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Finanças Públicas e Contabilidade Pública Autoria Patricia Batista Vieira FINANÇAS PÚBLICAS EFINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICACONTABILIDADE PÚBLICA SSEJAEJA BEMBEM--VINDOVINDO!! ReitoR: Prof. Cláudio ferreira Bastos Pró-reitor administrativo financeiro: Prof. rafael raBelo Bastos Pró-reitor de relações institucionais: Prof. Cláudio raBelo Bastos Pró-reitor acadêmico: Prof. HerBert Gomes martins direção ead: Prof. riCardo ZamBrano Júnior coordenação ead: Profa. luCiana rodriGues ramos Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, total ou parcialmente, por quaisquer métodos ou processos, sejam eles eletrônicos, mecânicos, de cópia fotostática ou outros, sem a autoriza- ção escrita do possuidor da propriedade literária. Os pedidos para tal autorização, especificando a extensão do que se deseja reproduzir e o seu objetivo, deverão ser dirigidos à Reitoria. expediente Ficha técnica autoria: PatriCia Batista Vieira suPervisão de Produção nead: franCisCo Cleuson do nasCimento alVes design instrucional: antonio Carlos Vieira Projeto gráfico e caPa: franCisCo erBínio alVes rodriGues diagramação e tratamento de imagens: ismael ramos martins revisão textual: antonio Carlos Vieira Ficha catalogRáFica catalogação na publicação biblioteca centRo univeRsitáRio ateneu VIEIRA, Patricia Batista. Finanças públicas e contabilidade pública. / Patricia Batista Vieira. – Fortaleza: Centro Universitário Ateneu, 2020. 136 p. ISBN: 1. Administração pública. 2. Orçamento público. 3. Contabilidade pública. 4. Legislações. Centro Universitário Ateneu. II. Título. SSEJAEJA BEMBEM--VINDOVINDO!! Caro(a) estudante, temos a satisfação de apresentar o material didático da disciplina Finanças Públicas e Contabilidade Pública. Ao ler e estudar por este material, você terá condições de responder as atividades no Ambiente Virtual de Aprendizagem – AVA. Este livro está dividido em quatro unidades de acordo com a ementa da disciplina. Os estudos serão iniciados com os primeiros passos que tratam sobre a introdução do conceito da organização do Estado; posteriormente, trabalharemos a administração pública, abordando temas relacionados às finanças públicas e licitações. Seguindo com uma retrospectiva histórica acerca da administração pública brasileira, analisaremos o processo de orçamento público em prol da administração para a sociedade e como ele influencia os gastos públicos; por fim, estudaremos a contabilidade aplicada ao setor público, a legislação e as demonstrações contábeis aplicadas ao setor público. Não é nosso objetivo esgotar todo o assunto, ao contrário, você deverá procurar outras fontes além deste livro para aprofundar seu conhecimento e estar sempre atualizado sobre os temas estudados aqui. A partir da leitura deste material didático, você estará apto para corresponder às exigências solicitadas nos trabalhos acadêmicos e na sua vida em sociedade, principalmente em se tratando de temas como a receita e a despesa nas entidades públicas, planejamento e contabilidade pública e legislação pertinente à administração pública. Bons estudos! SUMÁRIO CCONECTEONECTE--SESE AANOTAÇÕESNOTAÇÕES RREFERÊNCIASEFERÊNCIAS Estes ícones aparecerão em sua trilha de aprendizagem e significam: SUMÁRIO 1. Organização da administração pública e fundamentos constitucionais das atividades do estado ................................................ 8 Referências ............................................................... 23 01 1. Orçamento público ................................................ 26 2. Receita pública ...................................................... 37 3. Despesa pública .................................................... 50 Referências ............................................................... 64 02 ORÇAMENTO DAS ENTIDADES PÚBLICAS A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 1. Lei de responsabilidade fiscal ............................. 112 2. Execução orçamentária e financeira ................... 117 3. Demonstrações contábeis ................................... 121 Referências ............................................................. 134 04 LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL, EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA E FINANCEIRA E DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS NO SETOR PÚBLICO 1. Contabilidade das entidades públicas ................... 68 2. Legislação aplicada à contabilidade do setor público .......................................................... 80 3. Licitações e contratos administrativos ................... 85 Referências ............................................................. 109 03 CONTABILIDADE E LEGISLAÇÃO NO SETOR PÚBLICO ApresentaçãoApresentação Nesta primeira unidade, entenderemos sobre a organização do Estado e noções de administração pública; veremos que houve modelos de administração em diferentes momentos da história do Brasil que nos influenciam até os dias atuais. Abordaremos ainda características da administração pública brasileira e os princípios constitucionais que a regem. Também veremos qual a interferência que o Estado tem na economia e, consequentemente, na nossa vida cotidiana, as finanças do Estado e suas atividades nesse sentido. Unidade 01 A AdministrAção públicAA AdministrAção públicA Patricia Batista Vieira 8 FINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICA| OOBJETIVOSBJETIVOS DEDE APRENDIZAGEMAPRENDIZAGEM • Compreender noções preliminares sobre Estado, Governo e Administração Pública; • Conhecer os modelos de administração pública utilizados no Brasil; • Entender aspectos formativos do Estado nacional brasileiro; • Conhecer aspectos específicos da administração pública brasileira. 1. orgAnizAção dA AdministrAção públicA e1. orgAnizAção dA AdministrAção públicA e fundAmentos constitucionAis dAsfundAmentos constitucionAis dAs AtividAdes do estAdoAtividAdes do estAdo Estamos acostumados com a administração das empresas privadas, pois temos acesso a elas no nosso cotidiano, no nosso ambiente de trabalho. Por esse motivo, entender como funciona a estrutura e as formas de administrar das entidades públicas fica um pouco longe da nossa rotina. A Administração Pública é um ramo da Administração que tem como objetivo planejar, organizar, dirigir e controlar as entidades públicas para o interesse da coletividade, sendo capaz de gerir uma gama de serviços que garanta bem-estar e qualidade de vida para população. Os serviços que financiamos com o pagamento de tributos no Brasil nos faz pensar que o que é público não pertence a ninguém. Mas o público é do coletivo, é de todos; logo, está a cargo do Estado administrar da melhor forma possível os recursos para o benefício da sociedade. A administração pública no Brasil é uma composição de modelos históricos que se sucedem e coexistem em diferentes situações: o patrimonialista, o burocrático e o gerencial. Hoje, podemos dizer que predomina o modelo gerencial. Essa evolução histórica dos modelos da administração pública no Brasil tem seu marco com a chegada da Coroa Portuguesa, em 1808, em seu início patrimonialista, passando a burocrático FINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICA 9| em 1936, com a formação do Conselho Federal de Serviço Público Civil, o qual se transformou em Departamento Administrativo de Serviço Público – DASP em 1938. O gerencialismo surgiu em 1995 com o Plano Diretor do Aparelhamento do Estado ou também conhecido como Reforma Bresser. Percebemos, então, que as formas de se governar foram sofrendo mudanças ao longo do tempo e tornando-se cada vez mais normativas. CCURIOSIDADEURIOSIDADE Veja na gravura do governo de D. João VI o ato conhecido como o “beija mão”, no qual ele semanalmente recebia as pessoas para ouvir suas súplicas. Figura 01: Audiência régia na administração de D. João VI. Fonte: <http://bit.ly/2OPUU8D>. D. João VI realizava audiências com o intuito de ouvir o povo; isso fazia ele se aproximar mais das pessoas e lhe conferiu o título de “pai do seu povo”.Ele chegava a atender até 150 pessoas em um dia; tal hábito do seu governo em Portugal foi também de certa forma aplicado no seu governo aqui no Brasil. Fonte: <http://bit.ly/2YOYAMA>. 10 FINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICA| Todas essas mudanças ocorreram na tentativa de tornar a administração pública funcional e elas coexistem ao longo do tempo. Assim, a utilização de uma não extingue o uso da outra. Dessa forma, a nossa administração pública é predominantemente gerencial, mas ainda tem resquícios da burocrática e traços da prática patrimonialista. Mas o que tudo isso significa? No nosso caso, o patrimonialismo não apresentava uma divisão de poderes como há hoje. Durante seu predomínio, existia um quarto poder, o Poder Moderador, que foi instituído na nossa primeira constituição, a de 1824. Sob detenção do imperador, sobrepunha- se aos outros poderes. Assim, este governador era também o chefe do Poder Executivo, o que, na prática, significava que a qualquer momento e por qualquer motivo poderia neutralizar os outros poderes, sobrepor-se a eles e definir o que desejasse. Note que esta é uma das características do patrimonialismo, em que o poder do imperador ou governante é absoluto. Nesse contexto, podemos entender que a administração pública não era feita para o bem de todos, e, sim, em favorecimento de poucos e a contento do imperador. CCURIOSIDADEURIOSIDADE A vinda da Família Real criou a necessidade de uma máquina estatal para alocar os membros da corte, que eram muitos e precisavam justificar seus ganhos, assim cargos foram instituídos para tal fim. Fonte: “Império à deriva: a corte portuguesa no Rio de Janeiro, 1808- 1821”, de Patrick Wilcken. Quando falamos em burocracia é comum que o termo nos remeta a algo ruim, papeladas, processos longos e