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TEMPO DO CRIME

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NOTA DE AULA – 21.09.22 – TEMPO DO CRIME 
CURSO: Direito 
1º SEMESTRE 
DISCIPLINA: Teoria Geral do Crime 
Prof. Henrique Machado 
 
TEMPO DO CRIME 
 
INTRODUÇÃO 
O nascimento (entrada em vigor), a vida (período de vigência) e a morte (revogação) 
de uma lei penal constituem tema de sobrelevada importância. 
Deve-se lembrar que o direito de punir em abstrato do Estado (ius puniendi in abstracto) 
surge com o advento da lei penal189. Vale dizer, a partir do momento em que uma lei 
penal entra em vigor, o Estado passa a ter o direito de exigir de todas as pessoas que se 
abstenham de praticar o comportamento definido como criminoso. 
 
Art. 4º Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro 
seja o momento do resultado. 
 
Teorias sobre o momento do crime 
 
a) Atividade: o crime reputa-se praticado no momento da conduta comissiva ou 
omissiva. 
Pela teoria da atividade, tempo do crime será o da ação ou da omissão, ainda que outro 
seja o momento do resultado. Para essa teoria, o que importa é o momento da conduta, 
comissiva ou omissiva, mesmo q u e o resultado dela se distancie no tempo. 
O momento da conduta, comissiva ou omissiva, será, portanto, o nosso marco inicial para 
todo tipo de raciocínio que se queira fazer em sede de extra atividade da lei penal, bem 
como nas situações em que não houver sucessão de leis no tempo. 
A escolha de tal teoria determina, por exemplo, a aplicação, ou não, da lei penal em 
certas situações, ou a opção pela lei mais benigna dentre aquelas que se sucederam no 
tempo. Suponhamos que uma pessoa tenha dirigido finalisticamente sua conduta a 
causar a morte de alguém, atirando em direção à vítima, vindo a atingi-la numa região 
letal. 
 
b) Resultado: o crime é praticado no momento da produção do resultado. 
 
Já a teoria do resultado determina que tempo do crime será, como sua própria 
denominação nos está a induzir, o da ocorrência do resultado. Aqui, sobreleva-se a 
importância do momento do resultado da infração penal. 
 
c) Ubiquidade ou mista: o crime considera-se praticado no momento da conduta e no 
momento do resultado. 
A teoria mista o u da ubiquidade concede igual relevo aos dois momentos apontados 
pelas teorias anteriores, asseverando que tempo do crime será o da ação o u da omissão, 
bem como o do momento do resultado. 
Teoria adotada: o Código Penal adotou a teoria da atividade. Como consequência 
principal, a imputabilidade do agente deve ser aferida no momento em que o crime é 
praticado, pouco importando a data em que o resultado venha a ocorrer. 
 
Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou 
omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. (Redação 
dada pela Lei nº 7.209, de 1984) 
Exemplo: um menor com 17 anos e 11 meses esfaqueia uma senhora, que vem a falecer, 
em consequência desses golpes, 3 meses depois. Não responde pelo crime, pois era 
inimputável à época da infração. No caso de crime permanente, como a conduta se 
prolonga no tempo, o agente responderia pelo delito. 
Assim, se o menor, com a mesma idade da hipótese anterior, sequestrasse a senhora, em 
vez de matá-la, e fosse preso em flagrante 3 meses depois, responderia pelo crime, pois 
o estaria cometendo na maioridade. 
Em matéria de prescrição, o Código Penal adotou a teoria do resultado. O lapso 
prescricional começa a correr a partir da consumação, e não do dia em que se deu a 
ação delituosa (CP, art. 111, I). Entretanto, em se tratando de redução de prazo 
prescricional, no caso de criminoso menor de 21, aplica- se a teoria da atividade (v. CP, 
art. 115, primeira parte). 
 
