Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Crie sua conta grátis para liberar esse material. 🤩

Já tem uma conta?

Ao continuar, você aceita os Termos de Uso e Política de Privacidade

Prévia do material em texto

■
Os autores deste livro e a EDITORA ROCA. empenharam seus melhores esforços para assegurar que
as informações e os procedimentos apresentados no texto estejam em acordo com os padrões
aceitos à época da publicação, e todos os dados foram atualizados pelos autores até a data da
entrega dos originais à editora. Entretanto, tendo em conta a evolução das ciências da saúde, as
mudanças regulamentares governamentais e o constante fluxo de novas informações sobre
terapêutica medicamentosa e reações adversas a fármacos, recomendamos enfaticamente que os
leitores consultem sempre outras fontes fidedignas, de modo a se certificarem de que as
informações contidas neste livro estão corretas e de que não houve alterações nas dosagens
recomendadas ou na legislação regulamentadora.
■
Os autores e a editora se empenharam para citar adequadamente e dar o devido crédito a todos os
detentores de direitos autorais de qualquer material utilizado neste livro, dispondo-se a possíveis
acertos posteriores caso, inadvertida e involuntariamente, a identificação de algum deles tenha sido
omitida.
■
Traduzido de
VETERINARY ANESTHESIA AND ANALGESIA: LUMB AND JONES, FIFTH EDITION
This edition first published 2015 © 2015 by John Wiley & Sons, Inc.
Fourth edition, © 2007 Blackwell Publishing
Third edition, © 1996 Williams & Wilkins
Second edition, © 1984 Lea & Febiger
First edition, © 1973 Lea & Febiger
■
All Rights Reserved. Authorised translation from the English language edition published by John
Wiley & Sons Limited. Responsibility for the accuracy of the translation rests solely with Editora
Guanabara Koogan Ltda and is not the responsibility of John Wiley & Sons Limited. No part of
this book may be reproduced in any form without the written permission of the original copyright
holder, John Wiley & Sons Limited.
ISBN 978-1-118-52623-1
■
Direitos exclusivos para a língua portuguesa
Copyright © 2017 by
EDITORA GUANABARA KOOGAN LTDA.
Publicado pela Editora Roca, um selo integrante do GEN | Grupo Editorial Nacional
Travessa do Ouvidor, 11
Rio de Janeiro – RJ – CEP 20040-040
Tels.: (21) 3543-0770/(11) 5080-0770 | Fax: (21) 3543-0896
www.grupogen.com.br | editorial.saude@grupogen.com.br
■
Reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em
parte, em quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia,
distribuição pela Internet ou outros), sem permissão, por escrito, da EDITORA GUANABARA KOOGAN
LTDA.
■
Imagens da capa (da esquerda para direita): Gato: Foto de iStock.com. iStock 16988839. ©
SondraP 6-26-11;Cavalo: Foto de iStock.com. iStock #14701119. © Groomes Photography 10-30-
10; Cabra: Foto de iStock.com. iStock #17108939. © LazingBee 7-10-11; Rato: Photo from
iStock.com. iStock #16390014. © lculig 4-26-11; Cachorro: Photo from iStock.com. iStock
#16146668. © CountryStyle Photography 3-29-11.
■
Design da capa: Andy Meaden
Produção digital: Geethik
■
Ficha catalográfica
L982
5. ed.
Lumb & Jones | Anestesiologia e analgesia em veterinária / Kurt A. Grimm... [et al.]; Revisão
técnica Flavio Massone; Tradução Idilia Vanzellotti, Patricia Lydie Voeux, Roberto Thiesen. – 5.
ed. – Rio de Janeiro:Editora Roca, 2017.
: il.
Tradução de: Veterinary anesthesia and analgesia: Lumb and Jones
ISBN: 978-85-277-3176-8
1. Anestesia veterinária. 2. Analgesia. 3. Anestesia veterinária. I. Tranquilli, William J. II.
Greene, Stephen A.III. Grimm, Kurt A. IV. Lumb, William V. (William Valjean). V. Greene,
Sheilah A.
17-40455CDD: 636.089796
CDU: 619:616-089.5
Colaboradores
Jennifer G. Adams, DVM, DACVlM (LA), DACVAA
Hull, Georgia, USA
Jon M. Arnemo, DVM, PhD, DECZM
Hedmark University College
Campus Evenstad, Norway
Swedish University of Agricultural Sciences
Umeå, Sweden
Sébastien H. Bauquier, DMV, MANZCVS, DACVAA
Faculty of Veterinary and Agricultural Sciences, University of Melbourne Werribee,
Victoria, Australia
Richard M. Bednarski, DVM, MS, DACVAA
College of Veterinary Medicine, The Ohio State University Columbus, Ohio, USA
Stephanie H. Berry, DVM, MS, DACVAA
Atlantic Veterinary College
University of Prince Edward Island
Charlottetown, Prince Edward Island, Canada
Thierry Beths, DVM, Cert VA, MRCVS, PhD
Faculty of Veterinary and Agricultural Sciences, University of Melbourne, Werribee,
Victoria, Australia
Regula Bettschart-Wolfensberger, Prof.Dr.med.vet., PhD, DECVAA
Vetsuisse Faculty, Section Anaesthesiology
University of Zurich
Zurich, Switzerland
Lori A. Bidwell, DVM, DACVAA
College of Veterinary Medicine
Michigan State University
East Lansing, Michigan, USA
Benjamin M. Brainard, VMD, DACVAA, DACVECC
Department of Small Animal Medicine and Surgery
College of Veterinary Medicine
University of Georgia
Athens, Georgia, USA
Dave C. Brodbelt, MA, VetMB, PhD, DVA, DECVAA, FHEA, MRCVS
Veterinary Epidemiology, Economics and Public Health Group
Royal Veterinary College
North Mymms, Hertfordshire, UK
Robert J. Brosnan, DVM, PhD, DACVAA
Department of Surgical and Radiological Sciences, School of Veterinary Medicine
University of California
Davis, California, USA
David B. Brunson, DVM, MS, DACVAA
Zoetis, LLC
Florham Park, New Jersey, USA
Steven C. Budsberg, DVM, MS, DACVS
College of Veterinary Medicine
University of Georgia
Athens, Georgia, USA
Barret J. Bulmer, DVM, MS, DACVIM-Cardiology
Tufts Veterinary Emergency Treatment and Specialties
Walpole, Massachusetts, USA
Christopher R. Byron, DVM, MS, DACVS
Virginia-Maryland College of Veterinary Medicine
Virginia Tech
Blacksburg, Virginia, USA
Luis Campoy, LV, CertVA, DECVAA, MRCVS
Department of Clinical Sciences
College of Veterinary Medicine
Cornell University
Ithaca, New York, USA
Rachael E. Carpenter, DVM
Virginia-Maryland Regional College of Veterinary Medicine
Blacksburg, Virginia, USA
Nigel Anthony Caulkett, DVM, MVetSc, DACVAA
Department of Veterinary Clinical and Diagnostic Science
University of Calgary
Calgary, Alberta, Canada
Amandeep S. Chohan, BVSc & AH, MVSc, MS, DACVAA
Veterinary Teaching Hospital
Washington State University
Pullman, Washington, USA
Stuart C. Clark-Price, DVM, MS, DACVIM(LA), DACVAA
Department of Veterinary Clinical Medicine
College of Veterinary Medicine
University of Illinois
Urbana, Illinois, USA
Elizabeth B. Davidow, DVM, DACVECC
ACCES BluePearl
Seattle, Washington, USA
Helio A. de Morais, DVM, MS, PhD, DACVIM(SA), DACVIM-Cardiology
College of Veterinary Medicine
Oregon State University
Corvallis, Oregon, USA
Timothy M. Fan, DVM, PhD, DACVIM-Oncology
Department of Veterinary Clinical Medicine
College of Veterinary Medicine
University of Illinois at Urbana-Champaign
Urbana, Illinois, USA
Juliana Peboni Figueiredo, MV, MS, DACVAA Small
Animal Medicine and Surgery Academic Program St.
George’s University – School of Veterinary Medicine
Grenada, West Indies
Derek Flaherty, BVMS, DVA, DECVAA, MRCA, MRCVS
School of Veterinary Medicine
University of Glasgow
Glasgow, Scotland, UK
Paul A. Flecknell, VetMB, PhD, DECVAA, DECLAM
Institute of Neuroscience
Newcastle University
Newcastle upon Tyne, UK
Fernando Garcia-Pereira, DVM, MS, DACVAA
Large Animal Clinical Sciences
College of Veterinary Medicine
University of Florida
Gainesville, Florida, USA
Gregory F. Grauer, DVM, MS, DACVIM(SA)
Department of Clinical Sciences
College of Veterinary Medicine
Kansas State University
Manhattan, Kansas, USA
Thomas K. Graves, DVM, MS, PhD, DACVIM(SA)
College of Veterinary Medicine
Midwestern University
Glendale, Arizona, USA
Stephen A. Greene, DVM, MS, DACVAA
Washington State University, Pullman, Washington, USA
Kurt A. Grimm, DVM, MS, PhD, DACVAA, DACVCP
Veterinary Specialist Services, PC
Conifer, Colorado, USA
Marjorie E. Gross, DVM, MS, DACVAA
Oklahoma State University
Center for Veterinary Health Sciences
Stillwater, Oklahoma, USA
Tamara L. Grubb, DVM, PhD, DACVAA
Veterinary Clinical Sciences, Washington State University
Pullman, Washington, USA
Sandee M. Hartsfield, DVM, MS, DACVAA Department
of Small Animal Clinical Sciences College of Veterinary
Medicineand Biomedical Sciences Texas A&M
University
College Station, Texas, USA
Steve C. Haskins, DVM, MS, DACVAA, DACVECC
School of Veterinary Medicine, University of California
Davis, California, USA
Rebecca A. Johnson, DVM, MS, PhD, DACVAA
School of Veterinary Medicine
University of Wisconsin
Madison, Wisconsin, USA
Robert D. Keegan, DVM, DACVAA
Department of Veterinary Clinical Sciences
College of Veterinary Medicine
Washington State University
Pullman, Washington, USA
Carolyn L. Kerr, DVM, DVSc, PhD, DACVAA
Department of Clinical Studies
Ontario Veterinary College
University of Guelph
Guelph, Ontario, Canada
Butch KuKanich, DVM, PhD, DACVCP
Department of Anatomy and Physiology
College of Veterinary Medicine
Kansas State University
Manhattan, Kansas, USA
Leigh A. Lamont, DVM, MS, DACVAA
Atlantic Veterinary College, University of Prince Edward Island,
Canada
Phillip Lerche, BVSc, PhD, DACVAA
Veterinary Clinical Sciences, The Ohio State University
Columbus, Ohio, USA
HuiChu Lin, DVM, MS, DACVAA
College of Veterinary Medicine, Auburn University
Auburn, Alabama, USA
Andrea L. Looney, DVM, DACVAA, DACVSMR
Massachusetts Veterinary Referral Hospital, IVG Hospitals
Woburn, Massachusetts, USA
John W. Ludders, DVM, DACVAA
College of Veterinary Medicine
Cornell University
Ithaca, New York, USA
Lais M. Malavasi, DVM, MS, PhD
Department of Veterinary Clinical Sciences
College of Veterinary Medicine
Washington State University
Pullman, Washington, USA
Khursheed R. Mama, DVM, DACVAA
Department of Clinical Sciences
Colorado State University
Fort Collins, Colorado, USA
Elizabeth A. Martinez, DVM, DACVAA
College of Veterinary Medicine
Texas A&M University
College Station, Texas, USA
Wayne N. McDonell, DVM, MSc, PhD, DACVAA
University Professor Emeritus
Department of Clinical Studies, Ontario Veterinary College
University of Guelph
Guelph, Ontario, Canada
Carolyn M. McKune, DVM, DACVAA
Mythos Veterinary, LLC
Gainesville, Florida, USA
Kristin Messenger, DVM, PhD, DACVAA, DACVCP
Department of Molecular Biomedical Sciences
College of Veterinary Medicine
North Carolina State University
Raleigh, North Carolina, USA
Robert E. Meyer, DVM, DACVAA
College of Veterinary Medicine
Mississippi State University
Mississippi, USA
Cornelia I. Mosley, Dr.med.vet, DACVAA
Ontario Veterinary College
University of Guelph, Canada
Craig A. Mosley, DVM, MSc, DACVAA
Mosley Veterinary Anesthesia Services
Rockwood, Ontario, Canada
William W. Muir, DVM, PhD, DACVAA, DACVECC
VCPCS
Columbus, Ohio, USA
Joanna C. Murrell, BVSc. (Hons), PhD, DECVAA, MRCVS
School of Veterinary Sciences
University of Bristol
Langford, North Somerset, UK
Andrea M. Nolan, MVB, MRCVS, DVA, PhD, DECVAA, DECVPT
Edinburgh Napier University
Edinburgh, Scotland, UK
Klaus A. Otto, Dr.med.vet., PD, DACVAA, DECVAA, DECLAM
Institut für Versuchstierkunde und Zentrales Tierlaboratorium
Medizinische Hochschule Hannover
Hannover, Germany
Mark A. Oyama, DVM, DACVIM-Cardiology
Department of Clinical Studies-Philadelphia
University of Pennsylvania
Philadelphia, Pennsylvania, USA
Luisito S. Pablo, DVM, MS, DACVAA
College of Veterinary Medicine
Auburn University
Auburn, Alabama, USA
Daniel S. J. Pang, BVSc, MSc, PhD, DACVAA, DECVAA, MRCVS
Faculty of Veterinary Medicine and Hotchkiss Brain Institute
University of Calgary
Calgary, Alberta, Canada
Mark G. Papich, DVM, MS, DACVCP
Department of Molecular Biomedical Sciences
College of Veterinary Medicine
North Carolina State University
Raleigh, North Carolina, USA
Peter J. Pascoe, BVSc, DVA, DACVAA, DECVAA
Department of Surgical and Radiological Sciences
School of Veterinary Medicine
University of California
Davis, California, USA
Santiago Peralta, DVM, DAVDC
Department of Clinical Sciences
College of Veterinary Medicine
Cornell University
Ithaca, New York, USA
Tania E. Perez Jimenez, DVM, MS
College of Veterinary Medicine
Washington State University
Pullman, Washington, USA
Sandra Z. Perkowski, VMD, PhD, DACVAA
Department of Clinical Studies-Philadelphia
School of Veterinary Medicine
University of Pennsylvania
Philadelphia, Pennsylvania, USA
Glenn R. Pettifer, BA(Hons), BSc, DVM, DVSc, DACVAA
College of Veterinarians of Ontario
Guelph, Ontario, Canada
Bruno H. Pypendop, DrVetMed, DrVetSci, DACVAA
Department of Surgical and Radiological Sciences
School of Veterinary Medicine
University of California
Davis, California, USA
Marc R. Raffe, DVM, MS, DACVAA, DACVECC
Veterinary Anesthesia and Critical Care Associates LLC
St. Paul, Minnesota, USA
David C. Rankin, DVM, MS, DACVAA
Department of Clinical Sciences
Kansas State University
Manhattan, Kansas, USA
Matt Read, DVM, MVSc, DACVAA
Faculty of Veterinary Medicine
University of Calgary
Calgary, Alberta, Canada
Thomas W. Riebold, DVM, DACVAA
Veterinary Teaching Hospital
College of Veterinary Medicine
Oregon State University
Corvallis, Oregon, USA
Eva Rioja Garcia, DVM, DVSc, PhD, DACVAA
School of Veterinary Science
University of Liverpool
Leahurst Campus, UK
Sheilah A. Robertson, BVMS (Hons), PhD, DACVAA, DECVAA, DACAW, DECAWBM
(WSEL)
Michigan State University, East Lansing
Michigan, USA
Molly K. Shepard, DVM, DACVAA
University of Georgia
Athens, Georgia, USA
André C. Shih, DVM, DACVAA
University of Florida College of Veterinary Medicine
Gainesville, Florida, USA
Melissa Sinclair, DVM, DVSc, DACVAA
Department of Clinical Studies
Ontario Veterinary College
University of Guelph
Guelph, Ontario, Canada
Julie A. Smith, DVM, DACVAA
MedVet Medical and Cancer Centers for Pets
Worthington, Ohio, USA
Eugene P. Steffey, VMD, PhD DACVAA, DECVAA, MRCVSHonAssoc, Dr.h.c.(Univ of Berne)
Emeritus Professor
Department of Surgical and Radiological Sciences
School of Veterinary Medicine
University of California
Davis, California, US
Aurelie A. Thomas, DVM, MSc, MRCVS
Comparative Biology Centre
Newcastle University, Medical School
Newcastle upon Tyne, UK
William J. Tranquilli, DVM, MS, DACVAA
College of Veterinary Medicine
University of Illinois at Urbana-Champaign
Champaign, Illinois, USA
Cynthia M. Trim, BVSc, DVA, DACVAA, DECVAA
Department of Large Animal Medicine
College of Veterinary Medicine
University of Georgia
Athens, Georgia, USA
Alexander Valverde, DVM, DVSc, DACVAA
Department of Clinical Studies
Ontario Veterinary College
University of Guelph
Guelph, Ontario, Canada
Alessio Vigani, DVM, PhD, DACVAA, DACVECC
Department of Clinical Sciences
College of Veterinary Medicine
North Carolina State University
Raleigh, North Carolina, USA
Kate L. White, MA, Vet MB, DVA, DECVAA, MRCVS
School of Veterinary Medicine and Science
University of Nottingham
Nottingham, UK
Ted Whittem, BVSc, PhD, DACVCP, FANZCVS
Faculty of Veterinary and Agricultural Sciences
University of Melbourne
Werribee, Victoria, Australia
Ashley J. Wiese, DVM, MS, DACVAA
Department of Anesthesia
MedVet Medical and Cancer Center for Pets
Cincinnati, Ohio, USA
Deborah V. Wilson, BVSc(Hons), MS, DACVAA
Department of Large Animal Clinical Sciences
College of Veterinary Medicine
Michigan State University
East Lansing, Michigan, USA
Bonnie D. Wright, DVM, DACVAA
Fort Collins Veterinary Emergency and Rehabilitation Hospital
Fort Collins, Colorado, USA
Dedicatória
A quinta edição desta obra é dedicada às muitas pessoas que apoiaram e aprimoraram a
especialidade da anestesia e analgesia veterinárias, incluindo todos os cuidadores de
animais, veterinários e cientistas que se esforçam para o progresso da medicina veterinária
com caráter humanitário.
Dedicamos nossos esforços para publicar esta quinta edição aos nossos pais, que nos
incutiram valores como trabalho árduo, lealdade e paciência; aos nossos professores e
colegas, pela crença de que o conhecimento científico nos dá a melhor chance de saber o
que é real; aos animais sob nossos cuidados, que nos ensinaram muito; a outras pessoas
importantes, pelo apoio; e àqueles que aprendem com esta obra, por tornar tudo prazeroso e
compensador.
Apresentação
O conteúdo com diversas referências, acréscimos importantes e conteúdo atualizado destaquinta edição proporciona uma documentação significativa da ciência clínica básica e
aplicada essencial para o emprego seguro da anestesia e o manejo da dor em animais. Lumb
& Jones | Anestesiologia e Analgesia em Veterinária continua a ser a fonte mais completa
de informação sobre o tema na literatura veterinária para estudantes, profissionais e
especialistas.
Como editores da última publicação da obra, queremos agradecer os esforços dos 85
colaboradores, especialmente aos Drs. Grimm, Lamont, Tranquilli, Greene e Robertson, por
terem assumido a editoria de tão grande projeto. Como estamos no século XXI, a
publicação desta obra em 2017 serve para destacar a importância, o significado e a
necessidade de aprimorar continuamente a anestesia e a analgesia veterinárias. Com seus
esforços combinados, colaboradores e editores preservaram admiravelmente a consagrada
reputação deste livro como um recurso indispensável para o avanço e o aprimoramento do
bem-estar animal.
William Lumb
Wynn Jones
John Thurmon
Prefácio
Em seu 42o aniversário, contando de sua primeira publicação em 1973, Lumb & Jones |
Anestesiologia e Analgesia em Veterinária está disponível para os profissionais de
veterinária e a comunidade científica em sua quinta edição.
