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DIVERSIDADE E EDUCAÇÃO DIVERSIDADE E EDUCAÇÃO DE QUALIDADE DIVERSIDADE NAS LEIS E SECRETARIAS PRÁTICAS DE DIVERSIDADES ESCOLA, SOCIEDADE E CULTURA POLÍTICAS DE INCLUSÃO

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70 
 
11 DIVERSIDADE E EDUCAÇÃO 
Para começar a pensar sobre diversidade, precisamos compreender, antes de 
qualquer coisa, o que esse conceito significa, para, posteriormente, aprofundarmo-
nos nos debates sobre educação, legislação, cultura e sociedade. Entende-se por 
diversidade tudo aquilo que é abundante, mas não igual. A palavra remete a múltiplos 
elementos, que formarão um conjunto de atributos, de aglomerados ou de 
nomeações. Falar sobre diversidade, então, é falar sobre diversas coisas, contextos 
e condições que interagem ou não entre si. 
Para pensarmos mais densamente essa questão, nos fundamentamos em 
Paula (2013), que faz uma retomada do percurso de globalização que homogeneíza, 
ou seja, torna semelhante, as relações entre sujeitos, mesmo que não sejam iguais. 
Ao mesmo tempo, acaba deixando evidente, nessa mesma tentativa de igualar, as 
diferenças entre os sujeitos. 
Globalização refere-se ao momento em que as fronteiras do mundo estão mais 
flexíveis, em que capitais, ideias e mercadorias rodam os países de forma mais rápida 
e mais direta, ou seja, é uma rede de conexões que envolve política, economia e 
cultura. A globalização extrapola as relações comerciais e financeiras, e a tecnologia 
é uma de suas marcas mais fortes, sobretudo quando pensamos sobre o acesso à 
internet e aos computadores de forma cada vez mais massiva, caracterizando uma 
forma rápida de se conectar com pessoas, conhecendo aspectos culturais e sociais 
do mundo todo. Cada vez mais, as tecnologias se mostram como uma grande 
potência, capaz de transpor as barreiras territoriais, ligando pessoas e ideias, tendo 
essa função como parte das dinâmicas sociais. 
Contudo, há alguns pontos da globalização que são complexos e críticos, como 
um massivo domínio de algumas culturas como base para transpor as barreiras, o 
predomínio da língua inglesa e também o avanço do capitalismo de forma desregrada 
e descontrolada. Nesse sentido, pensando sobre diversidade, a autora afirma que: 
 
Atualmente, podemos perceber que a diversidade está na ordem do dia, em 
pauta. Por que isso acontece se uma das características da sociedade 
globalizada são os paradigmas mais homogeneizantes? As diferenças 
agregam múltiplos processos de pertencimento – étnico, de gênero, 
geracional, geográfico, religioso, etc. – que têm sido hierarquizados e 
convertidos inadvertidamente em desigualdades. A ruptura desse ciclo 
implica em compreendermos a multiplicidade e a complexidade das relações. 
 
71 
 
Tal compreensão nos leva a incorporar a ideia de que somos uma rede de 
subjetividade formada em inúmeros contextos cotidianos [...] (SANTOS, 1995 
apud PAULA, 2013, p. 20.). 
 
