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 UFRJ Fernando Antonio Lima Damasceno 
 
 
 
 
 
Pensando Sobre o Potencial Turístico para um Circuito na Região de 
Vargem Grande e Recreio, Rio de Janeiro, Brasil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Projeto de Dissertação apresentado à 
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da 
Universidade Federal do Rio de Janeiro, para 
obtenção do grau de Mestre em Ciências 
(M.Sc) da Arquitetura. 
 
Orientador: 
 
Prof. Luís Manoel Cavalcanti Gazzaneo, Dsc 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Rio de Janeiro 
 2006 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Damasceno, Fernando Antonio Lima. 
 Pensando Sobre o Potencial Turístico para um 
Circuito na Região de Vargem Grande e Recreio, Rio de 
Janeiro, Brasil. / Fernando Antonio Lima Damasceno. -
de Janeiro: UFRJ/ FAU, 200
 Rio 
6. 
vi, 127.: il.; 31 cm. 
Orientador: prof. Luis Manoel Cavalcanti Gazzaneo, 
Dsc. 
Dissertação (mestrado) – UFRJ/ PROARQ/ Programa 
de Pós-graduação em Arquitetura, 2006. 
Referências Bibliográficas: f. 114-117. 
1. Desenvolvimento urbano sustentável. 2. Turismo 
sustentável. 3. , Percepção ambiental. I. Gazzaneo, Luis 
Manoel Cavalcanti. II. Universidade Federal do Rio de 
Janeiro, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Programa 
de Pós-graduação em Arquitetura. III. Título. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pensando Sobre o Potencial Turístico para um Circuito na Região de Vargem Grande e 
Recreio, Rio de Janeiro, Brasil. 
 
 
 
Fernando Antonio Lima Damasceno 
 
Orientador: Prof. Luis Manoel Cavalcanti Gazzaneo, Dsc. 
 
 
Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em 
Arquitetura, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do Rio de 
Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre 
em Ciências em Arquitetura, área de concentração em História e Preservação do 
Patrimônio Cultural. 
 
Aprovada por: 
 
 
 
_______________________________ 
Presidente, Prof. Luís Manoel Cavalcanti Gazzaneo, Dsc. PROARQ-FAU-UFRJ 
 
 
 
_______________________________ 
Prof. Cláudia Barroso Krause. Dsc. PROARQ-FAU-UFRJ 
 
 
_______________________________ 
Prof. Marta de Azevedo Irving, Dsc. EICOS-UFRJ 
 
 
_______________________________ 
Prof. Reiner Rosas, Dsc. Dep. de Geografia-UFF-RJ 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2006 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“O cientista não estuda a natureza por ela ser útil; estuda-a porque 
ela lhe apraz, e ela lhe apraz por ser bela. Se a natureza não fosse bela, 
não mereceria ser conhecida, e se não merecesse ser conhecida, não 
valeria a pena viver.” 
 
 Henri Poincaré 
 
 
 In: Weber, Renée, “Diálogos com Cientistas 
e Sábios: A Busca da Unidade”, 1986 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
 
 
 
 
 
À coordenação, corpo docente e aos funcionários do PROARQ da FAU- UFRJ. 
 
Ao Prof. Luís Manoel Cavalcanti Gazzaneo, pela dedicação e ajuda, sem as 
quais, este trabalho não seria possível. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DEDICATÓRIA 
 
 
Dedico este trabalho aos 
meus pais e minha esposa, 
pela dedicação, compreensão 
e apoio. E a minha filha 
nascida durante este curso, 
que ajudou a iluminar a minha 
vida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 12 
CAPÍTULO I – O TURISMO SUSTENTÁVEL COMO ALTERNATIVA DE 
DESENVOLVIMENTO LOCAL .............................................................................................. 17 
1.1 – Sustentabilidade: mudando os paradigmas do desenvolvimento humano. ................................... 17 
1.2- O Turismo Sustentável: Construindo um Turismo com Consciência Sócio-Ambiental. ................. 22 
1.3 - Corredores Turísticos: conceitos e definições. .............................................................................. 31 
1.3.3- Estrada Real.................................................................................................................................. 36 
1.3.4- Caminhos Singulares do Turismo e do Artesanato da Baixada Litorânea – RJ........................... 39 
1.3.5- A Rota Jardim: Cidade do Cabo- Port Elisabeth, África do Sul .................................................... 44 
CAPÍTULO II – ARQUITETURA, PERCEPÇÕES E CAMINHOS................................... 48 
2.1 - A Relação Objeto-Observador e Aspectos Históricos e Filosóficos da Percepção da Paisagem 
pelo Homem............................................................................................................................................. 48 
2.2 - A Importância dos Objetos Arquitetônicos e Sua Percepção Como Produto Turístico. A 
Construção da Imagem do Lugar. ........................................................................................................... 58 
2.3 - Legibilidade e Percepção do Cenário ............................................................................................. 63 
2.3.1 - Percepção ambiental: instrumento para releitura dos espaços turísticos e auxiliar dos 
inventários................................................................................................................................................ 69 
CAPÍTULO III_ ESTUDO DE CASO ...................................................................................... 71 
3. 1 - Histórico e tendências de desenvolvimento urbano de Vargem Grande e Recreio dos 
Bandeirantes............................................................................................................................................ 71 
3. 2 - Políticas públicas e projetos do poder municipal para o local........................................................ 77 
3.3 - Atrativos do caminho entre Vargem Grande e Recreio: avaliação e percepção do percurso. ....... 79 
CAPÍTULO IV- CRIANDO CAMINHOS ALTERNATIVOS PARA O 
DESENVOLVIMENTO............................................................................................................ 108 
V- CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 113 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................... 118 
ANEXO....................................................................................................................................... 122 
PEU – VARGENS.................................................................................................................................. 122 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
Pensando o Desenvolvimento Urbano Sustentável da Região de Vargem Grande e 
Recreio, Através de Estudo de Percepção Ambiental 
 
 
Damasceno, Fernando Antonio Lima 
 
 
Orientador: Gazzaneo, Luis Manoel Cavalcanti, Dsc. 
 
 
 
Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação 
em Arquitetura, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do Rio 
de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de 
Mestre em Ciências em Arquitetura. 
 
 
 Este estudo propõe uma reflexão sobre as alternativas para o 
desenvolvimento sustentável dos bairros de Vargem Grande e Recreio dos 
Bandeirantes, zona oeste do Rio de Janeiro. Entre as possibilidades existentes, o 
turismo sustentável pode viabilizar o crescimento em harmonia com a natureza e 
respeito às futuras gerações, se colocar em prática a integração entre os diversos 
campos de conhecimento, a correta compreensão do espaço e a consolidação de 
atrativos que atendam as demandas turísticas, sem cair no fenômenodo uso de 
padrões visuais repetitivos. 
O urbanista Lúcio Costa ao desenvolver o Plano Piloto para a Barra da Tijuca 
em 1969, objetivou preservar as características ambientais do ecossistema desta 
região. Entretanto, a contínua necessidade de áreas de expansão do Rio, transformou a 
idéia original, causando grandes impactos ambientais, levando o poder público a 
discutir a implantação de um novo Projeto de Estruturação Urbana, em busca da 
solução destes conflitos. 
A metodologia de percepção ambiental desenvolvida por Kevin Lynch, 
influenciado pela escola da “Gestalt”, fez um trabalho pioneiro sobre a impressão que 
 
as cidades americanas provocavam na imaginação de seus habitantes e obteve dados 
sobre a memória coletiva com os quais, poderiam ser traçadas diretrizes de design. 
Aqui utilizaremos partes desta metodologia para inventariar os principais atrativos e 
elementos identitários, hierarquizando sua relevância numa rede estruturada de objetos 
arquitetônicos. 
 
Este estudo, portanto, oferece um panorama crítico da região em questão e um 
ponto de vista alternativo, na busca do equilíbrio entre crescimento e preservação, se 
pautando pela opção pragmática da sustentabilidade. 
 
 
 
 
 Palavras-chave: Desenvolvimento urbano sustentável, Meio ambiente, Turismo 
sustentável, Objetos arquitetônicos, Inventário de atrativos turísticos, Percepção 
ambiental, Projeto de Estruturação Urbana 
 
 
 
ABSTRACT 
 
Evaluation of Sustainable Touristic Potential in Vargem Grande and Recreio Region, 
Using Environmental Perception Tecniques 
 
 
Damasceno, Fernando Antonio Lima 
 
 
Orientador: Gazzaneo, Luis Manoel Cavalcanti, Dsc. 
 
 
 
Abstract da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação 
em Arquitetura, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do Rio 
de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de 
Mestre em Ciências em Arquitetura. 
 
 
This study proposes a reflection about the alternatives for the sustainable 
development of Vargem Grande and Recreio dos Bandeirantes, west of Rio de Janeiro 
city, Brazil. Amongst many choices, the sustainable tourism can improve growth in 
harmony with nature and respect to the next generations, if combines different 
knowledge fields, environmental understanding and develop facilities which could satisfy 
touristic demands, without repetitive architectural patterns. 
 In 1969, the brazilian urbanist Lúcio Costa developped the planning for Barra 
da Tijuca and moved by modernism influences, delimited spaces with predefined 
functions, trying to preserve environmental and landscape conditions. However, the 
continuous growing of Rio urban area, changed the original idea, causing harmfull 
impacts as unlegal occupations and polution of water resources. Alarmed by these 
conditions, municipality started to develop a new urban planning process, in order to 
solve and mediate those conflicts. 
The environmental perception techniques developed by Kevin Lynch, who was 
influenced by “Gestalt” researches, resulted in the first effort to comprehend the 
impression caused by american cities in their citizens’ imagination. He obtained 
important data about colective memories, which could be used in urban design 
methodes. Some elements of this methodology will be used in the present study, in 
 
order to make an inventory of touristic atractive sites and achieve their relevance in this 
structurated net of architectonic objects. 
This paper offers a contribution and an alternative point of view about the search 
of sustainable alternatives for Rio Janeiro city, and its main challenge: ballance of 
economic growth and environmental preservation. 
 
