laços de parentesco ou de afinidade, que forme um grupo doméstico vivendo sob o mesmo teto e que se mantém pela contribuição de seus membros. Esses são exemplos das adequações da administração ante os novos conceitos de família. No campo do judiciário, a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006), com outras palavras, preleciona como família a comunidade formada por dois indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa, independentemente de orientação sexual. A Lei da Adoção (Lei nº 12.003/2009), por sua vez, nos ensina que os conceitos de família se estendem para além do preceito padrão enraizado por pais e filhos; dessa forma, uma família pode ser composta por parentes próximos com os quais a criança/adolescente convivam e mantenham vínculos de afinidade, bem como afetividade. DEFINIÇÃO: Serejo (2014, p. 29) sabiamente nos conduz ao entendimento de que o Direito de Família vai para onde a família for e renova-se com a mesma velocidade. Isso nos levará a conceitos plurissignificantes, muito embora os modelos muitas vezes sejam semelhantes, é o caso substrato teórico que embasa a equiparação das uniões homoafetivas à categoria da união estável, com expressa disposição legal, por analogia às uniões de natureza heterossexual firmadas no § 3º do artigo 226 da Constituição Federal. IMPORTANTE: O Supremo Tribunal Federal (STF), enfrentando o julgamento da Arguição de Preceito Fundamental nº 132 (BRASIL, 2011b), declinou o entendimento de que o sexo das pessoas 30/04/2024, 22:41 digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoi… https://digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoid=56443&se… 5/28 não se presta como fator de distinção jurídica. Nessa oportunidade, a egrégia corte entendeu que, salvo disposição constitucional expressa ou implícita em sentido contrário, não há motivos para uma colisão textual entre o inciso IV do art. 3º da Constituição Federal que proíba o preconceito, com o alvo constitucional de promover o bem de todos. Sem dúvidas, esse julgamento produziu uma das maiores defesas da família como uma entidade promotora de afeto e dignidade, sendo um exemplar entendimento de como muitasvezes limitações jurídicas ou institucionais embargam e não correspondem à dinâmica da vida real vivida por muitas famílias. IMPORTANTE: A ruptura de paradigmas, como um único modelo de família, o reconhecimento de relações parentais (por exemplo, filhos de outros enlaces conjugais), a quebra da chefia conjugal vinda do varão provedor, a legitimações de uniões homoafetivas e a concessão da multiparentalidade formaram modificações essenciais não só para a desenvolvimento da sociedade como também para a progresso da própria mentalidade humana, estando, muitas vezes, o Brasil na dianteira legal na concessão de diversos direitos fundamentais no âmbito da família. Se não houvesse essas modificações, como as apresentadas neste capítulo, não poderíamos falar hoje em um direito de família. Bons nomes da doutrina pátria, como Cristiano Chaves de Farias, Rolf Madaleno e Maria Berenice Dias, têm declinado a adoção da denominação desse ramo do direito civil, como direito das famílias, no plural, em vez de direito de família, como normalmente vemos no singular. Para esses autores, o termo direito das famílias faz melhor justiça às diversas conquistas e aquisições no reconhecimento do conceito plurissignificativo de família. Ante o que foi dito aqui, o aluno já deve ter presumido que, embora a natureza jurídica do direito de família tenha surgido no direito privado, resguardando muitos elementos desse, por ter sido erigida em normas de caráter constitucional, direito de família também traz grande carga pública, assim, sua natureza jurídica hoje é considerada matéria mista. Importante destacar, por fim, uma das máximas de direito, que a matéria de ordem pública sempre irá se sobrepor às de ordem privada em casos de conflito. RESUMINDO: Neste capítulo, buscamos fazer uma análise da construção histórica do conceito de família, através de um quadro sucinto de fatores políticos, sociais e jurídicos de cada época, mostrando que a velocidade da atividade social nem sempre foi e é acompanhada da imperativa velocidade na atividade legislativa, sendo tais atividades sociais debatidas e aprimoradas no âmbito judicial, como demonstramos. Sendo a família um fato social, entrelaçada inteiramente com dinâmica das relações privadas, não poderiam os poderes públicos simplesmente negar uma devida assistência. Dessa forma, procuramos também, nas linhas anteriores, apresentar novos conceitos de família por meio do devido reconhecimento dos novos arranjos familiares, principalmente após a promulgação da Constituição Federal de 1988. Essas apreciações foram propostas com a intenção de validar a conclusão de que, na contemporaneidade, não se pode cogitar mais que o poder público possa impedir o pleno exercício do afeto inserido nas garantias legais da dignidade 30/04/2024, 22:41 digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoi… https://digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoid=56443&se… 6/28 e da liberdade dos constituintes de conduzirem suas opções de vida e suas formas de constituição familiar. Princípios do Direito de Família OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de entender alguns dos princípios do direito de família. As pessoas que tentaram ingressar nesses estudos sem a devida instrução tiveram problemas para interpretar as normas atuais de direito de família. E então, motivado para desenvolver esta competência? Vamos lá, avante!. Dentro do quadro conceitual apresentado no capítulo anterior, podemos observar que o direito de família repousa em duas grande pilastras, quais sejam: o direito existencial de família firmado na pessoa humana e, assim, fazendo parte de normas correlacionadas à ordem pública, advindas primeiramente da Constituição Federal; e o direito patrimonial de família, cujas raízes encontram-se no direito privado propriamente dito com o foco no patrimônio. De um lado, as normas que permeiam o direito existencial de família não podem ser contrariadas por convenção entre as partes, sob pena de nulidade absoluta da convenção, por fraude à Lei Imperativa (art. 166, inc. VI, do CC). De outro, o direito patrimonial de família possui normas que admitem livremente a previsão em contrário pelas partes. Ou seja, existem as normas públicas, garantidoras de direitos indisponíveis, e as normas privadas, que trazem um conteúdo em que as partes podem dispor de seus direitos. EXPLICANDO MELHOR: Para entender melhor, vamos tomar o seguinte exemplo: pela leitura do CC atual, é nulo o contrato em que os companheiros em uma união estável renunciem, por forma direta ou indireta, ao direito aos alimentos. Em contrapartida, é válido o contrato de convivência, ou seja, aquele em que os pactuantes em regime de união estável firmam as cláusulas concernentes aos efeitos patrimoniais da relação (art. 1.725 do CC). VOCÊ SABIA? O CC, no que concerne à organização das leis relativas ao direito de família, demonstra essa divisão como tendência. Os arts. 1.511 a 1.638 tratam do direito pessoal ou existencial. Já os arts. 1.639 a 1.722 prelecionam os direitos patrimoniais e correlatos. Essas divisões são cercadas de princípios norteadores dos quais trataremos a seguir. Princípio de Proteção da Dignidade da Pessoa Humana (art. 1º, III, da 30/04/2024, 22:41 digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoi… https://digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoid=56443&se… 7/28 CF/1988) Quiçá este seja o princípio com maior vastidão de aplicação no nosso ordenamento jurídico. Previsto no art. 1º, inc. III, da CF/1988, quem é o que chamam de superprincípio. Tem uma conceituação