Buscar

Prévia do material em texto

DISSERTAÇÃO
S 0 Î P.2 O S1.2 S 0 a3L3. 1
B ll.r?- L:Q'l ^CA _1 CENTftÔ DE c: iwClAG ^ • '̂4
U. F. R.J *
L I —
THES At>
APRESENTADA
v S*? '/> S*
A’ FACULDADE DE MEDICINA
DO RIO DE JANEIRO 3
EM 22 DE MAIO DE 1837,
pon
^oa» Sicilei't<i &afUÎ<)(<i,
DOUTOR E.M MEDICINA, E FORMADO EM CIRURGIA PELA MESMA
FACULDADE,
Natural da Cidade do Rio de Janeiro.
IM© ®S8 VAWBlHt®»
TYPOGRAPHIA COMMERCIAL FLUMINENSE, DE S, 1 . SURIGUE
Rua dos Ourives n. 45.
1837.
A
FACULDADE 1>E MEDICINA DO RIO DE JANEIRO
fri \x*U -'yk ORES.
\ CD
WSELHEIRO PEIXOTO, Director.o
MATÉRIAS QUE LECCIOSA Õ: on SB», DOUTORES:
Physica Medica Paula Cândido, Examiuador.
Botanica Medica, e princípios elementares de Zoologia...* Freire, Suplente.
Chimiei Medica, e princípios elementares <le Mineralogia-. Torres Homem.Anatomia geral e descriptiva Marques.
Phvsiologia Peixoto.
Pathologia externa < Ferreira, Presidente.
Pathologia interna Silva.
Pharmacia, materia Medica, Therapcutica, e Arte de for-
mular
Anatomia topographica, Medicina Operatória, e Aparelhos. Pereira de Carvalho.
Partos, moléstias de mulheres pejadas, e paridas, e de meni-
nos recem-nascidos » .................- Jul o.Hygiene, e Historia da Medicina. Catnbuei , Examinador.
Medicina Legal Jubim, Examinador.
Clinica externa, e Anatomia pathologica respcctiva Gomes dos Santos.
Clinica interna, e Anatomia pathologica respcctiva Valladão.
Carvalho.
SUBSTITUTOS.
Aquino.De Scieucias accessorias l Martins,Examinador .
5 Borges, Examinador.
( Nunes Garcia , Suplente.De Scieucias Cirúrgicas.
De Sciencias Medicas . ; Ro za.Cunha,
SECRETARIO.
O Sr. Doutor Luiz Carlos da Fonccca.
A Faculdade deixa na inteira prq>riedade e responsabilidade do tens Autores a« opiniões e.mittida- na*Theses, »juc lhe são apresentadas.
JC2ÏÏ IPlBBBAM8Sm® PA%
A’ MINHA EXTREMOSA MAI,
A’ 1VIEUS QUERIDOS IRMÂOS,
Homenagem de dever , respeito, e amor.
AQ wœ v
o III.“ 0 SR. DOUTOR JOSE' DE PONTES FRANçA J
Testemunho de amizade
DO AUTOR.
DISSERTAÇÃO
S 0 2’.2 O B I S S O C E L S.
CONSIDERAÇÕES GERAES.
O Sarcocéle, segundo a sua etymologia grega , significa tumor
de carne.
Grande divergência tem hayido, entre os prá ticos, sobre a manei-ra porque se deve entender a palavra sarcocéle ; o que necessaria-
mente deverá succéder todas as vezes que se reunir debaixo da
mesma denominação as diversas alterações pathologicas de que um
orgâo pode ser accommettido, não tendo ellas de semelhante entre
si senão algumas apparencias exteriores. E’ o que aconteceo com
as diversas enfermidades do escroto: assim umas vezes os patholo-
gistas, tendo sómente em consideração a séde da infermidade, isto
é do tumor, e a sua semelhança com as diversas alterações que se
desenvolvem pelo deslocamento das partes, comprehenderáo o sar-
cocéle no genero das hernias falsas, ou humoraes, e o denominarão
hernia carnosa ; outras vezes d’essa expressão se tem servido para
designar indistinctamente não só o cancro, o endurecimento chroni-
co do test ículo, o espessamento, e endurecimento da tunica vagi-
nal, como també m toda a especie de tumor solido das bolsas, em que
o testículo não é aflfectado, caso em que se acha a infiltração edema-
tica , e a degeneração elephantiaca.
No Rio tie Janeiro esse termo é empregado, posto que impro-
priamente, para designara elephantiase do escroto ou mal de Bar-
badas, e o engorgitamento clironico do testículo, que no mesmo
estado se conserva durante a vida do individuo. A maior parte po-
dos autores se servem deste vocá bulo para designar sómente arem
afferção cancerosa ou carcinomatosa do testículo.
Depois de indicarmos, ainda que rapidamente, o abuso que se tem
ifo da palavra sarcocéle, tornando -a por tal maneira gentries, que
I
2
não tem havido enfermidade do escroto a que senão teniia dado este
nome, resultando dahi as numerosas contrariedades que 6e notão
nos autores, no que diz respeito âscauzas do sarcocéle, diagnostico,
tratamento e probabilidades de cura; resta-nos observar que nos ser-
vimos da palavra sarcocéle para indicar o scirrho, ou cancro do tes-
t ículo, abraçando nesta parte a opinião do sabio Professor Cruvei-
Ihier quando diz, que em Pathologia o sarcocéle é o cancro do tes-
tí culo; c na pratica dá-se o nome de sarcocéle a lodo o endurecimento,
ou tumefaeção da substancia propria do test ículo, ou cpidiihjme ,
(piando tem resistido aos meios ordinários de tratamento por hum es-
paço de tempo mais ou menos longo.
Um tumor duro, pesado, ordinariamente pouco sensivel à pressão,
não apresentando nem uma alteração de côr na sua pelle, e formado
pelo test ículo e epididyme, de um volume mais ou menos augmen-
tado, e affastado de sua conformação natural, taes são os caracteres
os mais constantes, e que mais sobresahera no sarcocéle durante
o primeiro periodo.
ETIOLOGIA.
