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1 DESENVOLVIMENTO DE PESSOAS NO SETOR PÚBLICO: NOVO MODELO DE GESTÃO Patrícia Nassif da Cruz * Este artigo mostra a importância do desenvolvimento de pessoas no setor público no sentido pleno como condição de transformação de um modelo de gestão organizacional tradicional e burocráti- co. As pessoas dentro desse processo são consideradas agentes de mudança e, portanto, preci- sam desenvolver suas capacidades intelectuais, sociais, pessoais e profissionais e conseqüente- mente, manifestar um melhor desempenho. Primeiramente, faz-se uma reflexão acerca da gestão de pessoas nos aspectos comportamentais, tais como, gerenciais, de liderança e de motivação. São destacados também alguns problemas e dificuldades mais freqüentes na gestão de pessoas e a necessidade de quebrar velhos paradigmas. Buscar um modelo de gestão de pessoas que predomine na sua essência a valorização humana e social é um dos grandes desafios do setor público. I. INTRODUÇÃO Uma mudança fundamental, em escala mun- dial, está ocorrendo no meio ambiente e no con- texto interno das organizações públicas e pri- vadas. Esta mudança está provocando a reno- vação do modelo de gestão, principalmente na gestão de pessoas, devido à necessidade de sobrevivência no ambiente em que tais organi- zações atuam. Segundo The Economist , nada mudou mais em 10 séculos de vida humana do que o mundo do trabalho. Os gerentes tiveram seu perfil ajustado a uma nova realidade e a gestão dos recursos humanos que estivessem sob sua responsabilidade passou a fazer parte de sua rotina de trabalho. Com isso, sua capa- citação passou a incluir disciplinas voltadas para a área do comportamento, condição fundamen- tal para que pudessem se comunicar melhor com os seus funcionários, compreendendo melhor seus problemas pessoais. É como se entende, hoje, gestão com pessoas. *Professora da Faculdade Estácio de Sá Juiz de Fora/MG, Mestre em Administração Pública pela Fundação Getulio Vargas/RJ. 2. REFLEXÃO SOBRE GESTÃO DE PESSOAS O primeiro marco de estruturação e formali- zação dos sistemas de gestão de pessoas aconteceu com a introdução do taylorismo- fordismo nas empresas, quando se definiram alguns princípios para a gestão de pessoal e contratualização das relações empregatícias. A espinha dorsal desse modelo era a defini- ção do cargo, ou seja, o conjunto de tarefas associadas ao desempenho em um posto de trabalho. Disto derivavam os critérios para se- leção de pessoas: “o homem certo para o lu- gar certo”, a necessidade de treinamento para o desempenho correto das tarefas e o sistema de recompensas; os salários devem incorpo- rar os ganhos produtividade. Com relação ao treinamento, observa-se que, para a maioria dos empregados de nível operacional, este se resu- mia ao chamado “treinamento on the job”, ou, como colocava Ford, em um dia de aprendiza- gem para executar corretamente as tarefas de- mandadas. As duas primeiras revoluções industriais ca- racterizavam-se pela figura do trabalhador como apêndice da máquina e pelos conceitos do paradigma industrial. Posteriormente, com o advento do just-in-time, da qualidade total, das tecnologias da informação, da produção enxu- ta e da automação, estabeleceu-se o paradigma pós-industrial. Nesta era de economia digital, da Internet e 2 do comércio eletrônico, o relacionamento en- tre a organização e suas empresas fornecedo- ras e clientes, o comportamento das pessoas, a gestão do capital intelectual, a gestão do co- nhecimento representam novos conceitos que vieram transformar a tradicional administração de recursos humanos. Captar e compreender as principais tendên- cias que estão se delineando para os próximos anos é tão vital para a gestão de pessoas quan- to administrar os problemas do dia-a-dia. Uma gestão de pessoas desatrelada da realidade presente pode tropeçar em obstáculos mais imediatos e comprometer a sobrevivência da organização. Em contrapartida, a gestão de pessoas que não procure antever o amanhã pode ser apanhada de surpresa pelas transfor- mações que venham a atingir os fornecedores, os clientes, a competição do mercado e o am- biente como um todo, impedindo assim a or- ganização de reagir de forma eficaz. O modelo de gestão da organização tende- rá a pautar-se por valores, e não por regras e papéis, enfatizando-se o aprendizado e o aper- feiçoamento contínuos. A organização assimi- lará conceitos como sistemas flexíveis e proce- dimentos adaptativos, ampla delegação no pro- cesso de tomada de decisões, múltiplos fluxos de comunicação em todas as direções com base nas tecnologias da informação, recursos humanos de múltiplas habilidades cumprindo tarefas variáveis, autodefinidas e quase sempre autocontroladas. Tais conceitos inovadores substituirão os atuais, como a especialização funcional única, a linha de comando e a comuni- cação vertical de cima para baixo. Esse novo contexto exigirá uma gestão de pessoas que leve em conta a existência, na organização, de um acervo intelectual constituído pelas experi- ências — Know how — acumuladas pelos tra- balhadores. Para que uma organização possa introduzir novos produtos e serviços, novas tecnologias e processos sistêmicos, os traba- lhadores do conhecimento devem estar moti- vados e treinados para tanto. Daí a necessida- de de direcionar a gestão das pessoas de modo a evitar a perda do investimento corporativo realizado pela organização. 