 
 Key-words: Sustainable urban development, Environment, Sustainable Tourism, 
Architectonic objects, Touristic sites inventory, Enviromental Perception, Urban structure 
project 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 INTRODUÇÃO 
 
A região da Barra da Tijuca, na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro, se 
manteve até meados do séc. XX como um espaço relativamente preservado, devido ao 
seu isolamento geográfico em relação à malha urbana carioca. Com o Plano Lúcio 
Costa de 1969, a Barra, Jacarepaguá e suas áreas adjacentes Vargem Grande e 
Recreio dos Bandeirantes, tiveram um modelo de desenvolvimento diferenciado do 
restante da cidade. 
 
O modelo modernista adotado por Lúcio Costa, reconhecido pela primazia dada 
aos automóveis e grandes áreas livres pontuadas por conjuntos de torres, dotou a 
Barra de uma organização espacial peculiar em comparação a outros bairros já 
consolidados. Representa na história do Rio, o espaço ideal de expansão de sua área 
urbana, e desta forma, a partir do final dos anos 60 e início da década de 70 do séc. 
XX, esta região se configurou como novo “Eldorado” para a indústria imobiliária e da 
construção. O crescimento populacional acelerado não foi acompanhado com a mesma 
rapidez, pela infra-estrutura de saneamento básico, água e serviços públicos. Em 
conseqüência, o complexo sistema de lagoas e canais da área, se tornou saturado pelo 
despejo do esgoto in natura e lixo. 
 
 Vargem Grande,1 (ver fig.1) está situada na vertente leste do Maciço da Pedra 
Branca e forma com Vargem Pequena, Camorim, um conjunto de bairros que possuem 
encostas de forte gradiente, com cobertura de floresta de grande diversidade de 
vegetação e contígüos a uma grande baixada inundável, que os separa do litoral. 
Dentro do zoneamento do Plano Lúcio Costa, Vargem Grande estava situada dentro 
da área agrícola ou zona rural do município do Rio de Janeiro, e pelo menos até 
trinta anos atrás, se destacava pela produção de hortaliças, mas devido a falta de 
 
1 COSTA, Vivian Castilho da.”Potencial para o turismo ecológico das trilhas Rio Grande e Camorim- Parque Estadual 
da Pedra Branca ( PEPB-RJ)” In X SIMPÓSIO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA FÍSICA APLICADA site : < 
geografia.igeo.uerj.br> acessado 20 de abril 2004.p2 
12 
manutenção de canais de drenagem pelo poder público, entrou num rápido processo de 
decadência2. Desde então, gradualmente, sítios e fazendas vem se transformando em 
sedes de empresas, clubes, haras e principalmente, a partir da década de 1990, em 
condomínios residenciais para a classe média. 
 
O Recreio dos Bandeirantes e a Barra da Tijuca, apresentam características 
naturais mistas de áreas de baixada litorânea com ocupação rarefeita, vegetação de 
restinga, lagoas e um litoral com praias ainda em excelente condições de 
balneabilidade e preservação de suas paisagens naturais. Da mesma forma que 
Vargem Grande, o Recreio também sofre problemas de caráter ambiental devido ao 
crescimento urbano acelerado, invasões e loteamentos clandestinos e, o mais grave, 
falta de saneamento básico abrangente e uma ausência de normas de construção mais 
atuais, que façam frente às pressões da indústria de construção civil e sejam 
adequadas aos limites de crescimento impostos pelo meio ambiente local. Há alguns 
anos, a prefeitura do Rio de Janeiro vem realizando estudos no sentido de formular um 
novo P.E.U. (Plano de Estruturação Urbana) para a região e após diversas consultas 
aos diversos atores sociais envolvidos, o projeto está sob a análise da Câmara de 
Vereadores e será um dos temas de nosso estudo, por envolver propostas que 
possivelmente causarão importantes desdobramentos na evolução urbana local. 
 
No processo milenar de criação das cidades e vitória sobre os limites impostos 
pela natureza, a percepção humana e a cultura moldaram o espaço geográfico, 
antropomorfizando-o. Antes plena de reverência ou medo, a relação Homo-Sapiens-
Natureza a partir da revolução técnico-científica, ficou marcada pelaambição que julgou 
 inesgotáveis os recursos oferecidos pela Terra. Atualmente a humanidade se encontra 
num patamar crítico, devido ao nível de degradação causado pela exploração 
 
 
2 BICALHO, Ana Maria de Souza Mello,in ABREU, Maurício de Almeida (org.), “Natureza e Sociedade no Rio de 
Janeiro”Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Esportes.Departamento Geral de Documentação e Informação 
Cultural, Divisão de Editoração. 1992. p.309 
13 
 desenfreada de recursos não renováveis, chegando ao ponto de gerar conseqüências 
que ultrapassam fronteiras, alteram o clima e o equilíbrio das estações. 
 
A partir da década de 1960, ambientalistas e cientistas de diversas áreas 
preocupados com este quadro, começaram a propor novas formas de relacionamento 
com a natureza, de gestão de processos industriais, padrões de consumo e em formas 
alternativas de energia. Após mais de 40 anos de debates, pode-se perceber que os 
conceitos de sustentabilidade, vem se afirmando como a alternativa para uma 
transformação cultural e ideológica. 
 
A sustentabilidade possui também entre suas principais características, servir 
como paradigma das transformações de políticas públicas de planejamento urbano e 
atividades empresariais. Conciliando a ambas, surge a alternativa do Turismo 
Sustentável. O turismo é uma indústria que vive de um paradoxo: sua matéria-prima, a 
paisagem, não pode ser afetada pelo crescimento desordenado da atividade em si, sob 
o risco de degeneração ou extinção de ambas. O turismo sustentável, carrega em si, a 
necessidade de um exercício de inter-disciplinaridade, se utilizando de conhecimentos 
de áreas diversas como arquitetura, urbanismo, psicologia, geografia ou economia. Em 
complemento, precisa respeitar as necessidades específicas do viajante, visualizar os 
impactos no meio ambiente e dar voz às populações e culturas visitadas, principais 
interessadas e normalmente, as que sofrem as maiores conseqüências do excessos do 
fluxo turístico. 
 
O primeiro capitulo esboçará um quadro histórico e conceitual buscando o 
entendimento da transformação da ideologia ecológica, de uma utopia de convivência 
harmônica com a natureza no fim dos anos 60, para sua assimilação pelos meios 
científicos, empresariais e políticos, como demanda da sociedade por uma maior 
qualidade de vida agregando entre suas idéias, conceitos filosóficos humanistas 
reafirmados no contexto pós- Conferência Rio 92. 
14 
 
Continuando nesta linha de raciocínio, a indústria turística também viu surgir 
como resposta aos impactos naturais e sociais decorrentes de suas atividades o 
turismo ecológico, onde pequenos grupos exploravam regiões ainda preservadas do 
planeta em busca de paisagens inéditas ou exóticas longe do turismo de massa. Neste 
capítulo se avaliam os potenciais do turismo realizado sob a forma de caminhos 
cênicos, complexos estes, que envolvem diversas variáveis e seu impacto real no meio-
Ambiente e nas culturas locais. Serão utilizados para este fim exemplos nacionais e 
internacionais de caminhos turísticos similares ao proposto neste estudo. 
 
O segundo capítulo dá maior peso aos conceitos e metodologias de percepção 
dos diversos componentes do espaço urbano. Os objetos arquitetônicos e suas 
ambiências tem uma importância fundamental na construção e estruturação de 
caminhos turísticos, pois ajudam na elaboração de um modelo coerente, uma 
identidade específica que se destaca entre as diversas paisagens existentes dentro de 
um ambiente urbano. Conforme Milton Santos ( apud Meneses,2002:30) afirma, o 
espaço são estas paisagens mais a vida que o anima, ou seja um fluxo entre dois 
pólos; o observador e o objeto perpassados pelo continuum do tempo. Entre estes 
existe uma sutil relação, que é filtrada pela memória, os estereótipos pessoais e os 
sentidos. Nesta estreita vinculação se pode identificar as pistas da “imaginabilidade”3, 
característica fundamental das cidades marcantes e caminhos turísticos bem 
sucedidos. 
 
No capítulo seguinte será apresentado o perfil histórico da região de estudo, 
mostrando sua evolução urbana e uma análise do P.E.U local preparado pela 
Secretaria de Urbanismo do Município do Rio de Janeiro e seus possíveis impactos 
para o futuro e a sustentabilidade local. E, concluindo o trabalho, a partir da 
metodologia de pesquisa de Kevin Lynch, serão demonstrados os dados obtidos em 
 
3 Conforme Lynch, Kevin. “ A Imagem da Cidade”. São Paulo: Martins Fontes, 1997, pp.11 
15 
campo a partir de levantamentos e mapas- síntese, comparando se os dados obtidos a 
partir da observação direta, estão contemplados nas diretrizes de desenho urbano 
atualmente desenvolvidas pelo poder público, além de investigar a imagem mental 
provocada por estes espaços, estabelecendo um inventário das atrações e objetos 
arquitetônicos relevantes. 
 
 
 
Figura 1 - área de estudo. Esc 1:35000 .Fonte: Secretaria Municipal de Urbanismo da Prefeitura Municipal do 
Rio de Janeiro,“PEU de Vargem Grande e Recreio”, In ADEMI-RJ (2004) 
 
 
16 
CAPÍTULO I – O TURISMO SUSTENTÁVEL COMO ALTERNATIVA DE 
DESENVOLVIMENTO LOCAL 
 
1.1 – Sustentabilidade: mudando os paradigmas do desenvolvimento 
humano. 
 