Houve muitos progressos na anestesia e na analgesia veterinária, em paralelo com a
evolução da medicina veterinária, razão pela qual cada edição desta obra atualiza e
documenta esses avanços, o que se mantém nesta quinta edição. À medida que a anestesia e
analgesia veterinária se tornaram reconhecidas e se estabeleceram em todo o mundo, o
conhecimento e a prática clínica não são mais definidos por seus primórdios acadêmicos.
Esta quinta edição reflete a visão coletiva dos atuais editores de que a especialidade da
anestesiologia e da analgesia veterinária garantiu um lugar respeitado entre as
especialidades reconhecidas na grande comunidade veterinária global. Essa conquista fica
evidente pela composição internacional dos colaboradores desta edição e é corroborada
pela prática mundial de cuidados mais avançados em termos de anestesia e manejo da dor.
Como editores, nos empenhamos para fornecer informações sobre várias espécies e os
aspectos importantes da fisiologia e da farmacologia para a administração segura de
anestésicos e analgésicos em uma variedade de pacientes e condições clínicas. No entanto,
dado o volume de informações recentes e os aspectos em evolução pertinentes à anestesia e
à analgesia veterinária que necessitavam de espaço para discussão, foi impossível manter
grande parte do texto das edições anteriores. Felizmente, tais informações, muitas de
interesse histórico, continuam disponíveis nas edições prévias. Portanto, agradecemos a
valiosa contribuição dos colaboradores e editores das edições anteriores.
Esta edição tem mais de 80 colaboradores, todos com alto conhecimento científico e
experiência clínica. Muitos são anestesiologistas, mas outros são especialistas de outras
áreas, como farmacologia clínica, cirurgia, medicina, cuidados críticos, cardiologia,
urologia e medicina de animais de laboratório. Esperamos que essa diversidade de expertise
dos autores proporcione uma perspectiva mais abrangente com relação ao manejo de
condições clínicas e doenças dos animais.
Somos gratos aos colaboradores pelas horas dedicadas ao preparo de seus capítulos.
Muitos deles dedicaram suas carreiras ao avanço da anestesiologia veterinária, ao manejo
da dor e ao tratamento humanitário de animais, o que contribuiu bastante para o progresso
da medicina veterinária. Entre eles está o Dr. Steve C. Haskins, cuja morte inesperada
entristeceu a comunidade veterinária mundial. Suas contribuições para o capítulo sobre
monitoramento anestésico na terceira, quarta e quinta edições podem ser consideradas uma
das discussões mais abrangentes dos princípios fundamentais do monitoramento anestésico.
A dedicação do Dr. Haskins à descoberta de novo conhecimento e seu amor ao ensino eram
motivados pela alegria de ver os estudantes aprenderem. Nossa perda com sua morte, como
a de todos os grandes mestres, é imensurável.
Como os editores atuais, esperamos que esta edição funcione tanto como um livro-texto
quanto uma fonte abrangente de conhecimento científico relevante à conduta clínica na
prática da anestesiologia e na instituição do tratamento analgésico. Conteúdo sobre
imobilização e anestesia de animais silvestres, de zoológicos e de laboratório encontra-se
nos capítulos dedicados aos aspectos comparativos da anestesia nessas espécies. Além da
revisão dos capítulos sobre os sistemas cardiovascular, respiratório, nervoso e a fisiologia
acidobásica, foi atualizada a farmacologia de várias classes de substâncias empregadas em
anestesia e analgesia. Foram contemplados, ainda, capítulos sobre o equipamento de
anestesia, o monitoramento e as técnicas de analgesia regional, e adicionados outros sobre
considerações anestésicas e analgésicas em pacientes submetidos a terapia renal
substitutiva, implantação de marca-passo cardíaco e derivação cardiopulmonar. Foram
mantidos os capítulos dedicados à anestesia de determinadas espécies e classes de animais,
incluindo cães, gatos, equinos, suínos, ruminantes, animais de laboratório e de zoológico,
mamíferos terrestres e aquáticos de vida livre, aves, répteis, anfíbios e peixes. As
considerações anestésicas acerca de pacientes com condições e patologias que afetam os
sistemas do corpo foram consolidadas nos capítulos a respeito de cada um deles.
Gostaríamos de agradecer aos colaboradores por compartilharem generosamente seu
conhecimento, bem como a nossas famílias e colegas de trabalho por nos conceder o tempo
necessário para completar este projeto. Por fim, agradecemos à equipe da Wiley Blackwell
por seu apoio e estímulo.
Kurt A. Grimm
Leigh A. Lamont
William J. Tranquilli
Stephen A. Greene
Sheilah A. Robertson
Sumário
Parte 1
Tópicos
Gerais
1
Introdução à Anestesia e à Analgesia | Uso, Definições, História,
Conceitos, Classificação e Considerações
William J. Tranquilli e Kurt A. Grimm
2
Risco Anestésico e Consentimento Informado
Dave C. Brodbelt, Derek Flaherty e Glenn R. Pettifer
3
Equipamento Anestésico
Craig A. Mosley
4
Monitoramento de Pacientes Anestesiados
Steve C. Haskins
5
Emergências Anestésicas e Reanimação
Deborah V. Wilson e André C. Shih
6
Eutanásia e Abate Humanitário
Robert E. Meyer
Parte 2
Farmacolog
ia
7
Farmacologia Geral dos Agentes Anestésicos e Analgésicos
Ted Whittem, Thierry Beths e Sébastien H. Bauquier
8
Anticolinérgicos
Phillip Lerche
9
Agentes Adrenérgicos
Joanna C. Murrell
10
Sedativos e Tranquilizantes
David C. Rankin
11
Opioides
Butch KuKanich e Ashley J. Wiese
12
Anti-inflamatórios Não Esteroides
Mark G. Papich e Kristin Messenger
13
Anestésicos e Analgésicos Adjuvantes
Daniel S. J. Pang
14
Relaxantes Musculares e Bloqueio Neuromuscular
Robert D. Keegan
15
Anestésicos Injetáveis
Stephanie H. Berry
16
Anestésicos Inalatórios
Eugene P. Stef ey, Khursheed R. Mama e Robert J. Brosnan
17
Anestésicos Locais
Eva Rioja Garcia
Parte 3
Líquidos Corporais e
Termorregulação
18
Fisiologia Acidobásica
William W. Muir
19
Termorregulação Peroperatória e Equilíbrio Térmico
Kurt A. Grimm
20
Tratamento dos Distúrbios da Coagulação e das Plaquetas
Benjamin M. Brainard
21
Farmacologia Clínica e Administração de Soluções de Líquidos, Eletrólitos e
Componentes Sanguíneos
Amandeep S. Chohan e Elizabeth B. Davidow
Parte 4
Sistema
Cardiovascular
22 23
Fisiologia
Cardiovascular
William W. Muir
Medida do Débito
Cardíaco Alessio
Vigani
24
Anestesia por Derivação Cardiopulmonar
Khursheed R. Mama
25
Marca-passos Cardíacos e Anestesia
Barret J. Bulmer
26
Fisiologia e Administração Anestésica em Pacientes com Doença
Cardiovascular
Sandra Z. Perkowski e Mark A. Oyama
Parte 5
Sistema
Respiratório
27
Fisiologia, Fisiopatologia e Conduta Anestésica em Pacientes com Doença
Respiratória
Wayne N. McDonnel e Carolyn L. Kerr
Parte 6
Sistema
Nervoso
28
Fisiologia, Fisiopatologia e Conduta Anestésicade Pacientes com Doença
Neurológica
Klaus A. Otto
29
Nocicepção e Dor
Carolyn M. McKune, Joanna C. Murrell, Andrea M. Nolan, Kate L. White e Bonnie D.
Wright
Parte 7
Sistema
Hepático
30
Fisiologia, Fisiopatologia e Manejo Anestésico de Pacientes com Doença
Hepática
Fernando Garcia-Pereira
Parte 8
Sistemas Endócrino e
Gastrintestinal
31
Fisiologia, Fisiopatologia e Manejo Anestésico de Pacientes com Doenças
Gastrintestinais e Endócrinas
Jennifer G. Adams, Juliana Peboni Figueiredo e Thomas K. Graves
Parte 9
Sistema
Urogenital
32
Fisiologia, Fisiopatologia e Manejo Anestésico de Pacientes com Doença
Renal
Stuart C. Clark-Price e Gregory F. Grauer
33
Considerações Anestésicas para a Terapia Renal Substitutiva
Rebecca A. Johnson
34
Considerações Anestésicas Durante a Prenhez e no Recém-nascido
Marc R. Raf e
Parte 10
Anestesia e Analgesia
Comparada
35
Anestesia e Analgesia Comparada em Cães e Gatos
Peter J. Pascoe e Bruno H. Pypendop
36
Anestesia e Manejo da Dor em Populações de Abrigos
Andrea L. Looney
37
Anestesia e Analgesia Comparada em Equinos
Lori A. Bidwell
38
Anestesia e Analgesia Comparada de Ruminantes e Suínos
HuiChu Lin
39
Anestesia e Analgesia Comparada em Animais de Laboratório
Paul A. Flecknell e Aurelie A. Thomas
40
Anestesia e Analgesia Comparada de Animais Selvagens de Zoológicos e de
Vida Livre
Nigel Anthony Caulkett e Jon M. Arnemo
41
Anestesia e Analgesia Comparada em Mamíferos Aquáticos
David B. Brunson
42
Anestesia e Analgesia Comparada de Répteis, Anfíbios e Peixes
Cornelia I. Mosley e Craig A. Mosley
43
Anestesia e Analgesia Comparada de Aves
John W. Ludders
Parte 11
Anestesia e Analgesia para
Espécies Domésticas
44
Cães e
Gatos
Richard M.
Bednarski
45
Técnicas de Anestesia Local e Analgesia em Cães e Gatos
Luis Campoy, Matt Read e Santiago Peralta
46
Equinos
Regula Bettschart-Wolfensberger
47
Equinos com Cólica
Cynthia M. Trim e Molly K. Shepard
48
Técnicas de Anestesia e Analgesia Locais para Equinos
Rachael E. Carpenter e Christopher R. Byron
49
Ruminantes
Thomas W. Riebold
50
Suínos
Lais M. Malavasi
51
Técnicas de Anestesia Local e Analgésicas em Suínos e Ruminantes
Alexander Valverde e Melissa Sinclair
Parte 12
Anestesia e Analgesia de
Pacientes Selecionados e
Procedimentos
52
Pacientes Oftálmicos
Marjorie E. Gross e Luisito S. Pablo
53
Animais Neonatos e Pediátricos
Tamara L. Grubb, Tania E. Perez Jimenez e Glenn R. Pettifer
54
Animais Sênior e Geriátricos
Tamara L. Grubb, Tania E. Perez Jimenez e Glenn R. Pettifer
55
Pacientes com Câncer
Timothy M. Fan
56
Pacientes Ortopédicos
Steven C. Budsberg
57
Considerações sobre Segurança do Paciente e do Anestesista em
Procedimentos com Laser, Radiográficos e de Ressonância Magnética
Julie A. Smith
1
Introdução à Anestesia e à Analgesia | Uso, Definições, História,
Conceitos, Classificação e Considerações
2
Risco Anestésico e Consentimento Informado
3
Equipamento Anestésico
4
Monitoramento de Pacientes Anestesiados
5
Emergências Anestésicas e Reanimação
6
Eutanásia e Abate Humanitário
Introdução
Uso de anestesia, sedação e analgesia
Definições
Breve história da anestesia em animais
História das organizações norte-americanas
Definição de anestesiologista
Primeiros estágios conceituais da anestesiologia
Classificação da anestesia
Considerações ambientais
Referências bibliográficas
Introdução
A anestesia veterinária continua a evoluir como ciência e especialidade na profissão
veterinária. As principais mudanças são os avanços na tecnologia médica e o
desenvolvimento farmacêutico voltados para animais domesticados ou adaptados a partir da
anestesia humana, da pesquisa em fisiologia, farmacologia e ensaios clínicos em pacientes
humanos e veterinários, para se ter uma orientação melhor com base na evidência em prol
da assistência aos pacientes, e as modificações socioeconômicas e demográficas em países
onde a presença dos animais foi desenvolvendo os seus papéis. Os anestesiologistas
veterinários continuarão a defender a segurança dos pacientes e os cuidados com eles por
parte dos seres humanos, mediante informações sobre o manejo da dor e a qualidade de
vida, bem como para os responsáveis pelo ensino da profissão e a sociedade como um todo
sobre as melhores práticas atuais em anestesia, analgesia e
manejo da dor.
Uso de anestesia, sedação e analgesia
O uso apropriado da anestesia, sedativos e analgésicos pode aliviar a dor, causar amnésia e
proporcionar o relaxamento muscular essencial para a segurança humana e dos pacientes.1
Os usos importantes incluem facilitar a imobilização necessária para vários procedimentos
diagnósticos, cirúrgicos e terapêuticos em animais silvestres e exóticos, bem como a
eutanásia e o abate humanitário dos animais destinados à alimentação humana. A
administração de anestesia, sedação e analgésicos não implica ausência de risco para os
pacientes e não é recomendada para procedimentos triviais. O desenvolvimento contínuo de
técnicas e fármacos melhores, associado ao esforço conjunto e constante no ensino
profissionalizante dos veterinários, minimizou o risco global da anestesia e do alívio da dor
em um contexto cada vez mais amplo e sofisticado da assistência aos pacientes. Qualquer
discussão com pessoas que tenham animais, como a que se tem com os proprietários, ao se
obter um consentimento informado, requer o uso da terminologia apropriada que ressalte as
questões fundamentais para a segurança da anestesia e do tratamento da dor no âmbito
veterinário.
Definições
Usa-se o termo anestesia, derivado do grego anaisthaesia, que significa ‘insensibilidade’,
para descrever a perda de sensação a toda ou qualquer parte do corpo. A indução da
anestesia é feita por fármacos que deprimem a atividade do tecido nervoso em um local,
região ou no próprio sistema nervoso central (SNC). No sentido farmacológico, houve uma
redefinição significativa do termo geral anestesia.2 Tanto estimulantes como depressores
nervosos centrais podem ser anestésicos gerais úteis.3
A conduta da dor nos pacientes envolve o uso de fármacos geralmente denominados
analgésicos, termo derivado de an, que implica negativa ou ausência (sem), e alges(is), que
significa dor.4 O manejo clínico da dor em geral resulta em vários graus de efetividade, que
representam estados de hipoalgesia, ou uma sensação menor de dor. É importante entender
que a administração de um analgésico não cria necessariamente o estado de analgesia.
Vários termos são comumente usados para descrever os efeitos dos anestésicos e
inibidores da dor:
•
Analgesia é a ausência de dor em resposta à estimulação que normalmente seria
dolorosa. O termo costuma ser reservado para descrever um estado em um paciente
consciente5
Nocicepção é o processo neural da codificação de estímulos nocivos.5 É processo
•
fisiológico subjacente à percepção consciente da dor. Não requer consciência e pode
continuar durante a anestesia geral, se não forem incluídas as técnicas que interrompam ou
inibam a transdução, a transmissão e a modulação dos estímulos nociceptivos •
Dor é uma experiência sensorial e emocional associada à lesão tecidual real ou
potencial, ou descrita em termos de tal lesão5
•
Tranquilização resulta em uma alteração do comportamento sempre que a ansiedade é
aliviada e o paciente fica relaxado, mas continua ciente do que está acontecendo em
torno dele. Tranquilizantes são fármacos que resultam em tranquilização quando
administrados, mas há quem prefira o termo ansiolítico ou fármaco antiansiedade ao
descrever os medicamentos que resultem tanto em redução da ansiedade como
relaxamento
•
Sedação é um estado que se caracteriza por depressão central, acompanhada por
sonolência e algum relaxamento induzido centralmente. Em geral, o paciente não tem
consciência do que o rodeia, mas pode despertar e responder a algum estímulo nocivo.
Os sedativos não são recomendados para imobilizar um paciente durante um período
em que há probabilidade de ocorrerem estímulos dolorosos
•
Narcose é um estado de sono profundo, induzidopor algum fármaco, no qual o paciente
não pode ser despertado com facilidade. Ela pode ser acompanhada ou não por
antinocicepção, dependendo das técnicas e medicamentos usados
•
Hipnose é uma condição de sono induzida artificialmente, ou um estado de transe que
lembra o sono, resultante da depressão moderada do SNC e da qual o paciente é
despertado sem dificuldade
•
Analgesia (anestesia) local é a perda da sensação de dor em uma área circunscrita do
corpo
•
Analgesia (anestesia) regional é a insensibilidade à dor em uma área maior do corpo,
embora limitada, geralmente definida pelo padrão da inervação sobre a qual o efeito é
exercido (p. ex., bloqueio e anestesia paralombar)
•
Anestesia geral é a inconsciência induzida por um fármaco e que se caracteriza por
depressão controlada, mas reversível, do SNC e da percepção. Em tal estado, o paciente
não é despertado por qualquer estimulação nociva. As funções reflexas sensoriais,
motoras e autônomas são atenuadas em níveis variáveis, dependendo do(s)
medicamento(s) e técnica(s) específico(s) usado(s)
•
Anestesia geral cirúrgica é o estado ou plano anestésico que proporciona inconsciência,
amnésia, relaxamento muscular e hipoalgesia suficientes para uma cirurgia indolor •
Anestesia balanceada é a que se consegue mediante o uso simultâneo de vários
fármacos e técnicas. Os fármacos visam atenuar especificamente componentes
individuais do estado anestésico, ou seja, amnésia, antinocicepção, relaxamento
muscular e alteração dos reflexos autônomos
•
Anestesia dissociativa é aquela induzida por fármacos (p. ex., cetamina) que promovem
a dissociação dos sistemas talamocortical e límbico. Tal tipo de anestesia caracteriza-se
por um estado de catalepsia em que os olhos permanecem abertos e os reflexos da
deglutição mantêm-se intactos. A hipertonia da musculatura esquelética persiste, a
menos que se administre ao mesmo tempo um sedativo forte ou relaxante muscular
central potente.
Breve história da anestesia em animais
Em 1800, Sir Humphrey Davy sugeriu que o óxido nitroso poderia ter propriedades
anestésicas. Vinte e quatro anos depois, H. H. Hickman demonstrou que a dor associada à
cirurgia em cães poderia ser aliviada pela inalação de uma mistura de óxido nitroso e
dióxido de carbono. Ele argumentou que o último aumentava a frequência e a profundidade
da respiração, acentuando assim os efeitos do óxido nitroso. Estudos mais recentes
mostraram que é possível induzir inconsciência em 30 a 40 segundos em leitões que
respirassem dióxido de carbono (50%) em oxigênio (50%).6
Até 1842, usava-se éter dietílico para anestesia humana. Dois anos depois, um dentista,
Horace Wells, redescobriu as propriedades anestésicas do óxido nitroso. Embora este
achado tenha sido ignorado por vários anos, em 1862 o óxido nitroso passou a ser usado na
anestesia humana. C. T. Jackson, um médico de Boston, foi o primeiro a empregar o éter
dietílico em animais.7
O clorofórmio foi descoberto por Liebig em 1831, mas só foi usado pela primeira vez
em 1847 para induzir anestesia em animais por Flourens e em pessoas por J. Y. Simpson,
em Edimburgo, na Escócia. Com a introdução do clorofórmio, começaram a surgir relatos
sobre seu uso em animais na literatura veterinária. Dadd usava rotineiramente anestesia
geral em animais e foi um dos primeiros nos EUA a defender o tratamento humanitário de
animais e a sua aplicação científica (i. e., em anestesia) na cirurgia veterinária.8
Em 1875, Ore publicou a primeira monografia sobre anestesia intravenosa com hidrato
de cloral; três anos depois, Humbert descreveu seu uso em cavalos. Pirogoff foi o primeiro
a tentar a anestesia retal com hidrato de cloral em 1847. A injeção intraperitoneal foi
empregada pela primeira vez, em 1892, na França. Portanto, várias vias de administração
de anestesia geral em animais foram identificadas e minimamente investigadas no final do
século XIX.