complexa, pois trata-se de uma cláusula geral, que parte de um conceito legal indeterminado, com várias interpretações. Em um plano geral, podemos dizer que a dignidade humana deve ser abalizada a partir da realidade a qual o ser humano encontra-se inserido em seu contexto social. Exemplo: Podemos introjetar a incidência da dignidade humana nas relações familiares, nos casos em que haja o abandono paterno-filial (abandono afetivo). EXPLICANDO MELHOR: A jurisprudência pátria tem frequentemente condenado alguns pais a indenizarem seus filhos pelo tempo em que não somente deixaram de prover os alimentos, como também afeto característico, ou de que se presume ter, de um pai. A clara lesão à dignidade humana ocorre somente no âmbito civil/constitucional, mas em outras legislações ordinárias ou complementares, como o caso do Estatuto da Criança e do Adolescente. Um pai não é somente aquele que transfere sua carga genética para uma outra vida, ele tem deveres sobre esse indivíduo. Nesse sentido, um dos julgados mais aclamados nessa linha de pensamento advém do extinto Tribunal de Alçada Civil de Minas Gerais, cuja ementa fazemos questão de transcrever: INDENIZAÇÃO DANOS MORAIS. RELAÇÃO PATERNO-FILIAL. PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. PRINCÍPIO DA AFETIVIDADE. A DOR SOFRIDA PELO FILHO, EM VIRTUDE DO ABANDONO PATERNO, QUE O PRIVOU DO DIREITO À CONVIVÊNCIA, AO AMPARO AFETIVO, MORAL E PSÍQUICO, DEVE SER INDENIZÁVEL, COM FULCRO NO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. (TAMG, Apelação Cível 408.555-5, 7.ª Câmara de Direito Privado, decisão 01.04.2004, Rel. Unias Silva, v.u.). Na ocasião desse julgamento, o pai fora condenado a pagar indenização no importe de 200 salários mínimos ao filho, pelo fato de tê-lo desamparado afetivamente. Isso se deu porque, logo após a separação de seus pais, o autor passou a ser privado da convivência com o pai, uma vez que este último contraiu novo matrimônio, formando nova família e impedindo-o de participar do convívio desta. Todavia, foi observado nesta lide que o pai continuou arcando com os alimentos para sustento do filho, sendo verificado que o abandono ocorreu somente no plano do afetuoso, da convivência. EXPLICANDO MELHOR: Essa mesma tendência é frequentementeaceita em outros tribunais, como já dissemos. Vejamos: RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. AUTOR ABANDONADO PELO PAI DESDE A GRAVIDEZ DA SUA GENITORA E RECONHECIDO COMO FILHO SOMENTE APÓS PROPOSITURA DE AÇÃO JUDICIAL. 30/04/2024, 22:41 digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoi… https://digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoid=56443&se… 8/28 DISCRIMINAÇÃO EM FACE DOS IRMÃOS. ABANDONO MORAL E MATERIAL CARACTERIZADOS. ABALO PSÍQUICO. INDENIZAÇÃO DEVIDA. SENTENÇA REFORMADA. RECURSO PROVIDO PARA ESTE FIM. (TJSP, 8.ª CÂM. DE DIREITO PRIVADO, APELAÇÃO COM REVISÃO 511.903-4/7-00-MARÍLIA-SP, REL. DES. CAETANO LAGRASTA, J. 12.03.2008, V.U.). Isso é tão somente uma breve amostra de quanto nossos tribunais têm declinado e amadurecido o princípio da dignidade da pessoa humana no âmbito do direito familiar. Mas, se acaso, o aluno queira uma definição com maior precisão, nos prestamos a trazer as palavras do Min. Celso de Melo do STF. O postulado da dignidade da pessoa humana, que representa — considerada a centralidade desse princípio essencial (CF, art. 1º, III) — significativo vetor interpretativo, verdadeiro valor-fonte que conforma e inspira todo o ordenamento constitucional vigente em nosso País e que traduz, de modo expressivo, um dos fundamentos em que se assenta, entre nós, a ordem republicana e democrática consagrada pelo sistema de direito constitucional positivo [...]. (HC 95464, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 03/02/2009, DJe-048 DIVULG 12-03-2009 PUBLIC 13-03-2009 EMENT VOL-02352-03 PP- 00466). Princípio da Solidariedade Familiar (art. 3º, I, da CF/1988) A solidariedade social está consagrada como objetivo fundamental da República Federativa do Brasil, conforme redação dada pelo art. 3º, inc. I, da CF/1988. Tal princípio encontra berço no direito de família, uma vez que a entidade familiar está fundada na solidariedade recíproca. Solidariedade, aqui, reporta ao senso de responder pelo outro, de cuidar do outro, gerando um direito obrigacional. Assim, a solidariedade aqui deve ser entendida como um princípio que gera direitos que partem do afeto, da moral, do patrimonial e, por que não dizer, do espiritual ou até mesmo do sexual. IMPORTANTE: Sobre a solidariedade patrimonial, é importante destacar que o CC/2002 trouxe incrementos interessantes. Consta no seu art. 1.694, § 2º, que o cônjuge culpado pelo fim do relacionamento pode pleitear os alimentos necessários, ou seja aqueles que são indispensáveis à sobrevivência, face ao cônjuge inocente. Ressalva-se que isso só poderá ser proposto caso o cônjuge culpado não tenha condições para o trabalho, tampouco parentes em condições de prestar os alimentos — é o que diz a redação do art. 1.704, parágrafo único do CC. Princípio da Igualdade entre Cônjuges e Companheiros (art. 226, § 5º, da CF/1988 e art. 1.511 do CC) 30/04/2024, 22:41 digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoi… https://digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoid=56443&se… 9/28 Embora na prática, nos altos dos anos 2000 isso já fosse uma praxe social, o CC atestou de vez a necessidade da promoção da igualdade entre os cônjuges. Esse princípio está firmado no art. 226, § 3º, e art. 5º, inc. I, da CF/1988, e no art. 1.511 do CC/2002, este último nesta redação: “o casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges”. NOTA: Essa igualdade gera, portanto, alguns efeitos, como: a) maridos ou companheiros podem pleitear alimentos de suas respectivas ex-consortes (ex-esposa ou ex-companheira), ou vice-versa; b) Além disso, os consortes podem fazer uso do nome do outro livremente, conforme convenção das partes nos termos (art. 1.565, § 1º, do CC); c) a chefia familiar pode ser exercida tanto pelo homem quanto pela mulher ou por ambos. Esses são alguns exemplos dos efeitos da igualdade entre os cônjuges. Princípio da Não Intervenção ou da Liberdade (art. 1.513 do CC) No art. 1.513 do CC Brasileiro, é constante que é defeso a qualquer pessoa de direito público ou direito privado interferir na comunhão de vida instituída pela família. Trata-se aqui de uma ramificação do princípio da liberdade. No direito de família, dizemos que se trata do princípio da não intervenção na ótica dessa esfera do direito. Reforçado pelo art. 1.565, § 2º do mesmo CC, esse princípio resguarda o planejamento familiar na forma de livre decisão do casal, sendo proibida qualquer forma de repressão por parte de instituições públicas ou privadas em relação a esse direito. Conforme o Enunciado nº 99 do CJF/STJ, asseverado pela I Jornada de Direito Civil, esse dispositivo aplica-se por analogia para as pessoas que vivem em união estável. É certo que o princípio em tela mantém correlação com o princípio da autonomia privada. Ou seja, nas matérias de família que não colidirem com a ordem pública, as partes estão livres para deliberarem sobre suas escolhas, como com quem namorar e com quem ter uma união estável. IMPORTANTE: Fique atento, aluno, pois a liberdade a qual trata o art. 1.513 do CC deve ser lida de forma cuidadosa, visto que o real sentido do texto legal deve conduzir o entendimento de que o Estado ou qualquer ente de natureza privada não pode intervir coercitivamente nas relações de família; todavia, poderá incentivar o controle da natalidade planejado, por exemplo, isso pode ser entendido pelo viés de que o Estado deve assegurar a assistência à família na pessoa de todos seus integrantes, criando estruturas que irão coibir a