dificuldades. No entanto, a concepção de uma administração burocrática surgiu com o intuito de romper com o modelo patrimonialista, o qual, como vimos, não separava os interesses pessoais de quem estava no poder dos interesses públicos, sem garantir serviços que atendessem a todos. Para tanto, criaram-se diversas formalidades, processos, hierarquias e uma rigidez na estrutura. Uma das características que difere o modelo burocrático do patrimonialista é a forma FINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICA 11| de ocupação dos cargos governamentais. Enquanto no patrimonialismo bastava uma nomeação, na burocracia os cargos viraram profissões, que são conquistadas por meio de concurso público, forma que tornou o acesso mais democrático. Ao se verificar a necessidade de rever a rigidez da burocratização surgiu o gerencialismo, que dá ênfase à eficiência de se criar uma administração voltada para a excelência. Concede-se, assim, maior autonomia para as entidades públicas e uma busca por melhorar a qualidade dos serviços prestados à população. Como podemos perceber pela linha histórica, os modelos surgiram para viabilizar a administração pública, e temos ainda um longo caminho para que realmente haja satisfação da população. Nesse sentido, o conhecimento pode ser uma das formas de melhoramento desse sistema, pois a partir dele, podemos saber o que cobrar e como cobrar uma administração eficiente. Quadro 01: Modelos de evolução da administração pública. MODELO CARACTERÍSTICAS PATRIMONIALISTA Sem distinção entre o público e o privado; Cargos de livre nomeação; Nepotismo; Clientelismo. BUROCRÁTICO Hierarquização dos sistemas; Excesso de formalização, processos; Apego às normas; Racionalidade. GERENCIALISMO Busca pela eficiência; Cultura gerencial; Foco no cidadão; Delegação de poder. Fonte: Elaborado pela autora. 1.1. Estado nacional brasileiro1.1. Estado nacional brasileiro Agora que já entendemos qual modelo seguimos, veremos que seu objeto é o patrimônio público. Para administrá-lo de forma a atingir o que é fundamental para a sociedade, uma gama de órgãos, entes públicos, agentes e serviços são instituídos pelo Estado com poder de gestão. 12 FINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICA| Objetivamente, o Estado desenvolve uma atividade concreta e imediata para o alcance dos interesses coletivos e, subjetivamente, é o conjunto de órgãos e de pessoas jurídicas aos quais a lei atribui o exercício da função administrativa do Estado. 1.1.1. Forma e composição O Estado regula a estrutura administrativa, tendo que criar freios e contrapesos para que não ocorra arbitrariedade de um dos poderes. Assim, as regras gerais ou atos gerais estão a cargo do Poder Legislativo, que não tem noção de para quem está emitindo a regra, ou seja, é impessoal ou para todos, não podendo beneficiar ou prejudicar alguém. O Poder Executivo está “amarrado” pelos atos do Poder Legislativo, pois executa leis que foram feitas com o intuito de beneficiar a coletividade. Assim, se alguns dos poderes ultrapassar o limite a que está delimitado pela lei do Estado, será julgado pelo Poder Judiciário, de modo que todos têm sua função demarcada na esfera dos poderes da União. FFIQUEIQUE ATENTOATENTO Para evitar que um poder usurpe a função do outro, a Constituição Federal, em cláusula pétrea, determina a separação dos três poderes no seu Artigo 2º, que diz: “São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. 1.1.2. Poderes do Estado Para que o Estado exerça suas funções, este manifesta-se por meio dos Poderes do Estado (ou Funções do Estado), que são independentes e harmônicos entre si, como já vimos. O Poder Legislativo atua na elaboração de leis, exercido pelo Congresso Nacional, que, por sua vez, é composto pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal. O Poder Judiciário tem a responsabilidade de aplicar a Lei, é exercido pelos diversos órgãos: STF, STJ, TRF, TRT. Já o Poder Executivo atua na execução das leis, é exercido pelo Presidente da República, com os Ministros de Estado. Compete ao Presidente da República, entre outras atividades, remeter ao FINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICA 13| Congresso Nacional o Plano Plurianual (PPA), o projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e as Propostas de Orçamento; prestar, anualmente, ao Congresso Nacional, dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa, as contas referentes ao exercício anterior, conforme o Art. 84 da Constituição Federal. O controle da administração pública federal ocorre da seguinte forma: • Congresso Nacional: mediante controle externo e controle interno de cada Poder, realiza fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial dos órgãos e entidades da Administração Pública Federal, exercendo o Poder Legislativo, mediante constituição de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) e pelo Tribunal de Contas da União (TCU); • Poder Executivo: o controle interno é feito pelo Sistema de Controle Interno com apoio dos demais Sistemas de Atividades Auxiliares existentes; • Procuradoria-Geral da República: também exerce o papel de controlador. Quadro 02: Composição dos poderes nas esferas Municipal, Estadual e Federal. Poderes Federal Estadual Municipal Judiciário STF (Superior Tribunal Federal); STJ (Superior Tribunal de Justiça). TJs (Tribunais de Justi- ças); Varas (Juízes Singulares). Não existe. Executivo Presidente; Vice-presidente; Ministros. Governador; Vice-Governador; Secretários. Prefeito; Vice-prefeito; Secretários. Legislativo Congresso Nacional; Câmara de Deputados (Deputados Federais); Se- nado Federal (Senadores da República). Assembleia Legislativa (Deputados Estaduais). Câmara Municipal (Vereadores). Fonte: Elaborado pela autora. 14 FINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICA| PPRATIQUERATIQUE 1. Defina Administração Pública. 2. Explique como cada modelo histórico da administração pública funcionava. 3. Por que burocracia virou sinônimo de papelada e processos intermináveis? 4. O que significa dizer que os poderes são impessoais? 5. Defina com suas palavras as funçõesque desempenham os três poderes. 1.1.3. Atividades financeiras do Estado A capacidade financeira e a administrativa fazem parte da estrutura de governança. A primeira refere-se à disponibilidade de recursos para realizar investimentos, assegurar a continuidade das políticas em andamento e introduzir novas políticas públicas; enquanto a segunda refere-se à disponibilidade de quadros executivos, ao modelo de gestão e aos limites impostos à ação administrativa. FINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICA 15| A governabilidade está em supervisionar e assegurar, em vez de fazer. Governabilidade é o processo de supervisão de uma organização. Ela consiste na responsabilidade geral e garante que o trabalho da organização contribua para a sua missão e o seu propósito, e que os seus recursos sejam usados com sabedoria e eficácia. Além disso, é por meio da governabilidade que são garantidas as condições do exercício do poder, as características do sistema político, a forma de governo, as relações entre os poderes, o sistema partidário e o sistema de intermediação de interesses. Assim, a governança corresponde ao suporte fundamental para os administradores direcionarem seus atos para a necessidade da população, para a organização de políticas públicas favoráveis à melhoria do bem-estar da coletividade. Pretende-se, então, melhorar os serviços prestados pelos entes públicos, diminuir atos de improbidade e cumprir as metas estabelecidas. 1.1.4. Intervenção do Estado na atividade econômica O Estado pode de diversas formas interferir na atividade econômica no país, tendo por objetivo assegurar os direitos e garantias da população, podendo ter função reguladora da ordem econômica vigente, alocando recursos, distribuindo renda ou estabilizando a economia. 1.1.4.1. Função alocativa O estado estabelece quais e quantos bens serão dispostos à população para a prestação de serviços públicos e de que forma essa alocação de bens interfere no bem-estar da população. 1.1.4.2. Função distributiva Nesta função está a composição de que forma será distribuída a renda, o produto interno bruto, o Estado pode proceder com aumento de impostos para determinadas classes sociais, manutenção ou oferta de serviços para as classes menos favorecidas e auxílios de composição de renda à população carente. 1.1.4.3. Função estabilizadora Nesta função, o Estado influenciará ativamente na economia, utilizando de meios para gerar mais emprego, estabilizar os preços, criar políticas de tributação ou monetização ou qualquer outro meio que promova o crescimento econômico. 