Após o isolamento inicial da cocaína por Albert Niemann, da Alemanha, em 1860,
Anrep, em 1878, sugeriu a possibilidade do uso de cocaína como um anestésico local. Em
1884, Kohler usou cocaína como anestésico local no olho e, 1 ano depois, Halsted
descreveu a anestesia regional com cocaína. Seu uso foi popularizado por Sir Frederick
Hobday, um veterinário inglês. Depois disso, G. L. Corning recebeu o crédito por usar
cocaína para anestesia espinal em cães em 1885. Contudo, a partir dessa descrição, ficou
parecendo que ele induziu anestesia epidural. Em 1898, August Bier, da Alemanha, induziu
anestesia espinal verdadeira em animais e, em seguida, em si mesmo e em um assistente.9
Embora a infiltração local tenha sido popularizada por Reclus (1890) e Schleich (1892),
a anestesia regional de condução foi introduzida mais cedo por Halsted e Hall, em Nova
York, em 1884. A popularidade destas técnicas aumentou com a descoberta de anestésicos
locais menos tóxicos que a cocaína. Tal progresso possibilitou a Cuille e Sendrail (1901), na
França, a indução de anestesia subaracnóidea em equinos, bovinos e cães. Cathelin (1901)
relatou anestesia epidural em cães, mas foram Retzgen, Benesch e Brook que utilizaram
esta técnica em espécies maiores durante a década de 1920. Embora a anestesia paralombar
tenha sido empregada em seres humanos por Sellheim em 1909, só em 1940 Farquharson e
Formston aplicaram esta técnica em bovinos. Apesar destes avanços promissores nas
técnicas de analgesia local na última metade do século XIX, provavelmente em decorrência
de muitos resultados desfavoráveis, a anestesia geral e a cirurgia humanitária não foram
logo adotadas pelos veterinários até a segunda metade do século XX. É triste dizer, mas até
então a prática veterinária de ‘grandes animais’ consistia mesmo na ‘mão pesada’, sem
analgesia ou anestesia ou mesmo sedação, o que perdurou até a segunda metade do século
XX.
Nos pequenos animais domésticos, já era comum a administração de éter dietílico e
clorofórmio no início do século XX. Entretanto, a anestesia geral passou a ser mais aceita
após a descoberta dos barbitúricos, no final da década de 1920, e, em particular, com o
desenvolvimento do pentobarbital em 1930. A anestesia com barbitúrico teve um avanço
adicional com a introdução dos tiobarbitúricos, em geral o tiopental, em 1934. Por causa da
recuperação difícil e prolongada, a aceitação da anestesia geral com barbitúrico em grandes
animais demorou até que surgissem os derivados fenotiazínicos, também lançados por
Charpentier na França em 1950.
A anestesia geral nos grandes animais criados em fazendas passou por um avanço ainda
maior com a descoberta dos hidrocarbonetos fluorados e o desenvolvimento do
equipamento anestésico inalatório para ‘animais de grande porte’, que proporcionava uma
administração segura. A descoberta de novas classes de fármacos, junto com a segurança de
sua administração (p. ex., tranquilizantes, opioides, agonistas do receptor adrenérgico α2,
dissociativos, relaxantes musculares e anestésicos inalatórios), aprimorou ainda mais a
segurança e a utilidade da anestesia veterinária tanto para as espécies de grande porte como
para as de pequeno porte.10
A era moderna da anestesia veterinária começou nas últimas três décadas do século XX,
facilitada pelo estabelecimento da especialidade em anestesia nas faculdades da América do
Norte e da Europa. As metas dessas instituições eram a maior segurança do paciente e o
desenvolvimento de novas técnicas e do conhecimento, em paralelo com os avanços
conseguidos na anestesia humana. Novos fármacos e técnicas estão sendo criados
continuamente para uso clínico em uma variedade de espécies e patologias de cada
paciente. Além disso, o monitoramento do paciente, visando à maior segurança, levou à
adaptação de tecnologias como a oximetria de pulso, a capnografia e a medida da pressão
arterial. O valor do anestesiologista veterinário como um membro da equipe de cuidados
com o paciente levou à sua presença cada vez maior na prática veterinária. Com o aumento
demográfico na idade dos pacientes ficou evidente uma abordagem mais sofisticadada
anestesia. Tal demanda continuará a expandir a importância do anestesiologista em nossa
profissão, além dos papéis tradicionais dos instrutores universitários e pesquisadores
farmacêuticos. O desafio de melhorar a qualidade de vida do paciente mediante um manejo
mais apropriado para a dor também aumentou essa demanda. Muitos anestesiologistas
veterinários tornaram-se líderes nesta área por meio da pesquisa contínua e da criação de
escalas de avaliação da dor específicas e diretrizes terapêuticas para cada espécie, com base
nesta evidência.
História das organizações norte-americanas
No final da década de 1960 e início da de 1970, um pequeno grupo de anestesiologistas em
medicina humana possibilitou a participação de vários futuros diplomados do American
College of Veterinary Anesthesiologists (ACVA), o atual American College of Veterinary
Anesthesia and Analgesia (ACVAA), em seus programas de treinamento e, assim, que
aprendessem sobre o desenvolvimento de novos fármacos e técnicas em anestesia. Entre
estes médicos estavam Robert Dripps, da University of Pennsylvania, Arthr Keats, da
Baylor University, Mort Shulman e Max Sadolv, da University of Illinois, e Edmond I.
Eger, da University of California Medical College. Durante o mesmo período, E. W. Jones
(Oklahoma State University) e William Lumb (Colorado State University) fizeram
contribuições significativas para o campo da anestesiologia veterinária. Jerry Gillespie deu
uma contribuição significativa com seu trabalho sobre a função respiratória de cavalos
anestesiados e William Muir relatou os efeitos cardiopulmonares de vários anestésicos em
diversas espécies.
Apesar da dedicação de muitas faculdades de veterinária e laboratórios de pesquisa na
América do Norte, só em 1970 foi feito um grande esforço para organizar veterinários
interessados em anestesiologia como especialistas independentes. Para começar, foi criada a
American Society of Veterinary Anesthesia (ASVA), aberta a todos os indivíduos que
exercessem a profissão de veterinário e tivessem interesse em anestesiologia veterinária.
Ainda em 1970, foi realizado o primeiro encontro da organização, em conjunto com a
American Veterinary Medical Association (AVMA), para coordenar os esforços e o
interesse de todos que quisessem especializar-se em anestesiologia veterinária. O objetivo
primário era aprimorar as técnicas anestésicas e divulgar o conhecimento sempre que
possível e onde fosse possível. Charles Short foi eleito o primeiro presidente da nova
associação. A ASVA foi designada especialmente para promover a disseminação de
informação, independente do treinamento e do embasamento individuais. A maior ênfase
foi na escolha de indivíduos para falarem nos encontros da ASVA e de outras instituições
científicas e educacionais. À medida que a ASVA se desenvolvia, houve a publicação da
sua pesquisa original e subsequentes artigos de revisão. Bruce Heath aceitou a
responsabilidade pelos manuscritos submetidos à publicação da ASVA. Em 1971, John
Thurmon nomeou um comitê para fundar o ACVA. A AVMA estabeleceu as diretrizes para
a escolha de instituições capazes de fornecer o diploma na especialidade. As exigências do
comitê para o diploma na especialidade incluíam 10 anos de serviço ativo na especialidade,
publicação significativa, treinamento intensivo e atuação como chefe de um programa de
anestesiologia ou dedicação da maior parte do tempo na profissão à anestesia ou a alguma
área relacionada. Foram designados sete membros da ASVA para diplomar veterinários pelo
ACVA de acordo com tais qualificações.
Entre 1970 e 1975, os estatutos e regulamentos foram formalizados. Em 1975, o AVMA
Council on Education recomendou a aprovação preliminar do ACVA e isso foi confirmado
pela AVMA House of Delegates no mesmo ano. Assim o ACVA foi estabelecido
oficialmente na América do Norte. Neste processo, a percepção e os esforços de William
Lumb e E. Wynn Jones foram importantes. Eles contribuíram muito para o estabelecimento
do ACVA pelo seu interesse sincero nos princípios básicos da anestesiologia veterinária. No
mesmo período, foram publicados vários textos didáticos sobre o estabelecimento da
anestesiologia como uma disciplina e especialidade da medicina veterinária. A primeira
edição deste livro, Lumb and Jones’ Veterinary Anesthesia, foi publicada em 1973; em
1974, foi publicado o Clinical Veterinary Anesthesia, de Charles Short, e, em 1971, foi
publicado o Textbook of Anesthesia Veterinary, de Larry Soma.
Na década de 1970, muitos dos especialistas diplomados criaram programas de
residência para treinamento em suas respectivas faculdades. De 1975 a 1980, o ACVA
desenvolveu programas de educação contínua, de autoaprimoramento e para exames e
certificação de novos especialistas diplomados. Junto com os programas de residência para
treinamento, foram sendo criadas normas sobre anestesiologia em diversas universidades
da América do Norte. Em 1980, sob o comando do então presidente Eugene Steffey, foi
tentada e conseguida a certificação completa do ACVA pela AVMA.
Nas últimas quatro décadas, várias outras instituições promoveram e contribuíram
bastante para o avanço da anestesia veterinária, inclusive a Association of Veterinary
Anesthetists of Great Britain and Ireland (AVA) e a Veterinary Anesthesia and Surgery
Association no Japão. Junto com o ACVA, estas associações foram fundamentais para a
organização do primeiro International Congress of Veterinary Anesthesiology, com seu
objetivo estabelecido do avanço global no campo da anestesiologia veterinária. Esse
congresso foi realizado em Cambridge, na Inglaterra, em 1982, tendo sido repetido a cada
três anos, desde então, em vários lugares do mundo e em quase todos os continentes.
Ao mesmo tempo, nas últimas décadas do século XX, a anestesiologia veterinária
organizada avançou na Europa ocidental. No Reino Unido, os anestesiologistas veterinários
criaram a Association of Veterinary Anaesthetists e concederam o diploma de anestesista
veterinário àqueles com treinamento especialmente avançado. Por último, o interesse na
especialização ficou cada vez mais evidente no Reino Unido e em muitos países europeus,
resultando na criação do European College of Veterinary Anesthesiologists (ECVA). Para
reconhecer melhor o papel central dos anestesiologistas no sentido de proporcionar o
manejo da dor e o aprimoramento, tanto o ECVA como o ACVA em seguida buscaram e
conseguiram a aprovação para incorporarem a palavra ‘analgesia’. Assim, as instituições
foram renomeadas, como European College of Veterinary Anesthesia and Analgesia
(ECVAA) e American College of Veterinary Anesthesia and Analgesia (ACVAA).
Atualmente, vários anestesiologistas veterinários são credenciados tanto pelo ACVAA
como pelo ECVAA, com ambas as instituições reconhecendo a legitimidade de tal
credenciamento, o que permite a residência em programas de treinamento supervisionados
pelo ACVAA para qualificar os candidatos ao exame do ECVAA e vice-versa. Para mais
informação a respeito da história inicial da anestesia veterinária, o leitor deve consultar
outras fontes.11–14
O estabelecimento do ACVAA e do ECVAA ajudou no avanço da anestesia veterinária
e do manejo da dor em uma escala global por meio dos esforços de ambas as instituições
para promover a pesquisa, gerar conhecimento e aumentar a disseminação via encontros
científicos anuais e publicações. O ACVAA e o ECVAA têm sua publicação científica
oficial, o Journal of Veterinary Anaesthesia and Analgesia, que também serve como
publicação oficial da International Veterinary Academy of Pain Management (IVAPM;
Academia Veterinária Internacional do Manejo da Dor). No início dos anos 2000, em um
esforço para aprimorar os profissionais interessados na assistência humana, aumentar a
confiabilidade do manejo da dor e criar programas educativos continuados para
veterinários, a IVAPM concebeu o encontro anual denominado Veterinary Midwest
Anaesthesia and Analgesia Conference (VMAAC) Scientific Meeting. A missão
estabelecida da organização era progredirna abordagem multidisciplinar ao manejo da dor
na comunidade veterinária ampliada e foi patrocinada por uma parceria acadêmica com a
indústria farmacêutica, o Companion Animal Pain Management Consortium (Consórcio
para o Manejo da Dor em Animais de Estimação), liderada por Charles Short, do ACVAA
(presidente da ASVA original), William Tranquilli e James Gaynor. De forma justificada, o
primeiro presidente eleito da IVAPM foi o então presidente do ACVA, Peter Hellyer. É
interessante notar que, durante a elaboração deste livro (2014), a atual presidente eleita da
IVAPM, Bonnie Wright, continua a representar a legalidade da liderança do ACVAA no
campo da analgesia e do manejo da dor em veterinária.
Na verdade, o alívio da dor e do sofrimento em animais é uma questão cada vez mais
importante e definida na medicina veterinária neste século XXI. Hoje, anestesiologistas
acadêmicos e da prática particular, veterinários praticantes, técnicos em veterinária,
veterinários dedicados à pesquisa e da indústria, além de cientistas que estudam os animais,
estão cada vez mais trabalhando em conjunto nas organizações como o ACVAA, o ECVAA,
a IVAPM, a AVA, a AVTA e outras, com objetivos em comum de ampliarem o
conhecimento, coordenar programas educativos e avançar nos campos da anestesia, da
analgesia e do manejo da dor no âmbito veterinário.
Definição de anestesiologista
Em termos amplos, um anestesiologista é alguém com doutorado, reconhecido pelo
ACVAA ou pelo ECVAA, e legalmente qualificado para administrar anestésicos e empregar
técnicas relacionadas.15 O termo anestesista tem um significado mais variável, porque, em
alguns países europeus, ambos os profissionais são equivalentes, mas, na América do Norte
e em muitos outros países, anestesista refere-se a quem administra anestesia, sem ser
diplomado, possivelmente nem mesmo em medicina ou veterinária. Talvez a maneira mais
apropriada de definir um anestesiologista veterinário seja reconhecer o extenso treinamento
desse profissional, supervisionado pelo ACVAA ou pelo ECVAA e credenciado de acordo
com um exame (i. e., do ACVAA ou do ECVAA) para obtenção do diploma na
especialidade de anestesia e analgesia, que consiste em administrar e tratar os riscos em
uma ampla variedade de espécies e circunstâncias clínicas.
Primeiros estágios conceituais da anestesiologia
Nos primeiros anos da administração de anestesia (éter dietílico) em pacientes humanos e
veterinários, a avaliação da profundidade anestésica era uma habilidade ainda a ser
aprendida, considerada mais completamente por indivíduos com muita experiência e a
coragem necessária para aprender a partir da tentativa e do erro. John Snow foi o primeiro
médico a tentar classificar a profundidade da anestesia observando o paciente.16 Ensinar aos
novos anestesistas a quantidade necessária de anestésico a ser administrada requeria a
supervisão de alguém experiente. Tal sistema ficou mais evidente em períodos de alta
demanda por anestesistas, como ocorreu durante a Primeira Guerra Mundial.
O Dr. Arthur Guedel foi um médico de Indianápolis, Indiana (EUA), que serviu na
Primeira Guerra Mundial. Uma de suas tarefas era treinar assistentes hospitalares e
enfermeiras a administrarem éter dietílico a soldados feridos. Assim, Guedel estabeleceu
diretrizes mediante a elaboração de um gráfico colocado em uma parede, que poderia ser
usado por anestesistas para calcular a profundidade anestésica (Tabela 1.1).17
Embora as observações originais de Guedel tenham sido feitas em pacientes humanos
anestesiados com éter dietílico, subsequentemente elas foram adaptadas para o uso de
outros anestésicos inalatórios, como o halotano. Foram caracterizados quatro estágios
progressivos de anestesia, começando com a sua administração inicial e terminando na
proximidade da morte. Há três ou quatro subclassificações no estágio 3 (Boxe 1.1). Estes
planos anestésicos representam a depressão progressiva do sistema nervoso central, que se
pode observar enquanto um paciente está em uma profundidade anestésica de cirurgia.
As técnicas anestésicas modernas raras vezes utilizam apenas anestesia inalatória, o que
tornou a classificação de Guedel menos confiável. A incorporação de outros fármacos nas
técnicas anestésicas balanceadas (p. ex., antimuscarínicos e anestésicos dissociativos)
influencia muito as respostas reflexas e autônomas do paciente. Diante disto, passou a ser
comum confiar no monitoramento dos parâmetros fisiológicos do paciente, como a pressão
arterial, a respiração e o tônus neuromuscular. Atualmente, há grande interesse no uso do
monitoramento eletroencefalográfico da atividade do SNC (p. ex., índice biespectral), e sua
aplicação clínica é cada vez maior para assegurar a profundidade anestésica adequada em
procedimentos cirúrgicos. É interessante notar que uma comparação do índice biespectral
com os sinais clássicos de profundidade anestésica de Guedel em pessoas anestesiadas com
éter dietílico tem uma correlação relativamente boa (Figura 1.1).18 Apesar disso e da
incorporação de muitas modalidades novas de monitoramento na prática diária, o
anestesista ainda assim precisa entender a correlação entre alterações nos sinais físicos com
a progressão da profundidade anestésica. Portanto, é bem provável que a classificação
inicial de Guedel baseada na observação continue a ter relevância.
Classificação da anestesia
Os usos diversos da anestesia (na medida em que ela se relaciona com imobilização,
relaxamento muscular e antinocicepção) e as necessidades peculiares de cada espécie, faixa
etária e doença exigem o emprego de uma variedade de fármacos, suas associações e
métodos. A técnica anestésica costuma ser classificada de acordo com o tipo de fármaco
e/ou o método ou a via de administração:
•
Inalação: gases ou vapores anestésicos são inalados em associação com oxigênio
•
Injetável: soluções anestésicas são injetadas por via intravenosa, intramuscular e
subcutânea. Outras vias injetáveis incluem a intratorácica e a intraperitoneal, ambas
geralmente não recomendadas
•
Anestesia intravenosa total (AIVT), anestesia intravenosa parcial (AIVP) e infusão alvo
controlada (IAC): consistem em técnicas anestésicas em que se utiliza a infusão
intravenosa de um ou mais fármacos para produzir um estado anestésico adequado.
Existem alguns sistemas de infusão automatizada que permitem o aporte de parâmetros
do paciente e a informação farmacocinética sobre fármacos específicos e possibilitam ao
anestesiologista estabelecer uma concentração plasmática predeterminada do fármaco
(IAC)
Tabela 1.1 Características dos estágios de
anestesia geral.
Estágio da anestesia
I II III
Plano
1 2 3 4
Característica observada no sistema afetado
Leve Médio Profundo
Cardiovascular PulsoaTaquicardiaBradicardia
progressiva
arterial
a
Hipertensão NormalAumentaa
Pressão
hipotensão
Fracoou
imperceptível
Nívelde
choque
Reenchimento capilar Probabilidade
1sou menos
Demora
progressiva3sou mais
dearritmia+++ +++ ++ + ++ ++++
RespiratórioFrequê
ncia respiratóriaa Profundidade
Irregularou
aumentada
Irregularou
Diminuição
progressiva
Diminuição
Lenta
irregular
Zerada;pode haver
suspiro terminal
respiratóriaa
aumentada
progressivaIrregular
Zerada
Cordas
mucosas, cor dapele
Normal CianosePálidaa esbranquiçada
Ação
respiratória Reflexoda
Podeser mantida
Toracoabdominal,
abdominalDiafragmática
Zerada
tosse++++ +++ + Perdido laríngeo++++Pode
Reflexo
Possibilidade
vocalizarPerdido
deintubaçãoNão Sim
Gastrintestinal Salivação ++++
+++ + Reflexo
Diminuída aausente, excetoem
ruminantes
Ausente
orofaríngeo++++ +++ + Perdido devômito+++ +++
+Muito
Probabilidade
pequena
Refluxo
(regurgitação) potencial
NenhumAumentacomo
relaxamento++++
Timpanismo
(rúmen, ceco)Nenhum
Ocular Pupilas Dilatadas
Reflexoda
córneaNormal +++
Aumento
potencial coma duraçãoda
anestesia
Normaisou
contraídas,
dilatação
progressiva
Diminuição,perda
(emcavalospode persistir)
Agudamente dilatadas
Ausente
Lacrimação Normal +++ +Diminui,
ausenteAusentefotomotorNormal +++ +Diminui,
Reflexo
ausenteAusente
palpebralNormal +++ +Diminui,
Reflexo
Posiçãodo
globoocularNormal Variável Em
ausenteAusente
Ventromedialem
cãesegatosou
central
Nistagmo ++++
MusculoesqueléticoTônus
especial cavalos evacas
+ Nenhum
mandibular++++ ++++Diminuído,
mínimoPerdido
Tônus
musculardos ++++ ++++
Diminuído,Perdido
membros mínimo Tônus
muscular abdominal ++++ ++++ ++ Perdido
Esfíncteres
(anal,vesical)
Pode haver
eliminação
Relaxamento
progressivo
Controle perdido
Nervoso Sensório +++ + Perdido
Reflexo
podálico++++ ++++ Diminuído Ausente Reaçãoà
manipulação cirúrgica ++++ ++++ + Nenhuma
a A
estimulaçãocirúrgicaaumentaafrequênciacardíaca,apressãoarterialeafrequênci
arespiratóriaviarespostas autônomasquepersistem noplano2. Os
reflexosvagaisdecorrentesdatraçãovisceralpersistem noplano3. + a ++++ =
nívelpresente.