violência no âmbito de suas relações (art. 226, § 8º da CF/1988). Princípio do Maior Interesse da Criança e do Adolescente (art. 227, 30/04/2024, 22:41 digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoi… https://digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoid=56443&s… 10/28 caput, da CF/1988 e arts. 1.583 e 1.584 do CC) Conforme preleciona o art. 227, caput, da CF/1988, já com redação dada pela Emenda Constitucional 65, fala-se que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. IMPORTANTE: Embora essa proteção já estivesse regulamentada pela Lei nº 8.069/1990, ou seja, o Estatuto da Criança e do Adolescente, o CC coloca sabiamente essa matéria no direito de família para trazer à tona a importância de promover a segurança jurídica adequada à prole. Esse princípio, embora esteja alocado e bem conhecido nos textos jurídicos aqui citados, na verdade está ventilado em uma gama de leis, dada a importância do tema. Por exemplo, a recente Lei nº 13.257/2016, que versa sobre as políticas públicas para a proteção da primeira infância (os seis primeiros anos). Devemos observar, do ponto de vista exclusivamente do direito civil, o princípio de preservar o melhor interesse está no CC/2002 de forma expressa nos seus arts. 1.583 e 1.584, quando tenta regular matéria referente à guarda no período em que o menor esteja na posse do poder familiar. NOTA: Interessante apontar que esses dois dispositivos já foram alterados no transcorrer do tempo, primeiramente pela Lei nº 11.698 de 2008, que passou a reger disposições sobre a guarda compartilhada, fazendo com que ela, inclusive, prevaleça sobre a guarda unilateral em muitos casos, todavia, não entraremos em detalhes nesta unidade, e guardaremos esse tema quando formos abordar este ponto na próxima unidade. Tudo isso que apresentamosaté aqui foi para dizer que, embora esse princípio esteja apregoado no CC/2002, na aplicação prática, vemos que o Código existe neste ponto como aporte básico para aplicação dele. Ou seja, sobre a proteção do melhor interesse do menor, o CC não é o único dispositivo legal para ser usado, ele traz normas gerais para aplicação do direito, dependendo algumas vezes de leis esparsas para que se possa fazer valer os direitos dos que buscam tutela. Princípio da Afetividade Esta, sem dúvida, é uma das grandes inovações principiológicas do CC de 2002, pois, como já dissemos, a construção do entendimento de família perpassou os laços sanguíneos para dar espaço aos laços afetivos, e estes, por sua vez, são sim a grande fonte que realmente une as famílias. 30/04/2024, 22:41 digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoi… https://digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoid=56443&s… 11/28 IMPORTANTE: Em um nobilíssimo julgado, a então Ministra do STJ, Nancy Andrighi, assim proferiu: A quebra de paradigmas do Direito de Família tem como traço forte a valorização do afeto e das relações surgidas da sua livre manifestação, colocando à margem do sistema a antiga postura meramente patrimonialista ou ainda aquela voltada apenas ao intuito de procriação da entidade familiar. Hoje, muito mais visibilidade alcançam as relações afetivas, sejam entre pessoas de mesmo sexo, sejam entre o homem e a mulher, pela comunhão de vida e de interesses, pela reciprocidade zelosa entre os seus integrantes. Deve o juiz, nessa evolução de mentalidade, permanecer atento às manifestações de intolerância ou de repulsa que possam porventura se revelar em face das minorias, cabendo-lhe exercitar raciocínios de ponderação e apaziguamento de possíveis espíritos em conflito. A defesa dos direitos em sua plenitude deve assentar em ideais de fraternidade e solidariedade, não podendo o Poder Judiciário esquivar-se de ver e de dizer o novo, assim como já o fez, em tempos idos, quando emprestou normatividade aos relacionamentos entre pessoas não casadas, fazendo surgir, por consequência, o instituto da união estável. A temática ora em julgamento igualmente assenta sua premissa em vínculos lastreados em comprometimento amoroso. (STJ, REsp 1.026.981/RJ, 3.ª Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 04.02.2010, DJe 23.02.2010). Os primeiros estudos jurídicos sobre o tema remontam o final da década de 1970 no brilhante trabalho de arguição de João Baptista Villela, em sua obra Desbiologização da Paternidade; lá, o nobre autor assim proferiu: A paternidade em si mesma não é um fato da natureza, mas um fato cultural. Embora a coabitação sexual, da qual pode resultar gravidez, seja fonte de responsabilidade civil, a paternidade, enquanto tal, só nasce de uma decisão espontânea. Tanto no registro histórico como no tendencial, a paternidade reside antes no serviço e no amor que na procriação. As transformações mais recentes por que passou a família, deixando de ser unidade de caráter econômico, social e religioso, para se afirmar fundamentalmente como grupo de afetividade e companheirismo, imprimiram considerável esforço ao esvaziamento biológico da paternidade. Na adoção, pelo seu caráter afetivo, tem-se a prefigura da paternidade do futuro, que radica essencialmente a ideia de liberdade. (VILLELA 1980, p. 49) Através desses argumentos cresceram diversas teses, que pouco a pouco foram tomando forma, e vêm se consolidando nos tribunais pátrios, dentre elas a da chamada paternidade socioafetiva. A paternidade socioafetiva, segundo o enunciado de número 339 da IV Jornada de Direito Civil, ocorrida em 2006, está calcada na vontade livre, e, caso assumida, determina elemento gerador de obrigação alimentar. Esse tipo de paternidade se dá da seguinte forma: EXPLICANDO MELHOR: Imaginemos um homem, “H”, que se casa com uma mulher, “M”, que já tinha um filho, “F”, de outro relacionamento. H e F criam um vínculo parental afetuoso forte, a ponto de 30/04/2024, 22:41 digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoi… https://digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoid=56443&s… 12/28 H reconhecer publicamente que F é seu filho legítimo, F, por sua vez, reconhece H como se seu pai de fato fosse. Nessas situações, H pode, pela via judicial ou extrajudicial, reconhecer a paternidade de F, e desse reconhecimento serão gerados todos os efeitos (direitos e deveres) entre ambas as partes, tornando-os parentes de fato e de direito. Dessa forma, o afeto transforma não somente as relações familiares, como também as relações jurídicas e, por isso, hoje é um dos princípios mais pulsantes do direito de família. Princípio da Função Social da Família (art. 226, caput, da CF/1988) Acredito que, você, aluno, já ouviu em algum lugar que a família é a célula de uma sociedade, e para o bem-estar dela é que se iniciam todas as transformações sociais. Enquanto, de um lado, a CF/1988 tentou com muito esforço traçar curvas que delimitam o estado brasileiro, de outro, ela trouxe ou pelo menos iniciou um sistema protetivo para cada tipo de constituinte nas diversas fases etárias. Nessa empreitada, a CF/1988 norteou a família a prestar uma função social. Todo compêndio pós-CF/1988 veio para apresentar um sentido legal para a família, afirmando que ela não é mais um fim em si mesma, mas um meio social na busca de um melhor bem- estar para com o outro. Atualmente, todos os institutos de direito de família observam cuidadosamente as relações familiares dentro do contexto social visualizando vetores como as diferenças regionais de cada localidade, por exemplo. Pois o mesmo direito que deverá ser aplicado a uma comunidade urbana, esteja ela nos bolsões de riqueza ou de pobreza, também será aplicado nas comunidades rurais. A família gera fatos sociais que alteram o direito, e este, por sua vez, segue essas transformações. Hoje, não reconhecer função social à família é não perfilhar a função