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SANEAMENTO AMBIENTAL Simone Bittencourt Giovana Clarice Poggere G es tã o S A N E A M E N T O A M B IE N T A L S im on e B itt en co ur t G io va na C la ric e P og g er e Curitiba 2016 Saneamento Ambiental Simone Bittencourt Giovana Clarice Poggere Ficha Catalográfica elaborada pela Fael. Bibliotecária – Cassiana Souza CRB9/1501 B624s Bittencourt, Simone Saneamento ambiental / Simone Bittencourt, Giovana Clarice Poggere. – Curitiba: Fael, 2016. 256 p.: il. ISBN 978-85-60531-58-5 1. Gestão ambiental 2. Saneamento ambiental I. Poggere, Giovana Clarice II. Título CDD 352.6 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. FAEL Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz Revisão Editora Coletânea Projeto Gráfico Sandro Niemicz Capa Vitor Bernardo Backes Lopes Imagem da Capa Shutterstock.com/Chinnapong/KPG_Euro Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim Sumário Carta ao Aluno | 5 1. Introdução ao Saneamento | 7 2. Saneamento e Meio Ambiente | 23 3. A falta de saneamento e as doenças | 47 4. Saneamento urbano | 75 5. Saneamento rural | 103 6. Tratamento de Água | 127 7. Tratamento de Águas Residuárias | 147 8. Resíduos Sólidos, Composição, Formas de Tratamento e de Destinação Final | 179 9. Tratamento e Disposição Final de EfluentesTratados e Lodos de Estações de Tratamento de Água e Esgoto | 199 10. Saneamento no Brasil | 223 Conclusão | 237 Referências | 239 Prezado(a) aluno(a), Garantir saúde e bem-estar para as populações é um dos principais objetivos das ações de saneamento ambiental. Essas ações, tanto no passado como nos dias atuais, contribuem para a prevenção de doenças e a promoção da saúde, garantindo as condi- ções adequadas para a melhoria da qualidade de vida de moradores do campo e das cidades. O abastecimento de água com qualidade, o tratamento e a disposição final adequada de águas residuárias e de resíduos, a dre- nagem urbana, as ações de prevenção e o controle de erosão do solo e do uso de agrotóxicos estão entre as ações de saneamento que promovem a redução da incidência de doenças e da mortalidade e, consequentemente, do tempo e de recursos financeiros gastos para o tratamento de doenças. Carta ao Aluno – 6 – Saneamento Ambiental Dessa forma, a disciplina de Saneamento Ambiental aborda esses e outros importantes temas, de modo que, com base no conhecimento aqui compartilhado, você possa atuar de forma eficiente, contribuindo para levar saúde e bem-estar a toda a população. Nosso objetivo é propiciar a você o desenvolvimento das seguintes competências: 2 Relacionar o saneamento com as questões relativas à saúde, à qua- lidade de vida e à preservação do meio ambiente. 2 Interpretar e aplicar a legislação ambiental pertinente ao sanea- mento ambiental. 2 Conhecer e aplicar princípios gerais de saneamento ambiental. 2 Identificar as doenças relacionadas à falta de saneamento e orientar sobre ações para prevenção dessas doenças. 2 Determinar os princípios e os procedimentos básicos relacionados ao tratamento de água, de águas residuárias e de resíduos sólidos. 2 Descrever as vantagens e as desvantagens das diferentes formas de destinação final de efluentes e resíduos sólidos. 2 Orientar e executar pequenas ações relacionadas a abastecimento de água, esgotamento sanitário, águas pluviais e coleta e destinação de resíduos sólidos. 2 Diferenciar as funções que são de responsabilidade do poder público daquelas que são de responsabilidade do cidadão nas ques- tões relativas ao saneamento. 1 Introdução ao Saneamento Desde o momento em que passou de nômade a sedentário, o homem criou diversas medidas a fim de melhorar o ambiente em que vive. Assim surgiu o saneamento, termo que deriva do latim sanare, que significa tornar são; remediar. Diz-se, então, que saneamento é o ato ou efeito de sanear; é um conjunto de medidas que visam assegurar as condições sanitárias necessárias à qualidade de vida de uma população. A partir disso, foi possível viabilizar o desenvolvimento das sociedades e a expansão das cidades. Atualmente, as ações de saneamento são bastante amplas e, mais do que obras de engenharia, atuam também na prevenção de doenças e na promoção da saúde. Saneamento Ambiental – 8 – O conhecimento que compartilharemos neste capítulo possibilitará a você, aluno: 2 relacionar o saneamento como instrumento de promoção de saúde; 2 explicar que o desenvolvimento do saneamento sempre esteve ligado à evolução das civilizações; 2 definir os conceitos de saneamento ambiental, meio ambiente, salubridade ambiental, saúde, saneamento básico, abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, drenagem e manejo das águas pluviais urbanas. 1.1 Saneamento na prevenção de doenças O saneamento sempre esteve relacionado com o desenvolvimento das sociedades e suas ações surgiram da necessidade de um ambiente saudável para se viver. Inicialmente, as ações de saneamento tinham dois objetivos principais: abastecimento com água de boa qualidade e destino adequado para dejetos, por meio do esgotamento sanitário. Essas ações, apesar de sim- ples, ainda hoje são consideradas essenciais para qualquer planejamento sani- tário. Entretanto, o crescimento da população e sua concentração em grandes cidades trouxeram uma série de consequências: a grande quantidade de resí- duos sólidos produzidos; a pavimentação de ruas, que reduziu a água de infil- tração e gerou problemas com o escoamento das águas pluviais; as grandes fábricas e indústrias, que utilizam diversos produtos químicos, muitos deles com elementos tóxicos que precisavam ser tratados de forma diferenciada; a poluição atmosférica; os ruídos; e tantos outros problemas ambientais que exigiram a expansão das ações de saneamento. Hoje, por intermédio de uma série de medidas, o saneamento tem cará- ter preventivo, com objetivo de proporcionar às pessoas um ambiente que garanta condições adequadas para a promoção da saúde. Nessa perspectiva, a relação entre saúde pública e saneamento parte do entendimento da ação dos organismos patogênicos no ambiente, o que leva ao desenvolvimento de obras de engenharia e infraestrutura que podem influenciar na ação desses organismos sobre o homem. As melhorias sanitárias introduzidas no Brasil desde o início do século XX (ver item 2.5) contribuíram para a redução e até mesmo para a erradicação Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues – 9 – Introdução ao Saneamento de várias doenças. Ainda assim, as doenças relacionadas a condições precárias de vida continuam a representar um papel significativo no quadro de mor- bimortalidade da população, apesar de serem, em sua maioria, evitáveis ou erradicáveis. Assim, representam impacto também na utilização da rede assis- tencial, implicando gastos hospitalares, e no desenvolvimento de programas de controle das doenças endêmicas. Por isso o conhecimento do perfil dessas doenças e a formulação de políticas públicas que visam seu controle a partir do provimento de serviços essenciais se torna tão importante (BRASIL, 2010). Saiba mais Morbidade refere-se ao conjunto de indivíduos que adquirem doen- ças (ou um tipo de doença) em dado intervalo de tempo em determi- nada população. Já mortalidade refere-se ao conjunto de indivíduos que morreram em dado intervalo de tempo; representa o risco ou a probabilidade que qualquer pessoa na população apresenta de morrer em consequência de determinada doença (PEREIRA, 2004). Exemplos de medidas dessa natureza, contemplados pela Lei Nacional de Saneamento Básico (BRASIL, 2007) (Tabela 1), são o fornecimento de água de boa qualidade, a coleta e o tratamento de águas residuais e a drena- gem de águas pluviais, que reduzem as doençase os vetores de doenças a ela relacionados; a limpeza pública e o manejo de resíduos sólidos com disposi- ção final sanitária e ambientalmente adequada, que reduzem a proliferação de insetos, roedores e demais organismos potencialmente nocivos ao ser humano (SOUZA; FREITAS; MORAES, 2007). Quadro 1 – Conjunto de serviços, infraestruturas e instalações operacionais de saneamento básico Serviços/Infraestruturas Em que consistem Abastecimento de água potável Constituído por atividades, infraestruturas e ins- talações necessárias ao abastecimento público de água potável, desde a captação até as ligações pre- diais e os respectivos instrumentos de medição. Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Saneamento Ambiental – 10 – Serviços/Infraestruturas Em que consistem Esgotamento sanitário Constituído por atividades, infraestruturas e ins- talações operacionais de coleta, transporte, tra- tamento e disposição final adequada dos esgotos sanitários, desde as ligações prediais até o lança- mento final no meio ambiente. Limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos Conjunto de atividades, infraestruturas e insta- lações operacionais de coleta, transporte, trans- bordo, tratamento e destino final do lixo domés- tico e do lixo originário da varrição e da limpeza de logradouros e de vias públicas. Drenagem e manejo de águas pluviais urbanas Conjunto de atividades, infraestruturas e instala- ções operacionais de drenagem urbana de águas pluviais, de transporte, detenção ou retenção para o amortecimento de vazões de cheias, trata- mento e disposição final de águas pluviais drena- das nas áreas urbanas. Fonte: Brasil (2011). A figura 1 mostra o destino final dos resíduos no Brasil no período de 1989 a 2008. Observa-se a redução da porcentagem de resíduo depositado em lixões a céu aberto e o aumento da proporção destinada a aterros sanitá- rios. Apesar disso, ao final do período avaliado, metade dos resíduos ainda tinha como destino os lixões. Para complementar esse dado, os municípios com serviços de manejo de resíduos sólidos situados nas regiões Nordeste e Norte registraram as maiores proporções de destinação aos lixões (89% e 85%, respectivamente), enquanto as regiões Sul e Sudeste apresentaram as menores proporções (16% e 19%, respectivamente). O que se pode constatar é que, independentemente das soluções ou das combinações de soluções, o pleno sucesso das ações de sanea- mento requer também mudanças sociais, econômicas e culturais da sociedade (IBGE, 2010). – 11 – Introdução ao Saneamento Figura 1 – Destino final dos resíduos sólidos no Brasil, por unidades de destino no período de 1989 a 2008 Fonte: IBGE (2010). Além das obras de engenharia e de infraestrutura, o monitoramento e a classificação das doenças ligadas ao saneamento permitem ajustar as formas mais adequadas de ação e seus impactos sobre a saúde do homem. Como exemplo, é possível citar algumas doenças que provocam diarreia, como amebíase, cólera, infecções intestinais bacterianas e causadas por vírus (rotavírus, adenovírus), que são utilizadas com frequência como indicadores do impacto das ações de saneamento sobre a saúde coletiva, uma vez que o sanea- mento reduz a incidência e a mortalidade por essas doenças (BRASIL, 2011). O recente Relatório sobre Impactos na Saúde e no Sistema Único de Saúde Decorrentes de Agravos Relacionados a um Saneamento Ambiental Inadequado, realizado pela Fundação Nacional de Saúde – Funasa (BRASIL, 2013), aponta indicadores que podem ser úteis para a avaliação do saneamento inadequado: 1. Indicadores de morbidade – permitem inferir riscos de adoecer e possibilidades de controle das doenças. 2. Indicadores de mortalidade – utilizados em saúde pública, devido às facilidades operacionais. 3. Comprometimento da rede de serviços de saúde – avaliado a partir da permanência média e da proporção de internações, do Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Saneamento Ambiental – 12 – número de procedimentos ambulatoriais por habitante e do número de atividades executadas por agentes de saúde. 4. Quadro de gastos – medido por meio do valor total e da propor- ção de gastos em controle de endemias. Saiba mais A categorização dos grupos de doenças é feita com base nos dados de declarações de óbitos registradas e disponibilizadas por meio do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, sendo: Grupo I – Doenças Infecciosas e Parasitárias; Grupo II – Neoplasias; Grupo III – Doenças do Aparelho Circulatório; Grupo IV – Doenças do Aparelho Respiratório; Grupo V – Sintomas, Sinais e Afecções Mal Definidas; Grupo VI – Causas Externas. Fonte: Brasil (2010). Além da promoção de saúde, para que se alcance o pleno bem-estar social, é fundamental que a sociedade possa contar com serviços como abaste- cimento de água e esgotamento sanitário. Essas ações são eficientes na redução de doenças infectoparasitárias, principalmente em crianças, e devem ser prio- ridade principalmente em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. Atualmente, o perfil de mortalidade no Brasil reflete as grandes transfor- mações e os avanços alcançados no saneamento nas últimas décadas. Entre as causas de mortalidade, as Doenças Infecciosas e Parasitárias (DIP) apresenta- ram decréscimo, passando da 3ª posição (10% dos óbitos) em 1979 para a 6ª posição (5% dos óbitos) em 1999 (BRASIL, 2010). Nos últimos anos, tem-se observado que a finalidade dos projetos de saneamento tem saído de sua concepção sanitária clássica, recaindo em uma Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues – 13 – Introdução ao Saneamento abordagem ambiental, que visa não só promover a saúde do homem, mas conservar o meio físico e biótipo. 1.2. Breve histórico sobre saneamento Desde os tempos mais remotos, o homem sabe que a água suja, os deje- tos e os resíduos podem transmitir doenças. No entanto, somente a partir das descobertas de Louis Pasteur (1822-1895) e de outros cientistas acerca da participação de seres microscópios em doenças verificou-se que mesmo águas e solos aparentemente limpos poderiam conter microrganismos patogênicos. Uma preocupação que acompanha as civilizações desde as épocas mais antigas diz respeito à necessidade de acesso à água e de descarte de dejetos. Apesar de a humanidade ter aperfeiçoado técnicas para coletar água e afastar os resíduos que produz, esse é um problema comum aos dias de hoje. 1.2.1 Antiguidade Quando nômades, os povos primitivos utilizavam métodos simples para coletar água da chuva, de rios e de lagos e, como constantemente mudavam de morada, mantinham restos de alimentos e dejetos dentro da própria habi- tação. Essas atitudes mudaram quando começaram a fixar moradia, pois pas- saram a descartar os resíduos, que na época ainda não eram suficientes para causar grandes impactos ambientais. Há registros de obras de saneamento desde a Idade Antiga, quando o homem passou a cultivar o próprio alimento e a formar aldeias (Período Neo- lítico), o que acarretou o acúmulo de restos de comida e dejetos e contribuiu para a proliferação de ratos e insetos e para a poluição dos rios. O estabelecimento do homem em um lugar fixo levou ao surgimento das primeiras cidades e à necessidade de armazenar água. Naquele período, várias técnicas importantes, como construção de diques e canalizações super- ficiais e subterrâneas foram desenvolvidas. Na América, tem-se o exemplo dos incas, que construíram sistemas de canalização de água para irrigação, princi- palmente nas regiões mais secas da costa do Peru. No Egito, eram utilizadas técnicas de irrigação na agricultura e métodos de armazenamento de água. Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues LarissaRodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Saneamento Ambiental – 14 – Os romanos desenvolveram grandes obras de Engenharia Sanitária, tornando-se pioneiros na organização político-institucional das ações de saneamento (BRASIL, 2011). Um exemplo marcante são os aquedutos que serviam para abastecer fontes públicas de água (figura 2A) e a Cloaca Maxima (do latim Grande Esgoto), construída na cidade de Roma, na Itália, no século VI a.C., (figura 2B), uma das mais antigas redes de esgoto do mundo que tinha por finalidade drenar águas residuais e lixo para o Rio Tibre. Figura 2 – Aqueduto Appio com 16,5 km de extensão, construído por Appio Claudio Cieco em 312 a.C. (A) e Cloaca Maxima desembocando no Rio Tibre (B) (A) (B) Fontes: Shutterstock.com/sandrixroma (A) CC BY-SA 4.0 (B) (2016). Saiba mais Na Roma antiga (300 a.C.), existiam mais de 300 banhos públicos, termas com piscinas de água quente, morna ou fria e salas para a prática de esportes e massagem. 1.2.2 Idade Média (século V a século XV) Na Idade Média, a água era tida como elemento vital para o desenvolvi- mento econômico devido ao surgimento da roda d’água para moagem, tece- lagem, tinturaria e curtimento. Em 1425, foi escrito o primeiro texto com ensinamentos de hidráulica, saneamento e gestão das águas. Por outro lado, esse período é marcado por condições precárias de higiene das cidades, cada vez mais populosas. Detritos como lixo e fezes eram Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues – 15 – Introdução ao Saneamento acumulados em recipientes, dos quais eram transferidos para reservatórios públicos mensalmente e, às vezes, jogados nas ruas. A escassez de serviços de saneamento básico, como suprimento de água e limpeza das ruas, levou a surtos de cólera, lepra, tifo e peste negra, resultando em milhares de mortes. 1.2.3 Idade Moderna (1453 a 1789) A relação entre saúde, saneamento e desenvolvimento científico da saúde pública só foi fortalecida na Idade Moderna. A evolução tecnológica e a industrialização nos países capitalistas possibilitaram a execução, em larga escala, de sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário (BRA- SIL, 2011). Medidas como a pavimentação de ruas e a construção de canais de drenagem contribuíram para a melhoria nas condições de vida das popu- lações urbanas. No Brasil, as medidas se restringiam a construções de fontes públicas de água. É daquela época a construção do primeiro aqueduto brasileiro (1723), o Aqueduto da Carioca, conhecido como Arcos da Lapa. 1.2.4 Idade Contemporânea Como o passar dos anos, já no século XIX, os problemas de saúde foram tomados como prioritários, o que promoveu o aumento da expectativa de vida e de natalidade. Porém, algumas medidas não conseguiram acompanhar a expansão urbana; além disso, o desenvolvimento de indústrias que despejavam resíduos diretamente nos rios contribuía para agravar a poluição ambiental. Como consequências, ocorreram novos surtos de cólera e febre tifoide, transmitidas pela água contaminada principalmente nas classes mais pobres. Diante desse quadro, as pesquisas na área médica precisaram avançar. Saiba mais Em 1865, ao estudar a doença do bicho da seda que estava dando prejuízos a fabricantes de seda na França, Pasteur descobriu o agente infeccioso, a maneira como ele era transmitido e também a preven- ção. A partir disso, foi capaz de estabelecer as noções básicas de Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Saneamento Ambiental – 16 – esterilização e assepsia, com consequências na prevenção de conta- minações e infecções em cirurgia e obstetrícia. O cientista descobriu três bactérias responsáveis por doenças nos humanos: estafilococos, estreptococos e pneumococos. Também descobriu que formas fracas de micróbios poderiam ser usadas como agente imunizante contra uma forma mais virulenta do micróbio, o que resultou nas técnicas de vacinação como forma de prevenção de doenças (ARROIO, 2006). Em 1885, o médico Theodor Escherich descobriu a bactéria Escherichia coli e outros pesquisadores relacionaram as doenças infecciosas a microrga- nismos patogênicos. A relação entre saneamento e saúde se consolidou, e em diversos países foram realizadas obras de engenharia sanitária. Começou-se a separar a água para beber da água servida e os esgotos passaram a ser subterrâ- neos; paralelamente, a população adquiria melhores hábitos de higiene pessoal. 