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Autores: Prof. Claudio Scheidt Guimarães Prof. Ricardo Calasans Colaboradores: Prof. Fabio Ricardo Brandão dos Santos Profa. Tânia Sandroni Segurança do Trabalho, Saúde e Meio Ambiente Professores conteudistas: Claudio Scheidt Guimarães / Ricardo Calasans © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) G963s Guimarães, Claudio Scheidt. Segurança do Trabalho, Saúde e Meio Ambiente / Claudio Scheidt Guimarães, Ricardo Calasans. – São Paulo: Editora Sol, 2021. 164 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Legislação. 2. Estrutura. 3. Segurança. I. Guimarães, Claudio Scheidt. II. Calasans, Ricardo. III. Título. CDU 658.382.3 U511.11 – 21 Claudio Scheidt Guimarães Consultor ambiental e hospitalar pela GeoScheidt Científica em Gestão, Certificações Hospitalares e Ambientais, mestre em engenharia de produção. Orientador do Projeto de Engenharia Conic (Congresso de Iniciação Científica) em 2013, 2015, 2018 e 2019 – sustentabilidade, resíduos hospitalares, construção civil e indústria 4.0. Docente da Universidade Paulista (UNIP). Ricardo Calasans Bacharel em Engenharia de Produção Mecânica pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), em Direito e Medicina Veterinária pela UNIP. Pós-graduado em Engenharia de Segurança do Trabalho, Informática e em Formação em Educação a Distância pela UNIP. Mestrado profissional em Engenharia de Produção pela UNIP. Docente titular da Unidade Paulista (UNIP). Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcello Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Aline Ricciardi Vitor Andrade Sumário Segurança do Trabalho, Saúde e Meio Ambiente APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 DESENVOLVIMENTO DA SEGURANÇA DO TRABALHO E RESPECTIVA LEGISLAÇÃO ................9 1.1 Histórico da segurança do trabalho no Brasil e no mundo ...................................................9 1.2 Legislação acidentária ........................................................................................................................ 21 2 NORMAS DE SEGURANÇA E INVESTIGAÇÃO DE ACIDENTES ........................................................ 27 2.1 Apresentação das NRs – Lei n. 6.514/1977; Portaria n. 3.214/1978 ............................... 27 2.2 Investigação das causas de acidentes do trabalho................................................................. 33 Unidade II 3 ESTRUTURA DE GESTÃO DE SEGURANÇA PREVISTA NAS NORMAS REGULAMENTADORAS .................................................................................................................. 45 3.1 Programa de prevenção de riscos ambientais – NR 9 (PPRA)............................................ 45 3.2 Organização e constituição da comissão interna de prevenção de acidentes (Cipa) – NR 5 ............................................................................................................................. 47 3.3 Programa de controle médico de saúde ocupacional (PCMSO) – NR 7 ........................ 56 4 SEGURANÇA NOS AMBIENTES DE TRABALHO .................................................................................... 58 4.1 Higiene no trabalho ............................................................................................................................. 58 4.2 Proteção contra incêndios (NR 23) ............................................................................................... 61 Unidade III 5 HISTÓRICO DA QUESTÃO AMBIENTAL .................................................................................................... 84 5.1 Princípios da Gestão Ambiental na Câmara Internacional de Comércio (ICC) ........... 91 6 ESTRUTURA DA ÁREA DE GESTÃO AMBIENTAL .................................................................................. 93 6.1 Planos de ação e estratégias ecológicas ..................................................................................... 97 Unidade IV 7 ESTUDOS E RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL (EIA/RIMA) ....................................................105 8 AUDITORIA AMBIENTAL ..............................................................................................................................107 8.1 Leis dos crimes ambientais .............................................................................................................112 7 APRESENTAÇÃO Este livro-texto busca apresentar os principais conceitos e conhecimentos necessários sobre o tema segurança do trabalho e meio ambiente a fim de permitir que os profissionais da área tenham uma visão dos principais tópicos desse assunto e possam, dentro das suas competências profissionais, exercer suas atividades com excelência. A segurança do trabalho abrange todas as atividades econômicas e busca garantir a proteção dos trabalhadores nas suas mais diversas atividades, permitindo que desenvolvam suas tarefas diárias sem que isso afete a sua saúde ou sua integridade física. Para um gestor, é fundamental poder ter essa visão de forma a adequar os ambientes e as atividades profissionais na rotina do trabalho a ser executado, atendendo à legislação pertinente e também focando a saúde e segurança dos seus funcionários. A atividade de segurança patrimonial também pode se enquadrar em atividade periculosa, conforme a Norma Regulamentadora (NR) 16, necessitando do conhecimento sobre periculosidade e atividade de risco acentuado para compreensão do tema e boa gestão das tarefas. INTRODUÇÃO Este livro-texto busca apresentar os conceitos fundamentais da segurança do trabalho e sua gestão, bem como as principais NRs, importantes para o conhecimento do profissional a fim de poder melhor desempenhar as funções da atividade. Apresentaremos os conceitos de acidente do trabalho e a legislação que trata desse assunto. Inicialmente, serão abordadas a história e a evolução da segurança do trabalho no mundo e no Brasil. Entender o passado é vital para ter uma boa compreensão do presente e também para fazer projeções. Na questão da segurança do trabalho, é frequente a necessidade de analisar demandas futuras, assim, reforça-se ainda mais a importância do conhecimento do desenvolvimento dos sistemas de gestão, dos conceitos e da legislação voltados à segurança do trabalho. A legislação é um ponto essencial, uma vez que a segurança do trabalho está fortemente ligada a leis e normas técnicas. Por isso, veremos as principais NRs, que formam uma base para a gestão de segurança do trabalho em todas as empresas. Da mesma forma que as empresas são dinâmicas e passam constantemente por mudanças, as NRs passam por revisões e atualizações e devem ser sempre consultadas na sua últimaversão quando forem aplicadas. A investigação de acidentes mostra-se de grande relevância para que possamos ter compreensão da forma pela qual ocorrem e onde as barreiras de proteção estão falhando para corrigi-las no que for necessário a fim de evitar que situações semelhantes aconteçam e, principalmente, prevenir danos à saúde ou à integridade física do trabalhador. Assim sendo, a investigação de acidentes torna-se fundamental para a correta compreensão das causas reais e das medidas a serem adotadas a fim de Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar 8 impedir que esses acidentes se repitam, controlando riscos e melhorando os protocolos de segurança a serem adotados. Um dos principais programas que as empresas devem desenvolver e aplicar se encontra na NR 9, o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), que envolve a necessidade de antever os riscos, identificá-los, priorizá-los e determinar as medidas de controle quando não for possível eliminá-los do processo. Os procedimentos adotados terão a sua eficácia comprovada quando o médico do trabalho desenvolver o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSC), previsto na NR 7, fortemente embasado no PPRA. Outra estrutura importante, quando bem desenvolvida, para a constante melhoria dos ambientes de trabalho na ótica da segurança do trabalho, é a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes, a Cipa. Composta por funcionários da empresa que formarão um canal de comunicação do “chão de fábrica” com a administração, agilizando a tomada de decisões a fim de resolver questões apresentadas nas reuniões da Cipa ou também no acompanhamento da investigação dos acidentes e na busca das medidas de proteção necessárias para evitá-los. Mencionando ambientes de trabalho, torna-se fundamental falar de higiene do trabalho, que trata de qualificar os riscos, entre físicos, químicos e biológicos, quantificá-los para que se possa analisar os limites de tolerância a que estão expostos e, quando necessário, determinar as proteções adequadas para garantir a saúde e integridade física do trabalhador. Também aprenderemos sobre o histórico das questões ambientais, a importância das auditorias, da legislação ambiental, os princípios da Câmara Internacional de Comércio (ICC), as principais áreas subsequentes da administração agroecológica, consecutivamente, o conceito de sustentabilidade, as estratégias ambientais e organizacionais, além de realizar uma análise crítica do principal modelo de planejamento estratégico existente no cenário atual. As análises mostraram que os modelos de planejamento estratégico existentes são baseados principalmente em fatores econômicos e competitivos, abordando os fatores ambientais e sociais de forma sistêmica. Além disso, a aplicação proativa de estratégias ambientais e sociais pode levar as empresas a melhorar sua competitividade. Com base nas deficiências dos modelos existentes em função das novas necessidades de desenvolvimento empresarial sustentável, foi desenvolvido um novo planejamento estratégico que leva em consideração as mudanças do ambiente e a responsabilidade social na gestão. Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar 9 SEGURANÇA DO TRABALHO, SAÚDE E MEIO AMBIENTE Unidade I 1 DESENVOLVIMENTO DA SEGURANÇA DO TRABALHO E RESPECTIVA LEGISLAÇÃO 1.1 Histórico da segurança do trabalho no Brasil e no mundo Quando queremos entender o presente, é importante conhecer o passado. Vamos, assim, analisar a origem da palavra “trabalho” na nossa língua. Sua origem ocorre da palavra tripaliu, um termo em latim que significava “instrumento formado por três paus” (tri-paliu), utilizado por agricultores para bater o trigo ou outros produtos da lavoura pelo qual eles poderiam esfiapá-los ou mesmo rasá-los. Porém o tripaluim é lembrado como um instrumento usado para torturar, se ligando ao verbo em latim tripaliare, que significa “torturar”, ou seja, essa palavra era associada a castigo ou sofrimento, sempre uma interpretação negativa. Nas referências de Aristóteles, ele mencionava a necessidade de que os escravos, os executores do trabalho na época, fizessem-no para que seus donos pudessem ter uma vida dedicada à perfeição. Assim, o trabalho era associado a um desvalor, já que o ócio era valorizado e permitiria ao homem aperfeiçoar-se, tendo uma vida contemplativa. Esse significado se manteve até o início do século XV, tendo evoluído depois para o significado de “laborar” ou “obrar”. Dessa forma, a palavra começou a ser utilizada para representar uma atividade na qual se colocam forças, corporais ou espirituais, focadas em uma finalidade específica que resulta em um produto ou uma mudança de situação ou estado. Por isso, toda vez que falamos em “trabalho”, supomos uma atividade ou esforço para uma finalidade específica. Saiba mais Para aprofundar seu conhecimento sobre trabalho, você poderá acessar o link do livro de Suazane Albornoz: ALBORNOZ, S. O que é trabalho. São Paulo: Brasiliense, 1994. v. 171. (Coleção Primeiros Passos). Disponível em: https://brito964.files.wordpress. com/2013/06/o-que-c3a9-trabalho-suzana-albornoz.pdf. Acesso em: 14 jan. 2021. Com a mudança na interpretação do conceito de trabalho, adquirindo uma conotação positiva, ele começou a ser compreendido como um valor do homem e da sociedade, uma manifestação da cultura. Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar 10 Unidade I Mas mesmo na Antiguidade, em que o trabalho era executado por escravos, já se observava a sua relação com a saúde ou as doenças, porém, como havia abundância de mão de obra (escravos), não era uma preocupação buscar formas para cuidar da saúde deles. Mesmo assim, Hipócrates (460-375 a.C.) estudou determinada ocorrência na qual observava escravos que trabalhavam na mineração, descrevendo o que seria a intoxicação gerada pelo contato com chumbo: o saturnismo. Mais tarde, temos referências a Plínio (23-79 d.C.), que, em seu tratado Naturalis Historia, registrou essa mesma ocorrência em relação aos escravos que trabalhavam em contato com poeiras e chumbo e fez o que se tem como a primeira descrição de um equipamento de proteção individual: o uso de panos ou membranas de bexiga de animais cobrindo o rosto para minimizar a inalação das poeiras nocivas à saúde. Ele também relatou moléstias que afetavam o pulmão e situações de intoxicação para quem manuseava ou tinha contato com enxofre e zinco, resultando em envenenamento. Em torno de 1550, no livro publicado por George Bauer, um pesquisador alemão, intitulado De re metallica, são narradas doenças nos mineradores que lidavam com fundição de metais, em especial, ouro e prata, descrevendo a chamada “asma dos mineiros”, conhecida hoje como silicose, considerada uma das doenças ocupacionais entre as mais antigas relatadas. Pela inalação de partículas de sílica, são causadas lesões nos tecidos do pulmão que, ao cicatrizarem, perdem sua função de troca gasosa e tornam a respiração cada vez mais difícil. Bernardino Ramazzini, médico italiano que morava em Modena, na Itália, publicou em 1700 a sua obra De mordis artificum diatriba, ou seja, As doenças dos trabalhadores. Uma grande façanha atribuída a Ramazzini foi ele ter relacionado o trabalho com riscos à saúde, como o contato do trabalhador com poeiras, metais, produtos químicos, entre outros, considerando que sua ocupação poderia trazer danos. Com a análise da ocupação do trabalhador, observando seu ambiente de trabalho e sua atividade, Ramazzini foi reconhecido como o pai da medicina ocupacional. Ele orientava seus colegas médicos a sempreperguntarem ao paciente qual era a sua atividade, sendo que essa constatação lhes permitiria saber quais os agentes de risco aos quais o paciente estava exposto. Dessa forma, vários médicos, bem como higienistas, começaram a fazer a análise qualitativa dos agentes de risco, o que possibilitou o desenvolvimento do conhecimento em várias áreas exercidas pelos trabalhadores, por exemplo, as observações do médico Patissier, francês, que, ao aprofundar seus estudos nas atividades dos ourives, recomendava-lhes que de tempos em tempos levantassem a cabeça e olhassem para o horizonte distante, buscando, assim, evitar a fatiga visual. Recentemente, na década de 1990, observamos um problema correspondente para quem trabalha muito tempo com o foco visual de curta distância: a síndrome da visão de computador (SVC), em que o estresse visual causado por manter o foco por muito tempo entre tela do computador, teclado, documentos, em distâncias entre 30 a 40 cm, geralmente, causa distúrbios visuais. Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar 11 SEGURANÇA DO TRABALHO, SAÚDE E MEIO AMBIENTE Observação A SVC também é conhecida como CVS, que, em inglês, significa computer vision syndrome. Refere-se a uma situação temporária na qual a pessoa mantém o foco dos olhos em um monitor de vídeo por tempo prolongado gerando um estresse visual tanto pela contração necessária para o foco em curta distância, como agravado pela diminuição da frequência das piscadas, que produz o ressecamento da córnea com diversas consequências: visão embaçada, frequentes dores de cabeça, olhos secos, entre outras. Entre 1760 e 1840, tivemos a Revolução Industrial. Nesse período, ocorreu um enorme desenvolvimento tecnológico com a invenção de muitas máquinas e dispositivos que aumentaram a capacidade de produção ao longo do tempo, mas, principalmente, ocorreu a mudança do método artesanal de produção para a produção por máquinas. Assim, o ambiente de trabalho, que antes era a oficina do artesão, tornou-se os galpões das indústrias, que enfileiravam suas máquinas para a produção de tecido, produtos químicos, ferro, entre outros, utilizando-se da recente invenção da máquina a vapor para gerar a energia mecânica necessária a fim de movimentar as máquinas da indústria. Isso também mudou a relação de trabalho entre o aprendiz e o artesão para o empregado da indústria, que executava suas atividades por longas jornadas de trabalho e em condições quase sempre insalubres e/ou perigosas. A massa trabalhadora começou a unir-se e lutar por melhores condições de trabalho, gerando tensão social nos países que vivenciavam a Revolução Industrial. Essa situação tornou-se tão influente que, em 1891, o Papa Leão XIII escreveu em sua carta encíclica, “Rerum Novarum”, sobre as questões relacionadas às relações de trabalho, na qual apoiava o direito dos trabalhadores de se organizarem em sindicatos, porém ele era contra os conceitos tanto do socialismo como do capitalismo e também dissertava sobre o respeito necessário ao direito da propriedade, pois alguns movimentos de trabalhadores da época pretendiam invadir fábricas e tomar as máquinas. O Papa Leão XIII colocou em discussão as relações entre os governos, o trabalho, os negócios e a Igreja. Observação Vale ressaltar que na época da Revolução Industrial a Igreja tinha grande influência sobre os governos e a sociedade, além de passar por atualizações no pensamento social católico e de sua hierarquia. Saiba mais Caso deseje aprofundar seu conhecimento sobre a carta encíclica “Rerum Novarum” do Papa Leão XIII, poderá acessá-la através do link: LA SANTA SEDE. “Rerum novarum”. [S.l.], [s.d.]. Disponível em: http:// www.vatican.va/content/leo-xiii/pt/encyclicals/documents/hf_l-xiii_ enc_15051891_rerum-novarum.html. Acesso em: 14 jan. 2021. Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar 12 Unidade I Sem dúvida, a Revolução Industrial foi além de novas tecnologias e processos produtivos que surgiram com o uso da máquina a vapor e novos maquinários, pois alterou a relação do homem com o trabalho, bem como do empregador com o empregado. Se forem pesquisadas imagens das áreas produtivas das indústrias dessa época, vão ser encontrados homens, mulheres e também crianças trabalhando em jornadas longas e exaustivas, que chegavam facilmente entre quatorze a dezesseis horas por dia, e em condições penosas e ambientes insalubres na maioria das vezes. Essas condições de trabalho, sobrecarga excessiva e a baixa remuneração, bem como o adoecimento devido aos ambientes insalubres, entre outras situações, levaram os trabalhadores a se organizarem cada vez mais através de associações ou sindicatos e a lutarem por condições melhores, mas cada grupo que se formava seguia lideranças e ideologias distintas. Como cada um agia de forma diferente, isso enfraquecia a luta dos trabalhadores. Um marco da legislação internacional voltada à proteção do trabalho, conhecida como Leis das Fábricas (Factory Law), foi aprovado pelo parlamento britânico em 1802. Tinha o objetivo de proteger as crianças e as mulheres dentro dos ambientes industriais, bem como de jornadas prolongadas. Foi aplicada inicialmente na indústria têxtil e, em 1872, começou a ser aplicada em todas as demais indústrias. Em 1864, nasce a Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), também conhecida como Internacional. Uma reunião da AIT em Londres concentrou aproximadamente 2 mil trabalhadores e diversos delegados de organizações operárias de vários países da Europa, conseguindo até mesmo superar os limites geográficos do continente europeu, reunindo não somente países europeus, mas também os Estados Unidos, além de agregar os trabalhadores que faziam parte das mais diversas correntes ideológicas já existentes, conforme observou Hobsbawm (1977). A AIT, ao longo da sua história, contribuiu com o desenvolvimento do movimento operário e dava apoio às greves, aos sindicatos e às sociedades que faziam resistência ao modelo. Apoiou o primeiro governo operário da história, conhecido como Comuna de Paris, da qual vários de seus membros faziam parte. A Comuna foi criada em 1871 em Paris durante a atividade de resistência do povo frente à invasão do Reino da Prússia. Figura 1 – Barricada erguida para defender a cidade, na esquina da rua Voltaire com Richard-Lenoir, em 1871, tomada pelo exército regular e cujo final foi a revolta suprimida Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar 13 SEGURANÇA DO TRABALHO, SAÚDE E MEIO AMBIENTE Segundo Musto (2014), estima-se que as filiações à AIT, entre 1870 e 1872, tenham ultrapassado a cifra de 150 mil membros. Foram realizados cinco congressos gerais nos quais eram discutidas questões relacionadas, entre outros interesses da classe trabalhadora, a condições de trabalho. A solidariedade também surgiu entre os trabalhadores de toda a Europa, desenvolvendo a colaboração entre eles a fim de fortalecer suas lutas: redução da jornada de trabalho para oito horas com melhores condições de trabalho, principalmente, para as crianças e mulheres. A seguir, a ficha de filiação da AIT. Figura 2 – Carta de filiação à AIT Conforme o principal estudioso da AIT na época, Testut (apud TAITHE, 2001), na Europa, a AIT tinha mais de 800 mil membros. Após a derrota em Paris, conforme publicou o jornal The Times, estimou-se em torno de 2,5 milhões de membros, mas Testut dizia que eram em torno de 5 milhões (apud MUSTO, 2014). Isso mostra a importância e a forçaque a classe proletária estava conseguindo reunir na luta por condições melhores de trabalho em todos os países; mesmo suas reivindicações sendo consideradas ilegais na maioria deles e agindo de forma clandestina, a AIT mostrava-se uma força relevante entre a classe operária e com grande capacidade de agregar os mais diversos movimentos operários espalhados pela Europa. Cesar Destacar 14 Unidade I Observação Entre os membros do conselho geral que dirigia a AIT, encontrava-se Karl Marx, conhecido revolucionário socialista, foi quem redigiu os estatutos gerais da organização, pois ele era o único membro capaz de escrever em francês, bem como em alemão e inglês. Porém, após divergências entre pensamentos políticos e ideologias presentes dentro da cúpula da AIT e do seu último congresso internacional, que ocorreu na Bélgica na cidade de Verviers, considerado um fracasso, já que não foi capaz de mobilizar um amplo apoio entre as classes trabalhadoras, a AIT finalizou suas atividades, deixando seu legado para a história das lutas sociais. Criada em 1889, conhecida como a Segunda Internacional, se apresentava como a continuidade da AIT, também chamada de Internacional Socialista (IS). Existia, nesse período, um forte movimento operário de massas, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos. A IS rapidamente se tornou reconhecida e ganhou força. Dentro da IS, existiam correntes diferentes de pensamentos que vinham da sua formação inicial, feita por partidos socialistas democráticos e reformistas. A Europa passava por grandes disputas políticas e pelo desenvolvimento de modelos teóricos e filosóficos sobre o marxismo, sendo que muitas linhas de pensamentos diferentes causavam divisões entre as classes operárias e seus representantes, enquanto, por outro lado, o capitalismo se mantinha forte entre as principais nações. Os principais dirigentes operários esperavam conseguir representação política para gradualmente e de forma pacífica superar e reformar o capitalismo. Cabe citar que foi através do primeiro congresso da IS que foi adotada a resolução definindo o dia 1º de maio para celebrar o dia internacional do trabalho como forma de manifestar a solidariedade entre os trabalhadores de todos os países. A IS também discutia e lutava em seus congressos por maneiras de combater o militarismo e impedir a guerra que se anunciava, sem sucesso. A Primeira Guerra Mundial eclodiu em 1914, envolvendo as grandes potências mundiais e suas políticas imperialistas. Esse evento teve proporções globais, pois os conflitos se espalharam pelas colônias. A Guerra mobilizou milhões de militares e europeus e também investimentos no desenvolvimento tecnológico para a fabricação de armas com maior letalidade. Após o término da Guerra em 1919, ocorreu a Conferência de Paz de Paris, impondo uma série de tratados, entre eles, o Tratado de Versalhes, que oficialmente finalizou a Primeira Guerra Mundial. Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar 15 SEGURANÇA DO TRABALHO, SAÚDE E MEIO AMBIENTE Figura 3 – Tratado de Paz assinado em Versalhes em 1919 Saiba mais A promulgação do Tratado de Paz pode ser vista no link: BRASIL. Decreto n. 13.990, de 12 de janeiro de 1920. Promulga o Tratado de Paz entre os países aliados, associados e o Brasil de um lado e de outro a Alemanha, assinado em Versailles em 28 de junho de 1919. Rio de Janeiro, 1920. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ decreto/1910-1929/D13990.htm. Acesso em: 20 jan. 2021. Após a assinatura do Tratado de Paz, foi criada a Organização Internacional do Trabalho (OIT), havendo o consenso de que para haver paz, era necessário que o mundo tivesse justiça social. A questão do trabalho está diretamente ligada a isso, sendo a dignidade do trabalho um dos pontos principais da organização. Depois de discutir o custo humano da Revolução Industrial, a legislação trabalhista internacional tornou-se mais próxima de acontecer com a criação da OIT. Uma característica importante da OIT é a sua estrutura tripartite, ou seja, ela é formada por três elementos fundamentais que debatem a questão do trabalho: governo, empregados e empregadores. Na sede da OIT, em Genebra, na Suíça, o portão da entrada possui uma fechadura que precisa de Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar 16 Unidade I três chaves para ser aberto, representando, assim, a necessidade de sempre estarem presentes esses personagens. Em 1946, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) foi criada, a OIT passou a fazer parte da sua estrutura. Observação O Brasil faz parte dos países fundadores da OIT, participando desde a primeira conferência internacional, que ocorre todos os anos em Genebra, na Suíça. Dela, resultam as recomendações e as convenções da OIT. O Brasil, como país membro da OIT, deve buscar ratificar em lei nacional as convenções que resultam das suas conferências internacionais, promovendo as normas internacionais do trabalho e do emprego, bem como as melhorias nas condições de trabalho e nas questões relativas à proteção social, caracterizada pela promoção de trabalho decente, que abrange outros temas, como combate ao trabalho infantil, ao trabalho escravo, tráfico de pessoas, entre outros. Também em 1919, Lênin (Vladimir IIyich Ulianov) criou a Terceira Internacional, ou também conhecida por Comintern, que teve o objetivo de reunir os partidos comunistas de todo o mundo e lutar contra o capitalismo para implantar o socialismo. Após a morte de Lênin, Josef Stalin tomou o governo da União Soviética. Como tinha desconfianças das ações do Comintern, buscou transformá-lo em um instrumento de política externa. No final de 1922, surge a nova Associação Internacional dos Trabalhadores, que existe até hoje, com ideologia anarcossindicalista e buscando retomar o legado da AIT original em relação aos princípios do sindicalismo revolucionário. A Segunda Guerra Mundial iniciou-se em 1939 e, nesse período, a Associação passava por conflitos internos devido a correntes ideológicas diferentes. Em 1940, sofreu uma ruptura: em torno de 40% dos seus membros se desligaram, estes fundaram, então, o Partido dos Trabalhadores. Mas vamos focar agora nas questões trabalhistas do Brasil. Como apresentado, o Brasil é um dos estados membros da OIT e desde a década de 1950 possui uma representação nesse órgão. Esse fato é importante para a evolução da nossa legislação trabalhista, pois, ao ratificar as convenções da OIT, elaboramos leis que foram alterando as relações de trabalho do Brasil ao longo da história. Considerado uma das primeiras referências legais voltada à proteção do trabalhador, o Decreto n. 1.313, publicado em 1891, tratava de regularizar o trabalho dos menores de idade nas fábricas da capital federal. Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar 17 SEGURANÇA DO TRABALHO, SAÚDE E MEIO AMBIENTE Saiba mais O Decreto n. 1.313 pode ser consultado no seu texto original pelo link: BRASIL. Decreto n. 1.313, de 17 de janeiro de 1891. Estabelece providências para regularizar o trabalho dos menores empregados nas fábricas da Capital Federal. Brasil, 1891. Disponível em: https://www2. camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-1313-17-janeiro- 1891-498588-publicacaooriginal-1-pe.html#:~:text=Estabelece%20 providencias%20para%20regularisar%20o,nas%20fabricas%20da%20 Capital%20Federal. Acesso em: 20 jan. 2021. Em seguida, cabe destacar a Lei n. 3.724, de 1919, que regulamentou as obrigações decorrentes de um acidente no trabalho. No seu primeiro artigo, essa lei define o que seria considerado acidente de trabalho: Art. 1º Consideram-se acidentes no trabalho,para os fins da presente lei: I a) o produzido por uma causa súbita, violenta, externa e involuntária no exercício do trabalho, determinando lesões corporais ou perturbações funcionais, que constituam a causa única da morte ou perda total, ou parcial, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho; I b) a moléstia contraída exclusivamente pelo exercício do trabalho, quando este for de natureza a só por si causá-la, e desde que determine a morte do operário, ou perda total, ou parcial, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho (BRASIL, 1919). Pode-se observar que já está mencionada a questão das doenças decorrentes da atividade laboral, que ainda hoje é um problema que causa sofrimento para os trabalhadores acometidos pelas doenças laborais e custos para toda a sociedade. Outro marco importante no nosso país foi a entrada, em 1943, ainda em vigor, da Consolidação das Leis Trabalhistas, a CLT, resultado de um apanhado de todas as legislações criadas nos entes federativos e reunida de forma a atender todo o Brasil. O Brasil era essencialmente rural nessa época. Na década de 1960 para 1970, a distribuição da população foi alterada, pois ela se mudara para os grandes centros urbanos em busca de empregos e melhores condições de vida, sendo acolhida, em sua grande parte, pela indústria da construção civil, que não parava de se expandir. Ao mesmo tempo, o número registrado de acidentes de trabalho crescia, até que, no início da década de 1970, conhecida como a era industrial do Brasil, pois foi o período de maior crescimento da indústria, chegou-se a atingir 1.800.000 acidentes de trabalho, fazendo com que o país fosse cobrado por medidas de controle para mudar esse cenário. Com isso, em 1977, a Lei n. 6.514 foi Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar 18 Unidade I publicada, que fez alterações na CLT, abordando questões relativas à segurança e medicina do trabalho. Em 1978, foi publicada a Portaria n. 3.214, que aprovou vinte e oito NRs. Conforme os dados de acidentes de trabalho no Brasil, apresentados nos anuários estatísticos de acidentes do trabalho e previdência (KIECKBUSCH, [s.d.], p. 14; BRASIL, 2018, p. 7), podemos ver que o país ainda tem um alto número de acidentes, como segue: • 1998 – 414.341 • 1999 – 387.820 • 2000 – 363.868 • 2003 – 399.077 • 2004 – 465.700 • 2005 – 499.680 • 2006 – 512.232 • 2007 – 659.523 • 2008 – 755.980 • 2009 – 733.365 • 2010 - 709.474 • 2011 – 720.629 • 2012 – 713.984 • 2013 – 725.664 • 2014 – 704.136 • 2015 – 622.379 • 2016 – 585.626 • 2017 – 549.405 Cesar Destacar 19 SEGURANÇA DO TRABALHO, SAÚDE E MEIO AMBIENTE Ao analisar esses números, considerar a situação econômica pela qual o país estava em cada momento, pois, em tempos de crises, o número de desempregados aumenta, e os dados apresentados nesse anuário se referem apenas aos trabalhadores com carteira de trabalho assinada. O trabalhador informal não entra nessas estatísticas. A nossa realidade coloca o Brasil em quarto lugar no ranking mundial de acidentes do trabalho, sendo que um acidente ocorre a cada 48 segundos e uma morte a cada 3h38, conforme a Associação Nacional de Medicina do Trabalho – ANAMT (2017). Saiba mais Para consultar dados a respeito de acidentes do trabalho, afastamentos, mortes, entre outros, você poderá acessar o Observatório de Segurança do Trabalho pelo link: Plataforma SmartLab. Disponível em: https://smartlabbr.org/. Acesso em: 15 mar. 2021. Além do padecimento humano de quem sofre um acidente, ou da família que perde um parente em um acidente fatal, ou mesmo daquela que passa a cuidar de quem era responsável pelo sustento do lar e adquiriu uma doença ocupacional que deixou o trabalhador inapto para exercer sua função, necessitando de tratamento e auxílio, há os altos custos para a sociedade devido ao uso dos serviços de saúde, dos afastamentos que passam de 15 dias, das aposentadorias especiais, entre outros serviços públicos demandados, gerando uma despesa para o país em torno de 4% do nosso PIB. Estima-se que os gastos com acidente do trabalho no Brasil sejam em torno de R$ 70 bilhões anualmente. Quando investimos em segurança do trabalho, estamos contribuindo não somente com a segurança e saúde do trabalhador, mas com a economia do país. Podemos dizer que existem duas causas básicas de acidentes do trabalho. A primeira está relacionada às condições ambientais; a manutenção dos equipamentos, a organização e limpeza do ambiente, entre outras ações, podem resolver essa questão. É responsabilidade da empresa proporcionar ambientes seguros e adequados para o trabalhador poder executar suas atividades sem riscos a sua saúde ou integridade física. A segunda causa de acidentes está relacionada com a falha humana, também conhecida como ato inseguro, termo mal utilizado, buscando “transmitir” a responsabilidade do acidente ocorrido ao trabalhador, mas, na verdade, a única certeza é que ocorreu uma falha humana, sendo que esta tem várias origens, como veremos a seguir: • Falta de treinamento ou capacitação. • Falta de conhecimento sobre os riscos da atividade. Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar 20 Unidade I • Perturbação emocional, comportamental ou mental. • Consumo de drogas ou bebidas alcoólicas. • Sobrecarga ou jornadas prolongadas. • Comportamento inadequado. Assim, são causas que residem exclusivamente no fator humano. Quando analisamos os acidentes, devemos buscar compreender as suas causas, e não buscar culpados. A responsabilidade sobre o acidente será papel da justiça determinar, quando for o caso. Fazer uma gestão de riscos é importante em todas as atividades que desenvolvemos, uma vez que sempre encontramos riscos que podem ter grande potencial de dano humano, patrimonial e ambiental. Mas para fazer uma gestão de riscos, devemos entender alguns conceitos fundamentais na segurança do trabalho. O primeiro é definir o que se considera perigo. Perigo é a fonte que causa um dano, ou um prejuízo, ou mesmo uma situação que tenha o potencial para causar prejuízo ou algum tipo de dano. É importante identificarmos as fontes de perigo, pois, quando possivel, se eliminarmos essa fonte do ambiente, eliminamos os riscos que ela oferece às pessoas que se encontram nesse local. Mas, na maioria das vezes, essa fonte de perigo faz parte do processo e, se for eliminada, torna-se impossível executá-lo. Vamos para um exemplo prático: muito provavelmente, nesse momento em que você está lendo este livro-texto, há, próximo de você, uma fonte de energia elétrica. Sabemos que a energia elétrica é uma causa de perigo, pois ela pode, quando utilizada incorretamente ou com instalação inadequada, iniciar um incêndio, causar uma eletrocussão, entre outros incidentes. Então, por que não eliminamos essa fonte de perigo? Porque a eletricidade se faz necessária para o funcionamento do seu computador, para carregar o seu celular, para iluminar o local e tem muitas outras utilidades. Se a eletricidade do nosso ambiente fosse eliminada, deixaríamos de executar a maioria das atividades que estamos fazendo ou da forma pela qual estamos fazendo. Outra questão a ser bem compreendida diz respeito ao risco. O risco é um indicador composto pela probabilidade de ocorrência e o potencial de dano que pode causar. Podemos também dizer que risco é a probabilidade de perigo. Seguindo o exemplo que demos, analisando a instalação elétrica, determinaremos se há um alto risco de sofremos uma eletrocussão; ou, se a instalação estiver adequada e em ordem, um baixo risco de isso acontecer. Da mesma forma analisaremos a voltagem dessa instalação, se o potencial de dano é maior ou menor. Caso seja com baixa voltagem, dificilmentecausará algum dano à pessoa, mas a partir de certa tensão, já haverá potencial de causar uma queimadura ou mesmo uma parada respiratória ou cardíaca, podendo resultar em morte. Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Máquina de escrever RISCO É A RELAÇÃO ENTRE A PROBABILIDADE DE OCORRÊNCIA E O POTENCIAL DE DANO! 21 SEGURANÇA DO TRABALHO, SAÚDE E MEIO AMBIENTE O que fazemos na segurança do trabalho é gerenciar os riscos para mantê-los sob controle e evitar que eles causem danos ou acidentes. 