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Bacteriologia: Descrição Geral A bacteriologia é o ramo da microbiologia que lida com a morfologia, estrutura, classi�- A disciplina de bacteriologia surgiu durante o séculocação e bioquímica das bactérias. 19, a partir de tentativas cientí�cas de provar a “teoria dos germes da doença”, ou seja, que as doenças eram causadas por microorganismos microscópicos que invadiam as células hospedeiras. As bactérias são microrganismos unicelulares procariotas que são metabolicamente ativos e se dividem por �ssão binária. Alguns destes microorganis- mos desempenham um papel signi�cativo na patogénese de doenças. O tratamento da doença bacteriana baseia-se sobretudo na antibioterapia; porém, a escolha dos anti- bióticos pode variar dependendo da estrutura e do metabolismo bacteriano. Última atualização: Jul 12, 2022 Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza CONTEÚDO Introdução Estrutura Classi�cação Toxinas Metabolismo Reprodução Fatores de virulência Referências https://www.lecturio.com/author-stanley-oiseth/ https://www.lecturio.com/author-lindsay-jones/ https://www.lecturio.com/author-evelin-maza/ Introdução Bactérias: Entre as primeiras formas de vida na Terra Habitam quase todos os ambientes da Terra Vivem simbioticamente com plantas e animais A maioria das bactérias não foi caracterizada. Características gerais: Seres unicelulares Procariotas: não possuem envelope/membrana nuclear Identi�cação: Através da técnica de coloração de Gram associada à microscopia A cultura de células é útil na sua identi�cação exata. A sensibilidade dos testes é considerada para a escolha do tratamento. Processo de identi�cação laboratorial: A identi�cação de agentes patogénicos bacterianos é um processo passo a passo que geralmente co- meça com a técnica de coloração de Gram, seguida pelo crescimento em cultura isolada. Imagem por Lecturio. https://cdn.lecturio.com/assets/The-process-of-laboratory-diagnosis-2.png Estrutura Estrutura de uma célula procariota: O envelope celular compreende uma membrana plasmática (camada verde) e uma parede celular es- pessa, com peptidoglicanos (camada amarela). Não está presente nenhuma membrana externa lipídica (como visto nas bactérias gram-negativas). A cápsula (camada vermelha) é diferente do envelope celular. Imagem por Lecturio. Organização das células procarióticas: Sem envelope nuclear DNA comprimido em nucleóide Ausência de organelos ligados à membrana O metabolismo ocorre no citoplasma. Parede celular: Proporciona estabilidade mecânica Permite a troca de nutrientes e resíduos Peptidoglicano de mureína: Polímero de açúcar e aminoácidos que forma a base da parede celular N-acetil glucosamina e ácido N-acetilmurâmico reticulados com oligopeptídeos Componente de quase todas as paredes bacterianas (exceção: micoplasmas) https://cdn.lecturio.com/assets/Average-prokaryote-cell.png A espessura da parede celular determina a coloração de Gram. Membrana de plasma: Análoga às membranas procarióticas Composta por proteínas e fosfolípidos Ao contrário dos microorganismos eucariotas, carece de esterois Envolve o citoplasma das células Flagelos: Aproximadamente 50% dos procariontes movem-se com a ajuda de �agelos: Monotríquico: 1 �agelo Politríquico: > 1 �agelo Compostos por uma proteína estrutural, a �agelina, e não estão envolvidos pela membrana celular Localização: monopolar, bipolar ou por todo o corpo Pili (fímbrias): Estruturalmente semelhante ao �agelo, mas muito menor Ajuda na adesão ao hospedeiro/outras bactérias = fator de virulência Utilizado para trocar informações genéticas durante a conjugação Nucleóide: Equivalente funcional do núcleo procariótico Não possui membrana Contém material genético: Geralmente 1 cromossoma Pode possuir plasmídeos adicionais Inclusões e vesículas: As vesículas de gás permitem que as bactérias fotossintéticas �utuem na água. Organelos para fotossíntese e quimiossíntese Os carboxissomas contêm enzimas chave para a �xação de CO . Grânulos de armazenamento (por exemplo, enxofre, fosfato, cálcio, glicogénio) Tabela: Estruturas da célula bacteriana: composição química e funções Estrutura Composição química Função 2 Estrutura Composição química Função Anexos Flagelo Proteínas Mobilidade Pili/fímbrias Glicoproteína Aderência à superfície celular Estruturas especializadas Esporo Revestimento tipo queratina Ácido dipicolínico Peptidoglicano DNA Apenas Gram+ Resistente à desidratação, calor e produtos químicos Envelope celular Cápsula Camada de polissacarí- deo organizada Protege contra a fagocitose Camada de lodo Rede solta de polissacarídeos Media a aderência às superfícies Membrana externa Fosfolípidos Proteínas Apenas Gram- Endotoxina: O lípido A liberta TNF e IL-1. Periplasma