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Material de Apoio - Direito de Famlia (Prof Mait Dam)

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DIREITO CIVIL
Prof. Maitê Damé Teixeira Lemos
 
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I – DIREITO DAS FAMÍLIAS 
 
Direito de família = Ramo do direito privado – direito civil. Em razão da 
importância, indisponibilidade, dentre outras características, o direito de família, 
embora sendo ramo do direito privado, possui viés público, já que seus institutos 
são considerados de ordem pública, sendo, inclusive, protegidos pela Constituição 
Federal, de maneira a assegurar o mínimo de condições indispensáveis à 
existência de todos os membros da sociedade, conferindo-lhes maior proteção. O 
viés público que o direito de família possui se dá em razão do especial interesse 
que o Estado tem na proteção da família como célula básica, de especial 
importância na sociedade e para que o próprio Estado se mantenha. 
 
 
 
Formas de família: atentar para a existência de diferentes formas de família. 
Tradicional (matrimônio), informal (união estável), monoparental (um dos pais e 
sua prole), homoafetiva (casais homossexuais), mosaico (fruto de divórcios e 
novos casamentos = “os meus, os teus e os nossos filhos”), multiespécie (modelo 
de família constituída pelos donos e animais de estimação – membros não 
humanos), etc. 
 
Existem diferentes tipos de família � Família consanguínea (onde há laços 
genéticos e sanguíneos, relação de ascendência e descendência); Família afetiva 
(não há laços genéticos, mas de afeto); Família por afinidade (em razão do 
matrimônio ou da união estável, parentesco entre o cônjuge ou companheiro e os 
parentes do outro: sogro/a, cunhado/a, enteado/a). 
 
1. Características do Direito de família: 
É um direito personalíssimo, por ser voltado à tutela da pessoa, aderindo à 
sua personalidade em virtude de sua posição na família durante toda a vida, isto 
é, são intransferíveis, intransmissíveis (não se transfere por ato jurídico, nem 
ATENÇÃO: as questões podem conter expressões como “ramo do direito civil 
com viés publicista” – estaria verdadeira. Se, contudo, contiver a expressão 
“ramo do direito público” – está errada. 
 
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intervivos, nem causa mortis), irrenunciáveis (os alimentos, por exemplo. 
Ninguém pode despojar-se por vontade própria, só pode haver transação com 
relação ao valor. Também não pode haver renúncia ao poder familiar). São 
indisponíveis, ou seja, ninguém pode cedê-los ou renunciá-los; irrevogáveis (o 
reconhecimento de filho, por exemplo), indisponíveis e imprescritíveis (em 
decorrência de ser personalíssimo, não prescreve. Ex.: o direito de investigar a 
paternidade e pedir alimentos). Além disso, o direito de família ainda possui as 
características da universalidade (compreende todas as relações jurídico-
familiares); indivisibilidade (não se admite que uma pessoa seja considerada 
casada para determinadas relações e solteira para outras); correlatividade (é 
recíproco, ou seja, ao estado de marido, corresponde o estado de esposa; ao de 
pai, o de filho, ...) e oponibilidade (oponível contra todas as demais pessoas. Ex.: 
a pessoa casada é casada perante toda a sociedade). 
 
 
 
2. O direito de família atual – família constitucionalizada: 
Apesar de ser ramo do direito privado, o direito de família deve ser 
interpretado de maneira constitucionalizada. Observar os princípios da dignidade 
da pessoa humana (art. 1.º, III, CF), através do qual há uma valorização da família 
como núcleo pelo qual há o desenvolvimento e a promoção da dignidade dos 
integrantes (exemplo de aplicação deste princípio é o abandono da discussão da 
culpa nos términos de matrimônios ou, ainda, as indenizações por abandono 
afetivo); solidariedade familiar (art. 3.º, I, CF), o que justifica o pagamento de 
alimentos em razão da necessidade (art. 1.694, CC); igualdade entre os filhos, 
independentemente da origem: biológica, afetiva ou adotiva, todos os direitos e 
deveres são os mesmos, sem distinções; igualdade entre cônjuges e 
companheiros (art. 226, §5.º, CF e art. 1.511, CC), tanto o homem, quanto a 
mulher podem adotar o sobrenome do outro com o matrimônio, podem pedir 
alimentos um ao outro, etc.; igualdade na chefia familiar (art. 1.566, III e IV, 1.631 
ATENÇÃO: muitas questões podem ser resolvidas lembrando das 
características do direito de família. Ex.: irrenunciabilidade do direito a alimentos; 
irrevogabilidade do reconhecimento de filiação (pode ser anulado, mas apenas 
nos casos de comprovação de erro ou coação). 
 
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e 1.634, CC), não há hierarquia na condução da família, tanto o homem quanto a 
mulher são chefes da família e detentores (em igualdade de condições) do poder 
familiar; melhor interesse da criança (art. 1.583 e ss., CC; art. 227, CF), no 
estabelecimento da guarda, por exemplo, através da alteração da lei 13.058, 
haverá o compartilhamento da mesma, mesmo se os genitores estiverem em 
litígio, pois visa o melhor interesse da criança, possibilitando que tenha 
convivência com ambos os genitores; afetividade, com a possibilidade de 
reconhecimento de filiação afetiva, manutenção da filiação afetiva em detrimento 
da biológica, etc. 
 
II – DIREITO MATRIMONIAL 
 
Até a Proclamação da República, em 1889 – apenas casamento religioso. 
1891 – surgimento do casamento civil 
Código Civil de 1916 – casamento como única forma de constituição de 
família, não havendo outra forma de convívio que fosse aceitável. O casamento 
era indissolúvel. 
Desquite – possibilidade de romper com o casamento, mas que não dissolvia 
o vínculo matrimonial, impedindo, portanto, novo casamento. Em razão do 
desquite e da impossibilidade de constituição de novo casamento, diversas 
famílias informais passaram a ser constituídas, sem que houvesse 
regulamentação do Estado nesse sentido. 
Lei do Divórcio (lei 6.515/1977) – estabeleceu o divórcio e a separação 
judicial. (o desquite foi transformado em separação e, ainda, criado o instituto do 
divórcio, que dissolvia o vínculo matrimonial, possibilitando, então, novo 
casamento). A separação rompia com a relação matrimonial e o divórcio, com o 
vínculo matrimonial. 
CF/88 – passou a considerar como entidades familiares relacionamentos 
outros, que não a família formada pelo casamento. Assim, foram reconhecidas as 
famílias constituídas pela união estável e as famílias monoparentais, aquelas que 
são formadas por um dos pais e seus filhos. 
Código Civil de 2002 – não inovou na redação, copiando as disposições do 
 
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Código de 1916, disciplinando, apenas, situações relativas à união estável e às 
famílias monoparentais. 
EC 66/2010 – alterou o § 6.º do art. 226 da CF e o sistema de dissolução do 
matrimônio, deixando de contemplar a separação judicial ou fática como requisito 
para a extinção do vínculo conjugal. Assim, tal Emenda Constitucional estabeleceu 
que o casamento pode ser dissolvido pelo divórcio, sem a necessidade de 
implementação de qualquer prazo para tato (tanto consensual quanto litigioso). 
 
 
 
1. Conceito e natureza jurídica do casamento: 
O casamento é a união de duas pessoas que objetivam a formação de uma 
família, baseando-se no vínculo de afeto, com reconhecimento e tutela do Estado, 
ou seja, é um 
[...] contrato especial de Direito de Família, por meio do qual 
os cônjuges formam uma comunidade de afeto e existência, 
mediante a instituição de direitos e deveres, recíprocos e em 
face dos filhos, permitindo, assim, a realização dos seus 
projetos de vida1. 
 
A partir daí surge a questão: o casamento é um contrato? Quando se 
pretende definir a natureza jurídica de algum instituto do Direito, é preciso que se 
respondam alguns questionamentos: o que é isso para o Direito? Em que categoria 
do Direito enquadra-se esse ente? 
Existem três correntes para explicar a natureza jurídica do casamento: 
● Contratualista: Contrato especial de direito de família, com regras próprias 
de formação, um contrato de vontades convergentes para a obtenção de fins 
jurídicos. Contrato civil regido pelas normas comuns aos contratos.Aperfeiçoa-se 
 
1 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. Direito de 
Família – as famílias em perspectiva constitucional. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 118-119. 
ATENÇÃO: Em termos de divórcio, cuidado para o que a questão pede: ou a 
visão do Código Civil (e aí deve-se considerar os prazos) ou a chamada “visão 
moderna” ou “visão constitucional” (e, neste caso, considera-se apenas o que 
consta no § 6º do art. 226 da CF, ou seja, o divórcio, independentemente de 
prazo). 
 
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pelo simples consentimento das partes. Adeptos: Silvio Rodrigues, Caio Mário 
Pereira, Orlando Gomes, Pablo Stolze Gagliano. 
● Institucionalista: O casamento é uma instituição social, um estado no qual 
os nubentes ingressam. Trata-se de uma instituição social que reflete a situação 
jurídica emergente da vontade dos contraentes, mas que possui um conjunto de 
normas imperativas e preestabelecidas pela lei (são livres para escolher o cônjuge, 
mas não podem discutir sobre o conteúdo dos direitos de deveres, não sendo 
possível alterar a disciplina legal de suas relações). Não se trata de contrato, mas 
de um estatuto, ou seja, há uma adesão a normas já estabelecidas, sem poder 
adotar outras normas. Adeptos: Arnoldo Wald; Maria Helena Diniz. 
● Mista: Ato complexo, um contrato quando de sua formação e uma 
instituição no que diz respeito ao seu conteúdo, existência e efeitos. O casamento-
ato é um negócio jurídico e o casamento-estado é uma instituição. Adeptos: 
Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka, Flávio Tartuce. Esta teoria é a que 
conta com mais adeptos na atualidade. 
 
2. Esponsais ou promessa de casamento – responsabilidade pré-
negocial: 
É a promessa de casamento entre os nubentes. São atitudes tomadas pelos 
nubentes que indicam que pretendem casar-se. Ex.: noivado, confecção dos 
convites, habilitação. É um negócio preliminar, uma promessa de contratar. 
Neste aspecto, Dias2 afirma que pelo nome de esponsais era considerado o 
noivado, tido como um contrato escrito no qual os noivos assumiam o 
compromisso de casar. Esta previsão encontrava-se explícita na Consolidação das 
Leis Civis (arts. 76 e seguintes). Atualmente não existe regulamentação dos 
esponsais. 
Os esponsais servem para comprovar o compromisso assumido entre os 
nubentes, que demonstre a intenção de casar, pois quando algum deles desiste 
do casamento, cabe indenização (art. 186, CC). 
O rompimento imotivado ou injustificado (não tem mais vontade de casar), 
 
2 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 
2016, 98. 
 