social à própria sociedade, sendo a primeira uma premissa-chave para a segunda. Princípio da Boa-Fé Objetiva Se você, aluno, chegou até aqui, já deve ter notado que este princípio norteia todo o CC. Nas palavras de Fábio Tartuce, a boa-fé é constituída de três princípios, vejamos: IMPORTANTE: O Código Civil de 2002 foi construído a partir de três princípios fundamentais: a eticidade, a socialidade e a operabilidade. A eticidade representa a valorização do comportamento ético- socializante, notadamente pela boa-fé objetiva. A socialidade tem relação direta com a função social dos institutos privados, caso da família, o que já foi estudado no tópico anterior. Por fim, a operabilidade tem dois sentidos. O primeiro é de facilitação ou simplicidade dos institutos civis, o que pode ser percebido de várias passagens da codificação. O segundo sentido é de efetividade, o que foi buscado pelo sistema de cláusulas gerais adotado pelo 30/04/2024, 22:41 digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoi… https://digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoid=56443&s… 13/28 CC/2002, sendo essas janelas ou molduras abertas deixadas pelo legislador, para preenchimento pelo aplicador do Direito, caso a caso (TARTUCE 2020, p.1768). Embora saibamos que o aluno já conheça os termos aqui ditos, a título de revisão, tomaremos os termos do Enunciado nº 26, aprovado na I Jornada de Direito Civil, que define a boa-fé objetiva como a exigência de comportamento leal das partes, dessa forma, a boa-fé objetiva não é em si uma regra normatizada, e sim um o dever de cuidado, respeito para com o outro. É na Boa-fé que reside o dever de informar, de agir com colaboração, confiança, lealdade e probidade. Tal princípio é bem visualizado em diversos artigos do CC noque tange o direito de família. Por exemplo: Exemplo: Ensina o CC/2002, no art. 1.521, inc. VII, que não podem casar o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte, embora, mais à frente, dedicaremos algumas linhas sobre isso, imaginemos a seguinte situação. Uma pessoa atenta contra a vida de seu marido/sua esposa de forma proposital, chegando a consumar o homicídio, ou responder por ele apenas na forma tentada. Naturalmente, como você deve presumir, só em razão do ato praticado, já deveria haver uma repulsa do cônjuge da vítima com relação ao seu algoz. Como, então, seria possível, admitir, ainda que hipoteticamente, que uma paixão avassaladora tomasse essa pessoa, a ponto de motivá-la ao casamento com o agressor do seu ex-cônjuge? E mais: como o direito civil, que pauta toda sua normatização na boa-fé, contemplaria essa possibilidade? Percebe-se que, aberta a possibilidade de permissão para o casamento nessas circunstâncias, na verdade, o que ocorreria seria uma enorme lacuna para que uma pessoa casada planejasse, com o seu cúmplice, adultério, o homicídio do atual consorte, facilitando o conchavo, complô, conluio, com a finalidade de livrar-se do casamento atual e ainda com a possibilidade de beneficiar-se na condição de herdeiro necessário (posição do cônjuge sobrevivente), ficando, portanto, livre para uma nova união com o criminoso. Esses princípios não excluem outros afins, como é o caso da proteção ao idoso, ou qualquer outro, todavia, os que foram aqui apresentados estão de forma mais proeminentes nos artigos do CC inerentes ao direito de família. RESUMINDO: Como sabemos, os princípios são norteadores de normas, advindos de uma grande construção histórica e social. Pelos princípios aqui apresentados, observamos um pouco da amplitude das garantias, deveres e obrigações constantes no direito de família pátrio. Novos Arranjos Familiares OBJETIVO: 30/04/2024, 22:41 digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoi… https://digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoid=56443&s… 14/28 Ao término deste capítulo, você será capaz de entender como estão organizadas algumas famílias na atualidade. As pessoas que tentaram ingressar nestes estudos sem a devida instrução deste tema tiveram problemas para compreender para que se presta as novas de direito de família. E então, motivado para desenvolver esta competência? Vamos lá. Como anteriormente tratamos, com o advento da CF/1988, no campo do direito de família, houve o reconhecimento de direitos de personagens jurídicas anteriormente marginalizadas. Assim, a mulher, a criança, o adolescente, o jovem e o idoso ganharam status constitucional (Capítulo VII, do Título VIII — Da Ordem Social). No entanto, antes de adentrarmos no conteúdo legal, tratando de normas de casamento, divórcio, alimentos, guarda etc., devemos entender como as famílias estão organizadas. Por óbvio, seria um esforço colossal apresentar um cenário em que constasse toda a variedade acerca dos arranjos familiares, contudo, aqui deixaremos um cenário com os arranjos que presumimos serem os mais presentes no nosso cotidiano. Pois bem, diante disso, sigamos. Na redação do texto constitucional, o art. 226, extraímos que a família é decorrente dos seguintes institutos: a.Casamento civil, sendo gratuita a sua celebração e tendo efeito civil o casamento religioso, nos termos da lei (art. 226, §§ 1º e 2º). Por esse tipo de relação, entendemos que seja uma união entre duas pessoas, que se situam em uma comunhão plena de vida, baseada na igualdade de direitos e deveres. Por ter características contratuais, o casamento requer certas formalidades para que tenha sua validade e eficácia perante o Estado, seu processo é realizado em cartório de registro civil, e se inicia com a habilitação do casal através de análise documental criteriosa. Após a publicação dos proclamas do casamento em algum meio de imprensa local ou até mesmo em mural do cartório, o casal encontra-se apto a oficializar essa união em ato presidido por juiz competente, na presença de testemunhas. Com a realização da cerimônia, em seguida, é emitida a certidão de casamento. Somente esse documento comprova a autenticidade, eficácia, e validade da união formalizada. Sobre o casamento religioso, as partes são livres para celebrarem de acordo com o rito de cada crença, todavia, ela não terá validade para o Estado caso não obedeça a alguns requisitos, os quais estudaremos nas próximas unidades. De antemão, podemos adiantar que, para o casamento religioso ter seu devido efeito civil, é necessário que o casal, no prazo de 90 dias, apresente o termo de casamento emitido pela autoridade religiosa perante o registro civil. Entretanto, reforçamos que tais detalhes serão vistos amiúde no tempo oportuno. b.União estável entre homem e mulher, devendo a lei facilitar a sua conversão em casamento (art. 226, § 3º). DEFINIÇÃO: Caracteriza-se uma relação em união estável aquela advinda da convivência pública, contínua e duradoura entre duas pessoas, com o objetivo firmado na constituição de uma família. Não se estabelece prazo mínimo de duração dessa convivência. 