Não apparecendo nunca na infancia, e sendo pouco frequente
antes da puberdade, o sarcocéle produz nos homens seus terr í veis
eífeitos desde a idade de vinte annos até a vélhice, segundo uns; e
de vinte cinco até os cincoenta, segundo outros; tempo em que as
funeções geradores gozão do maior gráo de vigor, e em que os
excessos ou privações aos prazeres do amor produzindo irritações
nos orgãos secretores do esperma podem cauzar seu desenvolvimen-
to, que mais frequentemente apparece nos indivíduos dotados de
temperamentos sangu í neo, e lymphatico.
lista enfermidade raras vezes ataca os dous test ículos ao mesmo
tempo, ou mesmo um apóz do outro; e ainda que a afíecção cancero-sa venha apparecer depois de sua completa extirpação, é mui pouco
frequente ser a ílectado o outro test ículo: o mal reapparece, é ver-
dade, mas em orgãos mais ou menos remotos, e é nos das cavidades
thoracica, e abdominal principalmente, que massas scirrhcsas ou
cancerosas mais ou menos considerá veis se manilestão.
Differentes são as causas locaes que podem determinar o desen-volvimento do sarcocéle; taes como, contusões por pancadas, ou que
das, feridas, toques repetidos em orgã os dotados, como estes, de uma
esquisita sensibilidade, o terrível vicio da mansturbação, comprès-
to feita por uma funda heriiinria mediante largo tempo; inll untnn
Ç"es da membrana mucosa da urethrn produzidas por rausas s \pbiii ' icag,ou por quaisquer outras causas; inllammações desprovidas.
3
ou tratadas com medicamentos irritantes; os differentes endureci-:n e n t v o u engorgitamentos chronicos do testiculo, e principalmen-tc o engorgiiamento yenereo ou orchite chronica. A estas causaspodei -se-luáo ainda ajuntar certas profissões nas q üaes os test ículos
C'Kï o expostos a ser mais ou menos frequentemente contundidos; ahabitação em lugares insalubres; ouso de uma má alimentaeàoí oabuso de bebidas alcoólicas kc. kc.
lues sito as differentes causas mais frequentes do sareocéle : masdizem alguns autores, entre elles Richerand , Roux, e o Barão Boy-er > lIue se tem visto o sarcocele desenvolver-se manifestamentesem intervenção de nenhuma causa exterior; e que mesmo no casodelle desenvolver-se em consequência de alguma das causas aponta-das, estas tem sido tão ligeiras, que um espirito judicioso não dei-xará de as olhar como circunstancias accidentaes, que tem posto em
jogo a diathese cancerosa, disposição particular do organismo des-
conhecida em sua essencia; mas, segundo elles, s’jfficiente para em
certas circunstancias produzir o cancro do testiculo, e sem aqual to1
da a causa externa seria sem resultado.
MARCHA, E SYMPTOMAS.
O sareocéle manifesta-se na sua origem ou no corpo do testiculo,
ou no epididyme; mas ordinariamente no corpo do testiculo, e só se
extende depois de algum tempo ao epididyme, e com este forma
então um todo do qual não se póde mais dilferençar. Algumas ve-
zes todavia elle se origina no epididyme, ou no cordão testicular,
extendendo -se depois ao corpo do testiculo. D’entre estes o mais
perigoso é (segundo o Barão Boyer ) o que tem sua origem no cor-
dão espermatico.
Não é possivel determinar-se com exactidão o volume que o sar-
cocéle costuma tomar, podendo o testiculo tornar-se maior ou menor
doque no estado normal; mas o mais ordinário é apresentar o volu-
me do punho pouco mais ou menos ; comtudo tem-se encontrado
algumas vezes sarcocele de uma grandeza extraordinária. Boyer diz
que o mais considerável que encontrou na sua pratica, tinha o ta-
manho da cabeça de um menino de trez á quatro annos; porem o mes-
mo autor refere ter visto um, que a proporção que o testiculo foi
» •ml e recendo, foi também perdendo o volume natural; todavia é
muito raro encontrar-se sareocéle, que tenha um tamanho menor do
que o que tem o testiculo no estado normal.
O sareocéle no principio de seu desenvolvimento conserva forma
espermatico no estado physiologico, mas pode apresentar-orgfio
4
se «spheroidal : estas formas poré m não se conservão
estado, soffrem antes alterações á medida dos progressos do mal.
Algumas vezes a superficie mostra se igual, regular ; comtudo o
mais ordiná rio é apresenta-la cheio de relevos, ( a que os Prá ticos
Francezes chamão bosselée ) que apparecem ou no começo da enfer-
midade, ou depois de ter feito grandes estragos.
O peso e consistência do sarcocéle são summamente variaveis ;
mas o mais frequentes é apresentarem-se esses dois caracteres de
modo considerável variando muitas vezes a consistê ncia n’um
mesmo sarcocéle. Com tudo ein algumas occasiões se tem apresen-
tado de uma molleza tal que cede á mais ligeira pressão, e de um
peso igual ao que teria um hydrocèle do mesmo tamanho, e isto tem
feito com que práticos ou pouco exercitados, ou pouco habituados
a ver esta enfermidade, a encarem antes por hum hydrocèle.
O sarcocéle começa ordinariamente pelo corpo do testículo, e só
depois de algum tempo é queseextende ao epididyme. Algumas ve-
zes pode desenvolver-se em consequência da degeneração de um en-
gorgitamento chronico do testículo, ventreo, ou de outra natureza
então os incommodos, que resultào da sua presença, podem ser
sómente devidos ao seu peso, estado em que pode existir por maior
ou menor espaço de tempo, mas crescendo repentinamente, mu -
dando de forma, e tornando-se doloroso, apresentão-se então todos
os phenomenos proprios do sarcocéle canceroso.