1.2 Legislação acidentária A questão da legislação acidentária no Brasil deve ser analisada ao longo da evolução histórica brasileira e da própria legislação, nas quais vamos averiguar como a seguridade social nacional se desenvolveu. Para tanto, é necessário lembrar-se do desenvolvimento das condições sociais do Brasil, cuja desigualdade é um problema que persiste até os dias atuais. Quando se analisa a origem da seguridade social no resto do mundo, pode-se observar que ela está ligada à dignidade da pessoa humana, buscando dar as garantias dos direitos fundamentais que fazem parte do âmago do cidadão, chamados de “direitos naturais”. Uma característica da essência humana é a busca por proteger e promover o sustento próprio e o da sua família. Ao longo da evolução humana, pode-se observar como o homem foi se adaptando a situações e ações adversas que a vida lhe impunha, como doença, fome, envelhecimento, e, nas relações de trabalho, o desemprego. Dessa forma, a preocupação do homem em manter o sustento de sua família frente a tantas situações adversas e a busca por sempre garantir obter o mínimo para a sua existência explicam a primeira etapa da proteção social, que está embasada na caridade, muitas vezes, conduzida pela Igreja. Assim, quem enfrentava necessidades era socorrido pela caridade dos membros da sua comunidade, o que possibilitava obter alimentos, garantindo as condições de vida para si e para a sua família: esse é o pilar principal que norteia a proteção social. Durante o reinado da rainha Isabel na Inglaterra, quando o Estado era absolutista, surgiu a primeira lei que tratava da questão da assistência social: a Lei dos Pobres (Law of Poor), no ano de 1601. Essa lei determinava que as autoridades tinham a obrigação de proporcionar auxílio ao necessitado que, devido a uma situação de incapacidade para o trabalho, doença ou desemprego, não estava apto a manter o seu próprio sustento. Nesse mesmo período, surgiu a obrigatoriedade das contribuições para fins sociais. Conforme Santos (2017, p. 29), “A desvinculação entre o auxílio ao necessitado e a caridade começou na Inglaterra, em 1601, quando Isabel I editou o Acyt of Relief of the Poor – Lei dos Pobres”. Com a Revolução Industrial, a proteção social ganha força e começa-se a pensar em manter o sustento imediato com uma estrutura que se tornou conhecida nos tempos atuais como previdência social, através da ideia de caixa de socorro de natureza mutualista. A Revolução Industrial criava ambientes com situações que desafiavam a dignidade da pessoa humana. Dessa forma, a seguridade social, que na época era chamada de “seguro social”, era uma prática que existia entre os trabalhadores devido à realidade severa dos ambientes de trabalho, muitas vezes, sub-humana. Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar 22 Unidade I Com a Revolução Francesa, que começou em 1789, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão foi publicada. Esse documento determinava que todos tinham o direito à seguridade social, e também todos deveriam contribuir, dentro das suas possibilidades, para essas ações públicas, criando, assim, uma forma de organização de seguros que se utilizava de um cadastro nacional dos beneficiários do seguro social, buscando extinguir a mendicância. Na Alemanha, originou-se a proteção social oferecida pelo Estado, tendo sido aprovada em 1883 pelo projeto do chanceler Otto von Bismarck (estadista prussiano e o primeiro chanceler do Império Alemão), estabelecendo-a através da Lei do Seguro-Doença, que se tornou a primeira legislação mundial de uma previdência social. Lembrete Em 1883, na Alemanha, foi promulgada a primeira lei previdenciária do mundo, obra de Bismarck. A Lei do Seguro-Doença evolui e, após sofrer alterações, passa, em 1884, a tratar do seguro contra acidentes de trabalho; e, em 1889, do seguro de invalidez e velhice. O que financiava esses seguros eram as contribuições dos empregados, dos empregadores e do Estado. Com a Segunda Guerra Mundial, esse seguro social passou a ser obrigatório, e não apenas aos empregados, também em relação à indústria, aumentando a abrangência para os riscos relativos a acidentes, doenças, invalidez, desemprego, velhice e viuvez, segundo Santos (2017). Lembrete A Constituição de 1919 da Alemanha se tornou a primeira a garantir os direitos fundamentais sociais por meio do assistencialismo custeado pela representante estatal, pelas empresas e pelos trabalhadores, que deveriam contribuir para esses seguros de forma equalitária. Já, aqui, no Brasil, a questão sobre o direito de aposentadoria surgiu na época do Império, suas primeiras manifestações foram a criação de montepios e montes de socorro. Dessa forma, esse direito era garantido aos funcionários públicos e a suas famílias. O interessado em fazer parte de um montepio deveria pagar uma taxa de adesão e assumir a prestação das anuidades, podendo escolher, ao assinar o contrato, se o valor das contribuições efetuado ao longo da sua vida retornaria como pensão ou aposentadoria. Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar 23 SEGURANÇA DO TRABALHO, SAÚDE E MEIO AMBIENTE Figura 4 – Anúncio do Montepio Geral dos Servidores alerta de que há pensões à espera de saque em 1855 Contudo, foi apenas em 1923, com o Decreto Legislativo n. 4.682, que foram definidas as regras de previdência social que, segundo Alencar (2018), ficaram conhecidas como Lei Eloy Chaves, tornando-se o marco da previdência social no Brasil. Essa lei determinava que se criassem as caixas de aposentadoria e pensão (CAP) para todos os empregados que trabalhavam nas ferrovias, sendo que essas caixas eram administradas pelos próprios contribuintes sem que o Estado tivesse interferência. Assim, os trabalhadores das estradas de ferro conquistaram a aposentadoria ordinária ou por tempo de serviço, a assistência médica e a pensão por morte, bem como a aposentadoria por invalidez. Com isso, a expansão das CAPs se deu para diversas outras categorias assalariadas e, dessa forma, foi sedimentada a efetivação de uma nova era assistencial no Brasil. A evolução da proteção social no Brasil passou por três etapas: a assistência pública, o seguro social e a seguridade social. A assistência pública estava apoiada no conceito da caridade praticada pela Igreja e, posteriormente, assumida por instituições públicas. Em se tratando de assistência pública no Brasil, já se encontrava definida pela Constituição de 1824, em seu art. 179, XXXI, a garantia dos socorros públicos, conforme podemos observar no texto original a seguir: Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Políticos dos Cidadãos Brasileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela Constituição do Império, pela maneira seguinte. Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar 24 Unidade I [...] XXXI. A Constituição também garante os socorros públicos. (texto extraído na íntegra) (BRASIL,1824).Assim, com a promulgação da primeira Constituição Brasileira em 1824, o Estado passou a garantir o amparo assistencial, tornando-se o responsável institucional pelos socorros públicos. Figura 5 – Constituição de 1824 do Império do Brasil Saiba mais “Em 25 de março de 1824 o Brasil teve sua primeira constituição. [...] Mesmo sendo uma constituição outorgada, imposta pelo governante, sua vigência foi de 65 anos, sendo extinta apenas com a Proclamação da República em 15 de novembro de 1889, que depôs o imperador D. Pedro II. Vários historiadores, como Luiz Felipe de Alencastro, explicam que a base econômica e política do Império do Brasil era a escravidão. E com a abolição da escravatura em 1888, a base da monarquia caiu um ano mais tarde”. BRESCIANINI, C. P. Senadores lembram entrada em vigor da primeira Constituição brasileira. Senado Notícias, Brasília, 25 mar. 2019. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2019/03/25/senadores- lembram-entrada-em-vigor-da-primeira-constituicao-brasileira. Acesso em: 20 jan. 2021. Cesar Destacar Cesar Destacar 25 SEGURANÇA DO TRABALHO, SAÚDE E MEIO AMBIENTE Assim, o seguro social se origina por uma criação legislativa, uma vez que apenas a caridade das pessoas da comunidade não era suficiente para garantir condições mínimas de sobrevivência aos necessitados. Para isso, foi necessário estabelecer empresas seguradoras que possuíam fins lucrativos, a sua administração era embasada em critérios econômicos. Porém, com a Primeira Guerra Mundial, que resultou em muitos órfãos, viúvas e feridos de guerra, a estrutura do seguro social sucumbiu à tamanha demanda de beneficiários. Segundo Santos (2017), em 1919, foi assinado o Tratado de Paz, conhecido como Tratado de Versalhes, que assumiu o compromisso de implantar um regime universal de justiça social. O Brasil, ao longo da sua evolução histórica, política e legislativa passou por inúmeras legislações conforme novas constituições eram promulgadas. Mas com a promulgação da última Constituição Federal do Brasil, a de 1988, permitiu-se estabelecer o sistema de seguridade social, que abrange três áreas fundamentais: previdência social, saúde e assistência social. Assim, conforme a Constituição Federal de 1988, a saúde é um direito de todos e dever do Estado, devendo ele desenvolver políticas sociais econômicas com o objetivo de reduzir os riscos de doenças e garantir o acesso universal igualitário aos serviços que promovem a proteção da saúde do cidadão e a sua recuperação. Encontramos assim os seguintes princípios: I – Acesso universal e igualitário; II – Provimento das ações e serviços mediante rede regionalizada e hierarquizada, integrados em