“Desenvolvimento Sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem 
limitar o potencial para o atendimento das necessidades das gerações futuras.” 
 (COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE e DESENVOLVIMENTO apud 
RüGER et al., 2003, p77) 
 
A definição acima é o ponto de partida para que Tuleda em seu artigo “Por Uma 
Cultura de Sustentabilidade Urbana” (In ALVA, 1997:24), traga à tona o conflito entre o 
crescimento urbano e econômico e o equilíbrio ecológico, procurando demonstrar que o 
conceito de desenvolvimento sustentável não se compara a um estado final a ser 
alcançado, mas a um processo : 
 
“... uma transição para graus de racionalidade crescente, regida por um projeto cultural 
que transcende os âmbitos biofísicos, econômico ou político, ainda que envolva a todos 
eles...” (TULEDA, In: ALVA,1997, p.24) 
 
Mesmo assim, o próprio pesquisador revela a contradição que aflige a 
humanidade, que se vê entre conservar os recursos ambientais e manter aberto o 
leque de opções das futuras gerações. Complementa este entendimento outra definição 
importante: 
 
“... Sociedade Sustentável é aquela que satisfaz suas necessidades sem diminuir as 
perspectivas das gerações futuras” (LESTER BROWN apud MARTINS, 2004: 1) 
 
Mas até se chegar a estas definições um longo caminho foi percorrido. Devido 
aos impactos causados pela poluição industrial dos países ricos e o crescimento 
17 
populacional explosivo dos países em desenvolvimento, verificados a partir das 
décadas de 60 e 70, a comunidade científica internacional voltou sua atenção para a 
questão ecológica e começou a desenvolver novas diretrizes comportamentais e 
técnicas em relação ao meio-ambiente. A pressão dos grupos ecológicos nascentes e o 
apoio da mídia garantiram à causa ecológica, o status de uma ideologia política 
pragmática, numa época de extremos como a Guerra Fria. 
 
Datam desta época os primeiros foruns internacionais, organizados a fim de se 
diagnosticar de maneira precisa, o real estado do planeta e estabelecer formas de 
convívio entre o crescimento econômico e a preservação dos diversos ecossistemas. 
Entre eles, destacam-se: o Relatório “Limites do Crescimento” do Clube de Roma de 
1971 e a Conferência Mundial de Estocolmo realizada em 1972. A conferência de 
Estocolmo teve como méritos, colocar pela primeira vez frente a frente, os países ricos 
do norte e os países em desenvolvimento do hemisfério sul e tornar claras as 
diferenças ideológicas entre ambos. 
 
A Conferência de Estocolmo resultou na explicitação das diferenças 
ideológicas daquelemomento. Elas eram fortes o suficiente para dividir a opinião 
pública internacional através do jogo da mídia, e de interesses estratégicos e políticos. 
A pecha de “vilão” ambiental começou a ser atrelada ao Brasil a partir daquele 
momento pela mídia européia, que o acusava de pretender destruir a Amazônia, o 
“pulmão do mundo”, além de tentar atrair indústrias poluentes que pretendessem fugir 
dos rigores da legislação ambiental mais exigente em nos países desenvolvidos. 
 
Ao final da conferência foi aprovada a Declaração de Estocolmo, que espelha 
bem a divisão ideológica presente durante todo o evento e teve como principais 
resultados, a reafirmação da soberania dos Estados sobre seus territórios e seus 
recursos naturais, além da responsabilidade de assegurar que suas atividades não 
causassem danos além de suas fronteiras e a criação do Programa das Nações Unidas 
para o Meio Ambiente, PNUMA, cuja responsabilidade seria de coordenação, 
divulgação e discussão de temas ambientais. 
18 
 
Estocolmo 1972 representou para muitos países inclusive o Brasil, a chance de 
perceber que o problema ambiental era um problema comum tanto aos países ricos 
como aos pobres e que todos sofreriam limitações em seu desenvolvimento. Para o 
Brasil, como conseqüência direta da conferência, houve uma mudança na sua 
administração ambiental com a criação em 1973 da Secretaria do Meio Ambiente, 
subordinada ao Ministério do Interior. 
 
Após os dois choques do petróleo da década de 70, a preocupação com a 
busca por alternativas energéticas renováveis e limpas começou a se tornar estratégica 
para a sobrevivência das nações. E ao redor do mundo, continuaram novas tentativas 
de modificar o padrão de utilização de recursos naturais, com o início da aplicação das 
iniciativas de reciclagem de lixo doméstico e industrial através de várias campanhas de 
conscientização. Simultaneamente, eram divulgados mais dados sobre o “efeito estufa” 
(aquecimento do planeta devido a retenção do calor solar por uma camada de gases 
poluentes) e do enfraquecimento da camada de ozônio resultando na exposição de 
certas regiões do planeta às perigosas radiações ultravioleta. Este último fato levou à 
assinatura de um protocolo internacional banindo o uso dos CFCs, ou 
clorofluorcarbonos existentes em sprays e gases de ar-condicionado e refrigeradores 
responsáveis pela destruição do ozônio. 
 
A década de 80 testemunhou uma mudança de paradigma em relação aos usos 
e responsabilidades sobre os recursos do meio ambiente, além do fortalecimento das 
organizações não governamentais. Em 1987, a publicação do relatório da Comissão 
Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas: Nosso Futuro 
Comum, revelou os impactos dos diversos conflitos entre o interesse econômico e a 
capacidade de adaptação e resiliência4 dos ecossistemas. Além disso reflete a urgência 
na adoção de parâmetros atualizados para o desenvolvimento que tenham como 
metas principais a qualidade de vida e das atividades humanas em harmonia com a 
 
4 Capacidade do meio ambiente de se regenerar após uma intervenção antrópica, segundo Bremer, Ulissse Franz in 
“Por Nossas Cidades Sustentáveis”. In CONFEA (Org.). “Exercício Profissional e Cidades Sustentáveis”. São Luis, 
CONFEA, 2004, p.143 /182. 
19 
preservação do meio ambiente. Divisor de águas do novo paradigma, o relatório 
reafirma o conceito de “desenvolvimento sustentável”, percebendo que o curso da 
história atual, baseada no crescimento econômico infinito, no materialismo, egoísmo, 
desigualdade e na visão superficial da natureza como depósito de lixo ou fonte de 
riquezas sem fim pode levar a humanidade a auto-extinção. 
 
 A partir deste importante documento se percebe que: 
 
“a noção de desenvolvimento humaniza-se e passa a incluir a preocupação com as 
futuras gerações. Enxergando o desenvolvimento sustentável como um processo, o 
documento preconiza a reorientação de uso dos recursos naturais, da tecnologia, de 
investimentos, das instituições e das leis, bem como a adoção de novos valores nos 
quais o respeito à eqüidade, à justiça, à vida prevaleçam.” (FRAGA, 2003.p2) 
 
Em decorrência deste quadro alarmante e no intuito de revisar os avanços 
obtidos desde Estocolmo, a Assembléia Geral da Nações Unidas aprovou uma 
resolução convocando a primeira conferência internacional de grande porte após o fim 
da Guerra Fria, a Rio-92, que viria a se tornar um marco histórico para a prática do 
Desenvolvimento Sustentável e uma oportunidade singular para o Brasil reverter sua 
imagem de vilão ambiental e passar também a ser formulador de propostas e 
experiências ambientais de relevância mundial. 
 
A partir da Conferência do Rio – a RIO-92, o conceito de desenvolvimento 
sustentável é enriquecido com novas reflexões e vai se firmando a noção de 
sustentabilidade ampliada e de sustentabilidade como um processo. A primeira 
promove a integração da Agenda Ambiental com a Agenda Social, enunciando a 
indissociabilidade entre os fatores sociais e os ambientais – apresenta a necessidade 
de se tratar, concomitantemente, os problemas ambientais com aqueles relacionados à 
pobreza. A segunda proclama que a sustentabilidade não é um estado permanente, 
mas um processo que deve passar por revisões e adaptações impostas pelas 
respostas, dentro de uma visão sistêmica dos fenômenos que a envolvem. 
 
20 
Sintetizando, na sua essência, o conceito de desenvolvimento sustentável 
promove, de acordo com Fraga (2003.p3): 
 
 ampliação da visão de desenvolvimento: quando o define como mais 
do que o crescimento econômico 
 a permanência do desenvolvimento: quando insere a preocupação 
com as futuras gerações 
 a extensão do desenvolvimento: quando o apresenta como 
necessário em todos os países (implicações planetárias do desenvolvimento) 
 um processo de mudança para o desenvolvimento: quando indica a 
necessidade de reorientação de uso dos recursos naturais, da tecnologia, dos 
investimentos, das leis e das instituições, e a adoção de novos valores pela sociedade. 
 
A busca por ações realistas e pragmáticas está entre um dos principais 
esforços da ONU, que mesmo enfraquecida politicamente, reafirmou na Conferência 
Rio+10 em Joanesburgo, África do Sul, em 2002, o compromisso com a 
sustentabilidade. O Brasil em conjunto com os países membros da ONU se 
comprometeram com a extinção da pobreza e a sustentabilidade do planeta. 
 
De acordo com Rüger et al. (2003:78), o desenvolvimento sustentável pode ser 
entendido como um processo de transformação da sociedade, caracterizado por 
modificações em sua estrutura produtiva, além de transformações de caráter cultural e 
política. Para o alcance de metas realistas é necessário uma profunda revisão dos 
valores há muito arraigados e principalmente, uma relação mais eqüitativa entre os 
países desenvolvidos, emergentes e subdesenvolvidos. 
 
 
 
 
21 
1.2- O Turismo Sustentável: Construindo um Turismo com Consciência 
Sócio-Ambiental. 
 