Peptidoglicano no meio Acumula componentes que sur- gem das células gram- Parede celular Peptidoglicano na espi- nha dorsal do açúcar A estrutura tipo rede oferece su- porte rígido. Estrutura Composição química Função Membrana citoplasmática Saco de bicamada fosfolipídica Local de armazenamento das enzimas oxidativas e de transporte Os ácidos lipoteicóicos libertam TNF-α e IL-1. TNF: fator de necrose tumoral IL-1: interleucina-1 Classi�cação Coloração de Gram A coloração de Gram é uma técnica que surgiu com o bacteriologista Hans Christian Joa- chim Gram e é utilizada para diferenciar grupos de bactérias com base nas diferenças dos constituintes das suas paredes celulares. Diferenças entre as membranas celulares de bactérias gram-positivas e gram-negativas: As paredes celulares das bactérias gram-positivas e gram-negativas contêm camadas de peptidoglica- nos, porém a camada das bactérias gram-negativas é muito mais �na e envolvida por outra camada externa. Imagem por Lecturio. A coloração de Gram ajuda a distinguir entre bactérias gram-positivas e gram-negativas pela coloração das células a vermelho ou violeta. Processo de coloração de Gram: https://cdn.lecturio.com/assets/Differences-between-gram-positive-and-gram-negative-bacteria-cell.png Bactérias tratadas com corante cristal violeta A mancha é lavada com álcool. As células realçam com o corante de contraste vermelho de safranina. Coloração de bactérias gram-positivas: A parede celular contém uma camada espessa de peptidoglicanos (mureína). Retêm a coloração violeta de cristal e não são afetados pelo corante de contraste de safranina Aparecem a cor azul-púrpura Coloração de bactérias gram-negativas: A parede celular tem uma camada �na de peptidoglicanos (mureína). Não retêm o corante cristal violeta, mas retêm o contraste de safranina Aparecem a cor rosa-vermelho A coloração desempenha um papel importante no diagnóstico/patologia: Bactérias Gram-positivas: Comensal mais comum Frequentemente encontradas na pele de indivíduos saudáveis Bactérias gram-negativas: Menos sensíveis à penicilina devido à membrana de bicamada lipídica adicional Contêm a 2ª membrana na forma de uma bicamada lipídica Após a degradação, os lipopolissacarídeos da 2ª camada de membrana podem ser libertados como endotoxinas. As endotoxinas são pirogénios que causam febre alta e calafrios Morfologia As bactérias apresentam uma grande diversidade de formas e tamanhos. As morfologias mais comuns são cocos e bacilos, que podem organizar-se em vários arranjos Arranjos: Pares Tétrades Agrupamentos Correntes Paliçadas Tabela: Morfologia e arranjo de bactérias Morfologia Arranjos Cocos Esféricos Imóveis Único ou aos pares (Diplococos) Cadeias torcidas (estreptococos) Aglomerados (esta�lococos) Bacilos Cilindros de ponta arredondada Bastões Spirilla Helicoidal Torcido Espiroquetas Helicoidal Filamentos longos, semelhantes a �agelos Movimentos tipo saca-rolhas Subgrupo: Treponema Género Selenomonas Cilindros curvados num plano Género Haloquadratum Morfologias incomuns Quadrado, em forma de caixa plana Vibrações Bactérias redondas em formade vírgula Flagelado Células bacterianas com várias morfologias e arranjos: As bactérias existem numa ampla variedade de morfologias e arranjos. Cocos e bacilos em pares e clusters estão entre os mais comuns. Imagem por Lecturio. https://cdn.lecturio.com/assets/Bacterial-cells-with-various-morphologies-and-arrangements_V2.png Visão geral da classi�cação Bactérias gram-positivas: A maioria das bactérias pode ser classi�cada de acordo com um procedimento de laboratório chamado coloração de Gram. As bactérias com paredes celulares que possuem uma camada espessa de peptidoglicano retêm a co- loração de cristal violeta utilizada na coloração de Gram, mas não são afetadas pela contracoloração de safranina. Estas bactérias aparecem azul-púrpura na coloração, o que indica que são gram-positivas. As bactérias podem ainda ser classi�cadas de acordo com a morfologia (�lamentos rami�cados, bacilos e cocos em aglomerados ou cadeias) e capacidade de crescer na presença de oxigénio (aeróbio ver- sus anaeróbio). Os cocos também podem ser identi�cados. Os esta�lococos podem ser reduzidos com base na presença da enzima coagulase e na sua sensibilidade ao antibiótico novobiocina. Os estrepto- cocos são cultivados no meio agar de sangue e classi�cados com base no padrão de hemólise (α, β ou https://cdn.lecturio.com/assets/Microbiology-flowchart-gram-positive-bacteria-classification.png γ). Os estreptococos são ainda mais reduzidos com base na sua resposta ao teste de pirrolidonil-β-naf- tilamida (PYR), sensibilidade a antimicrobianos especí�cos (optoquina e bacitracina) e capacidade de crescer em meio de cloreto de sódio (NaCl). Imagem