<html><head> <style> @import url(https://fonts.googleapis.com/css?family=Source+Sans+Pro:300,400,600,700); </style> </head><body><div class="ql-snow"><div class="pd-html-content"><div class="ql-editor"><h2 class="ql-align-center">RESUMO DE DIREITOS HUMANOS PARA CONCURSO</h2><h3 class="ql-align-center">PROVA ORAL DA DEFENSORIA PÚBLICA ESTADUAL DE SÃO PAULO</h3><p class="ql-align-center"><strong>TEMA: Origem, sentido e evolução histórica dos Direitos Humanos. Os fundamentos filosóficos dos Direitos Humanos. Os direitos naturais do jusnaturalismo racional e do contratualismo moderno. Os direitos fundamentais do juspositivismo.</strong></p><p class="ql-align-justify"><strong>1. O que se entende por fundamentação dos direitos humanos e qual é a importância desse estudo? </strong></p><p class="ql-align-justify">Fundamentar os direitos humanos é buscar as razões que legitimam e motivam o reconhecimento dos direitos humanos, buscar essa genealogia, investigar o porquê dos direitos humanos. Através desse estudo temos maior possibilidade de garantir efetividade aos direitos humanos, de tirá-los do papel e fazer com que eles não sejam somente \u201cdireitos de cartas\u201d. Para Caio Granduque, \u201ca proteção dos direitos do homem depende dos fundamentos com que eles se justificam\u201d. Assim, em que pese haver posição em sentido contrário, entendendo pela desnecessidade de buscar a fundamentação dos direitos humanos, Caio defende uma fundamentação existencialista e afirma que o baixo nível de tutela jurisdicional de direitos humanos está intimamente ligado à fundamentação tradicional e idealista desses direitos.</p><p class="ql-align-justify"><br></p><p class="ql-align-justify"><strong>2. Fale sobre a corrente negacionista a respeito da fundamentação dos direitos humanos. </strong></p><p class="ql-align-justify">A corrente negacionista é defendida por Norberto Bobbio, o qual entende que a grande questão dos direitos humanos diz respeito à sua efetividade, e não à sua fundamentação. Para o autor não existe relação entre a proteção e a fundamentação dos direitos humanos. Nesse sentido, Bobbio afirma que \u201co problema fundamental em relação aos direitos do homem, hoje, não é tanto o de justifica-los, mas o de protege-los. Trata-se de um problema não filosófico, mas político\u201d. Dessa forma, a questão não é saber quais e quantos são esses direitos, qual é a sua natureza e seu fundamento, se são direitos naturais ou históricos, absolutos ou relativos, mas sim qual é o modo mais seguro para garanti-los.</p><p class="ql-align-justify">Caio Granduque discorda desse entendimento e ressalta que a \u201cresolução do urgentíssimo problema da proteção dos direitos humanos\u201d não pode deixar de lado um regresso aos seus fundamentos. Isso porque a violação estrutural desses direitos passa pelos desdobramentos jurídicos que cada fundamentação enseja. Caio afirma, ainda, que a concepção que o jurista possui a respeito dos direitos humanos condiciona a sua prática, seja ela comprometida ou indiferente a esses direitos. Esse é também o pensamento do constitucionalista espanhol Antonio Enrique Pérez Luño</p><p class="ql-align-justify">Nas palavras de Caio Granduque, \u201centende-se o certo exagero do notável pensador italiano, que, em razão do advento da Declaração Universal de 1948, deu por encerrada a discussão acerca dos fundamentos dos direitos humanos, talvez como estratégia para advertir sobre a necessidade de que os direitos humanos sejam \u2018levados a sério\u2019\u201d.</p><p class="ql-align-justify"><br></p><p class="ql-align-justify"><strong>3. Fale sobre a fundamentação jusnaturalista dos direitos humanos.</strong></p><p class="ql-align-justify">Como ensina André de Carvalho Ramos, o jusnaturalismo é uma corrente do pensamento jurídico que defende a existência de um conjunto de normas vinculantes anterior e superior ao sistema de normas fixadas pelo Estado (direito posto). É a corrente mais antiga na história do pensamento, podendo ser identificada desde a Antiguidade, na peça de teatro \u201cAntígona\u201d, de Sófocles. Nessa peça a personagem principal, recusando-se a obedecer as ordens do rei em relação ao direito de enterrar os mortos, afirma que as leis dos homens não podem sobrepor-se às leis eternas dos deuses. </p><p class="ql-align-justify">Para a doutrina jusnaturalista, é direito o que é natural, isto é, a juridicidade é um dado eterno, imutável e universal, que provém e deve ser descoberto da \u201cnatureza\u201d. Sendo assim, a depender da concepção que se tenha da \u201cnatureza\u201d, teremos significados diversos a respeito do direito natural.