16 FINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICA| 1.2. Noções de governo1.2. Noções de governo Para seu entendimento, é importante salientar que a Administração Pública apresenta uma ideia diferente do conceito de governo. O governo representa o conjunto de poderes e órgãos constitucionais, o complexo de funções estatais básicas, cuja expressão é a política de comando, de iniciativa, de fixação dos objetivos do Estado e de manutenção da ordem vigente. A Administração Pública, por sua vez, compreende as atividades do Estado destinadas à satisfação concreta dos interesses públicos. Portanto, a Administração não pratica atos de governo, e, sim, atos de execução, com maior ou menor autonomia funcional, segundo a competência do órgão e de seus agentes – são os chamados atos administrativos. O Estado tem essa característica orgânica, composto por partes distintas e harmônicas. Isto quer dizer, pelas entidades, órgãos com funções determinadas e hierarquizadas. Dessa forma, há na Administração Pública dois sentidos que conceituam sua característica orgânica: o objetivo e o subjetivo. O sentido objetivo, também conhecido como material ou funcional, está relacionado às atividades da Administração Pública, de modo que seu foco é a atividade exercida, independente de quem a exerça. Já o sentido subjetivo, também conhecido como orgânico ou formal, tem foco em quem exerce a atividade administrativa, isto é, pessoas e órgãos. Figura 02: Características do sentido objetivo e subjetivo. SENTIDO OBJETIVO SENTIDO SUBJETIVO (Material/Funcional) (Orgânico/Formal) ATIVIDADES PESSOAS/ÓRGÃOS Fonte: Elaborado pela autora. Esta estruturação, com características objetivas e subjetivas, encontra- se em esferas e composições de poder que norteiam as estruturas da administração pública brasileira. Ocorrem, portanto, nas esferas municipal, estadual e federal e nos poderes executivo, legislativo e judiciário. FINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICA 17| 1.3. Administração Pública1.3. Administração Pública Para cumprir com o seu dever de administrar, atendendo a contento o interesse público, o Estado deve assegurar as condições indispensáveis a essa administração, que se configura da maneira como já analisamos, de forma direta e indireta. Nesse sentido, os princípios são norteadores da conduta administrativa, são diretrizes para diferentes normas e para sua validação. A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campa- nhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informa- tivo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos. (BRASIL, 1988) A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios são Pessoas Jurídicas de Direito Público, mas que seguem os princípios que estão textualmente expressos na Constituição Federal. No que se refere à amplitude de interesse, faz-se necessário conciliar da melhor forma possível para que os princípios sejam seguidos. Cabe observar que estes não são os únicos princípios, existem outros que têm sua referência na Constituição. Quadro 03: Fundamentos que norteiam o Estado democrático de direito. Art. 1º - A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I – a soberania; II – a cidadania; III – a dignidade da pessoa humana; IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V – o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. Fonte: BRASIL (1988). 1.3.1. Princípios constitucionais da administração pública A Constituição Federal enumera os princípios básicos da administração pública, aplicáveis aos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), são eles: legalidade, moralidade, impessoalidade, publicidade e eficiência. 18 FINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICA| Quadro 04: Definições dos princípios básicos da administração pública. PRINCÍPIO DEFINIÇÃO Legalidade A administração pública só pode agir de acordo com o que está estabelecido na lei, e o administrador público só pode realizar atos previstos em lei. Moralidade O comportamento da administração pública deve ser ético e moral. Impessoalidade O ente público deve manter neutralidade no atendimento, não podendo privilegiar ou prejudicar quem quer que seja, deve atender de forma impessoal e geral. Publicidade Os atos da atividade administrativa pública devem ser divulgados obri- gatoriamente e suas informações devem ser de conhecimento público. Eficiência Deve manter e ampliar os serviços públicos de forma a assegurar o melhor resultado possível e a máxima eficiência na sua prestação. Fonte: Elaborado pela autora. FFIQUEIQUE ATENTOATENTO O artigo 5º da Constituição Federal trata dos direitos fundamentais do cidadão e é nele que estão descritos os princípios constitucionais. Como faz parte de sua vida conhecer seus direitos e deveres, e é fundamental para o profissional que irá se tornar, leia na íntegra na CF/1988 do artigo 5º ao 17º. A administração pública deve, então, seguir os princípios como norteadores de sua estrutura administrativa. Com isso, deve prever suas receitas e planejar, a partir delas, seus gastos, suasdespesas (eficiência), dar publicidade de seus atos à coletividade para que todos tenham ciência da forma que o patrimônio público está sendo administrado. Cabe ainda à administração pública seguir de acordo com as normas estabelecidas para o orçamento público (legalidade) e manter comportamento de acordo com a ética nos seus gastos ao lidar com o dinheiro público (moralidade). 1.3.2. Desconcentração e descentralização A administração pública ocorre de forma desconcentrada, no qual se criam os diversos órgãos de competência dentro de cada pessoa jurídica que compõe a administração pública e também de forma descentralizada, que cria a pessoa jurídica da administração indireta. FINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICA 19| As formas direta ou indireta são regidas em sua base por normas, leis e decretos, conforme podemos observar no artigo 37 da Constituição Federal: “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência” (BRASIL, 1998). 1.3.3. Administração pública direta A administração direta se dá pelo governo e pelos agentes públicos. Estes, no entanto, não possuem autonomia nem personalidade jurídica própria e têm a distribuição interna (desconcentração) de competências para administrar de forma centralizada. Isso significa que administram pela personalidade jurídica da União de direto público, que o faz através de diversos órgãos, como o Ministério da Fazenda e o Ministério Público, que redistribuem para as secretarias através da hierarquia, da subordinação. 1.3.4. Administração pública indireta A administração pública indireta se dá por diferentes formas e ocorre por meio de várias entidades, a saber: autarquias, fundações públicas, empresas públicas e sociedades de economia mista. Sobre isso, a Constituição Federal estabelece que: somente por lei específica poderá ser criada autarquia e auto- rizada a instituição de empresa pública, de sociedade de eco- nomia mista e de fundação, cabendo à lei complementar, neste último caso, definir as áreas de sua atuação. (BRASIL,1988) Sendo assim, as autarquias e fundação públicas de direto público são criadas por lei e estabelecidas como entidades jurídicas de direito público, ou seja, são outorgadas. Já as fundações públicas de direito privado, empresas públicas e sociedade de economia mista são autorizadas por lei, delegadas e de direito privado. A administração indireta ocorre pela necessidade que a União tem de não “inchar” a máquina pública. Para isso, ela cria uma outra personalidade jurídica por força de lei (descentralização). Um exemplo são as autarquias que desempenharão atividades de interesse público e são dotadas de personalidade jurídica própria (têm vida própria), possuindo competência para o exercício de atividades administrativas. 20 FINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICA| Vale ressaltar que pode ocorrer a administração indireta nas formas de outorga ou delegação. No caso de outorga, a pessoa que presta o serviço é instituída pelo Estado e encarregada pela prestação do serviço público, como vimos anteriormente a exemplo o INSS, que configura uma autarquia (sobre a qual falaremos mais à frente). A prestação indireta por delegação ocorre quando o Estado não cria um ente, mas o seleciona através de um processo licitatório, podendo esta modalidade ser executada de diversas formas: concessão, permissão, autorização e parceria público-privada (PPP). As formas de delegação como concessão, permissão e parceria público-privada ocorrem através de licitação na modalidade de concorrência e são firmadas por um contrato administrativo. A forma conhecida como autorização, por sua vez, requer um decreto ou portaria que a formalize e é viabilizada por ato administrativo. No caso de outorga, a pessoa que presta o serviço é instituída pelo Estado e encarregada pela prestação do serviço público... 1.4. Bens públicos1.4. Bens públicos Os bens públicos são aqueles que pertencem a pessoa jurídica de direito público interno, conforme Araújo (2010, p. 49) e o código civil brasileiro, são necessários para o desempenho das funções do Estado. Na história da humanidade, os bens públicos já foram definidos de diversas formas, normalmente compartilhando da ideia de uso comum. Sendo eles, hoje, classificados em de uso comum, dominicais e especiais. 1.4.1. Especiais Os bens classificados como especiais são aqueles destinados à utilização no exercício da atividade pública, do Estado, deve cumprir sua missão, não podendo servir para quitação de dívidas de precatórias judiciais, alienações e nem servirem de garantia onerosa. Exemplos de bens especiais são as faixas de fronteiras e terras devolutas para proteção de ecossistemas naturais, repartições públicas etc. FINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICA 21| 1.4.2. Dominicais São aqueles que não são enquadrados como especiais e nem de uso comum, podendo ser composta por bens móveis e imóveis, sendo possível alienação conforme o descrito na lei. Tem por características terras ociosas ou de utilização para exploração econômica. São passíveis de locação, arrendamento ou comodato. Alguns exemplos de bens dominicais são as terras devolutas de titularidade do Estado, jazidas de minerais e terrenos da marinha. 1.4.3. De uso comum do povo São os bens que servem a todos, que estão à disposição de toda a sociedade, mas sua utilização é disciplinada pelo ente público. Exemplos de bens de uso comum são as praças, parques, rios e praias. PPRATIQUERATIQUE 6. Qual a função da governabilidade? 7. Explique quais tipos de intervenções a economia pode sofrer do governo? 8. Por que dizemos que o governo tem um sentido objetivo? 22 FINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICA| 9. O que significa o princípio da legalidade? 