3. A FUNÇÃO GERENCIAL NO MUNDO CONTEMPORÂNEO A definição da função gerencial, apesar de muitas pesquisas e estudos diversos, perma- nece ainda um tanto ambígua e até mesmo mis- teriosa para muitos dos que tentam se aproxi- mar de seu conteúdo. Ninguém logrou caracte- rizá-la com exatidão; portanto, não se aprendeu a avaliá-la corretamente. A função gerencial con- trasta com outras funções produtivas (técnicas e administrativas), passíveis de definições cla- ras sobre atribuições funcionais e que condici- onam comportamentos, normalmente previsí- veis e rotineiros. Atualmente, já se aceita tratar a função gerencial como extremamente ambí- gua e repleta de dualidades, cujo exercício se faz de forma fragmentada e intermitente. Sabe- se que hoje, também muitas das antigas difi- culdades em se definir a função gerencial provi- nham tanto de perspectivas excessivamente ordenadas da própria função quanto dos con- textos organizacionais onde ela é exercida. Em primeiro lugar, a visão ordenada e tradi- cional de gerência fazia crer que o dirigente era um decisor racional, um planejador sistemático e um coordenador e supervisor eficiente das ati- vidades organizacionais. Entretanto, pesquisas sobre a função gerencial, mesmo nas grandes organizações consideradas eficientes, têm re- velado que o lugar-comum da gerência é exata- mente o contrário. A maioria dos dirigentes, quando questionada sobre o seu trabalho, in- forma que encontra sempre uma carga inespe- rada de tarefas imprevistas, com reuniões, in- terrupções e trabalhos administrativos intensos, descontínuos e de natureza variável. Tomam decisões através de interações diversas, ações isoladas e opiniões manifestadas esparsamen- te, às vezes pouco coerentes. Aproximam-se dos problemas á medida que estes vão surgin- do, na busca de soluções baseadas em infor- mações parciais, imperfeitas e de primeira mão, quase sempre envoltas por grandes incertezas. A maioria dos gerentes dedica-se intensa- 3 mente à função, e preocupa-se com ela fora dos horários normais de trabalho; leva proble- mas para casa e tenta evitar, sem sucesso, que eles invadam o seu tempo de lazer. Dirigentes normalmente são pressionados por demandas urgentes e raramente encontram tempo para se sentar confortavelmente na poltrona, analisar um problema e pensar no futuro de sua empresa. Como regra geral, dirigentes chegam a com- preender bem os objetivos de sua organização e julgam-se preparados para alcançá-los. Sen- tem-se surpresos, todavia, com a natureza do processo decisório organizacional, ou seja, como fatores não-controláveis conduzem o seu comportamento administrativo a formasdiver- sas do desejado. A função do dirigente é es- sencialmente voltada para a decisão. Mas a compreensão do trabalho do dirigente jamais pode ser feita exclusivamente pelo estudo da decisão em si. Estudos sobre decisão sempre envolvem a visão racional antecedente e calcu- lada para se identificar e selecionar alternativas diante de um objetivo predeterminado. Examinar a decisão como um processo raci- onal lógico, que leva a um produto específico, é perfeitamente possível desde que não se con- sidere o processo decisório organizacional. A lógica racional da decisão não está presente na organização: é um processo comportamental condicionado por diversos fatores que não con- duzem necessariamente a comportamentos coerentes com a lógica decisória. O dirigente é parte do processo decisório organizacional. Seu comportamento, como o de qualquer outro fun- cionário, é determinado por fatores internos e externos à organização. Valores, atitudes indivi- duais, bem como experiência administrativa, são variáveis que determinam o comportamen- to de um indivíduo, independente de decisões em questão. Por outro lado, existem também condições específicas que influenciam apenas o comportamento de um dirigente, tornando-o ilógico segundo a visão racional da decisão. O processo decisório organizacional gerencial e, portanto, antecedente e determinante da pró- pria decisão. Como as organizações são diferentes, para cada uma delas exige-se um novo aprendiza- do. No entanto, existem comportamentos ge- renciais comuns entre os dirigentes de suces- so; pode-se dizer que esses comportamentos provêm de habilidades gerenciais típicas que podem ser assimiladas. Se os dirigentes de grandes organizações aprenderam a se com- portar de certa maneira, talvez não tenha sido por mero acaso, mas por imposição de uma realidade organizacional que possui padrões co- muns. Existem habilidades gerenciais que têm de ser conquistadas na experiência do dia-a-dia, enfrentando-se as contradições e mutações da empresa moderna. Outras sistematizadas e já em grande número podem ser ensinadas e apre- endidas por aqueles que se dedicam à gerên- cia como profissão. 3.1. Pessoas como sujeitos ativos da gerência Nos dias de hoje, novas e significativas mu- danças ocorrem. Até final da década de 1970, prevalecia nas empresas o modelo organizaci- onal vertical e compartimentado, onde as vári- as áreas vivenciam “seu negócio” e se comuni- cavam através dos canais formais de hierarquia. Com isso, sua integração ficava comprometi- da e o nível de responsabilidade dos gerentes, reduzido aos limites de seus setores. Já nos anos 90, com o advento da estrutura- ção das organizações por processos e com a competitividade sendo mandatária na era da globalização, eliminaram-se as barreiras internas e os gerentes foram obrigados a assumir pa- péis de “donos” do negócio. Os gerentes tiveram seu perfil ajustado a uma nova realidade e a gestão dos recursos huma- nos que estivessem sob sua responsabilidade passou a fazer parte de sua rotina de trabalho. Com isso, sua capacitação passou a incluir dis- ciplinas voltadas para a área do comportamen- to, condição fundamental para que pudessem se comunicar melhor com os subordinados, compreendendo melhor seus problemas pes- soais. É como se entende, hoje, gestão com pessoas. Esta tem como objetivo fundamental tornar a relação entre o capital e o trabalho, no âmbito das organizações, a mais produtiva e 4 menos conflituosa possível. Por gestão com pessoas