</p><p class="ql-align-justify"><br></p><p class="ql-align-justify"><strong>4. Discorra sobre o jusnaturalismo cosmológico da Antiguidade.</strong></p><p class="ql-align-justify">No jusnaturalismo cosmológico a natureza era vista como o cosmos, a physis, e dela decorreriam determinadas regras. Tais regras seriam eficazes em todos os lugares e válidas por todo o tempo, constituindo-se no direito natural. Símbolo dessa corrente é a postura de Antígona na tragédia grega de Sófocles, a qual desobedece o direito positivo com base nas leis não escritas e intangíveis dos deuses, que não são leis de hoje ou de ontem, são de sempre. </p><p class="ql-align-justify">Como destaca Caio Granduque, essa concepção jusnaturalista também pode ser vislumbrada no direito romano. Nesse sentido é a assertiva de Cícero, para o qual a lei natural não pode ser contestada, derrogada em parte ou anulada, devendo ser cumprida tanto pelo povo como pelo Senado. Não se trata de uma lei em Roma e outra em Atenas, uma lei antes e outra depois. Ao contrário, é uma lei sempiterna e imutável, entre todos os povos e em todos os tempos.</p><p class="ql-align-justify"><br></p><p class="ql-align-justify"><strong>5. Discorra sobre o jusnaturalismo teológico da Idade Média.</strong></p><p class="ql-align-justify">O jusnaturalismo teológico é incentivado pela visão religiosa de São Tomás de Aquino, o qual entendia que a \u201clex humana\u201d deve obedecer a \u201clex naturalis\u201d, fruto da razão divina mas perceptível aos homens. O direito natural, portanto, seria o que está contido no Antigo e no Novo Testamento, e o cristianismo seria a comprovação da supremacia do direito natural sobre o direito positivo. Sendo assim, a natureza na Idade Média era considerada o produto da inteligência e da potência criadora de Deus. O jusnaturalismo assume, portanto, uma perspectiva teológica e o direito natural passa a ser visto como a lei inscrita por Deus no coração dos homens, ou a lei revelada pelos textos sagrados, os quais transmitem a palavra divina, ou, ainda, a lei comunicada por Deus aos homens através da razão. </p><p class="ql-align-justify"><br></p><p class="ql-align-justify"><strong>6. Fale sobre o jusnaturalismo racional moderno.</strong></p><p class="ql-align-justify">No jusracionalismo a natureza é percebida como a ordem racional do universo. Dessa forma, o direito natural é visto como o conjunto de leis sobre a conduta ou natureza humana, que podem ser captadas, apreendidas ou descobertas pela razão humana. </p><p class="ql-align-justify">Nesse sentido, Hugo Grócio, considerado o pai do direito natural e do direito internacional moderno, defendia no século XVI a existência de um conjunto de normas ideais, fruto da razão humana. Assim, afirmava que para captar racionalmente o direito não deveríamos recorrer à autoridade das Sagradas Escrituras ou aos antigos pensadores, mas sim observar a natureza 8 humana. Para Grócio, o direito dos legisladores humanos só seria válido se compatível com os mandamentos daquela lei imutável e eterna. </p><p class="ql-align-justify">Cabe destacar que Hugo Grócio contribuiu para o nascimento dos direitos humanos no século XVIII ao tratar do método dedutivo como o que permite à reta razão alcançar as regras invariáveis da natureza humana. Essa é a ideia que está na raiz das modernas Declarações de Direitos Humanos. Declara-se não aquilo que é oculto e imperceptível, mas sim o que é de fácil acesso à razão humana.