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Facilitadora: Leidson 16/08/2022 SP1.1 Retrato… CASO CLÍNICO Cecília Meirelles (1917 – 1935) foi uma das maiores poetas da língua portuguesa. Em uma ocasião, enlutecida com acontecimentos familiares, escreveu o seguinte poema: Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem esses olhos tão vazios, nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força, Tão paradas e frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil: - Em que espelho ficou perdida A minha face? Apesar dos sentimentos expressos no poema, a escritora continuou, por muitos anos, a escrever diversos outros textos, sempre carregados de emoção e beleza. TERMOS DESCONHECIDOS Sem termos. PROBLEMAS Triste, magro, olhos vazios, lábio amargo, mãos sem força, despertencimento coração que não se mostra. Hipóteses 1. A autora apresenta sintomas característicos de transtornos depressivos desencadeados por um processo de luto; 2. A autora se mostra ansiosa ao descrever características de magreza, olhos vazios, mãos frias e mortas; 3. Cecília apresenta decaimento do estado físico geral devido a um transtorno psíquico; 4. O transtorno psíquico da autora pode estar levando a um quadro de arritmia evidenciando pelo trecho “eu não tinha este coração que nem se mostra”; QUESTÕES DE APRENDIZAGEM 1. Quais as características da depressão? (conceito, epidemiologia, fisiopatologia, manifestações clínicas e tratamento -farmacológico, efeitos colaterais, classe medicamentosa, mecanismo de ação e não farmacológico) 2. Quais as fases do luto? 3. Qual a classificação dos transtornos depressivos? 4. Quais os diagnósticos diferenciais da depressão? 5. Quais manifestações clínicas de um paciente potencialmente suicida? 6. Quais possíveis complicações podem apresentar pacientes em decorrência da depressão? 7. Qual o papel da rede de apoio ao paciente depressivo? REFERÊNCIA: Tratado de Psiquiatria. 1. Quais as características da depressão? (conceito, epidemiologia, fisiopatologia, manifestações clínicas e tratamento -farmacológico, efeitos colaterais, classe medicamentosa, mecanismo de ação e não farmacológico) CONCEITO: Atualmente considera-se que a depressão resulta de uma complexa interação entre processos biológicos (resposta ao estresse, fatores neurotróficos), psicológicos (personalidade e relacionamentos pessoais), ambientais (dieta, álcool, ritmo biológico) e genéticos. EPIDEMIOLOGIA: O transtorno depressivo é uma condição clinica comum tendo uma prevalência de 15% ao longo da vida na população geral. Sua incidência na atenção primaria chega a 10%, em pacientes internados esta taxa sobe para 15% e em pacientes com câncer este índice pode chegar a 47%. A idade média de início na população geral fica em torno de 27 anos, sendo que 40% relata o primeiro episódio antes dos 20 anos, 50% entre 20 e 50 anos e 10% após os 50 anos. A depressão é duas a três vezes mais frequente em mulheres do que em homens e é mais comum em áreas rurais do que urbanas. A prevalência deste transtorno do humor não difere entre raças. TRATAMENTO: Farmacológico e/ou psicoterápico · Quando se fala em tratamento antidepressivo é fundamental ter dois conceitos bem claros: (1) “resposta” corresponde a uma melhora dos sintomas e (2) “remissão” refere-se à eliminação completa dos sintomas. · Existe uma evidência contundente na literatura de que os antidepressivos são eficazes no tratamento da depressão aguda moderada e grave, quer exibindo uma resposta ou remissão dos sintomas. · Estudos controlados mostraram que psicoterapia cognitiva, psicoterapia interpessoal e psicoterapia de solução de problemas são efetivas no tratamento dos episódios depressivos leves a moderados. FISIOPATOLOGIA: Do ponto de vista fisiopatológico, a depressão está ligada a falta ou desequilíbrio dos neurotransmissores noradrenalina, serotonina e dopamina no sistema límbico. Ver as partes do cérebro envolvidos QUADRO CLINICO: · Humor depressivo · Anedonia · Fatigabilidade · Apatia/indiferença · Angustia · Sintomas ansiosos · Pensamento lentificado · Pessimismo/menos valia · Lentificação ou agitação · Sintomas físicos ou dolorosos · Ideação suicida · Alteração de peso e apetite · Disfunções sexuais CRITERIOS DIAGNOSTICOS: A. Mínimo 5 dos seguintes sintomas: 1. Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias; 2. Acentuada queda do interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades; 3. Alterações de peso e/ou apetite; 4. Insônia ou hiperinsonia; 5. Agitação ou retardo psicomotor 6. Fadiga/perda de energia 7. Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada 8. Capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se ou indecisão 9. Pensamentos de morte recorrentes (medo de morrer e ideação suicida) Período de pelo menos 2 semanas Pelo menos um dos dos sintomas é 1 – humou deprimido ou 2 – perda de interesse ou prazer B. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo em áreas sociais, ocupacionais ou outras áreas importantes da vida do indivíduo. C. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substancia ou de outra FARMACOLOGIA: Os antidepressivos são classificados de acordo com sua atividade nos receptores de monoamina. Os antidepressivos tricíclicos (ADTs) agem pela inibição da recaptação nos transportadores de NA e serotonina. CLASSES MECANISMO DE AÇÃO FÁRMA COS POSOLOGIA FARMACO CINETICA INDICAÕES CONTRA INDIC EFEITOS ADVERSOS ADT Antidepres sivos triciclicos -bloqueiam captação de serotonina e norepinefrina -bloquia os receptores serotoninergicos, Alfa-adrenergicos,histaminicos e muscarinicos Amitri Ptilina Clomi Pramina Imipra Mina Nortrip Tilina Amoxa Pina Desipra Mina Doxe pina Maproti Lina Protrip Tilina Trimi pramina 50-150mg dia 25-75mg dia 250mg dia 25-75 mg dia 200 mg dia 25-100mg dia 150 mg dia - bem absorvidos VO; -lipazílicas→amplamente distribuídas e penetram o SN -biodisponibilidade baixae inconsistente (biotrasnformação de 1ª passagem) -biotransformadas pela CYP450 -excreção renal (metabolitos inativos) -Depressão moderada e grave; -Transtorno de pânico; Enurese em crianças (imipramina) -Enxaquecas e outras dores crônicas -Insônia -Hiperplasia prostratica benigna, epilepsia e arritmias pré-existentes podem ser agravadas; -indice terapeutico estreito (5-6x da dose máxima de imipramina pode ser fatal) -glaucoma de ângulo fechado ReceptoresMuscarínico -visão turva -xerostalmia -retenção urinária -taquicardia sinusal -constipação -agravamento de glaucoma -arritimias Receptores α-adrenérgico -hipotenção ortostatica -tontura -taquicardia Receptores H1-histaminico -sedação -aumenta a massa corporal CLASSES MECANISMO DE AÇÃO FÁRMA COS POSOLOGIA FARMACO CINETICA INDICAÕES CONTRA INDIC EFEITOS ADVERSOS ISCS Inibidores seletivos da captação de Serotonina -Bloqueiam a captação de Serotonina (↑ a concentração na fenda sináptica) -Escassa atividade bloqueadora em receptores muscarínicos, α-adrenérgicos e H1-histaminicos Fluoxetina Perda de peso? Escitalopram Citalopram Fluvoxamina Paroxetina Sertralina 20-60mg/dia 80mg/dia 5-10mg/dia 20 mg/dia 10-20 mg/dia 40mg/dia 100mg/dia 300mg dia 20-40mg/dia 25-50mg/dia 200mg/dia - bem absorvidos VO; -picos séricos entre 2 e 8 horas (média) -alimentos ↑ a absorção de sertralina -meia-vida entre 16-36h (fluoxetina 50h) -inibe CYP450 (ADTs, antipsicóticos, antiarritimicos e ß-agonistas adrenergicos -Primeira escolha na depressão -outros transtornos (transtono obsessivo compulsivo, pânico, ansiedade generalizada, estresse pos traumático, transtorno disfórico pré menstrual e bulimia nervosa (fluoxetina) Criança (exceto sertralina) -Cefaleia -Sudoração -Ansiedade -Agitação -Efeitos GI -Fraqueza -Cansaço -“sedação” (paraxetina e fluvaxamina) → estimulantes (fluoxetina e sertralina) -disfunção sexuais -sindrome da interrupção CLASSES MECANISMO DE AÇÃO