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UNIP - Universidade Paulista, Sorocaba Teorias do currículo Sorocaba 2022 UNIVERSIDADE PAULISTA Teorias sobre o currículo Trabalho apresentado á Universidade Paulista-UNIP, na disciplina de Metodologia e pratica no ensino de História e Geografia. Orientadora: Maria Cristina Fernanda Coutinho RA:F272168 Sorocaba 2022 SUMÁRIO Introdução.....................................................................................................................4 Desenvolvimento..........................................................................................................5 Justificativa ..................................................................................................................7 Conclusão ....................................................................................................................9 Referencias..................................................................................................................9 3 Introdução É de senso comum que as tarefas de um educador são amplas e vão além da questão de lecionar conteúdos durante as aulas. Correção de provas e atividades, preparação de aulas, gestão de pessoas e formação continuada são alguns dos muitos pontos nos quais um docente se engaja cotidianamente. Entretanto, para além dessas questões o que ensinar e a metodologia para tal passam fortemente pelo núcleo da atividade principal de um educador, e é nesse campo que encontramos os estudos sobre teorias do currículo. Como percebemos pela leitura de Silva (1999) o campo das teorias do currículo são vastos, com visões de mundo e pluralidade filosófica-metodológica permeando fortemente as disputas que, também, passam por questões sociais como classe, raça e gênero. Ou seja, temos um terreno complexo, amplo e plural que vem sendo arena de embates desde as primeiras décadas do século XX. Nossa proposta com essa análise está longe de debater o processo histórico e todas suas variações de contexto e filosóficas, e sim de analisar na concepção de uma educadora e de uma unidade escolar. Com o questionamento de: qual concepção de teoria de currículo prevalece naquela escola e no trabalho educativo dessa professora? Realizamos um exercício de reflexão por via de uma breve entrevista, ou seja, nossa metodologia é, pelas respostas da docente, e amparados pelo texto de Silva (1999), apontar qual teoria do currículo prevalece. Se trata de um trabalho importante para pensarmos também sobre nossa prática pedagógica e sobre nossas concepções de educação, afinal se afirmar sendo um educador “tradicional”, “crítico” ou “pós-crítico”, ou seguindo as linhas de autores como Bobbitt, Dewey, Saviani, Apple ou Freire, nos parece cada vez mais uma questão superficial diante do concreto, que é a real forma de como nossas concepções se manifestam no espaço escolar e nos processos de ensino- aprendizagem. Mais do que se afirmar é preciso entender e conseguir perceber nossas contradições, pois somos indivíduos e sujeitos históricos. Assim como a professora entrevistada, a qual buscamos evitar senso comum de realizar algum juízo de valor, apenas analisamos suas falas sobre seu próprio desenvolvimento como educadora. 4 Desenvolvimento Segundo Silva (1999) a teoria tradicional possui algumas divergências, entre as quais analisamos as distinções entre o que Bobbitt e John Dewey buscam. Destacamos ambos pois se tratam do maior caso de divergência nesse campo teórico, além de serem autores clássicos. Dewey centra seu processo de ensino-aprendizagem no aluno/ criança, sendo o professor um mediador entre aquilo que é do interesse do discente. Ataca o currículo clássico, justamente, por ser distante dos interesses dos estudantes (p. 27), além de seu enfoque na questão da democracia. É considerado parte da tradição progressista da teoria tradicional. Bobbitt, por outro lado, busca a padronização na formação estudantil e entende o currículo como o cerne dessa organização (Silva, 1999, p. 24). Toma o modelo fabril como modelo ideal, inclusive na questão dos conteúdos pois despreza conteúdos que não tivessem o foco para preparação à vida profissional dos estudantes, como o latim e o grego (Ibidem, p. 26). Foca nas questões do utilitarismo escolar para a vida profissional. Em comum compartilham críticas ao foco do currículo clássico, em conhecimentos que entendem serem antiquados, ainda que por caminhos distintos. Sobre a teoria crítica é importante destacar a ampla