O turismo passou por várias fases evolutivas desde o séc. XIX, quando era 
restrito a uma camada privilegiada da aristocracia européia, até os dias atuais quando 
se tornou uma atividade econômica complexa, que movimenta bilhões de dólares ao 
redor do mundo. O desenvolvimentismo das décadas do pós-2ª guerra e anos 70, no 
séc. XX, estimulou o crescimento exagerado das cidades em termos populacionais e 
espaciais, e o turismo, teve uma participação importante no crescimento urbano de 
regiões de interesse cênico ou histórico, impondo alguns modelos de expansão 
inadequados. 
 
Pierre Escorrou (1985: 177), identifica as duas principais formas pelas quais o 
turismo causou impactos no meio ambiente: pelo deslocamento dos turistas e das 
próprias modificações introduzidas nos espaços para adaptações da atividade turística. 
Além disso,afirma que a atividade turística carrega em si uma contradição: o turista 
comum quer desfrutar de novas paisagens ao mesmo tempo em que quer manter o 
mesmo nível de conforto de seu lar urbano. As conseqüências destas necessidades, 
revelam que a atividade turística pode se tornar uma “devoradora” de espaços, se 
manifestando através de um círculo vicioso através do qual o agente inicial, o turista, 
busca a beleza cênica (ou tradição histórica, cultural, etc), se este desejo é satisfeito e 
é bem atendido, o marketing informal do boca-a-boca e o marketing institucionalizado 
realimenta continuamente o fluxo turístico. 
 
Escorrou (op. cit.:178), a partir de suas pesquisas sobre fluxos de visitação em 
cidades mediterrâneas francesas, percebeu que o aumento das demandas de serviços 
(hospedagem, traslados, refeições, etc.) para atendimento dos turistas, levou a duas 
possibilidades: destruição ou decadência do espaço visitado, levando a indústria 
turística a partir em busca de novos destinos, ou: aplicação dos parâmetros de 
sustentabilidade e repontencialização do espaço, com controle do fluxo (barreiras 
22 
físicas ou econômicas), e renovação do ciclo de vida turístico em bases mais 
proporcionais à capacidade de assimilação dos destinos. 
 
O turismo de acordo com Escorrou (op.cit:185), pode ser um destruidor do 
espaço por outras razões, já que ele também ocupa vastas superfícies às vezes se 
utilizando delas apenas nas altas temporadas; modifica a aparência local não levando 
em conta tradições construtivas vernaculares e introduz edificações inadequadas em 
termos de gabarito ou estilo ao espaço, podendo desprezar em nome do lucro fácil, os 
elementos indispensáveis do conforto ambiental, como temperatura, insolação e vento 
e a destinação adequada aos despejos hidro-sanitários. 
 
A atividade turística como a maioria das criações humanas, possui 
ambigüidades, tendo como lado positivo a conscientização, a troca de experiências 
culturais e da dinamização de cidades; enquanto que o lado negativo se sobressai pela 
“fome” exagerada por espaços “virgens”, a pasteurização de culturas locais e a 
tendência a ver a natureza, como simples objeto de consumo (fetichismo). Desta 
forma, mesmo marcado por essas idiossincrasias, o turismo pela sua abrangência, se 
torna uma das formas estratégicas de assimilação dos princípios do desenvolvimento 
sustentável. 
 
A definição de turismo sustentável segundo a Carta do Turismo Sustentável do 
ICOMOS, de 1997 ( apud MARTINS, In: LEMOS,2001:63) o define como: 
 
“...aquele que pretende otimizar o desenvolvimento econômico com base 
local sob condições que assegurem não só a qualidade dos serviços oferecidos, mas 
também e principalmente a salvaguarda do patrimônio, que deve ser mantido e 
restaurado com os recursos auferidos. Garantindo-se assim a manutenção das 
atividades no presente e no futuro, tendo em vista o ciclo de vida do turismo....” 
 
 
O planejamento de espaços turísticos sustentáveis envolve mais do que 
simplesmente bons projetos arquitetônicos ou urbanísticos, transcende estas duas 
23 
esferas se apropriando de áreas de conhecimento tão díspares quanto economia; 
sociologia, geografia ou psicologia. Terminologias específicas à parte, estas áreas 
acabam por tangenciar simultaneamente o impacto que o homem, como ser cultural, 
causa e sofre no espaço. Aliás, como afirma Milton Santos (apud MENESES,2000:30) : 
“o espaço é a paisagem mais a vida que o anima”. Sendo assim, o espaço turístico por 
possuir características peculiares, precisa de abordagens múltiplas para reconhecer a 
singularidade da “vida” que o anima, vida com diferentes níveis de manifestação e 
exigência no continuum do espaço-tempo. 
 
O que torna certos trechos das cidades atraentes ao “olhar turístico” e pode 
passar despercebido ao transeunte comum, é uma soma de diversos fatores 
concentrados em um dado espaço, por exemplo: a história oficial ou a feita de tradições 
orais que revestem um monumento ou um bairro antigo, que se diferencia do tecido 
urbano por transmitir a agradável e difusa sensação de respeito à escala humana. 
Outros fatores podem intervir também, como o contraste de áreas ambientalmente 
frágeis nas margens de grandes cidades. 
 
A composição geográfica do espaço turístico também influencia diretamente na 
forma de sua compreensão. Dado um espaço restrito de uma cidade colonial, teremos 
uma dinâmica própria de deslocamento e composição dos atrativos, enquanto que nos 
roteiros mais difusos como estradas cênicas, os atrativos podem estar dispersos ou 
agrupados por focos de interesses, como vinhedos numa região, cultivo de flores em 
outra parte, sendo ambas interligadas por um percurso que pode ser efetuado de várias 
formas conforme sua extensão. Como no exemplo do Caminho de Santiago na 
Espanha ou na Estrada Real no Brasil. Os caminhos turísticos e/ou cênicos requerem 
por parte de seus planejadores diversos níveis de interpretação e percepção e como foi 
dito anteriormente, a consciência de que nenhuma disciplina isolada consegue dar 
conta na contemporaneidade, dos fenômenos inerentes aos espaços urbanos, mais 
ainda com o componente do turismo sustentável envolvido entre suas diversas 
variáveis. 
 
24 
A consciência destas limitações, entretanto, não impede que os planejadores 
disponham de elementos e ferramentas delineadoras dos anseios do turista. Entre elas, 
métodos de mapeamento das experiências de percepção das diversas ambiências 
encontradas nos espaços turísticos, e pesquisas quantitativas e qualitativas que 
possam aferir tendências comportamentais e expectativas, que habitam no emocional e 
na psiquê de viajantes e visitados. 
 
 O turismo é uma atividade componente da indústria de consumo de massa e 
vetor de desenvolvimento. Se tornou um fenômeno abrangente e complexo, assim 
como o comportamento do seu agente principal, o turista, também demonstra variantes 
que se revelam de acordo com suas expectativas, experiências pregressas e focos de 
interesse. Uma das formas mais básicas de se classificar o desejo no olhar do turista, 
foi traduzida na expressão “tourist gaze” criada por John Hurry (1990,1995 apud 
MENESES, 2002:37). Nela se incluem duas modalidades principais: um pólo pertence 
ao romantismo, individualismo, experiências solitárias, numa busca contemplativa de 
uma natureza virgem e intocada, onde as mensagens de autenticidade, transcendência 
e a sensação de um prazer superior não estão reservadas a todos. 
 
Este perfil se encaixa no turismo ecológico ou em roteiros de luxo 
personalizados. No outro pólo, o indivíduo se deixa levar pela segurança de uma 
pequena coletividade, na verdade co-participantes que desfrutam de um lugar muitas 
das vezes “na moda”, reafirmando os valores previamente atribuídos à paisagem pelo 
mercado. Este último pólo está diretamente associado ao turismo de massa. 
 
 Sobre o turismo e sua relação com a paisagem Ulpiano Meneses afirma: 
 
 “O turismo e a paisagem tem enorme e inegável potencial de fecundação mútua e 
enriquecimento da vida humana. Não é, porém, um potencial que se atualize 
automaticamente. São as hierarquias de interesses humanos e as estruturas dentro das 
quais eles se expressam e operam que definem as condições segundo as quais esse 
potencial poderá realizar-se ou, ao contrário, dar lugar a mais um instrumento de 
exclusão social e embotamento da consciência crítica.” (MENESES,2000:61) 
 
25 
Em “A paisagem como fator cultural” o escritor Ulpiano Meneses (2000:32), 
explicita que a apropriação estética é fundamental na construção da paisagem, pois liga 
o universo rico da percepção humana ao mundo externo consolidando a noção de que 
não há paisagem sem observador. Sendo assim, poderia se afirmar também que sem 
memória e cultura a paisagem não existirá. Pelo menos não como ícone com 
significado imanente e sim como meroobstáculo geográfico a ser transposto, possuidor 
de nomenclatura específica: montanha, deserto, mar, etc. 
 
Meneses em “Turismo: espaço, paisagem e cultura” (1996:96,98), se utiliza de 
instrumentos de análise interessantes, em que ele descreve a forma que visitantes e 
habitantes divergem no momento de se relacionarem com o “ bem cultural”. 
 
Os visitantes desenvolvem a título de sua restrita gratificação ao sentido da 
visão e segurança emocional o chamado “voyeurismo cultural”. E em visitas guiadas por 
roteiros previamente conhecidos, é extremamente corriqueiro o fenômeno descrito 
como pseudo-evento, onde o que o guia diz aos visitantes que eles estão vendo, é mais 
importante do que eles estão vendo de verdade. Isto se contrapõe diretamente ao ritmo 
individual de um habitante com envolvimento mais intenso, sujeito aos ritmos subjetivos 
de suas memórias afetivas. 
 
Posto isto, percebe-se que identidade e percepção da paisagem são 
fundamentais na identificação da viabilidade técnica da exploração turística sustentável 
local, pois grande parte do que é afetivamente precioso para o habitante comum de 
uma dada localidade, pode esconder um potencial de interesse turístico se colocado de 
forma valorizada ou atraente, ou conforme a terminologia francesa: mis en valeur 
touristique. 
 