Vale ressaltar que, assim como aponta a autora, as questões de raça e etnia, 
gênero, geração, religião, entre outros marcadores da diferença, são caras ao debate 
sobre diversidade e serão aprofundadas posteriormente ao longo dos estudos. O 
importante, aqui, é que sejamos capazes de perceber a necessidade dessa ruptura 
com uma percepção homogeneizante da sociedade e de enxergar a complexidade e 
a multiplicidade dessas relações em nosso contexto. 
Paula (2013) também nos aponta um importante documento que marca o 
advento da discussão de diversidade no mundo: a Conferência Geral da Organização 
das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura na sua 31ª sessão, no dia 2 
de novembro de 2001, de onde saiu a Declaração Universal sobre a Diversidade 
Cultural. Esse documento trata os aspectos da diversidade a partir da cultura, e, nele, 
o tema que aqui tratamos é colocado como fundamental, e não só central, em debates 
sobre humanidades. Na referida declaração, a entidade afirma que “[...] a difusão da 
cultura e a educação da humanidade para a justiça, a liberdade e a paz são 
indispensáveis à dignidade humana e constituem um dever sagrado que todas as 
nações devem cumprir com espírito de assistência mútua [...]” (ORGANIZAÇÃO DAS 
NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E CULTURA, 2001). 
Já no relatório Investindo na diversidade cultural e no diálogo intercultural 
(UNESCO, 2009), há uma série de propostas, dividida em capítulos que abordam a 
diversidade cultural, como o documento acima, mas também educação, criatividade, 
entre outros, trazendo, em especial, a proposta de compreensão de diálogo 
intercultural. 
Esses dois documentos apresentam uma série de preceitos para se pensar a 
diversidade, como a educação justa, a conquista da paz, a diversidade cultural, 
elementos fundamentais para a dignidade humana, isto é, para a atuação livre de 
indivíduos com suas particularidades, dentro de seus contextos. A UNESCO também 
convoca que todos os Estados devem cumprir com esses preceitos da dignidade 
humana, ou seja, cada nação soberana deve contribuir para a diversidade dentro do 
seu território (UNESCO, 2009). 
Dentro dos Estados, além de declarações oficiais que falem sobre diversidade, 
temos a atuação de outros grupos e instituições. Com as conquistas de diversos 
 
72 
 
movimentos sociais, antes pouco vistos ou contemplados, legal, discursiva e 
institucionalmente, o tema da diversidade passa a ser fundamental para entender e 
explicar a sociedade. Com o reforço e o advento dos diversos movimentos sociais, 
como o movimento negro, o movimento feminista e os movimentos de direitos 
humanos, além de atuações de organizações não- -governamentais, a diversidade 
passa a ser uma pauta de combate à discriminação e à exclusão social de diversos 
sujeitos. 
Dessa forma, a escola, por exemplo, é um dos lugares das disputas simbólicas 
de poder e de verdades, assim como espaços médicos, prisionais e religiosos, 
espaços onde os temas referentes à diversidade e aos direitos humanos serão 
pautados e normatizados, assim como em outros espaços e momentos serão 
refletidos, ampliados e considerados. A escola é um espaço que nem sempre 
promoveu a diversidade, pois, durante muito tempo, teve seus muros fechados para 
uma pequena elite de iguais, produzindo um conteúdo que buscava homogeneizar os 
sujeitos, acreditando, assim, que teria um resultado igual para todos. No entanto, essa 
homogeneização se mostrava uma impossibilidade, pois, mesmo entre sujeitos 
similares, ainda havia particularidades que a escola acabava por suprimir ou rejeitar, 
causando uma defasagem nos saberes. 
Para complementar essa introdução ao tema da diversidade, Paula (2013) nos 
lembra por que são fundamentais uma educação e uma sociedade comprometidas 
com a diversidade: 
 
Somos, portanto, diferentes com características singulares. Essa 
constatação, infelizmente, não impediu que proporções cada vez maiores de 
tipos homofóbicos, racistas, fanáticos, machistas, xenófobos, fossem 
produzidos pelo mundo. Todos esses tipos têm em comum a ideia de 
superioridade, em nome da qual a humanidade sofre vítimas de guerras, 
genocídios, holocaustos, ditaduras, apartheids. A história apresenta 
exemplos de violências cometidas contra os diferentes: as “minorias”, como 
negros, mulheres, crianças, idosos, etc. Essa diferença, ao ser traduzida 
como desigualdade, tem propiciado e justificado práticas cada vez mais 
violentas. (PAULA, 2013, p. 19-20). 
 