DA VACATIO LEGIS 
Como se sabe, a vacatio legis é o intervalo de tempo que separa a publicação e a 
entrada em vigor de uma lei. Cumpre dizer que, em alguns casos, a lei entra em vigor na 
data de sua publicação. 
Esta característica é pouco recomendável em matéria de leis penais, que requerem, 
para efeito de serem bem assimiladas, que sempre se observe um mínimo de vacatio. 
Aliás, o art. 8º, caput, da LC n. 95/98, que disciplina a “elaboração, a redação, a 
alteração e a consolidação das leis”, dispõe que: 
 “A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazo 
razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula ‘entra em 
vigor na data de sua publicação’ para as leis de pequena repercussão”. 
 
Caso não haja menção expressa ao início de vigência da Lei, aplica-se a regra contida 
na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Decreto-Lei n. 4.657, de 1942, art. 1º), 
segundo a qual uma lei entra em vigor quarenta e cinco dias contados de sua 
publicação, no território nacional, e em três meses, no âmbito internacional (note-se que 
a lei penal brasileira se aplica a fatos cometidos no exterior, por força do art. 7º do CP, 
que será estudado abaixo – Capítulo VIII, item 3.3). 
 
É POSSÍVEL APLICAR LEI PENAL ANTES DE CONSUMADA SUA VACÂNCIA? 
Cremos que não. Um texto normativo não inova o ordenamento jurídico antes de sua 
entrada em vigor. 
Durante a vacância (ou vacatio), não há lei nova, mas apenas expectativa de lei. Aliás, 
não fosse assim, o Código Penal de 1940 teria sido revogado pelo Código Penal de 1969 
(Decreto-Lei n. 1.004/69), o qual foi publicado, mas nunca entrou em vigor (sua vacância 
estendeu se até 1978). 
Isto vale, inclusive, para leis penais de caráter benéfico, as quais, uma vez consumada 
sua vacância, entrarão em vigor e se aplicarão a fatos pretéritos, mesmo quando já 
houver trânsito em julgado. 
A razão é simples: uma lei pode ser revogada antes de sua entrada em vigor, por isso, 
repetimos, durante a vacatio não há lei nova, mas apenas expectativa de lei; lembre-se 
do que ocorreu com o Código Penal de 1969. 
 
O TEMPO DO CRIME NAS INFRAÇÕES PENAIS PERMANENTES E CONTINUADAS 
Aplica-se a eles regra especial. No caso do crime permanente, a consumação se 
prolonga no tempo. 
É considerado tempo do crime todo o período em que se desenvolver a atividade 
delituosa. Ilustrando: durante um sequestro, pode ocorrer de um menor de 18 anos 
completar a maioridade, sendo considerado imputável para todos os fins penais. 
A mesma regra deve ser aplicada ao crime continuado, uma ficção jurídica idealizada 
para beneficiar o réu, mas que é considerada uma unidade delitiva. 
Segundo Jair Leonardo Lopes, “é aplicável a lei do momento em que cessou a 
continuação (...), pois é uma unidade jurídica incindível” (Curso de direito penal, p. 104). 
Quanto ao tempo, no entanto, há quem sustente que, por ser um benefício ao réu, não 
se deve aplicar a mesma regra do crime permanente. Ensina Delmanto: 
 “Também a norma penal nova mais grave só deverá ter incidência na série de crimes 
ocorridos durante sua vigência e não na anterior” (Código Penal comentado, p. 10). 
No tocante à imputabilidade penal, é preciso ressalvar, no caso de crime continuado, 
que as condutas praticadas pelo menor de 18 anos devem ficar fora da unidade delitiva 
estabelecida pelo crime continuado. 
Sendo esta mera ficção para beneficiar o acusado, não deve sobrepor-se a norma 
constitucional, afinal, o art. 228 da Constituição preceitua serem “penalmente 
inimputáveis os menores de dezoito anos”. Assim, caso o agente de quatro furtos, por 
exemplo, possua 17 anos, quando do cometimento dos dois primeiros, e 18, por ocasião 
da prática dos dois últimos, apenas estes dois é que servirão para formar o crime 
continuado. 
 