10. Defina administração pública direta e indireta. RRELEMBREELEMBRE Nesta unidade, começamos nossos estudos com aspectos mais conceituais de Estado (sua forma e composição), de Governo, de Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) e Administração Pública. Vimos que está é fundamental para garantir o bem-estar da população e a qualidade dos serviços ofertados pelo ente público, pois seu dever é com a coletividade. Conhecemos os vários modelos de administração pública que já foram adotados aqui no Brasil, iniciando com a vinda da Família Real em 1808, e que eles coexistem ainda hoje, são eles: o modelo patrimonialista, o burocrático e o gerencial, sendo que este último é o que prevalece atualmente. Estudamos ainda os princípios que regem a administração pública (legalidade, moralidade, impessoalidade, publicidade e eficiência) e a administração direta e indireta e como essa administração tem formas de desconcentrar e descentralizar. FINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICA 23| RREFERÊNCIASEFERÊNCIAS ANDRADE, Nilton de Aquino. Contabilidade na gestão municipal. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012. ARAÚJO, Barbara Almeida. A posse dos bens públicos. Rio de Janeiro: Forense, 2010. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil.1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 01 jun. 2020. AANOTAÇÕESNOTAÇÕES 24 FINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICA| AANOTAÇÕESNOTAÇÕES Rua Coletor Antônio Gadelha, Nº 621 Messejana, Fortaleza – CE CEP: 60871-170, Brasil Telefone (85) 3033.5199 w w w .U ni AT EN EU .e du .b r Finanças Públicas e Contabilidade Pública Autoria Patricia Batista Vieira FINANÇAS PÚBLICAS EFINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICACONTABILIDADE PÚBLICA SSEJAEJA BEMBEM--VINDOVINDO!! ReitoR: Prof. Cláudio ferreira Bastos Pró-reitor administrativo financeiro: Prof. rafael raBelo Bastos Pró-reitor de relações institucionais: Prof. Cláudio raBelo Bastos Pró-reitor acadêmico: Prof. HerBert Gomes martins direção ead: Prof. riCardo ZamBranoJúnior coordenação ead: Profa. luCiana rodriGues ramos Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, total ou parcialmente, por quaisquer métodos ou processos, sejam eles eletrônicos, mecânicos, de cópia fotostática ou outros, sem a autoriza- ção escrita do possuidor da propriedade literária. Os pedidos para tal autorização, especificando a extensão do que se deseja reproduzir e o seu objetivo, deverão ser dirigidos à Reitoria. expediente Ficha técnica autoria: PatriCia Batista Vieira suPervisão de Produção nead: franCisCo Cleuson do nasCimento alVes design instrucional: antonio Carlos Vieira Projeto gráfico e caPa: franCisCo erBínio alVes rodriGues diagramação e tratamento de imagens: ismael ramos martins revisão textual: antonio Carlos Vieira Ficha catalogRáFica catalogação na publicação biblioteca centRo univeRsitáRio ateneu VIEIRA, Patricia Batista. Finanças públicas e contabilidade pública. / Patricia Batista Vieira. – Fortaleza: Centro Universitário Ateneu, 2020. 136 p. ISBN: 1. Administração pública. 2. Orçamento público. 3. Contabilidade pública. 4. Legislações. Centro Universitário Ateneu. II. Título. SSEJAEJA BEMBEM--VINDOVINDO!! Caro(a) estudante, temos a satisfação de apresentar o material didático da disciplina Finanças Públicas e Contabilidade Pública. Ao ler e estudar por este material, você terá condições de responder as atividades no Ambiente Virtual de Aprendizagem – AVA. Este livro está dividido em quatro unidades de acordo com a ementa da disciplina. Os estudos serão iniciados com os primeiros passos que tratam sobre a introdução do conceito da organização do Estado; posteriormente, trabalharemos a administração pública, abordando temas relacionados às finanças públicas e licitações. Seguindo com uma retrospectiva histórica acerca da administração pública brasileira, analisaremos o processo de orçamento público em prol da administração para a sociedade e como ele influencia os gastos públicos; por fim, estudaremos a contabilidade aplicada ao setor público, a legislação e as demonstrações contábeis aplicadas ao setor público. Não é nosso objetivo esgotar todo o assunto, ao contrário, você deverá procurar outras fontes além deste livro para aprofundar seu conhecimento e estar sempre atualizado sobre os temas estudados aqui. A partir da leitura deste material didático, você estará apto para corresponder às exigências solicitadas nos trabalhos acadêmicos e na sua vida em sociedade, principalmente em se tratando de temas como a receita e a despesa nas entidades públicas, planejamento e contabilidade pública e legislação pertinente à administração pública. Bons estudos! SUMÁRIO CCONECTEONECTE--SESE AANOTAÇÕESNOTAÇÕES RREFERÊNCIASEFERÊNCIAS Estes ícones aparecerão em sua trilha de aprendizagem e significam: SUMÁRIO 1. Organização da administração pública e fundamentos constitucionais das atividades do estado ................................................ 8 Referências ............................................................... 23 01 1. Orçamento público ................................................ 26 2. Receita pública ...................................................... 37 3. Despesa pública .................................................... 50 Referências ............................................................... 64 02 ORÇAMENTO DAS ENTIDADES PÚBLICAS A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 1. Lei de responsabilidade fiscal ............................. 112 2. Execução orçamentária e financeira ................... 117 3. Demonstrações contábeis ................................... 121 Referências ............................................................. 134 04 LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL, EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA E FINANCEIRA E DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS NO SETOR PÚBLICO 1. Contabilidade das entidades públicas ................... 68 2. Legislação aplicada à contabilidade do setor público .......................................................... 80 3. Licitações e contratos administrativos ................... 85 Referências ............................................................. 109 03 CONTABILIDADE E LEGISLAÇÃO NO SETOR PÚBLICO ApresentaçãoApresentação Não é possível executar determinada atividade sem um bom planejamento e, por isso, uma instituição pública também possui o instrumento orçamentário. Com certeza já sabemos o que é orçamento, mas veremos que o orçamento público possui características e particularidades que exigem conhecimento do profissional contábil. O orçamento público requer amparo legal para sua constituição e reforça a necessidade de tornar público a aplicação dos recursos das entidades, deixar claro como e de que forma está sendo gasto, seguir os princípios constitucionais e ter como prioridade a prestação de serviços a população. Unidade 02 orçAmento dAs entidAdes orçAmento dAs entidAdes públicAspúblicAs 26 FINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICA| OOBJETIVOSBJETIVOS DEDE APRENDIZAGEMAPRENDIZAGEM • Compreender o processo de planejamento orçamentário (Plano Plurianual, Lei das Diretrizes Orçamentárias e Lei do Orçamento Anual); • Conhecer os princípios orçamentários e ciclo do orçamento; • Conhecer os aspectos inerentes às receitas públicas; • Conhecer os aspectos que envolvem as despesas no setor público. 1. orçAmento público1. orçAmento público O orçamento público é o instrumento da gestão pública responsável pela organização das receitas e despesas de determinado período, ou seja, é o documento que autoriza o recebimento de recursos e a realização de gastos públicos. De acordo com o art. 2º da Lei nº 4.320/64, o orçamento conterá a discriminação da receita e da despesa de forma a evidenciar a política econômico-financeira e o programa de trabalho do governo. 1.1. Noções básicas e natureza jurídica1.1. Noções básicas e natureza jurídica Segundo o parágrafo 8º do art. 165 da Constituição Federal de 1988, o orçamento não conterá dispositivo estranho à previsão da receita e à fixação da despesa, de forma a atender os planos e programas de trabalho desenvolvidos, objetivando a continuidade e a melhoria quantitativa e qualitativa dos serviços prestados à sociedade. O orçamento público e seu planejamento possibilitam a redução das desigualdades dentro da comunidade, já que os governantes precisam definir prioridades para os recursos extraídos da sociedade e como distribuí-los entre diferentes grupos sociais. O orçamento público e seu planejamento possibilitam a redução das desigualdades dentro da comunidade... FINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICA 27| Historicamente, o povo não participava das decisões a respeito dos impostos a serem pagos e dos gastos públicos, pois o monarca tinha a soberania para impor seu poder discricionário. Com o advento das lutas populares, como na Inglaterra (1215) por meio da Carta Magna em que “nenhum tributo ou subsídio será instituído no Reino, a menos que seja aprovado pelo Conselho do Reino” e, ainda, na França (1789), em que a Constituição consagrou o princípio de que “nenhum imposto pode ser cobrado sem o consentimento da nação”, o controle orçamentário no Brasil foi se aprimorando, principalmente, nas versões das Constituições brasileiras. Hoje, o orçamento público no Brasil possui sua fundamentação na legislação a seguir: • Constituição Federal da República Federativa do Brasil de 1988 (artigos 165 a 169); • Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964; • Portaria MOG nº 42, de 14 de abril de 1999; • Lei Complementar nº 101, de 04 de maio de 2000; • Portaria Interministerial STN/SOF nº 163, de 04 de maio de 2001. A gestão pública financeira estava orientada, basicamente, pela Lei nº 4.320, de 17 de fevereiro de 1964, até que em 05 de outubro de 1988, a Constituição Federal determinou que uma nova lei dispusesse sobre finanças públicas (art. 163 da CF). Essa lei corresponde à Lei da Responsabilidade Fiscal (LRF), Lei Complementar nº 101/2000,estabelecendo as normas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal. Posteriormente, a Portaria Interministerial STN/SOF nº 163/2001 uniformizou os procedimentos de execução orçamentária. 