A citação da autora nos traz questões fundamentais para esse ponto de partida, 
falar em diversidade é, muitas vezes, complexo, pois precisamos compreender as 
formas de exclusão, segregação e violência que grupos marginalizados vivem ou 
viveram, ou seja, ao falarmos de diversidade também falamos de exclusão: 
 
 
73 
 
Sob o manto da diversidade, o reconhecimento das várias identidades e/ou 
culturas é atravessado pela questão da tolerância, tão em voga, já que pedir 
tolerância ainda significa manter intactas as hierarquias do que é considerado 
hegemônico. Além disso, a diversidade é a palavra-chave da possibilidade de 
ampliar o campo do capital, que penetra cada vez mais em subjetividades 
antes intactas. Vendem-se produtos para as diferençase, nesse sentido, é 
preciso incentivá-las. Ou seja, a diversidade foi entendida como uma forma 
de governamento exercido pela política pública no campo da cultura, como 
uma estratégia de apaziguamento das desigualdades e de esvaziamento do 
campo da diferença, tendo como função borrar as identidades e quebrar as 
hegemonias. (RODRIGUES; ABRAMOWICZ, 2013, p. 18). 
 
Para trabalhar a diferença, existem dois grandes modelos: 
1. a diferença pode ser vista como um subtema dentro da diversidade, 
remetendo-se diretamente a ela como uma parte que a constitui, sendo a partir da 
multiplicidade de diferenças que se debate diversidade (essa perspectiva é a mais 
utilizada na educação); 
2. abordar diretamente as diferenças como um tema próprio, uma perspectiva 
que traz à tona os conflitos e a impossibilidade de apagamento das multiplicidades, 
deixando claro que há diferenças e que estas devem ser debatidas e entendidas como 
tal, diferenciando-se da primeira perspectiva, que trabalha de modo mais coletivo. 
Os documentos anteriormente citados da UNESCO e da ONU trazem 
importantes reflexões para seus contextos. Todavia, a manutenção das ordens 
estabelecidas, das desigualdades, é claramente percebida, visto que, embora 
convoquem os países a se mover pela diversidade, pouco trazem de iniciativas 
efetivas de combate ao preconceito e de um debate direto sobre desigualdades e 
violência. 
11.1 Diversidade e educação de qualidade 
Quando pensamos no contexto da diversidade, uma das instituições de maior 
importância, mas também de maiores disputas discursivas, é a escola. Por ser um 
espaço de formação e de debates, as diversas instituições de ensino, sejam as 
escolas ou as universidades, sempre foram espaços de disputas entre diferentes 
discursos, e, nas questões das diferenças, não é diferente. Justamente por ser o 
espaço de formação por excelência, a educação se tornou uma área privilegiada para 
falar em igualdade, diversidade e combate a preconceitos e desigualdades. Muitos 
autores, autoras e intelectuais veem na educação a possibilidade de uma mudança 
cultural e social. Nas palavras de Freire (1996, p. 14): 
 
74 
 
O educador tem que trabalhar com os educandos a rigorosidade metódica 
com que devem se aproximar dos objetos cognoscíveis (que se pode 
conhecer). Ensinar não se esgota no tratamento do objeto ou do conteúdo, 
mas se alonga à produção de condições em que aprender é possível, 
exigindo a presença de educadores e educandos criativos, investigadores e 
inquietos, rigorosamente curiosos, humildes e persistentes. Nas condições de 
verdadeira aprendizagem, os educandos e educadores vão se transformando 
em reais sujeitos da construção e reconstrução do saber ensinado. 
 