Mas tem-se observado a maior parte das vezes que o orgão affec-
tado augmenta urn pouco de seu volume e consistê ncia ao passo que
dores surdas, e ligeiras se fazem sentir por intervalles mais ou me-
nos longos nas regiões lombares, no cordão espermatico e orgão do
mesmo nome. Neste tempo quer o enfermo ignore a causa dos seus
padecimentos, quer delia tenha conhecimento, vê que o seu orgão
reproducer é séde de um engorgitamento, e d’uma dureza, que°se
augmentão gradativamente. Por algum tempo parece que o engor-
gitamento se tem circunscripto somente da corpo do resliculo; mas
logo depois extende-se ao epididyme, e forma então com eile um
tumor de tamanho variavel, duro, pesado, umas vezes oblongo, c _
tras espherico, de superfície lisa, offerecendo também algumas ve-zes relevos, ou pontos mais ou menos salientes. Neste estado o en-fermo na occasião de ser apalpado ou depois sente ligeiras doresque se dirigem ás regiões lombares, inguinaes, e que parecem serantes originadas pela tracção mecanica que o tumor exerce sobreo cordão testicular, quando é abandonado ao seu proprio peso. Nes-ta época é que o sarcocéle apresenta o primeiro gráo tio cancro.Abandonado a si inesmo o tumor faz progressos mais ou menosrá pidos, hntao ao mesmo tempo que o sarcocéle segue o seu de-senvolvimento, seu volume e consistência augmentão. sua suporfi-
no mesmo
u m
ou-
5
' u* ilt* liza quc era torna se desigual dlerecemJo diflerentes sa-lumcias » e é séde de picadas dolorosas , vivas , e passageiras que
enienno compara á sensação (pie produzirjão pequenas lanceias,agulhas atravessando rapidamente a substancia do testiculo ,
e que se exasperão ao mais pequeno toque , a um atírito , e mesmo
pelo exercido ainda que moderado. As dores lancinantes de intermi-tentes que erdão tornào-se continuas, e cadd vez mais intensas aopomo de chegarem a privar os enfermos do somno pela sua violência.
O tumor ganha maior volume , amollece umas vezes em alguns
pontos sómente , e então nas partes salientes a íluctuação 6 sen-
sí vel ao tocar , outras sendo mais geral poderia fazersuppôr
tencia de um hydrocèle com espessamento da tunica vaginal. Se
tica por mais algum tempo abandonado , a pelle das bolsas que até
então existia sã , e movei sobre o tumor , contrahe com elle adhe-
menos intimas , especialmente nos lugares em que
jo tumor apresenta saliências , e torna-se depois de côr violacea : o
tumor forma igualmente atlherençias com o corpo cavernoso , e
canal urethral , e chama sobre si para cobrir-se a pélle das partes
circumvesinhas. As veias sub cutâneas se dilatão tornanJo-se va-
ricosas : o cordão espennatico que era até então estranlLo ao mal ,
engorgita se , apresenta -se entumecido , endurecido , e mui frequen
temente observa -se em seu trajecto nodosidades mais ou menos
considerá veis. A’ proporção que a enfermidade vai chegando ao
seu máximo de densidade , as dores vão se tornando de dia em
dia mais vivas , e não se limitão somente ao testículo aífectado ;
mas extendem-se para o lado do ventre seguindo o trajecto do
cordão testicular até a região lombar. A pelle do escroto inflam -
ma-se , e adelgaça -se deixando ver nos lugares , cm que tinha con -
traindo adherencias , pequenas fendas das quaes salie um pouco de
serosidade , e que são logo séde dev ulcerações cancerosas , de que
corre uma sanie ichorosa fétida.
Uma cousa digna de notar-se é , que a pélle no sarcocéle alte-
ra-se em geral depois do mal ter feito grande progresso ; quando
o contrario se nota em enfermidades de igual natureza , em que
ella é muito mais cedo atacada , como no cancro da mama por ex-
emplo: isto dependerá certamente de que o test ículo separado das
partes exteriores por muitas camadas membranosas , e em parti-
cular pela tunica vaginal , recebe todos os seus vasos do interior
da cavidade abdominal onde teve primitivamente a sua séde; sendo
ali is muito secundarias as ligações que tem com as partes molles
do escroto , e especialmente com a pelle : talvez seja esta a razão
porque no sarcocéle testicular o engorgitamento do cordão esper-
m . uro se faz com tal promptidûo , que a irritação se transmitte
) 4» glandulas lymphaticns do abdomen.
o u
a txiá *
renoms mais ou
log
c
('ominuando o sarcocéle a ser abandonado , antes mesmo de sua
passagem do período de cancro occulto ao de cancro ulcerado , já o
estado geral do enfermo se altera de uma maneira espantosa , prin-
cipalmente 6e ulcerações se estabelecem na superf ície do escroto ;
tumores da mesma natureza que os dos testiculos se formão no
abdomen tendo sua origem no tecido cellular que circunda os vasos
esperiuaticos , nos glanglios lombares , e no mesenterio. Algumas
vezes mesmo o fígado, baço , e rins inflam mão-se tornando-se duros,
e scirrhosos : a còr da pélle apresenta-se palida , amarellada , ou
chumbada , ou de um amarello palha mais ou menos caracteristico ;
a physionomia mostra-se triste ; o mais pequeno exercício é seguido
logo de fadiga; uma tosse secca se manifesta; o appetite diminue ; as
funcçôes digestivas não se fazein como no estado normal ; definhão
e acabào depravando-se ; os membros inferiores apresentão se ede-
matosos ao mesmo tempo que um terrí vel marasmo apodera-se do
resto do corpo. Chegando a este medonho estado o enfermo não
póde mais deixar o leito , e exposto assim aos mais cruéis soffri -
mentos nem-um allivio sente em seus males e ainda que seja por
alguns instantes. Em fim as ulcerações das bolsas á medida que s’een-
gradecem , vão invadindo , corroendo , e destruindo indistincta-
mente todas as partes visinhas; formão-se então algumas vezes escaras
na superficie ulcerada , qne dão lugar pela sua queda a frequentes
hemorrhagiãs , que cauzão uma diminuição momentâ nea nos soffri-
mentos do enfermo , mas que por sua repetição esgotão considera-
velmente as suas forças , e só depois de muito padecer é que ex-
hausto de forças pela duração das dores , e febreethica , o infeliz
acha na morte a cura e o fim de todos os seus padecimentos.