Boxe 1.1 Estágios anestésicos observados durante anestesia inalatória.
EstágioI. O
estágiodomovimentovoluntárioédefinidocomooqueduradesdeoiníciodaadministr
açãoatéaperda daconsciência.Pode haveralgumaanalgesia nas
fasesmaisprofundasdesteestágio. Animaisexcitadose apreensivospodem
debater-seviolentamenteeprendervoluntariamentearespiraçãopor
curtosperíodos. A
liberaçãodeepinefrinacausabatimentocardíacoforteerápidoedilataçãopupilar.Sali
vaçãoéfrequenteem alguns pacientes,bem como micçãoedefecação.Com
achegadadoestágioII,osanimais tornam-seprogressivamente atáxicos,perdem
acapacidadedeficarem posiçãoquadrupedanteecolocam-seem decúbitolateral.
EstágioII. O estágiodedeliriumoumovimentoinvoluntário. À
medidaqueocorreadepressãodoSNC,ospacientes perdem
todoocontrolevoluntário.Pordefinição,esteestágiovaiapartirdaperdadaconsciênci
aaoiníciodeum
padrãorespiratórioregular.ComoresultadodadepressãoanestésicadoSNC,os
reflexos tornam-se maisprimitivose exagerados. Ospacientes reagem
aosestímulosexternosdebatendo-seviolentamente, mantendoarespiração,
tendotaquipneiae hiperventilação. A liberaçãocontínuadecatecolaminacausaum
batimentocardíacorápidoe
forte,podem ocorrerarritmiaseaspupilas ficam bastantedilatadas. Os reflexos
ciliaresepalpebrais são proeminentes.Écomum aocorrênciade nistagmoem
equinos. Duranteesteestágio,osanimaispodem gemer, chorar,
rugirourelinchar,dependendodaespécieem questão.Em
algumasespécies,principalmenteruminantese gatos,asalivaçãoéabundante;em
cães,gatosecaprinos,podeocorrervômito. A laringedegatosesuínosé muito
sensível nesteestágio,esuaestimulaçãopodecausarespasmos laríngeos.
EstágioIII. O estágiodeanestesiacirúrgicacaracteriza-sepor inconsciência, com
depressãoprogressivados reflexos. Sobrevém relaxamento
muscular,eaventilaçãotorna-selentaeregular. Os
reflexosdovômitoedadeglutiçãoestão ausentes.
Em seres humanos,esteestágiofoidivididoem 1a4planos,para
maiordiferenciação. Outrospreferem a classificação mais simplesdeleve,
médioeprofundo. A anestesialevepersisteatéqueo movimentodogloboocular
cesse. A médiacaracteriza-seporparalisiaintercostalprogressiva,eaprofundapor
respiraçãodiafragmática. Uma profundidade
médiadeinconsciênciaouanestesiaéconsideradatradicionalmenteum
planolevedeanestesia cirúrgica(estágioIII,plano2)ecaracteriza-sepor
respiraçãoefrequênciadepulsoestáveis,aboliçãodos reflexos laríngeos,
reflexopalpebralquaseimperceptível, reflexocorneanoforte, relaxamento
musculareanalgesia adequadosparaa maioriadosprocedimentos cirúrgicos. A
anestesiacirúrgicaprofunda(estágioIII,plano2)
caracteriza-sepordiminuiçãodafunçãodosmúsculos
intercostaisedovolumecorrente,aumentodafrequência respiratória, relaxamento
muscularprofundo, respiraçãodiafragmática, reflexocorneanofracoepupilas
centralizadasedilatadas.
EstágioIV. DepressãoextremadoSNC. A
respiraçãocessaeocoraçãocontinuaabaterapenasporpoucotempo. A
pressãoarterial fica no
níveldechoque,oreenchimentocapilardasmucosasvisíveiséacentuadamentedem
oradoe aspupilas ficam bastantedilatadas. A mortesobrevém rapidamente,a
menosquesejam instituídasasmedidaspara
areanimaçãoimediata.Seaadministraçãodoanestésicofor
interrompidaearespiraçãoartificial for iniciadaantes docolapso
miocárdico,estesefeitospodem ser superadoseospacientespassarãode
novopelosváriosestágios na ordem inversa.
Figura 1.1 Valores do índice biespectral (IBE) nos vários estágios da anestesia com éter
(média ± DP). Fonte: referência 18. Reproduzida, com autorização, de Lippincott Williams &
Wilkins.
•
Oral ou retal: são vias usadas comumente para anestésicos e analgésicos líquidos ou na
forma de supositórios. Em geral, há uma variabilidade maior interespécie e entre os
indivíduos da mesma espécie na relação entre dose e resposta de fármacos
administrados por via oral, em decorrência de diferenças na absorção e no metabolismo
hepático de primeira passagem
•
Local e de condução: a aplicação do anestésico é tópica, ele é injetado localmente ou
em torno do local da cirurgia (bloqueio de campo) ou de um grande tronco nervoso que
supre uma região específica (bloqueio de condução ou nervoso regional). No último
caso, a injeção pode ser perineural (bloqueio nervoso), ou no espaço epidural ou no
subaracnoide
Eletronarcose, eletroanestesia ou eletrossono: são passadas correntes elétricas através
•
do cérebro para induzir narcose profunda. Embora tenha tido sucesso em estudos, esta
forma de anestesia nunca teve popularidade e raramente é usada na prática veterinária. Não
se deve confundir eletronarcose com a prática desumana da eletroimobilização •
Estimulação nervosa elétrica transcutânea (TENS, TNS ou TES): a analgesia local é
induzida por estimulação elétrica de baixa intensidade e alta frequência da pele, por
meio de eletrodos superficiais. Tem muitas similaridades com a eletroacupuntura •
Hipnose: estado semelhante ao transe, não induzido por fármaco, às vezes empregado
em coelhos e aves
•
Anestesia dissociativa: estado de sedação profunda em que o paciente fica consciente,
coopera e tem lembrança limitada ou nenhuma (amnésia). É uma técnica popular para
anestesia em pacientes ambulatoriais, na medicina humana, para procedimentos
diagnósticos e cirurgias de pequeno porte, quando associada a anestésicos locais e
analgésicos adicionais
•
Acupuntura: um sistema de tratamento em que se usam agulhas finas para induzir
analgesia. Outras modalidades de acupuntura de estimulação têm sido utilizadas,
inclusive mecânica e elétrica
•
Hipotermia: a temperatura corporal é diminuída, em um local ou todo o corpo, para
suplementar a insensibilidade e diminuir a necessidade de anestésico, bem como reduzir
as exigências metabólicas. É usada primordialmente em neonatos ou pacientes
submetidos à cirurgia cardiovascular.
Considerações ambientais
As preocupações quanto aos efeitos adversos potenciais associados ao uso de anestésicos se
enquadram em três categorias gerais. A primeira consiste nas reações adversas do paciente
ao fármaco, que podem ser classificadas em sete tipos: relacionadas com a dose
(aumentadas ou do tipo A), sem relação com a dose (bizarras ou do tipo B), relacionadas
com a dose e o tempo (crônicas ou do tipo C), relacionadas com o tempo (tardias ou
demoradas, ou do tipo D, do inglês delayed), de abstinência (término ou encerramento [do
inglês end] do uso ou do tipo E), falha do tratamento (falha ou do tipo F) e genéticas (do
tipo G).19 As reações adversas específicas dos pacientes são revistas em outras partes deste
texto.
Um segundo tipo de efeito adverso acomete os profissionais de veterinária sadios
expostos aos anestésicos e gases durante a realização de seu trabalho. A exposição aguda
por penetração acidental de uma agulha ou respingos de fármacos é sempre um risco.
Muitos empregadores têm padrões de procedimentos operacionais que instruem os
funcionários a limitarem a exposição e como proceder se ela ocorrer. A exposição crônica
em um local de trabalho a níveis baixos de anestésicos inalatórios foi uma preocupação
desde que seu uso começou, e, embora bastante estudada, ainda há questões sobre o risco
relativo de toxicidade, como infertilidade, aborto, câncer e outros problemas crônicos de
saúde. Parte dadificuldade para a determinação dos níveis críticos de exposição tem
relação com a incidência aparentemente baixa de efeitos adversos e o período
potencialmente longo entre a exposição e a manifestação da toxicidade. Em geral, a questão
é abordada em grandes estudos epidemiológicos de prestadores de serviços de saúde que
administram anestésicos. Isto implica muitos fatores passíveis de confusão, como a idade
do profissional de saúde, os agentes usados, problemas de saúde coexistentes e a estimativa
da exposição real do profissional, o que pode dificultar a interpretação dos resultados e
levar a generalizações. A exposição ocupacional a anestésicos inalatórios é discutida no
Capítulo 16, justamente dedicado a eles.
O terceiro tipo de efeito adverso dos anestésicos é ambiental. Em termos históricos,
durante o desenvolvimento de fármacos e o uso clínico de agentes anestésicos, não foram
considerados os recursos consumidos para produzir os fármacos, nem sua destinação final,
uma vez eliminados do paciente. Dos anestésicos inalatórios em uso clínico, o desfluorano é
responsável pela maior emissão de gases (dióxido de carbono e compostos halogenados) do
efeito estufa durante seu ciclo biológico, correspondendo a aproximadamente 15 vezes a de
isofluorano e 20 vezes a de sevofluorano em uma base de concentração alveolar mínima
(MAC) por hora. O uso simultâneo de óxido nitroso para facilitar a liberação de anestésicos
inalatórios aumenta ainda mais as emissões. O impacto dos anestésicos inalatórios
contemporâneos sobre a depleção de ozônio também foi estudado.20 Embora estes agentes
tenham algum potencial de diminuir a camada de ozônio, sua contribuição relativa é baixa e
o impacto sobre o aquecimento global deste mecanismo é mínimo. Com relação a todos os
anestésicos inalatórios, sua liberação final como resíduos de gases anestésicos na atmosfera
é o principal fator contribuinte para sua participação em efeito estufa e aquecimento global
potencial.
O impacto do propofol sobre o efeito estufa é muito menor, de quase quatro ordens de
magnitude, do que o do desfluorano ou o do óxido nitroso. A emissão de gases do efeito
estufa associada ao propofol e a muitos outros anestésicos injetáveis tem relação primária
com sua produção e o consumo de combustíveis fósseis necessários para a fabricação e a
liberação desses fármacos.21,22
Referências bibliográficas
1.
Short CE. The management of animal pain: where have we been, where are we
now, and where are we going? Vet J 2003; 165: 101–103.
2.
Heavner JE. Veterinary anesthesia update. J Am Vet Med Assoc 1983; 182: 30.
3.
Winters WD, Ferrer AT, Guzman-Flores C. The cataleptic state induced by
ketamine: a review of the neuropharmacology of anesthesia. Neuropharmacology
1972; 11: 303–315.
Askitopoulou H, Ramoutsaki IA, Konsolaki E. Analgesia and anesthesia: 4.
etymology and literary history of related Greek words. Anesth Analg 2000; 91(2):
486–491.
5.
International Association for the Study of Pain. IASP Taxonomy. http://www.iasp
pain.org/Education/Content.aspx?ItemNumber=1698 (accessed 15 September
2014).
6.
Thurmon JC, Benson GJ. Anesthesia in ruminants and swine. In: Howard JL, ed.
Current Veterinary Therapy, vol. 3. Philadelphia: WB Saunders, 1993; 58–76. 7.
Jackson CT. Etherization of Animals. Report of the Commissioner of Patients for
the Year of 1853. Washington, DC: Beverly Tucker, Senate Printer, 1853, 59. 8.
Dadd GH. The Modern Horse Doctor. Boston: JP Jewett, 1854.
9.
Keys TE. The development of anesthesia. Anesthesiology 1942; 3: 11–23.
10.
Stevenson DE. The evolution of veterinary anesthesia. Br Vet J 1963; 119: 477.
11.
Clark AJ. Aspects of the history of anesthetics. Br Med J 1938; ii:
1029. 12.
Smithcors JE. The early use of anesthesia in veterinary practice. Br Vet J 1957; 113:
284.
13.
Lee JA. A Synopsis of Anesthesia, 4th edn. Baltimore: Williams & Wilkins, 1959.
14.
Miller RD. Anesthesia, 2nd edn. New York: Churchill Livingstone, 1986.
15.
Medical Dictionary. Medical Dictionary, Medical Terminology.
http://www.medilexicon.com/medicaldictionary.php (accessed 1 December 2012). 16.
Snow J. On the Inhalation of the Vapor of Ether in Surgical Operations. London:
Churchill, 1847.
17.
California Pacific Medical Center.
http://www.cpmc.org/professionals/hslibrary/collections/guedel/ (accessed 15
September 2014).
18.
Bhargava AK, Setlur R, Sreevastava D. Correlation of bispectral index and Guedel’s
stages of ether anesthesia. Anesth Analg 2004; 98(1): 132–134. 19.
Edwards IR, Aronson JK. Adverse drug reactions: definitions, diagnosis, and
management. Lancet 2000; 356(9237): 1255–1259.
20.
Langbein T, Sonntag H, Trapp D, et al. Volatile anaesthetics and the atmosphere:
atmospheric lifetimes and atmospheric effects of halothane, enflurane, isoflurane,
desflurane and sevoflurane. Br J Anaesth 1999; 82(1): 66–73.
21.
Sherman J, Le C, Lamers V, Eckelman M. Life cycle greenhouse gas emissions of
anesthetic drugs. Anesth Analg 2012; 114(5): 1086–1090.
22.
Ryan SM, Nielsen CJ. Global warming potential of inhaled anesthetics: application
to clinical use. Anesth Analg 2010; 111(1): 92–98.
Avaliação do risco anestésico
Visão geral | Avaliação pré-operatória do risco para o animal
Morbidade e mortalidade
Morbidade anestésica em pequenos animais
Morbidade anestésica em grandes animais
Estudos sobre mortalidade
Consentimento informado
Referências bibliográficas
Avaliação do risco anestésico
A avaliação peroperatória do risco anestésico é um exercício valioso para minimizar as
complicações e otimizar a segurança da anestesia. Foram publicados vários estudos sobre a
morbidade e a mortalidade anestésicas em ambos, pequenos e grandes animais, e, com base
nas evidências obtidas a partir deles, o melhor reconhecimento dos riscos anestésicos e dos
animais que precisam de mais cuidados e de cuidado pré-operatório ajudaria a aprimorar os
padrões da anestesia veterinária e o desfecho para o paciente.
■
Visão geral | Avaliação pré-operatória do risco para o animal
Avaliação da saúde do animal
A avaliação pré-operatória do estado de saúde do animal é valiosa para identificar os riscos
anestésicos, as prioridades no manejo e alertar apropriadamente os clientes (proprietários
dos animais) antes da anestesia e da cirurgia. Tem sido constante a associação do estado de
saúde à morte durante anestesia em seres humanos e também é comum no caso de animais,
com relação à anestesia veterinária. A gradação1,2 crescente atribuída pela American
Society of Anethesiologists (ASA) (Tabela 2.1) foi associada a um risco maior de morte em
vários estudos feitos com pequenos animais anestesiados,3–12 equinos e seres humanos.15–34
Os agentes anestésicos causam depressão cardiopulmonar, e é provável que a presença
de uma patologia preexistente predisponha a um distúrbio fisiológico maior induzido pela
anestesia.35 Os distúrbios dos principais sistemas do corpo tornam o paciente menos
tolerante à depressão fisiológica induzida pela anestesia. A existência prévia de uma
patologia cardiopulmonar é particularmente relevante no período pré-operatório imediato,
pois é provável que a mortalidade associada à anestesia envolva comprometimento
respiratório ou cardiovascular, e a maioria dos anestésicos deprime um ou ambos os
sistemas nos níveis clínicos de anestesia.35
Anormalidades hematológicas e bioquímicas também podem ser uma consideração
importante. Em particular, a anemia reduz a capacidade de oxigenação e predispõe à
hipoxia, e foi aventada a teoria de que a hipoproteinemia aumenta a resposta do paciente
aos fármacos que se ligam com maior afinidade à proteína, o que resulta em sobredose
relativa.35 Doença renal também é importante, em particular se houver desidratação ou
uremia, pois em tais condições o sistema renal terá menor tolerância à anestesia e o paciente
pode ser mais sensível a alguns anestésicos e fármacos peroperatórios, como anti
inflamatórios não esteroides. Doença neurológica pode ser relevante quanto à ocorrência de
convulsões no pós-operatório,maior sensibilidade aos anestésicos e quando a função
cardiopulmonar está afetada, por exemplo, uma patologia medular pode deprimir a
ventilação e a função cardiovascular. Além disso, doenças hepáticas e endócrinas podem
influenciar a resposta à anestesia, sendo particularmente relevantes o diabetes melito e
alterações celulares nas concentrações de glicose.36
Portanto, alguma forma de avaliação das condições físicas de saúde é uma consideração
pré-anestésica importante. A gradação da ASA1,2foi descrita com mais frequência. No
entanto, a possibilidade de repetição e a concordância entre observadores de tais sistemas
de gradação foram questionadas e a evidência sugere que há pouca concordância entre
observadores quanto à classificação da saúde da ASA na anestesia veterinária.37 Há outros
sistemas de avaliação na medicina humana, incluindo o Acute Physiology and Chronic
Health Evaluation (APACHE) e o Physiological and Operative Severity Score for the
enUmeration of Mortality and Morbidity (POSSUM), e, na prática pediátrica, o escore
Neurological, Airway, Respiratory, Cardiovascular and Other (NARCO), todos tendo sido
bem observados em predizer o risco peroperatório.38–40 Entretanto, estes sistemas são
complexos, demorados e ainda precisam ser avaliados quanto à concordância entre
observadores no contexto veterinário. Portanto, até o momento, parece haver pouco
consenso quanto ao método ideal de avaliação das condições de saúde do paciente para a
classificação consistente e eficiente dos observadores, devendo-se ter cuidado ao interpretar
as avaliações individuais de saúde. Apesar disso, há muitas evidências mostrando que
pacientes com doenças são mais propensos a morrer no peroperatório e, por isso, algum tipo
de avaliação de suas condições pré-operatórias é recomendável para distinguir os pacientes
com doenças dos sadios, identificar aqueles em maior risco e tratá-los da maneira
apropriada, para tentar minimizar o risco antes, durante e após a anestesia.
Tabela 2.1 Classificação do estado físico.a
Categoria Condiçõesfísicas Exemplos possíveis da categoria
Nenhumadoençadiscernível;ani
maisaserem
1 Pacientes normalmentesaudáveis 2
Pacientes comdoençasistêmicaleve
submetidosaovário-histerectomia,otectomia,
caudectomiaoucastração
Tumordepele, fraturasemchoque, hérniasem
complicação, criptorquidectomia, infecção
localizadaoudoençacardíacacompensada
3 Pacientes comdoençasistêmicagraveFebre,desidratação,anemia, caquexiaou
hipovolemia moderada
4Pacientes
comdoençasistêmicagravequeéuma
ameaçaconstanteàvida
5Pacientes moribundososquais
nãoseesperaque sobrevivam1dia,
comousemaoperação
Uremia, toxemia,desidrataçãoe hipovolemia
graves,anemia,descompensaçãocardíaca,
emaciaçãooufebrealta
Choqueextremoedesidratação, malignidade
terminalouinfecção,outraumatismograve
aEstaclassificaçãoéa mesmaadotadapela American Societyof Anesthesiologists.