30/04/2024, 22:41 digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoi… https://digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoid=56443&s… 15/28 Atualmente, sequer há a necessidade do casal de residir na mesma unidade habitacional para que tal vínculo reste configurado. c.Família monoparental, comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes (art. 226, § 4º). DEFINIÇÃO: A família monoparental caracteriza-se, a priori, quando apenas um dos pais se responsabiliza pelos cuidados. Porém, hoje em dia, nada obsta um avô que resida com seus netos e deles detenha os cuidados ou a guarda, ou um tio com sobrinhos, por exemplo. A família monoparental é, sem dúvida, pertencente a um grupo de primeiros moldes familiares que fogem dos parâmetros históricos. Antigamente, para realizar o sonho de paternidade/maternidade, primeiro o indivíduo deveria casar-se e constituir algum patrimônio para moradia. Com o passar do tempo, percebeu-se que isso era meramente uma exigência social. A família monoparental nasce, portanto, desvinculada de cobranças por uma união formal, inclinando-se tão somente ao desejo relacionado à autonomia reprodutiva. Em nossa carreira na advocacia, podemos observar a família monoparental incorrendo em maior número dentro de duas vertentes. A primeira, e mais corriqueira, é aquela em que ocorre nos casos de uma pessoa que resolve divorciar-se de uma união constituída com filhos, e deles passa deter a guarda unilateral, não contraindo uma nova união, seguindo a criação dos filhos regularmente. A segunda opção é a vertente em que o indivíduo solteiro opta em fazer fertilização assistida, ou opta em adotar alguma criança, dessa forma, a concretização do desejo parental se sobrepõe ao de ter uma união. Importante destacar que, com os avanços das tecnologias, as técnicas de fertilização passaram a ser extremamente utilizadas nos dias de hoje, pois, no início, havia muito preconceito, gerando muita confusão. Com o tempo, esses paradigmas foram caindo. IMPORTANTE: Portanto, a constituição de famílias monoparentais por meio da utilização individual das técnicas de reprodução assistida deflagrou um direito de ter filhos e um direito do livre planejamento familiar sem que necessariamente precisasse o indivíduo perpassar por etapas socialmente constituídas. Como você, aluno, deve presumir, esses arranjos, embora abracem grande número de famílias, não representam a pluralidade tipos. Nesse sentido, em comum esforço, doutrina e jurisprudência, vêm entendendo que o rol constitucional familiar é numerus apertus (exemplificativo), e não numerus clausus (taxativo). Dessa forma,atualmente são aceitas outras manifestações familiares, dentre as quais fazemos menções honrosas: d.Família anaparental - O termo anaparental quer dizer família sem pais, ou seja, formada somente por irmãos. Embora seja atípico esse arranjo de família, ele é extremamente plausível. Sua importância jurídica cresceu em julgamentos enfrentados pelo STJ, como o 30/04/2024, 22:41 digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoi… https://digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoid=56443&s… 16/28 REsp 57.606/MG, cujo relator foi o Ministro Fontes de Alencar, da 4ª turma daquela corte. Na ocasião, o órgão judicial em questão declinou o entendimento de que o imóvel em que residem duas irmãs solteiras constitui bem de família, pelo fato de elas formarem uma família. De lá para cá, esse tipo de família passou a ser admitido em direito. Contudo, no plano prático, é necessária uma comprovação relativamente robusta para o reconhecimento dessa entidade de família, uma vez que não existem atos jurídicos que a atestem de imediato. e.Família homoafetiva, cujo arranjo de família é muitíssimo conhecido atualmente, tratando-se de um constructo familiar formado por pessoas do mesmo sexo. Por muito tempo esses vínculos afetivos se mantiveram em planos extramatrimoniais, uma vez que os estados não os admitiam como família, sendo condenados a uma invisibilidade legal. Através de muita insistência pelas comunidades LGBT+, os debates sobre o tema foram levados pouco a pouco, primeiramente ao judiciário, e em seguida ao legislativo. Isso era extremamente necessário, uma vez que essas uniões geravam patrimônio, e, em quase todas as vezes, o patrimônio não se restava para o companheiro sobrevivente, e sim para a família do falecido, o que era uma grande injustiça. VOCÊ SABIA? Nos Estados Unidos, em uma tentativa de salvaguardar os direitos hereditários, o companheiro mais velho, pela via cartorária, adotava o companheiro mais novo, tornando- se no plano estatal uma relação de pai e filho, e não de companheiros. Criando uma aberração fática, pois, ali, o Estado reconhecia uma situação que não fazia sentido no mundo dos fatos, mas extremamente plausível no plano jurídico, uma vez que esse tipo de reconhecimento assegurava o patrimônio ao cônjuge sobrevivente. Somente mais tarde, em uma tentativa de balancear essa situação, os estados foram pouco a pouco reconhecendo essas uniões, sob a preocupação de não permitir o enriquecimento ilícito da família do falecido. No plano do estado brasileiro, as primeiras modificações vieram nas relações de natureza trabalhista/previdenciária, tentando garantir, por exemplo, pensão por morte para o companheiro sobrevivente. Em seguida, a jurisprudência passou a chancelar a partilha patrimonial, uma vez que, se havia uma sociedade de fato e de afeto, ela deveria gerar obrigações e direitos entre os consortes. IMPORTANTE: Importante destacar, essas ações eram julgadas nas varas cíveis, e não em varas de família, desse modo, a matéria abordada não era de um divórcio propriamente dito, e sim de uma dissolução de uma sociedade simples, no âmbito do direito das obrigações. Com o crescimento dos casos que chegavam na justiça, o direito de família era cada vez mais utilizado de forma subsidiária, até que em histórica decisão do STF, ocorrida em 5 de maio de 2011, na ocasião do julgamento da ADPF 132/RJ e ADI 4.277/DF, foi reconhecida por unanimidade a união homoafetiva como entidade familiar, o que por óbvio importou em uma grande revolução no sistema jurídico. Tal decisão comparou a união homoafetiva à união estável, para todos os fins jurídicos, tendo efeito vinculante e erga omnes. Em seguida, advindo a permissão para que os companheiros possam se casar no plano legislativo. 30/04/2024, 22:41 digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoi… https://digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoid=56443&s… 17/28 f.Família pluriparental, ou mosaico, é aquela que decorre de vários casamentos, uniões estáveis ou até mesmo advinda de vários relacionamentos afetivos de seus membros. Em regra, ela não gera situações jurídicas precárias, mas, dependendo das circunstâncias, geram situações fatídicas complexas para identificar o nível de parentesco. EXPLICANDO MELHOR: João, que já fora casado duas outras vezes, e com esses dois relacionamentos teve três filhos, sendo um da primeira união, da qual fatalmente ficou viúvo, e dois da segunda união, que, devido a divergências, se divorciou desse enlace, porém, ficando com a guarda exclusiva dos filhos. João casa-se uma outra vez, com Maria, levando consigo seus filhos menores. Pelo fato de Maria ser infértil, o casal resolve adotar uma criança. Desse modo, os primeiros filhos de João são enteados de Maria, já o filho adotado, embora não tenha vínculo biológico, é filho legalmente constituído de Maria. João torna-se pai dos quatro filhos. Como se pode ver, este rol é apenas exemplificativo, e abarca um grande número de famílias, porém, seria impossível prever quantos tipos de famílias existem, pois, cada dia que se passa, o conceito partindo do afeto alarga mais e mais a tipologia familiar. Um exemplo disso é o das chamadas comunidades de fé. São pessoas, sem vínculo de parentesco nenhum, que escolhem residir no mesmo lugar, na mesma moradia, vivem em constante fraternidade de tal sorte, que manifestam cuidados recíprocos, assim como de uma família, são pessoas que se ligam pelos vínculos da fé e do afeto. Também não podemos esquecer de citar a existência das relações poliafetivas, que, por sua vez, não se confundem com as pluriparentais, pois em princípio são baseadas no que chamamos hoje de “poliamor”. DEFINIÇÃO: O poliamor é um conceito novo, embora sua prática venha de épocas antigas. São relacionamentos livres, formados inicialmente por dois integrantes. No incurso do convívio, estes procuram outros parceiros para juntar-se relações em sexuais criativas. A rigor, não costumam criar um novo vínculo além do sexual. Todavia, baseado no conceito de poliamor, vem se tornando crescente relacionamentos pautados em um esquema de trisal. Nesse sentido, um trisal é quando três pessoas estão inseridas mutuamente em um romance, formando uma constituição familiar. Embora encontremos alguns adeptos, essa formatação familiar não é aceita em nossa legislação, que se preserva em um pensamento monogâmico; além disso, tal relação cria uma confusão patrimonial e parental. Para os adeptos dessa corrente familiar, estar em um trisal não é poligamia, pois, enquanto na poligamia existe um contexto de vários núcleos familiares coexistindo muitas vezes um sem saber do outro, em um trisal são três membros coabitando o mesmo recinto, formando um mesmo núcleo. É um aspecto jurídico novo, de forma que os tribunais não enfrentaram a matéria de forma repetitiva para que tenhamos um posicionamento jurídico firmado. 