1.2. Tipos de orçamentos1.2. Tipos de orçamentos A classificação determina a maneira pela qual o orçamento é elaborado, dependendo do regime político vigente, ou seja, os orçamentos variam conforme a forma de governo adotada e podem ser classificados em três tipos de orçamento: 28 FINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICA| • Legislativo: é o formato de orçamento cuja elaboração, votação e aprovação são de competência do Poder Legislativo, sendo de responsabilidade do Executivo a execução. Modelo utilizado em países parlamentaristas; • Executivo: é o formato de orçamento cuja elaboração, aprovação, execução e controle são do Poder Executivo. Modelo utilizado em países com poder absoluto; • Misto: é o formato de orçamento elaborado e executado pelo Executivo, enquanto a votação e o controle são de responsabilidade do Poder Legislativo. É o modelo utilizado no Brasil. Dentre os diversos tipos de orçamentos envolvendo o setor público, podemos citar os principais: Orçamento tradicional: consta a previsão da receita e autorização da despesa para o exercício subsequente, porém, com ausência de planejamento e objetivos para suprir as necessidades da comunidade. Orçamento de desempenho: o método pressupõe que a distribuição dos recursos da proposta orçamentária seguirá o desempenho de cada unidade administrativa apresentado no exercício anterior. A decisão do orçamento futuro está embasada no desempenho do passado. Orçamento-programa: método adotado no Brasil pela Lei nº 4.320/64, pode ser entendido como um plano de trabalho, ou instrumento de planejamento da ação do governo, através da identificação dos seus programas de trabalho, projetos e atividades, além do estabelecimento de objetivos e metas a serem implementados, bem como a previsão dos custos relacionados. É um processo em que os recursos financeiros de cada unidade orçamentária se vinculam direta ou indiretamente aos objetivos propostos. A CF/88 implantou definitivamente o orçamento-programa no Brasil, ao estabelecer os instrumentos de planejamento (PPA, LDO e LOA), explicitando a preocupação dos constituintes com o planejamento das ações do governo. Orçamento base zero: nesse modelo, cada ente público deve justificar o montante de gastos e sua respectiva aplicação para inclusão na proposta da LOA. É um processo de identificação de atividades e operações em ordem de importância, baseando-se na preparação de pacotes de decisão. Toda despesa é considerada uma despesa nova, independentemente de tratar-se de despesa continuada ou nova. FINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICA 29| 1.3. Princípios orçamentários1.3. Princípios orçamentários Os princípios orçamentários são regras básicas que todo orçamento público deve seguir. Funciona, assim, como uma forma de padronizar e garantir que o dinheiro público seja usado de maneira correta. Esses princípios foram criados para garantir a racionalidade, a transparência e a eficiência na elaboração de um orçamento e são os parâmetros para avaliação de sua qualidade. Alguns princípios já eram previstos na Lei nº 4.320/1964 (s. p.): A lei de orçamento conterá a discriminação da receita e des- pesa de forma a evidenciar a política econômico-financeira e o programa de trabalho do governo, obedecidos os princípios da unidade, universalidade e anualidade. Entretanto, outros princípios foram acrescentados em legislação posterior, sendo os principais discriminados a seguir: Quadro 01: Detalhamento dos princípios orçamentários. Princípio Premissa Unidade (CF e Lei nº 4.320) Apenas um orçamento para cada exercício. Universalidade (Lei nº 4.320) Conter todas as receitas e despesas do ente público, ou seja, nenhu- ma instituição pública deve ficar fora do orçamento. Orçamento bruto (Lei nº 4.320) Orçamento com valores brutos, sem deduções. Anualidade (CF e Lei nº 4.320) Deve ser elaborado para um período determinado (ano civil). Não afetação da receita (CF) Receita não pode ter despesa vinculada, salvo exceções previstas em legislação, ou seja, não utilização da receita de impostos para outras despesas que não sejam serviços públicos de saúde, educação e ativi- dades de administração tributária. Discriminação (Lei nº 4.320) Especificação das origens e aplicação dos recursos. Exclusividade (CF) A lei orçamentária deve conter apenas matéria orçamentária ou finan- ceira (exceção para abertura de créditos suplementares e contratação de operações de crédito). Equilíbrio (CF) Receitas e despesas com paridade (rigor especificado na Lei de Res- ponsabilidade Fiscal). Legalidade (CF) Previsão em lei (participação do Poder Executivo com apreciação do Legislativo). Publicidade (CF) Veiculação do conteúdo orçamentário nos meios de comunicação. Fonte: Elaborado pela autora. 30 FINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICA| 1.4. Planejamento orçamentário1.4. Planejamento orçamentário O planejamento público tem como base legal a própria Constituição Federal de 1988, levando a crer que o exercício da função de planejamento é um dever do Estado e não uma faculdade. Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade eco- nômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fisca- lização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado. § 1º A lei estabelecerá as diretrizes e bases do planejamento do desenvolvimento nacional equilibrado, o qual incorporará e com- patibilizará os planos nacionais e regionais de desenvolvimento. Na realidade, o planejamento governamental se materializa, principalmente, através do Plano Plurianual, que tem caráter de grande moldura legal (institucional) para a ação nacional, bem como para as demais esferas de governo. A Constituição Federal de 1988 estabelece três instrumentos legais de planejamento: Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: I. o plano plurianual; II. as diretrizes orçamentárias; III. os orçamentos anuais. (BRASIL, 1988) Para facilitar o entendimento, relacionamos essas ferramentas aos níveis de planejamento organizacional, conforme figura a seguir. Figura 01: Art. 165, da CF 88 – Associação do PPA, LDO, LOA e suas características: estratégico, tático e operacional. PPA LDO LOA Estratégico Tático Operacional Fonte: Elaborada pela autora. FINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICA 31| Assim sendo, vale ressaltar que a gestão pública está respaldada na rigidez decorrente da previsão legal, com o intuito de garantir a transparência das aplicações dos recursos recebidos. Dessa forma, vamos entender cada um desses instrumentos obrigatórios no planejamento da contabilidade pública. 1.4.1. Leis orçamentárias: PPA, LDO e LOA O Plano Plurianual é conhecido como o planejamento estratégico de médio prazo da administração pública brasileira. De acordo com o artigo 166 de nossa Constituição Federal, o Executivo pode encaminhar mensagem ao Legislativo, propondo modificações no projeto do PPA, enquanto não iniciada a votação da proposta. A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) é o instrumento responsável pela conexão entre o plano estratégico das ações governamentais (PPA) e o plano operacional (orçamento anual), pois orienta a elaboração da LOA. A Lei de Diretrizes Orçamentárias conterá, segundo o art. 165 da Constituição Federal: as metas e prioridades (MP) da administração pública federal, incluindo as despesas de capital para o exercício financeiro sub- sequente; orientará a elaboração da lei orçamentária anual, e disporá sobre as alterações na legislação tributária e estabele- cerá a política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento. De acordo com a Lei nº 4.320/64, a Constituição Federal/88 e a Lei Complementar nº 101/00, a vigência da LDO é anual, ou seja, vigora por um períodode 12 meses, contendo normas e critérios relativos ao controle de receitas e despesas e à avaliação dos resultados dos programas financiados com recursos orçamentários. Quanto aos prazos estipulados pela Constituição Federal, a LDO deverá ser encaminhada pelo Poder Executivo até oito meses e meio antes do encerramento do exercício financeiro, ou seja, até dia 15/04. Por sua vez, retornará para sanção até o dia 17/07 e não será encerrado o semestre legislativo sem a aprovação do projeto. No Legislativo, o projeto da LDO poderá receber emendas, desde que compatíveis com o PPA (art. 166 da CF/88). Essas emendas serão apresentadas e submetidas ao plenário para votação. 