Exame de sangue pré-anestésico
Ante o fato de que a disfunção orgânica e várias condições patológicas, como anemia ou
hipoproteinemia, podem contribuir para maior morbidade ou mortalidade anestésica, o
sensato seria fazer todo o esforço possível para detectá-las antes de uma anestesia geral. Por
isso, o exame hematológico pré-anestésico de rotina é recomendado por muitos veterinários
e, na verdade, por alguns especialistas em anestesia. Contudo, embora não haja dúvida de
que as análises bioquímicas e hematológicas prévias tenham valor definitivo em
certos grupos de animais, continua a ser questionável se o seu uso se justifica em todos os
animais, em particular aqueles saudáveis que serão submetidos a procedimentos eletivos.
Uma pesquisa na internet sobre a triagem sanguínea pré-anestésica de animais
(Preanesthetic blood screening in animals, http://www.google.com, acessada em agosto de
2013) resultou em mais de seis milhões de “dicas”, com uma proporção substancial
parecendo ser de veterinários, detalhando suas razões e preços para a realização de tal
procedimento; é interessante o fato de que, no fim da pesquisa, praticamente não surgiram
artigos científicos sobre a prática. Além disso, como é possível encontrar muita informação
na internet, muitos dos comentários relevantes sobre o assunto parecem ter sido escritos por
pessoas aparentemente sem base científica ou credenciais para discuti-lo, sendo a maioria
de fóruns de proprietários de animais de estimação. Embora seja possível que esses grupos
de discussão não tenham base científica ou clínica genuína, é quase certo que ajudam a
perpetuar a ‘necessidade’ de um exame de sangue pré-anestésico em todos os casos; porém,
como muitos veterinários também recomendam seu uso rotineiro, é óbvio que tudo não
pode depender das percepções dos proprietários dos animais. Sendo assim, há, realmente,
uma justificativa racional para a realização de exames pré-anestésicos bioquímicos e
hematológicos?
Há numerosos estudos sobre anestesia em seres humanos que questionam a necessidade
de exames laboratoriais pré-anestésicos em pacientes sadios,41–43 cada um demonstrando
que – no caso de indivíduos sem anormalidades demonstráveis à anamnese e ao exame
clínico – a triagem sanguínea prévia não parece diminuir a ocorrência de complicações
perianestésicas. O UK National Institute for Health and Care Excellence (NICE) obteve
evidência de uma variedade de fontes e, em seguida, elaborou recomendações para
especialistas da medicina humana em diversas intervenções clínicas e cirúrgicas. Quanto ao
exame sanguíneo pré-anestésico, o NICE subdivide as recomendações com base na idade
do paciente e no ‘nível’ da cirurgia à qual ele será submetido, com o sistema de gradação
indo de 1 a 4 (do menos para o mais invasivo), mas, no caso de cirurgia neurológica ou
cardiovascular, são usados outros sistemas. Há uma infinidade de cirurgias diferentes em
cada gradação. Exemplos de procedimentos do grau 1 incluem cirurgia na parte externa do
nariz, no septo nasal ou no prepúcio; os procedimentos do grau 2 incluem tonsilectomia ou
reparo de hérnia inguinal; do grau 3, mastectomia total ou histerectomia, e os do grau 4
abrangem substituição total do quadril ou transplante renal.44 Com base neste sistema, o
NICE recomenda um hemograma completo apenas para pacientes com mais de 60 anos de
idade a serem submetidos a procedimentos cirúrgicos de médio a grande porte (gradação
cirúrgica ≥ 2), todos os adultos a serem submetidos a cirurgias de grande porte (gradação
cirúrgica ≥ 3) ou aqueles com doença renal grave.44 Similarmente, o perfil bioquímico
(ureia, creatinina e eletrólitos) só é recomendado para pacientes com mais de 60 anos de
idade a serem submetidos a procedimentos cirúrgicos de grau ≥ 3, todos os adultos a serem
submetidos a cirurgias de grau 4 ou na vigência de qualquer doença renal ou cardiovascular
grave.44
As recomendações para a avaliação sanguínea pré-anestésica são ainda mais restritas
para pacientes humanos pediátricos (com menos de 16 anos de idade). Se o indivíduo
estiver na categoria ASA 1, nenhum exame pré-anestésico rotineiro é recomendado,
qualquer que seja o nível da cirurgia a ser realizada, sendo as únicas exceções se a criança
for submetida a procedimentos neurológicos ou cardiovasculares.44 Surpreendentemente,
não parecem ter sido publicadas diretrizes que sirvam como padrão para crianças em
categorias ASA ≥ 2. É provável que a discrepância entre as recomendações para a triagem
de pacientes pediátricos humanos e adultos tenha relação com a maior incidência de
comorbidades nos últimos. Em decorrência das recomendações do NICE, as conclusões
para diretrizes da Association of Anaesthetists of Great Britain and Ireland (AAGBI)45 para
a anestesia humana foram de que “as investigações pré-operatórias rotineiras são
dispendiosas, trabalhosas e de valor questionável, em especial no sentido de contribuírem
para morbidade ou causar adiamentos em decorrência de resultados espúrios”.
Junto à questão de resultados errôneos que possam ter impacto sobre a eficiência em
determinado caso, também é importante lembrar que as faixas de referênciaestabelecidas
para a maioria dos exames laboratoriais incorporam apenas aproximadamente 80% da
população; isto é, cerca de um em cinco animais em perfeita saúde terá resultados
laboratoriais fora dos parâmetros ‘normais’, o que pode levar então a mais investigações
desnecessárias, além do adiamento do procedimento planejado. Por isso, é importante
interpretar com cuidado os resultados dos exames e vê-los como parte da avaliação geral do
paciente.
A AAGBI também considera que a anamnese e o exame realizados por um profissional
bem treinado e competente constituem a maneira mais eficiente e acurada para se detectar
morbidade significativa logo de início: “portanto, é importante que, sempre que a avaliação
sanguínea pré-anestésica for realizada, ela seja vista como complementar a um exame
clínico abrangente, e não uma alternativa”. Embora sem dúvida seja este o caso tanto na
anestesia veterinária como na humana, os resultados de estudos em pessoas com relação à
avaliação sanguínea pré-anestésica de pacientes saudáveis podem não ser diretamente
aplicáveis a animais, porque a maioria dos seres humanos é cognitiva e verbal, capaz de
falar sobre seus problemas de saúde, enquanto os clínicos veterinários só podem obter
informação relevante dos proprietários de seus pacientes, o que pode resultar na não
identificação de detalhes importantes. Portanto, é possível a viabilidade de se detectar uma
incidência maior de anormalidades com a triagem pré-anestésica de animais do que a
relatada em seres humanos.
Ante a opinião de consenso de que na anestesia humana a triagem sanguínea pré
anestésica só parece justificável para pacientes “doentes”, e que indivíduos sadios
submetidos a procedimentos eletivos não se beneficiam de tal prática, quais as
recomendações para a anestesia veterinária? Parece que há pelo menos três estudos sobre a
validade da triagem sanguínea pré-anestésica rotineira em animais. Toews e Campbell46
fizeram o hemograma completo em 102 equinos submetidos à criptorquidectomia e, então,
determinaram se alguma anormalidade detectada poderia ter impacto no risco de
complicações cirúrgicas. Eles verificaram que 55 animais tinham resultados fora dos
valores de referência pelo menos para um parâmetro hematológico, mas não houve
correlação entre esses valores e a probabilidade de complicações cirúrgicas intra ou pós
operatórias, nem tais anormalidades resultaram em alterações no manejo dos pacientes. Alef
et al.47 analisaram os resultados de mais de 1.500 cães submetidos a anestesia na University
of Leipzig e relataram que, se nenhum problema potencial fosse identificado na anamnese
ou no exame clínico do animal, “as alterações reveladas pela triagem pré operatória em
geral tinham pouca relevância clínica e não impunham modificações importantes na técnica
anestésica”. Portanto, eles concluíram ser improvável que a triagem sanguínea
pré-anestésica acrescente informação importante na maioria dos casos. No entanto, o
mesmo estudo também revelou que, dos cães em que a anamnese e o exame clínico não
tiveram resultados normais e foram submetidos a exames laboratoriais (equivalente a 84%
dos cães recrutados), 8% demonstraram anormalidades bioquímicas ou hematológicas que
os teriam classificado em um grau ASA mais alto, mesmo que isto não alterasse
necessariamente o protocolo anestésico. Além disso, também identificaram que a cirurgia
teria sido adiada por causa dos achados laboratoriais em 0,8% dos cães cuja avaliação
sanguínea pré-anestésica em geral não seria realizada, enquanto 1,5% teria recebido
tratamento pré-anestésico adicional. Embora os autores tenham concluído que em apenas
0,2% dos cães no estudo teria sido necessária alguma modificação no protocolo anestésico
proposto por causa dos resultados bioquímicos ou hematológicos, a dedução de que uma
patologia não diagnosticada pode ser detectada antes da cirurgia graças à triagem
“rotineira” pode ter implicações no sentido de o proprietário decidir pela anestesia/cirurgia
e também pode alterar o prognóstico esperado para o animal. Portanto, ainda que os exames
bioquímicos e hematológicos pré-anestésicos na verdade possam não alterar a anestesia
subsequente na maioria dos animais, podem ser um fator decisivo para a realização do
procedimento.
Como a idade avançada é um componente que tem impacto sobre as recomendações do
NICE a respeito da avaliação sanguínea pré-anestésica em seres humanos, seria útil saber se
há maior probabilidade de serem detectados resultados anormais no mesmo grupo de
pacientes na anestesia veterinária, bem como qualquer impacto potencial que isto possa ter.
Joubert48 avaliou se as análises hematológicas e bioquímicas tiveram algum valor em cães
na faixa etária geriátrica (com mais de 7 anos de idade) que seriam submetidos a anestesia.
Dos 101 cães recrutados para tal estudo, foram feitos 30 novos diagnósticos (p. ex.,
neoplasia, hiperadrenocorticismo) com base na amostragem sanguínea, com 13 animais não
sendo submetidos à anestesia geral por causa de tais diagnósticos. Entretanto, a similaridade
da conclusão desse estudo com o de Alef et al.47sugeriu que, embora a avaliação
pré-anestésica tenha revelado a presença de doença subclínica em quase 30% dos cães
estudados, e que a triagem de pacientes geriátricos é importante, “o valor da triagem antes
da anestesia talvez seja mais questionável em termos de prática anestésica, mas é um
momento apropriado para se fazer tal avaliação”. Em outras palavras, embora os exames de
sangue pré-anestésicos possam ser válidos para se descobrir patologia não diagnosticada em
pacientes geriátricos, há pouca evidência de que o problema detectado realmente teria
impacto sobre o manejo após a anestesia ou o desfecho geral dela. Contudo, este estudo
identificou que, em mais de 10% dos cães, a anestesia foi cancelada exclusivamente por
causa dos achados à triagem sanguínea pré-anestésica, o que, evidentemente, é
significativo.
É interessante notar que, em contraste com estudos prévios, o trabalho do Confidential
Enquire into Perioperative Small Animal Fatalities (CEPSAF) revelou redução no risco
quando a triagem sanguínea pré-operatória foi feita em pacientes classificados nos graus
mais elevados da ASA. Tal estudo, realizado no Reino Unido entre 2002 e 2004, foi
multicêntrico, envolveu mais de 100 procedimentos e dados de mais de 200.000 cães e
gatos.49 Ao serem analisados os fatores de risco de morte anestésica em cães doentes (ASA
3 a 5), a avaliação sanguínea pré-operatória foi associada a uma redução na ocorrência de
óbitos, em particular nos cães das categorias ASA 4 a 5.50 Tal associação não foi detectada
nas análises globais em que cães das categorias 1 a 5 da ASA foram considerados em
conjunto ou em gatos, mas sugere que o perfil bioquímico e a hematologia no pré
operatório tendem a ser mais valiosos em animais doentes com indicação para anestesia.
Portanto, com base na evidência da anestesia em seres humanos, e em um número
menor de estudos veterinários publicados, o benefício da triagem bioquímica ou
hematológica de animais aparentemente saudáveis (ASA 1) antes da anestesia parece
insignificante em termos da redução do risco ou de alteração do protocolo anestésico; no
entanto, como uma porcentagem significativa de animais pode ter o procedimento
cancelado por causa dos resultados destes exames (graças a um prognóstico desfavorável
ou à necessidade de tratamento adicional antes da anestesia), isto pode contrabalançar o
argumento anterior. Em termos gerais, é provável que a necessidade de triagem sanguínea
pré-anestésica em animais classificados na categoria ASA 1 continue uma questão
discutível, com argumentação válida tanto a favor como contra.
Contudo, é provável que a situação em animais na categoria ASA 2 ou maior seja mais
definida, com os estudos veterinários publicados justificando de alguma forma a validade
da triagem pré-anestésica, no sentido de alterar a conduta e o desfecho da anestesia.
Junto com o impacto (ou sua ausência) que a triagem pré-anestésica possa ter na
condutasubsequente da anestesia e no desfecho final em pacientes veterinários, talvez haja
outro fator que possa requerer consideração, ou seja, o potencial de litígio jurídico. Parece
que um número cada vez maior de clientes quer (às vezes acima de tudo) “colocar o dedo
na ferida” do veterinário com relação à anestesia, mesmo que em muitos casos isto seja
totalmente injustificado. Daí a razão genuína de muitos veterinários fazerem a triagem pré
anestésica rotineira para “se protegerem”, não realmente para verificar a adequação do
manejo anestésico e alterá-lo conforme necessário se forem detectadas anormalidades. É
impossível prever o que pode acontecer em termos legais no caso de um animal sadio
submetido a um procedimento eletivo morrer durante a anestesia quando não tiver sido feita
triagem prévia alguma; porém, de acordo com as recomendações para a anestesia em seres
humanos e a ausência de evidência de qualquer benefício nos poucos estudos veterinários
realizados, parece difícil afirmar que a triagem bioquímica ou hematológica pré-anestésica
seja um padrão básico de cuidados. Como há uma base de evidência mais limitada para
animais “doentes”, pode-se considerar recomendável fazer a triagem pré anestésica em
pacientes na categoria ASA 2 ou maior, tanto como um padrão de assistência como para
evitar problemas legais.
Morbidade e mortalidade
A ocorrência de complicações não fatais é mais frequente que eventos mortais, embora
tenham sido documentadas com menos frequência na literatura veterinária. Os riscos
relatados de morbidade para pequenos animais variam de 2 a 10%.4,5,10,51 Sabe-se da
dificuldade de assegurar a detecção e o registro consistentes de eventos mórbidos no
contexto da prática anestésica em pequenos e grandes animais.3,4,52,53 Em pequenos animais,
os padrões de monitoramento da anestesia em geral são superficiais54–56 e, a menos que uma
complicação resulte em distúrbio óbvio no paciente, podem passar despercebidos. Assim,
ao considerar complicações mórbidas, só serão discutidos aqui eventos importantes, mais
prováveis de serem observados de maneira consistente e que poderiam contribuir para um
grande impacto sobre o paciente (além de sua morte).
■
Morbidade anestésica em pequenos animais
Estudos sobre a morbidade anestésica em pequenos animais são realizados com maior
frequência em hospitais de faculdades de veterinária, havendo poucos relatos com base na
prática primária que também relatem complicações não fatais importantes.3–5,10,51,56,57 As
condições mais descritas incluem complicações respiratórias, cardiovasculares, renais,
gastrintestinais, aquelas relativas à termorregulação e neurológicas.
Foram observadas complicações respiratórias em 0,54% de cães e 0,34% de gatos em
um estudo feito por veterinários em Ontário, no Canadá, que incluíram depressão
respiratória ou apneia, angústia respiratória e dificuldade à intubação (embora suas
definições não tenham sido estabelecidas).4 Em um hospital veterinário de uma faculdade,
foram observadas complicações respiratórias semelhantes, mas com maior frequência.
Hipoventilação e hipocapnia (definidas como pressão parcial de dióxido de carbono arterial
ou volume corrente de dióxido de carbono > 55 mmHg) foram relatadas em 1,3% e em 1 de
683 cães e gatos submetidos a anestesia, respectivamente, e hipoxemia (pressão parcial de
oxigênio arterial < 60 mmHg ou saturação arterial de oxigênio na hemoglobina < 90%) foi
informada em 0,5% dos cães, e, ocasionalmente, também se observou comprometimento de
via respiratória.51 Mais recentemente, em um hospital-escola veterinário na Espanha, foram
observadas hipoventilação (definida como ventilação minuto < 100 mℓ/kg/min) em mais de
60% dos cães anestesiados e hipoxemia (definida como uma SpO2 < 90%) em 16% deles.57
O comprometimento cardiovascular em pequenos animais incluiu o desenvolvimento de
arritmias cardíacas, notavelmente bradicardia, em 0,62 e 0,14% de cães a gatos anestesiados
em um contexto de prática primária, embora a última fosse classificada como < 60 bpm e
irregular ou < 50 bpm e regular, tanto para cães como para gatos.4 Em contraste, no
contexto de um hospital de ensino, as complicações cardiovasculares registradas com maior
frequência foram hipotensão (definida como uma pressão arterial sistólica < 80 mmHg ou
pressão arterial média < 60 mmHg, e observada em 7% de cães e 8,5% de gatos) e arritmias
cardíacas (observadas em 2,5% de cães e 1,8% de gatos).51 Hosgood e Scholl5,10relataram
níveis similares de arritmias em um hospital de ensino, com 4% de cães e 3,6% de gatos
exibindo arritmias cardíacas. As arritmias registradas incluíram contrações ventriculares
prematuras, síndrome sinusal, bloqueio cardíaco de segundo grau e taquicardia ventricular.
Bradicardia (frequência cardíaca < 50 bpm) foi relatada em aproximadamente 36% dos cães
anestesiados em um hospital-escola veterinário na Espanha e hipotensão (pressão arterial
média < 60 mmHg ou pressão arterial sistólica < 90 mmHg) em quase 38%.57
Regurgitação foi a complicação gastrintestinal documentada com mais frequência. O
risco de regurgitação relatado em cães sem doença predisponente preexistente de alguns
estudos ficou entre 0,42 e 0,74%,58–60 embora outro relato tenha documentado um índice
bem maior (5,5%).61 É provável que a variação na frequência entre estes estudos reflita
diferenças nos procedimentos realizados, medicação pré-anestésica, anestésicos e as doses
usadas, bem como as populações de cães estudadas. O risco de refluxo gastresofágico, que
pode resultar em lesão substancial da mucosa esofágica, era muito maior do que 16 a 17% e
chegou até a 27 a 60%, mais uma vez dependendo dos animais estudados e dos anestésicos
administrados, sugerindo que o risco de lesão da mucosa possa ser muito maior do que a
proporção de pacientes em que se observa refluxo.58,59,61,62
A hipotermia, quando monitorada, foi uma complicação particularmente comum. Em
um estudo feito em um hospital veterinário de ensino, 85% dos cães tiveram temperatura
registrada no peroperatório inferior a 37,3°C durante ou após a anestesia.5,10 Trabalho
recente em um hospital veterinário universitário na Espanha revelou hipotermia
peroperatória em mais de 70% dos gatos e 32% dos cães (temperatura corporal <
36,5°C).63,64
Também foi documentada recuperação insatisfatória, em geral registrada como demora
na recuperação da consciência, tendo sido observada em 0,14 a 0,18% dos cães e gatos
anestesiados em um estudo.4 Um número menor de cães e gatos apresentou complicações
que incluíram excitação durante a recuperação, colapso, hipotermia prolongada, redução da
consciência após uma recuperação aparentemente normal e insuficiência renal.4 Além disso,
foram publicados relatos de casos esporádicos de cegueira peroperatória, mas há dados
limitados sobre a frequência desta complicação com relação ao número de animais
anestesiados.65,66 É interessante notar que 16 de 20 gatos observados com cegueira cortical
pós-operatória estavam usando um abre-boca, embora os dados relativos ao uso de tal
dispositivo em geral não estejam disponíveis, o que limita a capacidade de se concluir se há
realmente uma associação entre o uso do abre-boca ou de algum procedimento e o
desenvolvimento de cegueira.65
■
Morbidade anestésica em grandes animais
Foi relatada uma variedade de complicações não fatais, embora a informação sobre sua
frequência nas populações de equinos em geral seja limitada. O comprometimento
cardiovascular, conforme relatado na anestesia em pequenos animais, é uma consideração
importante na anestesia em equinos. Foram descritas hipotensão, bradi e taquiarritmias. Em
particular, também houve relatos de bloqueio atrioventricular de segundo grau, fibrilação
atrial e contrações ventriculares prematuras.67 As complicações mórbidas respiratórias
principais foram hipoventilação, hipercapnia e hipoxemia, relatadas como complicações
potenciais da anestesia em equinos.67,68
Em contraste com a anestesia em pequenos animais, os equinos parecem demonstrar
uma ampla variedadede complicações pós-operatórias, incluindo fraturas e lesão de tecido
mole, miopatia, neuropatia e mielopatia, muitas vezes resultando em morte ou eutanásia.67
Há dados limitados sobre a frequência destes eventos quando não fatais, embora a
evidência destas complicações que resultam em mortalidade ressalte sua importância.