FÁRMA COS POSOLOGIA FARMACO CINETICA INDICAÕES CONTRA INDIC EFEITOSADVERSOS ISCN Inibidores da captação de serotonina e norepinefrina -Inibe a captação de serotonina e norepinefrina -Mínima atividade em receptores adrenergicos, muscarínicos e histaminicos Desvenlafaxina Duloxetina Venlafaxina Levomilnacipracina -50mg/dia -200mg/dia 60mg/dia 120mg/dia 75mg/dia 225mg/dia -Extensa biotransformação no fígado -Inibição da CYP450 (envolvida no metabolismo de medicamentos) -Inibição de CYPP2D6 -Depressão em pacientes que os ISCS foram ineficazes -Sintomas dolorosos crônicos -Náuseas -Cefaleia -Disfunçoes sexuais -Tonturas -Insonia -“sedação” -↑ PA e FC (doses elevadas) -xerostomia CLASSES MECANISMO DE AÇÃO FÁRMA COS POSOLOGIA FARMACO CINETICA INDICAÕES CONTRA INDIC EFEITOS ADVERSOS IMAOS Inibidores da Monoaminoxidase Inibe a enzima MAO (responsável por inativar excesso de neurotransmissor (norepinefrina, dopamina e serotonina) Selegilina Tranilcipromina Fenelzina Isocarboxazida -5mg, 12/12h -10mg/dia -10mg 2x ao dia -60mg/dia -São bem absorvíveis VO -a regeneração da enzima geralmente acontece varias semanas depois de terminar o fármaco -biotransformação hepática -Excreção urinaria -pacientes que não respondem ou são alérgicos aos ADTs -forte ansiedade -Depressão atípica -fármacos de ultima escolha na maioria das causas (interação com alimentos e com outros fármacos) -não deve ser coadministrado com outros antidepressivos (síndrome de serotonina) -minimo de 2 semanas p/ iniciar fármaco de outro tipo -fluoxetina precia de 6 semanas -Interação com alimentos e farmacos -Alimentos com tiramina →crise hipertensiva grave -Sonolência -Hipotensão ortostática -Visão turva -Xerostalmia -Constipação -sincope -avc (fazer a classe que faltou) Como deve ser a introdução dos medicamentos? (Paula) Ver as fases: aguda, continuação e manutenção 2. Quais as fases do luto? Fase 1) Negação Seria uma defesa psíquica que faz com que o indivíduo acaba negando o problema, tenta encontrar algum jeito de não entrar em contato com a realidade, seja da morte de um ente querido ou da perda de emprego. É comum a pessoa também não querer falar sobre o assunto. Fase 2) Raiva Nessa fase o indivíduo se revolta com o mundo, se sente injustiçado e não se conforma por estar passando por isso. Fase 3) Barganha Essa é a fase que o indivíduo começa a negociar, começando com si mesmo, acaba querendo dizer que será uma pessoa melhor se sair daquela situação, faz promessas a Deus. É como o discurso “Vou ser uma pessoa melhor, serei mais gentil e simpático com as pessoas, irei ter uma vida saudável.” Fase 4) Depressão Já nessa fase a pessoa se retira para seu mundo interno, se isolando, melancólica e se sentindo impotente diante da situação. Fase 5) Aceitação É o estágio em que o indivíduo não tem desespero e consegue enxergar a realidade como realmente é, ficando pronto para enfrentar a perda ou a morte. É importante esclarecer que não existe uma sequência dos estágios de luto, mas é comum que as pessoas que passam por esse processo apresentem pelo menos dois desses estágios. E não necessariamente as pessoas conseguem passar por esse processo completo algumas ficam estagnadas em uma das fases. Como diferenciar o luto da depressão? Kubler-Ross, Elisabeth, 1926 - Sobre a morte e o morrer: o que o doente têm para ensinar a médicos, enfermeiras, religiosos e aos seus próprios parentes / Elisabeth Kubler-Ross; [tradução Paulo Menezes]. - 7ª. ed. - São Paulo: Martins Fontes, 1996 3. Qual a classificação dos transtornos depressivos? Os transtornos depressivos incluem transtorno disruptivo da desregulação do humor, transtorno depressivo maior (incluindo episódio depressivo maior), transtorno depressivo persistente (distimia), transtorno disfórico pré-menstrual, transtorno depressivo induzido por substância/medicamento, transtorno depressivo devido a outra condição médica, outro transtorno depressivo especificado e transtorno depressivo não especificado. 