Estes são os symptomas e marcha que apresenta ordinariamente
o sarcocéle. Porém não é raro ver-se algumas vezes em certos indi-
v íduos o sarcocóle persistir por longo tempo duro , cirrhoso ,
indolente , e sem desigualdades na sua superfície ; outras vezes é
ser tão pequeno o espaço por elle percorrido entre o principio e
terminaçã o , que poucos mezes bastão para effectuar-se a desorga-
nisação completa do test ículo , e seus envolucros ; o que se observa
sobre tudo nos indiv íduos de pouca idade , e quando o mal parece
dever seu desenvolvimento á uma infecção geral , ou se tem sub-
mettido o enfermo a um tratamento mal apropriado.
As dores lancinantes posto que sejão um dos caracteres das infer-midades cancerosas , e sua apparição ßeja olhada como o indicio
certo da degeneração do tumòr , todavia tem-se notado sarcocéles
verdadeiramente cancerosos não apresentarem jamais estas dores.
Assim cahiria muitas vezes em erro o pratico que tendo de dar o
s » o parecer sobre a natureza cancerosa do mal esperasse que as
d > re* lam mantes se manifestassem.
7
E’ muito variavel a epóca da enfermidade em que o cordão es-permatico se endurece , e intumece ; assim póde ser a ífectado
principio da enfermidade ; porém o mais Irequente é alterar-se
quando o tumor já é antigo , e de volume considerável. Algumas
vezes mostra-se mui grosso , e duro até o ventre , ou muito além do
annel inguinal ; outras ilezo desde o testículo até anel ; mas 6e se
segue e percute o trajecto que descreve atravez da parede abdo-
minal , ver-seha de espaço em espaço pequenos tumores olivares ,
que são da mesma natureza que o tumor do test ículo. Casos ha em
que o cordão apresenta a mesma grossura e dureza que tem no
estado normal ; mas o canal deferente é evidentemente mais grosso
que o do lado opposto , e examinado depois da extirpação do tumor,
acha -se o seu diâ metro consideravelmente augmeutado e cheio de
uma materia branca esteatomatosa. Todas as vezes que os conductos
deferentes se deixão ver neste estado , é uma circunstancia de
muito máo agouro. Ordinariamente á proporção que o sarcocéle
segue a sua marcha , e vae augmentando de volume , formão-se
adherencias entre a folha parietal da tunica vaginal , e a porção que
fórra a superfície do testículo, de maneira que produzem a completa
obliteração do saco da membrana serosa , mas não é raro ver-se a
aífecção cancercsa do testículo em consequência da irritação inse-
pará vel do progresso do mal dar em resultado na cavidade da
membrana um derramamento seroso analogo ao que se desenvolve
na cavidade peritoneal , no pericá rdio, &c. &,c., e então um hydro-
cèle mais ou menos considerável complica, ou antes accompanha a
aífecção organica do testículo.
A hydropezia nestas circunstancias não é senão um epipheno-
meno ; e esta complicação do scirrho do testículo tem feito com que
se denomine a enfermidade hydro sarcocéle : seria entretanto mais
exacto chamar-se sarco-hydrocèle , visto o sarcocéle ser a enfermi-
dade principal ou dominantes não passar o hydrocèle de uma aífecção
secundaria por mais considerável que seja.
Se se examina o tumor na sua parte anterior quando a porção
do liquido é considerá vel , póde succéder que se tome por um hy-
drocèle ; mas o erro deixa de commetter-se examinando-se a parte
posterior. A adherencia do testículo neste ponto permitte sempre
reconhecer sua dureza , augmento de volume , o as saliências ou de-
sigualdades da 6’jperficie testicular ; muitas vezes também a pressão,
que se faz no tumor , deslocando o liquido para as partes direita e
etquerda deixa distinguir o scirrho testicular.
no
a
DIAGNOSTICO.
Esta enfermidade poderia ser confundida com outras que a ífec-
iào as bolsas, senão tivéssemos etn vista de um lado as numerosas
variedades que o sarcácéle póde tomar, já quanto á parte primi-
livamente alfectada, ao volume, á forma, á sua dureza, já a maneira
porque se desenvolve, aos symptomas, á marcha, &c. &.c. ; e de
outro lado os signaes distinctivos das diversas moléstias á que o
escroto está exposto; assim por exemplo nào se diíierençuria da her-
nia escrotal, se o cordão testicular não existisse isento de toda a
tumefacçào, se o tumor não tivesse sua origem no corpo do testícu-
lo ou epididyme, se em occasião de um ataque de tosse, o mesmo
nào fosse livre inteiramente de qualquer aballo, ou impulsã o, e se
em fim depois de praticada a taxis coberta, elle não fosse suscepti-
vel de reducção, ou diminuição no seu volume: nào se diílerença-
ria do hydrocèle da tunica vaginal, que muitas vezes o accompa-
nha , se a firmeza das partes, sua foi ma irregular, seu peso superior
a um volume igual d’agoa, se a ausência absoluta de sua transpa-
rência, e a forma porque o tumor se desenvolve, não viessem escla.
recer o diagnostico. Poderia ainda confundir-se com a hypertro-
pliia simples de um dos dous testiculos, ou de ambos, se o volume
insolito do testículo não existisse desde a infancia de uma maneira
relativa, se o que nota em um momento dado, não é o mesmo
que se observa desde longo tempo, se o orgão não é mais leve pro-
porcionalmente ao seu volume , e se não è a séde de dôr algu-
ma kc. kc. \
Facilmente se distingue o sarçocéle de outras enfermidades de
escroto, se se tiver, como já dissemos, cm consideração o seu de-
senvolvimento, symptomas que lhe são proprios, e os que perten -
cem ás outras moléstias das bolsas, taes como o varicocèle, a infil-
tração edematica, degeneração elephantiaca kc. kc. Ha porem um
caso, em que o diagnostico póde apresentar-se muito obscuro, e
vem a ser ( piando no hydrocèle da tunica vaginal a membrana serosa
tem adquerido uma grossura considerá vel, e que o liquido nella
contido è espesso, e de cór atrigueirada: nesta hypothèse não olïere-cendo o tumor transparência , nem lluctuação, e apresentando-se
de igual dureza em todos os pontos, faz com que o pratico se ache
duvidoso a diagnosticar a enfermidade; mas a duvida desapparece
com a ponção do tumor.