1.2.5 Saneamento no Brasil No Brasil do século XIX, as principais cidades contavam com sistema de saneamento operado por empresas inglesas. Cabe aqui destacar as obras rea- lizadas por Saturnino de Brito, considerado pioneiro da Engenharia Sanitária no Brasil. O grande trunfo de Saturnino foi estabelecer uma relação estreita entre a topografia e o traçado das ruas para obter o melhor escoamento de águas e construir canais para drenar as águas pluviais. Essa forma de cons- trução urbana passou a ser adotada em todos os projetos do sanitarista e foi responsável pela extensão do saneamento nas áreas urbanas. Em 1904, o país viveu a chamada fase higienista, em que o médico Oswaldo Cruz e o engenheiro Pereira Passos, prefeito do Rio de Janeiro na época, orientaram sobre medidas preventivas na área urbana, na tentativa de erradicar epidemias como as de cólera e tifo (BRASIL, 2010). Saiba mais “A fase higienista foi de 1903 a 1930 e enfatizava a concepção bio- lógica da doença através da descoberta de patógenos como agentes Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues – 17 – Introdução ao Saneamento causadores de enfermidades. Ao relacionar a doença a um agente específico, bastava eliminar o causador e ter-se-ia saúde” (SOUZA; JACOBINA, 2009). Em 1934 foi elaborado o Código das Águas, o primeiro instrumento de controle do uso de recursos hídricos no Brasil, que estabeleceu o abasteci- mento público como prioritário. Nas décadas e 1950 e 1960, surgiram iniciativas para propor as primei- ras classificações e os primeiros parâmetros físicos, químicos e bacteriológicos definidores da qualidade da água, por meio de legislações estaduais e federais. Apesar dessas iniciativas, o quadro que se tinha no período democrático de 1946 a 1964 era de falta de preocupação com o saneamento básico. Em 1965, durante o período militar, a área do saneamento constituiu política emblemática na relação Estado-Sociedade. Resumidamente, as prin- cipais ações do período foram: 2 a criação do Banco Nacional de Habitação (BNH), em 1968, que atuava como agente financiador oficial da política de habi- tação e saneamento; 2 a instituição do Sistema Financeiro de Saneamento (SFS), em 1969, composto por recursos a fundo perdido, destinados ao setor pela União; 2 o lançamento do Plano Nacional de Saneamento (Planasa), em 1971, que tinha como proposta gerar a expansão da oferta de ser- viços de água e de esgoto na área urbana e definir as companhias estaduais de saneamento como instrumento operacional da pro- posta (GALVÃO JUNIOR, 2009). O Planasa se enfraqueceu após 1986, com o fim do BNH e com a inter- rupção dos financiamentos para o setor com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), e estendeu sua atuação até 1992 (BRASIL, 2011). A partir de então, diversas políticas públicas de saneamento foram desenvolvidas, dentre as quais pode-se citar o Programa de Saneamento para Núcleos Urbanos (Pronurb), o Programa de Saneamento para População de Baixa Renda (Prosanear) e a Lei n. 11.445, de 5 de janeiro de 2007, que esta- Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues LarissaRodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Saneamento Ambiental – 18 – belece diretrizes nacionais para o saneamento básico, revogando leis anterio- res. Essa lei efetiva a participação dos municípios nas ações de planejamento, prestação, regulação e fiscalização dos serviços (BRASIL, 2011). A partir desse breve histórico, percebe-se que o desenvolvimento de ações de saneamento básico sempre esteve ligado ao desenvolvimento das civilizações, em todas as épocas da história. Porém, ainda há muito o que fazer. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2010), no Brasil, 82,7% da população possuem abastecimento de água tra- tada, mas apenas 48,6% têm acesso à coleta de esgotos sanitários; nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, metade da população não dispõe de serviços de saneamento. A figura 3 apresenta o número de residências com acesso a rede de esgo- tamento sanitário em 2000 e 2008 (IBGE, 2010). Percebe-se que o aumento no número de residências com acesso à rede de esgoto foi pequeno, principal- mente na Região Norte, e que, de todos os estados, apenas o Sudeste possui mais da metade dos domicílios contemplados com esse serviço. Figura 3 – Percentual de domicílios com acesso à rede de esgotamento sanitário segundo as Grandes Regiões – 2000/2008 Fonte: IBGE, 2010. Larissa Rodrigues – 19 – Introdução ao Saneamento O grande desafio na área de saneamento continua sendo o desenvolvi- mento de ações nas cidades, cada vez maiores e com crescimento desorde- nado. Além disso, outros aspectos, como o saneamento rural e a preservação das águas, surgem como novos campos de atuação. 1.3 Conceitos básicos Para a plena compreensão do conteúdo deste e dos demais capítulos, é importante que se definam alguns conceitos recorrentes na abordagem dos temas. a) Saneamento básico Corresponde ao “conjunto de serviços públicos, infraestrutura e instalações operacionais de abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana, manejo de resíduos sólidos, drenagem e manejo das águas pluviais urbanas” (BRASIL, 2007). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), “saneamento é o controle de todos os fatores do meio físico do homem, que exer- cem ou podem exercer efeito deletério sobre o seu bem-estar físico, mental ou social”. b) Saneamento ambiental Totalidade das práticas que visam à melhoria das condições de vida dos humanos, abrangendo abastecimento de água de qualidade e em quantidade necessária, cuidados sanitários no uso e na ocupa- ção do solo e o combate a vetores transmissores de doenças, desti- nação adequada de resíduos e manejo das águas pluviais (PHILI- PPI JUNIOR, 2005). c) Esgotamento sanitário Segundo a NBR 9648, sobre Estudos de Concepção de Sistemas de Esgoto Sanitário (ABNT, 1986), o esgoto sanitário: ... é o despejo líquido constituído de esgotos doméstico e industrial, água de infiltração e a contribuição pluvial parasitária, sendo: I. Esgoto doméstico: despejo líquido resultante do uso da água para higiene e necessidades fisiológicas humanas. Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Saneamento Ambiental – 20 – II. Esgoto industrial: despejo líquido resultante dos processos indus- triais, respeitados os padrões de lançamento estabelecidos. III. Água de infiltração: toda água proveniente do subsolo, indesejável ao sistema separador e que penetra nas canalizações. IV. Contribuição pluvial parasitária: parcela do deflúvio superficial inevitavelmente absorvida pela rede de esgoto sanitário. V. Águas residuais: são as águas descarregadas de domicílios, estabele- cimentos comerciais e indústrias por meio de esgotos sanitários. d) Limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos Consiste na coleta, na remoção e no transporte de resíduos sólidos do meio urbano, como domicílios, estabelecimentos comerciais e vias públicas. O manejo depende de características específicas do resíduo e do nível de infraestrutura da cidade. Os resíduos são transportados para lixões (depósitos a céu aberto), aterros sanitários (depósitos pro- jetados com revestimentos para reduzir a poluição de águas subterrâ- neas e do ar) e/ou locais para triagem (visando aproveitar os materiais passíveis de reciclagem). Posteriormente, são descartados ou incine- rados e descartados (VESILIND; MORGAN, 2013). e) Abastecimento de água potável A água potável é a água destinada para o consumo humano e deve ter atributos físicos, químicos e microbiológicos em níveis que não causem riscos à saúde, normalmente estabelecidos por legislação específica em cada país. É fornecida para a população com ou sem tratamento prévio, dependendo da fonte de captação (VESILIND; MORGAN, 2010). f ) Drenagem e manejo das águas pluviais urbanas Ações que envolvem desenvolvimento de infraestrutura, instalações operacionais e atividades que visam drenar, transportar, deter ou reter as águas pluviais urbanas para posterior tratamento e disposi- ção final (BRASIL, 2007). g) Meio ambiente Conjunto dos fatores externos (químicos, físicos, biológicos e sociais) que exercem influência sobre a população ou organismos. Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues – 21 – Introdução ao Saneamento h) Salubridade ambiental Capacidade de promover a saúde da população, na medida em que previne as doenças propagadas pelo meio ambiente (PHILIPPI JUNIOR, 2005). i) Saúde É o estado em que o indivíduo se encontra em pleno bem-estar, tanto físico quanto mental e social, além de ausência de doenças, resultado decorrente de hábitos saudáveis que envolvem alimenta- ção, moradia, educação, renda, meio ambiente e acesso a serviços médicos (MOTA, 2012). j) Poluição É o estado em que as águas, o ar ou o solo apresentam quantidades de qualquer substância que esteja acima dos valores estabelecidos pela legislação ambiental. Quando poluídos, o uso desses compar- timentos é comprometido (DERISIO, 2012). k) Contaminação Apesar de muitas vezes ser usada como sinônimo de poluição, a contaminação também se caracteriza pela presença, pelo lança- mento ou pela liberação, nas águas, no ar ou no solo, de substâncias indesejáveis, mas que não alterem as relações ecológicas existentes ao longo do tempo. l) Vetor Todo ser vivo capaz de transmitir um agente infectante, que pode ser qualquer parasita, protozoário, bactéria ou vírus com capaci- dade de infectar um organismo de forma ativa ou passiva. m) Mortalidade Número ou proporção de óbitos em uma comunidade em determi- nado período de tempo. n) Morbidade Capacidade de produzir doença em um indivíduo ou em um grupo de indivíduos. É medida pela relação entre o número de pessoas sãs Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Saneamento Ambiental – 22 – e o de doentes (ou de doenças) em dado tempo e quanto a determi- nada doença (BRASIL, 2010). o) Epidemia Doença que surge rapidamente em um lugar e atinge grande número de pessoas. Surto de agravação de uma endemia. p) Endemia Doença que existe invariavelmente em determinado lugar e de inci- dência variável entre os indivíduos de determinada população. Este pequeno item reservado à definição de conceitos certamente não contemplará o conjunto daqueles que serão abordados nos demais capítulos, mas os que foram aqui apresentados são os que norteiam as principais discus- sões relacionadas ao saneamento. Síntese O saneamento foi fundamental no desenvolvimento das civilizações, econhecer seu histórico é importante para relacioná-lo às políticas públicas de promoção de saúde. O desenvolvimento de áreas como engenharia e saúde foi fundamental na resolução dos problemas relacionados ao aumento popu- lacional no que se refere às ações de saneamento. Além disso, deve-se ter em mente o significado dos conceitos básicos para que se possa avançar e apro- fundar o conteúdo. Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues 2 Saneamento e Meio Ambiente Ao longo da história, o homem vem alterando o meio ambiente e gerando consequências negativas para a própria saúde. É necessário fazer o uso racional dos recursos naturais, de forma equilibrada, de modo que a humanidade possa se desenvolver com qualidade de vida, sem que haja restrição de recursos para as atuais e as futuras gerações. Nesse processo de desenvolvimento sustentável, o saneamento ambiental tem um importante papel de aliar o bem- -estar da população à proteção ambiental. Neste capítulo, veremos que a poluição da água, do ar e do solo impacta negativamente os recursos naturais e a saúde humana, e que é preciso que sejam adotadas ações para prevenir e controlar a poluição, de modo que o ambiente e a saúde humana sejam protegidos. Saneamento Ambiental – 24 – Os temas abordados no presente capítulo foram desenvolvidos de modo que você possa: 2 analisar a poluição ambiental e os consequentes impactos desta na saúde humana; 2 descrever o ciclo hidrológico; 2 identificar os usos preponderantes da água; 2 explicar as formas de poluição da água, do ar e do solo; 2 identificar as formas de controle de poluição da água, do ar e do solo. 2.1 Poluição do ambiente e consequências para a saúde À medida que a população cresce e aumenta sua capacidade de inter- vir na natureza para satisfazer as próprias necessidades, surgem conflitos e diferentes impactos no meio ambiente. Segundo o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), nos últimos 50 anos, o número de habitantes do mundo mais que duplicou, passando de 2 bilhões e 500 mil em 1950 para 7 bilhões em 2011. O crescimento populacional continuará aumentando com uma previsão de alcançar 8 bilhões e 900 mil de pessoas até 2050. O aumento desordenado das cidades, a intensificação dos processos industriais e a modernização da agropecuária, que inclui o uso intenso de agrotóxicos e processos erosivos e de compactação do solo, têm resultados indesejáveis para o meio ambiente, principalmente devido à poluição dos recursos naturais. Poluição, segundo a Política Nacional de Meio Ambiente (BRASIL, 1981), é “a degradação da qualidade ambiental, resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues – 25 – Saneamento e Meio Ambiente c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambien- tais estabelecidos”. A maioria dos problemas sanitários que afetam a população mundial está intrinsecamente relacionada com a poluição da água (superficial e subter- rânea), do ar e do solo. Esse é um tema de interesse público, que tem afetado países de todo o mundo devido ao rápido crescimento econômico associado à exploração indiscriminada dos recursos naturais. A Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Banco Mundial (BM) realizam periodicamente estudos com estimativas das principais doenças mundiais (os chamados Global Burden of Diseases – GBD). Em 2010, entre as dez principais, foram listadas doenças relacionadas à poluição ambiental, com as infecções respiratórias em segundo lugar e a diarreia em quarto lugar (MURRAY et al., 2012). Os impactos ambientais que afetam os recursos naturais e a saúde humana têm consequências primeiramente próximo da origem do impacto. No entanto, muitos desses impactos podem atingir grandes áreas do planeta, com a poluição dos oceanos e o aquecimento global. 2.2 Água A água é um elemento essencial à vida vegetal e animal, indispensável para a sobrevivência. Cerca de 70% do corpo humano é formado por água, um eficiente meio de transporte de substâncias no interior do organismo; o sangue é uma mistura de água e nutrientes que são distribuídos a todas as células do corpo. A água tem um importante papel na manutenção da temperatura cor- poral de aves e mamíferos. Também é meio para eliminação de substâncias tóxicas e restos de alimentos não aproveitados na digestão: as excretas. O corpo humano perde, em média, todos os dias, entre 2 litros e 3 litros de água por meio da transpiração e da excreção. Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Saneamento Ambiental – 26 – No consumo humano ou doméstico, a água é utilizada na alimentação, na higiene pessoal e na limpeza da casa, de utensílios e roupas, na lavagem de automóveis e na irrigação de jardins. No uso doméstico, mais de 50% da água consumida é destinada para a descarga do banheiro e para a higiene corporal, e cerca de 4% é utilizada para hidratação e alimentação. De acordo com a OMS, são necessários entre 50 litros e 100 litros de água por pessoa, por dia, para assegurar as necessidades básicas e minimizar os problemas de saúde (UNO–IDFA). No Brasil, o consumo médio da água é de 166,3 litros diários por pessoa (BRASIL, 2013). No entanto, a média de volume de água diariamente consumida por pessoa varia de acordo com o estilo de vida adotado, fato que pode ser veri- ficado quando se comparam dados de diferentes países. Por exemplo, o con- sumo de água por pessoa no Brasil é inferior ao consumo nos Estados Unidos (575 L.hab-1.dia-1), no Japão (374 L.hab-1.dia-1) e no México (366 L.hab-1.dia- 1); no entanto, é bastante superior aos 15 L.hab-1.dia-1 verificados em países da África, como Etiópia, de Angola, de Ruanda e do Haiti (DATA 360, 2016). Saiba mais O site Woerdometers <http://www.worldometers.info/water> apresenta um contador que contabiliza a água consumida no mundo, em milhões de litros. Em todo o mundo, a agricultura é responsável por 70% de todo o consumo de água, em comparação com 20% para as indústrias e 10% para uso doméstico. No entanto, nos países industrializados, as indústrias consomem mais da metade da água dis- ponível. A Bélgica é um exemplo: o país utiliza na indústria 80% da água disponível. 2.2.1 Distribuição geográfica da água O volume de água existente no planeta Terra não se altera devido ao fenômeno conhecido como ciclo hidrológico (figura 1). Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues – 27 – Saneamento e Meio Ambiente Figura 1 – Representação do ciclo hidrológico Fonte: Shutterstock.com/ArtMari. O ciclo hidrológico ou ciclo da água é o caminho que a água percorre iniciando pela evaporação da superfície terrestre, aquática e dos seres vivos, seguida pela condensação e pela formação das nuvens. Então a água precipita, na forma de chuva, e, ao atingir a superfície terrestre, divide-se infiltrando ou escorrendo superficialmente no solo, chegando assim aos aquíferos e aos corpos hídricos superficiais. Há séculos a água vem se acumulando no subsolo, e somente uma pequena fração é acrescentada anualmente pelas chuvas ou retirada pelo homem. Já a água dos rios é renovada quase 31 vezes ao ano. A precipitação média anual é de cerca de 860 milímetros (mm). Entre 70% e 75% dessa precipitação volta à atmosfera como evapotranspiração (BRASIL, 2006). Devido ao ciclo hidrológico, a quantidade de água no planeta é sempre a mesma, representando cerca de 70% da superfície terrestre. No entanto, como pode-se observar na Figura 2, somente cerca de 2,5% da água total do globo terrestreé doce. Saneamento Ambiental – 28 – Figura 2 – Distribuição de água no planeta Terra Fonte: Brasil (2015). Verifica-se, na figura 2, que somente 0,3% do volume total de água do planeta pode ser aproveitado para consumo humano, sendo 0,01% encon- trado em fontes de superfície (rios, lagos) e o restante, ou seja, 0,29%, em fontes subterrâneas (poços e nascentes). Boa parte da água doce no mundo é composta por geleiras, vapor de água, geada, solo, pântano e lençóis existentes em grandes profundidades (mais de 800 metros), não sendo economicamente viável seu aproveitamento para o consumo humano. O Brasil possui 13% da água doce disponível do planeta, no entanto, a distribuição dessa água é desigual. A Região Hidrográfica Amazônica concen- tra 81% dessa disponibilidade hídrica, mas apresenta uma demanda pequena quando comparada ao restante do País, uma vez que possui apenas cerca de 5% da população. Por outro lado, as regiões populosas das bacias hidrográ- ficas do Oceano Atlântico, que concentram 45,5% da população, possuem apenas 2,7% dos recursos hídricos (BRASIL, 2015). 