gama de autores distintos apresentados, o que reflete exatamente a relação com classe, raça e gênero que se dá com a ascensão do pensamento marxista nas periferias do capitalismo no século XX e seu desdobramento em países como Inglaterra e França. Esses autores compartilham a preocupação com a luta de classes e a formação de crianças da classe trabalhadora, que vivem em condições sociais, familiares, culturais e econômicas muito distintas das crianças da classe dominante. Para nós brasileiros temos o embate entre o essencialismo-cristão de Paulo Freire, autor também disputado por núcleos do pensamento marxista, bem como Demerval Saviani, da UNICAMP, intelectual de raiz gramsciana. Entretanto como próprio Silva (Ibidem, p. 63) destaca ambos não vislumbravam construir teorias de currículo, apesar de terem imensas contribuições nesse campo. Para Saviani a educação se torna política na medida com a qual a classe trabalhadora se apropria dos mesmos conhecimentos da burguesia, dessa forma disputando a hegemonia política (Ibidem, p.63). Dessa forma ressalta o papel dos 5 clássicos e dos conhecimentos culturais produzidos pela humanidade como instrumento de luta e transformação da realidade. Freire (Ibidem, p. 61-62) reconhece a questão de classe e o papel de transformação social da classe trabalhadora, como Saviani, entretanto foca na questão de método e o foco dos estudantes no processo de formação curricular, junto ao professor (o que o distingue de autores liberais como Dewey, que centralizam no estudante e colocam o professor como mediador de conhecimento e não como sujeito parte dele). Ambos são autores bastante influentes na formação de professores brasileiros e autores reconhecidos internacionalmente, e reconhecem a relação dialética entre a escola e a sociedade. Entre os autores estrangeiros da teoria crítica destacaremos Michael Apple por possuir raízes teóricas compartilhadas com Saviani, o galês Raymond Willians e o italiano Gramsci, além de ser um autor próximo aos grupos freireanos e trazer o debate a respeito do currículo oculto. Para Apple “o currículo não é um campo neutro, inocente e desinteressado de conhecimentos. [...] A seleção que constitui o currículo é o resultado de um processo que reflete os interesses particulares das classes e dos grupos dominantes” (Ibidem, p. 46). O autor percebe o currículo como campo em disputa e resistência. As teorias pós-críticas, sobretudo nas periferias do capitalismo como na África pós descolonização da Europa, bebem fortemente nas fontes marxistas por trazerem à tona a questão de classe, o imperialismo e a exploração do homem pelo homem. Silva faz uma valiosa reflexão nessa relação entre ambas teorias: Sendo “pós”, ela não é, entretanto, simplesmente superação. Na teoria do currículo, assim como ocorre na teoria social mais geral, a teoria pós-crítica deve se combinar com a teoria crítica para nos ajudar a compreender processos pelos quais, através de relações de poder e controle, nos tornamos aquilo que somos. Ambas nos ensinaram, de diferentes formas, que o currículo é uma questão de saber, identidade e poder. (SILVA, 1999, p. 147) Na verdade, as teorias pós críticas buscam ampliar questõesdas teorias críticas trazendo o multiculturalismo e a heterogeneidade social e cultural mais em evidência, mas destacando que junto às questões classistas. Uma de suas principais distinções da teoria crítica está em não apostar na construção de uma consciência 6 centrada e unitária (Ibidem, p. 149), por isso valorizam a questão da identidade e o currículo como esse documento de identidade. Autores como Fanon, um marxista argelino (apesar de ter nascido na Martinica, colônia francesa, se denominava argelino), que bebe nas fontes das teorias críticas e pós críticas são alguns apresentados no texto de Silva que constroem íntimas relações entre ambas teorias, mas há aqueles como o francês Foucault que se limita com alguns pontos críticos, caminhando e construindo caminhos no campo pós-crítico. Agora que definimos as três teorias e seus principais desdobramentos e suas variantes partiremos para analisar a entrevista com a professora sorocabana. Perguntamos a respeito do Projeto Político Pedagógico de sua unidade escolar, se trabalhavam com material apostilado e se a equipe de professores participava da elaboração curricular. Após essas perguntas obtivemos as seguintes respostas: 1- “Nunca tive acesso PPP, porém a escola nos passa um breve resumo do conteúdo a ser trabalhado.” 