PROGNOSTICO.
lendo-se cm consideração o que se acaba de expór sobre o sar*
9
cocéle, (allecção eminentemente grave que exigindo muitas vezesa extirpação do test ículo, não deixa ainda assim de levar muitosentermos ao tumulo) verse- ha ( jue é , como o cancro de outros or-gãos, ordinariamente mortal quando é abandonado , e que im-mensas vezes mesmo depois de sua completa ablação se regeneradebaixo de outra lorma fazendo perecer igualmente os doentes.Nada seria mais importante para o prognostico e tratamento do
que distinguir esta a ífecção, logo que principiasse a
desenv olver-se, dos differentes endurecimentos chronicos, os hema-tocéle &c.; mas desgraçadamente isto nem sempre acontece; por-que eó depois da manifestação dos symptomas locaes, e geraes da
alfecçào é que se póde reconhecer a natureza do mal. A veracida-de do que acabamos de expor é contestada por lactos: tem-se vis-to humores do testículo, que se olhava não como cancerosos, re-produziremse, como faz o verdadeiro cancro; entretanto desappare-
cerem outros que se julgavão cancerosos independente da operação.Em geral para que o prognostico do sarcocéle seja favoravel de-vem existir as seguintes circunstancias: ser o tumor recente e in -dolente; ser o seu desenvolvimento devido a qualquer causa exter-
na; existir o cordão espermatico no estado physiologico; não mani-
festar-se no ventre nenhum signal de tumor ou engorgifamento por
meio da exploração a mais cuidadosa; não sentir o doente dores na
região lombar, rins, &c.; e não existirem os symptomas que carac-
terisão a diathese cancerosa: o prognostico será de summa gravida-
de todas as vezes que circunstancias oppostas 6e manifestarem.
sarcocéle do
ANATOMIA PATHOLÓGICA.
As alterações pathologicas , que a substancia do testículo expe-
rimenta , são tão numerosas , e differentes , que é impossível co-
nhece-las precisamente sem o exame anatomico do tumor.
Aqui indicaremos o que a dissecção das partes tem apresentado
naquelles indivíduos que soífrerão a castração, como nos não ope-
rados. _ ' . ‘ ‘
A tunica vaginal acha-se umas vezes contigua , e outras adhé-
rente em parte , ou em totalidade á membrana albuginea , nota-se
algumas vezes no primeiro caso entre estas duas membranas uma
quantidade de serosidade derramada. A substancia
do test ículo apresenta-se transformada ao principio em uma materia
de um branco-cinzento , lusidia , semi-transparente, de consistência
variavel ; e em massas mais ou menos consideráveis de uma materia
menos dura qne a precedente , opáca , de um branco-avermelhado,
3
maior ou menor
10
e devidida em muitos lobulos por septos cellulosos , cruzado« em
ditierentes sentidos de vasos sanguíneos : estas substancias existem
quasi sempre reunidas , e são as que se encontrão ordinariamente ;
de sua união resulta uma massa lardacea deixando ainda ver em seu
meio ou em outros pontos a substancia do testículo com o seu as-
pecto colorido , e alguns caracteres naturaes ; mas apresentando-se
de consistência maior do que a do estado normal , e de uma ífia-
bilidade , que impede o desenrolamento dos canaes seminiíeros. Se
se examina o sarcocéle em época mais avançada , encontra -se ainda
as substancias mencionadas , mas em um estado de amollecimento
mais ou menos completo : nota se o tecido scirrhoso menos transpa-
rente , duro , e como embebido de maior porção de liquido , que
comprimido gotteja uma serosidade de.côr , e consistência muito
variaveis ; nesta época a substancia cerebrilorme apresenta-se corn
todos os caracteres da polpa cerebral amollecida , e como em uni
estado de putrefação , oíferecendo pequenos derramamentos sanguí-
neos mais ou menos alterados conforme o tempo que o liquido tem
levado fora dos seos vasos. Algumas vezes o amollecimento chega
a tal ponto , que a substancia do test ículo adquire o aspecto de
um liquido pouco espesso , brancoamarellado com nodoas sangu í -
neas , que se extravasa logo que se disseca a tunica albuginea :
esta membrana não encontra-se intacta no meio de tantos estragos ,
soílre uma distensão , que varia segundo as circunstancias ; ordina-
riamente acha-se de uma espessura maior que a do estado natural,
ou antes hypertrophiada não só ella , como os diversos prolonga-
mentos que se destacão da superfície interna para sustentar a subs-
tancia testicular, e se apresentão formando verdadeiros loculamentos
pela sua transformação em septos. A hypertrophia da tunica não
é a mesma em todos os pontos ; muitas vezes é mais considerável
umas partes, do que em outras , e esta irregularidade nos explica
as differentes elevações que se nota no sarcocéle. Chegando a este
estado o sarcocéle ulcera-se , e mostra-se com todos os caracteres
das ulceras cancerosas.
Quando o cordão espermatico participa da affecção
tosa do testículo , sua substancia experimenta as mesmas alterações
que aquelle orgào. Na abertura dos cadaveres das pessoas victitnas
do sarcocéle encontrão-se ordinariamente nas diversas regiões do
abdomen tumores da mesma natureza que o do testículo.
Depois de vermos as
em
carcinoma-
alterações anatomo-pathologicas que o sar-coccle apresenta a maior parte das vezes que é abandonado , pas-samos a descrever os productos mui differentes , que a observação
anatomo-pathologica tem oflerecido em alguns casos particulares.Cancro alveolar do testiculo
Cura. materia perolada.— Operação.—tumores eneeplndoides desenvolvidos na espessura docorpo das vertebras. — Compressão da medula. — Morte.
com
1 1
^ olunie lio test ículo era considerá vel , tinha quatro polfegadas,» nove Í ndias em «eu diâ metro ver tical , e duas pollegadas, e nove.uitus em sua largura , e uma espessura proporcional ; não mudou
1 .