Podemos afirmar então por dedução lógica, que uma atividade do turismo 
contém em si o potencial econômico comprovado e mais além, o sentido de uma 
experiência pessoal de caráter educacional, afetando o campo dos sentidos e das 
emoções. 
26 
 
Entrar em contato real com a natureza ou paisagem idealizada em sonhos nos 
leva a estimular nossa percepção ou entrar em contradição com nosso modo de ser, 
causando uma sensação de estranhamento e reeducação. Altera as formas de 
relacionamento com a vida, enriquece a memória e a cultura pessoal, alargando os 
horizontes existenciais. Se neste processo houver a incorporação de uma nova ética de 
interação com o outro e/ou o mundo natural, a experiência turística sustentável pode se 
converter numa das forma mais eficazes de transformação do mundo. 
 
Após a década de 80, quando o fluxo turístico no Brasil foi drasticamente 
afetado por problemas da economia nacional ou questões envolvendo sua imagem por 
causa da violência urbana, a atividade do turismo se recuperou gradativamente, e no 
biênio de 2002-20045 , recebeu mais de 4.5 milhões de turistas internacionais. Entre 
alguns dos principais motivos, pode-se citar a estabilização econômica trazida pelo 
Plano Real, o aumento dos vôos charter para o nordeste diretamente da Europa, 
atração do turismo de negócios e um fator muito importante: o grande desenvolvimento 
do turismo de natureza e aventura, beneficiado pelo incremento do fluxo turístico 
doméstico. No bojo desta recuperação o Rio de Janeiro, apesar de ter perdido a 
posição de principal portão de entrada do país para São Paulo, detém ainda cerca de 
38% do volume de turistas provenientes do exterior, além de incentivar uma maior 
permanência dos visitantes pela divulgação de roteiros em suas cidades costeiras 
famosas como Búzios ou Paraty. 
 
Segundo o Ministério do Turismo6, a meta prevista para 2007, é atrair 9.000.000 
de turistas, acompanhando a média de crescimento de 5,2% ao mês desde 2000. A 
previsão divulgada pela OMT é de que o Brasil poderá atrair até 14.000.000 de turistas 
até 2020. A partir da divulgação destes números, percebemos que as metas além de 
ambiciosas, causam preocupação pelos impactos negativos ao capital natural e 
sociocultural. 
 
5 Fonte: www. ecobrasil.org.br, site da internet acesso em 10/05/2006 
6 op. cit. 
27 
A fim de se evitar um possível quadro de agravamento da degradação 
ambiental e na relações sociais e culturais dos destinos turísticos, há a contínua 
necessidade de uma política de planejamento integrado do desenvolvimento do 
turismo, dotado de uma abordagem sistêmica e segundo Irving ( apud FRAGA, op. 
cit:6), buscar “...uma nova forma de pensar a democratização de oportunidades e 
benefícios... centrada em parceria, co-responsabilidade e participação”. Ainda conforme 
Fraga (op.cit.:6): 
 
“ O aumento esperado do volume de turistas, com uma distribuição cada vez 
mais dispersa ao redor do mundo, a mudança do perfil do turismo, com maior 
segmentação, e o desenvolvimento de novas formas associadas à natureza e à cultura, 
assim como um comportamento mais seletivo, e exigente, por parte dos turistas, exigirão 
medidas rigorosas que garantam o desenvolvimento sustentável da atividade turística.” 
 
 
Há quase uma década a “ Agenda 21 para a Indústria de Viagens e Turismo 
para o Desenvolvimento Sustentável” 7, apontou as áreas prioritárias para a 
implementação do turismo, através de procedimentos e programas a serem utilizadas 
pelos governos, organizações da indústria turística e empresas de viagem. Entre elas, a 
que afeta mais diretamente nossa área de enfoque neste estudo, é a necessidade de 
um planejamento e gerenciamento do uso do solo, atendendo de forma democrática as 
demandas sociais, além do enfático compromisso com a preservação da natureza e do 
patrimônio cultural, assim como a geração e aplicação dos recursos obtidos em 
benefício das comunidades envolvidas. 
 
Então qual poderia seriam algumas das alternativas mais viáveis para 
implementação do turismo sustentável no Brasil? Uma delas seria a aplicação correta 
do Estatuto das Cidades8, promulgado em 2001 e que exige o estudo e aprovação dos 
Planos Diretores para cidades com mais de vinte mil habitantes, integrantes de áreas 
de especial interesse turístico ou inseridas na área de influência de empreendimentos 
 
7 UNCED – Confereência das Nações Unidas Sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. Agenda 21. Brasíla: 
Senado Federal, 1997 
8 http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/Leis/LEIS_2001/L10257.htm. Acesso em 22/05/06 
 
28 
ou atividades com significativo impacto ambiental, de âmbito regional ou nacional. Para 
cidades com mais de 500.000 habitantes, um plano de transporte urbano integrado é 
exigido como complemento do Plano Diretor. Somado a aplicação do planejamento 
urbano em macro-escala, políticas de apoio social e incentivo às comunidades 
receptoras, através do estudo de suas carências e sua real capacidade de inserção no 
mercado global do turismo. 
 
O turismo sustentável de base local, não é uma panacéia para resolução dos 
conflitos sociais existentes em nosso país, mas abre uma porta para alternativas de 
baixo custo e de retorno a curto e médio prazo, pois aproveita o material humano 
conforme Solla (1999, apud MENDONÇA & IRVING, 2006), para “diversificação da 
economia e contribuição para o renascimento de lugares em crise”. O investimento nas 
pessoas, aliado aos recursos naturais e econômicos, pode segundo Kliksberg (2003, 
apud MENDONÇA & IRVING, op.cit), despertar as “relações horizontais de 
reciprocidade, cooperação,...e oportunidades igualitárias”. Uma visão que se opõe ao 
foco exacerbado no lucro e produtividade em série, que despersonaliza e aliena seus 
participantes. Portanto, dentro da abordagem deste estudo, as principais diretrizes que 
norteiam o conceito de turismo sustentável e sua conciliação com o planejamento e 
desenvolvimento urbano seriam: 
 
 Cumprimento integral das disposições do Estatuto das Cidades, através do 
estudo, aprovação e implementação de Planos Diretores e PEUs, os Planos 
de Estruturação Urbana, como forma de estabelecer uma gestão racional do 
uso do solo, garantindo assim o acesso democrático e equânime à 
propriedade, e principalmente, a organização espacial do território e 
preservação das áreas de especial interesse turístico e ambiental;Envolvimento de comunidades receptoras no desenvolvimento e 
implantação dos projetos turísticos como forma de protegê-las de possíveis 
impactos sociais e ambientais, desenvolvendo um turismo de base 
comunitária e local em co-gestão com a iniciativa privada e governos. 
29 
 Acesso à educação ambiental e conscientização quantos às vantagens 
econômicas do uso sustentável dos recursos naturais, culturais e sociais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30 
1.3 - Corredores Turísticos: conceitos e definições. 
 
Na “ Agenda 21 para a Indústria de Viagens e Turismo para o Desenvolvimento 
Sustentável”, citado por Fraga (2004:3), são indicadas áreas pelas quais o turismo 
sustentável pode ser implementado. O que permeia o documento, é a preocupação 
com os impactos econômicos, sociais, culturais e ambientais provocados pela atividade 
turística. Desta forma, diversas medidas no sentido do ordenamento, prevenção de 
impactos e planejamento dos empreendimentos são listadas, tendo como a mais 
relevante para o presente estudo, a seguinte pré-condição: a de que o planejamento e 
gerenciamento do solo, no contexto da demanda de uso múltiplo e eqüitativo, tenha em 
vista o compromisso com a preservação ambiental e cultural, assim como a geração de 
renda. 
 
Esta diretriz, resume todas dificuldades e desafios impostos pelo paradigma da 
sustentabilidade, pois exige capacidades gerenciais interligadas. Além disso nos indica 
a “trilha” a ser percorrida para o desenvolvimento e implantação dos chamados 
caminhos cênicos turísticos ou circuitos. Estes agrupam em sua organização espacial 
possibilidades de integração entre serviços, transportes, trechos de espaço natural 
preservado e o próprio espaço urbano, em suas diversas conformações. Ou na forma 
de um sistema como o descrito por Beni ( apud FRAGA,op.cit:6), organizado a partir 
das relações de interdependência entre: 
 
1. Relações ambientais envolvidas nos sistemas ecológicos, sociais, 
econômicos e culturais; 
2. Organização estrutural; 
3. Ações relacionadas com a oferta e a demanda. 
 
O espaço turístico, segundo Roberto Boullón (1985:65): “ é a conseqüência da 
presença e distribuição territorial dos atrativos turísticos”, interconectados pela infra-
estrutura local, regional e nacional. Para fins de análise da abrangência de um espaço 
turístico, deve-se recorrer ao método empírico de observação e classificação de seus 
31 
elementos e componentes. Boullón (op.cit.:66-91) divide os espaços turísticos em 
categorias e subcategorias agregadas por escala descendente de complexidade, 
superfície e importância: 
 
Tipos de corredores cênicos 
 
Figura 2 Tipos de corredores turísticos 
 
 
 Zona Turística - Maior unidade de análise do universo espacial turístico do país, 
contém no mínimo dez atrativos turísticos de diversas categorias; 
 Áreas Turísticas - Partes pelas quais uma zona é dividida, dotadas de atrativos 
integrados 
 Complexo - Conjunto de centros de distribuição e recepção turística afastados por 
um raio de 120km e com atrativos turísticos compartilhados; 
32 
 Centro - Dividido segundo o critério funcional em : 
 
 Centros de distribuição - base principal de onde partem e retornam ao fim do dia 
os turistas 
 Centros de estadia - centros focados em atividades de entretenimento temáticas ou 
concentradas na área de influência da infra-estrutura hoteleira sem necessidade de 
deslocamentos excessivos 
 Centros de Escala - Nós da rede de transporte onde corre o intercâmbio 
aéreo/terrestre/marítimo 
 Centros de excursão - centros receptivos nos quais visitantes permanecem menos 
de 24hs 
 Unidade Turística - Espaço com exploração intensiva de recurso turístico 
 Núcleo - Região com menos de dez atrativos localizada de forma isolada num dado 
território que normalmente evolui para: 
 Conjunto - a partir de sua interligação a rede de infra-estrutura local e regional 
 Corredor - áreas de interesse turístico de configuração espacial longitudinal dividido 
em três subcategorias: os de traslado, de estadia e o cênico . 
 