entende-se, num contexto futuro, um processo de gestão descen- tralizada apoiada nos gestores responsáveis, cada qual em sua área, pelas atividades-fim e ati- vidades-meio das organizações. Os novos tem- pos estão a exigir novos modelos de gestão e, consequentemente, novas formas de conduzir os interesses da organização e das pessoas. O modelo de gestão da organização tende- rá a pautar-se por valores, e não por regras e papéis, enfatizando-se o aprendizado e o aper- feiçoamento contínuos. A organização assimi- lará conceitos como sistemas flexíveis e proce- dimentos adaptativos, ampla delegação no pro- cesso de tomada de decisões, múltiplos fluxos de comunicação em todas as direções com base nas tecnologias da informação, recursos humanos de múltiplas habilidades cumprindo tarefas variáveis, autodefinidas e quase sempre autocontroladas. Para que uma organização possa introduzir novos produtos e serviços, novas tecnologias e processos sistêmicos, os trabalhadores do conhecimento devem estar motivados e treinados para tanto. Daí a neces- sidade de direcionar a gestão das pessoas de modo a evitar a perda do investimento corporativo realizado pela organização. No que tange a estrutura e crescimento, pro- fundas mudanças ocorrerão na atual hierarquia piramidal estável. A tendência é reduzir-se a hie- rarquia através das novas tecnologias da infor- mação, adotando-se uma configuração organi- zacional dinâmica e ao redor, sob de rede pla- na, ágil e flexível de unidades organizacionais. Serão também incorporadas inovações como a eliminação dos níveis intermediários de gerên- cia, a descentralização como norma e o moni- toramento das fronteiras organizacionais em processo de permanente redefinição. Quanto às relações com fornecedores e cli- entes, deverão ser amplamente revistos os atu- ais conceitos de firme posição com fornecedo- res variáveis para maximizar utilidade e de am- pla diversificação de clientes e relativa falta de atenção às suas necessidades. Adotar-se-á um sistema organizacional aberto, que incorpore for- necedores, clientes e demais entidades externas, ampliando assim as fronteiras da organização. No que se refere a pessoas e talentos, há que levar cm conta certas novidades como autocontrole, auto-avaliação e constante capa- citação interna num ambiente onde os postos de trabalho estão em permanente redefinição com pessoas generalistas. Quanto à liderança, prevêem-se mudanças no atual quadro de comando centralizado e controle vertical, onde o chefe é a autoridade suprema que decide de forma independente, cultivando imagem distante e desvinculada de seu pessoal. Tal figura será substituída por co- laboradores tidos como agregadores de valor e como elementos centrais para o contínuo pro- cesso de inovação na organização empresari- al. O desenvolvimento das pessoas passará a ser questão central do novo líder, que deve esti- mular a participação e a criatividade dos em- pregados no processo decisório. Esse novo contexto e essa nova forma de gerenciamento das organizações vão requerer novos trabalhadores e gestores fortalecidos e autônomos, agrupados em equipes e despoja- dos do tradicional conceito de hierarquia e con- trole. 3.2. A organização e o caráter dos gerentes As organizações de trabalho são descritas por Maccoby como psicoestruturas que sele- cionam e moldam o caráter de seus membros. Alguns estudiosos afirmam que o cargo deter- mina o comportamento dos gerentes, enquan- to outros crêem que é a personalidade que de- termina o comportamento. Para Maccoby, o comportamento dos dirigentes é determinado pela forma como sua personalidade reage a pressões, oportunidades e outros estímulos. Por outro lado, reconhece esse autor que a se- leção de indivíduos contempla, naturalmente, a adequação de sua personalidade às exigênci- as desse cargo. Não se pode, todavia, respon- sabilizar totalmente a organização pelo desen- volvimento do caráter de seus membros. Se- gundo Maccoby, o caráter é formado, principal- mente, na escola. Uma pessoa quando ingres- 5 sa numa empresa sabe que tipo de condições encontrará, mas os aspectos estimulados pela corporação terão, em muitos casos, uma forte influência no desenvolvimento de seu caráter, não só como gerente, mas também como côn- juge, pai, mãe ou cidadão. Uma das questões apresentadas por Maccoby aos gerentes que entrevistou versa- va sobre qual era, na opinião dos mesmos, os traços de caráter mais importantes para o tra- balho e quais os mais estimulados pela organi- zação em que atuavam.Adotando uma divisão entre as “qualidades da cabeça” e as “qualida- des do coração”, o autor apresenta os resulta- dos demonstrados na Tabela 1. Tabela 1 * IMP. = Traços considerados importantes para o trabalho (em %). ** EST. = Traços estimulados pelo trabalho (%). Percebe-se pelas respostas obtidas que qua- se todos os traços são consideravelmente mais valorizados pelos gerentes do que estimulados pelas organizações. Dentre as “qualidades da cabeça” as maiores diferenças estão no orgu- lho no desempenho das funções; flexibilidade e abertura. Já nas “qualidades do coração” es- tão no idealismo; na honestidade e na solidari- edade, nesta ordem, as maiores defasagens. Essa constatação pode conduzir a uma refle- xão sobre onde as empresas têm descuidado no oferecimento de condições ao desenvolvi- mento do caráter de seus gerentes, de acordo com a visão dos mesmos. Ao atribuir elevada importância à flexibilida- de e à abertura, os entrevistados revelaram uma significativa inclinação para o exercício de uma gestão mais democrática, participativa. O pe- queno estímulo que as organizações oferecem a esses fatores revela, porém, que os geren- tes, embora desejosos por adotar esse estilo gerencial, não têm encontrado as condições necessárias. O pequeno estímulo oferecido à cooperativi- dade demonstra o quanto as organizações têm falhado em desenvolver o espírito de equipe, o qual é considerado por muitos teóricos (vide, por exemplo, o estudo de Likert), como essencial. Também o orgulho no desempenho das funções, fundamental na motivação para o trabalho e o segundo traço em importância na opinião dos gerentes, recebe poucos estímulos. 