,óriua * suas dimensões eröo exageradas , porem de uma ma-m ira regular ; sua superficie li /a , consistência natural , e o pezo natazAo directa do volume. A tunica vaginal espessada apresenta-' n-se semeada de um grande numero de vasos venosos de novalormaç&o , tanto na folha livre , como na testicular. O auctor ( Cru-veil liier ) considera como uma lei da economia a existência de umplexo venoso natural naquelles lugares onde existe uma secreçãonormal , e um plexo venoso accidental onde existe uma secreção,ou trabalho morbido accidental. Estas veias apresentai fio o cunho
de sua origem mórbida em suas flexuosidades, irregularidade , dis-posição era muitos planos , suas ampoulas de uma e outra parte }e em sua independence de circulação geral. Muitas veias appa-
rentes na superfície do test ículo estavão situadas sob a tunica al-buginea. A tunica vaginal existia sã , e não servindo de nada para
a sua conservação a existência de todos estes vasos. A folha livre
adheria em dons pontos á folha testicular. O testículo dividido lon-gitudinalmente apresentava cada uma de suas porções compostas
de duas partes bem distinctas ; uma superior mais considerável ,
outra inferior mais pequena , e reunidas entre si mediante um te-cido cellular laxo , de sorte que o mais pequeno esforço bastava
para desliga-las.
A parte inferior parecia ser formada pelo epydidime , e a su -
perior pelo corpo do test ículo : comtudo isso uma e outra apre-
sentavão a mesma alteração ; era um trama areolar , ou antes um
numero prodigioso de cellulas , ou kistos, ou alvéolos extremamente
pequenos de paredes fibrosas , contendo matérias de diversa natu -
reza. A mais notável das matérias contidas era uma substancia
perolada , coherente , sem adherencias com as cellulas que a en-
cerravão , enucleando-se com a maior facilidade , e representando
então pequenas pérolas as mais beilas. Outros kistos continhão se-
rosidade , alguns uma materia densa , cinzenta , seini-transparente ,
de aspecto cartilaginoso ; um grande numero era cheio de uma
materia puriforme , concreta , seguindo o meio entre o pús , e a
matéria tuberculosa. Havia em diversos pontos massas desta ma-
t é ria pultacea que sahe pela expressão á maneira de um verme. As
matérias contidas sendo tiradas , o auctor (Cruveilhier ) reconheceo
que a transformação alveolar era geral , que as paredes dos alvéo-
los , os kistos erào fibrosos , mui densos , mas de espessura de-
sigual ; destes kistos uns existião completamente isolados , e outros
com mu nicavflo entre si por meio de pequenas aberturas , que de
uma e outra parte havifto espessamentos librosos, que isolavão porções
12
île tumor. Em fim a substancia propria do test ículo n3o tinha par-
ticipado desta alteração , achava-se recalcada para a superfície do
tumor em um ponto circunscripto formando ahi uma camada pouco
espessa , infiltrada , cinzenta , semi- transparente , que só foi reco-
nhecida depois de um minucioso exame. Neste lugar diz Cruveilhier,
que quanto mais avançarmos no estudo das alterações mórbidas,
tanto mais seremos convencidos desta verdade , que crê ter sido o
primeiro a proclamar , que nossos tecidos sào inalterá veis , que
aquillo que chamamos lesões mórbidas sào productos novos , que
devem a vida a si mesmo , e são independentes , e que nossos te-
cidos só sào susceptiveis de atrophia , e hypertrophia. E que neste
caso a atrophia se explica optimamente pela compressão que experi-
mentou a substancia do testiculo.
SAIICOCELE AREOLAR ENCEPHALOIDE, E TUBER-
CULOSO.
A divisão do testiculo apresentava um trama areolar fibroso com
malhas largas , e estreitas , cheias de uma matéria pultacea , aver-
melhada , analoga ao cerebro de um recem-nascido ; materia que
se expremia como de uma esponja por uma ligeira pressão. A ma-
teria extrahia-se pela lavagem á maneira da polpa do baço , não
ficando delia senão um tecido areolar exactamente semelhante ao
tecido erectiljde talsorte que posto junto de um tumor erectil
foi impossivel distinguir-se um do outro. Depois de lavagens re-
petidas a metade do testiculo achava-se reduzido a vigessima parte
de seu pezo , e volume. Independentementedeste trama areolar
encephaloide havia em differentes partes concreções sanguí neas ,
e pequenas massas tuberculosas , ou antes pús concreto cercado de
uma areola vermelha , que indicava um trabalho bastante activo.
A substanciado testiculo existia recalcada na superficie , e foi fa-
cilmente reconhecida ; porisso que estava mui pouco atrophiada.
TRATAMENTO.
Antes de lançar-se mão da castração convêm que todos
que estão ao alcance do pratico , sejào empregados para
se conserva um orgào de tanta importância , como é o testiculo :
o que se fará administrando medicamentos apropriados á natureza
das causas que produzirão a affecção.