Despreza-se o que foi cometido em estado de inimputabilidade. 
Fora dessa hipótese, que é excepcional, ao crime continuado devem ser aplicadas as 
mesmas regras regentes do crime permanente, quanto ao tempo de delito. 
É o teor da Súmula 711 do STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou 
ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da 
permanência”. 
 
LEIS DE VIGÊNCIA TEMPORÁRIA 
 
Conceito. 
Leisde vigência temporária são aquelas instituídas para viger em determinado período. 
Elas são exceção à regra exposta na Lei de Introdução ao Direito Brasileiro, no caput do 
seu artigo 2º, de que a lei terá vigência até que outra a modifique ou revogue, ou seja, 
vige por prazo indeterminado: 
 
Art. 2º Não se destinando a vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique 
ou revogue. 
 
A lei de vigência temporária possui vigor por prazo determinado por um período de 
tempo ou por um evento, regulando os fatos ocorridos durante sua vigência, mesmo após 
já cessada a sua vigência. 
Em razão de já possuírem vocação, desde sua elaboração, para vigorarem por um 
período ou durante a ocorrência de um evento transitório, as leis de vigência temporária 
se aplicam aos fatos ocorridos em sua vigência mesmo que já não estejam em vigor. Isto 
porque são direcionadas a viger por um tempo limitado, para abarcar determinados 
fatos, e sua aplicação a eles garante sua autoridade. 
Assim, se uma lei deve vigorar durante a guerra e pune com reclusão aquele que repassar 
informações privilegiadas ao inimigo, o agente que cometer tal delito ser· punido mesmo 
que pratique a conduta no último dia de sua vigência. Isto porque, caso contrário, todos 
saberiam que nos últimos dias de guerra, quando já se aproximavam as tratativas de paz, 
a chance de punição dos crimes então cometidos seria mínima, já que o processo penal 
não transitaria em julgado até o fim da vigência da lei. 
 
A lei de vigência temporária está prevista no artigo 3º do Código Penal: 
 
Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou 
cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua 
vigência. 
Como visto pela própria redação do dispositivo, as leis de vigência temporária se 
subdividem em duas espécies: 
 
Leis excepcionais ou leis temporárias em sentido estrito. A lei excepcional ou temporária 
em sentido amplo é aquela que possui vigência durante determinado evento efêmero, 
transitório. Por sua vez, a lei temporária em sentido estrito possui prazo temporal previsto 
em seu próprio corpo normativo, vigorando com termo final já fixado, ou seja, com dia 
para o fim de sua vigência. 
 
Lei excepcional. 
 
A lei excepcional, também denominada de lei temporária em sentido amplo, é aquela 
produzida para durar durante determinada situação, determinado evento anormal, 
transitório. 
São exemplos de evento que pode determinar a vigência da lei uma guerra, uma 
calamidade pública, uma grave comoção interna com protestos violentos, um período 
de seca, etc. 
 
Lei temporária em sentido estrito. 
Lei Temporária (em sentido estrito) É aquela produzida para durar por um determinado 
período de tempo, previsto em si mesma. Sua vigência já delimitada no tempo, possuindo 
um interregno de vigência já estabelecido, razão pela qual vigora por período 
determinado. 
Um conhecido exemplo de lei temporária em sentido estrito é a Lei nº 12.663/12, 
conhecida também como lei da FIFA, que foi criada para dispor sobre medidas relativas 
à Copa das Confederações FIFA 2013, a Copa do Mundo FIFA 2014 e a Jornada Mundial 
da Juventude – 2013, dentre outros assuntos. 
Em seu artigo 36, há previsão de sua vigência: 
 
Art. 36. Os tipos penais previstos neste Capítulo terão vigência até o dia 31 de dezembro 
de 2014. 
 