6 Nota-se ainda que diversos traços que são normalmente considerados essenciais à forma- ção do chamado “bom caráter”, como a ho- nestidade, solidariedade, generosidade e idea- lismo, são minimamente estimulados nas em- presas. Nesse caso, porém, tratam-se, com exceção da honestidade, de traços percebidos pelos próprios gerentes como sendo pouco importantes. Esses dados vão, de certa ma- neira, de encontro à Teoria Estruturalista da Administração, a qual percebe as organizações como sendo integradas à sociedade, uma es- pécie de micro-sistema que reflete o macro-sis- tema social. Parece, no entanto, que os traços de personalidade valorizados na vida social não recebem o mesmo valor na vida profissional. É claro que se poderia argumentar que o grau de estímulo oferecido pelas organizações foi levantado unicamente a partir da opinião dos gerentes a qual é, naturalmente, subjetiva. É possível, portanto, que existam fortes es- tímulos para muitos traços e que esses estímu- los não são percebidos pelos gerentes. Nesse caso, porém, os esforços organizacionais têm sido marcados pela ineficácia, pois um estímu- lo não percebido não é capaz de influenciar o comportamento de maneira adequada. Os estudos de Maccoby revelam o quanto as organizações têm falhado em influenciar o desenvolvimento de diversos traços de caráter importantes para o desenvolvimento de seus gerentes. Por outro lado, essas mesmas orga- nizações têm contribuído para formar ou refor- çar traços de dependência, busca de poder e carreirismo, percebidos por Maccoby como negativos e prejudiciais ao desenvolvimento dos gerentes. São relatados por esse autor uma série de casos que comprovam o quanto es- ses três últimos traços têm sido estimulados pelas empresas1 . 4. INCORPORAÇÃO DOS OBJETIVOS ORGANIZACIONAIS: UM DESAFIO DA GESTÃO DE PESSOAS2 1 Os relatos desses casos estão nas páginas 185 a 212 do Perfil de Águia, op. cit. 2 Adaptado de: SOUZA, Agamêmnom Rocha e FERREIRA, Victor Cláudio Paradela. Introdução à Administra- ção: Uma iniciação ao mundo das organizações. Rio de Janeiro: Pontal, 2000. A atividade de gestão de pessoas é mais conhecida como administração de recursos hu- manos. Essa nomenclatura deriva do fato de, convencionalmente, a organização ser conside- rada a conjugação de três ordens de recursos: financeiros, materiais e humanos. Essa concep- ção, no entanto, erra ao equiparar as pessoas às outras ordens de recursos. Os funcionários são, na verdade, pessoas e cidadãos, que não devem ser tratados dessa forma. A organiza- ção que pretende alcançar a excelência deve es- tabelecer uma política adequada de gestão de seu pessoal, dando ao mesmo o tratamento di- ferenciado que merece. A gestão de pessoas tem como objetivo fun- damental tornar a relação entre a organização, representada pelos seus dirigentes e os traba- lhadores, o mais produtiva e o menos conflitu- osa possível.. O alcance deste objetivo reveste-se de gran- de relevância para as organizações. Se nada for feito para evitar-se o conflito, pode ser gerada uma situação como a representada na figura a seguir: Figura 1: O Conflito Dirigentes x funcionários nas Organizações Na ocorrência do conflito radical represen- tado na figura 1, o dirigente, revestido dos po- deres próprios do exercício de cargos de che- fia, tenderá a impor seus interesses, obtendo uma aparente vitória no confronto com os fun- cionários. 7 Na realidade, porém, quando ocorre o con- flito radical de interesses anteriormente retrata- do, ambos os lados envolvidos saem perden- do. Mesmo impondo padrões de produção aos funcionários, os dirigentes são penalizados pelo fato de ser virtualmente impossível alcançar-se a excelência organizacional sem a real adesão dos funcionários. Na verdade, os funcionários só serão verdadeiramente produtivos, só colo- carão seus maiores talentos, seu interesse, sua criatividade e seu comprometimento a favor do serviço quando se sentirem contemplados em seus interesses e objetivos pessoais. Taylor, o chamado “Pai da Administração Ci- entífica” e seus seguidores adotaram uma vi- são que podemos chamar de utópica. Propon- do que cada trabalhador fosse remunerado de acordo com o volume de sua produtividade, Taylor julgava que, ao partilhar os resultados do processo produtivo com seus funcionários, a organização poderia alcançar a plena harmonia entre dirigentes e trabalhadores. Outros estudiosos, anos depois dos escri- tos pioneiros de Taylor, desenvolveram uma pro- posta visando obter a total integração de inte- resses através da manutenção de um bom tra- tamento aos funcionários. Essa idéia marcou a corrente de pensamento que ficou conhecida como a Escola Comportamentalista da Admi- nistração. Da mesma forma que o salário não é sufici- ente para promover a integração total pretendi- da pela chamada proposta utópica, o bom tra- tamento também não irá proporcionar seu al- cance. Isso porque sempre ocorrerão conflitos de interesse entre os objetivos individuais e or- ganizacionais. Por mais humano e participativo que seja o estilo gerencial adotado por uma organização, mesmo que sejam efetuados sig- nificativos investimentos no bem estar dos fun- cionários, haverá momentos em que os interes- ses individuais e corporativos não serão coinci- dentes. Deste modo, o que a gestão de pessoas busca hoje construir é uma situação onde se- jam admitidas diferenças de interesse (até por- que o conflito pode ter aspectos positivos), sem contudo resvalar-se para um confronto radical, que acaba por se tornar estéril. 