Assim, fica claro para o autor a importância de se considerar os diferentes 
aspectos que envolvem as condições sociais dos indivíduos, identificados em 
marcadores, como classe social, raça, gênero, etc., para que se possa pensar um 
processo de ensino-aprendizagem realmente produtivo e criativo, capaz de 
desenvolver no estudante a construção de um pensamento crítico e conectado com 
sua realidade. 
Ao falarmos das diferenças na perspectiva da escola, estamos falando em 
possibilidades de acesso e de permanência de todos os grupos dentro do espaço de 
formação e dentro das salas de aula, com segurança e direitos garantidos. Além disso, 
estamos pensando em combater a evasão de grupos antes negligenciados e abordar 
temas para além da chave universalizante caracterizada pelas narrativas: masculina, 
branca, heterossexual, europeia, cristã. Os marcadores da diferença influenciarão as 
narrativas históricas e as perspectivas culturais dentro da instituição educacional de 
forma geral. 
Pensando nisso, é justamente quando a educação se torna um projeto 
universal e de acesso aos direitos de todos e todas que começam a aparecer as 
principais dificuldades em lidar com turmas e culturas não mais homogêneas. Muitas 
vezes, os docentes, profissionais da educação e a própria estrutura da escola não 
estavam preparados para lidar com a diversidade, pois não havia uma boa 
preparação, nem histórica, nem de docentes, nem dos livros didáticos, que falasse de 
cultura e de sociedade para além dos marcos já mencionados. 
É importante ressaltar que, por um longo período da história brasileira, a 
educação não foi um direito de todos. Na verdade, foi uma das formas de distinção 
social de classes, na qual só ricos tinham acesso à uma educação ampla e de 
qualidade. É somente na história mais recente do nosso país que a educação torna-
se um direito universal de todos os cidadãos. Vale destacar, por exemplo, a 
Constituição Federal de 1988, ao afirmar que: “A educação, direito de todos e dever 
do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da 
 
75 
 
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o 
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho [...]” (BRASIL, 1988, art. 
205º). 
É a partir desse momento, de uma educação inclusiva e que faz parte dos 
direitos básicos, que se toma uma nova ótica para entender e estender o ensino e as 
instituições educacionais. Contudo, a diversidade, enquanto perspectiva da tolerância, 
só aparecerá muitos anos depois, especialmente com a criação da LDB, em meados 
de 1996 (BRASIL, 1996). 
Assim, o debate que ascende e que vai tomando formato e força dentro da 
educação é a ideia de que, por meio da diversidade, deve-se exercer a tolerância ao 
diferente. A tolerância pautou e ainda pauta uma série de políticas públicas e 
educacionais, porém traz diversos problemas de invisibilização e de não 
enfrentamento, pois, como vimos anteriormente, a tolerância não exige respeito e 
pode implicar em ignorar as diferenças ou simplesmente aguentar os limites da 
diferença para cada sujeito. 
Dessa forma, o tema da diversidade pela tolerância vai ficando cada vez mais 
defasado, provando que, embora tenha um impacto na educação, torna- -se cada vez 
menos eficiente. Diversos educadores e acadêmicos, ao pensar a diversidade, 
aderem à ideia de diferença, uma vez que aqui está uma das possibilidades de saída 
de um estado letárgico que a tolerância pode gerar. Nas palavras de Michaliszyn 
(2012, p. 66-67): 
 
[...] “a homogeneidade é uma utopia. Ela é um parente próximo da 
unanimidade e a unanimidade é inibidora da dúvida, da crítica e, portanto, do 
crescimento” (ROSA, 1998, p. 45). Por isso, consideramos que não cabe à 
escola sustentar os princípios e as ideias que fundamentam a estrutura social 
em vigor, da mesma forma como imaginamos e desejamos uma escola 
comprometida com a mudança social e a transformação de estruturas sociais 
injustas e desumanas em modelos em que igualdade e a justiça social se 
façam presentes. 
 