Nota-se, portanto, que a Lei nº 12.663/12 possui, em seu próprio texto legal, termo final de 
vigência, já alcançado. Assim, quando se atingiu a data prevista no dispositivo acima 
transcrito, referida lei deixou de vigorar no ordenamento jurídico brasileiro. 
 
Características comuns. 
São características comuns das leis de vigência temporária (excepcionais e temporárias 
em sentido estrito) a ultra atividade e a autorrevogabilidade: 
 
Ultra atividade: o fim da vigência da lei não impede sua ultra atividade para alcançar os 
fatos cometidos anteriormente, mesmo que a aplicação ultra ativa da lei prejudique o 
réu. 
 
Autorrevogabilidade: as leis de vigência temporária são tidas por revogadas no termo 
final nela fixado (lei temporária) ou quando cessada a situação anormal (lei 
excepcional). 
 
 (IN)CONSTITUCIONALIDADE. 
 
Zaffaroni e Pierangeli, dentre outros doutrinadores, entendem que a lei de vigência 
temporária e sua regulação pelo Código Penal afrontam o princípio da irretroatividade 
da lei penal. 
 
Referido princípio está· previsto no inciso XL do artigo 5º da Constituição da República, 
vejamos: 
 
XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; 
 
Referido princípio não faz nenhuma exceção para as leis excepcionais ou temporárias 
em sentido estrito, razão pela qual esta corrente doutrinária entende que não é possível 
a punição dos fatos ocorridos na vigência delas após· já terem perdido a vigência. 
Outra parte da doutrina, da qual faz parte Frederico Marques, entende que a situação 
específica (evento transitório ou lapso temporal) faz parte do fato típico. Sua aplicação 
posterior garante sua força intimidativa, o que não haveria, por exemplo, se não se 
admitisse a aplicação após o fim de sua vigência. 
Isto faria com que uma lei temporária em sentido estrito, elaborada para vigorar até 02 
de fevereiro de 2018, dificilmente seria observada no dia 1º de fevereiro do referido ano, 
pois sua punição seria impossível dado o trâmite do processo penal necessário para se 
condenar alguém. 
 
Vejamos as lições do referido doutrinador, Frederico Marques, citado por Cezar Roberto 
Bitencourt: 
 “Entendida a lei temporária ou excepcional como descrição legal de figuras típicas 
onde o tempus delicti condiciona a punibilidade ou maior punibilidade de uma conduta, 
_ a sua ultra-atividade não atinge os princípios constitucionais do nosso Direito Penal 
intertemporal. A lex mitior que for promulgada ulteriormente para um crime que a lei 
temporária pune mais severamente não retroagirá· porque as situações tipificadas são 
diversas.” (BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral, volume 1. 
10ª ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 215.) 
 
Essa ˙última posição é a que prevalece na doutrina, com a conclusão de que as leis 
excepcionais e temporárias (stricto sensu) são compatíveis com a nossa Constituição. O 
STF possui julgados em que o tema foi tratado, direta ou indiretamente, mas seus 
precedentes são antigos, por exemplo, RE 71947, julgado pela Primeira Turma em 
14/09/1971, e HC 31552, julgado pelo Tribunal Pleno em 31/07/1951. Em todos, a 
constitucionalidade das leis penais temporárias não foi sequer questionada. 
 
LEI PENAL NO ESPAÇO 
Lugar do Crime 
 
O lugar do crime é a definição de qual o lugar em que se considera que a infração penal 
foi praticada. Com relação a este tema, a doutrina desenvolveu algumas teorias sobre 
onde se deve considerar que o crime foi praticado. 
 