sistema único; III – Descentralização, com direção única em cada esfera de governo; IV – Atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas; V – Participação da comunidade na gestão, fiscalização e acompanhamento das ações e serviços de saúde; e VI – Participação da iniciativa privada na assistência à saúde, em obediência aos preceitos constitucionais (BRASIL, 1988). É importante entender que a assistência social, independentemente de contribuição à seguridade social, oferece atendimento às necessidades básicas para a proteção da família, da maternidade, da infância, adolescência, velhice e das pessoas portadoras de deficiência. A organização da assistência social obedecerá às seguintes diretrizes: I – Descentralização político-administrativa; II – Participação da população na formulação e controle das ações em todos os níveis; Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar 26 Unidade I III – Proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; IV – Amparo às crianças e adolescentes carentes; V – A promoção da integração ao mercado de trabalho; VI – A habilitação e a reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; e VII – A garantia de um salário mínimo mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou tê-la provida por sua família, conforme dispuser a Lei (BRASIL, 1988). Esses benefícios assistenciais podem ser feitos de forma eventual ou contínua: o pagamento de um salário mínimo para o portador de uma deficiência; a um idoso que não consegue garantir a sua existência mesmo auxiliado por parentes; também são feitos no auxílio-natalidade ou por morte. Além de outros benefícios que poderão ser estabelecidos visando suprir as necessidades durante uma situação de vulnerabilidade temporária, priorizando a criança, a família, o idoso (acima de 65 anos), a gestante, a pessoa portadora de deficiência, a nutriz, bem como nos casos de calamidade pública. Esses direitos estão regulamentados pela Lei n. 8.742, de 1993, (Lei Orgânica da Assistência Social), bem como pelo Decreto n. 6.214, de 2007. Em relação à previdência social, é necessário ser contribuinte para poder, assim, tornar-se um segurado, enquanto a seguridade social abrange todos os cidadãos. Dessa forma, a criação do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) fez com que o Estado deixasse de cuidar apenas do trabalhador e amparasse, através da seguridade social, o desamparado, o menor, entre outros. Podemos citar como exemplo a concessão pelo Ministério da Cidadania da pensão especial vitalícia às crianças com microcefalia oriunda do vírus Zika, que nasceram entre 2015 e 2018. Para o nosso estudo, vamos abordar a seguridade social na qual deve haver uma contribuição a fim de fazer jus aos benefícios, a previdência que, em seu regime geral, atende aos trabalhadores urbanos e rurais. Os servidores públicos também a possuem dentro de regimes próprios. Vamos tratar também do regime complementar, formado pela previdência privada. Atualmente, a responsabilidade dessas questões é tratada pela Secretaria da Previdência Social e do Trabalho, que faz parte do Ministério da Economia. No regime geral, a filiação é obrigatória e por caráter contributivo, atendendo a situações como doenças, invalidez, morte e idade avançada; bem como a proteção à maternidade e a proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário; também compreende o salário-família e salário-reclusão para os segurados de baixa renda; e a pensão por morte do segurado ao seu cônjuge ou companheiro e dependentes. Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar 27 SEGURANÇA DO TRABALHO, SAÚDE E MEIO AMBIENTE Portanto, quando afirmamos que a previdência social tem filiação obrigatória praticamente a partir do momento que se começa a contribuição, significa que a filiação já se faz quase que instantaneamente. Ela é obrigatória, uma vez que ao trabalhar, produz-se renda, e, assim, a contribuição à previdência social deve ser feita independentemente de registro na carteira, pois o autônomo, mesmo sem registro, deve contribuir obrigatoriamente. Sendo assim, a partir da primeira contribuição, o trabalhador já será considerado como um segurado da previdência social, conforme art. 201 da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988). Já o art. 194 da Constituição Federal (BRASIL, 1988) normatiza os princípios específicos da seguridade social, os quais podem ser citados como sendo: • O princípio da universalidade da cobertura é do atendimento. • O princípio da uniformidade corresponde à equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais. • A seletividade corresponde à distributividade na prestação dos benefícios e serviços. • A irredutibilidade do valor dos benefícios. • A equidade na forma de participação no custeio. • A diversidade na base de financiamento, identificando-se, em rubricas contábeis específicas para cada área as receitas e as despesas vinculadasa ações de saúde, previdência e assistência social, preservando o caráter contributivo da previdência social. • O caráter democrático é descentralizado da administração mediante gestão quadripartite com participação dos trabalhadores, empregadores, aposentados e do governo nos órgãos colegiados. Lembrete A gestão quadripartite é formada por representantes dos trabalhadores, empregadores, aposentados e do Poder Público. A participação de cada um deles se dá através de órgãos colegiados de deliberação chamados “conselhos de assistência social”, “conselho nacional de saúde” e “conselho nacional da previdência social”. 2 NORMAS DE SEGURANÇA E INVESTIGAÇÃO DE ACIDENTES 2.1 Apresentação das NRs – Lei n. 6.514/1977; Portaria n. 3.214/1978 Ao abordar o histórico da segurança do trabalho no Brasil e no mundo, mostramos a evolução das relações de trabalho e os movimentos sociais que surgiram ao longo da História. Ao mencionarmos a Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar 28 Unidade I evolução desses conceitos no Brasil, comentamos as mudanças socioeconômicas que o país vivenciou na década de 1970, com grandes deslocamentos de trabalhadores rurais para as áreas urbanas e aumento da mão de obra na indústria da construção civil. Sem dúvida, a falta de conhecimento, treinamento e capacitação dessa mão de obra justificam, em parte, o elevado número de acidentes nesse tipo de atividade econômica, porém a legislação necessitava evoluir e adaptar-se aos novos tempos. Dessa forma, em 22 de dezembro de 1977, foi publicada a Lei n. 6.514, que alterou o capítulo 5 da CLT, tratando das questões de segurança e medicina do trabalho. Essa lei abordou pontos importantes, como: • Inspeção prévia, embargo ou interdição. • Órgãos de segurança e medicina do trabalho nas empresas. • Equipamentos de proteção individual. • Medidas preventivas de medicina do trabalho. • Edificações. • Iluminação. • Conforto térmico. • Instalações elétricas. • Movimentação, armazenagem e manuseio de materiais. • Máquinas e equipamentos. • Caldeiras, fornos e recipientes sob pressão. • Atividades insalubres ou perigosas. • Prevenção da fadiga. • Medidas especiais de proteção e penalidades. Dessa forma, a legislação a respeito da segurança do trabalho passou para outro nível. Em 8 de junho de 1978, a Portaria n. 3.214 aprovou e regulamentou as NRs de segurança e saúde no trabalho, sendo inicialmente 28 NRs; atualmente, temos 37. Essas normas passam por atualização através das comissões tripartites paritárias permanentes (CTPP). As novas atualizações estariam previstas para entrar em vigor a partir de março de 2021, mas foram adiadas para agosto de 2021. Vamos agora descrever rapidamente cada uma delas (BRASIL, [s.d.]b): Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar 29 SEGURANÇA DO TRABALHO, SAÚDE E MEIO AMBIENTE • NR 1 – Disposições Gerais: o novo texto atualizou para “Disposições Gerais e Gerenciamento de Riscos Ocupacionais”. Com a atualização dessa norma, ela passou a ter um papel ainda mais importante sobre as demais, pois ela trata agora da gestão de riscos ocupacionais (GRO). Torna-se, assim, o pilar para as demais normas e os sistemas de gestão de segurança do trabalho. • NR 2 – Inspeção Prévia: com a revisão das normas, essa NR foi revogada pela Portaria SEPRT n. 915, de 30 de julho de 2019. Nunca teve um efeito prático real, mas poderia ter sido atualizada para definir um sistema de fiscalização dos ambientes de trabalho, infelizmente, só a revogaram. • NR 3 – Embargo ou Interdição: dispõe sobre o embargo ou interdição de obras, máquinas ou equipamentos, quando caracterizado risco grave ou iminente toda a condição ou situação de trabalho que possa causar acidente ou doença com lesão grave ao trabalhador. Depende de uma fiscalização, que sabemos ser precária em nosso país. Mas devido a denúncias, a fiscalização se torna necessária. • NR 4 – Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT): dispõe sobre a obrigatoriedade de manter serviços especializados em engenharia de segurança e em medicina do trabalho, os quais têm a finalidade de promover a saúde e proteger a integridade do trabalhador no local de trabalho. Também orienta sobre o dimensionamento do SESMT. Na prática, pelo dimensionamento do SESMT, são poucas as empresas que realmente devem constituí-lo. • NR 5 – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa): define o objetivo da Cipa, a forma que deve ser constituída, organizada, as suas atribuições, o seu funcionamento, o treinamento