A década de 90 é considerada um marco para esse debate, pois foi nesse 
período que diversas perspectivas se afirmaram. Embora hoje já se tenha uma crítica 
bem desenvolvida e bem pautada como essencial ao debate sobre diversidade e 
diferença, por muito tempo tal ideia foi pioneira e conseguiu destacar a necessidade 
de se falar sobre as diferenças. Contudo, o processo brasileiro para inclusão dessas 
perspectivas deu-se também por uma pressão internacional para que o país 
compreendesse em sua perspectiva educacional uma relação mais justa. 
 
76 
 
Assim, as dificuldades com a escolarização em massa, como a aprendizagem 
pouco efetiva e o abandono da escola, entre outros problemas, passaram a ser 
compreendidas dentro do debate da diversidade a partir de uma perspectiva social de 
inclusão. Para conseguir contemplar esses debates, a década de 90 foi um marco 
significativo, pois encontramos mudanças fundamentais, principalmente com a Lei de 
Diretrizes e Bases, homologada em 1996 (BRASIL, 1996). 
11.2 Diversidade nas leis e secretarias 
A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) é importantíssima para pensar as relações 
daeducação com o contexto social e os parâmetros da escola, e, dessa forma, nos 
aprofundaremos em compreender um pouco mais de nosso tema dentro da lei e das 
iniciativas do Estado. Como um marco na educação, assim como os Parâmetros 
Curriculares Nacionais (PCNs), a LDB deve ser entendida como um avanço no debate 
da educação, pois consegue, por meio de seu documento, pautar diretrizes modernas 
para o exercício da docência, bem como para os programas escolares e educacionais 
(BRASIL, 1996). 
A Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, é um documento outorgado para 
âmbito nacional que prevê detalhadamente todos os aspectos da escolarização e da 
educação no Brasil; foi uma reafirmação ao direto de educação universal e como 
direito inalienável a todos e todas. É importante ressaltar que, dentro da 
universalização do ensino, prevê-se a obrigatoriedade do ensino fundamental (até o 
novo ano) por meio do acesso gratuito, inclusive para aqueles e aquelas que não 
concluíram essa etapa em fase etária prevista. Já para o ensino médio, propõe-se 
também a universalidade e o acesso gratuito, mas não mais obrigatório (BRASIL, 
1996). 
Para este capítulo, o Art. 3° da LDB merece ser destacado: 
 
I — igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; 
II — liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o 
pensamento, a arte e o saber; 
III — pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; 
IV — respeito à liberdade e apreço à tolerância; 
V — coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; 
VI — gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; 
VII — valorização do profissional da educação escolar; 
VIII — gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da 
legislação dos sistemas de ensino; 
 
77 
 
IX — garantia de padrão de qualidade; 
X — valorização da experiência extraescolar; 
XI — vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais. 
XII — consideração com a diversidade étnico-racial. (Incluído pela Lei nº 
12.796, de 2013). (BRASIL, 1996, documento on-line) 
 
Previsto em lei, é imprescindível que, em cursos ligados à área da educação, 
seja pela pedagogia, seja pelas licenciaturas, se trate dos assuntos acima citados e 
se aborde as diferenças. Entretanto, descarta-se a perspectiva da tolerância, como já 
apontado anteriormente, prevendo um melhor uso teórico do debate a partir dos 
dissensos e da possibilidade de demonstrar os limites da inclusão por meio da 
obrigatoriedade, sem contexto ou sem auxílio efetivo da instituição e dos profissionais 
envolvidos: 
 
O sistema escolar, assim como a nossa sociedade, vai avançando para esse 
ideal democrático de justiça e igualdade, de garantia dos direitos sociais, 
culturais, humanos para todos. Mas ainda há indagações que exigem 
respostas e propostas mais firmes para superar tratos desiguais, lógicas e 
culturas excludentes. (BRASIL, 2007, p. 14). 
 