Cabe a análise de cada uma delas: 
 
Teoria da atividade: A teoria da atividade considera que o crime é praticado no lugar 
em que houve a ação ou a omissão do agente. Ou seja, considera-se como local da 
infração penal, para aplicação da lei, o local em que o indivíduo pratica a conduta, seja 
ela omissiva (um não fazer) ou comissiva (um fazer). 
Deste modo, adotada esta teoria no caso do homicídio, por exemplo, o crime será 
considerado como praticado no local em que o indivíduo efetua os disparos de arma de 
fogo em direção à vítima, e não onde a vítima efetivamente vem a falecer. 
 
Teoria do resultado: Pelo ponto de vista da teoria do resultado, considera-se praticado o 
crime no local em que o agente obteve a produção do resultado. 
Deste modo, ainda que o resultado naturalístico seja obtido a muitos quilômetros de onde 
foi praticada a conduta, será o local que se considera praticado o crime. Utilizando-se 
novamente o exemplo do homicídio, por esta teoria o crime teria sido praticado nolocal 
da morte da vítima, e não onde foram efetuados os disparos de arma de fogo. Sob o 
entendimento desta teoria, só se considerará praticado o crime, para fins de aplicação 
da lei penal, no local em que for atingido o resultado. 
 
Teoria da ubiquidade ou mista: A teoria da ubiquidade, também chamada de mista, é o 
resultado da reunião das duas anteriores, a da atividade e a do resultado. 
Segundo esta teoria, o crime se considera praticado tanto no lugar da conduta quanto 
no do resultado. Assim, tanto no local da ação ou omissão quanto no da obtenção do 
resultado, considerar-se· que o crime foi praticado para efeito de aplicação da lei penal. 
Utilizando o exemplo do homicídio, serão considerados como local do crime, para se 
aplicar a lei penal, tanto o local em que houve os disparos de arma de fogo quanto o 
lugar em que a vítima efetivamente vier a Óbito. 
 
Sobre o tema, prevê o Código Penal, em seu artigo 6º: 
 
Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no 
todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. 
 
Deste modo, resta claro que o ordenamento jurídico brasileiro adota a teoria da 
ubiquidade quanto ao lugar do crime. Considera-se que o crime foi praticado tanto no 
lugar em que se praticou a conduta (comissiva ou omissiva) quanto no lugar em que se 
produziu ou se deva produzir o resultado. 
Qual a importância de estabelecermos o lugar do crime? A teoria da ubiquidade para 
definição do lugar do crime se aplica aos crimes a distância, também chamados de 
crimes de espaço máximo. São as infrações penais cujo iter criminis (caminho do crime, 
com suas fases de cogitação, preparação, execução, consumação e, ao final, eventual 
exaurimento) abrange mais de um país. Ou seja, é aquela infração penal que, em seu 
desenvolvimento, percorre mais de um território soberano. Exemplo de crime a distância 
é o do sujeito que, posicionado em Ciudad Del Este, cidade paraguaia, atira no seu 
inimigo que andava na cidade brasileira de Foz do Iguaçu e o atinge, causando lesão 
corporal de natureza grave. Perceba-se que o local da conduta foi o Paraguai, sendo 
que o resultado foi atingido no Brasil. Como o Direito Penal adota a teoria da ubiquidade, 
consideraremos o crime praticado no Brasil, possibilitando a aplicação da lei brasileira. 
 
REGRAS PARA A APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO ESPAÇO 
 
São basicamente duas: a) territorialidade (regra geral); b) extraterritorialidade (exceção: 
aplicação da lei penal brasileira a crime ocorrido fora do território nacional). Esta, por sua 
vez, é regida pelos seguintes princípios: b.1) defesa ou proteção (leva-se em 
consideração a nacionalidade brasileira do bem jurídico lesado pelo delito); b.2) justiça 
universal ou cosmopolita (tem-se em vista punir crimes com alcance internacional); b.3) 
nacionalidade ou personalidade (leva-se em conta a nacionalidade brasileira do agente 
do delito); b.4) representação ou bandeira (tem-se em consideração a bandeira 
brasileira da embarcação ou da aeronave privada, situada em território estrangeiro). 
 