2.2.2 Usos múltiplos da água A água é utilizada de diversas maneiras para o desenvolvimento das ati- vidades humanas, mas também é o meio natural que garante a existência de Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues – 29 – Saneamento e Meio Ambiente diversos organismos aquáticos e a manutenção da umidade do ar, da relativa estabilidade do clima no planeta e da beleza de algumas paisagens. Entre os principais usos da água estão: 2 abastecimento público e industrial; 2 irrigação de cultivos agrícolas; 2 dessedentação de animais; 2 pesca e aquicultura; 2 geração de energia; 2 navegação; 2 turismo e recreação; 2 transporte de resíduos, despejos líquidos e sedimentos. No Brasil, a maior demanda de água é do setor de irrigação, responsável por 72% do consumo total de água, seguido pelo consumo para abasteci- mento humano urbano, industrial e humano rural, como pode-se observar na Figura 3. Figura 3 – Consumo de água por setor no Brasil (m3.s-1) Fonte: Brasil (2015). Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Saneamento Ambiental – 30 – Conforme prevê a Lei n. 9.433, de 8 de janeiro de 1997 (BRASIL, 1997), a gestão dos recursos hídricos deve promover o uso múltiplo das águas e todos os setores usuários da água devem ter igualdade de acesso aos recursos hídricos. No entanto, em situações de escassez, os usos prioritários da água passam a ser o consumo humano e a dessedentação de animais. No Brasil, em função do crescimento contínuo da demanda por água para os mais variados usos, o número de conflitos de interesses envolvendo esse recurso também vem aumentando. Dessa forma, o governo federal, por meio da Lei n. 9.984, de 17 de julho de 2000 (BRASIL, 2000), criou a Agên- cia Nacional de Águas (ANA), entidade federal responsável pela coordenação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH) e do Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos (SNIRH). Uma das funções da ANA é mediar os conflitos pelo uso da água que podem existir entre os diversos setores: elétrico e hidroviário, saneamento e turismo, irrigação e elétrico, entre outros. A ANA também trabalha para prevenir ou minimizar os efeitos de secas e inundações, visando garantir os usos múltiplos da água. 2.2.3 Poluição das águas O aumento da população e a sua concentração em determinados locais exigiram que ações fossem tomadas, visando ao fornecimento de água em quantidade e qualidade para a população. Obras de captação, transporte, tra- tamento, armazenamento e distribuição de água passaram a ser necessárias para garantir o fornecimento desse bem natural em quantidade e qualidade. Esse processo faz que o ciclo hidrológico se altere: a água é captada de corpos hídricos subterrâneos e superficiais, tratada e distribuída para fins urbanos e industriais. Após o uso nessas atividades, a água passa a ter suas características alteradas e a se chamar efluente, esgoto ou águas residuárias. O lançamento desses efluentes sem o devido tratamento em corpos hídricos ocasiona a poluição, que pode causar alterações nas caracterís- ticas físicas, químicas e biológicas da água. As principais características físicas da água que podem ser alteradas são a cor, o sabor e o odor, a tem- peratura e a turbidez. Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues – 31 – Saneamento e Meio Ambiente Saiba mais Turbidez representa o grau de interferência com a passagem da luz atra- vés da água, conferindo uma aparência turva ela (SPERLING, 1996). Entre os parâmetros químicos que podem ser alterados, cabe destaque para pH, alcalinidade, acidez, dureza, ferro e manganês, cloretos, nitrogênio, fósforo, oxigênio dissolvido, matéria orgânica e micropoluentes orgânicos e inorgânicos. Em relação às características biológicas, as principais alterações dizem respeito à alteração no equilíbrio do ecossistema aquático, devido à morte de seres vivos, e à introdução de organismos causadores de doenças, os organis- mos patogênicos. Um dos principais problemas decorrentes da poluição nos corpos hídri- cos é o consumo de oxigênio dissolvido, devido ao lançamento de efluentes ricos em matéria orgânica, como restos de alimentos, fezes, óleos, resíduos vegetais e substâncias orgânicas industriais. Esse fato ocorre devido aos processos de degradação de matéria orgânica, realizados por bactérias decompositoras que utilizam o oxigênio disponível (OD) no meio líquido para respiração. O decréscimo da concentração de OD ocasiona a morte de organismos que utilizam oxigênio para sobreviver, ou seja, organismos aeróbios, como os peixes. O despejo de efluentes e o escoamento de águas poluídas dos continen- tes acabam por causar a poluição do mar, com efeitos negativos em escala global, principalmente para a biodiversidade. Entre as principais fontes de poluição das águas, estão: 2 o lançamento de esgoto doméstico em corpos hídricos sem trata- mento adequado; 2 o lançamento de efluentes e resíduos industriais em corpos hídricos sem tratamento adequado; 2 o carreamento de agrotóxicos e fertilizantes agrícolas para corpos hídricos superficiais (por meio do escoamento superficial) e subter- râneos (por meio da percolação); Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Saneamento Ambiental – 32 – 2 a erosão de solos agrícolas, quando a água da chuva transporta a camada superficial do solo, rica em matéria orgânica, para os cor- pos hídricos, interferindo nos padrões físicos e químicos das águas; 2 o despejo de resíduos sólidos nas ruas e nos corpos hídricos – o lixo jogado nas ruas, em eventos de chuvas, é carreado para os rios, gerando prejuízo não só para a biota aquática, mas também para aves que confundem o lixo com alimento; 2 o escoamento superficial e a percolação de chorume para corpos hídricos – o chorume é o líquido que contém alta carga orgânica e poluentes químicos, como metais pesados, resultante de processos de degradação de matéria orgânica, que escorre de lixo depositado a céu aberto, de aterros de lixo e também de cemitérios. Segundo a ANA (BRASIL, 2015), o esgoto doméstico é responsável pela alteração da qualidade da água no meio urbano, principalmente em locais de grande adensamento populacional e com corpos d’água com baixa capacidade de assimilação das cargas poluidoras. Como consequência disso, a qualidade das águas superficiais brasileiras é pior nos trechos dos corpos hídricos localiza- dos em áreas urbanas. Já na área rural, é preocupante a eutrofização dos corpos hídricos lênticos, como lagos e reservatórios, devido ao excesso de fósforo. Saiba mais “A eutrofizaçãoé um processo natural de envelhecimento dos cor- pos hídricos, sobretudo lagos naturais ou artificiais, que culmina com a transformação dos ambientes aquáticos em terrestres. Em condições naturais, a eutrofização ocorre de forma bem lenta. No entanto, as inter- ferências humanas sobre a cobertura vegetal e os ciclos biogeoquímicos das bacias hidrográficas têm acelerado este processo, podendo levar à rápida deterioração da qualidade da água e à restrição de usos impor- tantes, como o abastecimento humano” (BRASIL, 2015). 2.2.4 Prevenção e controle de poluição das águas Entre as ações de prevenção e controle de poluição das águas destacam- -se a implantação de sistemas de coleta e tratamento de esgotos sanitários e Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues – 33 – Saneamento e Meio Ambiente indústrias, a coleta, o tratamento e a destinação adequada de resíduos sólidos, de controle de erosão e de recuperação de rios. Na agricultura, a adoção de medidas de manejo sustentável e conserva- ção de solo, de controle de erosão, de uso racional de fertilizantes e agrotóxi- cos são práticas que minimizam e previnem a poluição dos corpos hídricos. A preservação das matas em áreas de reserva legal e preservação permanente são, também, importantes formas de proteger o solo e a água de erosões, de perda de nutrientes, entre outros problemas. Em relação aos resíduos sólidos, a implementação de programas de coleta seletiva e reciclagem e o incentivo público à construção de aterros que atendam às exigências sanitárias são também formas de proteger os recursos hídricos. Nesse processo de prevenção e controle da poluição das águas, é importante a atuação do município, buscando a integração das infraestruturas e dos serviços de saneamento básico com a gestão dos recursos hídricos por bacias hidrográficas. A adoção da bacia hidrográfica como área geográfica de atuação possibi- lita maior eficácia dos resultados, visando à melhoria da qualidade dos corpos d’água e à integração homem e meio ambiente. 