os meios,
i ver se
13
Se a causa é inflamatória o tratamento antl - phlogistico será e/n *pregado u pesar ile into haverem symptornas de uma viva irri —assim as sangrias geraes , se o indiv íduo 1’or bastante ro -l *Uî» tt », t* plethorico; as locaes, as cataplasmas emollientes, os banhos
Irequentes , a diéta , e o repouso , são meios tão poderosos , que
tem-se visto a atfecção do testiculo desapparecer em pouco tempo:
mal se mostra chronico primitivamente , ou se do estado agudo
passa logo ao chronico o tratamento mencionado será ainda usado,
e associado gradual mente aos fundentes , e derivativos ; taes como
o emplastro de iliachylào ; de vigo com mercú rio , os calomelanos,
o oleo de ricino , o sulfato de sóda , kc. kc. &c., a administração
destes meios sendo com perseverança chega a restituir o orgão in-
fermo ao seu estado physiologico. Se o sarcocéle tem por causa
a origem venerea mais ou menos remota o tratamento anti sypo-
litico se porá em pratica continuando-se com os emollientes , e de
pletivos , e neste caso póde prescrever-se ou o tratamento anti-
venereo empregado ]>or Dupuytren , que consiste n’uma decocçãode salsa-parrilha , raiz da China e guaiaico , adoçada com xarope
sudorí fico , e em pílulas compostas de deutro-chlorureto de mercúriode £ á h grão , opio gommoso è grão , e extracto de guaiaico 2 grãos;
ou o de Gama que compõe-se do tratamento anti-phlogistico pres-
cripto de differentes modos combinado ao mesmo tempo com o anti-
venereo , e este pratico dá pilulas compostas de proto chlorureto de
mercúrio e extracto de cicuta. Se o mal 6 occasionado pela dispo-
sição escrophulosa , combatidos os symptornas inflammatorios ( se
existiremi ) se recorrerá aos meios hygenicos geraes , e ao trata-
mento usado quando se manifestão enfermidades em consequência
do systema lymphatico ser muito desenvolvido.
Sê depois do enfermo ser submettido aos diversos tratamentos,
segundo as differentes causas que produzirão o sarcocéle , e se em
de diminuir este continua a fazer novos progressos , a ablaçã o
do orgão affectado é o ultimo recurso que o pratico tem á sua
disposição.
I » ira que a operação tenha bom exito é de grande inportancia co-
ithecer-se as circunstancias que a pódem tornar in ú til , e até mesmo
perigosa , e que devem conseguintemente impedir a sua execução.
As contra indicações , que não permittem a execução da operação ,
se deduziráõ do estado geral do enfermo , do cordão espermatico ,
do abdomen , e não do orgão lesado ; porisso que o seu volume ,
dureza , adherencias com a urethra , e corpo cavernoso , dores de
que é séde ; e a ulceração mesmo são circunstancias , que pódem
rxigirmo dificaçõcs no processo operntorio, e difficultar a execução
não contra indica la. O engorgitamento scirrhoso
ontra indicação quando se estende além do anel
se o
vez
da operação ; mas
•Io cord lo 6 uma c 1
1 4
inguinal ; e comtuilo a operação póde tentar-se, posto que diílicul-
tosamente , se o engorgitamento tem -se limitado á abertura inferior
do canal. * Cumpre que senão confunda este engorgitamento do
cordão com o seu estado varicoso , edema , hydrocèle inkistado ,
e com alguma hernia.
A castração é ainda positivamente contra-indiçada no caso emque pelo cuidadoso exame do abdomen se nota um engorgitamento,
ou tumor em qualquer dos orgàos encerrados na cavidade abdominal,
ou em algumas das regiões occupadas pelos ganglios lymphaticos ;
então se deve recear que esse tumor seja de natureza cancerosa ;
mas se o pratico inda assim quizer tentar a ablaçã o do sarcocéle ,
procurará primeiramente resolver por todos os meios proprios o
tumor abdominal. Em fim se o cordão espermatico parece gozar de
uma perfeita integridade, e se o baixo-ventre não mostra pela explo-ração lesão alguma dos orgàos nelle comidos , a operação todavia é
contra indicada se se encontrar os symptomas da diathese can-
cerosa.
Reconhecida a necessidade da operação convêm não prolonga-la .
Se nenhuma indicação particular ha a preencher no estado do en-
fermo , este é preparado pelos meios therapeuticos empregados em
semelhante caso.
O apparelho necessário para a operação compõe-se de ura bistori
de gú me convexo, pinças de dissecar , e de ligadura , uma agulha
curva para o mesmo fim ; tisouras ; fios encerados para ligadura dos
vasos ; chumaços , fios , tiras agglutinativas ; esponja preparada; um
pedaço de pano fino para cobrir a ferida immediatamente ; agoa ;
e uma atadura de T . .
A posição que o enfermo deve guardar 6 a mesma , que se re-
commenda na operação da hernia inguinal. Póde ser operado em
uma cama ordinaria ; poré m para mais commodo do Operador será
collocado em uma meza estreita , e de altura conveniente coberta
com um colxào. () escroto sendo rapado, e o paciente deitado sobre
a cama , ou meza , o Operador colloca-se , seja qual for o test ículo
lesado , sempre do lado direito do doente , que ajudantes conservão
immovel ; e um delles situado á seu lado esquerdo é encarregado
de auxiliar o Operador nas differentes manobras da operação.
Se o sarcocéle é de pequeno volume, e se não existirem lesados,e poderem ser conservados inteiramente os tegumentos que o cobrem,
o Operador fixa o tumor com a mão esquerda pela parte posterior,
oe maneira que seja lançado para a anterior, e que os tegumentos
fiquem estendidos sobre elle pelos dedos pollex , e indicador ; edepois pratica urna incisão que começando na altura do anel super*
MHii« «ne*;* rem*li< i /ii ojrpcriri qmm nullum. Ceta.
15
puhiaiio vá terminar até a parte interior , e uni pouco posterior
Jo escroto. Se pelo contrario o sarcocéle é muito volumoso , e
A pelle se acha lesada , e adhérente á sua superfície , é indispen-sa \ cl extruhir coin elle toda a porção desta membrana alterada , emesmo uma certa porção ainda que sà ; porisso que a sua exube-râ ncia tornaria a cura da ferida longa , e difficil.
de-se a pelle , que cobre o cordão , parallelamente á direcção deste
orgão ; depois fazem-se duas incisões semi — ellipticas que encaradaspor suas concavidades , e suas extremidades reunidas apresentão
retalho de largura variavel , que se extrahe com o tumor sem
desligar -se. As artérias vergonhosas externas que são abrangidas
incisão serão ligadas immediatamente. Apenas os tecidos são
divididos , o testículo sabe atravez da abertura ; porém se senão
apresentar logo por se achar ligado fortemente a pelle pelo tecido
cellular , dissecão se os lá bios da ferida , e desfazem -se desta ma -
neira as adherencias. A dissecção será effectuada por grandes
golpes de bistorí , para que a operação dure o menos tempo pos-
sivel ; mas é preciso proceder se com grande attenção para não in-
teressar a pelle, urethra, e o corpo cavernoso, com os quaes o tumor
está mais ou menos intimamente ligado , quando é muito volumoso.