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por si só, não dá direito a indenização moral. Cabe, no entanto, indenização por 
danos materiais, já que, com base no art. 186 do Código Civil, aquele que causa 
dano a alguém tem o dever de indenizar. 
Toda e qualquer promessa de contrato, no caso de ser frustrada, gera efeitos 
na inexecução culposa. Quando um dos nubentes quebra a promessa séria de 
casamento e o outro já fez preparativos para o ato e para a futura vida em comum, 
é fato gerador do dever de indenizar. Essa responsabilidade é subjetiva, 
devendo ser demonstrada a culpa do nubente desistente. As situações de 
caso fortuito ou força maior, bem como a culpa do outro nubente afastam o dever 
de indenizar. 
Assim, são requisitos a serem provados (IMPORTANTE OBSERVAR): 
a) Existência da promessa de casamento feita pelos noivos e não por 
terceiros. 
b) Recusa injustificada de contraí-lo, de forma que é necessário que essa 
recusa chegue ao conhecimento do outro noivo; 
c) Existência de dano (material ou moral); 
d) Nexo causal. 
O dano pode ser: moral e/ou material. A desistência injustificada de casar por 
um dos nubentes gera o dever de indenizar ao outro se este comprovar que teve 
despesas com o casamento (DANO MATERIAL). Mas a ruptura de noivado por si 
só não determina a responsabilidade do desistente, o que pode ensejar a 
reparação moral são as circunstâncias em que a outra parte foi comunicada de 
seu intento. Isto porque o não cumprimento da promessa de casamento não 
enseja reparação, pois o relacionamento entre duas pessoas é espontâneo, livre 
de coação. O DANO MORAL vem sendo reconhecido pelos Tribunais quando o 
comportamento atinge bens imateriais caros e importantes, como a dor, a 
humilhação, o desprezo, a angústia e agressão à honra e à imagem da pessoa, 
casos em que, em qualquer outra hipótese, diversa daquela aqui tratada, a 
reparação se imporia. IMPORTANTE: Meros dissabores x humilhação pública. Ex.: 
chegar no altar e dizer: aceita fulana como sua legítima esposa? “Bem, pra ser 
franco, não!”. O noivo vai embora e deixa a noiva na frente do padre e dos 
convidados. 
 
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O dano moral está sendo deferido apenas em casos excepcionais, 
quando reste evidente a humilhação e exposição de um dos nubentes a 
situações vexatórias. 
 
3. Espécies de casamento: 
São admitidas duas formas de casamento (art. 226, § 1.º e § 2.º, CF): o civil 
(art. 1.512, CC) e o religioso com efeitos civis (art. 1.515 e 1.516, CC). Existem 
ainda outras modalidades especiais de casamento: o casamento por procuração, 
o nuncupativo, o putativo, o homossexual, o consular, o de estrangeiros. 
● Civil: Realizado perante o oficial do Cartório do Registro Civil, pelo juiz de 
paz. É ato solene levado a efeito por um celebrante e na presença de testemunhas. 
Pode ser realizado nas dependências do Cartório ou em outro local. É previsto 
pela Constituição no art. 226, § 1.º e no art. 1.512, CC. A celebração é gratuita 
para as pessoas cuja pobreza for declarada, incluindo a habilitação, o registro e a 
primeira certidão de casamento (art. 1.512, § único, CC). 
● Religioso com efeitos civis: O casamento religioso com efeitos civis foi 
reconhecido, no Brasil, com a Constituição de 1934, que estabeleceu que o 
casamento religioso, celebrado perante um ministro de qualquer religião, produzirá 
os mesmos efeitos do casamento civil, desde que fosse procedida a habilitação. A 
CF/88 também faz esta previsão (art. 226, § 2.º), desde que preenchidos certos 
requisitos (arts. 1.515 e 1.516, CC). Não é necessária a celebração do ato civil, 
basta que o matrimônio realizado pelo ministro de Deus (de qualquer religião, não 
só o casamento católico) seja registrado no Cartório de Registro Civil. Para tanto, 
devem ser obedecidos os requisitos da habilitação (antes ou depois do ato 
religioso). Os efeitos civis são admitidos a partir do registro e a qualquer tempo, 
retroagindo a data da celebração da solenidade religiosa (art. 1.515, CC). No 
caso de prévia habilitação, o prazo para registro é de 90 dias. Depois desse prazo 
é possível o registro, desde que efetuada nova habilitação. Portanto, realizado o 
casamento religioso, poderá ser inscrito no registro civil, bastando que seja feita a 
devida habilitação junto a autoridade competente (art. 1.516, CC). Se o casamento 
religioso for anulado, em tendo sido procedido o registro civil do mesmo, tal não 
afeta a validade deste. Se entre a celebração do casamento religioso e o registro 
 
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um dos cônjuges casar no civil com terceiro, há impedimento para efetuar o 
registro (art. 1.516, § 3.º, CC), pois haveria bigamia, neste caso. 
● Por procuração: art. 1.542, CC. O instrumento procuratório deve ser 
público e com poderes especiais (constar expressamente que é para casar com 
Fulano de Tal). A procuração é válida por 90 dias. A revogação da procuração 
também é por instrumento público. Se a revogação não chegar ao conhecimento 
do mandatário e o casamento for celebrado o mandante responde por perdas e 
danos. Revogado o mandato a lei determina que o casamento é anulável (art. 
1.550, V, CC). Há a possibilidade de o casamento ter validade na hipótese de, 
mesmo sendo revogado o mandato, ocorrer a coabitação entre os cônjuges. O 
contato sexual entre os cônjuges é que dá a validade ao casamento (não significaque o casamento se consuma na noite de núpcias, mas quer evitar que exista o 
uso malicioso desse expediente, conseguindo favores sexuais do cônjuge). 
● Nuncupativo: É o casamento quando um dos nubentes está em iminente 
risco de vida (arts. 1.540 ao 1.542, CC). Esta modalidade de casamento é 
realizada sem nenhum requisito legal (celebração sem juiz de paz, sem prévia 
habilitação), bastando a presença de seis testemunhas que não tenham 
parentesco (em linha reta ou colateral, até segundo grau) com os nubentes. Dentro 
de 10 dias a contar da celebração as testemunhas tem de confirmar o casamento 
perante a autoridade judicial que, antes de mandar registrar o casamento, fará uma 
investigação. Não existe previsão de ouvir o cônjuge sobrevivente. Se o nubente 
que estava em risco de vida sobreviver poderá ratificar o casamento, retroagindo 
os efeitos a data da celebração. 
● Putativo: É o casamento que reputa verdadeiro, mas não o é. Trata-se de 
casamento nulo ou anulável contraído de boa-fé (art. 1.561, CC). Neste caso, o 
casamento produz efeitos com relação ao cônjuge de boa-fé, no período entre a 
celebração e o trânsito em julgado da sentença que o desconstitui. Com relação 
aos filhos todos os efeitos se operam. Havendo a boa-fé, sendo o casamento nulo 
ou anulável, a sociedade conjugal dissolve-se, como se tivesse ocorrido a morte 
de um dos cônjuges (o de má-fé), se partilhando os bens. No caso de ambos 
estarem de boa-fé, o pacto antenupcial deve ser observado na partilha. Se a 
nulidade for decretada após a morte de um dos cônjuges, o outro herda 
 
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normalmente. Em caso de morte: a) decretada a nulidade antes da morte, o 
sobrevivente não herda, pois o término do casamento e do regime de bens ocorreu 
com a sentença que declarou a nulidade ou anulação do matrimônio; b) se a 
nulidade for decretada após a morte de um dos cônjuges, o outro herda 
normalmente. Se o cônjuge morre após a anulação, não herdará. Se o casamento 
putativo for de um bígamo, morrendo este, ambos os cônjuges serão herdeiros e 
a meação será divida entre ambos (25% para cada um). 
● Consular: É o casamento de brasileiro, realizado no estrangeiro, perante 
a autoridade consular brasileira, sujeitando-se, assim, as leis brasileiras e não à 
legislação local. O registro deve ser procedido dentre do prazo de 180 dias a contar 
da volta de um ou de ambos os cônjuges ao Brasil, no Cartório de seu domicílio 
ou, em não possuindo domicílio certo, no 1.º Ofício da Capital do Estado em que 
passem a residir (art. 1.544, CC). Se o registro não for feito dentro desse prazo, o 
casamento não produzirá os efeitos jurídicos pela lei brasileira. Ver art. 18, LINDB. 
No mesmo sentido, o art. 32 da Lei dos Registros Públicos. Aplica-se apenas em 
casos de ambos os nubentes serem brasileiros e estarem casando no exterior. Se 
um dos nubentes não for brasileiro, a autoridade consular não possui competência 
para celebrar o casamento. 
● Casamento realizado no estrangeiro: Para que o casamento de brasileiros 
ou estrangeiros, realizado no exterior, tenha validade no Brasil, deve ocorrer o 
registro do matrimônio no Brasil. A certidão de casamento deve ser traduzida por 
tradutor juramentado e autenticada pelo agente consular brasileiro para, então, ser 
registrada. Nestes termos, ver art. 32, Lei dos Registros Públicos. 
● Casamento de casais homoafetivos: Em razão da Resolução 175 CNJ é 
possível que casais homoafetivos celebrem casamento no Brasil – tanto por 
processo de habilitação, como, também, por processo de conversão de união 
estável em casamento. 
 
4. Capacidade para o casamento: 
Diz respeito a idade reconhecida para que as pessoas estejam aptas a casar. 
Art. 1.517, CC = 16 anos. Contudo: 16 a 18 anos – com autorização dos pais 
(de ambos os pais, salvo quando um deles não existir ou não puder emanar o 
 
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consentimento. Se um não concordar � juiz decide. Autorização pode ser 
revogada até o momento da celebração do casamento (art. 1.518, CC), mas deve 
ser fundada em fato novo e grave. A negativa da licença para casar deve ser 
baseada em fundamentos sérios e justificáveis, de maneira que se for diferente, 
poderá o juiz conceder a licença (art. 1.519, CC). 
Indivíduo emancipado � não precisa da autorização dos genitores. 
Segundo o art. 1.520, CC, pela redação trazida pela lei 13.811/2019, é 
vedado, em qualquer hipótese, o casamento de quem não completou a idade núbil 
(menor de 16 anos). 
Mas e há uma idade limite para o casamento? O CC não estabelece idade 
limite, mas, estabelece que aquele que tiver mais de 70 anos terá de casar sob o 
regime da separação obrigatória de bens (art. 1.641, II, CC). 
 