4.1 Conceito básico de organização Como vemos, é no campo das organizações que se dá a ação do desenvolvimento de pes- soal. Mas, o que é mesmo uma organização? Numa definição simplificada, podemos dizer que as organizações são entidades criadas para atender às necessidades da sociedade, consti- tuindo-se em sistemas voltados para o alcance de determinados objetivos. As características principais de uma organização são: i) Seus membros possuem objetivos comuns a serem atingidos; ii) Existem normas que regulam seu funciona- mento; iii) Há divisão de trabalho e responsabilidades; iv) As ações de cada parte são coordenadas por um sistema de planejamento que busca garantir a coerência entre as mesmas e sua fidelidade aos objetivos comuns. A partir da definição acima, pode-se elencar diversos tipos de organizações:das organiza- ções aos grupos familiares, passando por ór- gãos públicos, escolas, forças armadas, igre- jas, organizações não-governamentais, torcidas organizadas, entre tantas outras que poderiam ser citadas. Em toda e qualquer organização en- contramos as quatro características básicas an- tes mencionadas. No entanto, naquelas de confi- guração mais simples, como as famílias, por exemplo, a manifestação dessas características pode se dar de maneira não explícita, informal. Dificilmente encontraremos, por exemplo, uma família que possua um código de normas e re- gulamentos próprios escritos, formalmente definidos. Sempre haverá, no entanto, um con- junto de regras de boa convivência a ser segui- do, aceito pelos membros de cada família, in- formalmente pactuado. É evidente que existe grande diversidade de interesse e de características entre os diversos 8 tipos de organização. Tachizawa e Scaico3 apre- sentam, por exemplo, uma série de caracterís- ticas peculiares às organizações, de acordo com o tipo de processo produtivo adotado. Isso não quer dizer, todavia, que não devamos buscar o entendimento da dinâmica organizacional, a qual guarda significativas semelhanças, independen- te do tipo de organização em que trabalhemos. É preciso que o gestor entenda, que, conforme bem definiu Paulo Motta, que gerenciar é uma ciência e uma arte4. Assim, ao tempo em que deve co- nhecer as diversas teorias administrativas, o ge- rente precisa desenvolver uma aguçada percep- ção para saber efetuar uma correta leitura situacional e escolher a estratégia mais adequa- da à realidade de sua organização. 4.2 Requisitos da Liderança eficaz A liderança tem merecido a atenção dos es- tudiosos da administração como um dos prin- cipais fatores que influenciam o sucesso de uma organização. Desde as primeiras contribuições sistemáticas, que constituíram a chamada “Es- cola Clássica”, este tema já ocupava um impor- tante espaço nos estudos organizacionais. Como exemplo, temos a preocupação de Henri Fayol com as qualidades que deveriam ser pos- suídas pelos administradores, as quais consti- tuem indicadores de atributos considerados necessários aos gerentes. As qualidades de um líderAs qualidades de um líderAs qualidades de um líderAs qualidades de um líderAs qualidades de um líder A direção eficaz depende da capacidade dos gerentes de portarem-se como verdadeiros lí- deres e não apenas como líder. É importante que estabeleçamos a diferenciação entre chefi- ar e liderar. Chamamos de “líder” qualquer pes- soa que ocupe um cargo gerencial. A chefia é, portanto, uma condição de caráter administra- tivo, delegada por uma autoridade superior, vin- culada ao exercício de uma função e limitada pelas normas e regulamentos vigentes. Líder é o indivíduo que possui a capacidade de influen- ciar outras pessoas, fazendo com que as mes- mas se empenhem voluntariamente na busca do alcance de determinados objetivos. A liderança não é concedida pelos superio- res, sendo conquistada pelo próprio líder, a par- tir de suas habilidades pessoais. Para ser líder não é preciso se deter nenhum cargo. Nas or- ganizações, encontramos muitos funcionários que, mesmo sem ocupar funções gerenciais, exercem grande influência sobre os colegas. O exercício da liderança também não tem como principal parâmetro limitador de seu escopo as normas burocráticas. Os seus limites e possi- bilidades derivam, principalmente, da competên- cia pessoal do líder em exercer influência e do prestígio que ele usufrui junto aos liderados. Marco Aurélio Vianna5 destaca a necessida- de de que o líder esteja buscando continuamen- te conhecer os fatores de motivação de sua equipe. Deve indagar aos colaboradores quais são os seus sonhos e verificar se a organiza- ção tem atendido aos mesmos. Por fim, de nada adianta o entusiasmo se os arranjos organizacionais, o sistema produtivo, a estrutura e os processos forem mal definidos, inadequados. Quando isso ocorre, as pessoas que mais se mobilizaram na busca da realiza- ção da visão e dos desafios comuns passam rapidamente do sonho à desilusão, devido à impossibilidade de ter sucesso. Em uma orga- nização onde sucessivos planos de mudança muito bem intencionados fracassam por falta de condições estruturais à sua implementação, o nível de descrença e desmotivação costuma ficar muito elevado. Comprometendo-se com os resultadosComprometendo-se com os resultadosComprometendo-se com os resultadosComprometendo-se com os resultadosComprometendo-se com os resultados Demos grande ênfase aos aspectos huma- nos da atuação do gerente, em como é impor- tante que o líder saiba respeitar os membros de sua equipe. É muito importante que fique cla- 3 TACHIZAWA, Takeshy e SCAICO, Oswaldo. Organização Flexível: Qualidade na gestão de processos. São Paulo: Atlas, 1997. 