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Crimes contra a paz pública Art. 286: Incitar, publicamente, a prática de crime: Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa. OBJETIVIDADE JURÍDICA O legislador tutela a paz pública, ou seja, o sentimento de tranquilidade, sossego e segurança da coletividade. SUJEITOS DO DELITO Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, uma vez que o tipo não faz nenhuma referência a qualidades especiais do agente. Sujeito passivo é a coletividade, que teve a sua tranquilidade abalada. CONDUTA ❖ O núcleo do tipo “incitar”. ❖ A incitação deve ser feita em público, ou seja, de modo a ser percebida por um número indefinido de pessoas, podendo ocorrer das mais diversas formas (crime de ação livre). ❖ A incitação feita em ambiente familiar ou quando visa a prática de contravenção penal ou atos apenas imorais, não caracterizam o delito. ❖ Admite qualquer meio de execução: palavras, gestos, escritos e outros. ❖ A incitação deve ser de crime determinado. O agente deve incitar, por exemplo, a prática de roubos, estupros etc. Não é necessário que o ofendido seja individualizado. ➔ Assim, não é preciso, por exemplo, que o agente incite à prática de roubo na residência de determinada pessoa. Basta que incite à prática de roubos. VOLUNTARIEDADE É o dolo. O art. 286 não exige nenhum outro elemento especial por parte do agente. Se, entretanto, o sujeito incita à prática de crime contra a Segurança Nacional, o crime tipificado é o descrito no art. 23, IV, da Lei nº 7.170/83 (Lei de Segurança nacional). ❖ Inexiste punição a título de culpa. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA O crime consuma-se com a percepção, por indeterminado número de pessoas, da incitação pública ao crime. ❖ É irrelevante que o crime ao qual foram tais pessoas incitadas seja praticado. A tentativa é possível, uma vez que o inter criminis é passível de fracionamento no tempo. Exemplo: incitação ao crime por meio de panfletos, no caso de o agente encontrar-se em local público ou acessível ao público para distribuir tal material a ser obstado por circunstâncias alheias à sua vontade. Incitação ao crime QUALIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA ❖ O crime é de perigo abstrato, comum, simples e vago. ➔ É abstrato porque o legislador presume de forma absoluta a superveniência de uma situação perigosa ao bem jurídico tutelado com a realização da conduta, não necessitando, portanto, ser provado no caso concreto. ➔ É comum porque pode ser praticado por qualquer pessoa. ➔ Crime simples é quando ofende uma só objetividade jurídica, a paz pública. ➔ Trata-se de crime vago porque tem como sujeito passivo a coletividade, entidade sem personalidade jurídica. PENA E AÇÃO PENAL A pena cominada ao delito de incitação ao crime é alternativa; detenção, de três a seis meses, ou multa. ❖ A ação penal é pública incondicionada Art. 287 - Fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime: Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa. OBJETIVIDADE JURÍDICA O art. 287 do CP pune a chamada ‘incitação indireta”, sob o nomen juris de apologia de crime ou criminoso, com a seguinte redação: “Fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime”. O legislador tutela a paz pública, ou seja, protege a tranquilidade, sossego e segurança da coletividade. SUJEITOS DO DELITO Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, com ressalva daqueles agentes invioláveis por suas opiniões, palavras e votos (senadores, deputados e vereadores) ❖ O tipo penal não exige nenhuma qualidade especial, tratando-se, portanto, de crime comum. Sujeito passivo é a coletividade, ou seja, um número indeterminado e indeterminável de pessoas. ELEMENTOS OBJETIVOS DO TIPO A conduta incriminada consiste em fazer, publicamente, apologia (elogio, exaltação) de autor do crime ou de fato criminoso. ❖ Fazer apologia significa exaltar, enaltecer, elogiar. ❖ É necessário que a apologia possa ser percebida por um número indefinido de pessoas. ❖ A simples defesa, ou manifestação de pensamento é garantia constitucionalmente assegurada a todos os brasileiros ou estrangeiros residentes no Brasil. ❖ A apologia deve ser de fato definido como crime, não configurando o delito o elogio de fato contravencional nem de fato imoral. ➔ Contudo, afasta-se o delito na hipótese de o agente se