32 FINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICA| Ainda de acordo com o artigo 166 da Constituição Federal de 1988, a exemplo do que ocorre com o PPA, o Executivo pode encaminhar mensagem ao Legislativo, propondo modificações no projeto da LDO, enquanto não iniciada a votação da proposta. Com a edição da Lei Complementar nº 101, de 04 de maio de 2000, a LDO teve a suas funções ampliadas, por força do artigo 4º, passando a ter maior relevância. Entre suas novas funções destacam-se: • Equilíbrio entre receita e despesa; • Critérios e formas de limitação de empenho, a ser verificado no final de cada bimestre quando se verificar que a realização da receita poderá comprometer os resultados nominal e primário estabelecidos no anexo de metas fiscais e para reduzir a dívida ao limite estabelecido pelo Senado Federal; • Normas relativas ao controle de custos e à avaliação dos resultados dos programas financiados com recursos orçamentários; • Inclusão dos anexos de metas fiscais e de riscos. ¾ Anexos da LDO • Anexo de Metas Fiscais – Contém os objetivos em relação aos resultados das contas do governo, sendo composto por (Art. 4º da Lei Complementar nº 101/2000): I. avaliação do cumprimento das metas relativas ao ano anterior; II. demonstrativo das metas anuais, instruído com memória e metodologia de cálculo que justifiquem os resultados pre- tendidos, comparando-as com as fixadas nos três exercí- cios anteriores, e evidenciando a consistência delas com as premissas e os objetivos da política econômica nacional; III. evolução do patrimônio líquido, também nos últimos três exercícios, destacando a origem e a aplicação dos recursos obtidos com a alienação de ativos; IV. avaliação da situação financeira e atuarial: a. dos regimes geral de previdência social e próprio dos servi- dores públicos e do Fundo de Amparo ao Trabalhador; FINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICA 33| b. dos demais fundos públicos e programas estatais de natu- reza atuarial; V. demonstrativo da estimativa e compensação da renúncia de receita e da margem de expansão das despesas obrigató- rias de caráter continuado. • Anexo de Riscos Fiscais – Informa os passivos contingentes e outros riscos capazes de afetar as finanças públicas, sugerindo, inclusive, as providências a serem tomadas. A Lei Orçamentária Anual (LOA), na Lei Complementar nº 101/00, compreende a programação das ações a serem executadas, visando atingir as diretrizes, objetivos e metas estabelecidas no plano plurianual. De acordo com a Constituição Federal, a LOA é o orçamento fiscal e não conterá dispositivo estranho à previsão da receita e à fixação da despesa. É o cumprimento ano a ano das etapas previstas no PPA, em consonância com a LDO, conforme consta na Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar nº 101/00). Vale ressaltar algumas características importantes: • Pressupõe a participação popular com audiências públicas em busca das necessidades e prioridades da comunidade; • Disponibilização e divulgação de versão simplificada para acesso do cidadão; • As emendas ao projeto de lei do orçamento anual ou aos projetos que o modifiquem somente podem ser aprovadas caso sejam compatíveis com o Plano Plurianual (PPA) e com a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Além disso, devem indicar os recursos necessários, admitidos apenas os provenientes de anulação de despesa; • Os recursos financeiros que, em decorrência de veto, emenda ou rejeição do projeto de Lei Orçamentária Anual, ficarem sem despesas correspondentes poderão ser utilizados, conforme o caso, mediante créditos especiais ou suplementares, com prévia e específica autorização legislativa; • O demonstrativo regionalizado do efeito, sobre as receitas e despesas, decorrente de isenções, anistias, remissões, subsídios e benefícios de naturezas financeiras, tributárias e creditícias, deverão acompanhar o projeto da lei orçamentária; 34 FINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICA| • A reserva de contingência estará contida na LOA, enquanto a forma de utilização e o montante serão estabelecidos na LDO. A lei orçamentária compreenderá: • O orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fundos, órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público; • O orçamento de investimento das empresas em que a União, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto; • O orçamento da seguridade social, abrangendo todas as entidades e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou indireta, bem como os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo Poder Público. Os instrumentos de planejamento orçamentário podem ser relacionados conforme figura a seguir: Figura 02: Demonstração de PPA, válido por 4 anos, sua correspondência a 4 LDOs (anuais) e, por sua vez, cada LDO ligada a uma LOA. PPA 2014/2017 2014 LDO 2015 2016 2017 2014 LOA 2015 2016 2017 Fonte: Elaborada pela autora. O quadro a seguir nos traz um resumo detalhado dos prazos: FINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICA 35| Quadro 02: Prazos do Poder Executivo e Poder Legislativo para aprovação dos instrumentos de planejamento do orçamento público. Projeto Prazo de envio até Prazo de devolução até PPA 4 meses antes do encerramento do 1º exercício financeiro. Na prática, deve ser encaminhado até 31/08. No encerramento da sessão legislativa. Na prática, deve ser devolvido até 15/12. LDO 8,5 meses antes do encerramento do exercício financeiro. Na prática, deve ser encaminhado até 15/04. No encerramento do primeiro período da sessão legislativa. Na prática, deve ser devolvido até 30/06. LOA 4 meses antes do encerramento do exercício financeiro. Na prática, deve ser encaminhado até 31/08. No encerramento da sessão legislativa. Na prática, deve ser devolvido até 15/12. Fonte: Adaptado da Lei nº 4.320/64; Lei complementar nº 101/00 e CF/1988. 1.4.2. Elaboração das leis orçamentárias Segundo a Constituição Federal (1988), a lei que instituir o Plano Plurianual deverá estabelecer de forma regionalizada as diretrizes, os objetivos e as metas da administração pública federal para as despesas de capital e outras delas decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada. Veremos algumas características desse instrumento, com base na Lei nº 4.320/64 e na Lei Complementar nº 101/00: • Nenhum investimento ultrapassando um exercício financeiro pode ser iniciado sem prévia inclusão no Plano Plurianual, ou seja, sem uma lei que autorize a inclusão, sob pena de crime de responsabilidade ao gestor público; • Vigência do Plano Plurianual é de 4 anos; • Criação do PPA ocorre no primeiro ano do mandato e deve ser encaminhado 4 meses antes do término do referido ano; • A validade se inicia a partir do segundo ano do mandato, ou seja, o PPA criado no mandato de um gestor vale para o primeiro ano do mandato; • Para a continuidade administrativa, o PPA deve determinar os programas de duração continuada: 36 FINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICA| ¾ Finalísticos: visam a oferta de serviços e bens diretamente à sociedade; ¾ De apoio às políticas públicas e às áreas especiais: buscam a oferta de serviços ao Estado, na gestão de políticas e no apoio administrativo. • Os Estados,o Distrito Federal e os municípios poderão fixar, nas suas constituições e leis orgânicas, respectivamente, prazo diverso do estabelecido na Constituição Federal, em caso omisso deverá ser obedecido o prazo estabelecido na CF/88; • O Poder Legislativo deverá devolver o PPA aprovado para sanção até o encerramento da sessão legislativa (22 de dezembro), conforme artigo 57, da CF/88); • O projeto do PPA poderá receber emendas do Legislativo, que depois de votado retornará ao Executivo para sanção. 1.5. Créditos adicionais1.5. Créditos adicionais De acordo com o glossário do Planalto, são créditos adicionais as autorizações de despesas não computadas ou insuficientemente dotadas na lei de orçamento. Dependendo da sua finalidade, classificam-se em: • Suplementares; • Especiais; • Extraordinários. Os suplementares destinam-se ao reforço de uma dotação orçamentária já existente, ao passo que os especiais visam atender a uma necessidade não contemplada no orçamento. Já créditos extraordinários pressupõem uma situação de urgência ou imprevisão, tal como guerra, comoção interna ou calamidade pública. Os créditos suplementares especiais dependem de autorização legislativa, ao passo que os extraordinários são abertos por decreto do Executivo, que deles dará ciência imediata ao Legislativo. Os créditos adicionais, uma vez aprovados, incorporam-se ao orçamento do exercício. Fonte: <https://bit.ly/2Bip2Xn>. FINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICA 37| 1.6. Ciclo orçamentário1.6. Ciclo orçamentário Para que haja o processo orçamentário, ocorrem fases na confecção, etapas que vão dando origem à Lei Orçamentária Anual, conforme podemos observar na figura a seguir. Figura 03: Ciclo integrado de planejamento e orçamento. Plano Plurianual - PPA Controle e avaliação da execução orçamentária e financeira Execução orçamentária e financeira Discussão, votação e aprovação da lei orçamentária anual Planos nacionais, regionais e setoriais Lei de diretrizes orçamentárias - LDO Elaboração da proposta orçamentária anual - LOA Fonte: <https://bit.ly/2U0fkzq>. 2. receitA públicA2. receitA públicA A receita pública orçamentária constitui a disponibilidade de recursos financeiros do exercício orçamentário, ou seja, refere-se a qualquer entrada de dinheiro nos cofres públicos que não esteja sujeito à devolução. Esses recursos são provenientes das contribuições, taxas e impostos pagos pela comunidade em contrapartida de uma prestação de serviço fornecida pela máquina pública, segundo a Lei 4.320/64: Art. 9º Tributo é a receita derivada instituída pelas entidades de direito público, compreendendo os impostos, as taxas e con- tribuições nos termos da constituição e das leis vigentes em matéria financeira, destinando-se o seu produto ao custeio de atividades gerais ou específicas exercidas por essas entidades. (BRASIL, 1964) 38 FINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICA| 2.1. Noções básicas2.1. Noções básicas A principal finalidade de uma receita no âmbito da gestão pública é viabilizar a execução das políticas públicas, atendendo necessidades coletivas. Apesar disso, a legislação restringe a forma como o gestor público poderá lidar com as decisões das entradas de recursos financeiros, conforme apresentado pela Lei 4.320/64: Art. 51. Nenhum tributo será exigido ou aumentado sem que a lei o estabeleça, nenhum será cobrado em cada exercício sem prévia autorização orçamentária, ressalvados a tarifa aduaneira e o imposto lançado por motivo de guerra. O ingresso dos recursos financeiros no ente público está restrito ao princípio da unidade de tesouraria, sendo proibida qualquer fragmentação para criação de caixas especiais, conforme art. 56 da Lei 4.320/64. Nesse sentido, o controle desses recursos é facilitado para a comunidade, até mesmo porque cada contribuinte deve receber comprovante, em via única, constando o montante pago, procedência e discriminação de data e identificação do agente arrecadador (banco, casa lotérica, entre outros). Todo ingresso de recurso financeiro, portanto, é considerado como receita pela contabilidade pública. Inclusive aquele dinheiro recebido provisoriamente, com caráter devolutivo, sendo devolvido posteriormente ao ente proprietário, ou seja, será registrado como receita pela contabilidade pública qualquer ingresso de dinheiro nos cofres públicos. 