 
1.3.1- Corredores de Traslado e Estadia 
 
Os Corredores de Traslado são considerados como vias de conexão entre 
zonas, áreas e/ou complexos, com pontos de distribuição, entradas e saídas. Tem 
como domínio uma faixa de aproximadamente 500m a partir dos eixos viários principais. 
Já o Corredor de estadia pode ser descrito como o composto por áreas ou superfícies 
amplas, em geral paralelas às costas de mares, rios ou lagos ou ainda franjas de 
encostas, com uma largura que geralmente não supera os 5km do eixo ou alinhamento 
principal. Sua diferença em relação ao corredor de traslado se dá pela forma de 
disposição dos atrativos, pelo assentamento de sua planta turística e finalmente pela 
sua função. Identifica-se claramente o corredor de estadia pela estruturação do espaço 
urbano e da infra-estrutura hoteleira de forma linear, significando neste caso seu 
33 
alinhamento ao longo de litorais ou vias principais, não a forma arquitetônica. Ex.: 
Cancun, Porto Seguro, etc. 
 
Outra característica importante dos caminhos de estadia é a concentração 
escalonada de atrativos, ou seja, atrativos posicionados após intervalos causados por 
acidentes geográficos como praias em semicírculos, intercaladas por promontórios, 
falésias, etc. Em muitos casos existe previamente no corredor de estadia um interesse 
turístico causado pela criação espontânea de pequenos núcleos de atividades que 
preservam usos e costumes locais como vilas de pescadores ou artesãos. 
 
1.3.2 - O Corredor Cênico 
 
O corredor cênico surge como um híbrido dos modelos de traslado e de estadia. 
Ele pode ser considerado na verdade, um estágio anterior do corredor de estadia. Não 
oferece ainda infra-estrutura hoteleira comparável aos centros de recepção, porém 
oferece mais atrativos do que um mero corredor de ligação entre áreas turísticas. Neste 
sentido ele pode ter uma dupla função como espaço turístico e de lazer já que oferece 
atrativos que podem ser usufruídos sem a necessidade de hospedagem local. O 
espaço no caso do corredor cênico também se configura de forma longitudinal, se 
dando ao longo de um eixo artificial ou natural e suas atrações são alternadas por 
paisagens de grande impacto visual. 
 
Para que a evolução dos corredores cênicos se dê de forma positiva ao longo 
do tempo, é necessário um engajamento por parte do poder público no sentido da 
ordenação dos espaços ao longo dos eixos e franjas. Um instrumento importante no 
caso brasileiro, como foi dito anteriormente, é a correta implantação do Estatuto das 
Cidades e dos Planos Diretores e Projetos de Estruturação Urbana. Sendo que os 
últimos, primordiais no sentido de conferir disciplina e poder fiscalizatório, podem ajudar 
a evitar a descaracterização do ambiente provocada por ocupações clandestinas e 
desvalorização dos espaços como um todo. 
 
34 
Os corredores cênicos e de estadia, e os complexos turísticos organizados ao 
seu redor, tem sido implantados com sucesso em diversas localidades no mundo. No 
Brasil eles tem sido discutidos e implementados, como formas de integrar o riquíssimo 
acervo cultural de cidades históricas, preservar tradições e dar um caráter sustentável 
ao uso de áreas urbanas ambientalmente frágeis. A fim de exemplificar a utilização dos 
corredores cênicos como forma de turismo sustentável, foram escolhidos três exemplos, 
dois no Brasil: a “Estrada Real” entre Diamantina e Paraty; Os “Caminhos Singulares do 
Turismo e do Artesanato da Baixada Litorânea” – RJ ( Cabo Frio, Arraial do Cabo e 
Búzios) e o terceiro localizado na África do Sul, a “Rota Jardim”, unindo a Cidade do 
Cabo à Queensberry pelo litoral do Atlântico Sul. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
35 
1.3.3- Estrada Real 
 
O Projeto Estrada Real visa recriar, planejar e ordenar as potencialidades 
turísticas do caminho que ligaas cidades e pontos históricos que sediavam, nos 
séculos XVII e XVIII, as áreas de produção de ouro - Ouro Preto, e de diamantes - 
Diamantina, aos portos de saída de Parati e daí pelo mar até o Rio de Janeiro 
 
O processo de desenvolvimento sustentado para a área de abrangência da 
Estrada Real foi baseado numa política de melhoria sócio-econômica da população 
diretamente afetada, através do estímulo e fomento a negócios voltados para turismo, 
além do treinamento na área de hospedagem e padrões de qualidade nos serviços. 
 
 Figura 3 - Mapa da Estrada Real. Fonte:http://www.estradareal.com.br 
 
 
36 
 
Figura 4 -Trecho da Estrada Real em Caetés- MG, Fonte: www.estradareal.com.br 
 
 
 
 
Entre as estratégias mais relevantes desenvolvidas pelo consórcio formado pela 
iniciativa privada, órgãos governamentais e ONGs estão: 
 Assessorar, intermediar e articular negócios entre empresários, investidores, 
governo e entidades governamentais; 
 Gerar informações, projetos e divulgação criando demanda para o turismo; 
 Desenvolver o sistema de qualidade para os equipamentos turísticos e prestadores 
de serviços; 
 Buscar a auto-sustentação do Instituto Estrada Real gerando receitas permanentes; 
De grande importância para a consolidação histórica da ocupação do interior do 
país e do estado de Minas Gerais, os caminhos reais por muito tempo foram as únicas 
37 
vias autorizadas de acesso à região das reservas auríferas e diamantíferas da capitania 
das Minas Gerais. Conforme Márcio Santos (2001:2), a circulação de mercadorias e 
pessoas, além das riquezas extraídas como ouro e diamante, era obrigatoriamente feita 
por eles, “constituindo crime de lesa-majestade a abertura de novos caminhos”. 
 
O nome Estrada Real passou a se relacionar às vias que, pelo seu caráter 
oficial, eram de propriedade exclusiva da realeza de Portugal. E assim, mesmo após a 
decadência do ciclo de mineração nos XVIII e XIX, quando estas mesmas vias já não 
cumpriam a função original, elas acabaram se tornando os principais ramos viários da 
parte central e sul da enorme colônia brasileira. 
 
Ainda conforme Santos (2001:3) as estradas reais também tiveram a função de 
induzir o processo de urbanização do centro-sul brasileiro. E acrescenta: 
 
“Ao longo do seu leito ou nas suas margens se distribuíram as centenas de 
arraiais, povoados e vilas em que se organizou a massa populacional envolvida 
com a economia da mineração e com as economias a ela associadas. O 
povoado à beira do caminho, com o cruzeiro, a capela, o pelourinho, o rancho 
de tropas, a venda, a oficina e as casas de pau-a-pique simbolizou, durante 
longo tempo, o processo de nucleação urbana do centro-sul da colônia”. 
(SANTOS,op.cit:3) 
 
O projeto da Estrada Real, mesmo recente em sua implantação, torna-se um 
valioso instrumento de desenvolvimento urbano sustentável, por valorizar os eixos 
históricos-culturais do nosso país, induzindo também à potencial proteção das áreas de 
preservação ecológica, ao transformá-las em fonte de renda e serviços às comunidades 
circunvizinhas. 
 
38 
 
1.3.4- Caminhos Singulares do Turismo e do Artesanato da Baixada Litorânea – 
RJ 
 
 
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A
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Figura 5 Mapa da Região dos Lagos no Estado do Rio de Janeiro. Sem Escala. Fonte: Guia Quatro Rodas, 
Brasil 2006 (2006) 
Este projeto foi desenvolvido pelo SEBRAE/RJ e diversas entidades num 
egime de parceria, tendo como principais atores as administrações municipais, 
niversidades, associações comerciais e de hotéis e pousadas e Secretaria Estadual 
e Turismo - TurisRio, e entidades financeiras como Banco do Brasil. O projeto 
brange cerca de 300 micro e pequenas empresas dos municípios de Cabo Frio, 
rmação dos Búzios e Arraial do Cabo. 
 
 Segundo o site do SEBRAE/RJ (2005), O principal objetivo do projeto é 
ortalecer o turismo com sustentabilidade ambiental, social, cultural e econômica. 
retende reunir os meios de hospedagem, operadoras de atividades náuticas, 
estaurantes, agências de turismo receptivo e artesãos legalizados. Com a 
39 
profissionalização do turismo na região espera-se um crescimento da ordem de 10%, 
até dezembro de 2007, no fluxo de turistas na região e da taxa de ocupação hoteleira, 
além do aumento do volume de vendas nas micro e pequenas empresas definidas 
como público-alvo. Outro objetivo fundamental é aumentar o tempo médio de 
permanência do turista de dois para três dias. 
 