Foram relatadas fraturas de maneira intermitente e, em geral, resultaram em eutanásia. No
Confidential Enquire into Perioperative Equine Fatalities (CEPEF), um estudo prospectivo
multicêntrico sobre as complicações da anestesia em equinos, estimou-se que as fraturas
foram a causa de 25% das mortes por anestesia, 7% das miopatias e 5,5% das complicações
no SNC.53 De maneira semelhante, em um estudo unicêntrico feito no Kentucky (EUA), as
fraturas foram a causa de 17% das mortes ou eutanásias e 7% de neuropatias e miopatias.69
Outras complicações relatadas incluíram cólica pós-anestésica, que, em um estudo
multicêntrico feito no Reino Unido, foi estimada em aproximadamente 5% de todos os
equinos anestesiados.70
■
Estudos sobre mortalidade
Fatalidades anestésicas em pequenos animais
Riscos de morte por anestesia
A mortalidade, em contraste com a morbidade, foi observada com mais consistência e
relatada de maneira extensa na literatura veterinária. Na anestesia em pequenos animais, o
risco de morte foi documentado nos últimos 50 anos71 e as tendências para sua redução, ao
longo do tempo, têm sido relatadas (Tabela 2.2). Estudos feitos em centros de referência e
universidades em geral relataram riscos maiores de mortes por causa da natureza de seus
pacientes e dos procedimentos, enquanto os estudos realizados por veterinários particulares
tiveram uma tendência a refletir populações mais sadias e procedimentos mais simples. A
comparação direta de riscos de morte entre estudos foi limitada por diversos fatores,
inclusive variações nas definições de estudos de caso, populações estudadas e
procedimentos realizados.
Tabela 2.2 Resumo dos riscos de morte anestésica em cães e gatos publicados em estudos
de veterinários privados e instituições.
Risco demorte anestésica (%)
Localização [referência] Ano Âmbito Cães Gatos Angell Memorial AH, Boston
[72] 1946–1950 Institucional 0,26 0,36 CSU,Colorado[73] 1955–1957 Institucional
1,08 1,79 Wheatridge AH,Colorado[73] 1960–1969 Institucional 0,23 0,40 Univ.
Missouri, VH [73] 1968–1969 Institucional 0,8 0,53
CSU,Colorado[74] 1979–1981 Institucional 0,43 0,26 CSU,Colorado[51]
1993–1994 Institucional 0,43 0,35 EstadodaLouisiana[5,10] 1995–1996
Institucional 1,49 5,80 RVC,Londres [6] 1999–2002 Institucional 0,58 –
Escócia[75] 1975 Privado – 0,31 Vermont [76] 1989 Privado 0,11 0,06 Reino
Unido[3] 1984–1986 Privado 0,23 0,29 Ontário,Canadá[4] 1993 Privado 0,11 0,10
0,13em
Finlândia[77] 1993 Privado
pequenos animais
ÁfricadoSul [56] 1999 Privado0,08emcãese gatos
Reino Unido[7] 2002–2004 Privado 0,17 0,24
Espanha[11] 2007–2008 Privado1,39emcãese gatos
França[12] 2008–2010 Privado1,35emcãese gatos
CSU = ColoradoStateuniversity, AH = Animal Hospital, VH = Veterinary Hospital, RVC =
Royal VeterinaryCollege.
Os primeiros estudos em instituições nos EUA documentaram uma ampla variedade de
riscos relativamente altos de mortalidade. Um deles, realizado no Angell Memorial Animal
Hospital, em Boston, publicou que os riscos de morte anestésica foram de 0,26% em cães,
0,36% em gatos e 5% em outras espécies.72 A Colorado State University relatou riscos
maiores de 1,08% em cães e 1,79% em gatos, entre 1955 e 1957,73 e o relato do Wheatridge
Animal Hospital (Colorado) revelou riscos de mortalidade anestésica de 0,23% em cães e
0,40% em gatos entre 1960 e 1969.73 Mais ou menos na mesma época, o Hospital
Veterinário da University of Missouri relatou riscos de mortalidade de 0,8% em cães e
0,53% em gatos.73 Estudos mais recentes em centros de referência relataram riscos menores
de mortalidade, sugerindo que os resultados melhoraram. Outro trabalho da Colorado State
University documentou riscos de 0,43% em cães e 0,26% em gatos entre 1979 e 1981, e de
0,43% em cães e 0,35% em gatos entre 1993 e 1994. A Louisiana State University relatou
riscos maiores de morte peroperatória de 1,49% em cães e 5,80% em gatos em sua
instituição entre 1995 e 1996, embora isto se referisse a todas as mortes, não apenas à
mortalidade relacionada com a anestesia.5,10 Pesquisa do Royal Veterinary College no Reino
Unido revelou um risco de mortalidade anestésica de 0,58% em cães entre 1999 e 2002.6
Com base no trabalho mais recente que mencionamos, o risco de morte relacionada com a
anestesia no contexto de referência pareceria ser da ordem de 0,25 a 0,60% em cães e gatos.
Trabalhos realizados por veterinários de clínicas particulares com pequenos animais
geralmente documentaram riscos menores de mortalidade do que os estudos feitos em
instituições de referência. Um desses primeiros estudos particulares avaliou a mortalidade
de felinos na Escócia (Reino Unido) e publicou que o risco de morte foi de 0,31% em
gatos.75 Seguiu-se uma outra pesquisa particular sobre anestesia em pequenos animais em
Vermont (EUA), que relatou um risco de morte de 0,11% e 0,06% em cães e gatos,
respectivamente.76 Um estudo semelhante foi feito na Finlândia, em 1993, e relatou um
risco de morte de 0,13% em pequenos animais em geral.77 Um estudo retrospectivo mais
recente avaliou a mortalidade em uma população de pequenos animais na África do Sul, em
1999, e o risco estimado de mortalidade foi de 0,08% para cães e gatos,56 e uma clínica
veterinária particular, na França, relatou um risco de morte anestésica geral de 1,35% e
0,12% para pacientes sadios (ASA 1 a 2).12 O estado de saúde dos pacientes anestesiados
nestes estudos nem sempre foi registrado, embora seja provável que reflita animais
relativamente saudáveis e explique em parte os riscos mais baixos geralmente relatados.
O primeiro estudo prospectivo multicêntrico de complicações em coorte de pequenos
animais foi realizado entre 1984 e 1986, no Reino Unido.3 Foram recrutados 53
veterinários, registradas 41.881 anestesias e relatados riscos de morte anestésica de 0,23%
em cães e 0,29% em gatos. No caso de pacientes sadios (ASA 1 a 2, Tabela 2.1), esses
riscos foram de 0,21% em cães e 0,18% em gatos, enquanto, no caso de pacientes com
doenças (ASA 3 a 5, Tabela 2.1), mais de 3% dos cães e gatos tenham morrido no período
peroperatório. As mortes peroperatórias em pacientes sadios (ASA 1 a 2), que ocorreram
durante ou logo após as cirurgias, foram consideradas “decorrentes primariamente da
anestesia”, a menos que houvesse uma causa cirúrgica óbvia, enquanto, nos pacientes com
doenças (ASA 3 a 5), todas as mortes foram relatadas, independentemente das causas. Em
seguida, houve um estudo prospectivo multicêntrico de grupo sobre mortalidade anestésica
em pequenos animais atendidos por veterinários de clínicas particulares em Ontário, no
Canadá.4 Durante o período de seis meses do estudo, 8.087 cães e 8.702 gatos foram
anestesiados, e 0,11% dos cães e 0,10% dos gatos tiveram paradas cardíacas e morreram.
No caso de animais saudáveis (ASA 1 a 2), os riscos foram de 0,067% em cães e 0,048%
em gatos, enquanto, no caso de pacientes com doenças (ASA 3 a 5), 0,46% dos cães e
0,92% dos gatos morreram por causa de uma parada cardíaca. Só foram incluídas as mortes
peroperatórias que resultaram de parada cardíaca em um período de acompanhamento não
especificado.
O maior estudo multicêntrico recente com pequenos animais de clínicas veterinárias
particulares, o Confidential Enquire into Perioperative Small Animal Fatalities (CEPSAF),
foi realizado no Reino Unido, entre 2002 e 2004, tendo registrado 98.036 procedimentos
anestésicos e de sedação em cães e 79.178 em gatos, com a participação de 117 centros.49
Definiu-se morte anestésica e por sedação como o óbito peroperatório até 48 h após o
término do procedimento, exceto quando a morte se devia exclusivamente a casos
cirúrgicos inoperáveis ou condições clínicas preexistentes (i.e., a anestesia e a sedaçãonão
poderiam ser excluídas razoavelmente de terem contribuído para a morte). O risco de morte
relacionado com a anestesia e a sedação foi de aproximadamente 0,17% em cães e 0,24%
em gatos (Tabelas 2.2 e 2.3). Em pacientes sadios (ASA 1 a 2), os riscos foram de 0,05%
em cães e 0,11% em gatos, enquanto, em pacientes doentes (ASA 3 a 5), mais de 1% dos
cães e gatos morreram (Tabela 2.4). Coelhos foram a terceira espécie mais comumente
anestesiada na prática, mas os riscos de morte relacionados com a anestesia foram
substancialmente maiores, com 0,73% de coelhos saudáveis e 7,37% dos doentes morrendo.
Os riscos em outras espécies de pequenos animais também foram altos, entre 1 e 4%
(Tabela 2.3).
Tabela 2.3 Risco de morte relacionada com a anestesia e a sedação em pequenos animais,
de acordo com o CEPSAF.7
Espécie
Número demortes
relacionadascoma
anestesia e a
sedação
Número de animais
anestesiados e
sedados
Risco demorte
relacionada coma
anestesia (%)
(intervalo de
confiança de 95%)
(%)
Cães 163 98.036 0,17(0,14a0,19) Gatos 189 79.178 0,24(0,20a0,27) Coelhos 114
8.209 1,39(1,14a1,64)
Cobaias 49 1.288 3,80(2,76a4,85) Hamsters 9 246 3,66(1,69a6,83) Chinchilas 11 334
3,29(1,38a5,21)
Ratos 8 398 2,01(0,87a3,92) Fonte: referência7, reproduzida, com
autorização,deWiley.
Tabela 2.4 Risco de morte relacionado com a anestesia e a sedação em cães, gatos e
coelhos sadios e doentes, de acordo com o CEPSAF.7
Espécie Estado de
saúde
a
Número de mortesb
Número estimado de
anestesias e sedações
Risco demorte relacionada
com a anestesia (%)
(intervalo de confiança de
95%) (%)
CãesSadios (ASA
1a2) Doentes (ASA
3a5)
GatosSadios (ASA
1a2) Doentes (ASA
3a5)
CoelhosSadios
(ASA 1a2) Doentes
(ASA 3a5)
49 99
81 94
56 41
90.618 7.418
72.473 6.705
7.652 557
0,05(0,04a0,07)
1,33(1,07a1,60)
0,11(0,09a0,14)
1,40(1,12a1,68)
0,73(0,54a0,93)
7,37(5,20a9,54)
a ASA 1a2incluem pacientes sem doençapré-operatóriaoucom doençaleve; ASA
3a5abrangem aqueles com doença pré-operatóriagrave.
bSóforam incluídasaquiasmortes cujainformaçãodetalhadaestavadisponível.
Fonte: referência7, reproduzida, com autorização,deWiley.
Logo depois do CEPSAF, foi realizado outro estudo prospectivo com 39 clínicas
veterinárias da Espanha, e os dados de 2.012 anestesias foram registrados. Definiu-se morte
anestésica como aquela que ocorria no peroperatório até 24 horas após o término do
procedimento, e foi relatado um risco de morte global de 1,29%, com os riscos, em cães e
gatos sadios, sendo de 0,33% e de 4,06% nos doentes.11
Em suma, as estimativas recentes dos riscos de morte relacionados com a anestesia na
prática com pequenos animais pareceram ser da ordem de 0,1 a 0,3%, embora, em algumas
circunstâncias, possam ser mais altos, com o risco, em cães e gatos sadios, sendo de
aproximadamente 0,05 a 0,30%, e, em cães e gatos doentes, de 1 a 4%.3,4,11,12,49,56,76 Os
gatos pareceram correr risco maior de morte do que cães em alguns trabalhos,3,49 e coelhos
e outras espécies de animais de estimação pareceram correr um risco ainda maior quando
estudados.7 Em instituições de referência, a mortalidade variou de 0,30 a 0,60% em cães e
gatos.5,6,10,49,51
Causas de morte anestésica
A causa fisiológica de muitas mortes anestésicas pode ser multifatorial, embora as
complicações cardiovasculares e respiratórias representem as causas primárias de muitas
mortes peroperatórias relatadas. Outras causas relatadas incluem as gastrintestinais,
neurológicas e hepáticas ou renais. Foi relatada parada cardíaca resultante de arritmias
associadas a aumento das catecolaminas circulantes, hipoxia miocárdica, agentes
anestésicos específicos, patologia preexistente, procedimentos específicos (p. ex., tração
vagal e enucleação) e depressão miocárdica decorrente de sobredose anestésica relativa.35,78
Entre 30 e 70% das mortes resultaram de sobredose anestésica relativa e depressão
miocárdica, arritmias cardíacas ou insuficiência circulatória e hipovolemia em inúmeros
estudos.3–5,56,74 A anestesia com halotano, éter e tiobarbitúricos foi associada
frequentemente a sobredose de anestésico nas primeiras pesquisas.3,76 Em um estudo, as
complicações cardiovasculares foram mais frequentes em cães que em gatos, e pacientes de
alto risco foram os mais propensos a morrer em decorrência de insuficiência circulatória,
geralmente quando têm hipovolemia.3
As complicações respiratórias representaram a outra causa principal de morte
relacionada com anestesia, tendo sido a causa subjacente de óbito em 30 a 40% dos cães e
cerca de 40 a 50% de gatos.3,4,74 Os problemas relacionados com a intubação endotraqueal e
obstrução respiratória representaram a maioria das causas respiratórias de morte em
felinos.3,4 Em cães, também foram relatadas complicações com a intubação endotraqueal e
insuficiência respiratória, embora, em cães braquicéfalos, a obstrução respiratória tenha
sido a principal causa de complicações respiratórias.3,4,76
Na anestesia em pequenos animais, com pouca frequência foram relatadas outras causas
além de complicações respiratórias e cardiovasculares, embora tenham sido incluídas
insuficiência renal pós-operatória, trombose ilíaca em gatos, aspiração de conteúdo
gástrico, reações anafiláticas, demora em recuperar a consciência e causas
desconhecidas.3,4,56,76 As últimas causas, que, em geral, surgem quando os pacientes não são
observados estritamente, ocorreram em cerca de 5 a 20% deles.
Momento da morte
O momento das mortes anestésicas variou, com os estudos mais recentes revelando cada
vez mais que elas ocorrem no período pós-operatório. Albrecht e Blakely72relataram em um
estudo apenas uma morte durante a indução e uma durante a recuperação da anestesia, com
o restante dos óbitos ocorrendo durante a manutenção da anestesia. Em contraste, uma
pesquisa feita na Colorado State University na década de 1950 revelou que 36 cães e gatos
morreram, 17% deles durante a indução anestésica, 22% durante a manutenção anestésica e,
um fato interessante, a maioria (61%) durante a recuperação.73 No entanto, uma pesquisa
posterior da mesma instituição (1979 a 1981) mostrou que a maioria das mortes ocorreu no
período intraoperatório74 e outra pesquisa na década de 1990 mostrou que apenas cerca de
25% dos cães e gatos morreram durante a recuperação, com o restante dos óbitos
acontecendo durante a própria anestesia.51 Outras instituições de referência revelaram
períodos de alto risco diferentes; Hosgood e Scholl5,10 documentaram que 9 de 14 (61%)
mortes em cães e 4 de 7 (57%) em gatos ocorreram no pós-operatório, embora o número de
mortes registradas tenha sido pequeno e incluído todas as causas.
No contexto de cuidados primários, apenas os estudos maiores quantificaram o
momento de fatalidades. Clarke e Hall3relataram a ocorrência de óbitos principalmente
durante a anestesia. No caso de cães, 22% morreram durante a indução, 55% durante a
manutenção e 18% durante a recuperação, enquanto, no caso de gatos, as porcentagens
foram de 30%, 39% e 31%, respectivamente. Similarmente, no estudo de Ontário, Canadá,4
a maioria dos cães e gatos morreram durante a própria anestesia (6/9 cães e 7/8 gatos) e
apenas 33% dos cães e 13% dos gatos morreram no pós-operatório (3/9 cães e 1/8 gatos).
Mais recentemente, o CEPSAF afirmou ser mais comum a morte de cães, gatos e coelhos
no período pós-operatório.49 Mais de 60% dos gatos e coelhos e quase 50% dos cães
morreram durante este período (Tabela 2.5). É digno de nota o fato de que a maioria das
mortes pós-operatórias ocorreram até 3 horas após o término do procedimento, sugerindo
que a maior vigilância, em particular no início do período pós-operatório, pode reduzir o
risco de morte. Subsequente a este estudo, um trabalho da Espanha ressaltou ainda mais a
ocorrência de óbitos no pós-operatório, com mais de 75% dos cães tendo morrido após
anestesia neste estudo multicêntrico. Portanto, cada vez mais, o período pós-operatório
representou um momento de alto risco, levando à recomendação de monitoramento estrito e
manejo até que se observea recuperação completa do animal da anestesia.
Tabela 2.5 Momento da morte causada por anestesia em cães, gatos e coelhos, de acordo
com o CEPSAF.7
Momento damorte Cães Gatos Coelhos Apósapré-medicação 1(1%) 2(1%) 0
Induçãoanestésica 9(6%) 14(8%) 6(6%) Manutençãodaanestesia 68(46%)
53(30%) 29(30%) Pós-operatório:a70(47%) 106(61%) 62(64%)
0a3 h dePO 31 66 26 3a6 h dePO 11 9 7 6a12 h dePO 12 7 13 12a24 h
dePO 13 12 9 24a48 h dePO 3 10 3
Desconhecido 0 2 4
Totalb148(100%) 175(100%) 97(100%)
a Asmortes nopós-operatório(PO) foram categorizadasaindadeacordocom
otempodecorridoapósaanestesia. bSóforam incluídasaquiasmortes
cujainformaçãodetalhadaestavadisponível.
Fonte: referência7, reproduzida, com autorização,deWiley.
Fatores de risco de morte anestésica
Os primeiros estudos institucionais sugeriram fatores contribuintes, sem uma análise
profunda dos fatores de risco.72,73 O uso de fármacos específicos foi associado a mortalidade
maior em cães e gatos, bem como em pacientes com traumatismo, os submetidos a
procedimentos de castração, certas raças caninas, inclusive as braquicefálicas, terriers e
spaniels, frequentemente representadas entre as fatalidades.72–74 A idade avançada e as más
condições de saúde foram associadas a maior probabilidade de mortalidade em cães, e
apenas as más condições de saúde em gatos em um estudo subsequente de referência.5,10 A
pesquisa do Royal Veterinary College também mostrou que más condições de saúde
aumentam tal probabilidade e, além disso, a medicação pré-anestésica com acepromazina
foi associada a uma possibilidade menor de morte em cães.6 Embora tenham identificado
fatores de risco importantes, todos estes estudos foram feitos por um único centro de
referência, com amostras de pequeno tamanho e capacidade limitada para detectar mais que
um pequeno número de fatores de risco importantes.