5. Habilitação para o casamento: 
A habilitação é um procedimento administrativo, processo que corre perante 
o Oficial do Registro Civil do domicílio dos nubentes com o fim de demonstrar que 
estes estão legalmente aptos para o matrimônio. O Oficial, através da habilitação, 
verifica a concorrência dos pressupostos de existência e validade do ato 
matrimonial. Visa justamente o exame da capacidade e da aptidão, a fim de 
conferir validade à celebração. 
Para aquelas pessoas que tiverem a pobreza declarada na forma da lei, o 
processo de habilitação, o registro e a primeira certidão de casamento estarão 
isentos de custos, emolumentos e selos, nos termos do art. 1.512, § único, CC. 
A habilitação é feita em um só documento, contendo os dados dos nubentes 
e declarações (Art. 1.525, CC): 
● Certidão de nascimento dos nubentes ou outro documento que a supra 
(carteira de identidade, passaporte...). 
● Autorização dos pais, curador ou tutor Art. 1.517, CC. A necessidade de 
consentimento é para nubentes entre 16 e 18 anos (quando atinge a maioridade 
civil). Se o menor for emancipado, não precisa de autorização dos pais para casar. 
O interdito precisa de autorização do curador. Até a celebração do casamento a 
autorização emitida pelos responsáveis pode ser revogada (Art. 1.518, CC). 
 
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● Declarações de duas testemunhas sobre a identidade dos nubentes e a 
inexistência de impedimento para a realização do casamento. As testemunhas 
podem ser parentes ou não; 
● Declaração firmada pelos nubentes (ou por procurador com poderes 
especiais), com o fim de esclarecer o estado civil, profissão, filiação e domicílio 
(seu e de seus pais). No caso de os nubentes residirem em locais diferentes, a 
publicação dos editais deve ocorrer em ambos os lugares; 
● Se um dos nubentes for viúvo, anulou ou obteve declaração de nulidade 
do casamento ou se divorciou, precisa provar que o vínculo matrimonial anterior 
foi dissolvido. No caso do viúvo, deve apresentar certidão de óbito do cônjuge 
anterior. No caso de casamento nulo ou anulado, deve apresentar a sentença, com 
trânsito em julgado, que anulou ou declarou nulo o casamento anterior. O 
divorciado deve apresentar o registro da sentença de divórcio. 
● Os nubentes deverão indicar o regime de bens. Em não indicando, 
prevalece a comunhão parcial. 
 
Processo de habilitação: 
A habilitação ocorre no Registro Civil, com a audiência do Ministério Público 
– NÃO HÁ MAIS A NECESSIDADE DE HOMOLOGAÇÃO PELO JUIZ. 
Apresentados os documentos ao oficial, os pretendentes requererão certidão 
de que estão habilitados para o casamento (Art. 1.517, CC, Art. 67, caput, Lei 
6.015/73). 
Edital se publicará pela imprensa se houver (Art. 1.527, CC, Art. 67, § 1.º, Lei 
6.015/73). Se os nubentes residirem em circunscrições diversas, o edital deverá 
ser publicado em ambas (Art. 67, § 4.º, Lei 6.015/73). 
Função do edital = conhecimento aos terceiros para oposição de 
impedimento, que devem ser opostos através de um documento escrito e assinado 
(Art. 1.529, CC). Esta oportunidade perdurará até o momento da celebração do 
casamento. 
Se ninguém opuser impedimento o Oficial certificará que os pretendentes 
estão habilitados para se casar (Art. 1.531, CC, Art. 67,§ 1.º§ 3.º, Lei 6.015/73) 
dentro dos três meses imediatos – 90 dias (prazo da habilitação) (Art. 1.532, CC). 
 
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Não se realizando o casamento nesse prazo, a habilitação deverá ser renovada. 
 
Documentação apresentada � estando em ordem � lavram-se os proclamas � 
publicam-se mediante edital � edital afixado em local ostensivo � prazo de 15 dias 
(art. 1.527, CC + art. 67, § 1.º, Lei 6.015/73) 
 
Oficial do Registro, no processo de habilitação, esclarecer aos nubentes 
sobre os fatos que podem invalidar o casamento, bem como sobre os diversos 
regimes de bens (Art. 1.528, CC). 
Havendo oposição = Oficial cientificará os nubentes da nota de oposição, 
indicando os fundamentos, as provas e o nome de quem a ofereceu (Art. 1.530, 
CC). Os nubentes terão direito ao contraditório e a ampla defesa, tendo prazo 
razoável para fazer contraprova, bem como promover ações civis e criminais 
contra o oponente de má-fé (Art. 67, § 5.º, Lei 6.015/73). A decisão final será do 
juiz, com a oitiva dos interessados e do Ministério Público. 
 
6. Celebração do casamento: 
Processada a habilitação, estão os nubentes em condições de casar. 
A celebração é pública, de maneira que qualquer pessoa pode participar da 
solenidade. O procedimento de celebração inicia-se pelo requerimento dos 
nubentes indicando dia, hora e local onde deverá ser realizado o matrimônio (Art. 
1.533, CC). 
Via de regra realiza-se o casamento no Cartório. Entretanto pode ocorrer em 
local diverso, desde que às portas abertas, para que seja público (Art. 1.534 e § 
1.º, CC). No Cartório – 2 testemunhas; Fora do Cartório (ou quando um dos 
nubentes for analfabeto - Art. 1.534, § 2.º, CC) – 4 testemunhas. 
A cerimônia é celebrada pelo juiz de paz, pessoa escolhida e designada 
segundo as leis do Estado, não podendo haver substituição por qualquer outra 
autoridade. 
Juiz de paz pergunta aos nubentes se pretendem casar por livre e 
espontânea vontade � sim, declarará o celebrante formalizado o casamento, nos 
termos da segunda parte do Art. 1.535, CC. Neste momento o casamento passa a 
 
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produzir os efeitos. Maria Berenice Dias defende que a perfectibilização do ato 
depende de um duplo requisito: manifestação da vontade das partes e a 
declaração do celebrante de que estão casados3. 
Se responderem não, manifestarem dúvida (ainda que de brincadeira), a 
celebração será suspensa (Art. 1.538, CC). 
O registro do casamento deverá conter os dados constantes no Art. 1.536, 
CC. 
Igualdade constitucional = qualquer dos cônjuges pode pode adotar o 
sobrenome do outro. Art. 1.565, § 1.º, CC. 
 
7. Provas do casamento: 
Prova de casamento celebrado no Brasil = certidão do registro (Art. 1.543, 
CC); casamento celebrado no exterior = documento emanado pelo país 
estrangeiro, devidamente autenticado pelas autoridades consulares (prazo de 180 
dias, a contar da volta para o Brasil, para fazer o registro do casamento, que 
deverá ser feito no domicílio do casal ou no 1.º Ofício de Registro Civil da Capital 
do Estado (Art. 1.544, CC) – prova direta. 
Inexistindo o registro = prova indireta – admitida qualquer outra espécie de 
prova (Art. 1.543, § único, CC) � ação judicial (ação declaratória ou justificação 
judicial) que visa declarar o estado de casado. Ex.: Carteira de Identidade onde 
conste o estado civil de casado. Também pode ser feita a prova do estado de 
casado por testemunhas. No caso da ação declaratória, sua sentença deve ser 
inscrita no registro civil, que produzirá seus efeitos quanto aos cônjuges e quanto 
a seus filhos, desde a data do casamento (Art. 1.546, CC). 
 
Posse do Estado de casados. 
Aquelas pessoas que não possam manifestar vontade (por morte ou outra 
circunstância – doença mental, por exemplo) e que vivam na posse do estado de 
casadas – como se casadas fossem – poderão ter o reconhecimento do 
casamento, sendo a posse do estado de casadas um início de prova. 
 
3 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 
2016, 166. 
 
14 
 
Requisitos: a) nomen: a mulher usa o nome do marido ou vice-versa; b) 
tractatus: ambos tratam-se, ostensivamente, como marido e mulher; c) fama: a 
sociedade dever reconhecer esta condição dos cônjuges. 
 
8. Impedimentos para o Casamento: 
Impedimento é a falta de condições impostas por lei para que o casamento 
seja celebrado sem vícios passíveis de nulidade ou sem penalidade para os 
nubentes, o oficial do registro e o juiz. 
 
Art. 1.521. Não podem casar. Se realizado o matrimônio = casamento nulo. 
Impedimento x incapacidade: O impedimento priva que o casamento seja 
celebrado entre certas pessoas; a incapacidade impede a realização de 
casamento com quem quer que seja. 
I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou 
civil – O parentesco em linha reta consanguínea persiste ao infinito, independente 
do grau. Visa impedir o incesto e, também, problemas congênitos. Avô e neta, ... 
II - os afins em linha reta – Afinidade – parentesco advindo do casamento 
ou união estável. Limita-se a linha reta em primeiro grau, pois afinidade não gera 
afinidade. Assim, só são parentes em linha reta que tem impedimento para casar: 
sogro e nora, sogra e genro, padrasto e enteada, madrasta e enteado. Este 
impedimento, contudo, não ocorre na linha colateral, de maneira que os cunhados 
não estão impedidos de casar. 
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem 
o foi do adotante; 
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o 
terceiro grau inclusive – Não podem se casar os irmãos (unilaterais ou bilaterais). 
Os impedimentos relativos a linha colateral vão até o terceiro grau, ou seja, tios e 
sobrinhos, hipótese que está autorizada mediante parecer médico (art. 2.º, 
Decreto- lei nº 3.200/41, CC) que ateste não existir inconveniente do ponto de vista 
da saúde dos cônjuges e da prole (este casamento chama-se AVUNCULAR). 
V - o adotado com o filho do adotante – filho adotivo se iguala ao biológico, 
de maneira que também surgem os impedimentos, iguais aos da consanguinidade. 
 