Entre as ações propostas, podem-se citar as seguintes: 
 necessidade de alianças estratégicas envolvendo o poder público, 
iniciativa privada e entidades; 
 melhorar a infra-estrutura turística; 
 promover o marketing integrado da região; 
 fortalecer as entidades de classe e integrar os municípios e promover 
a melhoria da qualidade dos serviços e produtos 
 integração do turismo de aventura, lazer e vida noturna 
 Valorização do patrimônio histórico e arqueológico da região 
 
Os três municípios são famosos nacionalmente pela qualidade de vida, beleza 
cênica das praias e glamour de sua vida noturna. O trajeto começa por Cabo Frio, a 
sétima cidade mais antiga do país, fundada em 13 de novembro de 1615. Dos três 
municípios que fazem parte do projeto Caminhos Singulares do Turismo e do 
Artesanato, desenvolvido pelo SEBRAE/RJ e por mais 21 parceiros, ele é o município 
mais populoso, com 150 mil habitantes. Sua história no entanto, de acordo com Lage 
(2005), avança em direção ao passado pré-histórico do Brasil tendo em seu litoral os 
sambaquis, antigos depósitos formados de montes de conchas e restos fossilizados de 
antigos habitantes mostrando que a ocupação humana no litoral brasileiro começou há 
pelos menos 6000 anos . 
 
 Cabo Frio dispõe de um patrimônio histórico rico e preservado que pode ser visto 
no Bairro da Passagem, com suas ruas estreitas e casario em estilo colonial. No Largo 
de São Benedito, nos deparamos com a Igreja de São Benedito. Construída em 1701 
40 
com a função de abrigar os escravos negros que eram proibidos de freqüentar a igreja 
junto com os brancos. Outro ponto de interesse é o Forte São Matheus, na praia do 
Forte, construído no século 17 para proteger a costa da invasão de piratas franceses, 
inglesas e holandesas em busca do pau-brasil. 
 
 Cabo Frio também planeja seu futuro pegando carona no desenvolvimento 
petrolífero do Norte Fluminense com a ampliação do Aeroporto de Cabo Frio, 
estratégico para o acesso de turistas e homens de negócio. Mas nem só de passado 
vive Cabo Frio. A expectativa é de que a cidade cresça ainda mais com a implantação 
de um grande resort na praia do Peró em 2007. 
 
 Em seqüência se chega a Arraial do Cabo. A cidade é considerada capital nacional 
do mergulho já que possui o privilégio de contar com o fenômeno da ressurgência, 
encontro das águas quentes do Nordeste com as águas frias da Antártida, o que 
privilegia Arraial com um mar transparente e uma grande riqueza na fauna marinha. A 
praia do Farol, que conta com o ecossistema mais completo do país, é considerada 
uma das praias mais perfeitas do Brasil, só recebe visitantes com autorização da 
Marinha. 
 
 O passeio pelo mar de Arraial do Cabo possui características pitorescas como a 
visão da padroeira de Cabo Frio, Nossa Senhora de Assunção, cuja réplica em 
madeira da imagem da santa permanece numa fenda entre duas rochas. A região até 
hoje é marcada por mitos sobre naufrágios, causados pela geografia recortada do 
litoral e constante assédio dos antigos piratas 
 
 O turista que continuar no trajeto, será recompensado com o glamour de 
Búzios, onde o movimento é contínuo na famosa Rua das Pedras. O centro de Búzios 
conta com dezenas de bares e restaurantes, além de ser considerado um sofisticado 
shopping a céu aberto onde o visitante pode aproveitar para ir às compras. Em lojas de 
griffe nacionaise internacionais. Possui 26 praias, entre elas a famosa praia da 
41 
Ferradura, cenário de produções de tv. Búzios é hoje o sexto destino turístico nacional 
mais procurado por estrangeiros. Uma das razões para esta procura é que o balneário 
ficou famoso na década de 60, quando a atriz francesa Brigitte Bardot escolheu a 
cidade como refúgio. Desde então a cidade não se desligou de sua musa. Lá, 
encontram-se estabelecimentos comerciais e estátuas que representam a atriz, além 
de anualmente ocorrer um disputado festival de cinema. 
 
 O cosmopolitismo da cidade e o caráter brasileiro da hospitalidade, tornou este 
balneário um porto seguro para estrangeiros, principalmente argentinos. E apesar da 
cidade ter perdido bastante do clima de aldeia de pescadores que possuía na década 
de 70, o fluxo turístico não parece dar sinais de enfraquecimento. 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 7 Centro Histórico de Cabo Frio Figura 6 Mar de Arraial do Cabo 
 
 
 
42 
 
Figura 8 Orla Bardot, com a estátua em 
homenagem à atriz francesa 
 
 Figura 9 Pescadores em Cabo Frio 
 
 
 
 
Figuras de 5 a 8, fonte: http:// www.folhaonline.com.br 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
43 
 
1.3.5- A Rota Jardim: Cidade do Cabo- Port Elisabeth, África do Sul 
 
Figura 10 Mapa da Rota Jardim. Feito sobre base publicado em: "O Globo" de 16/06/2005 
 
Na feira de turismo da África do Sul realizada na cidade de Durban 9 em maio 
de 2005, novos produtos turísticos foram apresentados na tentativa de tornar o país 
ainda mais atraente para o turismo internacional. A Cidade do Cabo e os tradicionais 
safáris ainda são os carros-chefes, mas uma novidade, a Rota Jardim, começa a atrair 
as atenções por ser um corredor turístico, e fazer juz ao apelido de jardim do Éden sul-
africano. 
 
O caminho, se dá ao longo da estrada N2, ligação entre Port Elizabeth e 
Cidade do Cabo; e é marcado por paisagens floridas e uma grande diversidade de 
44 
 
9 Matéria publicada por Borges, Ana Lúcia em Site http://www.gda.com/consulta_noticias.php?idArticulo=11094 
 16/06/2005, acesso em 5/07/2005. 
http://www.gda.com/consulta_noticias.php?idArticulo=11094
formações geológicas, belas praias e pequenas cidades que mantém a tradição da 
hospitalidade sul-africana. Possui 316 quilômetros onde os aventureiros e curiosos 
encontram diversas possibilidades de entretenimento, sem falar de atrações para os 
mais jovens, fãs de esportes radicais como rappel, bungee jump, surf e até mergulhos 
em jaulas ou adepto de opções mais sossegadas existem várias praias praticamente 
desertas além das visitas aos inúmeros vinhedos e gastronomia típica. 
 
A Rota Jardim se inicia oficialmente no Parque Nacional de Tsitsikamma e vai 
até a pequena cidade de Heidelberg. Porém o mais indicado é percorrer o trajeto mais 
amplo, entre Port Elizabeth e Cidade do Cabo, cidades com boa infra-estrutura e 
dotadas de aeroportos e nas quais se pode alugar carros. A maior parte do percurso é 
feita pela rodovia N2, e leva-se cinco dias para ir de uma ponta a outra. A estrada é 
bem sinalizada e pavimentada e ao longo dela existem pequenos desvios levando a 
diversas pequenas cidades como o que leva até a reserva Shamwari, a 60 quilômetros 
de Port Elizabeth ou Jeffreys Bay, cidade que vive em função das ondas e do surfe. 
 
Uma atração do roteiro que se destaca pelo aspecto pitoresco é realizado a 
partir de Knysna, lá uma das principais atrações é o passeio na antiga maria-fumaça 
Choo-Tjoe. O passeio completo vai até a cidade de George, dura cerca de nove horas 
ida e volta, e atravessa paisagens como falésias e áreas cobertas de fynbos 
(vegetação rasteira, com minúsculas flores, típica da região). 
 
A parte final da Rota Jardim, depois de Mossel Bay, vai até Heidelberg que 
chama a atenção pelo charme de sua arquitetura, com algumas construções em estilo 
vitoriano ainda preservadas. Saindo de Heidelberg, é possível ir direto pela rodovia N2 
até a Cidade do Cabo. Mas vale a pena fazer um desvio e pegar a Rota 62, que se 
tornou a estrada oficial dos vinhos sul-africanos. São 850 quilômetros marcados por 
mais de 300 vinícolas tradicionais, que geralmente são mantidas por famílias há 
45 
gerações. O roteiro é uma alternativa às áreas de cultivo de uvas mais conhecidas, 
próximas à Cidade do Cabo, como Stellenbosch, Franschhoek e Paarl. Ao visitar as 
propriedades, o turista pode degustar vinhos chardonnay, shiraz e moscatel, entre 
outros. 
 
Os três roteiros citados como exemplo, Caminhos do Mar, Estrada Real e Rota 
Jardim, nos dão subsídios suficientes para perceber que os princípios do 
desenvolvimento urbano sustentável se incorporaram de forma efetiva ao planejamento 
turístico ao redor do mundo e também no Brasil. Em teoria, todos os projetos primam 
pela complexidade e variedade de roteiros possíveis, além da base ecológica e 
valorização das tradições culturais e históricas locais. As dificuldades de implantação 
de cada corredor, derivam do estabelecimento de uma linguagem comum e conciliação 
dos interesses,entre tantas partes envolvidas: políticos, empresariado, setor hoteleiro 
de grande, médio e pequeno porte, organizações de conservação ambiental, além é 
claro de planejadores urbanos e comunidades receptoras. 
 
Outro traço em comum percebido na análise dos três exemplos foi ainda o 
pouco tempo de amadurecimento deles como destino turístico, ou seja, ainda estão 
sujeitos a melhorias e consolidação da sua rede de infra-estrutura, variedade de 
atrações (ponto de vantagem para o caso sul-africano) e recursos humanos, 
fundamentais para seu correto desempenho. Para todos os casos analisados, é 
importante lembrar da importância da qualidade em detrimento da quantidade do fluxo 
turístico, para áreas limítrofes de áreas ambientalmente frágeis, de acordo com a visão 
de Takahashi (1997) e sua preocupação com o comportamento dos visitante e seu 
impacto sobre o meio. 
 