4 MOTTA, Paulo Roberto. Gestão Contemporânea: A ciência e a arte de ser dirigente. Rio de Janeiro: Record, 1992. 5 VIANNA, Marco Aurélio F. Trabalhar para quê? A motivação profissional nas equipes realizadoras. São Paulo: Editora Gente, 1997, p. 35. 9 ro que esses posicionamentos não devem ser confundidos com uma gerência paternalista, voltada exclusivamente para o bem estar dos funcionários. Vivemos uma época marcada por grandes desafios econômicos, onde as organizações que não forem extremamente produtivas não sobreviverão. É preciso gerar resultados. As organizações precisam dar lucros. Os órgãos públicos precisam atender às necessidades dos cidadãos e implementar as políticas governa- mentais com eficiência, eficácia e efetividade. As organizações não governamentais precisam cumprir fielmente a missão para a qual foram criadas e dar retorno aos investimentos feitos pelas pessoas e instituições que as sustentam. O líder deve ser um obstinado por resulta- dos, pela superação de metas, pelo compro- misso com a qualidade e a produtividade, em especial com o bom atendimento aos clientes. Marco Aurélio Vianna, um dos autores de abor- dagem mais humanista dentre os anteriormen- te citados, lança um claro alerta neste sentido. Conforme ele destaca, a valorização dos funci- onários não pode servir, em momento algum, de desculpa para a acomodação e a indolên- cia. Ao contrário, devem ser valorizados a ener- gia, o desafio e o trabalho. Protecionismos, corporativismos e “patotas” não devem ser admitidos. Amizades de longos anos não de- vem arranhar os princípios da competência6. 5. DESENVOLVIMENTO DAS PESSOAS NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: UMA NOVA PERSPECTIVA Estamos, vivendo um momento de transfor- mações políticas, econômicas, sociais que es- tão norteando a nossa necessidade de repen- sar todos os caminhos e atitudes que ficaram muitos anos enraizados. Estas transformações nos levam à adoção de um novo modelo insti- tucional, em que vemos as organizações como um conjunto político de ações integradas, mo- vimentadas por pessoas que exigem participa- ção, democracia e liberdade. Quando falamos em Política de RH na Administração Pública, usamos o passado como um paralelo para nos mostrar o pólo oposto ao que devemos nos posicionar, nesta verdadeira luta de adaptação do homem às novas exigências do mercado globalizado e competitivo. No universo da Administração pública, a abordagem democrática e a dimensão estraté- gica do Desenvolvimento de Recursos Huma- nos (DRH) se relacionam de imediato com as questões da representatividade e da legitimida- de da ação governamental, quando são consi- derados aspectos como a decisão sobre a coi- sa pública ou a conseqüência social do desem- penho organizacional. Seja pela natureza das suas funções, seja pela sua própria dimensão, o serviço público pode ser, no Brasil, um estimulador da democracia na sociedade, a depender da perspectiva que oriente o seu de- sempenho. A busca de aperfeiçoamento da organização pública através da reforma admi- nistrativa não deve ser orientada apenas pelos valores sociais, que devem definir o comporta- mento da organização no seu ambiente. A re- forma administrativa não deve se limitar a mu- dança nospadrões de racionalidade interna da organização, mas sim estabelecer as condições organizacionais mais adequadas ao entendi- mento das demandas do ambiente sobre a Ad- ministração Pública. A ação gerencial deve ser comprometida com valores, uma vez que a “a competência gerencialista neutra pode con- ter valores sociais que nem sempre garantem o caráter de representatividade e de eqüida- de de articulação e processamento de interes- ses da clientela, que se espera da organização pública” (Motta, 1974, p.13, citado por Men- donça) Os valores básicos que orientam o modelo de aprendizagem para uma condução democrá- tica da ação governamental são a dignidade 6 VIANNA, Marco Aurélio F. Trabalhar Para Quê? Op. cit., p.68. 10 social e a participação universal, ou seja, os in- divíduos não devem ser meros objetos de pro- gramas sociais, preparados por especialistas para atender às necessidades por estes identificadas por meio de exercícios intelectu- ais; significa, ao contrário, imprimir aos indiví- duos a condição de atores - participantes na identificação da situação e nas decisões que provocam impacto sobre seus interesses. Orientado por valores democráticos, o DRH exercido na Administração Pública deverá contri- buir para a ampliação dos pontos de identidade entre esta e a sociedade brasileira, posicionando a estrutura administrativa governamental na sua adequada condição de serviço público. A consciência das inúmeras dificuldades ine- rentes à atuação na Administração Pública Brasi- leira é algo, em princípio, desmotivador. O imobilismo, entretanto, não é nada condizente com uma concepção estratégica e democrática sobre o DRH. Aos impasses e injunções, sobre- põe-se a crença de que as pessoas devem esta- belecer estratégias sobre todos os assuntos, especialmente sobre aqueles que lhes afetam. E esta, talvez, seja uma chave para a criação de uma ampla e vigorosa força de aperfeiçoamento da Administração Pública Brasileira. A orientação clássica do DRH na adminis- tração pública o tem caracterizado como uma atividade suplementar da administração de pes- soal, desde a criação das primeiras seções e serviços de treinamento. Isto restringiu a idéia de desenvolvimento de recursos humanos a trei- namento, criando problemas que ainda hoje os profissionais da área enfrentam na execução de seu trabalho. Propõe-se uma mudança radical nos pressupostos que sustentam o exercício da atividade, desde o seu planejamento, até a sua execução e avaliação. O DRH deve consti- tuir um suporte para o planejamento estratégi- co da organização e sua