15 
 
O impedimento só surge se houver adoção regularizada. 
VI - as pessoas casadas – Aqueles que já são casados não podem se casar 
outra vez, o que configuraria a bigamia (crime previsto no art. 235 do Código 
Penal). 
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou 
tentativa de homicídio contra o seu consorte – Deve haver sentença penal 
condenatória transitada em julgado e o crime não deve estar prescrito para que 
configure a nulidade. Esse impedimento vale para homicídio doloso, não para o 
culposo. 
 
MATRIMÔNIO REALIZADO COM INOBSERVÂNCIA DE IMPEDIMENTO = 
nulo (art. 1.548, II, CC) – interessados ou o MP poderão, a qualquer tempo, buscar 
a nulidade (art. 1.549, CC). 
 
9. Causas suspensivas do Casamento: 
As causas suspensivas visam impedir a realização do casamento. NÃO 
DEVEM CASAR (art. 1.523, CC). Se realizado, o matrimônio é válido, impondo a 
lei apenas sanções de natureza econômica (o regime de bens será 
obrigatoriamente o da separação – arts. 1.550 + 1.641, I, CC). 
 
I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não 
fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros – visa evitar a 
confusão de patrimônios. A existência de casamento entre essas pessoas poderia 
causar dificuldades para a identificação do patrimônio das distintas proles por 
dificuldade na identificação. Poderá ser solicitado ao juiz que não aplique a causa 
suspensiva se comprovado que não houvera prejuízo aos herdeiros, como no caso 
de não haver patrimônio a ser partilhado. 
II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter 
sido anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução 
da sociedade conjugal – evitar a confusão sanguínea, de maneira que possa 
nascer um filho nesse período e, caso a mulher tenhacasado novamente, não se 
saiba qual é o pai. Na verdade, nascendo um filho nesse período, presume-se seja 
 
16 
 
do primeiro marido. Ver art. 1.597 e 1.598, CC. 
III - o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a 
partilha dos bens do casal – evitar a confusão patrimonial. 
IV - o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, 
irmãos, cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, 
enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas as 
respectivas contas – evitar que o incapaz case para isentar o administrador de 
seus bens da prestação de contas. 
 
Parágrafo único. É permitido aos nubentes solicitar ao juiz que não lhes 
sejam aplicadas as causas suspensivas previstas nos incisos I, III e IV deste 
artigo, provando-se a inexistência de prejuízo, respectivamente, para o 
herdeiro, para o ex-cônjuge e para a pessoa tutelada ou curatelada; no caso 
do inciso II, a nubente deverá provar nascimento de filho, ou inexistência de 
gravidez, na fluência do prazo. 
 
MATRIMÔNIO REALIZADO COM INOBSERVÂNCIA DE CAUSA 
SUSPENSIVA = imposição do regime de separação obrigatória (art. 1.641, I, CC). 
 
 
 Momento da oposição Legitimados 
 
Oposição (em 
declaração escrita, 
assinada e com 
provas) – 1.529 
 
Impedimentos 
No processo de 
habilitação até o 
momento da celebração 
Juiz e official do registro (de 
ofício), Ministério Público e 
qualquer interessado (1.522) 
 
Causas suspensivas 
Só no processo de 
habilitação, até 15 dias 
após os proclamas 
Parentes em linha reta e 
colateral até 2º grau 
(consanguíneos ou afins) 
(1.524) 
 
 
10. Existência do Casamento e casamento inexistente: 
Negócio jurídico � dois planos = plano da existência e plano da validade. 
Existência = cumprimento dos requisitos mínimos. Validade = quando é 
considerado perfeito e produz efeitos. 
ATENÇÃO: 
Impedimento = não PODEM – 1.521 
Causa suspensiva = não DEVEM – 1.523 
 
17 
 
Considera-se inexistente o casamento “quando lhe faltam um ou mais 
elementos essenciais, como o consentimento, ou o congraçamento de duas 
pessoas, ou a união de seres humanos de sexo diferente”4. 
No ato inexistente há, quando muito, aparência de ato jurídico. Não é um ato 
jurídico, pois não possui os pressupostos para tanto. No caso do casamento, há 
uma mera aparência de matrimônio, pois não possui qualquer conteúdo jurídico, 
de maneira que o ato não se formou para o Direito. Os atos inexistentes são um 
nada jurídico, não devem gerar qualquer efeito. NÃO HÁ A PRODUÇÃO DE 
EFEITOS! 
Requisitos de existência do casamento – Art. 1.514, CC – CUIDADO com 
a questão de pessoas de sexos diferentes (não pode-se mais considerar este 
requisito, pois é permitido o casamento entre pessoas de mesmo sexo – 
Resolução 175 CNJ); Manifestação da vontade – consentimento de ambas as 
partes (Art. 1.535, CC) – o consentimento, a concordância, o “sim” é da essência 
do ato, integrando a solenidade de celebração. Celebração perante autoridade 
legalmente investida de poderes para tanto (Art. 1.533, CC) – falta de 
celebração ou celebração feita sem o juiz de paz. No caso da celebração ser feita 
por juiz de paz incompetente (de outra circunscrição, p. ex.), por um equívoco, não 
será caso de inexistência, mas sim, causa de anulabilidade (Art. 1.550, VI, CC). 
 
 
 
Para a existência do casamento são necessários os requisitos. Não se 
confunde com o casamento nulo ou anulável, pois o ato nunca existiu. Foi 
uma materialidade de fato, mas sem qualquer significação jurídica. 
 
Declaração de inexistência: pode ser declarada de ofício. Simplesmente 
averba-se a inexistência do ato. Em havendo ação judicial, esta será declaratória 
 
4 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família: lei n.º 10.406, de 10.01.2002. Rio de Janeiro: Forense, 
2006, p. 104. 
IMPORTANTE: A capacidade matrimonial não é requisito. O casamento de 
menores de 16 anos que for celebrado não é inexistente, mas sim anulável. Ver 
art. 1.550, CC. 
 
18 
 
(declara a inexistência do matrimônio) e os efeitos práticos serão os mesmos da 
nulidade (a seguir veremos). 
 
11. Casamento nulo e anulável: 
Os planos da validade e da eficácia do casamento não podem ser 
confundidos. A validade depende da manifestação da vontade das partes e da 
declaração, pelo juiz de paz, de que os nubentes estão casados. A eficácia 
depende do registro público do casamento5. 
Tanto a nulidade, quanto a anulação do casamento dependem de declaração 
judicial. Enquanto não declaradas por sentença, o casamento produz efeitos – arts. 
1.561 e 1.563, CC. 
O matrimônio, quando celebrado com inobservância a um impedimento de 
ordem pública, DEVE ser desconstituído, não havendo prazos para a declaração 
de nulidade (imprescritível). Quando celebrado com inobservância de uma norma 
de interesse individual, PODE ser desconstituído, desde que dentro dos prazos 
estabelecidos (prazos prescricionais exíguos). A nulidade não se convalida6. 
Uma vez que seja declarado nulo ou anulado o matrimônio, os efeitos são 
retroativos à data da celebração. O casamento é considerado putativo (reputa-se 
verdadeiro mas não é), produzindo todos os efeitos para aquele que estiver de 
boa- fé e para os filhos (art. 1.561, CC). 
 
12. Casamento nulo: 
O casamento que for celebrado com a violação dos impedimentos previstos 
no art. 1.521, CC será eivado de nulidade. Nesse sentido, o art. 1.548, CC traz as 
causas de nulidade do casamento: violação dos impedimentos. 
CUIDADO! O Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/2015) retirou 
do rol de situações de nulidade o casamento quando contraído por enfermo mental 
desprovido de discernimento. Referida lei incluiu um parágrafo no art. 1.550, que 
 
5 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 
2016, 189. 
6 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 
2016, 189. 
 
 
19 
 
permite que a pessoa com deficiência mental ou intelectual em idade núbil possa 
casar, expressando sua vontade diretamente ou por meio de seu responsável ou 
curador. 
Quando os nubentes não forem capazes de manifestar de modo inequívoco 
sua vontade/consentimento, trata-se de casamento anulável (art. 1.550, IV, CC). 
Revela-se nulo o casamento: contraído com inobservância a impedimento 
(art. 1.521) 
No caso de o casamento ser celebrado por alguém que não esteja investido 
na função de juiz de casamento e, embora com essa falta de investidura, 
desempenha publicamente tal função, efetuando o registro do casamento, embora, 
a rigor o ato fosse nulo, a lei sobreleva a nulidade, nos termos do Art. 1.554, CC. 
 
Ação para a nulidade do casamento: Para a declaração de nulidade do 
casamento é necessária ação judicial para tanto, proposta pelo interessado (Art. 
1.549, CC) ou o Ministério Público poderão ingressar com a ação de nulidade. A 
ação é IMPRESCRITÍVEL. Legitimados = MP, primeiro cônjuge, cônjuge bígamo, 
colaterais sucessíveis e credores dos cônjuges. EFEITOS = ex tunc – art. 1.563, 
CC, retroagindo até a data da celebração do casamento, sem que, contudo, 
prejudique a aquisição de direitos por terceiros de boa fé. 
 