A citação do Ministério da Educação serve como base legal e institucional para 
compreendermos ainda mais a importância dos temas que aqui estão sendo 
trabalhados, pois entender como se estruturam as diferenças e como são 
naturalizadas é uma parte fundamental desse processo, assim como entender as 
iniciativas que buscam erradicar ou diminuir as desigualdades (BRASIL, 2007). 
11.3 Práticas de diversidades: escola, sociedade e cultura 
Tal perspectiva é aquela trabalhada na chave da diversidade para a tolerância, 
que expõe no seu cerne que todos são iguais acima das diferenças e, assim, não 
contempla os conflitos. Já a visão de cultura como parte significativa, fundamental e 
problemática das diferenças, entende que todos somos diferentes em nossas 
particularidades, por isso cada política ou conceituação precisa levar em conta os 
conflitos, e não buscar captar todas as diferenças em grandes conceitos 
universalizantes. 
Nesse sentido, a visão de que a globalização nos aproxima não cabe dentro 
desse conceito de cultura pelas diferenças, visto que, como abordado anteriormente, 
a globalização nublou as fronteiras, mas tem como parte de si uma Homogeinização 
 
78 
 
a partir do apagamento das diferenças e do massivo aumento de uma cultura do norte 
global, como Estados Unidos e Europa, como a cultura “certa” a ser seguida. Dessa 
forma, a globalização se mostra como um grande fator de conflito quando traz consigo 
um modo de aculturação. 
Nesse sentido, a cultura não é o que nos une em um lugar comum, mas é aquilo 
que pauta sentido, ora normatiza, ora particulariza, ora exclui, ora inclui, de um modo 
que coloca os sujeitos dentro de uma esfera de inteligibilidade, ou os exclui desta. A 
cultura nos ajuda, então, a compreender a realidade social. Dessa forma, a cultura 
levada a cabo aqui, aparece como parte dos processos de normatização discursiva 
das práticas de diferenciação, e não como o suporte que nos une em um lugar comum, 
mas sim como parte dos processos que explicam o social. Assim, o conceito de cultura 
passa a ser algo enraizado, sentido e trabalhado por nós: 
 
[...] é o que significa dizer que devemos pensar as identidades sociais como 
construídas no interior da representação, através da cultura, não fora dela. 
Elas são o resultado de um processo de identificação que permite que nos 
posicionemos no interior das definições que os discursos culturais (exteriores) 
fornecem ou que nos subjetivemos (dentro deles). Nossas chamadas 
subjetividades são, então, produzidas parcialmente de modo discursivo e 
dialógico. Portanto, é fácil perceber porque nossa compreensão de todo este 
processo teve que ser completamente reconstruída pelo nosso interesse na 
cultura; e por que é cada vez mais difícil manter a tradicional distinção entre 
“interior” e “exterior”, entre o social e o psíquico, quando a cultura intervém 
(HALL, 1997, p. 9, tradução nossa). 
 
Assim, é importantíssimo entendermos a nossa própria relação com o mundo 
que nos cerca, mas também entender que cada pessoa terá diferentes relações com 
sua realidade, a alteridade, assim como nossa cultura não deve ser um processo de 
expectativa em cima de outros sujeitos e contextos, sendo, por isso, tão importante a 
compreensão de que a diversidade é conflitiva, e não agregadora. Assim se formula 
a diferença, dada a partir do outro e de nossas próprias limitações, que serão sempre 
tensionadas. 
11.4 Políticas de inclusão 
As políticas de inclusão social e educacional não datam de hoje, são políticas 
públicas reconhecidas como basilares na sociedade brasileira. Em 1961, a antiga 
LDB, conhecida pela sigla LDBEN, já abordava a educação especial, mas de forma 
 