referir a contravenção ou ao contraventor. ➔ A apologia de fato criminoso culposo não constitui o delito porque é inconcebível que a paz pública, objeto jurídico deste delito, seja ameaçada pela exaltação de crime decorrentes da inobservância do cuidado objetivo necessário. ❖ O fato criminoso deve ser determinado e ter realmente ocorrido anteriormente à apologia criminosa (se futuro, haverá incitação ao crime). É inexigível que crime cuja apologia seja feita seja declarado criminoso por sentença irrecorrível. A apologia criminosa pode ser feita também em relação a autor de crime. Neste caso, exige-se que o elogio feito pelo agente ao sujeito ativo do delito anteriormente realizado verse sobre a conduta criminosa deste e não sobre seus atributos morais ou intelectuais. ❖ O crime admite qualquer forma de execução: palavras, gestos, escritos etc. Apologia de crime ou criminoso ❖ É controvertida a necessidade da existência da sentença condenatória irrecorrível. ELEMENTO SUBJETIVO DO TIPO É o dolo, a vontade de fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime. ❖ Não se exige nenhum motivo ou finalidade por parte do agente. A apologia de crime contra a Segurança Nacional constitui o delito descrito no art. 22, IV, da Lei nº 7.170/83 (Lei de Segurança nacional). O STF, no julgamento da ADPF 187, decidiu ser legítima a reunião de pessoas para se manifestarem publicamente sua posição em favor da legalização das drogas, por se tratar de um movimento social espontâneo e garantindo o direito constitucional a livre manifestação de pensamento. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA O crime consuma-se com a percepção, por indeterminado número de pessoas, dos elogios endereçados a crime determinado e anteriormente praticado ou a autor do crime. A tentativa é possível, se o sujeito inicia a execução do delito e é obstado de alcançar a consumação por circunstâncias alheias à sua vontade. Caso o agente pratique na forma oral, não haverá tentativa, pois o crime se torna unissubsistente. ❖ Independe da efetiva perturbação da ordem pública (perigo abstrato). ❖ Se o agente faz apologia a mais de um fato criminoso, não haverá concurso de delitos. QUALIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA É de perigo abstrato, uma vez que este é punido, de forma absoluta, pelo legislador. É também crime vago; tem como sujeito passivo a coletividade, entidade destituída de personalidade jurídica. É também instantâneo, uma vez que se consuma em determinado instante, sem continuidade temporal. Também é delito simples, tendo em vista ofender apenas um bem jurídico; a paz pública. PENA E AÇÃO PENAL A pena cominada à apologia de crime ou criminoso é alternativa: detenção, de três a seis meses, ou multa. A ação penal é pública incondicionada. Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes: (Redação dada pela Lei nº 12.850, de 2013) Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. (Redação dadapela Lei nº 12.850, de 2013) Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade se a associação é armada ou se houver a participação de criança ou adolescente. (Redação dada pela Lei nº 12.850, de 2013). CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA Trata-se de crime comum, comissivo e, excepcionalmente, comissivo por omissão, de forma livre, formal, de perigo comum abstrato (aquele que coloca um número indeterminado de pessoas em perigo, mas não precisa ser demonstrado e provado, por ser presumido pela lei), permanente (a consumação se prolonga no tempo), plurissubjetivo, doloso, transeunte (costuma ser praticado de forma que não deixa vestígios, impossibilitando ou se tornando desnecessária a comprovação da materialidade por meio de prova pericial) e unissubsistente. OBJETOS JURÍDICO E MATERIAL O objeto jurídico do crime de associação criminosa é a paz pública, mantendo assim a tranquilidade e segurança coletiva que a ordem pública deve proporcionar. Considerando que objeto material é a pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta criminosa, entendemos que o delito em estudo não possui objeto material. SUJEITOS DO DELITO A associação criminosa é crime comum, assim, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, independentemente de qualquer qualidade ou condição especial. Trata-se, portanto, de crime plurissubjetivo (ou de concurso necessário) e de