13. Casamento anulável: 
O casamento é anulável quando celebrado em ferimento apenas do interesse 
de pessoas que o legislador quer proteger por considerá-las hipossuficientes. A lei 
não quer o matrimônio e, se foi contraído, autoriza a dissolução. O silêncio das 
partes permite que um ato jurídico defeituoso convalesça, o que equivale a uma 
ratificação tácita, ou melhor, a uma ratificação presumida. Art. 1.550, CC. É 
anulável o casamento: 
I - de quem não completou a idade mínima para casar – casos dos 
menores de 16 anos. Não se anulará, todavia o casamento, por motivo de idade, 
se dele resultou gravidez (Art. 1.551, CC). O menor poderá confirmar seu 
casamento quando alcançar os 16 anos, com a autorização de seus 
representantes legais oucom suprimento judicial (Art. 1.553, CC). É uma 
ratificação do ato, que ocorre com um termo, constando a assinatura do ratificante, 
 
20 
 
duas testemunhas e os representantes legais, perante o Oficial do Registro Civil e 
o juiz de paz, sem necessidade da convalidação judicial. Esse ato não importa em 
nova celebração do casamento. Mesmo que não tenha sido ratificado o ato, 
quando atingida a maioridade, o ato segue gerando seus efeitos, pois trata-se de 
ato anulável. Também poderá ser confirmado o matrimônio quando atingida a 
maioridade. 
Para que haja a anulação do casamento de menores de 16 anos o 
requerimento deve partir do próprio cônjuge, por seus representantes legais ou por 
seus ascendentes (Art. 1.552, CC). 
PRAZO = Art. 1.560, § 1.º, CC: 180 dias, contado o prazo do dia em que o 
menor completou 16 anos para ele e, da data do casamento para seus 
representantes legais ou ascendentes. 
II - do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu 
representante legal – entre 16 e 18 anos deve haver anuência de seus 
responsáveis (pais) para poderem casar. Se o menor tiver sido emancipado não é 
necessário tal consentimento. PRAZO = 180 dias, por iniciativa do incapaz, ao 
deixar de sê-lo, de seus representantes legais, a partir do casamento, ou de seus 
herdeiros necessários, a partir da morte do incapaz. Não poderá haver anulação 
se os representantes legais do incapaz tiverem assistido ao ato de celebração do 
casamento ou manifestado, de qualquer modo, sua concordância (Art. 1.555, CC). 
III - por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558 – Sem o 
consentimento o casamento inexiste, pois é requisito essencial. Mas é necessário 
que o ato seja livre e espontâneo, não viciado, a fim de que tenha eficácia. 
Art. 1.556, CC – Erro essencial quanto a pessoa do outro: falta de 
conhecimento da identidade ou de uma qualidade essencial do outro cônjuge. Ao 
ser dado o consentimento, um dos cônjuges o faz imbuído por falso conceito, ou 
uma idéia equivocada em relação à pessoa com quem se casou (art. 1.557, CC). 
● Identidade, honra e boa fama: pensava ser uma pessoa e era outra. Ex.: 
nome e identidade falsos; transexual; pessoa que se descobre depois do 
casamento ser de conduta devassa, com envolvimento com traficantes de drogas, 
etc. IMPORTANTE (JÁ CAIU NO EXAME DA OAB): esse fato deve ser conhecido 
após o matrimônio, tornando insuportável a vida em comum. 
 
21 
 
● Ignorância de crime: são requisitos: a) a prática de crime; b) que seja 
anterior ao casamento; c) que seja fato ignorado pelo outro cônjuge ao casar-se; 
d) que torne insuportável a vida em comum. Ex.: cometimento de estupro anterior 
ao casamento. 
● Ignorância de defeito físico irremediável: O Estatuto da Pessoa com 
Deficiência introduziu esse inciso, não sendo cabível a anulação do casamento em 
caso de pessoas com deficiência. Como forma de erro essencial, capaz de levar à 
anulação do matrimônio, encontram-se, então: defeitos irremediáveis como 
hermadroditismo; deformações genitais; ulcerações no pênis e impotência coeundi 
(para o ato sexual)7 ou instrumental (não é esterilidade, é impotência). 
Com relação às moléstias graves e transmissíveis, tais devem ser 
transmissíveis por contágio ou herança, capaz de colocar em risco a saúde do 
outro cônjuge e sua prole. A moléstia deve ser anterior ao casamento e não 
desconhecida do outro cônjuge. Ex.: AIDS, hepatite, sífilis, epilepsia, hemofilia, etc. 
Não é discriminação. O portador de HIV, por exemplo, merece proteção e respeito 
e tem todo o direito de constituir família, mas seu futuro cônjuge deve saber da 
situação. 
OBSERVAÇÃO: O Estatuto da Pessoa com Deficiência revogou o inciso IV 
do art. 1.557, CC, que mencionava a ignorância de doença mental grave, que fosse 
anterior ao casamento, grave e desconhecida pelo outro cônjuge. Agora este 
casamento é válido, visando a inclusão social das pessoas. 
PRAZO NOS CASOS ACIMA: 3 anos (art. 1.560, III, CC), contando da data 
da celebração do casamento. 
Art. 1.558, CC – Coação: a coação é a pressão física ou moral, ou o 
constrangimento que sofre uma pessoa, com o fim de ser obrigada a realizar um 
ato ou negócio. Ocorre no momento da celebração do casamento. Somente o 
cônjuge que sofreu a coação pode demandar a anulação de casamento, mas a 
coabitação, havendo ciência do vício, valida o ato. A coação, para viciar a 
declaração de vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de 
dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens ou 
 
7 TARTUCE, Flávio; SIMÃO, José Fernando. Direito civil: direito de família. 11.ed. Rio de Janeiro: 
Forense, 2016, p. 9 
 
22 
 
temor de morte. PRAZO: 4 anos a contar da celebração do ato (art. 1.560, IV, CC). 
IV - do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o 
consentimento – Em razão do Estatuto da pessoa portadora de deficiência, a 
previsão do inciso IV incide apenas sobre os alcoólatras e viciados em tóxicos (art. 
4.º, II, CC). As pessoas com capacidade reduzida podem contrair matrimônio, 
manifestando sua vontade pessoalmente ou por responsável (art. 1.550, §2.º, CC). 
O prazo para revogação é de 180 dias a contar da celebração do casamento 
(Art. 1.560, I, CC). 
V - realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente 
soubesse da revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação entre os 
cônjuges – Uma vez ocorrendo a coabitação, naturalmente se depreende a 
renúncia a revogação do mandato, porquanto o mandante, indo coabitar com o 
outro cônjuge, naturalmente aceitou o casamento, além de lhe competir a 
comunicação ao outro cônjuge da revogação do mandato. Cabe ao mandante 
tomar todas as providencias necessárias para cientificar o mandatário ou o outro 
contraente da revogação da procuração. No caso disso não ocorrer, o mandante 
responde por perdas e danos. Equipara-se à revogação a invalidade do mandato 
judicialmente decretada (Art. 1.550, § único, CC). PRAZO = 180 dias a contar da 
ciência pelo mandante da celebração do casamento (Art. 1.560, § 2.º, CC). 
VI - por incompetência da autoridade celebrante – Tal infração refere-se 
a incompetência relativa ou em razão do lugar do juiz de casamentos. Só tem 
validade, em princípio, o casamento realizado pelo juiz do distrito onde se 
processou a habilitação para o casamento. Contudo o Art. 1.554, CC protege o 
estado de aparência, quando o casamento é celebrado pro quem, sem possuir a 
competência exigida na lei, exercer publicamente as funções de juiz de paz e, 
nessa qualidade, tiver registrado o ato no Registro Civil. Mas só na hipótese de 
juiz de paz incompetente o casamento se convalida. Se for outra pessoa 
(delegado, ministro, prefeito...) o casamento é inexistente. PRAZO = 2 anos, a 
contar da data da celebração (Art. 1.560, II, CC). 
 
EFEITOS DA ANULAÇÃO = ex tunc, retroagindo até a data de sua 
celebração, de forma que os cônjuges voltam a ser solteiros. Ver art. 1.563, CC – 
 
23 
 
boa fé. 
 
ANULAÇÃO X DIVÓRCIO – efeitos são diferentes – o objetivo, na anulação 
é voltar ao status quo, ou seja, voltar a ser solteiro, com o aproveitamento dos 
efeitos no caso da boa-fé (art. 1.561, CC). No divórcio, o estado civil passa a ser 
divorciado (não volta a ser solteiro). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
14. Consequências da nulidade ou da anulação do casamento: 
Até a nulidade/anulação = produz todos os efeitos se contraído de boa-fé 
(Art. 1.561, CC). 
 
24 
 
Depois da nulidade/anulação = considera-se o casamento como inexistente 
(volta ao status quo ante). Se for o caso, perde o cônjuge o estado de casado e de 
capaz, tornando à menoridade. O pacto antenupcial também desaparece. 
Efeitos = Os efeitos da sentença transitada em julgado retroagem a data do 
casamento, como se ele nunca tivesse existido. Contudo, os direitos de terceiros 
de boa-fé são preservados, ou seja, as vendas feitas a terceiros permanecem 
inalteradas. Aosfilhos os efeitos aproveitam sempre. Havendo patrimônio – 
obedecer regime de bens. Quando a nulidade/anulabilidade decorrer de culpa de 
um dos cônjuges, o culpado deverá devolver ao outro todas as vantagens e 
benefícios que deste recebeu (art. 1.564, I, CC). Também fica obrigado o cônjuge 
culpado a cumprir com as promessas feitas no contrato antenupcial, de maneira 
que se fez promessa de fazer uma doação, a anulação não lhe retira o dever de 
cumprir com tal obrigação. 
 
III – REGIME DE BENS: 
 
Maneira pela qual se estabelece, no casamento, as formas de contribuição e 
cada um para o lar, a titularidade e administração dos bens comuns e particulares 
e em que medida esses bens respondem por obrigações de terceiros. É uma das 
consequências jurídicas do casamento. Assim, o casamento não subsiste sem um 
regime de bens, de maneira que se os cônjuges não se manifestarem, a lei supre 
sua omissão, disciplinando o regime de bens de seu casamento. 
Regime Legal � Até 1977 - comunhão universal de bens (não havia pacto). 
Após 1977 - lei do divórcio (6.515/77) - comunhão parcial de bens. 
Regra – liberdade dos pactos e escolha do regime de bens – art. 1.639, CC. 
Início do regime de bens = data do casamento – momento do “sim” (art. 
1.639, § 1.º, CC). Fim do regime de bens = separação de fato. 
Possibilidade de mesclar diversos regimes de bens, ou seja, adotarem um 
regime e, com referência, a certos bens, elegerem outro. Ex.: adotar o regime da 
separação total de bens, estipulando que com relação ao bem X vigorará o regime 
da comunhão de bens. 
 
 
25 
 
 
1. Princípios: 
1. Variedade do regime de bens: a lei oferece uma multiplicidade de regimes 
de bens: 4 diferentes regimes de bens para que os consortes possam optar pelo 
que mais lhes convier: comunhão universal, comunhão parcial, separação e 
participação final dos aquestos. 
2. Liberdade dos pactos antenupciais: é decorrência do primeiro. É a 
liberdade de escolha dentre os vários regimes de bens existentes, podendo ainda, 
criar um regime novo, mesclando partes de um regime e elementos de outro (art. 
1.639, CC). O Estado não pode, salvo havendo motivo relevante e norma 
específica, intervir demasiadamente e coativamente na relação matrimonial, de 
forma a impor o regime de bens. 
Assim, podem os cônjuges: 
a) Ficar em silêncio e ser aplicado o regime da comunhão parcial. 
b) Escolher um dos regimes previstos em lei. 
c) Criarem, através de pacto antenupcial o regime que bem entenderem, 
podendo, dessa forma, mesclar diversos regimes. 
 