2.2. Classificação2.2. Classificação Para facilitar o entendimento da procedência dos recursos financeiros que ingressaram no ente público, as receitas públicas são classificadas em diversos aspectos. Diante da utilização obrigatória para todos os entes públicos, destacaremos algumas classificações delineadas por portaria da Secretaria de Orçamento Federal (SOF), órgão do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG): a. Quanto ao ingresso de recursos financeiros nos cofres públicos: • Orçamentária: ingresso de recursos financeiros que se incorporam definitivamente ao patrimônio público (BRASIL, 2017). Vale ressaltar que existe recebimento de receita orçamentária que não está prevista na Lei Orçamentária Anual, como o resultado FINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICA 39| do superávit (art. 57, da Lei 4.320/64). Assim, podemos afirmar que são recursos financeiros que ingressam durante o exercício orçamentário e são destinados a programas e ações necessários para a execução das políticas públicas. Exemplos de receitas orçamentárias: recebimento de tributos, alienação de bens, obtenção de empréstimos; • Extraorçamentária: ingresso de recursos financeiros que não se incorporam definitivamente ao patrimônio (BRASIL, 2017), já que são recursos em trânsito nos cofres públicos e serão oportunamente repassados ao real credor. Como exemplo, temos: fiança paga como garantia de um contrato. b. Quanto ao resultado fiscal: • Primária (ou não financeira): referem-se, predominantemente, às receitas correntes; • Não primária (ou financeira): não contribuem para o resultado primário ou não alteram o endividamento líquido. c. Quanto à procedência: • Originária: surge através da exploração do próprio patrimônio do Estado. Ele produz os bens e serviços e realiza atividades parecidas com as do setor privado. Ocorrem sob a vontade do Estado e do setor privado. Exemplo: venda de produtos ou serviços; • Derivada: procede do patrimônio dos contribuintes, por meio de autoridade coercitiva do Estado. Essas receitas surgem através de empresas privadas e a renda de determinadas pessoas que devem pagar tributos, penalidades, apreensões, entre outros. Exemplo: receita proveniente de tributos. d. Quanto à duração: • Ordinária: receitas periódicas responsáveis pelo abastecimento dos cofres públicos. Exemplos: impostos e taxas regulares; • Extraordinária: receitas esporádicas que entram apenas eventualmente nos cofres públicos. Exemplos: empréstimos compulsórios e doações. 40 CIÊNCIAS: CONTEÚDOS E MÉTODOS| e. Quanto ao impacto na situação líquida patrimonial: • Efetiva: ingresso de recurso que aumenta a situação líquida patrimonial da entidade; • Não efetiva: ingresso de recurso que não altera a situação líquida patrimonial da entidade. f. Quanto à natureza: Essa classificação é estabelecida pelo § 4º do art. 11 da Lei 4.320/64 e sua codificação é normatizada no âmbito da União pela Portaria da SOF (órgão do Ministério do Planejamento) e a codificação para os Estados e Municípios está na Portaria Interministerial STN/SOF 3/2008. Vale ressaltar que a classificação da receita por natureza é padronizada com uma numeração específica para todos os entes públicos, a fim de possibilitar identificar a origem do recurso financeiro pelo fator gerador. Dessa forma, temos a seguinte estrutura de codificação para a receita: Quadro 03: Codificação da receita pública. C O E DDDD T Categoria econômica Origem Espécie Desdobramentos para identificação de peculiaridades da receita Tipo Fonte: Brasil (2017, p. 37) • Origem (Lei 4.320/64) Para as receitascorrentes, temos: ¾ Receita tributária: corresponde aos tributos relacionados na legislação tributária. Exemplos: IPVA, IRRF, IPI; ¾ Receita de contribuições: é o ingresso de recursos relacionados às receitas de caráter social e às de caráter econômico. Exemplo: contribuição para previdência (INSS); ¾ Receita patrimonial: são recursos que surgem por meio do uso econômico do patrimônio público como juros e dividendos. Exemplos: aluguel, arrendamento, participações, dividendos; CIÊNCIAS: CONTEÚDOS E MÉTODOS 41| ¾ Receita agropecuária: são recursos resultantes da exploração das atividades agropecuárias. Exemplos: agricultura, pecuária, silvicultura; ¾ Receita industrial: resultado das atividades industriais como serviços de utilidade pública, construção civil e extrativismo mineral. Exemplos: transformação do barro em telha, produção de derivados de animais; ¾ Receita de serviços: são provenientes da prestação de serviços em geral. Exemplos: meios de transporte, serviços, comércio, serviços educacionais; ¾ Transferências correntes: são recursos financeiros concebidos por pessoas jurídicas ou físicas e que são utilizadas no atendimento de despesas correntes. Isso é importante para compreender a origem da receita e sua destinação. Exemplos: transferência intergovernamental, pessoas, convênios, instituições privadas; ¾ Outras receitas correntes: são receitas que não se encaixam nas já citadas anteriormente. Exemplos: juros de mora, multas, indenizações. Já para as receitas de capital, temos: ¾ Operações de crédito: obtenção de recursos com o intuito de suprir disparidades orçamentárias ou financiar obras públicas. São essas operações de crédito que cobrem déficits orçamentários. Exemplo: empréstimo em entidade bancária; ¾ Alienação de bens: captação de recursos através da venda de bens patrimoniais móveis ou imóveis. Exemplo: venda de um veículo; ¾ Amortização de empréstimos: recebimento de valores relativos a empréstimos concedidos. Exemplo: recebimento do valor do principal; ¾ Transferências de capital: recursos recebidos de outras entidades (pública ou privada) para atender despesas de capital; ¾ Outras receitas de capital: relacionadas com as receitas de capital que não podem ser classificadas em outras fontes. 42 FINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICA| CCURIOSIDADEURIOSIDADE Art. 3º – Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. Fonte: Artigo 3º do Código Tributário Nacional. • Espécie (CF/88 e MTO/16) ¾ Imposto: tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação, independentemente de qualquer atividade do ente público, direcionada ao contribuinte. É unilateral, pois não gera qualquer dever do poder público ao contribuinte, mesmo sendo para fim de atender à população. Ex.: imposto de renda, IPVA, IPI, ISS; ¾ Taxa: retribuição por prestação de serviços públicos, à disposição da sociedade e custeados pelo ente público ou do exercício regular do poder de polícia. Ex.: taxa de conservação e limpeza pública, taxa de controle e fiscalização ambiental, taxa de fiscalização da vigilância sanitária, taxa de emissão de documentos, taxa de alvará; ¾ Contribuição: pode ser de diferentes espécies e destacamos: - Contribuição de melhoria: valorização imobiliária decorrente de benfeitoria realizada. Exemplo: ampliação, reparação, edificação no terreno; - Contribuição social: não há regra desse tipo de contribuição pela Constituição Federal e sim a finalidade, sendo: o Intervenção no domínio econômico (Exemplo: CIDE sobre combustível); o Interesse de categoria profissional ou econômica (Exemplo: contribuição ao CRC); FINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICA 43| o Seguridade social (Exemplo: contribuição para INSS). - Iluminação pública: custeio para a própria iluminação pública. • Desdobramentos: contém 4 dígitos com o objetivo de identificar as peculiaridades de cada receita, sendo utilizados conforme a necessidade de especificação do recurso financeiro. • Tipo: constitui o nível mais analítico da receita, utilizado quando há necessidade de detalhar os desdobramentos com maior especificidade e corresponde ao último dígito na natureza de receita, sendo: - 0 quando se tratar de natureza de receita não valorizável ou agregadora; - 1 quando se tratar da arrecadação Principal da receita; - 2 quando se tratar de Multas e Juros de Mora da respectiva receita; - 3 quando se tratar de Dívida Ativa da respectiva receita; e - 4 quando se tratar de Multas e Juros de Mora da Dívida Ativa da respectiva receita. Quadro 04: Resumo das origens e espécies de receita orçamentária. 