2- “Sim, trabalhamos com material apostilado.” 3- “Não participamos da elaboração do currículo, quanto a execução, além de seguirmos a apostila, fazemos um trabalho para complementar o aprendizado dentro do que o currículo orienta.” Agora analisaremos e justificaremos nossa análise sobre as respostas da professora diante das teorias de currículo. 7 Justificativa 1- “Nunca tive acesso PPP, porém a escola nos passa um breve resumo do conteúdo a ser trabalhado.” Essa narrativa nos expressa pontos importantes para analisarmos de como as concepções de educação se expressam no cotidiano escolar. O Projeto Político Pedagógico [PPP] de uma unidade escolar são os principais pontos de valores, objetivos e as visões de mundo de educação daquele espaço, em tese deveria ser o norte de princípios e normas de uma escola. Um PPP é muito além de conteúdos a serem trabalhados, até porque nesse campo existe uma ampla gama de documentos como a BNCC, os currículos municipais e estaduais. Isso nos indica pouca dialogicidade do espaço escolar, e abre questões como o foco escolar no currículo e não na ação docente sobre o processo pedagógico, inclusive de como trazer sua bagagem formativa para o desenvolvimento desse, o que pode ter como resultado final a impossibilidade de abranger no processo escolar as especificidades dos estudantes da unidade escolar. Nesse aspecto avaliamos que se trata de uma concepção de teoria tradicional, inclusive sob uma perspectiva pedagógica nas bases de Bobbitt: [...] a questão do currículo se transforma em uma questão de organização. O currículo é simplesmente uma mecânica. A atividade supostamente científica do currículo não passa de uma atividade burocrática. Não é por acaso que o conceito central, nessa perspectiva, é desenvolvimento curricular [...] (SILVA, 1999, p. 24) Se o docente tem apenas contato com “breve resumo do conteúdo a ser trabalhado”, sem uma perspectiva de dialogicidade, a educação crítica se faz distante desse modelo, pois não pensar a questão dialética entre escola e sociedade e a questão do poder em volta do currículo, como em Apple (Ibidem, p. 49), percebemos uma relação produtivista com o que deve ser ensinado, e o processo de ensino-aprendizagem se encerra aí, sem reflexões, ações e movimentos. Nessa mesma linha questões de multiculturalismo, pós-colonialismo, gênero e demais pilares da concepção pós-crítica acabam completamente descartadas, até por questões que se aproximam mais das questões críticas (p. 90) do que da tradicional, não chegar perto sequer de pilares críticos inviabiliza o alcance para essas bases. 8 2- “Sim, trabalhamos com material apostilado.” Seguindo a linha proposta de reflexão anterior, o apostilamento reforça ainda mais nossa hipótese analítica de que se trata de uma concepção tradicional de educação nos fundamentos de autores como Bobbitt. Isso porque “um breve resumo do que ser trabalhado” seguido de um apostilamento nos remete à questão da preocupação de Bobbit com as variações e a necessidade de estabelecer um padrão (Ibidem, p. 24). 3- “Não participamos da elaboração do currículo, quanto a execução, além de seguirmos a apostila, fazemos um trabalho para complementar o aprendizado dentro do que o currículo orienta.” Bobbitt almejava do processo escolar algo padronizado tal como uma fábrica de aço, apostando na questão da modelagem (p. 24), a somatória desses processos apresentados nas respostas nos encaminha para essa questão da modelagem. Quando saem do material apostilado, a escola ajusta parâmetros, usando um termo fabril, com complemento do aprendizado, mas “dentro do que o currículo orienta”, ou seja, não há reconhecimento de individualidades e/ou historicidade no processo de ensino-aprendizagem, nesse caso. 9 Conclusão Houve predominância da teoria tradicional, mas mais especificamente da tradição de Bobbitt. Sequer é feita menção à participação dos estudantes na elaboração de questões curriculares e afins, na verdade mesmo os professores, nesse caso, sequer são parte do processo. Descartamos a teoria clássica também porque em momento algum faz referência aos clássicos ou mesmo elaborações em torno de um repertório cultural com latim, grego e outros conteúdos típicos desse campo teórico. Sendo o foco a orientação curricular e o apostilamento. Referencias SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade; uma introdução as teorias do currículo. Belo Horizonte - MG, Editora Autêntica, 1999. 10
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