79 
 
altamente aquém ao que encontramos hoje. A LDB de 1961 afirmava que: “A 
Educação de excepcionais, deve, no que for possível, enquadrar-se no sistema geral 
de Educação, a fim de integrá-los na comunidade [...]” (BRASIL, 1961, documento on-
line). É importante ressaltar alguns trechos desta já mencionada legislação, como o 
uso de “excepcionais”, termo comum na época, mas que não é mais usado para 
categorizar pessoas com deficiências. Também devemos ressaltar que a lei não 
obrigava as escolas a tomarem medidas eficazes, deixando em aberto com “no que 
for possível”. 
É com a Constituição Federal de 1988 que as políticas de inclusão começam a 
tomar novo formato, especialmente quando observamos o Art. 205º que rege, dizendo: 
“[...] a Educação como um direito de todos, garantindo o pleno desenvolvimento da 
pessoa, o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho [...]” (BRASIL, 1988). 
A importância desse trecho se destaca com o relato anterior, de 1961, pois não mais 
deixa espaços para a obrigação ou não da inclusão e inserção de alguns, passa a ser 
imposta constitucionalmente essa condição. 
Isso não quer dizer que o ano de 1988 mudou as relações sociais de diferença 
há muito colocadas no Brasil, porém foi um primeiro passo para as políticas que se 
seguiram,e ainda seguem, em processo de implantação. Pensar a educação para 
todos e todas foi uma mudança impactante, sendo que a uma parte significativa da 
população o acesso à educação não era garantido ou efetivamente pensado. 
É só em 2001, contudo, que o Plano Nacional de Educação implanta uma letra 
de lei mais eficaz e inclusiva, que aborda as deficiências como parte da educação 
escolar, colocando “[...] a garantia de vagas no ensino regular para os diversos graus 
e tipos de deficiência [...]” (BRASIL, 2001). O modelo mais próximo do que 
encontramos hoje, em termos de políticas de inclusão. Em 2005, o Ministério da 
Educação publicou um documento que pensava as políticas de inclusão, onde dizia: 
 
Uma política efetivamente inclusiva deve ocupar-se com a 
desinstitucionalização da exclusão, seja ela no espaço da escola ou em 
outras estruturas sociais. Assim, a implementação de políticas inclusivas que 
pretendam ser efetivas e duradouras deve incidir sobre a rede de relações 
que se materializam através das instituições já que as práticas 
discriminatórias que elas produzem extrapolam, em muito, os muros e 
regulamentos dos territórios organizacionais que as evidenciam. (PAULON, 
2005, p. 8). 
 
 
80 
 
O texto de Paulon (2005) nos deixa algumas pistas para compreender como a 
inclusão era trabalhada na perspectiva institucional. A autora está pensando 
justamente o papel das diferentes instituições em excluir os cidadãos de seus 
processos sociais, como a escola, já relatada, um dos espaços de exclusão por 
excelência. Para Paulon (2005), é necessário combater as próprias hierarquias 
institucionais feitas para segregar os sujeitos. 
As políticas públicas de inclusão visam a pensar o acesso de alunos e alunas, 
mas também precisam (re)pensar as educadoras e educadores dentro das redes de 
ensino. Trabalhar com as diferenças geracionais entre professoras e alunos e com as 
diferenças de sujeitos portadores de deficiência exige compreender como incluí-los. É 
necessário descolonizar o ideal de como tratar os sujeitos diferentes, assim como em 
todas as outras categorias. 
Contudo, embora se reconheça aqui os importantes avanços das políticas de 
inclusão, é importante tecer algumas críticas, algumas já feitas em outros momentos 
deste texto. As políticas de inclusão não conseguem fazer os embates que as 
diferenças implicam e questionar os preconceitos, ficando estagnadas na mesma 
perspectiva da tolerância colocada pela diversidade. 
Assim, é importantíssimo entendermos a nossa própria relação com o mundo 
que nos cerca, mas também entender que cada pessoa terá diferentes relações com 
sua realidade. A alteridade, assim como nossa cultura, não deve ser um processo de 
expectativa em cima de outros sujeitos e contextos, por isso é tão importante a 
compreensão de que a diversidade é conflitiva, e não agregadora. 
 
 
Fonte: https://www.promoview.com.br/

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