Existem, contudo, casos em que a liberdade de escolha dos nubentes é 
relativizada (ou podada!), ou seja, existem casos em que a lei determina um regime 
obrigatório – o da separação de bens – seja por precaução ou para punir os 
nubentes. Nesses casos, se eles regularem diferentemente, via pacto antenupcial, 
seus interesses econômicos, as cláusulas serão nulas, prevalecendo a 
determinação legal (art. 1.655, CC). 
3. Mutabilidade do regime de bens: o art. 1.639, § 2.º, CC (+ art. 734, 
CPC/2015) veio admitir a mutabilidade do regime matrimonial adotado, desde que 
haja, em jurisdição voluntária, autorização judicial, atendendo a um pedido 
motivado de ambos os cônjuges, após a verificação da procedência das razões 
por eles invocadas e da certeza de que tal modificação não causará qualquer 
gravame a direitos de terceiros. 
4. Imediata vigência do regime de bens: a vigência do regime de bens é 
imediata a celebração do ato nupcial. 
 
26 
 
5. Comunicabilidade: a partir do momento em que é celebrado o casamento, 
passa a viger o princípio da comunicabilidade do patrimônio que for amealhado 
após as núpcias. 
 
2. Pacto antenupcial: 
Quando o regime não for o legal dispositivo (CPB), a escolha do regime de 
bens é feita através de um negócio jurídico solene: o pacto antenupcial, realizado 
mediante escritura pública, no Tabelionato de Notas (art. 1.653, CC). 
CPB8 – regra: sem pacto; havendo alteração: com pacto; CUB – sempre com 
pacto; 
PFA – sempre com pacto; 
SOB – sempre sem pacto – imposição legal; 
SCB (SAB) – sempre com pacto. Separação consensual = absoluta. 
 
� não havendo convenção, ou sendo esta nula ou ineficaz (pelo 
estabelecimento de cláusulas que não sejam possíveis) � regime da CPB (art. 
1.640, CC). 
 
- Pode ser por procuração pública, com poderes especiais; 
- Menores de idade = o representante legal deverá assistir no ato de 
lavratura do pacto antenupcial, salvo no caso do regime obrigatório de bens (art. 
1.654, CC). 
- MOMENTO DE ELABORAÇÃO = antes da habilitação, pois tal escritura 
pública deve ser anexada na documentação exigida para habilitação do 
casamento. 
- Não pode haver qualquer cláusula que ofenda os bons costumes e a 
ordem pública. Ex.: é proibido cláusula no pacto antenupcial que altere a ordem 
de vocação hereditária ou que ajuste a comunhão de bens, quando o casamento 
só podia realizar-se pelo regime da separação total. Em havendo cláusulas nesse 
sentido, serão nulas (art. 1.655, CC). 
 
8 CPB – Comunhão parcial de bens; CUB – Comunhão universal de bens; PFA – Participação final 
nos aquestos; SOB – Separação obrigatória de bens; SCB – Separação convencional de bens 
(também conhecido como SAB – separação absoluta de bens). 
 
27 
 
- Após a celebração do casamento o pacto antenupcial deverá ser 
registrado no Cartório de Registro de Imóveis, em livro especial, para ter validade 
contra terceiros (art. 1.657, CC; art. 167, I, n.12 e II, n.1, Lei 6.015/73). Se o 
nubente for empresário, o pacto deverá ser arquivado e averbado no Registro 
Público de Empresas Mercantis (art. 979, CC). 
- Pelo pacto os nubentes podem fundir os regimes de bens, criando seu 
próprio regime. 
3. Outorga conjugal – outorga uxória e outorga marital 
Autorização conjugal é a manifestação do consentimento entre os cônjuges 
para que determinados atos possam ser praticados, sob pena de invalidade. Ex.: 
compra e venda de imóvel. 
Outorga uxória – autorização da mulher 
Outorga marital – autorização do marido 
Essa autorização é exigida quando um dos cônjuges praticar ato que afeta o 
patrimônio do casal (alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis, litigar em juízo 
acerca desses bens, prestar fiança ou aval, etc). 
REGRA: necessidade da outorga. EXCEÇÕES: 
a) No regime da separação convencional de bens (art. 1.647, CC). 
b) No regime da participação final nos aquestos, quando o casal 
convencionar a livre disposição dos bens. 
Caso o cônjuge não possa dar a autorização (por estar doente ou incapaz) 
ou não queira, o suprimento será dado pelo juiz – art. 1.648, CC. 
 
4. Regime Legal: 
4.1. Regime Legal Dispositivo 
Determinado pelo Estado = CPB. 
Se os nubentes não escolherem o regime de bens � CPB (regime legal 
dispositivo). 
 
4.2. Regime Legal Obrigatório 
Em razão de certas circunstâncias os nubentes não podem escolher 
livremente o regime de bens: quando ocorrer alguma causa suspensiva, quando o 
 
28 
 
nubente for maior de 70 anos, quando o nubente necessitar de suprimento judicial 
para casar (art. 1.641). Nesses casos o regime passa a ser obrigatório – separação 
de bens –, não se aplicando nem o regime legal dispositivo, nem outro escolhido 
via pacto antenupcial. 
Neste caso, incide a súmula 377 do STF, permitindo a comunicabilidade dos 
bens aquestados: 
Súmula 377, STF: “No regime de separação legal de bens 
comunicam-se os adquiridos na constância do casamento”. 
 
De forma prática, essa súmula faz uma aproximação entre o regime da 
separação legal e o regime de comunhão parcial de bens. A separação fica adstrita 
aos bens adquiridos antes do casamento. 
 
 
 
 
5. Regime Convencional: 
Os nubentes poderão escolher o regime de bens que mais lhe aprouver, 
dentre os previstos no Código Civil ou mesclá-los. Art. 1.639, CC. 
 
6. Mutabilidade: 
Possibilidade de alterar o regime de bens escolhido para a celebração do 
casamento. Tambémé permitida nos casos de união estável, bastando um singelo 
acordo, podendo retroagir a data do início da união estável. 
Vedação de alteração nas hipóteses do art. 1.641, CC, SALVO SE A CAUSA 
 
IMPORTANTE!!! 
Há discussões sobre a exigência do esforço comum ou não. A jurisprudência não é unânime, 
pois nem o STJ tem um mesmo posicionamento. Há decisões que exigem a prova do esforço 
comum. Outras, não. Sendo assim, em termos de concursos públicos – primeira fase – pouca 
exigência há quanto a esta questão. Em termos de segunda fase, sugere-se que o aluno 
posicione-se a respeito, fundamentando seu posicionamento. 
 
IMPORTANTE!!!!! 
Há a possibilidade de modificação do regime legal obrigatório quando a hipótese que lhe deu 
causa tiver sido superada. Só não é possível no caso dos maiores de 70 anos. 
 
29 
 
QUE DEU ORIGEM TIVER CESSADO! Enunciado 262, da III Jornada de Direito 
Civil, realizada pelo Conselho da Justiça Federal: “A obrigatoriedade da separação 
de bens, nas hipóteses previstas no art. 1.641, I e III, do CC não impede a 
alteração do regime, desde que superada a causa que o impôs”. Contudo, esse 
enunciado não abrange as hipóteses do art. 1.641, II, ou seja, quando os cônjuges 
tiverem mais de 70 anos quando da celebração do casamento. Neste caso, não 
poderá haver a modificação. 
 
REQUISITOS: deverão estar presentes três requisitos, cumulativamente: 
a) autorização judicial: deve ser feita petição conjunta, por advogado, ao juiz 
competente. O pedido só pode prosseguir se ambos os cônjuges forem autores, 
ou seja, ambos devem ter a intenção de alterar o regime de bens. A alteração só 
produz efeitos a partir do trânsito em julgado da decisão judicial, mas a eficácia 
perante terceiros depende do registro imobiliário. A eficácia da mudança pode ser 
ex nunc ou ex tunc, dependendo da vontade das partes, já que não existe qualquer 
óbice legal quanto a isso. Para isso, contudo, deve haver pedido expresso do 
casal, pois sem isso o efeito é a partir da sentença. 
b) motivação relevante: a alteração não pode estar baseada apenas no 
desejo dos cônjuges. Entre os motivos relevantes está a alteração do regime de 
comunhão parcial para o de separação de bens, em razão de os cônjuges 
passarem a ter vidas econômicas e profissionais próprias, sendo conveniente a 
existência de patrimônios próprios para garantirem obrigações que necessitam 
profissionalmente ou para incorporação em capital social de empresa. 
c) ressalva dos direitos de terceiros: terceiros são os que estejam de boa-fé 
e possam ser atingidos em seus patrimônios ou créditos com a alteração do regime 
de bens. A regra é que a mudança de regime apenas valerá para o futuro, não 
prejudicando os atos jurídicos perfeitos. A mudança só alcançará oi passado se o 
regime adotado beneficiar os terceiros credores, pela ampliação das garantias 
patrimoniais. 
Não é necessária a lavratura de pacto antenupcial para a mutação do regime 
de bens. 
EFEITOS: entre cônjuges: ex tunc (retroagindo a data das núpcias); com 
 
30 
 
relação a terceiros: ex nunc, visto que poderá prejudicar credores. 
É exigida ampla publicidade para a autorização da mudança. Nesse sentido, 
o STJ, ao realizar a I Jornada de Direito Civil, aprovou o Enunciado 113: “é 
admissível a alteração do regime de bens entre os cônjuges, quando então o 
pedido, devidamente motivado e assinado por ambos os cônjuges, será objeto de 
autorização judicial, com ressalva dos direitos de terceiros, inclusive dos entes 
públicos, após perquirição de inexistência de dívida de qualquer natureza, exigida 
ampla publicidade”. 
 