30/04/2024, 22:41 digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoi… https://digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoid=56443&s… 18/28 Como se pode ver, as famílias são entidades fundamentais para análises estatísticas e estudos em diversas áreas, como comportamento demográfico, consumo, distribuição de renda, entre outros. Entender esses comportamentos ajuda o Estado a promover políticas públicas específicas. Portanto, adquirir um amplo conhecimento sobre os novos arranjos familiares faz com que o Estado possa ter conhecimento sobre padrões de renda e consumo, por exemplo, no intuito de avaliar uma qualificação melhor de nossos municípios, elaborando propostas urbanas efetivamente mais adequadas, de um ponto de vista mais demográfico e, assim, aprofundando-se em questões sobre natalidade, migração,distribuição étnica, produção econômica etc. IMPORTANTE: Empreender uma compreensão sobre as famílias faz com que entendamos como nossa sociedade se organiza minimizando equívocos, como rejeições e marginalizações ocorridas duramente no decorrer do tempo, desse modo, deixando para trás imprecisões e ineficientes posturas comportamentais. Ao abrir as portas para novos arranjos familiares, o Estado deve promover melhor qualidade de vida para estes. Na nossa carreira jurídica, no campo de direito de família, em contrapartida, podemos observar que a diversidade cada vez maior de perfis de grupos domésticos esteja nos conduzindo para um ponto em que não tenhamos mais uma referência familiar. É verdade que o conceito de família baseado no afeto contribuiu para diminuir uma marginalização e uma distância social acometida por anos, porém, a interpretação do que venha a ser família é hoje algo aberto, e sim, extremamente louvável, mas não pode ser escancarado. Nesses anos litigando nas varas de família, vemos que ainda há grande confusão dos conceitos aqui firmados, e essas confusões algumas vezes levam a julgamentos injustos. Devido a uma gama de processos econômicos e políticos que acabaram desencadeando inúmeras transformações na sociedade brasileira, as mudanças devem ser discutidas e avaliadas considerando não somente a aquisição de uma liberdade sexual, mas sim que tragam de forma mais efetiva para o desenvolvimento e aprimoramento de direitos, pois, durante os anos atuando nos fóruns e nas varas de direito de família, adquirimos a concepção de que os avanços até aqui conquistados foram salutares para a construção de uma sociedade democrática. Vivemos em uma sociedade em que padrões se alteram muito, o que hoje aponta-se como tendência, amanhã poderá não ser, e por isso consideramos que nem todos os arranjos devam ser imediatamente trazidos para o plano legislativo. Todavia, também não queremos dizer que os debates devam se alongar por décadas, pois o direito de muitos perece ao passar dos anos. Devem ser ponderados hábitos, condutas e crenças, não se esquecendo de apresentar reais manifestações demográficas, sociais, culturais e econômicas, pois um espaço democrático se constrói ouvindo todas as vozes. Na seara dos novos arranjos familiares, é fato jurídico notório, no contexto de nossa legislação pátria, que qualquer medida que vise restringir os conceitos seja inconstitucional. 30/04/2024, 22:41 digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoi… https://digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoid=56443&s… 19/28 IMPORTANTE: Para quem deseja ingressar na advocacia de família hoje, é preciso ter em mente que as inovações dialéticas partem de quem as provoca. Ou seja, o judiciário, por princípio estatuído na constituição e no Código de Processo Civil (CPC), só pode deliberar demandas novas sobre novas composições familiares, caso seja provocado via petição, por meio das causas que irão ingressar e tramitar nesse mesmo órgão estatal. O legislativo, principalmente a câmara dos deputados, ou seja, representantes do povo, apresentam historicamente certa resistência no reconhecimento de novas entidades familiares. Em regra, novas leis protetivas em favor das famílias só sobrevêm a partir de muita persistência dos grupos sociais interessados, ou depois que o assunto já está devidamente pacificado no judiciário, ficando visível que nosso legislativo tem predileção por famílias formadas por pessoas de sexos distintos independentemente de estarem casadas ou vivam em união estável e seus filhos. O fato é que na esteira pelo melhor entendimento para um maior alargamento de proteção, o operador do direito se vale do uso de leis específicas que trazem conceitos mais ampliados de família, havendo certo debate sobre se tais construções legislativas devem ser utilizadas apenas nos limites das próprias atuações dos sujeitos que tutelam ou para todos os efeitos jurídicos. No entanto, esse será o tema do nosso próximo capítulo, momento em que trataremos sobre o sistema protetivo legal das famílias de forma mais acurada. RESUMINDO: Os novos arranjos aqui demonstrados ao final foram para demonstrar que as leis acerca do direito de família vieram, como dissemos, diminuir a marginalização acometida por anos pelo Estado e seus entes. Verificar esses arranjos aqui demonstrados só denotam a versatilidade de formas de família que a atividade humana pode ter. Proteção Jurídica à Família OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de entender a evolução da proteção jurídica da família, além de como o Estado atua para que se faça valer as leis produzidas. Isso será fundamental para o exercício de sua profissão. As pessoas que tentaram ingressar no mercado de trabalho sem esse embasamento tiveram problemas em tentar solucionar de forma rápida e efetiva os direitos de seus constituintes, E então, motivado para desenvolver esta competência? Vamos lá. Avante!. Durante toda esta unidade, você, aluno, pode ter percebido que tratamos de temas transversais ao direito de família, isso porque a doutrina em direito pouco se debruça sobre esses assuntos, porém, acreditamos que, para ser um acadêmico de direito, faz-se necessário imergir nesses assuntos, pois é preciso fazer com que esses temas saiam das cadeiras universitárias e ganhem amplitude em debates no nosso território. 