Pode-se perceber a priori a grande importância das características geográficas 
como relevo, vegetação e o contraste proporcionado pelas diversas etapas de 
evolução urbana, apropriação e uso do solo. Além disso fica nítido o esforço (em 
46 
diferentes escalas e resultados) das autoridades envolvidas em tentar envolver as 
populações locais no processo de visitação turística em busca da sustentabilidade e 
desenvolvimento econômico. 
 
 
 
 
 
Figura 11 Artesanato africano e Passeio de trem . 
Fonte: "O Globo". 16/06/2005
47 
CAPÍTULO II – ARQUITETURA, PERCEPÇÕES E CAMINHOS 
 
2.1 - A Relação Objeto-Observador e Aspectos Históricos e Filosóficos da 
Percepção da Paisagem pelo Homem 
 
Num artigo chamado “A Paisagem Como Fato Cultural” (2002) seu autor, 
Ulpiano Meneses, traça um quadro evolutivo de como a percepção da paisagem se 
alterou desde civilizações antigas como a da China até a sofisticada sociedade urbana 
globalizada. 
 
O escritor cita Augusten Berque (op.cit.:31), dizendo que a “paisagem não é 
universal” e afirma que existiram sociedades “paisagísticas” e outras não e o que as 
diferenciou foi a capacidade que tiveram de perceber e exprimir a “paisagem” por 
vocábulos diversos e representações literárias que a descrevem ou celebram seus 
atributos. E finalmente, a capacidade técnica de construir jardins e espaços planejados 
para fruição dos sentidos. Nesse sentido somente a Europa a partir do séc. XV 
conseguiu igualar os chineses. 
 
A apropriação estética é fundamental na construção da paisagem, pois liga o 
universo rico da percepção humana ao mundo externo consolidando a noção de que 
não há paisagem sem um observador. E do meu ponto de vista poderia também se 
afirmar que sem memóriae cultura a paisagem também não existirá, pelo menos não 
como ícone com significado imanente e sim como obstáculo geográfico a ser 
transposto possuidor de nomenclatura específica: montanha, deserto, mar, etc. 
 
Um fato importante na evolução da forma como o homem percebeu a 
paisagem, foi a lenta e gradual modificação do antigo pensamento mágico e panteísta 
da natureza onde árvores, rochedos e riachos se constituíam de signos e significados 
místicos para o espaço laico dos séc. XVIII e XIX onde a visão científica da natureza e 
novas formas de reprodução de imagens, alteraram a apropriação da paisagem. 
48 
Outra questão relevante para esta nova construção do olhar foram as técnicas 
de perspectiva criadas no Renascimento, e nos séculos posteriores a criação da 
fotografia, cinema e maneiras mais práticas e velozes de deslocamento como trens e 
navios, cujo crescente tecnológico evoluiu exponencialmente até os dias de hoje, 
causando certos efeitos colaterais sobre a percepção que o ser humano tem de seu 
próprio mundo, como a fragmentação e a desterritorialização. 
 
O longo percurso do olhar humano em busca da compreensão da paisagem, 
influiu decisivamente na forma como ela foi reconstruída sob a forma de cidade, pois 
os artistas, arquitetos ou urbanistas sempre retiraram inspiração das formas da 
natureza. E mesmo nos modelos mais radicalmente artificiais de ambientes 
construídos, existem signos subliminares, ritmos, linguagens que dialogam com o 
dialeto universal do mundo que é a matemática e os jogos de luz, sombra e cores do 
espectro que nosso olhar é capaz de perceber. 
 
A cidade em sua relação com a paisagem se torna projeção, devir construído 
pelo conjunto de indivíduos, que como demiurgos interpretam a vontade sagrada do 
olhar. Este nunca se cansa, nunca se sacia e em sua busca incansável de estímulos, 
transforma a natureza do estado bruto que lhe é dada pelo mundo dos sentidos em 
palheta, e neste processo, transforma-se. 
 
Ao buscar a essência do natural, cria o simulacro e no contínuo exercício de 
Sísifo, destrói seus ícones, criando camadas, reescrevendo num palimpsesto10, 
hieróglifos a serem desvendados pelas gerações sucessivas. 
 
 
 
 
 
10 Conforme citado por David Harvey em “Condição Pós-Moderna.” São Paulo, Edições Loyola, 1994.p.69: “O pós-
modernismo cultiva, em vez disso, um conceito do tecido urbano como algo necessariamente fragmentado, um 
“palimpsesto” de formas passadas superpostas umas às outras e uma “colagem” de usos correntes, muitos dos quais 
podem ser efêmeros.” 
49 
O ato de retratar a paisagem fazia parte da cultura helenística, principalmente 
sob a forma de afrescos. Esta forma de expressão artística possuía como principal 
função evocar cenas idílicas de bosques, nuvens, colinas dentro de um conceito de 
natureza idealizada, como nos mitos gregos do Monte Olimpo e dos Campos Elíseos. 
Porém, sob o ponto de vista técnico esta forma de arte deixava a desejar, pois o 
resultado representativo do espaço na superfície plana não conseguia atingir a idéia de 
profundidade. 
 
Durante o período histórico coberto pelos séculos XV e XVI na Itália, há uma 
volta do olhar às formas artísticas da Antigüidade Clássica – Grécia e Roma – como 
motivos de inspiração. Período este a que se convencionou chamar de Renascimento. 
Nele a forma de pensamento utópico elabora modelos de cidades geométricas ideais, 
exercitando o olhar visionário, a vida cotidiana se dá nos velhos ambientes medievais, 
com ruas e becos acanhados. A renovação do tecido urbano se manifestava de forma 
lenta na construção de ruas novas, com edifícios de ritmo e leitura bastante 
semelhantes marcados pelas linhas de colunatas. 
 
 De forma marcante o planejamento e construção de novas praças, regulares 
ou adaptadas ao tecido urbano como nos casos de Siena ou Pamplona, serviam como 
forma de dar destaque aos monumentos em honra a feitos heróicos ou espaço de 
festividades populares. Estas formas de intervenção urbana foram apropriadas 
posteriormente pelo barroco, que lhes deu maior imponência e escala. 
 
A visão matemática dos florentinos impôs uma nova forma de se olhar o mundo 
ao redor. O efeito racionalizante causado pela geometrização das linhas do horizonte, 
o foco do observador e os pontos de fuga, mudam a relação do artista com o seu 
objeto de estudo: a paisagem. 
 
A perspectiva como nós a conhecemos, foi desenvolvida por Brunelleschi e 
Alberti em meados do séc. XV e moldou as formas de se ver o mundo por praticamente 
quatro séculos. Inclusive, uma das principais características desta técnica de desenho 
50 
é que o ponto de vista fixo de mapas e pinturas conforme Edgerton (apud HARVEY, 
op. cit.:114), se torna elevado e distante, completamente fora do alcance plástico ou 
sensorial, gerando um sentimento de espaço “friamente geométrico” e “sistemático”, 
que mesmo desta maneira produz: “...uma sensação de harmonia com a lei natural, 
acentuando assim a responsabilidade moral do homem no âmbito do universo 
geometricamente organizado de Deus”. 
 
 Adotando estes princípios, Leonardo da Vinci, apresenta em seu quadro “Vale 
dos Arnos”, as leis geométricas do espaço e proporção, com doses de fantasia 
artística, misturando o nascente naturalismo científico com toques de abstração vistos 
somente séculos mais tarde em pintores como Turner. 
 
Ainda de acordo com Harvey (op.cit:115) o perspectivismo concebe o mundo 
tendo como origem o “olho que vê” do indivíduo. Enfatiza a capacidade das pessoas de 
verem as coisas de forma verdadeira, em contraposição às verdades imbricadas de 
mitologia e religião. Ainda segundo este autor a Renascença separou os sentidos de 
tempo e espaço científicos e factuais das concepções empíricas adquiridas 
experencialmente. Abrindo campo especulativo para Giordano Bruno que via nesta 
possibilidade de um espaço infinito, infinitas possibilidades de existência e experiência 
11. 
As obras deste período histórico são evocativas de um sentimento e uma 
beleza apreendida do mundo natural, o que confirmaria uma nova atitude estética, fruto 
final do “Quattrocento” e além disso : 
 
“A revolução renascenstista dos conceitos de espaço e tempo assentou os alicerces 
conceituais...para o projeto do Iluminismo.... Sendo o espaço um “fato” da natureza, a 
conquista e organização racional do espaço se tornou parte integrante do projeto 
modernizador “(HARVEY, 1989, p.227) 
 
 
 
11 As concepções de Giordano Bruno, anteciparam as de Galileu e Newton, mas devido a seu caráter nitidamente 
panteísta, elas o levaram à fogueira da inquisição por desafiar, segundo Harvey, (1989:227), a autoridade 
centralizada e o dogma como símbolos claros de poder baseados num lugar particular : Roma. 
51 
Em busca de momentos referenciais nesta trajetória do olhar sensível em 
busca do entendimento do mundo, podemos destacar outro período específico da 
história européia, os sec. XVIII e XIX, onde a corrente de pensamento de Rousseau 
evocava sentimentos da inocência perdida, do “bom” selvagem e instigava os artistas 
aventureiros a se distanciarem das metrópoles corrompidas e, numa apologia de viés 
místico, pregava a comunhão com a natureza para recuperar o sentido de Deus como 
criador de um paraíso repleto de montanhas, oceanos, florestas e desertos 
deslumbrantes. 
 
O Novo Mundo e especificamente o Brasil, eram o destino preferido de artistas, 
cientistas, geógrafos que sentiam-se movidos a percorrer enormes distâncias em 
busca de paisagens exóticas e pitorescas. 
 
O sec. XVIII trouxe no entender de Meneses (op.cit:.46) uma diferenciação 
social causada pela forma de olhar o mundo. Um exemplo desta afirmação se dava na 
Inglaterra, onde as noções de “bom gosto”, pressupunham um certo tipo de educação e 
comportamento exclusivo

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