condutas paralelas, pois somente pode ser praticado por três ou mais pessoas que se auxiliam mutuamente, visando a produção de um resultado comum, qual seja a união estável permanente voltada à prática de crimes. ➔ Bastando que somente uma das três pessoas seja imputável. A extinção da punibilidade de um ou mais integrantes da associação criminosa, não exclui o delito para os demais, mesmo que ainda não tenha sido iniciado o processo. Contudo, é indispensável que a denúncia faça referência a todos os integrantes. Sujeito passivo é a coletividade (crime vago) e, secundariamente, o próprio Estado que tem o dever de proporcionar o necessário sentimento de tranquilidade e segurança coletiva. CONDUTA TÍPICA O núcleo do tipo penal é associarem-se (unirem-se, agregarem-se, juntarem-se, agruparem-se). Assim, deve ter como característica a associação de três ou mais pessoas, que possuam uma união estável, permanente e duradora dessas pessoas, para o fim específico de cometer crimes, Associação criminosa http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12850.htm#art24 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12850.htm#art24 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12850.htm#art24 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12850.htm#art24 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12850.htm#art24 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12850.htm#art24 ➔ Essa característica que distingue a associação criminosa do concurso de pessoas (coautoria ou participação) para a prática de crimes em geral. Além disso, a caracterização da associação criminosa não depende da existência de uma organização detalhadamente definida, com hierarquia entre seus membros e a divisão prévia das funções de cada um deles. Se a finalidade da associação for a prática de crimes previstos em legislação especial, em que o número de agentes seja elementar do tipo, haverá tão somente a incidência da lei especial, sob pena de incidência duas vezes sobre a mesma coisa. Exemplos: 1 - Se a associação tiver conotação política, o fato poderá caracterizar crime contra a Segurança Nacional (Lei 7.170/1983, arts. 16 e 24); 2 - Se a associação de mais de três pessoas tiver como objetivo o genocídio, ou seja, a destruição, no todo ou em parte, de grupo nacional étnico, racial ou religioso (Lei 2.889/1956, art. 2º); 3 - Se a associação de duas ou mais pessoas tiver como finalidade o tráfico de drogas (Lei 11.343/2006, art. 35). O delito em estudo, em regra, é praticado de forma comissiva (decorrente de uma atividade positiva do agente), mas, excepcionalmente, pode ser praticado de forma comissiva por omissão, quando o agente gozando do status de garantidor (art. 13, § 2º, do Código Penal). Exemplo: Na hipótese em que um policial que, sabendo da existência de um agrupamento de pessoas para o fim de cometer crimes naquela cidade, dolosamente, nada faz para prendê-los em flagrante. O agente responde pelo delito de associação criminosa, pois, dolosamente, se omitiu quando devia e podia agir para impedir o resultado. ❖ Para Magalhães Noronha, a participação da mesma pessoa em mais de uma quadrilha faz com que ela pratique diversos crimes (pluralidade de crimes). ❖ O STF, entende ser possível a coexistência de múltiplas associações criminosas, ainda que com núcleos idênticos, desde que a alteração de composição demonstre que efetivamente se trata de diversos grupos. ❖ É indiferente a posição ocupada por cada associado na organização, se conhecem uns aos outros ou não (associação via internet). ❖ Não configura o crime: ➔ O delito a reunião estável ou permanente para a prática de contravenções penais (ex: jogo do bicho) ou atos imorais. ➔ Associação para a prática de crimes culposos ou preterdolosos. ❖ Imprescindível que a reunião seja efetivada antes da deliberação dos delitos. VOLUNTARIEDADE O elemento subjetivo do crime de associação criminosa é o dolo, consistente na vontade consciente de associar-se a outras pessoas. Exige-se, ainda, o elemento subjetivo específico (finalidade específica), consubstanciado na expressão "para o fim específico de cometer crimes", indeterminados ou de qualquer natureza. O tipo penal não admite a modalidade culposa. ❖ Apesar do mais comum, ser o agente buscar por lucro, é dispensável que a conduta gere lucro. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA A associação criminosa é crime formal, que se consuma sem a produção do resultado naturalístico, consistente na efetiva perturbação da paz pública. Consuma-se, portanto, no momento em que três ou mais pessoas se associarem para o fim específico de cometer crimes, colocando em risco a paz pública, ainda que nenhum delito venha a ser efetivamente praticado. Para o sujeito que ingressa no grupo posteriormente, o delito estará consumado no momento da adesão à associação criminosa já existente. Independente da prática de algum crime pelos integrantes. O abandono por um integrante da associação criminosa depois de formada, não exclui o crime nem implica em desistência voluntária (CP, art. 15). ➔ Entretanto, sua saída poderá ocasionar a dissolução da associação criminosa, caso a mesma tenha sido formada com o número mínimo de três pessoas. ➔ É irrelevante que não tenha participado diretamente de eventuais crimes cometidos por membros da associação, bastando sua participação de alguma forma da organização Entendemos que a tentativa não é possível em razão da necessária estabilidade e permanência da associação. Os atos praticados com a finalidade de formar associação (anteriores à execução-formação) são meramente preparatórios. ❖ A manutenção da associação criminosa após a condenação ou mesmo a denúncia constitui novo e idêntico crime formal. ❖ Com o advento da lei 11.343/2006, associação estável e permanente, de 2 ou mais pessoas, para a prática do tráfico de drogas ou maquinários, sem enquadra no artigo35 da lei de drogas. MAJORANTE DE PENA O parágrafo único, do art. 288, do Código Penal, prevê duas causas especiais de aumento de pena, nas seguintes hipóteses: 1ª) Se a associação é armada: Arma é todo objeto ou instrumento vulnerante, que pode ser utilizado para defesa ou ataque (própria ou impropria). Para a incidência deste aumento de pena, basta que somente um dos integrantes do grupo esteja armado, desde que os demais tenham ciência da existência da arma (entretanto a divergência na doutrina). ➔ Evidentemente, não haverá incidência da majorante em estudo, àqueles que desconheciam a existência de arma na associação criminosa, para não incorrer na responsabilidade objetiva. A Lei 12.850/2013 modificou a redação do dispositivo legal em estudo, reduzindo o aumento de pena que era aplicado em dobro, passando a ser aplicado até a metade da pena cominada em abstrato. 2ª) Se houver a participação de criança ou adolescente: Para a configuração do delito de associação criminosa, basta tão somente que uma das três pessoas seja penalmente imputável. ➔ Para o Estatuto da Criança e do Adolescente, criança é a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade (Lei 8.069/1990, art. 2º). ➔ Os integrantes penalmente imputáveis deverão ter conhecimento de que se associaram a crianças ou adolescentes, pois, caso contrário, pode ser alegado erro de tipo (CP, art. 20, caput). FIGURA TÍPICA QUALIFICADA De acordo com o disposto no art. 8º da Lei dos Crimes Hediondos, "será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do Código Penal, quando se tratar de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo “. A figura qualificada em estudo é aplicável somente quando a associação criminosa for constituída com a finalidade de praticar crimes hediondos ou equiparados (tortura, tráfico e terrorismo), com exceção do tráfico de drogas, cuja conduta caracteriza o crime de associação para o tráfico de drogas (Lei 11.343/2006, art. 35). ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA E ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA A Lei do Crime Organizado (Lei 12.850/2013, art. 1º, §1º). "Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com o objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional”. A caracterização de organização criminosa autoriza a incidência de institutos a respeito da investigação e dos meios de obtenção da prova, a exemplo da colaboração premiada, da ação controlada, da interceptação de comunicações telefônicas e telemáticas e da infiltração de agentes policiais, conforme art. 3º da Lei 12.850/2013. DISTINÇÃO: Desta forma, a organização criminosa não se confunde com a associação criminosa em estudo, onde sua caracterização ocorre com apenas três pessoas (e não quatro), não se exige a estrutura ordenada com a respectiva divisão de