 
 
 
7. Administração dos bens no casamento: 
Independentemente do regime de bens escolhido para vigorar no casamento, 
existem atos que os cônjuges podem praticar sem depender da autorização do 
outro. Nesse sentido, o art. 1.642 é claro: 
Art. 1.642. Qualquer que seja o regime de bens, tanto o 
marido quanto a mulher podem livremente: 
I - praticar todos os atos de disposição e de administração 
necessários ao desempenho de sua profissão, com as 
limitações estabelecida no inciso I do art. 1.647; 
II - administrar os bens próprios; 
III - desobrigar ou reivindicar os imóveis que tenham sido 
Mesmo os casamentos celebrados na vigência do Código de 1916 poderão ter 
a modificação do regime. O art. 2.039, CC dispõe que a modificação não será 
possível, mas o STJ está autorizando a mudança, em razão da aplicação da lei 
mais benéfica. 
CIVIL - 
CASAMENTO - REGIME DE BENS - ALTERAÇÃO JUDICIAL – 
CASAMENTO CELEBRADO SOB A ÉGIDE DO CC/1916 (LEI Nº 
3.071) - POSSIBILIDADE - ART. 2.039 DO CC/2002 (LEI Nº 10.406) - 
PRECEDENTE
S - ART. 1.639, § 2º, CC/2002. I. Precedentes recentes de ambas as 
Turmas da 2ª Seção desta Corte uniformizaram o entendimento no 
sentido da possibilidade de alteração de regime de bens de casamento 
celebrado sob a égide do Código Civil de 1916, por força do § 2º do 
artigo 1.639 do Código Civil atual. II. Recurso Especial provido, 
determinando-se o retorno dos autos às instâncias ordinárias, para que, 
observada a possibilidade, em tese, de alteração do regime de bens, 
sejam examinados, no caso, os requisitos constantes do § 2º do artigo 
1.639 do Código Civil atual. (STJ, 3.ª Turma, REsp 1112123, j. em 24-
7-2009, rel. Min. Sidnei Beneti). 
 
31 
 
gravados ou alienados sem o seu consentimento ou sem 
suprimento judicial; 
IV - demandar a rescisão dos contratos de fiança e doação, 
ou a invalidação do aval, realizados pelo outro cônjuge com 
infração do disposto nos incisos III e IV do art. 1.647; 
V - reivindicar os bens comuns, móveis ou imóveis, doados 
ou transferidos pelo outro cônjuge ao concubino, desde que 
provado que os bens não foram adquiridos pelo esforço 
comum destes, se o casal estiver separado de fato por mais 
de cinco anos; 
VI - praticar todos os atos que não lhes forem vedados 
expressamente. 
 
O art. 1.643, CC traz as permissões para que os cônjuges possam atuar de 
forma individual. Tratam-se de situações necessárias à manutenção da vida 
doméstica, onde não haveria a necessidade de autorização expressa do outro para 
que tais despesas fossem assumidas. 
Art. 1.643. Podem os cônjuges, independentemente de 
autorização um do outro: 
I - comprar, ainda a crédito, as coisas necessárias à 
economia doméstica; 
II - obter, por empréstimo, as quantias que a aquisição 
dessas coisas possa exigir. 
 
Com relação às dívidas, contudo, a responsabilidade patrimonial é solidária 
– art. 1.644, CC: 
Art. 1.644. As dívidas contraídas para os fins do artigo 
antecedente obrigam solidariamente ambos os cônjuges. 
 
O art. 1.647, CC traz os atos que nenhum dos cônjuges pode praticar sem 
autorização do outro, exceto no regime de separação absoluta: 
Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos 
cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime 
da separação absoluta: 
I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis; 
II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou 
direitos; III - prestar fiança ou aval; 
IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de bens 
comuns, ou dos que possam integrar futura meação. 
Parágrafo único. São válidas as doações nupciais feitas aos 
filhos quando casarem ou estabelecerem economia 
separada. 
 
32 
 
 
8. Regime da Comunhão Parcial de Bens: 
O regime da comunhão parcial de bens é o que advém da falta, ineficácia 
ou nulidade de pacto antenupcial ou por convenção dos nubentes, que optam 
pelo regime da comunhão de aquestos. 
 
 
 
 
Basicamente: afasta da comunhão os bens que os consortes possuíam ao 
casar ou que venham a adquirir por causa anterior e alheia ao casamento; e inclui 
na comunhão os bens adquiridos posteriormente a união. Dividem-se os bens 
adquiridos na constância da união. 
Ainda que o regime seja o da comunhão parcial de bens, que dispensa o 
pacto antenupcial, é possível que se estabeleça, por pacto, cláusulas sobre a 
administraçãodos bens particulares (art. 1.665). 
Art. 1.665. A administração e a disposição dos bens 
constitutivos do patrimônio particular competem ao cônjuge 
proprietário, salvo convenção diversa em pacto antenupcial. 
 
8.1. Bens que não se comunicam 
O art. 1.661 prevê que são incomunicáveis os bens cuja aquisição tiver por 
título causa anterior ao casamento. Dessa forma, não faz parte do patrimônio o 
bem reivindicado pelo marido solteiro, sendo que a ação julgada procedente 
quando já casado, nem o dinheiro recebido após o casamento pela venda anterior 
de um bem. 
 
Também são INCOMUNICÁVEIS, conforme o art. 1.659, CC: 
 
33 
 
I - os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, 
na constância do casamento, por doação ou sucessão, e os sub-rogados em 
seu lugar; 
Aqueles bens que o consorte leva consigo para o casamento, que lhe 
pertencem antes da realização do ato nupcial não se comunicam no regime da 
comunhão parcial de bens. 
No caso de doações ou testamento, caso o doador/testador pretendesse que 
o bem fosse de propriedade do casal, faria a doação em favor de ambos e não de 
apenas um deles. Dessa maneira, a doação ou o testamento em benefício de um 
dos cônjuges, só a este aproveita, não se comunicando ao outro cônjuge. 
Da mesma maneira ocorre com os bens que forem adquiridos no lugar dos 
recebidos em doação, testamento ou daqueles que já eram de propriedade de um 
dos cônjuges antes do casamento. Isto se denomina sub-rogação, ou seja, os bens 
que forem colocados no lugar dos já existentes. 
Ex.: Carlos possuía um carro, no valor de R$ 20.000,00 antes de casar. Casa-
se com Joana. Após o casamento, Carlos vende o carro por R$20.000,00 e compra 
outro de mesmo valor. Joana não terá direito sobre o carro, pois se trata de sub-
rogação. Contudo, se Carlos comprar um carro no valor de R$ 50.000,00 Joana 
terá direito a receber a diferença, ou seja, R$ 30.000,00. 
Também não se comunica a herança que um dos cônjuges vier a receber, 
mesmo que depois da celebração do casamento, nem os produtos que dela 
resultarem (no caso de herança em dinheiro). 
Contudo, os frutos dos bens particulares percebidos na constância da 
união se comunicam (art. 1.660, V, CC). Nesse caso, o bem em si não se 
comunica, mas os aluguéis recebidos ou os juros, sim. 
 
II - os bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um 
dos cônjuges em sub-rogação dos bens particulares; 
Se os bens possuídos por ocasião do ato nupcial não se comunicam, é óbvio 
que também não devem comunicar-se os adquiridos com o produto da venda dos 
primeiros. É uma sub-rogação real. 
Pode ser sub-rogação de dinheiro, quando, por exemplo, um dos consortes 
 
34 
 
possuía poupança anterior ao matrimônio e, depois da realização deste, adquire 
um imóvel. O imóvel não se comunica, pois proveniente de valor pertencente 
exclusivamente a um dos consortes. 
Conforme já afirmado, se o bem sub-rogado é mais valioso, a diferença do 
valor, se não tiver sido coberta com recursos próprios e particulares do cônjuge, 
integrará o acervo comum. 
Ex.: carro de R$ 30.000 � carro de R$ 50.000 = a diferença (R$20.000,00) 
integrará o patrimônio comum. 
 
III - as obrigações anteriores ao casamento; 
A responsabilidade é pessoal de quem contraiu a obrigação. Dessa maneira, 
o cônjuge que arcou com responsabilidade anterior ao casamento, ainda que 
venha a se perfectibilizar após a celebração deste, deverá arcar exclusivamente 
com seus bens particulares. 
Ex.: dívida de cheque especial contraída antes do matrimônio. Só pertence 
àquele que contraiu a dívida. Seu patrimônio exclusivo é que arcará. 
 
IV - as obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão em 
proveito do casal; 
O cônjuge faltoso é responsável pelos atos ilícitos que praticar (com seu 
patrimônio particular), salvo se ambos os cônjuges vierem a tirar proveito de tal 
ato, quando então o patrimônio comum do casal responderá pelos prejuízos 
causados com o ilícito. 
Ex.: o marido pratica uma fraude tributária, sonegando a receita, para 
comprar uma casa na praia para que a família desfrute. Neste caso, haverá a 
comunicação da dívida. 
É nesse sentido a súmula 251, STJ: “A meação só responde pelo ato ilícito 
quando o credor, na execução fiscal, provar que o enriquecimento dele resultante 
aproveitou o casal”. 
 
V - os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão; 
Em razão do cunho nitidamente pessoal, não há comunicação desses bens. 
 
35 
 
Assim, estão excluídos os bens pessoais: roupas, sapatos, etc. 
Também se excluem da comunhão os livros utilizados para o exercício da 
profissão: livros profissionais do advogado, por exemplo; os instrumentos 
profissionais: violino de um concertista. Isto porque desses instrumentos 
dependem a sobrevivência do consorte. 
É possível, contudo, que, demonstrado o esforço comum, o valor do 
instrumento profissional seja partilhado: 
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE UNIÃO 
ESTÁVEL. PARTILHA. INSTRUMENTO MUSICAL - GAITA 
- DE USO PROFISSIONAL. INCIDÊNCIA DO ARTIGO 1659, 
INCISO V, DO CCB. Ainda que o bem fisicamente não seja 
partilhável, já que o varão é músico profissional, dependendo 
da utilização da gaita para a sua atividade, o valor 
empregado na sua aquisição na constância da união estável 
merece ser considerado na partilha, conforme precedentes 
da Corte. FGTS. Não se excluem da partilha os valores 
sacados da conta vinculada de FGTS na vigência da união 
estável, ainda que empregados para a aquisição de bem de 
uso pessoal e profissional. NEGARAM PROVIMENTO AO 
RECURSO. (Apelação Cível Nº 70034147199, Oitava 
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Alzir 
Felippe Schmitz, Julgado em 24/06/2010) 
 
Questão complicada é a das joias. Algumas possuem valor altíssimo. Sendo 
assim, a doutrina se divide. Dias9 afirma que há que se reparar na forma de 
aquisição de tais bens. Se forem recebidos por presente de um cônjuge ao outro, 
serão incomunicáveis, pois configura-se doação. No entanto, se comprados no 
intuito de investir algum dinheiro (situação bastante difícil de ocorrer), deverão ser 
partilhados. 
 