</p><p class="ql-align-justify">As premissas de Grócio foram desenvolvidas pelo jurista alemão Samuel Pufendorf, que concebia o direito natural como um rígido e estruturado sistema racional. Seu maior legado foi a edificação de um sistema de direito natural deduzido de um único princípio imanente à natureza, a saber, o de \u201cconservação do indivíduo\u201d, do qual decorre a ideia de que os homens são naturalmente livres e iguais. Pufendorf destaca o que ele chama de \u201cdignidade da natureza humana\u201d, avançando no estabelecimento de condições para a insurgência dos direitos humanos. </p><p class="ql-align-justify">Em suma, através do método dedutivo-racional, esses pensadores libertaram o direito natural do conteúdo teológico que prevaleceu na doutrina jusnaturalista da Idade Média. Como explica Caio Granduque, o direito natural passou a ser considerado um conjunto de normas e princípios eternos, universais e imutáveis descobertos racionalmente da natureza do homem, o que foi fundamental para o posterior nascimento dos direitos humanos. Nas palavras de Caio, \u201ca ideia de que o homem possui direitos inatos, decorrentes da sua própria natureza humana, pressupostos e antecedentes a qualquer organização política, foi elaborada pelo jusnaturalismo moderno. Foi o jusnaturalismo antropológico, portanto, quem deu à luz os direitos humanos, travestidos de direitos naturais\u201d.</p><p class="ql-align-justify"><br></p><p class="ql-align-justify"><strong>8. Discorra sobre o jusnaturalismo contratualista. </strong></p><p class="ql-align-justify">Como ensina André de Carvalho Ramos, os iluministas, em especial Locke e Rousseau, fundaram a corrente do jusnaturalismo contratualista, a qual aprofunda o racionalismo e o individualismo. A razão é vista como a fonte de direitos inerentes ao ser humano e é defendida a prevalência dos direitos do indivíduo em face do Estado. Essa supremacia dos direitos humanos teria como base um contrato social firmado por todos na comunidade humana, que limita o arbítrio do Estado e impõe a proteção desses direitos.</p><p class="ql-align-justify">Os teóricos do contratualismo buscavam teorizar a limitação do poder político, tendo em vista que seu exercício era o grande responsável pela violação da dignidade e dos direitos das pessoas da época. Para tanto, recepcionaram a doutrina moderna do direito natural, instituída por Hugo Grócio (que inaugurou o processo de laicização do jusnaturalismo) e desenvolvida, entre outros, por Pufendorf. Os pensadores contratualistas perceberam a força dos direitos naturais diante do desafio de superar a ordem estamental em vigor e, assim, conferiram a esses direitos um espaço de destaque em suas doutrinas.</p><p class="ql-align-justify">Locke e Rousseau partem da dicotomia estado de natureza/estado civil, pois sabem que a única hipótese racional que poderia inverter a concepção secular de que o poder político procede de cima para baixo seria a de um estado de natureza no qual os indivíduos possuíssem direitos naturais.</p><p class="ql-align-justify">Thomas Hobbes construiu seu contratualismo em sentido oposto, buscando legitimar o poder soberano das monarquias absolutas. Assim, descreve o estado de natureza como aquele em que há a guerra de todos contra todos, onde o homem é o lobo do próprio homem. Dessa forma, os direitos naturais (exceto o direito natural à vida) deveriam ser contratualmente transferidos a um Estado artificialmente criado, o Leviatã, único capaz de assegurar a paz e a segurança. Por defender a transferência dos direitos naturais dos indivíduos ao Leviatã, Hobbes não contribuiu para o surgimento dos direitos humanos no século XVIII. Segundo Bobbio, Hobbes adota a teoria do direito natural para reforçar o poder, e não para limitá-lo, usa meios jusnaturalistas para alcançar objetivos positivistas.</p><p class="ql-align-justify">Locke, por outro lado, utiliza sua teoria a serviço da limitação do poder político, condicionando-o ao respeito das leis naturais. O estado de natureza para Locke é uma mistura de bem (representado pelos direitos naturais, como liberdade e igualdade) e mal (traduzido na falta de um juiz imparcial que canalizasse o exercício pacífico desses direitos). Assim, a função do estado civil, contratualmente constituído pelos indivíduos, seria a de conservar o bem e eliminar o mal. O Estado, portanto, surge com poderes limitados, configurando-se o modelo de Estado Liberal. Vale destacar que caberia ao Estado garantir o direito de propriedade, visto por Locke como um direito sagrado, natural e inviolável, como