2.3 Ar O ar é um recurso natural formado por uma mistura de gases. É com- posto por cerca de 78% de gás nitrogênio (N2), 21% de oxigênio (O2) e 1% de outros gases, como o gás carbônico (CO2), e gases nobres como hélio (He), neônio (Ne), argônio (Ar), criptônio (Kr), xenônio (Xe) e radônio (Rn), em menor quantidade. O oxigênio é indispensável para a vida humana e de outros seres vivos aeróbios, os seres heterotróficos, sendo utilizado no processo de respiração. Esse gás é produzido pelas plantas e por outros seres autotróficos por meio do processo de fotossíntese. Além disso, o oxigênio é o principal elemento responsável pelo processo de combustão, no qual ocorre a liberação de grande quantidade de calor. A combustão libera energia química, sob forma de calor e luz, armaze- nada no combustível. A energia da combustão é utilizada para a preparação Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Saneamento Ambiental – 34 – de alimentos, para o funcionamento de veículos e até para a produção de energia elétrica nas termoelétricas. Além do oxigênio, o gás carbono também tem um importante papel na natureza, sendo utilizado pelas plantas na produção de O2 no processo de fotossíntese. No entanto, o excesso de CO2 na natureza é prejudicial e causa problemas ambientais como o efeito estufa. Também estão presentes no ar outras substâncias, como poeiras, fuli- gem, vapores e microrganismos, tanto de origem natural quanto de ori- gem antropogênica. O vapor d’água é proveniente da evaporação das águas dos corpos hídri- cos, do solo, de dejetos e da transpiração dos seres vivos. No ar atmosférico, a quantidade de vapor d’água depende de fatores como temperatura, região, estação do ano. O vapor d’água é importante na formação das nuvens e tam- bém no processo de respiração dos seres vivos, sendo que condições de baixa umidade podem dificultar a respiração, já que não existe vapor d’água sufi- ciente para o umedecimento da mucosa das vias respiratórias superiores. A poeira presente no ar é constituída por um conjunto de partículas sólidas, provenientes de diversas origens. Partículas de solo, grãos de pólen, pó de carvão, pó de rocha e de materiais de construção são alguns exemplos de poeira. Outro composto que pode estar presente no ar é a fuligem, material resultante da combustão incompleta de compostos orgâ- nicos, como combustíveis fósseis (Figura 4) e madeira. A fuligem de processos industriais também pode conter metais pesados, como chumbo (Pb), que pode causar danos ao aparelho respiratório. Os microrganismos também estão presentes no ar, normal- mente associados à poeira ou ao vapor d’água. Encontram-se no ar tanto Figura 4 – Ar poluído com gases de combustão Fonte: Shutterstock.com/elwynn. – 35 – Saneamento e Meio Ambiente microrganismos benéficos, como os decompositores e os que auxiliam no pro- cesso de fermentação, quanto aqueles que são prejudiciais à saúde humana. 2.3.1 Poluição do ar As atividades humanas podem alterar as características do ar, o que pode causar danos à saúde, como problemas respiratórios, alergias, intoxicações e doenças provocadas por microrganismos. A poluição do ar pode ter origem natural, por exemplo, as erupções vulcânicas, mas hoje em dia é predominantemente resultante das atividades humanas e consequência da queima de combustíveis fósseis, como o carvão mineral, e de derivados do petróleo. Esses combustíveis são utilizados, prin- cipalmente, nos setores industrial, elétrico e de transportes. O uso de car- vão vegetal, as queimadas de campos e florestas, a fermentação de produtos agrícolas e o uso de fertilizantes na agricultura também contribuem para o aumento da concentração de gases poluentes na atmosfera. Saiba mais No site do Banco Mundial <http://datos.bancomundial.org/tema/ medio-ambiente>, um dos principais promotores e financiadores de programas de melhoria ambiental dos países em desenvolvimento, há dados estatísticos referentes a importantes indicadores ambientais, como florestas, biodiversidade, emissões atmosféricas e poluição. Doenças respiratórias como bronquite, rinite e asma são consequência da poluição atmosférica das grandes cidades. Segundo a OMS (2014), em 2012, cerca de 7 milhões de pessoas mor- reram no mundo em decorrência da poluição do ar, ou seja, uma em cada oito mortes teve essa causa. Dados de pesquisa mostraram que a poluição do ar estava relacionada a mortes por doenças cardiovasculares e câncer, além do desenvolvimento de doenças respiratórias, incluindo infecções respiratórias agudas e doenças pulmonares obstrutivas crônicas. Regiões do sudeste da Ásia e do Pacífico Ocidental foram as que apresentaram a maior quantidade de Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Saneamento Ambiental – 36 – casos de morte relacionados à poluição do ar em 2012, com um total de 5,9 milhões de mortes. Além dos problemas para a saúde humana, a poluição do ar, devido principalmente à chuva ácida, também causa prejuízos à sobrevivência de outros seres vivo e ao patrimônio histórico e cultural, como prédios e igrejas, em consequência da corrosão de suas estruturas. A poluição atmosférica também é causadora do efeito estufa e das conse- quentes alterações climáticas, principalmente o aquecimento global. Entre os principais gases que atuam no efeito estufa estão o dióxido de carbono e o metano. Somado ao efeito estufa, outro fator atmosférico produtor de mudanças climáticas e decorrente da poluição do ar é o buraco na camada de ozônio. A camada de ozônio funciona comoum escudo protetor que absorve grande parte dos raios ultravioleta do sol. O uso principalmente de clorofluorcarbo- nos (presentes em diversas atividades econômicas e produtos como os sprays) faz que a camada de ozônio fique mais rarefeita e perca sua função essencial, o que resulta na maior entrada de raios ultravioleta. A saúde humana é afe- tada com o aumento de casos de câncer de pele e de cataratas oculares, além de outros prejuízos para cultivos agrícolas e para algas e animais marinhos microscópicos que fornecem alimentação para a biota aquática. 2.3.2 Controle da poluição do ar Há duas formas de realizar o controle da poluição do ar: por meio de ações de prevenção e por meio de ações de proteção. Na prevenção, busca- -se minimizar ou evitar a emissão de poluentes atmosféricos, e as ações de proteção visam evitar que as substâncias nocivas afetem o homem e lhe cau- sem danos. São formas de proteção o estabelecimento de critérios para implantação de atividades industriais em determinadas áreas, a limitação do número de fontes em função dos padrões de emissão e a qualidade do ar e a implantação de áreas de proteção sanitária, como os cinturões verdes. As ações de prevenção em indústrias são realizadas em etapas do pro- cesso de poluição do ar, as quais podem ser resumidas em emissão de poluen- tes para a atmosfera, transporte, diluição e modificação química ou física dos Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues – 37 – Saneamento e Meio Ambiente poluentes na atmosfera e recepção dos poluentes. Em cada fase, diferentes técnicas são aplicadas para a redução dos riscos de poluição. Na etapa de emissão de poluentes atmosféricos (e odores), o controle pode ser realizado por meio de métodos indiretos e métodos diretos ou técni- cas de tratamento. Nos métodos indiretos, o controle de gases é realizado por meio da modificação de processo ou de equipamentos, visando menor emis- são de poluentes, alteração de matérias-primas por outras ecologicamente mais adequadas, manutenção dos equipamentos e operação destes, entre outras práticas para prevenir a formação ou a emissão de gases. Esses métodos estão incluídos nas denominadas tecnologias limpas. Nesses métodos, o uso de matérias-primas e combustíveis de baixo potencial poluidor e a defini- ção de disposições adequadas (layout) e manutenção dos edifícios industriais também são fundamentais. As medidas ou os métodos diretos de controle incluem técnicas destru- tivas como incineração e biofiltração, e técnicas recuperativas, como absor- ção, adsorção e condensação. Nesses métodos, primeiramente é promovida a concentração dos poluentes na fonte, por meio de sistemas de exaustão para então realizar o tratamento efetivo antes do lançamento na atmosfera. São utilizadas chaminés elevadas e substâncias que possibilitem reduzir a emissão de poluentes indesejáveis, bem como equipamentos que visem à remoção dos poluentes antes que sejam lançados na atmosfera. A minimização da emissão de material particulado no setor industrial é realizada, principalmente, com o uso de equipamentos como os precipitado- res eletrostáticos, ciclones, filtros e lavadores de gás. Em outras áreas, também vêm sendo empregadas tecnologias que utilizam máquinas e combustíveis cada vez menos poluentes. Um exemplo é a utilização de combustíveis não fósseis em automóveis. No Brasil, há milhões de automó- veis movidos a álcool, combustível renovável, não fóssil, menos poluente. 2.4 Solo O solo é definido como “material proveniente da decomposição das rochas pela ação de agentes físicos ou químicos, podendo ou não ter matéria orgânica” (ABNT, 1995). Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Saneamento Ambiental – 38 – Pode-se dizer que o solo é a parte mais superficial da crosta terrestre, onde vive o ser humano e são produzidos os materiais necessários para sua sobrevivência. O solo serve como meio natural para o crescimento e o desen- volvimento de plantas terrestres e também para o desenvolvimento de diver- sas espécies animais. É um recurso natural utilizado para atividades humanas de fins econômicos, sendo de extrema importância nas práticas agropecuárias e na geração de alimentos para a sociedade. Os solos formam-se a partir do processo de decomposição das rochas de origem, chamadas de rochas-mãe. Isso significa que, no início, não existiam solos na Terra, apenas variados grupos rochosos que foram lentamente des- gastados pelo intemperismo. Saiba mais “Intemperismo, também chamado de meteorização, refere-se ao con- junto de alterações físicas (desagregação) e químicas (decomposi- ção) que as rochas sofrem quando ficam expostas na superfície da Terra” (BRANCO, 2015). Essa lenta desagregação levou à formação de sedimentos que se mantêm aglomerados e compõem os solos. O processo de origem e constituição dos solos é chamado de pedogênese e inicia-se com a decomposição da rocha-mãe pelos agentes do intemperismo, como clima, ação da água e dos ventos e tam- bém pelos seres vivos, principalmente as plantas. Com o tempo, acumula- -se material orgânico sobre o solo recém-formado; em seguida, o material orgânico decompõe-se e vai aos poucos enriquecendo o terreno, enquanto os horizontes do solo vão se formando. O solo, em estágio mais avançado, passa a contar com os diferentes hori- zontes (Figura 5), que são: 2 Horizonte O, que é o horizonte orgânico, a camada externa do solo, formada a partir da decomposição de materiais orgânicos de origem animal e vegetal; 2 Horizonte A, que é o horizonte mineral mais próximo da superfí- cie, com relativa presença de matéria orgânica; Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues – 39 – Saneamento e Meio Ambiente 2 Horizonte B, que é o horizonte de composição essencialmente mineral, com uma grande presença de minerais de argila e também de oxi e hidróxicos de ferro e alumínio e pequena quantidade de material orgânico; 2 Horizonte C, que é a zona de transição entre o solo e a rocha-mãe, formado por alguns sedimentos maiores e menos decompostos, representando o processo de decomposição da rocha. Figura 5 – Representação dos horizontes de um perfil de solo Fonte: Shutterstock.com/corbac40. Os solos mais antigos apresentam uma estrutura na qual podem ser identificadas todas as camadas; e os solos mais jovens, muitas vezes, ainda se encontram em processo intermediário de formação, sem a existência de todos os horizontes e com baixo nível de material orgânico. Dessa forma, existe grande variedade na espessura dos tipos solos, por exemplo, no Continente Europeu existem solos com apenas 40 centímetros, enquanto no norte da China a espessura chega a dezenas de metros. Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Saneamento Ambiental – 40 – A formação dos solos na natureza levou milhões de anos, mas é um pro- cesso ininterrupto, que continua a acontecer. São necessários cerca de 2 mil anos para formar uma camada de 10 centímetros de solo e é provável que o tempo para a formação de um solo seja de milhares ou milhões de anos. Apenas metade do que chamamos de solo é composta por partículas minerais, como areia e argila. O solo é composto por cerca de 20% de água, 20% de ar e 5% a 10% por raízes das plantas e de matéria orgânica do solo, tais como organismos vivos e húmus. Dessa forma, o solo possui poros, ou espaços vazios, entre os minerais sólidos e as partículas orgânicas. Esses poros têm um importante papel para o armazenamento de ar, que garante o fornecimento de oxigênio para a respira- ção de raízes e organismos do solo. Além do ar, os poros podemconter água. Um metro cúbico de solo pode conter até 200 litros de água, armazenamento que é de extrema importância para a sobrevivência das plantas, principal- mente em situações de escassez de chuva. O volume de poros no solo depende do tamanho das partículas do solo, do teor de matéria orgânica, da presença de raízes e da atividade dos organismos do solo. Em resumo, além da matéria orgânica e mineral, os solos também con- têm água, oxigênio e microrganismos. E por serem meio de suporte para o desenvolvimento de vegetais, que são a base da cadeia alimentar, os solos são responsáveis pelo sustento dos seres vivos terrestres. Sua fertilidade é resultado da decomposição de matéria orgânica como folhas e galhos e também dejetos e restos de animais, que dão origem ao húmus. 2.4.1 Poluição do solo e controle de poluição do solo Quando o solo é utilizado muito intensivamente ou de forma inade- quada, seu equilíbrio é afetado e ocorre o processo de degradação. Estima-se que 20% a 25% dos solos em todo o mundo já estejam afetados por processos de degradação e que de 5 milhões a 10 milhões de hectares, aproximadamente a área da Áustria (8,4 milhões de hectares), são degradados a cada ano, quando são perdidas no mundo cerca de 24 milhões de toneladas de solo fértil. São diversas as causas da perda do solo, que incluem desde a constru- ção de cidades e estradas até a perda devido à erosão em áreas de agricultura pelo uso de técnicas agrícolas inadequadas e do desmatamento. No entanto, Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues – 41 – Saneamento e Meio Ambiente é importante destacar que existem situações em que o cultivo agrícola não danifica o solo, por exemplo, as várzeas dos rios Tigre e Eufrates, no Iraque, e as terras altas da Nova Guiné, que têm solos ainda férteis, apesar de serem cultivados há mais de 7 mil anos (CHEMNITZ; WEIGELT, 2015). A poluição do solo, ou seja, a alteração de suas características naturais, pode ser resultado de fenômenos naturais como terremotos, vendavais e inundações. No entanto, a poluição do solo é, principalmente, consequência de atividades humanas como disposição de resíduos sólidos e líquidos, urba- nização e ocupação do solo, atividades agropecuárias e extrativas e acidentes no transporte de cargas. Um dos principais impactos no solo é a poluição devido ao uso, sem controle, de produtos químicos para o combate a pragas e doenças e para o controle de plantas daninhas nos cultivos agrícolas. Podemos citar como algumas das consequências dessa prática: 2 Desequilíbrio da microbiota do solo; 2 Acidificação do solo; 2 Perda de fertilidade da terra; 2 Bloqueio do fornecimento de nutrientes para as plantas, devido a sua imobilização 2 Liberação de compostos tóxicos para o ambiente; 2 Rápida degradação da matéria orgânica com perda de nutrientes por lixiviação; 2 Perda da estrutura do solo; 2 Aumento da erosão. Saiba mais O documento Estado do meio ambiente e retrospectiva de políticas: 1972–2002 apresenta a análise das mudanças que ocorrem no meio ambiente, levando em conta as complexas interações entre este e o homem, ao longo dos anos (PNUMA, 2004). Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Saneamento Ambiental – 42 – As alterações causadas no solo devido ao uso de agrotóxicos podem não ser imediatas, interferindo no crescimento, no comportamento e na reprodu- ção dos organismos. Os agrotóxicos também interferem na disponibilidade de alimentos, de habitat e na biodiversidade, incluindo os efeitos sobre os inimigos naturais das pragas e a resistência induzida aos próprios agrotóxicos. Como consequência, tem-se a necessidade de usar cada vez mais insumos agrícolas, tanto agrotóxicos quanto fertilizantes. Outra prática agrícola que tem aumentado a necessidade de utilização de fertilizantes é a queimada da vegetação. As queimadas são utilizadas como método de limpeza e preparo dos terrenos para o cultivo, bem como para a renovação da pastagem nativa. Além da poluição atmosférica, como resultado tem-se prejuízos para a biota e a redução de nutrientes do solo. Há aumento da exposição do solo ao vento e à ação do calor do sol, que provoca erosão e perda de fertilidade. A criação de animais também pode ocasionar a poluição dos solos, devido ao uso inadequado de produtos veterinários para o tratamento de enfermidades e de agrotóxicos e fertilizantes químicos nas pastagens. No entanto, o principal dano decorrente da utilização do solo é a erosão, ocasionada pela ação das águas e do vento. Como consequências negativas da erosão dos solos, tem-se alterações no relevo, riscos às obras civis, remoção da camada superficial e fértil do solo, assoreamento dos rios e inundações e alterações dos cursos d’água. O descarte irregular de resíduos de áreas urbanas e da indústria, como lixo, produtos químicos variados, combustíveis e metais pesados, também causa poluição do solo. Esses resíduos, dispostos de forma inadequada, sem qualquer tratamento, podem poluir o solo, alterando suas características físi- cas, químicas e biológicas. Como consequência, as áreas utilizadas para essa finalidade tornam-se inutilizáveis, não permitindo o desenvolvimento de ati- vidades agrícolas ou a construção de moradias, devido aos possíveis efeitos negativos para a saúde pública. O descarte irregular de resíduos sólidos urbanos, ou seja, o acúmulo de lixo em áreas impróprias, como os lixões a céu aberto, representa perigo devido ao processo de decomposição, que pode liberar compostos tóxicos pre- sentes em pilhas não alcalinas, baterias, tintas e solventes, remédios