VI - os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge; 
Significa dizer que cada cônjuge tem direito aos proventos relativos ao seu 
salário. 
Em regra, os bens adquiridos com o valor recebido do trabalho pessoal de 
um dos cônjuges não se comunica, bem como o próprio provento. 
 
9 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 11.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 
2016, 317. 
 
36 
 
Contudo, existe posicionamento entendendo que no caso de o valor do 
provento ser utilizado para adquirir imóvel poderá ser partilhado, pois ambos os 
cônjuges, no direito de família atual, contribuem com seus proventos para o 
sustento da família, de maneira que deve o bem proveniente ser partilhado. 
Se os ganhos do trabalho pessoal não se comunicam, praticamente tudo será 
incomunicável, pois na grande maioria das vezes, as pessoas sobrevivem e 
constituem patrimônio como fruto do trabalho pessoal e das economias. Assim, 
não é justo que um dos cônjuges, com os frutos de seu trabalho pessoal, pague 
as despesas do casal e, o outro, guarde os frutos fazendo uma economia 
(poupança). Nesse caso, se formos pela letra fria da lei, não haveria partilha desse 
patrimônio (poupança). 
Mas o STJ já entendeu pela partilha dos bens: 
Direito civil e processual civil. Família e Sucessões. 
Inventário. 
Bens frutos do trabalho do cônjuge inventariado integram a 
meação da viúva inventariante. 
- No regime de comunhão universal de bens, os honorários 
advocatícios, provenientes do trabalho do cônjuge 
inventariado, percebidos no decorrer do casamento, 
ingressam no patrimônio comum do casal, porquanto lhes 
guarneceram do necessário para seu sustento, devendo, 
portanto, integrar a meação da viúva inventariante. 
- Muito embora as relações intrafamiliares tenham adquirido 
matizes diversos,com as mais inusitadas roupagens, há de 
se ressaltar a peculiaridade que se reproduz infindavelmente 
nos lares mais tradicionais não só brasileiros, como no 
mundo todo, em que o marido exerce profissão, dela 
auferindo renda, e a mulher, mesmo que outrora inserida no 
mercado de trabalho, abandonou a profissão que exercia 
antes do casamento, por opção ou até mesmo por imposição 
das circunstâncias, para se dedicar de corpo e alma à criação 
dos filhos do casal e à administração do lar, sem o que o 
falecido não teria a tranqüilidade e serenidade necessárias 
para ascender profissionalmente e, conseqüentemente, 
acrescer o patrimônio, fruto, portanto, do trabalho e empenho 
de ambos. 
Recurso especial conhecido e provido. (REsp 895344/RS, 
Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, 
julgado em 18/12/2007, DJe 13/05/2008) 
 
UNIÃO ESTÁVEL. DISSOLUÇÃO. PROVA. PARTILHA DE 
BENS. REGIME DA COMUNHÃO PARCIAL. IMÓVEL 
 
37 
 
ADQUIRIDO COM O USO DO FGTS. 
1. Reconhecida a união estável, imperiosa a divisão 
igualitária dos bens adquiridos de forma onerosa em nome 
de um ou outro convivente, sem que se perquira a 
contribuição de cada um. Inteligência do art. 1.725 do Código 
Civil. 2. O FGTS constitui "provento do trabalho pessoal" e 
não se comunica entre os cônjuges, ex vi do art. 1.659, inc. 
VI, do Código Civil, e quando o pagamento do imóvel é feito 
mediante expressa entrega do próprio FGTS, opera-se, de 
forma inequívoca, a sub-rogação, devendo esse valor e 
também as prestações pagas exclusivamente pelo varão, 
depois de rompida a relação marital, ser abatidos do valor do 
imóvel, devendo tais valores receber a devida correção 
monetária. 3. Não restando comprovado que o veículo que o 
varão possuía antes de iniciar a relação tenha sido dado em 
pagamento daquele adquirido na constância da união 
estável, imperiosa a partilha igualitária desse bem, pois a 
sub-rogação é exceção à regra da comunicabilidade e, para 
ser admitida, deve ficar cabalmente demonstrada. Recurso 
provido em parte. (Apelação Cível Nº 70036754216, Sétima 
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio 
Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em 14/09/2011) 
 
Direito civil e família. Recurso especial. Ação de divórcio. 
Partilha dos direitos trabalhistas. Regime de comunhão 
parcial de bens. Possibilidade. - Ao cônjuge casado pelo 
regime de comunhão parcial de bens é devida à meação das 
verbas trabalhistas pleiteadas judicialmente durante a 
constância do casamento. - As verbas indenizatórias 
decorrentes da rescisão de contrato de trabalho só devem 
ser excluídas da comunhão quando o direito trabalhista 
tenha nascido ou tenha sido pleiteado após a separação do 
casal. Recurso especial conhecido e provido. (REsp 
646.529/SP, Terceira Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 
20.06.2005) 
 
Isto quer dizer que o salário (provento) não é partilhado, mas o bem adquirido 
com este poderá (e deverá) o ser. Isto porque nada justifica que um cônjuge tenha 
ingerência sobre o salário do outro. Além disso, se o salário for depositado em uma 
poupança, previdência privada, enfim, algum tipo de investimento, os rendimentos 
advindos daí serão comunicáveis. 
O STJ entende que também se incluem na partilha os bens adquiridos, em 
sua maior parte, com o produto do levantamento do FGTS de um dos cônjuges. 
 
 
38 
 
 
VII - as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas 
semelhantes. 
Pensões: valor pago periodicamente e em virtude de lei, decisão judicial ou 
ato jurídico para assegurar a sobrevivência de alguém. 
Meio-soldo: é a metade do soldo pago pelo Estado ao militar reformado. 
Montepios – pensão devida a herdeiro de funcionário falecido. 
Tenças – pensão alimentícia devida pelo Estado ou por outra pessoa de 
direito privado, para subsistência do beneficiário. 
Deve-se destacar que, neste caso, não se comunica o direito ao recebimento 
desses benefícios. O valor recebido deve ser partilhado. 
 
Art. 1.661 - Também são incomunicáveis os bens adquiridos por causa 
anterior ao casamento 
Ex.: se a moça solteira vender um imóvel antes do casamento e só após vier 
a receber o valor devido, o dinheiro apurado com a venda não se comunica, pois 
existente em razão de causa anterior ao casamento. 
Mostra-se sem razão a incomunicabilidade dos proventos do trabalho 
pessoal de cada cônjuge, já que a maior parte das famílias sobrevive da 
contraprestação pecuniária de quem trabalha. Assim, se alguém transforma suas 
economias em patrimônio, torna-se incomunicável e isto é injusto com aquele que 
também trabalha e transforma suas economias em alimentos, vestuário para a 
família, etc. 
 
8.2. Bens que se comunicam 
São COMUNICÁVEIS, conforme o art. 1.660, CC: 
I - os bens adquiridos na constância do casamento por título oneroso, 
ainda que só em nome de um dos cônjuges; 
Quanto a bens imóveis, bastará verificar o Registro Imobiliário para verificar 
se a aquisição se deu antes ou após o casamento. 
Se se tratar de bem móvel, há presunção de que são de propriedade comum, 
adquiridos na constância da união, salvo se for possível provar por documento 
autêntico (fatura, nota fiscal) ou outro meio admitido em direito, que foram 
 
39 
 
adquiridos em data anterior ao ato nupcial. Art. 1.662. 
II - os bens adquiridos por fato eventual, com ou sem o concurso de 
trabalho ou despesa anterior; 
Ex.: jogo, aposta, loteria, bingo. Os bens advindos do valor recebido nessas 
loterias 
III - os bens adquiridos por doação, herança ou legado, em favor de 
ambos os cônjuges; 
Herança ou testamento só se comunicam se forem em favor de ambos os 
cônjuges. 
IV - as benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge; 
Tudo que for acrescido aos bens particulares dos cônjuges entra na divisão 
do patrimônio comum, desde que haja a presunção de que foram feitas com o 
produto do esforço comum, para evitar o enriquecimento indevido. 
V - os frutos dos bens comuns, ou dos particulares de cada cônjuge, 
percebidos na constância do casamento, ou pendentes ao tempo de cessar 
a comunhão. 
Isto porque são ganhos posteriores ao casamento e esse regime visa a 
composição de um patrimônio comum após a união. 
Ex.: se um dos cônjuges for acionista de uma sociedade anônima na qual 
hajam ganhos periódicos em razão dos lucros. O valor percebido integra o 
patrimônio comum. 
Ex.: os aluguéis, ainda que de imóvel particular de um dos cônjuges também 
passa a integrar o patrimônio comum. 
 
 
Os rendimentos resultantes da exploração dos direitos patrimoniais do autor 
Os direitos patrimoniais do autor não se comunicam, mas os rendimentos 
resultantes da exploração desses direitos, sim. 
Nesse sentido, ver a Lei 9.610/98: 
Art. 28. Cabe ao autor o direito exclusivo de utilizar, fruir e 
dispor da obra literária, artística ou científica. 
[...] 
Art. 39. Os direitos patrimoniais do autor, excetuados os 
rendimentos resultantes de sua exploração, não se 
 
40 
 
comunicam, salvo pacto antenupcial em contrário. 
 
8.3. Administração dos bens 
A administração do patrimônio comum cabe a qualquer dos cônjuges. Art. 
1.663. 
Contudo, será necessária a anuência de ambos para prática de atos que 
impliquem, a título gratuito, em cessão do uso ou gozo desses bens (art. 1.663, § 
2.º). Também é necessária a anuência para alienar ou gravar os bens imóveis (art. 
1.647, I). 
Se ficar comprovada a má administração dos bens comuns, o magistrado 
poderá atribuir a administração a apenas um dos cônjuges (art. 1.663, § 3.º), ou 
seja, o que solicitou ao juiz, em razão de ter sido prejudicado. Com o deferimento 
desse pedido, os atos praticados pelo outro cônjuge serão nulos. 
A administração dos bens particulares competirão ao cônjuge proprietário, 
exceto se houver convenção contrária estabelecida no pacto antenupcial (art. 
1.665), mas para alienar imóvel, dependerá da anuência do outro (art. 1.647, I). O 
cônjuge que administra o patrimônio particular do outro age como seu 
representante,

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