tarefas, como também tem o fim específico de cometer crimes (mas não aqueles com pena máxima superior a quatro anos ou de caráter transnacional). MINORANTE DE PENA O parágrafo único do artigo 8° da Lei 8.072/1990, mostra a possibilidade de delação premiada com diminuição de pena, desde que preencha os requisitos: A) Deve partir de integrante ou participe B) Deve ser eficaz, possibilitando assim o desmantelamento da associação, havendo nexo entre a delação e a desorganização do bando. PENA E AÇÃO PENAL A pena do crime de associação criminosa, em sua figura simples (CP, art. 288, caput) e de reclusão, de 1 a 3 anos. Na figura qualificada – crime hediondo – (Lei 8.072/1990, art. 8º), a pena é de reclusão, de 3 a 6 anos. ➔ Ainda podendo ser majorada pelo parágrafo único O crime de associação criminosa, em sua figura dolosa simples, em razão da pena mínima cominada não ser superior a um ano, o delito pertence ao rol das infrações penais de médio potencial ofensivo, sendo possível a suspensão condicional do processo, se presentes os demais requisitos legais (Lei 9.099/1995, art. 89). Nas demais figuras (simples com pena aumentada e qualificada pela finalidade de praticar crimes hediondos ou equiparados), é infração penal de alto potencial ofensivo, ficando afastados os benefícios da Lei 9.099/1995. A ação penal é pública incondicionada em todas as figuras, cujo oferecimento da denúncia para iniciar a ação penal não depende de qualquer condição de procedibilidade. PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE ❖ Código penal X Lei 2.889/56: associação de mais de 3 pessoas, com objetivo de destruí grupo nacional, étnico, racial ou religioso. ❖ Código penal X lei de drogas: associação de duas ou mais pessoas para fim de praticar, o tráfico de drogas ou de maquinários. ❖ Código penal X lei 12.850/13: organização criminosa é composta por mais de 4 pessoas, caracterizada pela divisão de tarefas, com o objetivo de obter uma vantagem, promovendo, constituindo, financiando ou integrando a organização criminosa. ❖ Código penal X lei 13.260/16: pune a conduta de promover, constituir, integrar ou prestar auxílio a organização criminosa. Art. 288-A. Constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização paramilitar, milícia particular, grupo ou esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos crimes previstos neste Código: Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES Diferente da “formação de quadrilha”, não se exige, a priori, a finalidade da prática indeterminada de crimes, e tampouco estabeleceu um número mínimo de participantes. Admite-se, na verdade, a finalidade de praticar qualquer dos crimes previstos no Código Penal, estando excluídos, por conseguinte, os crimes previstos na legislação extravagante. BEM JURÍDICO TUTELADO A rigor, bem jurídico tutelado imediato é a sensação ou o sentimento da população em relação a segurança social, ou seja, aquela sensação de bem- estar, de proteção e segurança geral. SUJEITOS DO CRIME Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, em número mínimo de quatro (mais de três), tratando-se, por conseguinte, de crime plurissubjetivo (ou concurso necessário), de condutas paralelas (umas auxiliando as outras) . Há entendimento minoritário de que os inimputáveis (doentes mentais e menores de 18 anos) não podem ser incluídos no número mínimo dessa figura típica, apenas para incriminar determinado indivíduo. Sujeito passivo, a exemplo do que ocorre no crime de associação criminosa, é a coletividade em geral, um número indeterminado de indivíduos, ou seja, o próprio Estado, que tem a obrigação de garantir a segurança e o bem-estar de todos. Haveria um número mínimo necessário de participantes? Podemos ter dúvida, enfim, sobre a quantidade mínima, se três ou mais membros, mas uma coisa é certa: não pode ser menos, pois, nesse caso, repetindo, não seria um grupo, mas somente uma dupla, ou seja, apenas um par e não um grupo. Trata-se de um crime de ação múltipla ou de conteúdo variado, representado por quatro verbos nucleares, quais sejam: constituir (criar, estruturar, formatar, dar forma ao grupamento criminoso, em qualquer das modalidades elencadas); organizar (ordenar, regularizar sua estrutura, no formato adequado para otimizar seu funcionamento);integrar (é fazer parte, ser um de seus membros, fundador ou não do grupo); e