do cipeiros, o processo eleitoral, as contratantes e contratadas, entre outros. Falaremos sobre a Cipa adiante, mas cabe registrar aqui que quando realmente temos uma Cipa participativa e bem orientada, os benefícios são para todos, empresas e empregados. • NR 6 – Equipamento de Proteção Individual (EPI): define os equipamentos de proteção individual, equipamentos julgados de proteção individual, sobre as responsabilidades do empregador, do empregado, do fabricante, de quem os comercializa, os importa e de quem os fiscaliza. Essa norma também possui no seu final um anexo com a descrição de todos os equipamentos individuais. • NR 7 – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO): determina como deve ser elaborado o programa de controle médico de saúde ocupacional, os exames que devem constar nesse programa, sendo que também passou por atualização que entraria em vigor em 9 de março de 2020, adiada para agosto de 2021, até o momento. • NR 8 – Edificações: encontramos os requisitos técnicos mínimos a serem seguidos de forma a garantir segurança e conforto aos trabalhadores. A atividade da indústria da construção é a que mais gera acidentes de trabalho, tendo um ambiente em constante mudança e os mais diversos riscos a serem gerenciados. Com certeza, é um dos grandes desafios na segurança do trabalho. Cesar Destacar Cesar Máquina de escrever REVOGADA Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar 30 Unidade I • NR 9 – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais: norma atualizada para “Avaliação e Controle das Exposições Ocupacionais a Agentes Físicos, Químicos e Biológicos”, conforme o novo texto, que deveria entrar em vigor em 10 de março de 2021, data que também foi adiada para agosto de 2021. • NR 10 – Segurança em Instalações e Serviços em Eletricidade: determina os requisitos e as condições mínimas para a implementação de medidas de controle e sistemas preventivos em instalações de serviços com eletricidade, visando garantir a proteção dos trabalhadores que atuam nesse segmento. • NR 11 – Transporte, Movimentação, Armazenagem e Manuseio de Materiais: apresenta normas de segurança para utilização de equipamentos de transporte e movimentação de materiais nas mais diversas situações, buscando mostrar os procedimentos que devem ser adotados para garantir a segurança dos trabalhadores. • NR 12 – Segurança no Trabalho em Máquinas e Equipamentos: determina os critérios e dispositivos de segurança que devem ser observados na fabricação de máquinas, instalação e operação, de forma a garantir a segurança ao seu operador. Cabe lembrar que os acidentes com máquinas e equipamentos costumam deixar sequelas permanentes quando não retiram a vida do trabalhador. Portanto o que se apresenta nessa norma deve ser o mínimo a se exigir em busca da garantia da segurança dos trabalhadores. • NR 13 – Caldeiras, Vasos de Pressão e Tubulações e Tanques Metálicos de Armazenamento: estabelece os requisitos mínimos que devem ser observados para fazer a correta gestão da integridade estrutural de caldeiras a vapor, vasos de pressão, suas tubulações de interligação e tanques metálicos de armazenamento. • NR 14 – Fornos: apresenta os requisitos a serem seguidos para o uso correto e seguro de fornos no ambiente de trabalho. Toda fonte de energia sempre gera riscos; a energia térmica afetao trabalho de diversas formas, portanto deve-se fazer uma análise em conjunto com outras NRs. • NR 15 – Atividades e Operações Insalubres: relacionada aos riscos físicos, químicos e biológicos existentes no ambiente de trabalho e que, por sua vez, ultrapassam os limites de tolerância, criando um ambiente insalubre, o que irá causar prejuízos à saúde do trabalhador. Assim se encontra nessa norma uma relação de limites de tolerância e/ou exposição ao qual o trabalhador pode ficar exposto sem causar danos a sua saúde. Caso esses limites sejam ultrapassados, a norma determina o pagamento de adicional insalubridade conforme o grau do agente de risco. • NR 16 – Atividades e Operações Perigosas: descreve as atividades que se enquadram em condições de periculosidade para os trabalhadores que as executam, assim tendo o direito à percepção do adicional periculosidade. A segurança privada está inclusa nas atividades periculosas e, portanto, recomendamos uma leitura mais detalhada dessa norma. Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar 31 SEGURANÇA DO TRABALHO, SAÚDE E MEIO AMBIENTE • NR 17 – Ergonomia: encontramos os parâmetros para adaptar as condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, buscando oferecer ambientes seguros com o máximo de conforto para que possam ter um desempenho eficiente nas suas atividades. Ela se aplica em todas as atividades, mas na segurança privada ela tem uma importância muito grande para a qualidade dos ambientes de trabalho, os procedimentos e cuidados para preservar a saúde dos trabalhadores nesse setor em especial. • NR 18 – Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção: com o novo texto apresentado em sua atualização, que entrou em vigor no dia 10 de fevereiro de 2020, o título foi alterado para “Segurança e Saúde no Trabalho na Indústria da Construção”. • NR 19 – Explosivos: define o que é considerado tecnicamente como explosivo, questões relacionadas à sua fabricação, ao seu armazenamento e ao seu transporte. • NR 20 – Segurança e Saúde no Trabalho com Inflamáveis e Combustíveis: apresenta os requisitos mínimos para gestão de segurança e saúde no trabalho contra os fatores de risco de acidentes oriundos das atividades relacionadas com a extração, produção, armazenamento, transferência, manuseio em manipulação de inflamáveis e líquidos combustíveis. • NR 21 – Trabalhos a Céu Aberto: apresenta as medidas de proteção necessárias para os trabalhadores que atuam a céu aberto e ficam expostos à insolação excessiva, ao calor, ao frio, à umidade e aos ventos inconvenientes. • NR 22 – Segurança e Saúde Ocupacional na Mineração: dispõe sobre os requisitos mínimos necessários para organizar a segurança nesses ambientes e em quem atua nesse ramo de atividade, visando garantir a segurança e saúde dos trabalhadores. • NR 23 – Proteção contra Incêndios: atualizada em 2011, reduzindo significativamente as suas orientações, transferindo a responsabilidade para a legislação estadual e às normas técnicas aplicáveis, ou seja, às instruções técnicas (IT) dos respectivos corpos de bombeiros de cada estado. • NR 24 – Condições Sanitárias e de Conforto nos Locais de Trabalho: apresenta as condições mínimas de higiene e conforto que devem ser observadas pelas empresas, como bom dimensionamento e projeto das instalações sanitárias, dos vestiários, dos refeitórios e das cozinhas, dos alojamentos, das vestimentas de trabalho. • NR 25 – Resíduos Industriais: apresenta os conceitos de resíduos líquidos sólidos e gasosos e da forma como eles devem ser tratados para garantir a proteção do meio ambiente de trabalho. • NR 26 – Sinalização de Segurança: apresenta os padrões a serem seguidos para a utilização de cores, para sinalizar ações luminosas, sonoras, verbais, gestuais e demais formas que transmitam as informações necessárias para que o trabalhador aja de maneira segura em cada situação informada de risco. Cesar Destacar 32 Unidade I • NR 27 – Registro Profissional do Técnico de Segurança do Trabalho: revogada. • NR 28 – Fiscalização e Penalidades: determina a forma pela qual se devem executar as fiscalizações do trabalho, bem como o grau da infração que vai constar no livro de inspeção e alto de atuação nos casos previstos em lei. • NR 29 – Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no Trabalho Portuário: a partir dessa norma, desenvolveram-se as normas específicas para determinadas áreas de atividades econômicas que oferecem riscos próprios característicos e não previstos nas 28 primeiras NRs criadas pela Portaria n. 3.214, de 1978. Essa norma foi criada em 2014, descreve as atividades portuárias e determina os procedimentos de segurança a serem adotados. • NR 30 – Segurança e Saúde no Trabalho Aquaviário: busca apresentar os procedimentos de proteção e regulamentação das condições de segurança e saúde dos trabalhadores aquaviários. • NR 31 – Segurança e Saúde no Trabalho na Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Exploração Florestal e Aquicultura: estabelece os preceitos que devem ser seguidos para as empresas que atuam nesse ramo econômico. • NR 32 – Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços da Saúde: estabelece as diretrizes básicas para a implementação de medidas de proteção e segurança à saúde dos trabalhadores dos serviços da saúde. • NR 33 – Segurança e Saúde nos Trabalhos em Espaços Confinados: define o que é espaço confinado e apresenta os riscos que devem ser controlados para garantir que as operações em espaços confinados não ofereçam riscos aos trabalhadores que devem adentrá-los. • NR 34 – Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção, Reparação e Desmonte Naval: apresenta os requisitos mínimos que devem ser observados para garantir a segurança dos trabalhadores que atuam nesse segmento. • NR 35 – Trabalho em Altura: determina os procedimentos, equipamentos, treinamentos, entre outros, que devem ser observados para garantir a segurança dos trabalhadores nas atividades classificadas como “trabalho em altura”. • NR 36 – Segurança e Saúde no Trabalho em Empresas de Abate e Processamento de Carnes e Derivados: estabelece os requisitos mínimos para avaliação, controle e monitoramento dos riscos existentes nesse ramo de atividade, visando à proteção e segurança permanentes no trabalho duro, garantindo saúde e qualidade de vida. • NR 37 – Segurança e Saúde em Plataformas de Petróleo: estabelece os requisitos mínimos de segurança, saúde e condições de vivência no trabalho a bordo de plataformas de petróleo em operações nas águas jurisdicionais brasileiras (AJB). Cesar Máquina de escrever REVOGADA 33 SEGURANÇA DO TRABALHO, SAÚDE E MEIO AMBIENTE Assim encerramos essa passagem breve por cada uma das NRs. Quando bem aplicadas, criam um sistema de gestão de segurança do trabalho a fim de que as organizações possam garantir a integridade física e psicológica do trabalhador nas mais diversas atividades laborais. Lembrete As CTPPs buscam garantir as atualizações das NRs de forma que elas possam estar alinhadas às reais necessidades da sociedade, assegurando, assim, as condições mínimas de segurança e higiene do trabalho para todos os trabalhadores. 