4. Quais os diagnósticos diferenciais da depressão? Muitas condições médicas podem estar associadas com depressão EPISÓDIOS DEPRESSIVOS LEVES · Episódios depressivos leves podem responder a várias estratégias, muitas delas inespecíficas, como exercício físico, conexão social, alimentação, expressão de gratidão e conexão espiritual e religiosa. · Não há evidência de que a medicação antidepressiva seja superior ao placebo quando os sintomas depressivos são leves. · Na medida em que intervenções mais simples e inespecíficas não apresentam resultados e/ou a intensidade dos sintomas aumenta, estratégias utilizadas para depressões moderadas, como psicoterapia e farmacoterapia, são utilizadas. EPISÓDIOS DEPRESSIVOS MODERADOS · A principal estratégia utilizada para tratamento de depressões moderadas são os medicamentos antidepressivos, devido à sua efetividade e à possibilidade de utilização por médicos não especialistas. · Além das medicações, algumas formas de psicoterapia têm evidência de eficácia para a fase aguda da depressão, como terapia cognitivo-comportamental (TCC), terapia interpessoal, terapia não diretiva suportiva, terapia de resolução de problemas, terapia de ativação comportamental e terapia psicodinâmica breve. · A aplicação das psicoterapias necessita de profissionais com treinamento específico na técnica, o que limita seu uso como primeira linha em saúde pública. · Existe uma literatura crescente baseada na ideia de associar estratégias antidepressivas no sentido de otimizar tratamentos. A associação de estratégias mais estudada é a de antidepressivos + psicoterapia. Além desta, também é crescente o interesse das associações entre as estratégias usadas nas depressões leves, como atividade física, alimentação, meditação, entre outras. EPISÓDIOS DEPRESSIVOS GRAVES · Episódios depressivos graves são prioritariamente tratados com antidepressivos. · A ECT é uma alternativa a ser considerada, pela maior potência no efeito antidepressivo comparada aos medicamentos e maior rapidez de ação, embora não seja recurso acessível em muitos lugares. EPISÓDIOS DEPRESSIVOS COM SINTOMAS PSICÓTICOS E ATÍPICOS · Nos episódios depressivos com sintomas psicóticos, o uso da combinação de um antidepressivo com antipsicótico é superior ao uso isolado de um dos dois medicamentos. · Outra alternativa extremamente eficaz nesses casos é o uso de ECT. 5. Quais manifestações clínicas de um paciente potencialmente suicida? · Risco de Suicídio · A possibilidade de comportamento suicida existe permanentemente durante os episódios depressivos maiores. · O fator de risco descrito com mais consistência é história prévia de tentativas ou ameaças de suicídio, porém deve ser lembrado que a maioria dos suicídios completados não é precedida por tentativas sem sucesso. · Outras características associadas a risco aumentado de suicídio completado incluem sexo masculino, ser solteiro ou viver sozinho e ter sentimentos proeminentes de desesperança. · A presença de transtorno da personalidade borderline (pessoa q vive no limite) aumenta sensivelmente o risco de tentativas de suicídio futuras. 6. Quais possíveis complicações podem apresentar pacientes em decorrência da depressão? Consequências físicas, mentais, emocionais e comportamentais, como: aumento da probabilidade de comportamentos de risco, problemas de saúde, predisposição para o consumo de drogas, álcool entre outros. Este transtorno afeta desde as esferas mais simples da vida de um indivíduo, como a forma com que se alimenta e dorme, até a sua autoestima, relações sociais e os próprios pensamentos. Tudo q foi estudado Há também os sintomas somáticos: · Baixas no sistema imunológico; · Aumento dos processos inflamatórios; · Cansaço extremo; · Fraqueza; · Insônia (ou sono de má qualidade); · Dificuldade para se concentrar; · Problemas ou disfunções sexuais.