Um trabalho inicial baseado na prática clínica também teve sua capacidade limitada
para avaliar os fatores de risco. Dodman75identificou uma tendência à redução do risco com
a anestesia com tiopental (tiopentona)/halotano, em comparação com outros fármacos, na
prática anestésica com felinos. Em um estudo ulterior, Dodman e Lamb76identificaram alto
risco com a administração de xilazina e em raças braquicefálicas, embora em ambos os
estudos a quantificação dos fatores de risco tenha sido limitada. Clarke e Hall identificaram
vários fatores de risco para morte anestésica em cães e gatos saudáveis.3 Os maiores riscos
foram vistos com a administração do agonista do receptor adrenégico α2 da xilazina e a
redução do risco com a medicação pré-anestésica com atropina ou acepromazina. Em gatos,
a intubação endotraqueal, a indução anestésica com um agente volátil, tiopental,
meto-hexital (meto-hexitona), cetamina, halotano, éter e o uso de óxido nitroso também
foram associados a riscos maiores de morte, e a administração de alfadolona/alfaxalona foi
associada a riscos mais baixos, embora não tenham sido feitas comparações estatísticas.
Nos cães da raça pequinesa, as mortes foram mais comuns. A administração de xilazina foi
associada a maior risco de morte, enquanto o uso de halotano e tiopental foi associado a um
risco mais baixo. O estudo de Ontário identificou fatores de risco semelhantes com a
administração de xilazina e que pacientes com doenças (ASA 3 a 5) tinham maior
probabilidade de parada cardíaca no caso de cães, enquanto os gatos doentes (ASA 3 a 5)
corriam risco ainda maior, embora a presença de um técnico no monitoramento da anestesia
o reduzisse.4 Um estudo feito em um único centro na França também demonstrou maior
risco para animais em más condições de saúde,12 o que foi confirmado por um estudo
multicêntrico realizado na Espanha.11
Mais recentemente, de acordo com o CEPSAF, foram avaliados vários fatores de risco
em um estudo com populações maiores com modelos de regressão logística multivariáveis
para cães e gatos.9,79 Em gatos, uma categoria ASA alta, a urgência do procedimento, a
indicação de procedimentos maiores versus menores, a idade avançada, extremos de peso, a
intubação endotraqueal e o uso de terapia hídrica foram associados a maior probabilidade
de morte relacionada com a anestesia e a sedação (Tabela 2.6).79 O monitoramento do pulso
e a oximetria de pulso foram associadas a uma redução nessas probabilidades. Em cães, más
condições de saúde (com base na gradação da ASA), a maior urgência do procedimento, a
indicação de procedimentos maiores versus menores, a idade avançada e o baixo peso
foram associados à morte relacionada com a anestesia. Além disso, a maior duração do
procedimento e a combinação de indução e manutenção anestésicas foram associadas a
maior probabilidade de morte relacionada com a anestesia. A manutenção da anestesia com
halotano após a indução com um agente injetável e cães submetidos à anestesia inalatória
total foram associados a um aumento aproximado de seis vezes na probabilidade, em
comparação com a manutenção com isofluorano após a indução com um anestésico
injetável.9
A associação entre a condição de saúde do paciente (gradação da ASA) e a morte
relacionada com a anestesia foi documentada repetidamente em muitos dos estudos
descritos e já foi comentada anteriormente.3–6,11,12,50,79 A existência prévia de patologia pode
reduzir o índice terapêutico de anestésicos administrados, predispor a depressão
cardiopulmonar e deprimir de maneira significativa outras funções fisiológicas. Além disso,
no CEPSAF, a urgência do procedimento foi associada a maior probabilidade de
morte,9,79razão pela qual a maior atenção à avaliação pré-operatória e à estabilização do
paciente antes do procedimento podem reduzir de modo substancial as fatalidades.
Também se identificou maior risco com a idade avançada, independentemente da
condição física do paciente (gradação da ASA), como um fator de risco importante, mas
apenas algumas das pesquisas mais recentes em pequenos animais relataram isto.5,9,79
Pacientes idosos podem ser mais suscetíveis aos efeitos depressores dos anestésicos, à
hipotermia via mecanismos termorreguladores comprometidos e à recuperação prolongada
por causa das tendências à função reduzida e à hipotermia.80–82
A maior probabilidade de morte relatada em cães de pequeno porte e gatos no
CEPSAF9,79foi consistente com um trabalho sobre anestesia pediátrica.83 Pacientes menores
podem ser mais propensos à sobredose de medicamentos, à hipotermia e a apresentar mais
dificuldades durante o manejo peroperatório (p. ex., colocação de cateter intravenoso,
intubação endotraqueal). É provável que o maior risco observado em gatos com mais peso
tenha refletido, pelo menos em parte, os riscos associados à obesidade.79 É interessante
notar que, embora tenha havido uma tendência à associação racial no CEPSAF, após o
ajuste para o peso, tal associação diminuiu, sugerindo que um aspecto importante do risco
associado à raça poderia estar relacionado com o tamanho do animal.9 Apesar disso, outro
trabalho revelou aumento das complicações em raças braquicefálicas e terriers,3,4,73sendo
aconselhável cautela com a anestesia nestas raças.
Tabela 2.6 Modelo multivariável de fatores de risco para morte relacionada com anestesia e
sedação em gatos, de acordo com o CEPSAF.8
Fator de risco CategoriasRazão de
probabilidadea
Intervalo de
confiança de 95%(%)Valor de P
Condiçãodesaúde(gradação da ASAb)
ASA 4a5vs. ASA 3 vs. ASA 1a
2(tendênciac)3,2 2,0a5,0 < 0,001
UrgênciadoprocedimentoEmergênciavs.urgênciavs.
planejamento(tendênciac)1,6 1,0a2,5 0,050
Procedimentopretendido Depequenoporte 1
Degrandeporte 2,7 1,4a5,4 0,005
Idade 0a6 meses 0,4 0,1a2,4 0,058 6 mesesa5anos 1 0,9a3,0
5a12anos 1,7 1,1a3,9
12anosemdiante 2,1
Peso 0a2kg 15,7 2,9a83,6 2a6kg 1 1,1a7,4 0,002
6kgemdiante 2,8 0,2a5,5
Desconhecido 1,1
Intubaçãoendotraqueal (ET) Não 1
Sim 1,9 1,0a3,7 0,042
Nenhum 1
Usode monitoramentodo
pulsoeoximetriadepulso
Líquidos intravenosos (IV) no
Apenasavaliaçãodopulso 0,3 0,2a0,6 <
0,001 Apenasoximetriadepulso 0,2
0,1a0,5
Ambos 0,2 0,1a0,4peroperatórioNenhum 1
Usoapenasdecateter IV 0,7 0,2a2,5 < 0,001
Administraçãodelíquidos IV 3,9 2,2a7,1
aRazõesdeprobabilidade maioresque1indicam
aumentodaprobabilidade,enquantoaquelasmenoresque1indicam reduçãodos
riscosde morterelacionadacom aanestesia.
bASA 1a2,apenasanimal sadiooucom doença moderada; ASA
3,doençagrave,quelimitaaatividade; ASA 4a5, doençapotencialmentefatal.
cA
tendênciarepresentaarazãodeprobabilidadedeaumentodeumacate
goriadofatorderisco. Fonte: referência8. Reproduzidacom
permissãode Oxford UniversityPress.
O risco crescente para pacientes submetidos a procedimentos de grande porte, conforme
documentado pelo CEPSAF,79foi consistente com a pesquisa sobre anestesia em
equinos.14,53 É provável que procedimentos mais complexos e invasivos imponham maior
estresse sobre a fisiologia do paciente e, ao se avaliar o risco para o paciente antes da
anestesia, deve-se considerar a complexidade do procedimento. A maior duração do
procedimento, além de seu tipo, foi associada a maior risco para cães no CEPSAF.9
Procedimentos mais demorados poderiam expor o paciente a longos períodos de
comprometimento fisiológico, mais tempo de hipotermia e perda hídrica, podendo-se
esperar uma predisposição a maior risco.35 A associação antes não relatada de maior risco
de morte com a terapia hídrica em gatos no CEPSAF foi surpreendente.79 Embora isto possa
refletir em parte uma confusão residual, um componente da maior razão de probabilidade
pode estar relacionado com a administração excessiva de líquidos e sobrecarga hídrica. São
recomendáveis a administração de líquido criteriosa e seu monitoramento cuidadoso em
gatos, embora seja necessária mais pesquisa para confirmar tal observação.
A redução da probabilidade de morte relacionada com a anestesia mediante o
monitoramento do pulso e da oximetria de pulso em gatos no CEPSAF não fora relatada
antes em pequenos animais.79 Análises teóricas na anestesia humana confirmam estes
achados e sugeriram que a oximetria de pulso teria detectado 40 a 82% dos incidentes
peroperatórios relatados e, quando observados junto com a capnografia, esse índice subiu
para 88 a 93%.84−86 Tais associações sugerem que alguma forma de avaliação da função
cardiovascular (qualidade e frequência do pulso) e da respiratória (saturação de oxigênio e
volume corrente final de CO2) podem ser importantes para minimizar a mortalidade.
O papel dos anestésicos específicos nas mortes causadas por anestesia foi avaliado em
vários estudos com pequenos animais. A medicação pré-anestésica administrada foi um
fator de risco em vários estudos feitos com cães e gatos.3,4,6,53 A pesquisa inicial identificou
uma associação da acepromazina à probabilidade reduzida de morte3,6 e complicações
mórbidas importantes,4 em comparação com nenhuma pré-medicação, enquanto o agonista
do receptor adrenérgico α2 xilazina foi associado a maior probabilidade de morte.3,4 No
CEPSAF, embora tenha havido tendência à redução da probabilidade com a administração
de acepromazina, após o ajuste para os principais fatores de confusão, este não foi um fator
importante em cães ou gatos. Além disso, ao se avaliar a pré-medicação com o agonista do
receptor adrenérgico α2 metomidina, não se detectou aumento da probabilidade de morte.9,79
Verificou-se que a xilazina reduziu o limiar para arritmias induzidas por catecolaminas na
anestesia com halotano,87,88 enquanto não aconteceu o mesmo com relação à metomidina,89
diferença que, combinada com o maior conhecimento dos efeitos fisiológicos e o melhor
entendimento do método ideal de administração de um agonista do receptor adrenérgico α2,
pode ser a base para ausência de maior risco com a medetomidina, em comparação com a
acepromazina, observada no CEPSAF.
Não parece que o agente específico usado para indução teve importância no CEPSAF,
em contraste com a tendência a maior risco com o uso de tiopental e cetamina em gatos e
menor risco com alfadolona/alfaxalona em gatos e tiopental em cães no último estudo feito
no Reino Unido.3,9,79 É provável que a ausência de uma diferença consistente em termos de
risco com agentes de indução diferentes reflita que o efeito do agente de indução foi
pequeno. No entanto, o agente de manutenção usado foi relevante em cães no CEPSAF e
pareceu que o isofluorano esteve associado a uma probabilidade reduzida de risco, em
comparação com o halotano após a indução da anestesia com um agente injetável. Estudos
clínicos confirmam isto, indicando que, embora o isofluorano induza maiores depressão
respiratória e vasodilatação do que o halotano, causa menos depressão miocárdica direta e
sensibiliza menos o coração a arritmias induzidas por catecolaminas, parecendo haver um
equilíbrio que causa menor depressão cardiovascular total.90–99
Em suma, apenas os estudos mais recentes avaliaram de maneira crítica os fatores de
risco para morte.3–6,9–12,50,79 Aqueles relatados comumente incluem más condições de saúde,
idade avançada, monitoramento precário, intubação endotraqueal em gatos e possíveis
associações raciais em cães.3–6,9,10,79 Além disso, o CEPSAF identificou vários fatores de
risco não relatados antes, inclusive o uso da oximetria de pulso e o monitoramento da
pulsação aumentando a probabilidade de morte em gatos e a manutenção com isofluorano
estando associada a redução da probabilidade, em comparação com o halotano após
indução da anestesia com um agente injetável em cães.9,79 O conhecimento destes fatores de
risco pode ajudar os veterinários a identificarem, no pré-operatório, os pacientes que
correm maior risco de mortalidade e, no peroperatório, a instituírem o manejo adequado
para reduzir a mortalidade.
Mortalidade anestésica em grandes animais
Risco de morte por anestesia
Em grandes animais, a pesquisa concentrou-se nas complicações da anestesia em equinos.
Os primeiros estudos tiveram como foco principalmente populações de referência, e os
riscos de morte foram divididos mais frequentemente em populações eletivas e de
emergência, com a última representando principalmente a cirurgia para dor abdominal
aguda ou “cólica”. Mitchell100 conduziu um estudo retrospectivo na Royal (Dick) Vet
School (Reino Unido) entre 1962 e 1968; 473 equinos foram anestesiados e ocorreram sete
mortes (1,47%). Short, na University of Missouri, (EUA), fez um estudo retrospectivo
menor com 125 equinos anestesiados, sem que tenham ocorrido mortes.73 Heath relatou um
risco de mortalidade peroperatória de equinos em uma única clínica na Colorado State
University, entre 1968 e 1970, de 4,35% (13 mortes dentre os 295 animais anestesiados).73
O risco de morte anestésica diminuiu para 1,69% quando foram consideradas apenas as
mortes relacionadas com anestesia. Um estudo de acompanhamento na Colorado State
University revelou um risco global reduzido de morte de 1,18%.74 Muitas destas fatalidades
decorreram de cirurgias gastrintestinais de emergência em equinos que eram pacientes de
alto risco e todos estes estudos foram limitados pelo pequeno tamanho da amostra,
podendo, portanto, refletir apenas estimativas aproximadas da frequência de morte.
Tevick101identificou retrospectivamente um risco de 2,70% de mortalidade peroperatória
em equinos de uma única clínica em um período de 17 anos, reduzido para 0,8% quando
decorrente “apenas da anestesia”. A maioria destas mortes ocorreu até 24 horas após a
anestesia. As cirurgias gastrintestinais representaram o principal tipo de operação dos
pacientes que morreram, e a maior parte deles era de alto risco. Outros relatos de um único
centro se concentraram em populações hospitalares específicas. Ao avaliarem equinos
submetidos à cirurgia por causa de cólica, Trim et al.102 conduziram um estudo retrospectivo
de uma única clínica e detectaram um risco de morte peroperatória de 12,5% até 3 dias após
a anestesia e de 20% até 16 dias depois. Em contraste, Young e Taylor excluíram a cirurgia
gastrintestinal e revelaram um risco menor de morte em clínica única, em um período de 7
anos, de 0,68%. Subsequentemente, a Liverpool VeterinarySchool (Reino Unido) relatou
riscos de mortalidade tanto em procedimentos eletivos como de emergência em um estudo
retrospectivo de clínica única.105,106 De 2.276 animais anestesiados, 1.279 procedimentos
foram classificados como eletivos e 995 como de emergência. Fez-se o acompanhamento
dos equinos até a alta. Dos casos eletivos, oito morreram e tanto a anestesia como a cirurgia
contribuíram para o óbito (0,63%), e um (0,078%) morreu exclusivamente por causa da
anestesia.106 No caso das emergências que não eram cólica, o risco de morte decorrente da
anestesia ou da cirurgia foi de 2%, e, naquelas de cólica, foi de 4,35%.105 O risco global de
morte por causa de anestesia ou cirurgia em procedimentos eletivos e de emergência foi de
2%. Depois disso, Bidwel et al.69relataram riscos reduzidos em outro centro único no
Kentucky (EUA). De 17.961 equinos anestesiados na clínica entre 1997 e 2001, o
percentual de mortes foi de 0,12%, classificadas como diretamente relacionadas com a
anestesia, e 0,24% morreram ou foram submetidos à eutanásia em 7 dias. Tais estimativas
foram mais baixas que nos trabalhos
prévios e é provável que tenham refletido, pelo menos em parte, diferenças nas populações
estudadas e na duração dos procedimentos (a maioria levou menos de 1 hora). Todos estes
relatos foram de estudos em centros únicos; é provável que a precisão de alguns tenha sido
limitada pelo tamanho das amostras, e os riscos foram altamente específicos das populações
anestesiadas.
O primeiro estudo prospectivo multicêntrico de coorte peroperatório sobre anestesia em
equinos, o Confidential Enquiry into Perioperative Equine Fatalities (CEPEF), foi realizado
no Reino Unido entre 1991 e 1997.52,53 De um total de 41.824 equinos anestesiados, 39.025
sobreviveram e 785 morreram até o sétimo dia de pós-operatório, resultando em um risco
de morte de 1,89%.53 Quando foram excluídas a cirurgia abdominal de emergência e o
nascimento de potros, o risco de morte caiu para 0,90%.53 Seguiu-se o CEPEF 3, um ensaio
controlado randomizado com 8.242 equinos em que foi comparada a anestesia com
isofluorano e halotano.13 Embora representando a manutenção anestésica apenas com
agentes inalatórios, foram relatados riscos semelhantes aos da pesquisa prévia. Foi relatado
um risco global de morte de 1,61% em equinos; porém, quando foram excluídas as cirurgias
para cólica e outras de emergência, observou-se um risco de aproximadamente 0,9%. Em
ambos estes estudos, a morte peroperatória foi definida como aquela inexplicada ou
eutanásia por causa de complicações peroperatórias até 7 dias após a anestesia.
Em suma, foram relatados riscos gerais de morte por anestesia de aproximadamente
2%, que diminuíram nos casos de equinos que não eram de emergência para cerca de 1% e
ainda mais em algumas populações.13,52,53,69,103,104,106 Quando a anestesia era considerada a
única causa de morte, estimou-se um risco de 0,1%.106 Nas anestesias de emergência, o
risco de morte foi de quase 1 em 10 a 30.52,53,102,105
Causas de morte por anestesia
Na anestesia em equinos, as principais causas de morte foram parada cardíaca e colapso
cardiovascular, resultando em 20 a 50% de todos os óbitos relatados.52,53,101,103–106 Em
contraste, as complicações respiratórias foram relatadas com pouca frequência. Embora
Tevik101 não tenha feito distinção entre causas respiratórias e cardiovasculares, que, quando
combinadas, foram responsáveis por todas as 10 mortes anestésicas descritas, outros
estudos registraram menos de 25% de todos os óbitos como resultantes de
comprometimento respiratório.52,53,103–106Johnston et al.52,53 documentaram que apenas 4%
das mortes resultaram de problemas respiratórios.
Causas não cardiopulmonares levaram à morte ou à realização de eutanásia em até 77%
de todas as fatalidades em equinos.13,52,53,101,103–106 Em 55% de todos os casos, Johnston et
al.52,53 atribuíram a morte a fraturas durante a recuperação, miopatia pós-operatória e
complicações abdominais como sepse e colite. Young e Taylor103relataram mortes
decorrentes de miopatia pós-operatória e fraturas em sete de nove óbitos, enquanto Bidwell
et al.69relataram que fraturas e miopatia foram a base de 50% de mortes anestésicas em seu
centro. Há raros relatos de equinos “encontrados mortos” ou morrendo por causas
desconhecidas, talvez por serem observados mais estritamente durante a recuperação que
muitos pequenos animais. Johnston et al. classificaram apenas 5% das fatalidades em
equinos como “encontrados mortos”.53
Momento da morte por anestesia
Consistente com o trabalho em pequenos animais, a pesquisa recente sobre anestesia em
equinos também mostrou que o pós-operatório é o principal período de risco. Johnston et
al.52,53relataram mais de 44% de mortes como eventos pós-operatórios. Young e Taylor103
relataram fatalidades pós-operatórias em sete de nove mortes. No estudo mais recente de
clínica única, mais de 50% de 22 óbitos tidos como relacionados com a anestesia ocorreram
no pós-operatório.69 Portanto, embora a preocupação com o intraoperatório continue
importante, o pós-operatório também merece muita atenção no caso de anestesia em
equinos.