consta do artigo 17 da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789. </p><p class="ql-align-justify">Rousseau entendia o estado de natureza como um estado de plena liberdade e igualdade natural entre os homens. No estado de natureza temos o homem bom, em pleno gozo de sua liberdade, até que o advento da sociedade provoque sua corrupção. Com o objetivo de superar essa questão, Rousseau 10 propõe a celebração de um contrato social a ser estabelecido conforme os ditames da razão, restabelecendo-se as leis naturais por meio das leis civis. Aqui reside sua contribuição para a afirmação dos direitos humanos: sua filosofia política busca encontrar uma forma de associação política que proteja e potencialize os direitos naturais do homem. </p><p class="ql-align-justify">Diante do exposto, percebe-se que o jusnaturalismo moderno dos pensadores contratualistas lançou mão da lei (entendida como produto da vontade geral) para a tutela dos direitos naturais. O direito se converteu em legalidade e a lei que passou a dar validade aos direitos. Assim, o contratualismo moderno, que partiu das ideias jusnaturalistas para legitimar a inversão da titularidade do poder político, chega ao legalismo, com base no qual posteriormente se afirmaria o positivismo jurídico.</p><p class="ql-align-justify"><br></p><p class="ql-align-justify"><strong>10. Fale sobre a fundamentação juspositivista dos direitos humanos.</strong></p><p class="ql-align-justify">Com a consolidação do Estado constitucional, os direitos humanos tidos como naturais foram inseridos no corpo da Constituição e das leis, passando a ser considerados direitos positivados. A Escola positivista traduziu a ideia de um ordenamento jurídico produzido pelo homem de forma coerente e hierarquizada, que teria em seu topo a Constituição (pressuposto de validade de todas as demais normas). Os direitos 11 humanos foram inseridos na Constituição, obtendo, com isso, um estatuto normativo superior. Com o tempo, muitos autores passaram a reservar o termo \u201cdireitos humanos\u201d para o plano internacional e a utilizar o termo \u201cdireitos fundamentais\u201d para se referir aos direitos essenciais positivados no plano interno e, especialmente, na Constituição.</p><p class="ql-align-justify">Os positivistas também buscam as razões que legitimam os direitos humanos e entendem que essas razões estão na lei, na validade formal da norma. Assim, os direitos humanos justificam-se graças à sua validade formal e sua previsão no ordenamento posto. Dessa forma, a ideia de \u201cdireitos inerentes\u201d da corrente jusnaturalista é substituída pela ideia dos \u201cdireitos reconhecidos e positivados pelo Estado\u201d. </p><p class="ql-align-justify">Como explica Caio Granduque, se o jusnaturalismo é dualista na medida em que admite a convivência do direito natural com o direito positivo (defendendo a superioridade daquele), o positivismo jurídico é monista, tendo em vista que admite apenas o direito positivo. </p><p class="ql-align-justify">Vale ressaltar que os direitos do homem que nasceram como direitos naturais e, portanto, imutáveis, eternos, universais, titularizado pelo homem em geral, passaram, no século XIX, a ser entendidos como direitos fundamentais, isto é, direitos positivos particulares, cuja titularidade restringia-se aos cidadãos do respectivo Estado. Buscando combater o idealismo abstrato ou metafísico do jusnaturalismo racional, o positivismo jurídico não reconhece direitos para além do direito posto. Sendo assim, o direito passa a ser identificado com a lei, convertendo-se na legalidade.</p><p class="ql-align-justify">Em suma, pela concepção legada pelo positivismo jurídico, os direitos humanos nada mais são do que direitos fundamentais, cuja existência e validade dependem da lei, na forma da doutrina do século XIX, e, após um processo de adaptação teórica, encontram-se subordinadas à Constituição no século XX.</p><p class="ql-align-justify"><br></p><p class="ql-align-justify"><br></p><p class="ql-align-justify"><br></p><p class="ql-align-justify"><br></p><p class="ql-align-justify"><br></p></div><div name="pdEndOfFile"></div></div></div></body></html>
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