manter ou custear (significa sustentar, arcar com os custos). ➔ Demandando sempre que tenha uma estabilidade e durabilidade da associação. ❖ O legislador devia ter conceituado e definido o significado dos grupos que elenca, atendendo, assim, o princípio da taxatividade estrita. A questão situa-se especialmente na grande dificuldade de estabelecer exatamente os conceitos dessas novas figuras. Constituição de milícia privada a) ORGANIZAÇÃO PARAMILITAR É uma associação civil armada constituída, basicamente, por civis, embora possa contar também com militares, mas em atividade civil, com estrutura similar à militar, com finalidade civil ilegal e violenta, que age na clandestinidade. Para Rogério Sanches, “Paramilitares são associações civis, armadas e com estrutura semelhante à militar. Possui as características de uma força militar, tem a estrutura e organização de uma tropa ou exército, sem sê-lo”. b) MILÍCIA PARTICULAR Grupo de pessoas (que podem ser civis e/ou militares), que, alegadamente, pretenderia garantir a segurança de famílias, residências e estabelecimentos comerciais ou industriais. Haveria, aparentemente, a intenção de praticar o bem comum, isto é, trabalhar em prol do bem-estar da comunidade. ➔ Devolver a segurança a retirada das comunidades mais carentes, restaurando assim a paz. A atividade é imposta mediante coação, violência e grave ameaça , podendo resultar, inclusive, em eliminação de eventuais renitentes. Na realidade, há uma verdadeira ocupação de território, numa espécie de Estado paralelo, com a finalidade de c) GRUPO OU ESQUADRÃO ❖ Mais conhecidos como grupos de extermínios que ganharam espaço, no Rio de Janeiro e São Paulo. Para Rogério Sanches: “Por grupo de extermínio entende-se a reunião de pessoas, matadores, “ justiceiros” (civis ou não) que atuam na ausência ou leniência do poder público, tendo como finalidade a matança generalizada, chacina de pessoas supostamente etiquetadas como marginais ou perigosas”. ➔ O desmantelamento é dificultado pelo fato de, principalmente, terem quase sempre ligações com as polícias locais. ➔ Ademais, a carência probatória da ação desses grupos reside na dificuldade de encontrar quem testemunhe a prática de seus crimes, pois, a sociedade é atemorizada pela ação violenta de referidos grupos. VOLUNTARIEDADE Elemento subjetivo é o dolo, representado pela vontade consciente de reunir-se para praticar crimes, criando um vínculo associativo entre os participantes. É indispensável que o indivíduo tenha consciência de que participa de uma “reunião de pessoas” que tem a finalidade de praticar crimes. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA Consuma-se o crime com a simples constituição de milícia privada, isto é, com a mera associação de mais de três pessoas para a prática de crimes definidos no Código Penal, colocando em risco a paz pública . É absolutamente desnecessária a prática de qualquer crime pelo grupo representativo da figura penal constituição de milícia privada, em qualquer de suas modalidades. ➔ Contrariamente, no entanto, no concurso de pessoas (coautoria e participação), pune-se somente os concorrentes se concretizarem a prática de algum crime, tanto na forma tentada quanto na consumada. ❖ Trata-se de crime permanente, cuja consumação se protrai no tempo. A tentativa é inadmissível, pois os atos praticados com a finalidade de formar a associação (anteriores à execução- formação) são meramente preparatórios. CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA Trata-se de crime comum, formal; de forma livre; comissivo; permanente; de perigo comum abstrato; plurissubjetivo; e unissubsistente PENA E AÇÃO PENAL A pena cominada, isoladamente, é a de reclusão, de quatro a oito anos. Não há previsão de pena pecuniária. A ação penal é pública incondicionada, não dependendo, por conseguinte, de qualquer manifestação de vontade da vítima ou de seu representante legal. Importante que a Lei nº 13.964/2019 inseriu dentre os delitos hediondos a figura da organização criminosa no seguinte contexto: Lei nº 8.072/90 “Artigo 1º: (...) Parágrafo único. Consideram-se também hediondos, tentados ou consumados: (...) V - o crime de organização criminosa, quando direcionado à prática de crime hediondo ou equiparado. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)”.
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