30/04/2024, 22:41 digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoi… https://digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoid=56443&s… 20/28 Como vimos, apesar de muitas inovações legislativas após 1988, com a nova Carta Magna, por quase 15 anos perdurou uma codificação civil de 1916, que era extremamente patriarcalista e já muitíssimo defasada. Martha Solange Scherer Saad comenta algumas matérias que constituíam o direito de família em 1916: Na classificação dos direitos e deveres de cada cônjuge, a diferença de tratamento entre o marido, chefe da sociedade conjugal, e a mulher, sua colaboradora, ficava evidente. (SAAD, 2010, p. 27) EXPLICANDO MELHOR: Para entender melhor o contexto social, Sílvio de Salvo Venosa primorosamente descreve: Os Códigos elaborados a partir do século XIX dedicaram normas sobre a família. Naquela época, a sociedade era eminentemente rural e patriarcal, guardando traços profundos da família da Antiguidade. A mulher dedicava-se aos afazeres domésticos e a lei não lhe conferia os mesmos direitos do homem. O marido era considerado o chefe, o administrador e o representante da sociedade conjugal. Nosso Código Civil de 1916 foi fruto direto dessa época. (VENOSA, 2014, p. 16). O CC promulgado em 1916 trazia uma carga masculina oriunda de muitas gerações conservadoras. Nesse sentido, o papel da mulher tinha vistas sempre de submissão, que era passada de seu pai para seu marido. E por carregar esse aspecto tão forte, era impensável para a época ser chefe de família. VOCÊ SABIA? Ultradefasado, o CC/1916 trazia dispositivos referentes ao dote, como bem assevera Sílvio de Salvo Venosa: Dote, no sentido técnico, consiste em um bem ou conjunto de bens que a mulher, ou um terceiro por ela, transfere ao marido, para que este tire de seus rendimentos os recursos necessários para atender aos encargos do lar. (VENOSA, 2014, p. 372-373). As transformações iniciaram de fato nos anos seguintes. Com o advento da industrialização do país, paulatinamente iniciou-se um processo de permissão para as mulheres trabalharem fora de casa. Uma das inovações no sentido de proteção de família adveio não pela esfera cível, e sim trabalhista. A Consolidação das Leis Trabalhistas de 1943 trazia a concessão de licença- maternidade para as mulheres que exerciam trabalho legalizado, com isso, mulheres e filhos deteriam proteção durante o período de amamentação. 30/04/2024, 22:41 digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoi…https://digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoid=56443&s… 21/28 A partir daí, com o avanço social, muitas legislações foram criadas empreendendo um empenho significativo na melhoria das relações entre os entes familiares. Um dos marcos legais mais importantes foi o Estatuto da Mulher Casada (Lei nº 4.121/62); com ele, as mulheres saíram do status de relativamente capazes para absolutamente capazes para vida civil. Nas palavras de Venosa, temos: A Lei 4.121, de 27-8-62, Estatuto da Mulher Casada, que eliminou a incapacidade relativa da mulher casada, inaugura entre nós a era da igualdade entre os cônjuges, sem que, naquele momento, a organização familiar deixasse de ser preponderantemente patriarcal, pois muitas prerrogativas ainda foram mantidas com o varão. (VENOSA, 2014, p. 17) Posteriormente, com a Lei do Divórcio (Lei nº 6.515/77), foi quebrado o paradigma da indissolubilidade do casamento. Sobre a lei, afirma ainda Venosa: Após a lei regulamentadora do divórcio, no casamento a mulher possuía a faculdade de acrescer aos seus o apelido do marido (art. 240, parágrafo único). Tratava-se de faculdade e não mais de uma imposição como na norma anterior, original do Código Civil. (VENOSA, 2014, p. 167) No entanto, havia muitas lacunas legais a serem preenchidas, muitas injustiças sociais que precisavam ser sanadas, mesmo com o advento da nova Constituição. Para tal empenho, competia aos operadores de direito trazerem conceitos constituídos em outras leis para que os pleitos dos constituintes pudessem ser deliberados pela via judicial. Um exemplo claro disso foram as batalhas travadas na seara previdenciária. EXPLICANDO MELHOR: A Lei que institui o Regime Geral de Previdência Social traz em seu corpo quem detém a condição de dependente do segurado, in verbis: Art. 16. São beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, na condição de dependentes do segurado: I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental que o torne absoluta ou relativamente incapaz, assim declarado judicialmente; II - os pais; III - o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental que o torne absoluta ou relativamente incapaz, assim declarado judicialmente. (BRASIL, 1991) A lei emergiu um verdadeiro avanço, pois, ao trazer o termo companheiro(a), a lei passou a reconhecer como dependentes de segurados as pessoas que viviam em união estável com estes. 30/04/2024, 22:41 digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoi… https://digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoid=56443&s… 22/28 EXPLICANDO MELHOR: Com o tempo, alguns casos foram levados ao judiciário motivados pelo direito à pensão por morte do falecido de uma forma extremamente atípica. Vejamos o exemplo: João casou-se com Josefa em 1970, porém, em 1980, passou a se relacionar com uma pessoa, Valéria, paralelamente ao casamento. Josefa nunca desconfiou desse outro relacionamento. Ocorre que, em 1994, João morre, não deixando bens em seu nome. Pelo fato de José ter contribuído a vida inteira para o INSS, Josefa, sua esposa, tem legitimidade para se habilitar como titular do direito de pensão por morte. Valéria, indignada, pois por 14 anos foi dependente financeira de José e por tê-lo como real companheiro, resolve entrar com uma ação de reconhecimento de união estável para fins previdenciários, demonstrando tudo o que viveu com provas documentais e testemunhais. O CC de 1916 estabelecia que Valéria encontrava-se em situação de concubinato, ou seja, ela tinha relações com um homem que estava legalmente impedido em virtude do casamento. Inicialmente dessa situação, Valéria poderia esperar deferimento de um juízo, uma vez que sua união estava irregular. Porém, ao acrescer o termo “companheiro” no corpo da lei, e assentando o entendimento que pessoas em união estável estariam aptas a receberem pensão por morte, o judiciário pátrio passou a entender que o núcleo José–Valéria formaria uma família tão legítima quanto José–Josefa. Dessa forma, foi pacificado que situações como as de Valéria teriam direito à pensão por morte. A frisar, não uma pensão por morte para Josefa e outra para Valéria. Como tratava-se de um único segurado, as duas famílias deveriam dividir as pensões. Nesse ínterim, com advento do novo CC, novas possibilidades de debates puderam vir a público, sabendo que, hoje, é de senso comum que o conceito de família inicialmente parte da Constituição, perpassando pelo CC e, em seguida, ramificando para uma gama considerável de leis extravagantes. Alguns doutrinadores propõem sensato debate se os conceitos de família estejam somente aptos para serem utilizados de forma mais restrita nas leis as quais se valem, ou são abrangentes e complementares. Ao nosso ver, esse debate se resta inócuo, pois vejamos. O conceito de família aplicado no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) traz em seu corpo três conceitos de família, que são: a.família natural — é aquela formada por família natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes. (Art. 25, caput, ECA). b.família extensa — também chamada de família ampliada, é aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou o adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade (art. 25, parágrafo único, ECA). c.família substituta — é aquela designada por um órgão estatal para a qual o menor deve ser encaminhado de maneira excepcional, por meio de qualquer das três modalidades possíveis, que são guarda, tutela e adoção. (Art. 28, ECA). 