TERRITORIALIDADE 
A territorialidade é a regra sobre a aplicação da lei brasileira no espaço, ou seja, a lei 
nacional é aplicável ao território nacional. Só se aplica a lei penal brasileira aos crimes 
cometidos no Brasil. Para saber como se apurar o local de cometimento do crime, vimos 
no tópico anterior o lugar do crime, sendo que o Código Penal adotou a teoria da 
ubiquidade. 
Territorialidade é a aplicação das leis brasileiras aos delitos cometidos dentro do território 
nacional. Esta é uma regra geral, que advém do conceito de soberania, ou seja, a cada 
Estado cabe decidir e aplicar as leis pertinentes aos acontecimentos dentro do seu 
território. Excepcionalmente, no entanto, admite-se o interesse do Brasil em punir autores 
de crimes ocorridos fora do seu território. Extraterritorialidade, portanto, significa a 
aplicação da lei penal nacional a delitos ocorridos no estrangeiro (art. 7.º, CP). 
 
Vejamos o artigo 5º do Código Penal que traz a regra da territorialidade: 
Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito 
internacional, ao crime cometido no território nacional. 
 
CONCEITO DE TERRITÓRIO E SEUS ELEMENTOS 
Trata-se de todo espaço onde o Brasil exerce a sua soberania, seja ele terrestre, aéreo, 
marítimo ou fluvial. São elementos do território nacional: a) o solo ocupado pela nação; 
b) os rios, os lagos e os mares interiores e sucessivos; c) os golfos, as baías e os portos; d) a 
faixa de mar exterior, que corre ao largo da costa e que constitui o mar territorial; e) a 
parte que o direito atribui a cada Estado sobre os rios, lagos e mares fronteiriços; f) os 
navios nacionais; g) o espaço aéreo correspondente ao território; h) as aeronaves 
nacionais. 
 
3.1 Rios, lagos e mares fronteiriços e sucessivos 
Fronteiriços, simultâneos ou limítrofes são os situados na fronteira entre dois países, 
separando-os. 
Cabe aos tratados ou convenções internacionais fixar a quem pertencem. Se não houver 
acordo internacional, entende-se que a fronteira fica estabelecida na metade do leito. 
Ex.: Rio Solimões, situado entre o Peru e a Colômbia. 
 
Rios sucessivos ou interiores são os que passam pelo território de vários países. Ex.: Rio 
Danúbio, que corta a Alemanha, a Áustria, a Eslováquia, a Hungria, a Croácia, a Sérvia, 
Montenegro, a Romênia, a Bulgária e a Ucrânia. 
 
3.2 Espaço aéreo 
Quanto ao espaço aéreo, compreende todo o espaço acima do território, inclusive do 
mar territorial, até o limite da atmosfera. Não existe, nesse caso, o direito de passagem 
inocente e tudo é devidamente regulado por tratado. 
Na realidade, as aeronaves privadas podem passar, desde que informem previamente a 
sua rota (art. 14, § 2.º, do Código Brasileiro de Aeronáutica). 
 
Quanto às aeronaves militares ou a serviço de governo estrangeiro, a passagem pelo 
espaço aéreo nacional somente pode ser realizada se houver prévia autorização (art. 14, 
§ 1.º, do mesmo Código). 
Para tanto, é imprescindível que toda aeronave tenha uma bandeira, seja ela pública 
ou privada, pois, do contrário, há possibilidade de ser derrubada pelo governo, caso 
penetre no seu espaço aéreo (art. 20 do Código Brasileiro de Aeronáutica). 
Quanto ao espaço cósmico, existe o Tratado sobre Exploração e Uso do Espaço Cósmico 
– inclusive da Lua e outros corpos celestes –, aprovado pelo Decreto 64.362/69. 
Diz o acordo internacional que a exploração e uso do espaço cósmico deve ter em mira 
o interesse de todos os países, além do que pode ser explorado e utilizado livremente por 
todos os Estados sem qualquer discriminação, em condições de igualdade e em 
conformidade com o direito internacional, devendo haver liberdade de acesso a todas 
as regiões dos corpos celestes (art. 1.º). 
 