vencidos, Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues – 43 – Saneamento e Meio Ambiente lâmpadas fluorescentes, inseticidas e substâncias não biodegradáveis presentes nos plásticos, nos produtos de limpeza e nos produtos eletroeletrônicos. Os resíduos perigosos, produzidos sobretudo pela indústria, também são particularmente preocupantes, pois, quando incorretamente gerenciados, tornam-se uma grave ameaça ao meio ambiente. Pode-se citar como exemplo a poluição de solo na região atingida pela lama do rompimento de uma bar- ragem de mineração no município de Mariana, em Minas Gerais, em novem- bro de 2015 (Figura 6). Figura 6 – Rompimento de barragem de rejeitos de mineração em Mariana (MG) Fonte: Agência Brasil/Antonio Cruz/CC by 3.0 A poluição por disposição inadequada de resíduos no solo, com conse- quente geração de líquidos e gases percolados, e a poluição por agrotóxicos colocam em risco a vida da população, que pode se contaminar por meio da res- piração e pelo consumo da água e de alimentos que se contaminam pelo solo. 2.4.2 Controle de poluição do solo O controle da poluição do solo é realizado por meio do uso de técnicas preventivas e corretivas, cuja aplicação depende das características de cada local (BRASIL, 2006). Entre essas técnicas, cabe destaque para a: 2 implantação de sistemas de prevenção e erosão, tais como alteração de declividade, operação em curvas de nível, execução de dispositi- vos de drenagem e manutenção da cobertura vegetal; Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Saneamento Ambiental – 44 – 2 minimização de resíduos industriais, pela redução da geração na fonte, a segregação, a reciclagem e a alteração dos processos produtivos; 2 minimização de sistemas de disposição final de resíduos urbanos, pela coleta seletiva, pela reciclagem e pelo tratamento; 2 execução de sistemas de disposição final de resíduos, considerando critérios de proteção do solo. No Brasil, foramestabelecidos, por meio de leis, instrumentos com o objetivo de proteger o solo de áreas rurais. Entre esses instrumentos, destaca- -se a criação de áreas de preservação permanente e de reserva legal pelo novo Código Florestal, Lei n. 12.651, de 25 de maio de 2012 (BRASIL, 2012). O manejo sustentável utilizado no setor agropecuário também é uma forma de promover a proteção do solo. Nesse manejo, o uso racional do solo, da água e da biodiversidade visam promover uma agricultura sustentável, aumentar a oferta de alimentos e melhorar a qualidade de vida no meio rural. Nesse contexto, em projetos de manejo sustentável, as microbacias são as unidades geográficas naturais utilizadas para o planejamento, o monito- ramento e a avaliação do uso dos recursos naturais. Isso porque, no nível de microbacia, os fatores ambientais, econômicos e sociais apresentam caracte- rísticas semelhantes ou homogêneas. Além do controle da erosão, as práticas de manejo sustentável devem promover o uso racional da água, com o emprego de técnicas eficientes de irrigação. Também é recomendável a recuperação da fertilidade do solo, por meio do pousio, uma técnica que visa ao “descanso” do solo. Devem ser prio- rizadas práticas de manejo que promovam o reaproveitamento de resíduos como fertilizantes. Também é importante a rotação de cultivos, que consiste em alternar espécies vegetais no decorrer do tempo, em uma mesma área agrícola. Nesse processo, cada espécie desenvolve um efeito residual positivo para o solo e para o meio ambiente ou para a cultura sucessora. A adoção da agricultura orgânica também é uma maneira de proteger o solo e a água das contaminações decorrentes do uso de agrotóxicos e fer- tilizantes minerais. Na agricultura orgânica não são utilizados fertilizantes sintéticos solúveis, agrotóxicos e transgênicos. Segundo a Associação de Agri- cultura Orgânica (AAO, 2016), as práticas da agricultura orgânica incluem: Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues – 45 – Saneamento e Meio Ambiente 2 a adubação verde, com uso de leguminosas fixadoras de nitrogênio atmosférico; 2 a adubação orgânica, com uso de compostagem da matéria orgâ- nica, que pela fermentação elimina microrganismos como fungos e bactérias, eventualmente existentes em esterco, desde que prove- nientes da própria região; 2 a minhocultura, geradora de húmus com diferentes graus de fertili- dade; manejo mínimo e adequado do solo com plantio direto, curvas de níveis e outras para assegurar estrutura, fertilidade e porosidade; 2 o manejo da vegetação nativa, como cobertura morta, rotação de culturas e cultivos protegidos para controle da luminosidade, tem- peratura, umidade, pluviosidade e intempéries; 2 o uso racional da água de irrigação por gotejamento ou demais técni- cas econômicas de água contextualizadas na realidade local de topo- grafia, clima, variação climática e hábitos culturais da população. Outra forma de promover a redução do uso de agroquímicos que tornam os insetos mais resistentes e podem causar a contaminação de alimentos e do lençol freático quando aplicados indiscriminadamente é o manejo integrado de pragas (MIP). É uma técnica que mantém as pragas sempre abaixo do nível em que causam danos para as lavouras. O controle pode ser feito por meio de insetos (controle biológico), do uso de feromônios, da retirada e da queima da parte do vegetal afetada, da adubação equilibrada, da poda e do raleio. No meio rural e também no meio urbano é igualmente importante, a partir da análise das características geológicas e topográficas de cada local, definir aqueles que são impróprios para ocupação, os quais incluem terrenos rochosos e de declividade acentuada. Desse modo, a restrição de uso e a ocupa- ção dessas áreas é uma forma de controle de erosão e de deslizamentos de solo. Síntese Neste capítulo, vimos que o aumento desordenado das cidades, a inten- sificação dos processos industriais e a modernização da agropecuária têm con- sequências indesejáveis para o meio ambiente. Esgoto doméstico, efluentes Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Larissa Rodrigues Saneamento Ambiental – 46 – industriais, resíduos sólidos, resíduos tóxicos, agrotóxicos, fertilizantes agrí- colas e chorume contaminam a água e o solo. Vimos que o aumento da concentração de gases poluentes na atmosfera ocasiona problemas respiratórios, intoxicações, alergias, mas também tem efeitos globais, devido aos fenômenos de efeito estufa e buraco na camada de ozônio. Aliada a isso, a poluição tem alterado o ciclo hidrológico e causado problemas sanitários que afetam a população mundial. Também tratamos neste capítulo de formas de proteção da água, do ar e do solo, que devem ser adotadas para que o desenvolvimento sustentável seja alcançado e a saúde do homem e do meio ambiente seja preservada. 3 A falta de saneamento e as doenças A ocorrência de doenças infectoparasitárias tem uma estreita relação com o saneamento básico. O histórico do saneamento, visto no Capítulo 1, mostra de forma clara essa relação e, apesar da evo- lução em termos de infraestrutura e ações preventivas e curativas, as doenças ligadas à falta de saneamento ainda são uma realidade pre- ocupante para países menos desenvolvidos e em desenvolvimento, como o Brasil. Após compreender a relação entre saneamento e ambiente, apresentamos a relação entre a falta de saneamento e as doenças. Neste capítulo, você terá a oportunidade de conhecer: 2 as doenças relacionadas à água, ao esgoto, aos resíduos e ao ar; 2 as formas de controle de vetores; 2 as principais ações na prevenção de doenças. Saneamento Ambiental – 48 – 3.1 Classificação ambiental de doenças infecciosas As doenças infecciosas são transmitidas por agentes patogênicos e podem ser classificadas de acordo com as vias de transmissão (água, excretas ou lixo), o ciclo biológico e as principais estratégias de controle ambiental. Além das doenças infecciosas, as doenças relacionadas ao ar, cuja via de transmissão é diferente das doenças infecciosas, têm se tornado cada vez mais comuns, principalmente nos grandes centros. Existem também as doenças relacionadas à higiene, que dizem respeito às condições precárias de moradia e que, geralmente, são as mesmas infecções associadas a água, excretas ou lixo. 3.1.1 Infecções relacionadas à água São as infecções relacionadas à ingestão ou ao contato com a água con- taminada. Podem ser transmitidas via fecal-oral, por meio de protozoários, bactérias e vírus, relacionadas à higiene, como infecções da pele e dos olhos, ou transmitidas por inseto vetor. A água também pode ser o meio de transmissão de doenças relacionadas a substâncias químicas inorgânicas e orgânicas e a substâncias radioativas, que podem estar presentes no solo, no ar ou em corpos hídricos contaminados. 3.1.2 Infecções relacionadas às excretas As doenças relacionadas às excretas reúnem aquelas causadas por pató- genos transmitidos por excretas humanas, normalmente fezes, podendo ser de origem bacteriana e não bacteriana, além das transmitidas por helmintos (vermes) e insetos. 3.1.3 Infecções relacionadas ao lixo As doenças desse grupo ocorrem devido à disposição inadequada do lixo, que provoca a disseminação de microrganismos por moscas, mosquitos e ratos, e à transmissão de infecções por esses insetos vetores e por roedores. – 49 – A falta de saneamento e as doenças 3.2 Doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado A partir da classificação
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