1 RECEITA CORRENTE (Categoria Econômica) Naturezas da Receita 1 – Impostos, Taxas e Contribuições de Melhoria (Origem) 1 – Impostos (Origem) De 1.1.1.0.00 até 1.1.1.9.01.1.0 2 – Taxas (Espécie) De 1.1.2.0.00 até 1.1.1.2.2.01.1.0 3 – Contribuição de Melhoria (Espécie) De 1.1.3.0.00.0.0 até 1.1.3.0.00.1.0 2 – Contribuições (Origem) 1 – Contribuições Sociais (Espécie) De 1.2.1.0.00.0.0 até 1.2.1.0.99.1.0 2 – Contribuições Econômicas (Espécie) De 1.2.2.0.00.0.0 até 1.2.2.0.99.1.0 3 – Contribuições para Entidades Privadas de Serviço Social e de Formação Profissional (Es- pécie) De 1.2.3.0.00.0.0 até 1.2.3.0.01.1.0 44 FINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICA| 3 – Receita Patrimonial (Origem) 1 – Exploração do Patrimônio Imobiliário do Estado (Espécie) De 1.3.1..0.00.0.0 até 1.3.1.0.99.1.0 2 – Valores Mobiliários (Espécie) De 1.3.2.0.00.0.0 até 1.3.2.9.00.1.0 3 – Delegação de Serviços Públicos Mediante Concessão, Permissão, Autorização ou Licença (Espécie) De 1.3.3.0.00.0.0 até 1.3.3.9.99.1.0 4 – Exploração dos Recursos Naturais (Espécie) De 1.3.4.0.00.0.0 até 1.3.4.9.99.1.0 5 – Exploração do Patrimônio Intangível (Espé- cie) De 1.3.5.0.00.0.0 até 1.3.5.0.03.1.0 6 – Cessão de Direitos (Espécie) De 1.3.6.0.00.0.0 até 1.3.6.0.01.1.0 9 – Demais Receitas Patrimoniais (Espécie) De 1.3.9.0.00.0.0 até 1.3.9.0.00.1.0 4 – Receita Agropecuária (Origem) De 1.4.0.00.0.0 até 1.4.0.0.00.1.0 5 – Receita Industrial (Origem) De 1.5.0.0.00.0.0 até 1.5.0.00.1.0 6 – Receita de Serviços (Origem) 1 – Serviços Administrativos e Comerciais Gerais (Espécie) De 1.6.1.0.00.0.0 até 1.6.1.0.04.1.0 2 – Serviços e Atividades Referentes à Navega- ção e ao Transporte (Espécie) De 1.6.2.0.00.0.0 até 1.6.2.0.04.3.0 3 – Serviços e Atividades Referentes à Saúde (Espécie) De 1.6.3.0.00.0.0 até 1.6.3.0.02.2.0 4 – Serviços e Atividades Financeiras (Espécie) De 1.6.4.0.00.0.0 até 1.6.4.0.03.1.0 9 – Outros Serviços (Espécie) De 1.6.9.0.00.0.0 até 1.6.9.0.99.1.0 7 – Transferências Correntes (Origem) De 1.7.0.0.00.0.0 até 1.7.0.0.08.1.0 9 – Outras Receitas Correntes (Origem) 1 – Multas Administrativas, Contratuais e Judi- ciais (Espécie) De 1.9.1.0.00.0.0 até 1.9.1.0.11.1.0 2 – Indenizações, Restituições e Ressarcimentos (Espécie) De 1.9.2.0.00.0.0 até 1.9.2.2.99.1.0 3 – Bens, Direitos e Valores Incorporados ao Patrimônio Público (Espécie) De 1.9.3.0.00.0.0 até 1.9.3.0.04.1.0 9 – Demais Receitas Correntes (Espécie) De 1.9.9.0.00.0.0 até 1.9.9.0.99.2.0 Fonte: Elaborado pela autora. FINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICA 45| 2.3. Estágios2.3. Estágios Os estágios ou fases da receita correspondem ao período de processamento das atividades da administração pública até o efetivo ingresso dos recursos nos cofres. Para isso, o Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público (2017) resume em 4 etapas, sendo previsão, lançamento, arrecadação e recolhimento. • Previsão: é o primeiro estágio da receita e envolve duas tarefas básicas: a identificação das fontes de recursos a serem arrecadadas e a mensuração de cada uma. Compreende a Lei Orçamentária Anual com sua respectiva projeção financeira para o ingresso dos recursos financeiros.De acordo com a Lei 101/00: Art. 12. As previsões de receita observarão as normas técnicas e legais, considerarão os efeitos das alterações na legislação, da variação do índice de preços, do crescimento econômico ou de qualquer outro fator relevante e serão acompanhadas de de- monstrativo de sua evolução nos últimos três anos, da projeção para os dois seguintes àquele a que se referirem, e da metodo- logia de cálculo e premissas utilizadas. § 1 Reestimativa de receita por parte do Poder Legislativo só será admitida se comprovado erro ou omissão de ordem técnica ou legal. § 2 O montante previsto para as receitas de operações de crédi- to não poderá ser superior ao das despesas de capital constan- tes do projeto de lei orçamentária. § 3 O Poder Executivo de cada ente colocará à disposição dos demais Poderes e do Ministério Público, no mínimo trinta dias antes do prazo final para encaminhamento de suas propostas orçamentárias, os estudos e as estimativas das receitas para o exercício subseqüente, inclusive da corrente líquida, e as res- pectivas memórias de cálculo. Art. 13. No prazo previsto no art. 8º, as receitas previstas serão desdobradas, pelo Poder Executivo, em metas bimestrais de ar- recadação, com a especificação, em separado, quando cabível, das medidas de combate à evasão e à sonegação, da quantida- de e valores de ações ajuizadas para cobrança da dívida ativa, bem como da evolução do montante dos créditos tributários pas- síveis de cobrança administrativa. (BRASIL, 2000) 46 FINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICA| Já na Lei 4.320/64 (BRASIL, 1964): Art. 30. A estimativa da receita terá por base as demonstrações a que se refere o artigo anterior à arrecadação dos três últimos exercícios, pelo menos, bem como as circunstâncias de ordem conjuntural e outras, que possam afetar a produtividade de cada fonte de receita. A estimativa da receita pública, fiel às dificuldades enfrentadas, é relevante para a elaboração orçamentária, pois os valores nela previstos servirão de base para a fixação das despesas públicas e, consequentemente, para o cálculo das dotações a cada um dos programas existentes, conforme Lei 4320/64: Art. 29. Caberá aos órgãos de contabilidade ou de arrecada- ção organizar demonstrações mensais da receita arrecadada, segundo as rubricas, para servirem de base a estimativa da re- ceita, na proposta orçamentária. Parágrafo único. Quando houver órgão central de orçamen- to, essas demonstrações ser-lhe-ão remetidas mensalmente. (BRASIL, 1964) • Lançamento: consiste na identificação do devedor ou da pessoa do contribuinte, discriminando a espécie, o valor e o vencimento do tributo que cada um deve pagar, ou seja, ato da repartição competente para verificar a procedência do crédito e a pessoa que é devedora e inscreve o débito (art. 53 da Lei 4320/64). Segundo o Manual de Contabilidade Aplicado ao Setor Público (BRASIL, 2017, p. 56): [...] é o procedimento administrativo que verifica a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determina a matéria tributável, calcula o montante do tributo devido, identifica o su- jeito passivo e, sendo o caso, propõe a aplicação da penalidade cabível. Uma vez ocorrido o fato gerador, procede-se ao registro contábil […]. De acordo com a Lei 4320/64: Art. 52. São objeto de lançamento os impostos diretos e quais- quer outras rendas com vencimento determinado em lei, regula- mento ou contrato. Art. 53. O lançamento da receita é ato da repartição competente, que verifica a procedência do crédito fiscal e a pessoa que lhe é devedora e inscreve o débito desta. (BRASIL, 1964) FINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICA 47| • Arrecadação: é o ato pelo qual os contribuintes comparecem perante os agentes arrecadadores e realizam o pagamento dos seus tributos ou outros débitos para com o Estado, ou seja, é a entrega dos recursos devidos pelos contribuintes por meio dos agentes arrecadadores autorizados. O art. 35 da Lei nº 4.320/1964 destaca que pertencem ao exercício financeiro as receitas nele arrecadadas, ficando clara a adoção do regime de caixa. Segundo a Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei 101/00), a previsão e a arrecadação da receita é especificada: Art. 11. Constituem requisitos essenciais da responsabilidade na gestão fiscal a instituição, previsão e efetiva arrecadação de todos os tributos da competência constitucional do ente da Federação. Parágrafo único. É vedada a realização de transferências volun- tárias para o ente que não observe o disposto no caput, no que se refere aos impostos. (BRASIL, 2000) • Recolhimento: compreende a entrega do produto da arrecadação por parte dos agentes arrecadadores ao Tesouro Público, ou seja, é a transferência dos valores arrecadados à conta específica do ente público. De acordo com a Lei 4320/64: Art. 56. O recolhimento de todas as receitas far-se-á em estrita observância ao princípio de unidade de tesouraria, vedada qual- quer fragmentação para criação de caixas especiais. (BRASIL, 1964) As etapas da receita pública podem ser resumidas da seguinte maneira: Figura 04: Esquema demonstrativo da sequência das etapas da receita pública. Previsão Lançamento Arrecadação Recolhimento Caixa Bancos Caixa Classificação por natureza da receita Destinação Fonte: BRASIL (2017, p. 57). 48 FINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICA| De acordo com a Lei de Responsabilidade Fiscal, os entes da Federação disponibilizarão a qualquer pessoa física ou jurídica o acesso a informações referentes a receita, lançamento e recebimento de toda receita das unidades gestoras, inclusive referente a recursos extraordinários. LLINKINK WEBWEB Caro estudante, sugerimos que acesse o “Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público”, mais especificamente o item “3.5. Etapas da Receita Orçamentária” (p. 56-57) para compreender mais sobre essas etapas. Acesse: <http://bit.ly/2K8Hg1y>. 2.4 Codificação2.4 Codificação Para compreender a utilização dessa codificação, o ingresso de recurso financeiro decorrente de imposto de renda de pessoa física recolhido dos servidores públicos em folha de pagamento terá o código 1.1.1.3.01.1.1, conforme o esquema a seguir: Quadro 05: Exemplo de codificação. C Categoria econômica 1 Receita corrente O Origem 1 Impostos, taxas e contribuições de melhoria E Espécie 1 Impostos DDDD Desdobramentos 3011 Impostos sobre a renda de pessoa física - IRPF T Tipo 1 Principal Fonte: Brasil (2017, p. 38) Dessa forma, vamos aprofundar em cada parte da codificação: a. Categoria econômica (Lei 4.320/64) ¾ Corrente: recursos financeiros oriundos das atividades realizadas pelo poder público, sendo que, em geral, aumentam as disponibilidades da entidade com efeito positivo sobre o patrimônio e, de acordo com o art. 11 da Lei 4.320/64, conceitua-se como: FINANÇAS PÚBLICAS E CONTABILIDADE PÚBLICA 49| § 1º – São Receitas Correntes as receitas tributárias, de contri- buições, patrimonial, agropecuária, industrial, de serviços e ou- tras e, ainda, as provenientes de recursos financeiros recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, quando destina- das a atender despesas classificáveis em Despesas Correntes. (BRASIL, 1964) ¾ Capital: em geral, não provocam efeito sobre o patrimônio (exemplo: alienação de bens e obtenção de dívidas). Segundo o art. 11 da Lei 4.320/64: § 2º – São Receitas de Capital as provenientes da realização de recursos financeiros oriundos de constituição de dívidas; da con- versão, em espécie, de bens e direitos; os recursos recebidos de outras pessoas de direito público ou privado, destinados a aten- der despesas classificáveis em Despesas de Capital e, ainda, o superávit do Orçamento Corrente. (BRASIL, 1964) 2.5. Fontes2.5. Fontes As fontes de receitas se dão pelos recursos auferidos pelo Estado para financiar os gastos públicos. Segundo o parágrafo único do art. 8º da LRF e o art. 50, inciso I, “Os recursos legalmente vinculados a finalidade específica serão
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