contínua moderniza- ção institucional. É preciso reavaliar as premis- sas do setor e as práticas para assumir a posi- ção de facilitadores do processo de mudança qualitativa, que estamos vivendo ao nível social e que vem exigindo respostas rápidas e criati- vas da administração pública em todos os seu níveis e áreas de atuação. Desenvolver pessoas significa não domesti- car, amestrar ou treinar indivíduos para o me- lhor desempenho em seu posto de trabalho, mas possibilitar a mais plena manifestação do potencial de crescimento e realização que uma pessoa seja capaz no desempenho de seu pa- pel profissional, social e pessoal. A busca do desenvolvimento humano como uma atividade legítima a ser empreendida no seio das organi- zações, principalmente as de caráter público, deve ser estimulada a cada momento. Esta pro- posta não é romantismo ou idealismo ingênuo. Representa, simplesmente, a constatação da falência da orientação econômica do desenvol- vimento humano e a percepção de novas pre- missas políticas e sociais que as organizações brasileiras precisam levar em conta. Adotar uma orientação democrática para o DRH significa, também acreditar que esta atividade seja fun- damentalmente uma responsabilidade da fun- ção gerencial nos diversos níveis da organiza- ção, e não um centro de treinamento, como ocorre usualmente. Esta mudança traz, em sim uma série de repercussões sobre as diversas etapas do DRH. O diagnóstico transformar-se numa atividade contínua e descentralizada, isto é, executada nas diversas unidades organizaci- onais, através de seus respectivos dirigentes em conjunto com seus funcionários. Estes são incentivados a explicitarem as necessidades materiais, organizacionais, psicossociais e cognitivas indispensáveis ao pleno desenvolvi- mento de suas possibilidades de crescimento e realização, como profissionais e como pes- soas. Além disso, a determinação das necessi- dades de desenvolvimento deve respaldar-se no próprio nível de desempenho da unidade orga- nizacional considerada. Assim, se a qualidade e presteza das decisões e os resultados obti- dos por uma determinada unidade têm estado aquém das expectativas ou das metas estabe- lecidas, o diagnóstico deve considerar, também, as condições estruturais e funcionais da referi- da unidade e da própria organização. É impor- tante ressaltar que sem o envolvimento dos gerentes será impossível sabermos se os pro- gramas estão ou não alcançando os objetivos propostos. Neste ponto, fica nítida a função de 11 feedback que o sistema gerencial desempenha em relação à atividade de DRH. Enquanto este mecanismo não for estabelecido e fortalecido, o DRH continuará cego e sob suspeitas quan- to à sua real eficácia. 6. CONCLUSÃO Conforme já foi explicitado, Desenvolvimen- to de Recursos Humanos é considerado numa perspectiva ampla e abrangente, que envolve a interconexão de todos os problemas das pes- soas nas organizações e considera os diferen- tes aspectos do conhecimento administrativo com elas relacionados, como sejam, dentre outros, a colocação, a capacitação, o aprovei- tamento e valorização do elemento humano. Considera-se fundamental que as ações de Desenvolvimento de Recursos Humanos (DRH) no Serviço Público incorporem cada vez mais uma orientação democrática. Acredita-se estar assim interpretando uma real aspiração da so- ciedade brasileira - a plenitude democrática - para a consolidação da qual o desempenho da Administração Pública pode, significativamen- te, contribuir. Orientado por valores democráticos, o DRH exercido na Administração Pública deverá contri- buir para a ampliação dos pontos de identidade entre esta e a sociedade brasileira, posicionando a estrutura administrativa governamental na sua adequada condição de Serviço Público. A busca do desenvolvimento humano como uma atividade legítima a ser empreendida no seio das organizações, principalmente as de caráter público, deve ser estimulada a cada momento. Esta proposta não é romantismo ou idealismo ingênuo. Representa, simplesmente, a constata- ção da falência da orientação econômica do de- senvolvimento humano e a percepção de novas premissas políticas e sociais que as organizações brasileiras precisam levar em consideração. Considera-se que propostas de mudança puramente centradas nos indivíduos e sem re- flexos nos demais componentes do sistema tendem a ser frustrantes e ineficazes. Dessa maneira, os programas de DRH para o setor público devem estar circunscritos a dois parti- dos fundamentais na sua definição. O primeiro deles é o reconhecimento das cir- cunstâncias restritivas que compõem o ambi- ente, predominantemente, a desmotivação sa- larial e a desvalorização social. Assim, qualquer programa de DRH que focalize exclusivamente aspectos intelectuais ou cognitivos corre o ris- co fechar-se sobre si mesmo, ao isolar os com- ponentes da dinâmica afetiva e da satisfação material. Tais componentes afloram permanen- temente no ambiente da Administração Públi- ca, constituindo-se em preocupações constan- tes do servidor típico, e não podem ser alijados dos projetos e ações de DRH. O segundo partido para uma programação de Desenvolvimento dos Recursos Humanos do setor público é um criterioso cuidado com alguns detalhes do perfil da clientela, que é cons- tituída de adultos, pessoas que já incorporaram toda uma história e uma cultura e que manifes- tam, enquanto grupo, uma constante dicotomia entre suas proposições e a realidade da suaatuação. A estratégia deve considerar, no for- mato metodológico dos programas, não só as demandas organizacionais, mas a evidência de que os adultos, quando aprendem por iniciati- va própria, aprendem de maneira mais profun- da e permanente do que quando ensinados. Na “descoberta” renovadora da Administra- ção Pública no Brasil é fundamental que cada pessoa, situada em qualquer nível da estrutura organizacional - da alta direção ao incumbido das tarefas mais simples, identifique as suas necessidades de desenvolvimento, execute o seu projeto, avalie os seus avanços e tropeços e siga o seu caminho. É necessário, entretanto, que se cuide no sentido de que o processo de descoberta não se torne um fim em si mesmo. Deve-se estar atento para disfunções como “dinâmicas de grupo” meramente catárticas ou “processos participativos” que, na verdade, são ricas de- monstrações de manipulação de poder e/ou de estímulo para a ingênua competição entre os 12 mais frágeis. O que é premente que se descubra são os valores que devem orientar o funcionamento da Administração Pública no Brasil. Este é o grande desafio ao DRH. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA BATITUCCI, Márcio D. Recursos Humanos 100%: A Função de RH no terceiro milênio. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2000. CHIAVENATTO, Idalberto. Gestão de Pessoas. Rio de Janeiro: Campus, 2000. GIL, Antonio Carlos. Gestão de Pessoas: enfoque nos papéis profissionais. São Paulo: Atlas, 2001. SOUZA, Agamêmnom Rocha e FERREIRA, Victor Cláudio Paradela. Introdução à Administração – Uma iniciação a mundo das organizações. Rio de Janeiro: Pontal, 2000. SOUZA, Vera Lúcia. Gestão de Resultados de Pessoas e Equipes: Julgamento ou Diálogo? Rio de Janeiro: Editora FGV, 2002. TACHIZAWA, Takeshy, FERREIRA, Victor Cláudio Paradela e FORTUNA, Alfredo. Gestão com pes- soas – uma abordagem aplicada à estratégia de negócios. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 2001. VERGARA, Sylvia Constant. Gestão de Pessoas. São Paulo: Atlas, 1999. VROOM, Victor (organizador). Gestão de pessoas, não de pessoal. Rio de Janeiro: Campus, 1998. << /ASCII85EncodePages false /AllowTransparency false /AutoPositionEPSFiles true /AutoRotatePages /All /Binding /Left /CalGrayProfile (Dot Gain 20%) /CalRGBProfile (sRGB IEC61966-2.1) /CalCMYKProfile (U.S. Web Coated \050SWOP\051 v2) /sRGBProfile (sRGB IEC61966-2.1) /CannotEmbedFontPolicy /Warning /CompatibilityLevel 1.4 /CompressObjects /Tags /CompressPages true /ConvertImagesToIndexed true /PassThroughJPEGImages true /CreateJDFFile false /CreateJobTicket false /DefaultRenderingIntent /Default /DetectBlends true /ColorConversionStrategy /LeaveColorUnchanged /DoThumbnails false /EmbedAllFonts true /EmbedJobOptions true /DSCReportingLevel 0 /EmitDSCWarnings false /EndPage -1 /ImageMemory 1048576 /LockDistillerParams false /MaxSubsetPct 100 /Optimize true /OPM 1 /ParseDSCComments true /ParseDSCCommentsForDocInfo true /PreserveCopyPage true /PreserveEPSInfo true /PreserveHalftoneInfo false /PreserveOPIComments false /PreserveOverprintSettings true /StartPage 1 /SubsetFonts true /TransferFunctionInfo /Apply /UCRandBGInfo /Preserve /UsePrologue false /ColorSettingsFile () /AlwaysEmbed [ true ] /NeverEmbed [ true ] /AntiAliasColorImages false /DownsampleColorImages true /ColorImageDownsampleType /Bicubic /ColorImageResolution 300 /ColorImageDepth -1 /ColorImageDownsampleThreshold 1.50000 /EncodeColorImages true /ColorImageFilter /DCTEncode /AutoFilterColorImages true /ColorImageAutoFilterStrategy /JPEG /ColorACSImageDict << /QFactor 0.15 /HSamples [1 1 1 1] /VSamples [1 1 1 1] >> /ColorImageDict << /QFactor 0.15 /HSamples [1 1 1 1] /VSamples [1 1 1 1] >> /JPEG2000ColorACSImageDict << /TileWidth 256 /TileHeight 256 /Quality 30 >> /JPEG2000ColorImageDict << /TileWidth 256 /TileHeight 256 /Quality 30 >> /AntiAliasGrayImages false /DownsampleGrayImages true /GrayImageDownsampleType /Bicubic /GrayImageResolution 300 /GrayImageDepth -1 /GrayImageDownsampleThreshold 1.50000 /EncodeGrayImages true /GrayImageFilter /DCTEncode /AutoFilterGrayImages true /GrayImageAutoFilterStrategy /JPEG /GrayACSImageDict << /QFactor 0.15 /HSamples [1 1 1 1] /VSamples [1 1 1 1] >> /GrayImageDict << /QFactor 0.15 /HSamples [1 1 1 1] /VSamples [1 1 1 1] >> /JPEG2000GrayACSImageDict << /TileWidth 256 /TileHeight 256 /Quality 30 >> /JPEG2000GrayImageDict << /TileWidth 256 /TileHeight 256 /Quality 30 >> /AntiAliasMonoImages false /DownsampleMonoImages true /MonoImageDownsampleType /Bicubic /MonoImageResolution 1200 /MonoImageDepth -1 /MonoImageDownsampleThreshold 1.50000 /EncodeMonoImages true /MonoImageFilter /CCITTFaxEncode /MonoImageDict << /K -1 >> /AllowPSXObjects false /PDFX1aCheck false /PDFX3Check false /PDFXCompliantPDFOnly false /PDFXNoTrimBoxError true /PDFXTrimBoxToMediaBoxOffset [ 0.00000 0.00000 0.00000 0.00000 ] /PDFXSetBleedBoxToMediaBox true /PDFXBleedBoxToTrimBoxOffset [ 0.00000 0.00000 0.00000 0.00000 ] /PDFXOutputIntentProfile () /PDFXOutputCondition () /PDFXRegistryName (http://www.color.org) /PDFXTrapped /Unknown /Description << /FRA <FEFF004f007000740069006f006e00730020007000650072006d0065007400740061006e007400200064006500200063007200e900650072002000640065007300200064006f00630075006d0065006e00740073002000500044004600200064006f007400e900730020006400270075006e00650020007200e90073006f006c007500740069006f006e002000e9006c0065007600e9006500200070006f0075007200200075006e00650020007100750061006c0069007400e90020006400270069006d007000720065007300730069006f006e00200061006d00e9006c0069006f007200e90065002e00200049006c002000650073007400200070006f0073007300690062006c0065002000640027006f00750076007200690072002000630065007300200064006f00630075006d0065006e007400730020005000440046002000640061006e00730020004100630072006f0062006100740020006500740020005200650061006400650072002c002000760065007200730069006f006e002000200035002e00300020006f007500200075006c007400e9007200690065007500720065002e> /ENU (Use these settings to create PDF documents with higher image resolution for improved printing quality. 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