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LEITURA E AUTORIA

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9 LEITURA E AUTORIA 
 
Fonte:pixabay.com 
Pode-se dizer que a compreensão da importância da relação entre o texto 
e o leitor é relativamente nova. Para compreender essa relação e chegar ao estatuto 
do leitor nos dias atuais é preciso, primeiramente, que você conheça diferentes 
perspectivas da leitura, da interpretação e do papel que o autor ocupou em relação 
à obra ao longo do tempo (NOBLE, 2019). 
Até certo ponto da história, a obra literária era entendida como um objeto 
próprio, cuja existência era apartada tanto do autor como do leitor. Segundo 
Compagnon (2006), algumas correntes teóricas pensavam a interpretação do texto 
remetendo a obra ao seu contexto ou buscavam somente na materialidade do texto 
sua significação. 
Essa busca pelo “centro do sentido” dos textos é de diferentes ordens ao 
longo da história. Na Idade Média e na Grécia Antiga, por exemplo, procurava-se 
“[...] compreender a intenção oculta de um texto pelo deciframento de suas figuras 
[...]” (COMPAGNON, 2006, p. 56). No século XVIII, pela filologia, buscava-se “[...] 
fazer prevalecer a razão contra a autoridade e a tradição [...]” (COMPAGNON, 2006, 
p. 56), abrindo caminho à interpretação histórica dos textos. Com a hermenêutica, 
as obras são interpretadas a partir de uma “verdadeira significação”, sendo 
 
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necessário retomar a intenção do autor para interpretá-la. Chega-se, então, à ideia 
de que a autoria seria uma resposta para desvendar os sentidos do texto. Segundo 
Santos (2007, documento on-line), essa ideia imperou por muito tempo na crítica 
literária, sendo um texto literário considerado “[...] a expressão das ideias de seu 
autor [...]”. 
Até determinado momento da história, autoria significava todo um conjunto 
de atividades, envolvendo diferentes sujeitos, desde aquele que escrevia, aquele 
que editorava, que fazia a compilação até o que vendia os escritos. 
Pensando no surgimento da figura do autor, Barthes (1973) aponta a 
transformação da escrita em uma expressão de identidade que se dá com o 
surgimento da assinatura, marcando a escrita como uma propriedade, a partir de 
uma ordem do rei da França, Henrique II. A partir desse ato, há a atribuição de 
responsabilidade àquele que escreveu, ou seja, surge a figura do autor. Para 
Barthes (1973), é a partir desse momento que há o início de um “império do Autor”, 
já que o sentido de um texto ou de uma obra começa a ser centralizado naquele 
que escreveu. Para Santos (2007, documento on-line), esta concepção de um autor 
fechado e fonte da interpretação está ligada ao desenvolvimento do capitalismo, já 
que, a partir daí se configura “[...] a ideia de um indivíduo que possui direitos, o qual 
passa a ser [...] o centro de seu próprio ego e de suas próprias decisões [...]”. 
 
10 A MORTE DO AUTOR E O NASCIMENTO DO LEITOR 
A concepção de autor como aquele no qual o sentido está centrado é 
assumida por muitos anos. Em 1968, Roland Barthes publica a tese A morte do 
autor, na qual apresenta a mudança do centro do sentido de um texto do autor para 
o leitor (NOBLE, 2019).

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