O espaço cósmico não pode ser objeto de apropriação nacional por proclamação de 
soberania, por uso ou ocupação, nem por qualquer outro meio (art. 2.º). 
 
Mar territorial brasileiro 
Quanto ao mar territorial, antigamente vigorava a regra do alcance do tiro de canhão, 
pois a soberania terminava onde o Estado se tornava impotente para fazer-se respeitar 
pela força das armas. Dizia Grotius que o mar territorial deveria ir “até onde o Estado 
marginal pudesse tornar efetiva e eficaz a sua autoridade e posse pelos canhões 
colocados à praia” (menção de Pinto Ferreira, Teoria geral do Estado, p. 123). 
Até a década de 50, o Brasil possuía 3 milhas. Em 1966, ampliou-se o mar territorial para 6 
milhas e, posteriormente, em 1970, estendeu-se para duzentas milhas. Nessa época, o 
mesmo critério de ampliação foi utilizado pelos seguintes países: Argentina, Chile, Peru, 
Equador, Uruguai, Costa Rica, São Salvador e Panamá. Atualmente, a Lei 8.617/93 fixa as 
regras para o mar territorial brasileiro. 
Essa norma é fruto do dispostona Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar 
(aberta a assinatura em Montego Bay, Jamaica, a partir de 10 de dezembro de 1982), 
que foi ratificada pelo Brasil em 1988. 
 
O mar territorial do Brasil, onde o Estado exerce soberania absoluta, possui 12 milhas. 
Nesse espaço, aplica-se a lei penal pátria. Além disso, na referida Lei de 1993, há também 
a Zona Contígua, que vai das 12 às 24 milhas, servindo para fiscalização sobre assuntos 
aduaneiros, fiscais, sanitários ou sobre matéria referente à imigração. Por fim, prevê-se, 
também, a Zona Econômica Exclusiva, que abrange o espaço compreendido das 12 às 
200 milhas. Nessa área, o Brasil pode explorar, sozinho, todos os recursos naturais possíveis. 
O art. 8.º da Lei 8.617/93, faz referência a “exercício de jurisdição” nesse espaço de 188 
milhas, embora o direito de soberania seja exclusivamente para fins de exploração e 
aproveitamento, conservação e gestão dos recursos naturais, vivos ou não vivos, das 
águas sobrejacentes ao leito do mar, do leito do mar e seu subsolo, e no que se refere a 
outras atividades visando à exploração e ao aproveitamento da zona para finalidade 
econômica. 
Dentro das 12 milhas, onde o Brasil tem soberania absoluta, existe a possibilidade da 
passagem inocente, significando a rápida e contínua travessia de barcos estrangeiros 
por águas nacionais, sem necessidade de pedir autorização ao governo. Ressaltemos 
que as ilhas brasileiras (ex.: Fernando de Noronha) também possuem o mar territorial de 
12 milhas. 
 
TERRITÓRIO BRASILEIRO POR EQUIPARAÇÃO 
Há duas situações que a lei brasileira considera território nacional por equiparação (art. 
5.º, § 1.º, CP): 
 
 a) embarcações e aeronaves brasileiras de natureza pública ou a serviço do governo 
brasileiro onde estiverem. Exemplo: o interior de um navio militar brasileiro ancorado num 
porto estrangeiro é considerado território nacional por equiparação. 
Nesse sentido, reiterando o preceituado no Código Penal está o disposto no Código 
Brasileiro de Aeronáutica, que menciona, no art. 107, § 3.º, o seguinte: “As aeronaves 
públicas são as destinadas ao serviço do poder público, inclusive as requisitadas na forma 
da lei; todas as demais são aeronaves privadas”; 
b) embarcações e aeronaves brasileiras, de propriedade privada, que estiverem 
navegando em alto-mar ou sobrevoando águas internacionais. 
 