Fatores de risco de morte por anestesia
Vários estudos retrospectivos em centro único identificaram fatores de risco associados a
complicações peroperatórias em equinos. Nos estudos realizados na Colorado State
University, a sobredose de anestésico foi considerada uma causa importante de morte ou
eutanásia, e muitas fatalidades foram associadas a cirurgia gastrintestinal de emergência e
condições de alto risco.73,74 Tevick101identificou a cirurgia gastrintestinal como o tipo
principal de operação nos equinos que morreram e cuja maioria foi considerada casos de
alto risco. Entre os equinos submetidos à cirurgia abdominal de emergência aguda, longa
duração da anestesia e hipotensão intraoperatória foram associadas a risco elevado de morte
em outro estudo retrospectivo de centro único.102 Ao serem avaliados os fatores em equinos
cujo problema não era cólica, foram identificados fatores de risco semelhantes.103,104
Líquidos e suporte inotrópico no intraoperatório foram associados à redução no risco de
miopatia fatal, enquanto procedimentos prolongados e idade avançada foram associados a
risco elevado de morte ou miopatia. Um trabalho subsequente avaliou tanto procedimentos
eletivos como de emergência em outro estudo retrospectivo de única clínica.105,106 Uma
pontuação ASA alta nos casos eletivos, como, por exemplo, laparotomia exploradora
eletiva para cólica, foi associada a risco elevado de morte e, entre os pacientes de
emergência, a cirurgia abdominal aguda (para “cólica”) aumentou o risco.
O grupo multicêntrico prospectivo de Johnston et al.52,53 avaliou os fatores de risco de
maneira mais abrangente em uma grande população de equinos anestesiados e identificaram
como sendo de alto risco a anestesia de éguas prenhes, potros, cavalos submetidos à cirurgia
abdominal, casos ortopédicos que requeriam fixação interna, tempo prolongado de
operação, posicionamento em decúbito dorsal, ausência de sedação e pré medicação com
xilazina. A medicação pré-anestésica com acepromazina e a anestesia intravenosa total
foram associadas a risco reduzido. A fase subsequente do trabalho, um ensaio clínico
randomizado com isofluorano e halotano para manutenção da anestesia, resultou em
achados semelhantes.13 Em geral, não foi encontrada diferença entre os dois anestésicos
inalatórios; porém, em equinos com 2 a 5 anos de idade, o isofluorano foi associado a
menor risco. Em ambos os grupos de tratamento, observou-se maior risco nas cirurgias
ortopédicas e abdominais de emergência, enquanto o monitoramento da pressão sanguínea e
cirurgias da orelha, do nariz, da garganta e urogenitais resultaram em menor risco.
Este trabalho multicêntrico também quantificou fatores de risco específicos e
associações medicamentosas,13,52,53 mas os padrões são similares aos relatados em outros
estudos com equinos. O trabalho sobre anestesia em equinos indica fatores de riscosemelhantes aos publicados para outras espécies. Em particular, cirurgias de emergência,
abdominais e ortopédicas, cirurgias longas, más condições de saúde e extremos etários
foram fatores comumente relatados como associados à morte. Além disso, os riscos
associados a agentes anestésicos específicos foram verificados, e a falta de sedação e a
administração de xilazina foram associadas a um risco maior, enquanto a pré-medicação
com acepromazina, anestesia intravenosa total, isofluorano em equinos de 2 a 5 anos de
idade e o monitoramento da pressão foram associados a risco reduzido.
Consentimento informado
Além de dar ao anestesista informação que possa ajudar nas estratégias de manejo dos
riscos, uma avaliação do risco perianestésico é um componente essencial no processo de
obtenção do consentimento informado do proprietário do animal. Com a ajuda de quem fará
a anestesia, o proprietário pode contar com a avaliação dos riscos significativos associados
ao procedimento proposto para seu animal e assim tomar a decisão de aceitar os riscos ou
recusar a realização do procedimento por considerar que não podem ser mitigados. Este
processo de obtenção do consentimento informado do proprietário ou lidar com a recusa
dele envolve uma conversa entre ele e o anestesista ou uma discussão dos riscos relevantes
e significativos. Nesta época em que o público tem acesso rápido e direto a informação
(certa ou errada), os proprietários de animais podem procurar saber com outras fontes a
respeito dos cuidados anestésicos de acordo com os conceitos existentes
sobre risco relacionado com anestesia. A possibilidade de tais informações preconcebidas
leva à necessidade de uma discussão mais detalhada sobre o assunto.
Se for o caso, deve-se incluir no consentimento informado uma discussão sobre o uso
de fármacos além das indicações habituais. O processo de anestesia veterinária costuma
envolver esse tipo de uso, sobre o qual o proprietário do animal deve ser informado. Em
muitos casos, esse uso está associado a um nível baixo de risco e o consentimento para o
uso de cada fármaco é impraticável. Em vez disso, deve-se fazer um breve comentário a
respeito do risco baixo e bem documentado de usar tais fármacos desta maneira. Nos casos
em que a procedência do fármaco não é garantida e o risco pode ser maior, deve-se obter o
consentimento informado do proprietário quanto ao uso específico do fármaco em questão.
Clientes e proprietários de animais têm percepções diversas sobre o papel do
anestesiologista veterinário no comando da anestesia, razão pela qual a discussão do
consentimento informado deve incluir uma exposição geral dos papéis de cada indivíduo
envolvido na anestesia durante determinado procedimento. É possível ter um especialista
em anestesia para prescrever o protocolo anestésico apropriado e supervisionar sua
administração com os devidos cuidados, que podem ser delegados não necessariamente a
um veterinário, e sim a um técnico habilitado, enfermeiro especializado ou generalista.
Os modelos de cuidados anestésicos são vários. O consentimento informado adequado
do cliente requer uma discussão que o faça entender e aceitar o modelo a ser empregado. A
documentação do consentimento informado pode ser uma simples anotação no prontuário
médico, incluindo o registro dos elementos do processo que tenham sido discutidos. Nos
casos em que os riscos associados do procedimento são mais substanciais, um formulário
pode ajudar a estruturar a conversa antes do consentimento informado de maneira
sistemática, considerando todos os riscos significativos. Embora o uso de um formulário
assinado como consentimento possa servir para subestimar a existência de algum risco real
e substancial, uma discussão franca e informativa com o proprietário continua sendo
indispensável ao processo de obtenção do consentimento informado.
Em suma, houve muito aprimoramento na anestesia em pequenos e grandes animais nos
últimos 50 anos. Os riscos diminuíram e os padrões de cuidados melhoraram bastante, e o
esclarecimento a respeito dos fatores associados a complicações ajudou muito. Além disso,
a comunicação bem-sucedida dos riscos aos proprietários e clientes é fundamental para se
proporcionar uma anestesia segura e manter expectativas realistas. A avaliação contínua dos
riscos e fatores que os provocam é fundamental para prosseguir e melhorar ainda mais a
anestesia na prática veterinária.
Referências bibliográficas
1.
Anon. New classification of physical status. Anesthesiology 1963; 24: 111.
2.
American Society of Anesthesiologists. ASA Physical Status Classification. Park
Ridge, IL: American Society of Anesthesiologists, 2010.
3.
Clarke KW, Hall LW. A survey of anaesthesia in small animal practice:
AVA/BSAVA report. J Vet Anaesth 1990; 17: 4–10.
4.
Dyson DH, Maxie MG, Schnurr D. Morbidity and mortality associated with
anesthetic management in small animal veterinary practice in Ontario. J Am Anim
Hosp Assoc 1998; 34(4): 325–335.
5.
Hosgood G, Scholl DT. Evaluation of age as a risk factor for perianesthetic
morbidity and mortality in the dog. J Vet Emerg Crit Care 1998; 8(3): 222–236. 6.
Brodbelt DC, Hammond RA, Tuminaro D, et al. Risk factors for anaesthetic-related
death in referred dogs. Vet Rec 2006; 158: 563–564.
7.
Brodbelt DC, Blissitt KJ, Hammond RA, et al. The Risk of Death: The Confidential
Enquiry into Perioperative Small Animal Fatalities (CEPSAF). Vet Anaesth Analg
2008; 35(5): 365–373.
8.
Brodbelt DC, Pfeiffer DU, Young LE, Wood JL. Risk factors for anaesthetic related
death in cats: results from the Confidential Enquiry into Perioperative Small Animal
Fatalities (CEPSAF). Br J Anaesth 2007; 99(5): 617–623.
9.
Brodbelt DC, Pfeifer DU, Young L, Wood JLN. Risk factors for anesthetic-related
death in dogs: results from the Confidential Enquiry into Perioperative Small Animal
Fatalities (CEPSAF). J Am Vet Med Assoc 2008; 233(7): 1096–1104. 10.
Hosgood G, Scholl DT. Evaluation of age and American Society of
Anesthesiologists (ASA) physical status as risk factors for perianesthetic morbidity
and mortality in the cat. J Vet Emerg Crit Care 2002; 12(1): 9–15.
11.
Gil L, Redondo JI. Canine anaesthetic death in Spain: a multicenter prospective
cohort study of 2012 cases. Vet Anaesth Analg 2013; 40(6): e57–e67. 12.
Bille C, Auvigne V, Libermann S, et al. Risk of anaesthetic mortality in dogs and
cats: an observational cohort study of 3546 cases. Vet Anaesth Analg 2012; 39(1):
59–68.
13.
Eastment JK, Johnston GM, Taylor PM, et al. Is isoflurane safer than halothane in
equine anesthesia: results from a multicenter randomised controlled trial.
Proceedings of a Meeting of the Society of Veterinary Epidemiology and
Preventative Medicine, Cambridge, UK, 4 April 2002.
14.
Johnston GM, Eastment JK, Taylor PM, Wood JLN. Is isoflurane safer than
halothane in equine anaesthesia? Results from a prospective multicenter randomised
controlled trial. Equine Vet J 2004; 36(1): 64–71.
NCEPOD. NCEPOD and perioperative deaths of children. Lancet 1990; 335(8704):
15.
1498–1500.
16.
Marx GF, Mateo CV, Orkin LR. Computer analysis of postanesthetic deaths.
Anesthesiology 1973; 39(1): 54–58.
17.
Wolters U, Wolf T, Stutzer H, Schroder T. ASA classification and perioperative
variables as predictors of postoperative outcome. Br J Anaesth 1996; 77: 217–222. 18.
Cohen MM, Duncan PG, Tate RB. Does anesthesia contribute to operative
mortality? JAMA 1988; 260: 2859–2863.
19.
Donati A, Ruzzi M, Adrario E, et al. A new and feasible model for predicting
operative risk. Br J Anaesth 2004; 93(3): 393–399.
20.
Morita K, Kawashima Y, Irita K, et al. Perioperative mortality and morbidity in
1999 with a special reference to age in 466 certified training hospitals of Japanese
Society of Anesthesiologists – Report of Committee on Operating Room Safety of
Japanese Society of Anesthesiologists. Masui 2001; 50(8): 909–921.
21.
Biboulet P, Aubus P, Dubourdieu J, et al. Fatal and non fatal cardiac arrest related to
anesthesia. Can J Anaesth 2001; 48(4): 326–332.22.
Buck N, Devlin HB, Lunn JN. The Report of a Confidential Enquiry into
Perioperative Deaths 1987. London: Nuffield Provincial Hospitals Trust, The
King’s Fund, 1988.
23.
Forrest JB, Cahalan MK, Rehder K, et al. Multicenter study of general anesthesia.
II. Results. Anesthesiology 1990; 72(2): 262–268.
24.
Forrest JB, Rehder K, Cahalan MK, Goldsmith CH. Multicenter study of general
anesthesia. III. Predictors of severe perioperative adverse outcomes. Anesthesiology
1992; 76(1): 3–15.
25.
Hovi-Viander M. Death associated with anaesthesia in Finland. Br J Anaesth 1980;
52(5): 483–489.
26.
Lunn JN, Mushin WW. Mortality associated with anaesthesia. Anaesthesia 1982;
37: 856.
27.
McKenzie AG. Mortality associated with anaesthesia at Zimbabwean teaching
hospitals. S Afr Med J 1996; 86(4): 338–342.
28.
Pedersen T. Complications and death following anaesthesia. A prospective study
with special reference to the influence of patient-, anaesthesia-, and surgery-related
risk factors. Dan Med Bull 1994; 41(3): 319–331.
29.
Pedersen T, Eliasen K, Henriksen E. A prospective study of mortality associated
with anaesthesia and surgery: risk indicators of mortality in hospital. Acta
Anaesthesiol Scand 1990; 34(3): 176–182.
Pottecher T, Tiret L, Desmonts JM, et al. Cardiac arrest related to anaesthesia: a 30.
prospective survey in France (1978–1982). Eur J Anaesthesiol 1984; 1(4): 305–318.
31.
Tikkanen J, Hovi-Viander M. Death associated with anaesthesia and surgery in
Finland in 1986 compared to 1975. Acta Anaesthesiol Scand 1995; 39(2): 262–267. 32.
Tiret L, Desmonts JM, Hatton F, Vourc’h G. Complications associated with
anaesthesia – a prospective survey in France. Can Anaesth Soc J 1986; 33(3 Pt 1):
336–344.
33.
Warden JC, Borton CL, Horan BF. Mortality associated with anaesthesia in New
South Wales, 1984–1990. Med J Aust 1994; 161(10): 585–593.
34.
Warden JC, Horan BF. Deaths attributed to anaesthesia in New South Wales, 1984–
1990. Anaesth Intensive Care 1996; 24(1): 66–73.
35.
Hall LW, Clarke KW, Trim CM. Veterinary Anaesthesia, 10th edn. London: WB
Saunders, 2001.
36.
Johnson CB. Endocrine disease. In: Seymour C, Gleed RD, eds. Manual of Small
Animal Anaesthesia and Analgesia. Cheltenham: BSAVA, 1999; 223–230. 37.
McMillan M, Brearley J. Assessment of the variation in American Society of
Anaesthesiologists Physical Status Classification assignment in small animal
anaesthesia. Vet Anaesth Analg 2013; 40(3): 229–236.
38.
Knaus W, Draper E, Wagner D, Zimmerman J. APACHE II: a severity of disease
classification system. Crit Care Med 1985; 13(10): 818–829.
39.
Malviya S, Voepel-Lewis T, Chiravuri S, et al. Does an objective system-based
approach improve assessment of perioperative risk in children? A preliminary
evaluation of the ‘NARCO’. Br J Anaesth 2011; 106(3): 352–358.
40.
Neary W, Heather B, Earnshaw J. The Physiological and Operative Severity Score
for the enUmeration of Mortality and morbidity (POSSUM). Br J Surg 2003; 90(2):
157–165.
41.
Schein O, Katz J, Bass E, et al. The value of routine preoperative medical testing
before cataract surgery. Study of Medical Testing for Cataract Surgery. N Engl J
Med 2000; 342(3): 168–175.
42.
Chung F, Yuan H, Yin L, et al. Elimination of preoperative testing in ambulatory
surgery. Anesth Analg 2009; 108(2): 467–475.
43.
Benarroch-Gampel J, Sheffield K, Duncan C, et al. Preoperative laboratory testing
in patients undergoing elective, low-risk ambulatory surgery. Ann Surg 2012;
256(3): 518–528.
44.
NICE. Preoperative Tests. The Use of Routine Preoperative Tests for Elective
Surgery. Evidence, Methods and Guidance. London: National Institute for Clinical
Excellence, 2003.
45.
AAGBI. AAGBI Safety Guideline 2. Pre-operative Assessment and Patient
Preparation: the Role of the Anaesthetist. London: The Association of Anaesthetists
of Great Britain and Ireland, 2010; 22–23.
46.
Toews A, Campbell J. Influence of preoperative complete blood cell counts on
surgical outcomes in healthy horses: 102 cases (1986–1996). J Am Vet Med Assoc
1997; 211(7): 887–888.
47.
Alef M, von Praun F, Oechtering G. Is routine pre-anaesthetic haematological and
biochemical screening justified in dogs? Vet Anaesth Analg 2008; 35(2): 132–140. 48.
Joubert KE. Pre-anaesthetic screening of geriatric dogs. J S Afr Vet Assoc 2007;
78(1): 31–35.
49.
Brodbelt DC, Blissitt KJ, Hammond RA, et al. The risk of death: The Confidential
Enquiry into Perioperative Small Animal Fatalities. Vet Anaesth Analg 2008; 35(5):
365–373.
50.
Brodbelt DC. The Confidential Enquiry into Perioperative Small Animal Fatalities.
London: London University, 2006.
51.
Gaynor JS, Dunlop CI, Wagner AE, et al. Complications and mortality associated
with anesthesia in dogs and cats. J Am Anim Hosp Assoc 1999; 35: 13–17. 52.
Johnston GM, Taylor PM, Holmes MA, Wood JLN. Confidential Enquiry of
Perioperative Equine Fatalities (CEPEF-1): preliminary results. Equine Vet J 1995;
27(3): 193–200.
53.
Johnston GM, Eastment JK, Wood JLN, Taylor PM. Confidential Enquiry of
Perioperative Equine Fatalities (CEPEF): mortality results of Phases 1 and 2. Vet
Anaesth Analg 2002; 29: 159–170.
54.
Wagner AE, Hellyer PW. Survey of anesthesia techniques and concerns in private
veterinary practice. J Am Vet Med Assoc 2000; 217(11): 1652–1657. 55.
Nicholson A, Watson ADJ. Survey on small animal anaesthesia. Aust Vet J 2001;
79(9): 613–619.
56.
Joubert KE. Routine veterinary anaesthetic management practice in South Africa. J
S Afr Vet Assoc 2000; 71(3): 166–172.
57.
Redondo J, Rubio M, Soler G, et al. Normal values and incidence of
cardiorespiratory complications in dogs during general anaesthesia. A review of 1281
cases. J Vet Med A Physiol Pathol Clin Med 2007; 54(9): 470–477. 58.
Galatos AD, Raptopoulos D. Gastro-oesophageal reflux during anaesthesia in the
dog: the effect of age, positioning and type of surgical procedure. Vet Rec 1995;
137(20): 513–516.
Galatos AD, Raptopoulos D. Gastro-oesophageal reflux during anaesthesia in the
59.
dog: the effect of preoperative fasting and premedication. Vet Rec 1995; 137(19):
479–483.
60.
Lamata C, Loughton V, Jones M, et al. Risk of peri-operative regurgitation in a
referral hospital population of dogs. Vet Anaesth Analg 2012; 39(3): 266–274. 61.
Wilson DV, Evans AT, Miller R. Effects of preanesthetic administration of morphine
on gastroesophageal reflux and regurgitation during anesthesia in dogs. Am J Vet
Res 2005; 66(3): 386–390.
62.
Wilson DV, Boruta DT, Evans AT. Influence of halothane, isoflurane, and
sevoflurane on gastroesophageal reflux during anesthesia in dogs. Am J Vet Res
2006; 67(11): 1821–1825.
63.
Redondo J, Suesta P, Gil L, et al. Retrospective study of the prevalence of
postanaesthetic hypothermia in cats. Vet Rec 2012; 170(8): 206.
64.
Redondo J, Suesta P, Serra I, et al. Retrospective study of the prevalence of
postanaesthetic hypothermia in dogs. Vet Rec 2012; 171(15): 374.
65.
Stiles J, Weil A, Packer R, Lantz G. Post-anesthetic cortical blindness in cats:
twenty cases. Vet J 2012; 193(2): 367–373.
66.
Jurk I, Thibodeau M, Whitney K, et al. Acute vision loss after general anesthesia in
a cat. Vet Ophthalmol 2001; 4: 155–158.
67.
Wagner AE. Complications in equine anesthesia. Vet Clin North Am Equine Pract
2008; 24(3): 735–752.
68.
Taylor PM, Clarke KW. Handbook of Equine Anaesthesia. Edinburgh: WB
Saunders, 1999.
69.
Bidwell LA, Bramlage LR, Rood WA. Equine perioperative fatalities associated
with general anaesthesia at a private practice – a retrospective case series. Vet
Anaesth Analg 2007; 34(1): 23–30.
70.
Senior J, Pinchbeck G, Allister R, et al. Post anaesthetic colic in horses: a
preventable complication? Equine Vet J 2006; 38(5): 479–484.
71.
Jones RS. Comparative mortality in anaesthesia. Br J Anaesth 2001; 87(6): 813–
815.
72.
Albrecht DT, Blakely CL. Anesthetic mortality: a five-year survey of the records of
the Angell Memorial Animal Hospital. J Am Vet Med Assoc 1951; 119: 429. 73.
Lumb WV, Jones EW. Veterinary Anesthesia.Philadelphia: Lea and Febiger, 1973.
74.
Lumb WV, Jones EW. Veterinary Anesthesia, 2nd edn. Philadelphia: Lea and
Febiger, 1984.
75.
Dodman NH. Feline anaesthesia survey. J Small Anim Pract 1977; 18: 653–658.

Mais conteúdos dessa disciplina