2.2 Investigação das causas de acidentes do trabalho Para abordar a investigação das causas de acidentes de trabalho, é importante mencionar Herbert William Heinrich, que, em 1931, lançou um livro sobre prevenção de acidentes na indústria com abordagem científica: Industrial accident prevention: a scientific approach. Heirinch era engenheiro de riscos de uma grande empresa de seguros. Ele começou a observar os vários acidentes que seus clientes sofriam, com isso, fez uma relação entre eles, chegando a uma proporção de 1 acidente incapacitante para cada 29 acidentes não incapacitantes e 300 acidentes sem lesão (HEINRICH, 1931). Analisando em torno de 75 mil acidentes, ele criou uma pirâmide a fim de representar a relação entre eles; o acidente incapacitante estavano topo dessa pirâmide e, na sua base, os acidentes sem lesão. Ele observou quais eram as causas predominantes dos acidentes, como segue: • Personalidade do trabalhador: o perfil do trabalhador resultava em posturas no ambiente de trabalho que causavam acidentes. • Falha humana no exercício do trabalho: motivos relacionados à falta de capacitação, de concentração na tarefa, de análise adequada dos riscos, entre outros relacionados ao homem, eram os responsáveis pelos acidentes. • Prática de atos inseguros: o trabalhador se expunha deliberadamente a situações de risco que acabavam se materializando em acidentes. • Condições inseguras do local de trabalho: a falta de organização, a limpeza do ambiente, as instalações precárias, entre outros motivos relacionados ao próprio ambiente de trabalho, eram os responsáveis pelos acidentes. O trabalho desenvolvido por Heirinch foi o início dos estudos de outro engenheiro chamado Frank Bird Jr., que atuava na empresa de siderurgia Lukens Steel. Buscando implantar um programa para Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar 34 Unidade I reduzir as perdas decorrentes de danos materiais e controlar os danos à propriedade, no período de 1959 até 1966, analisou em torno de 90 mil acidentes de trabalho a fim de aperfeiçoar o controle de danos. Dessa forma, constatou outra relação entre os tipos de acidentes, sendo que para cada um acidente com lesão (topo da pirâmide) incapacitante, ocorriam cem acidentes com lesão não incapacitante e quinhentos acidentes que provocavam danos ao patrimônio (base da pirâmide) (BIRD, 1966). Frank era engenheiro e trabalhava como gestor de programas de segurança de empresas norte-americanas em uma grande empresa de seguros. Após esse primeiro estudo, conseguiu elaborar, em 1969, uma nova pirâmide, que ficou mundialmente conhecida como “pirâmide de Bird”. Nessa época, ele publicou sua obra Damage control, ou Controle de danos. Para chegar nessa nova pirâmide, ele e sua equipe continuaram a colher informações sobre mais acidentes, chegando a totalizar 1,7 milhão de ocorrências analisadas, em 297 empresas estudadas que representavam 21 ramos de empresas diferentes. Um ponto relevante nesse estudo foi que, ao contrário de Heirinch, Bird considerou na sua análise os acidentes envolvendo perdas de patrimônio e danos ao meio ambiente, não ficando apenas nos acidentes envolvendo lesões nas pessoas. No final do seu estudo, já havia dados que representavam aproximadamente 3 bilhões de homens-hora em exposição ao risco (BIRD, 1966). Cabe destacar que na sua obra sobre controle de danos, ele considerou quatro aspectos que deveriam ser observados para conseguir efetivamente o controle de perdas e danos, sendo eles (BIRD, 1966): • informação; • investigação; • análise; • revisão do processo. A famosa pirâmide de Bird está apresentada a seguir: 1 100 500 Lesão incapacitante Lesões não incapacitantes Acidentes com danos à propriedade Figura 6 – Pirâmide de Bird Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Máquina de escrever IPC! 35 SEGURANÇA DO TRABALHO, SAÚDE E MEIO AMBIENTE O trabalho feito por Bird mostrava informações com dados e projeções estatísticas e financeiras das perdas pessoais e materiais sofridas pela empresa. Ele buscou mostrar que com a nova forma apresentada para fazer a segurança, combatendo todo e qualquer tipo de acidente, seria possível liberar mais recursos para a segurança. Como Bird considerou todos os acidentes que resultavam em perdas, ele pôde desenvolver o seu programa de controle de danos, que necessitava que fossem identificados, registrados e investigados todos os danos à propriedade e os custos gerados para a empresa, além do que tal controle requeria que ações preventivas fossem tomadas ao final dessa análise. Dessa forma, ele alterou a regra nas investigações de acidentes que orientavam a comunicação do acidente para um superior apenas quando houvesse lesão pessoal e orientou que fossem relatados também os que geravam dano à propriedade, mesmo que fosse de pequena importância. Assim, o programa de controle de danos, para ser incorporado em uma empresa, necessitava de três passos básicos: • verificações iniciais; • informações dos centros de controle; • exame analítico. A primeira etapa, de verificações iniciais, se refere ao conhecimento dos sistemas de controle de danos já existentes na empresa e a presença do departamento de manutenção. Fazendo essas verificações iniciais, falhas ou vulnerabilidades existentes no programa da empresa poderão ser observadas. Na segunda etapa, em que efetivamente se faz a manutenção para reparar os danos, é onde devem ocorrer os registros de todos os danos à propriedade. Esses registros formam a base dos dados para a análise das ocorrências e as suas características. Na última etapa, voltada ao exame analítico, é que se faz a interpretação dos dados gerados na etapa anterior, buscando implantar as medidas de controle adequadas aos tipos de falhas e ocorrências identificadas. Dando continuidade a todo o trabalho desenvolvido por Bird, em 1969, a Insurance of North America (Inca) analisou os dados levantados junto a 297 empresas que empregavam em torno de 1.750.000 pessoas e onde foram registradas 1.753.498 ocorrências (apud CYRINO, 2017). Esse estudo, com uma base amostral muito maior, permitiu que se desenvolvesse uma relação mais precisa do que a apresentada por Bird e Heinrich, além disso, introduziu o conceito de incidente ou quase acidente. Ao incluir os incidentes, revela-se potencial de ocorrer um acidente, além do risco potencial em cada um desses incidentes. Dessa forma, surge a pirâmide da Inca ou a pirâmide 641, conforme podemos ver a seguir. Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Máquina de escrever INTERPRETAÇÃO DOS DADOS Cesar Máquina de escrever REGISTROS DE TODOS OS DANOS, REPARO. Cesar Máquina de escrever CONHECIMENTO, DEPTO DE MANUTENÇÃO Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar 36 Unidade I 1 10 30 600 Acidente grave ou fatal Acidentes leves sem afastamento Acidentes com perda material Atos e condições inseguras Figura 7 – Pirâmide da Inca ou Pirâmide 641 Em 1970, John A. Fletcher junto com H. M. Douglas aprofundaram os estudos de Bird e propuseram um programa de controle total de perdas, no qual, além de aplicar os princípios do controle de danos desenvolvidos por Bird, consideravam as instalações, o meio ambiente, as máquinas de equipamentos e todo o patrimônio da empresa, sem deixar de aplicar as ações de prevenção de lesões. Esse controle total de perdas apresentado por Fletcher é o que mais se aproxima dos programas atuais, cobrindo os seguintes pontos: • proteção do trabalhador com foco na prevenção de lesões; • controle total de acidentes, evitando danos à propriedade, às máquinas e aos equipamentos; • prevenção de incêndios, uma vez que causam grandes perdas materiais e, por vezes, humanas; • segurança patrimonial, protegendo os bens da organização; • preocupação com a higiene e saúde industrial; • controle do dano ambiental através da contaminação do ar, água e solo; • responsabilidade pelo produto. Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar Cesar Destacar 37 SEGURANÇA DO TRABALHO, SAÚDE E MEIO AMBIENTE Saiba mais Para aprofundar-se mais na questão de prevenção e controle de perdas, acesse o link: FIGUEIREDO JR., J. V. Prevenção e controle de perdas: abordagem integrada. Natal: IFRN, 2009. Disponível em: https://memoria.ifrn.edu.br/bitstream/ handle/1044/1081/Prevencao%20e%20controle%20de%20perdas%20-%20
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