Deve-se deixar unida a pelle a maior quantidade de tecido cellular, e
dirigir o gume do instrumento para o lado do tumor a fim de evitar a
perfuração do escroto. Depois de separar se o testículo das membranas
que o involvem , isola-se igualmente o cordão testicular , o que se
faz com alguns golpes de bistori dividindo o tecido cellular que o une
ás partes circunvisinhas. Como o corrimento de sangue occasionaria
infiltrações, abcessos, inflatnmações, e seria nesse caso necessá ria a
laqueaçào , este inconveniente se evita ligando logo os vasos , que
existirem abertos.
Separado o testículo , e seu cordão, o Operador examina o estado
deste : se o encontra são fará a secção logo acima do test ículo ; mas
caso contrario a incisão será feita muito além da parte enferma.
A divisão procede-se da maneira seguinte : seguro o tumor pelo
Operadorsem estender o cordão , e este fixado ou por um tena-
culo , ou antes pelos dedos pollex , e indicador de um ajudante ,
é cortado transversalmente abaixo do lugar fixado.
Feita a secção do cordão limpa-se a superficie da ferida para
ver donde corre o sangue , e procede-se depois a ligadura das ar-
térias cada uma de per tí . entre as quaes ha uma muito pequena
unida ao canal deferente por sua parte posterior , (pie convêm não
deixar de ser ligada. Se os orifícios dos canaes arteriaes não forerr.
visí veis, sc moderará a pressão feita no cordão a fim de não impedir
a torrente do sangue , c pôr deste modo patente os vasos que o es-
Ligadas todas as artérias, e examinada com grande attenção
Para isto inci-
u m
na
no
pargem.
IG
toJa a superfície da ferida , se 6e divisa ainda alguma pequena ar*
teria que gottege 6angue, faz-se a ligadura.
Depois de laquear-se todos os vasos , cortão-so perto do nó as
duas extremidades dos fios que os ligarão ; excepto os das artérias
espermaticas que devem ser conservados , e reunidos em feixe no
angulo superior da solução de continuidade ; feito isto , os lá bios
desta cobrem-se de pranchetas de fios depois de postos em contacto,
e conservados nesta situação por tiras agglutinativas. Enche-se
também o espaço comprehendido entre o ) a «lo interno da côxa tanto
do lado operado, como do lado opposto de fios, e compressas estreitas;
para que os lábios da ferida não se apartem, e o escroto fique melhor
sustentado bastando para manter todo o aparelho uma atadura de T.
Terminada a operação conduz-se o doente para o seu leito , e
ahi deve deitar-se sobre o dorso , tendo a cabeça e o peito um
pouco elevados , e as coxas , e pernas estendidas ou em flexão ,
como melhor convier ao enfermo.
Submette-se a uma diéta severa por alguns dias , e ao trata-
mento que exigem as grandes operações. O apparelho não deverá
ser levantado senão ao fim do quarto , ou quinto dia , caso não
se manifeste algum accidente. O tratamento ulterior da ferida 6 o
de toda a solução de continuidade com perda de substancia , ou
sem ella.
A castração seria submettida a regras invariáveis se o mal se
apresentasse sempre debaixo do mesmo aspecto ; mas differentes
circunstancias que acompanhão muitas vezes o sarcocóle exigem
cada uma de per si , que o Operador , que pratica a operação , se
regule menos pelas regras estabelecidas do que por seu genio ,
e circunstancias , que se apresentarem ; como são o tamanho ex-
traordinário do tumor , a ulceração dos tecidos com ou sem en-
gorgitamento das glandulas inguinaes ; a existência de alguma
serosidade da tunica vaginal , c o seu espessamento ; o engorgi-
tamento do cordão espermatico até mui proximo do anel , ou
acima desta abertura ; uma disposição tal do test ículo antes do
desenvolvimento da enfermidade , que o sarcocéle em lugar de se
achar situado abaixo do anel inguinal, e pendente nas bolsas pelo
cordão , esteja ao contrario em contacto immediato com esta aber-
tura , e partes circunvisinhas da parede abdominal, &c. Scc.Sendo
por isso impossivel apresentar todas e cada uma das modificações,
que soífre a operação em cada uma das circunstancias apontadas ,
procuramos dcscreve-la , tal qual se pratica nos casos os mais
ordinários , e simples , e pelo methodo o mais geralmente seguido.
r i M .
1 IIPPOCIIATIS API IORÏSMI.
I.
Ad extremos morbos, extrema remedia exquisité optima. Sect. 1.
aph. (>.
I I.
Cú m morbus in vigore fuerit, tunc vel tenuíssimo victu uti neces-
se est. Sect. 1. aph. 8.
III.
Spontaneæ lassitudines morbos denuntiant. Sect. 2. aph. 5.
IV.
Non satietas, non fames, neque aliud quicquam bonum est, quod
supra naturæ modum fuerit . Sect. 2. aph. 4.
V.
Duobus doloribus simul obortis non in eodem loco, vehementior
obscurat alterum. Sect. aph. 46.
VI.
Somnus, vigilia, utraque modum excedentia, malum. Sect. 7.
aph . 71.
Esta These está conforme os Estatutos. Rio de Janeiro 1.° de
Maio de 1837.
O PRESIDENTE,
Dr. Luiz Francisco Ferreira.
Trr. COMMERCIAL FLEMINKNSK m S. K. Si RU.I IHua dot Ourivtt n. 15. — 1837.
	DSC_0975
	DSC_0976
	DSC_0977
	DSC_0978
	DSC_0979
	DSC_0980
	DSC_0981
	DSC_0982
	DSC_0983
	DSC_0984
	DSC_0985
	DSC_0986
	DSC_0987
	DSC_0988
	DSC_0989
	DSC_0990
	DSC_0991
	DSC_0992
	DSC_0993
	DSC_0994
	DSC_0995

Mais conteúdos dessa disciplina