30/04/2024, 22:41 digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoi… https://digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoid=56443&s… 23/28 Como se vê, o conceito do ECA é bem mais analítico do que os que constam na CF/88 e no CC/2002. Ao nosso ver, os conceitos do ECA não geram prejuízo algum a outros, pelo contrário, eles acrescentam maior carga de cuidado, de afeto, tanto por parte do Estado como da comunidade e, principalmente, da família propriamente dita. Outras leis, como já dissemos, tutelam personagens específicas, garantindo direitos específicos. Um exemplo disso é o da Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006), que preleciona no seu art. 5º, inc. II, que se deve entender como família a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa. Embora tal lei tenha cunho eminentemente público, os eventos de agressão ocorrem nos ambientes privados. Por essa lei, o nosso Estado rompeu o ditado popular “em briga de marido e mulher, ninguém bota a colher”. A Lei Maria da Penha tem uma importância incalculável. Como já temos falado paulatinamente, estamos saindo de uma sociedade patriarcal, em que se permitia ao marido o direito de dispor do corpo, da saúde e demais fatores da vida da sua esposa. O fato de as leis já asseverarem esse patriarcalismo, fazia com que o marido muitas vezes tivesse certa predileção nas lides judiciais movidas contra a mulher. Nos casos de agressão visível, a polícia sequer podia prender o agressor em flagrante ou adentrar no domicílio, em virtude de estarem em ambiente estritamente privado. Com os eventos que paulatinamente trouxeram a emancipação feminina, os conceitos de família foram se amoldando, no sentido de não somente proteger a figura masculina no âmbito domiciliar conjugal, mas sim todos os que lá habitam. Proteger a integridade da mulher passou de um ideal para uma prática. IMPORTANTE: Muito se debateuno início da promulgação da lei sobre quem era a mulher, a quem o instrumento legal tutelava. Considerou-se mulher aquela que atingiu a maioridade civil, distinguindo-se das de idade inferior (dos zero aos 17 anos) pois estas estariam abraçadas pela proteção do ECA. As com idade superior aos 60 anos estariam protegidas pelo Estatuto do Idoso. Entretanto, devemos deixar claro que as mulheres tuteladas pela Lei Maria da Penha tenham que estar em situação de agressão no ambiente doméstico, e mais, convivendo com aqueles que as agridem. Nessa ótica, não somente um marido ou companheiro pode ser considerado agressor, mas um neto que agride sua avó, ou um pai que agride sua filha. Noutra banda, hoje é tido como pacífico que, nos casos de uniões homoafetivas, é possível a aplicação da Lei Maria da Penha segundo a devida verificação do caso concreto. Isso se dá em virtude das próprias modificações do conceito de família, como já muito falamos nesta unidade. O termo mulher aplicado na lei tem sido relativizado segundo a verificação do caso concreto, posto o cerne da lei não estar somente sobre a mulher, e sim no ambiente em que acontece as agressões, que são exatamente no ambiente domiciliar. Com isso, tem-se atingido melhor os princípios de família que a Lei Maria da Penha tenta alcançar. 30/04/2024, 22:41 digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoi… https://digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoid=56443&s… 24/28 DEFINIÇÃO: A lei da Alienação Parental (Lei nº 12.318/10) referenda o que já constava no ECA sobre família extensa ou ampliada, no entanto, de forma mais dissecada. Nos termos do art. 2º dessa mesma lei, considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este. Alienação parental, portanto, configura-se um abuso moral contra a criança ou o adolescente perpetrado por seus ascendentes ou por quem exerça guarda ou vigilância. O Estatuto do Idoso adveio por um pleito antigo, requerido por órgãos ligados à Política Nacional do Idoso criada pela Lei nº 8.842/1994. Sendo o envelhecimento um fenômeno global decorrente do aumento da expectativa de vida, era imperativo que os órgãos legislativos criassem mecanismos para tutelar esses cidadãos. Com a promulgação da Carta Magna de 1988, preceituou-se em seu art. 1º, incisos II e III, que a cidadania e a dignidade da pessoa humana são princípios cristalinos de nossa sociedade. Na redação do art. 226 do mesmo texto legal, fica clara a intenção de que a sociedade civil deveria dar total assistência a esses entes familiares. Esses preceitos foram impingidos novamente no Estatuto do Idoso, que assim traz: Art. 2º O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta lei, assegurando- se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade. (BRASIL, 2003) Nessa esteira, a proteção ao idoso pela família deve ser imperativa e pautada no respeito ao direito a um sadio convívio familiar, dirigido pelo amor e cuidado, proporcionando a inviolabilidade da dignidade do idoso. Políticas Públicas de Atenção à Família Apesar de esta matéria ser pouco tratada na doutrina de direito, ela é vastamente encontrada em outras áreas de pesquisa em ciências sociais. Embora pensemos que o campo de um operador de direito esteja somente nos edifícios forenses, existem outros lugares a que estes profissionais precisam chegar, como os Centros de Referência de Assistência Social. É exatamente nesses lugares em que vemos o Estado operando meios para coibir práticas abusivas nos entes de uma família. São nesses lugares em que o Estado atua fazendo suas políticas públicas. As políticas públicas são frutos decorrentes do estado democrático de direito. Vamos entendê- las da seguinte maneira: não basta somente que o Estado promulgue uma lei que garanta direitos sobre um determinado tipo de pessoa, ele precisa operacionalizar meios para que 30/04/2024, 22:41 digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoi… https://digital.uniateneu.edu.br/mod/scorm/player.php?a=27317¤torg=ORG-E3DAEF757D53A102761D14DC61376293&scoid=56443&s… 25/28 esses direitos cheguem até a sua destinação devida, daí, ele elabora políticas públicas em favor daquelas pessoas amparadas pela lei. DEFINIÇÃO: Políticas públicas representam uma série de ações, programas, e decisões tomadas pelos entes federativos com auxílio da sociedade civil no intuito de assegurar determinado direito para diversos grupos sociais ou para algum segmento social específico. Dessa forma, políticas públicas representam a materialização do Estado tentando assegurar algum direito preestabelecido. Muitas dessas diretrizes nascem dos anseios constitucionais, depois são delineadas pela Lei Orgânica da Assistência Social e pormenorizadas em leis específicas, como ECA e o Estatuto do Idoso, por exemplo. RESUMINDO: Mais de um século depois do CC de 1916, o Brasil conseguiu dar grandes passos evolutivos legais, no intuito de melhorar a vida dos integrantes familiares. Porém, somente a criação de leis não faria com que elas se executassem; para isso, o Estado promove políticas públicas para que os direitos sejam efetivados. Referências ALMEIDA JUNIOR, J. E. de. As relações entre cônjugues e companheiros no Novo Código Civil. Rio de Janeiro: Temas & Ideias, 2004. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, [1988]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 12 jun. 2020. BRASIL. Lei n° 8.069, 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e Adolescente. Diário Oficial da União. Brasília, DF: Presidência da República, [1990]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 12 jun. 2020. BRASIL. Lei nº 13.257 08 de março de 2016. Estatuto da Primeira Infância. Diário Oficial da União. Brasília, DF: Presidência da República, [2016].Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13257.htm. Acesso em: 12 jun. 2020. BRASIL. Lei n.°11.340 7 de Agosto de 2006. Lei Maria da Penha. Diário Oficial da União. Brasília, DF: Presidência da República, [2006]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em: 12 jun. 2020. BRASIL. Lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União. Brasília, DF: Presidência da República, [2002]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 12 jun. 2020. BRASIL. Lei nº 10.836 de 9 de janeiro de 2004. 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