por Lecturio. Licença: CC BY-NC-SA 4.0 Bactérias gram-negativas: A maioria das bactérias pode ser classi�cada de acordo com um procedimento de laboratório chamado coloração de Gram. As paredes celulares bacterianas com uma camada �na de peptidoglicanos não retêm a coloração cris- tal violeta utilizada na técnica coloração de Gram. No entanto, as bactérias gram-negativas retêm a co- loração de contraste de safranina e aparecem com cor vermelho-rosado. Estas bactérias podem ainda ser classi�cadas de acordo com a sua morfologia (diplococos, bastonetes curvos, bacilos e cocobaci- los) e capacidade de crescerem na presença de oxigénio (aeróbios versus anaeróbios). As bactérias Gram-negativas podem ser identi�cadas com precisão através de culturas em meios especí�cos (Agar Tríplice Açúcar Ferro (TSI)), com a identi�cação das enzimas (urease, oxidase) e determinação da capa- cidade de fermentar a lactose. * Cora pouco com coloração de Gram ** Bastonete pleomór�co/cocobacilos *** Requer meios de transporte especiais https://cdn.lecturio.com/assets/Gram-negative-bacteria-classification-flowchart-1.png Imagem por Lecturio. Toxinas Endotoxinas Geradas durante a rutura da parede celular bacteriana quando as bactérias morrem Ativam o complemento do hospedeiro e cascatas de coagulação Causam choque sético Sintomas não especí�cos da doença: Febre Dor Choque Fadiga Desconforto Exotoxinas Produzidas e secretadas Podem resultar em sintomas graves especí�cos da doença 3 categorias principais: Enterotoxinas Neurotoxinas Citotoxinas Exemplos: Cólera Botulismo Difteria Toxinas do tétano Metabolismo As bactérias são microorganismos heterotró�cos que carecem de substâncias orgânicas para sobreviver. Classi�cado com base nos requisitos de oxigénio: Aeróbios obrigatórios (aeró�los): O oxigénio é necessário para manter o metabolismo. Anaeróbios obrigatórios: Sem enzimas respiratórias presentes A energia é gerada através da glicólise anaeróbia. O oxigénio é tóxico. Microaeró�los: O oxigénio é necessário para o crescimento Níveis muito elevados interrompem o crescimento Anaeróbios facultativos: podem crescer na presença ou ausência de oxigénio Reprodução As bactérias podem trocar o material genético: Podem incorporar DNA estranho no seu genoma Podem recombinar dentro do pool genético existente Podem transferir características genéticas entre si: Conjugação: transferência parassexual por contacto via pili Transdução: através de bacteriófagos (vírus que infetam bactérias) Transformação: introdução de DNA livre, isolado e estranho no genoma Esquema dos diferentes tipos de transmissão genética em bactérias Imagem por Lecturio. Fatores de virulência A virulência é a capacidade de um microorganismo infetar o hospedeiro e causar doen- ças. Os fatores de virulência são moléculas que auxiliam a bactéria na colonização do hospedeiro e podem ser de natureza secretora, associada à membrana ou citosólica. Tabela: Mecanismos de virulência, fatores de virulência e função Mecanismo Fatores de virulência Função Colonização Ácido teicoico (princi- palmente em microor- ganismos gram- positivos) Adesinas Bio�lmes Flagelos Permitem a �xação e invasão das superfícies das células hospedeiras Os bio�lmes conferem proteção em relação à penetrância de antibióticos Mobilidade https://cdn.lecturio.com/assets/Bacterial-types-of-genetic-transmission.jpg Mecanismo Fatores de virulência Função Evicção do sistema imunológico Cápsula IgA protease Proteína A Cria uma barreira física, bloqueando a opsonização e a fagocitose Nutrição bacteriana Sideróforos Quelatos de ferro Absorção de ferro Variação antigénica Pili Expressão de cápsulas e �agelos Deriva antigénica Camu�agem de marcadores mole- culares de superfície que permitem a evasão do sistema imunológico Sobrevivên- cia intracelular Inibição da fusão fagos- soma-lisossoma Saída dos fagossomos antes da fusão ocorrer Invasões Previne a destruição intracelular das bactérias Sistema de secreção tipo III Injetável Permite que as bactérias injetem to- xinas nas células hospedeiras Resposta in�amatória Anticorpos especí�cos para bactérias Complexos imunológicos Peptidoglicano e ácido teicóico Células hospedeiras mímicas (por exemplo, Streptococcus do grupo A) Reações de hipersensibilidade tardia Formação de granulomas Referências �. Baron, S., Editor. Medical Microbiology. 4th edition. Galveston (TX): University of Texas Medical Branch at Galveston; 1996. Introduction to Bacteriology. �. Woese, C.R., Fox, G.E. November 1977. Phylogenetic structure of the prokaryotic domain: The primary king- doms. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America. 74 (11): 5088–90. �. Cabeen, M.T., Jacobs-Wagner C. August 2005. Bacterial cell shape. Nature Reviews. Microbiology. 3 (8): 601–10.