Competência para o julgamento de crimes cometidos a bordo de embarcações e 
aeronaves 
É da Justiça Federal (art. 109, IX, CF), ressalvada a competência da Justiça Militar, do 
local onde primeiro pousar a aeronave após o delito (ou da comarca de onde houver 
partido), conforme art. 90 do CPP. 
 
Entretanto, o STJ tem dado uma interpretação restritiva ao conceito de embarcação, 
pois a Constituição Federal menciona a palavra “navio”. Entende-se por esse termo a 
embarcação de grande porte, autorizada e adaptada para viagens internacionais. 
Portanto, é da competência da Justiça Estadual a punição de crimes cometidos a bordo 
de iates, lanchas, botes e embarcações equiparadas. No tocante à aeronave, não há 
interpretação restritiva, mesmo que o crime seja praticado dentro de um avião ainda em 
terra. 
 
A lei penal e a Convenção de Tóquio 
 
Em 14 de setembro de 1963, o Brasil subscreveu a Convenção de Tóquio, que cuida das 
infrações praticadas a bordo de aeronaves, aprovada pelo Decreto 479/69. 
 
Pelo texto da Convenção, aplica-se a lei do Estado de matrícula da aeronave, com 
relação a todas as infrações penais praticadas a bordo nas seguintes situações: a) 
aeronave em voo sobre qualquer território estrangeiro; b) aeronave em voo sobre a 
superfície de alto-mar; c) aeronave em qualquer outra zona fora do território de um 
Estado. 
 
Segundo o art. 4.º, não se pode interferir no voo de uma aeronave, a fim de exercer a 
jurisdição penal em relação a infração cometida a bordo, a menos que “a infração 
produza efeitos no território deste Estado”, “a infração tenha sido cometida por ou contra 
um nacional desse Estado ou pessoa que tenha aí sua residência permanente”, “a 
infração afete a segurança desse Estado”, “a infração constitua uma violação dos 
regulamentos relativos a voos ou manobras de aeronaves vigentes nesse Estado”, “seja 
necessário exercer a jurisdição para cumprir as obrigações desse Estado, em virtude de 
um acordo internacional multilateral”. 
Assim, o que se constata é o seguinte: se um avião estrangeiro de propriedade privada 
estiver sobrevoando o território brasileiro, havendo um crime a bordo, o Brasil somente 
teria interesse em punir o autor, caso uma das hipóteses enumeradas no referido art. 4.º 
estivesse presente. Do contrário, caberia ao Estado de matrícula da aeronave punir o 
infrator. Ex.: um americano agride outro, em aeronave americana, sobrevoando o 
território brasileiro. Seria competente o Estado americano para aplicar a sua lei penal. 
Entretanto, o texto da Convenção de Tóquio entra em conflito com o disposto no art. 5.º, 
§ 2.º, do Código Penal, com a redação dada pela Lei 7.209/84. Nota-se, por este 
dispositivo, que é aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves 
estrangeiras de propriedade privada, que estejam sobrevoando o espaço aéreo 
nacional. Logo, no exemplo citado, de acordo com o Código Penal, seria o autor punido 
pela lei brasileira, no Brasil. Mas, se fosse aplicada a Convenção de Tóquio, caberia a 
punição aos Estados Unidos. Em função da atual posição do Supremo Tribunal Federal, a 
lei federal, quando mais recente que o tratado, tem prevalência sobre este, 
suspendendo-se a sua eficácia. Embora os internacionalistas critiquem essa postura, 
pregando a superioridade hierárquica normativa do tratado diante da legislação 
ordinária, não é o posicionamento adotado pelo Pretório Excelso. 
Assim, caso o referido avião americano pousasse, após a agressão de um americano 
contra outro, caberia a entrega do autor do delito às autoridades brasileiras.

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